Sílaba

unidade de organização para uma sequência de sons da fala
(Redirecionado de Divisão silábica)

Sílaba é uma emissão de voz completa, representada por um ou mais fonemas.[1]

Representação da estrutura da formação da sílaba

Número de sílabas

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As sílabas, agrupadas, formam vocábulos. De acordo com o número de sílabas que os formam, os vocábulos podem ser:

  • monossílabos - apresentam uma sílaba: é, há, ás, cá, mar, flor, quem, quão.
  • dissílabos - apresentam duas sílabas: vi-ver, de-ver, cla-ro, com-por, bô-nus.
  • trissílabos - apresentam três sílabas: ca-ma-da, O-da-ir, pers-pi-caz, tungs-tê-nio, felds-pa-to, ca-va-lo
  • polissílabos - apresentam quatro ou mais sílabas: bra-si-lei-ro, a-me-ri-ca-no, mo-nos-sí-la-bo, dis-sí-la-bo, psi-co-lo-gi-a, con-se-quên-cia, pa-ra-le-lo-gra-mo.

Na língua portuguesa, o número de sílabas de uma palavra corresponde ao número de vogais completas.[1]

Divisão silábica

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Divisão silábica é uma forma de descobrir como a palavra é dividida. A divisão silábica obedece a algumas regras básicas. O conhecimento das regras de divisão silábica é útil para a translineação das palavras, ou seja, para separá-las no final das linhas e também para se realizar a correta acentuação da sílaba tônica. Quando houver necessidade da divisão, ela deve ser feita de acordo com as regras abaixo. Por motivos estéticos e de clareza, devem-se evitar vogais isoladas no final ou no início de linhas, como a-sa ou Urugua-i.

  • ditongos e tritongos pertencem a uma única sílaba: au-tô-no-mo, ou-to-no, di-nhei-ro, U-ru-guai, i-guais.
  • os hiatos são separados em duas sílabas: du-e-to, pro-i-bi-do, ca-a-tin-ga.
  • os dígrafos ch, lh, nh, gu e qu pertencem a uma única sílaba: chu-va, mo-lha, es-ta-nho, guel-ra, a-que-la.
  • as letras que formam os dígrafos rr, ss, sc, , xs, e xc devem ser separadas: bar-ro, as-sun-to, des-cer, nas-ço,ex-su-dar, ex-ce-to.
  • os encontros consonantais que ocorrem em sílabas internas devem ser separados, excetuando-se aquelas em que a segunda consoante é l ou r: con-vic-ção, a-pli-ca-ção, as-tu-to, a-pre-sen-tar, ap-to, a-brir, cír-cu-lo, re-tra-to, ad-mi-tir, de-ca-tlo, ob-tu-rar. Exceção: ab-rup-to. Os grupos consonantais que iniciam palavras não são separáveis: gnós-ti-co, pneu-má-ti-co, mne-mô-ni-co.

Sílaba tônica

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Na língua portuguesa, o acento tônico recai mais frequentemente na penúltima sílaba,[2] mas pode também cair na última ou na antepenúltima sílaba,[3] e jamais situa-se em outra posição além destas.[4] Em esperanto, ele sempre recai sobre a penúltima sílaba,[5] e no aramaico bíblico, ele recai mais frequentemente na última sílaba.[6] No aramaico, como em outras línguas semíticas, as sílabas começam por consoantes, seguidas de pelo menos um som vocálico, e podem terminar com uma vogal (sílaba aberta) ou com uma consoante (sílaba fechada).[7]

As sílabas que não recebem acento tônico são chamadas de átonas.[8] Na língua portuguesa, excluídas a tônica e a subtônica de uma palavra, suas demais sílabas são sempre átonas.[9] A tonicidade das sílabas finais de palavras tem influência em sua variação fonética. No português brasileiro, os ditongos nasais de sílabas finais átonas estão sujeitos a variações fonéticas por redução da nasalidade (cantaram/cantaru), o que parece ser condicionado linguística e socialmente.[10]

Na gramática, as palavras podem ser classificadas segundo a posição da sílaba tônica. Assim, elas são agudas, graves ou esdrúxulas. Em alternativa, podem ser chamadas oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas, respectivamente. No Brasil, os segundos termos são os mais usados. Em Portugal, depende do contexto.

Estrutura interna

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Embora Chomsky & Halle (1968) tenham tratado da estrutura da sílaba em The Sound Pattern Of English, foi somente com trabalhos mais atuais de Selkirk (1982), Goldsmith  (1990), Blevins (1995), Hayes (1995) e Spencer (1996), que a estrutura da sílaba ganhou lugar de destaque nos estudos fonológicos. Apesar de esses autores possuírem divergências metodológicas, todos reconhecem a importância da sílaba no quadro teórico linguístico.

Sob essas perspectivas, a organização interna da sílaba obedece a parâmetros específicas de cada língua, ou seja, de acordo com a teoria de Chomsky de Princípios e Parâmetros (P&P) da Gramática Universal (GU), uma sílaba pode ter três elementos: ataque, núcleo e coda, e em cada língua, sua gramática define que segmento pode ocupar cada posição na estrutura da sílaba, além de estabelecer parâmetros, pelos quais, por exemplo, o ataque pode ser obrigatório e a coda, opcional.

As sílabas seguem alguns princípios organizacionais regidos por regras fonotáticas que permitem arranjos, sequencias adjacentes e hierarquicamente organizadas.

Conforme a teoria fonológica não-linear, a sílaba é composta de onset ou ataque; rima, onde estão localizados o núcleo e a coda, o que se pode comparar com o modelo de Mattoso Câmara no qual o ataque equivaleria à intensificação, a núcleo seria o ápice e a coda seria a redução:       

 
Estrutura silábica do português

BLEVINS (2006) detalha as partes que compõem a estrutura da sílaba perpassando por conceitos que esclarecem o comportamento dessas sílabas em cada língua específica:

1 – Silabas leves e pesadas

Em português, assim como em outras línguas, as sílabas podem ser classificadas como leves e pesadas:

Sílabas leves: CV, V, VC – quando não há ramificação do núcleo, ou como na teoria moraica, a sílaba é monomoraica.

Sílabas pesadas: CVV, CCVC, CCV, CVC, CCVCC,CCVVC, CVVV – quando há ramificação do núcleo, a sílaba é bimoraica.

2 – visão geral da tipologia silábica do português

A língua portuguesa é uma língua de onset simples e complexo opcionais, núcleo simples obrigatório e complexo opcional e coda simples opcional.

Na estrutura da sílaba em português o ataque podem ocorrer todas os segmentos consonantais, exceto os de interface ortográfica <h> e o <lh>, o qual ocorre apenas em ataque de sílaba interna. O núcleo é sempre ocupado por segmentos vocálicos ou a parte vocálica de um glaide. Na coda, só podem ocorrer os arquifonemas /S/, /N/ e as líquidas/ l / e / r /. 

Exemplo casas:         

         

 
Palavra casas

3 – O argumento de Mattoso Câmara para o onset complexo e a coda em português.

Para Mattoso, fonologicamente, ocorrem dois tipos de segmentos consonantais na segunda posição do onset complexo / r / e / l / (C2 – plural, drama)   e quatro tipos de segmentos na posição de coda, quais sejam: os arquifonemas /S /(as várias fricativas referentes às variedades regionais para o último s de casas, /R / (os variados tipos de r referentes também às variedades regionais do português, a líquida  /l / ~ /w / - /W / (maldade, falsidade, papel, chapéu) e o segmento mais problemático , /N / (perspectiva, superstição, consciente, piscina)

O arquifonema /N /, segundo Mattoso tem de fazer parte do grupo de segmentos que ocupam a coda, embora esse segmento nem seja representado foneticamente, fonologicamente a nasalidade contrastiva está subjacente e os vários indícios confirmam isso.

1 – Na gênese da nasalidade em português as vogais nasais surgem como variantes das vogais orais:

a)   Consoante nasal antes de vocgal CnV  - mater > mãe

b)   Consoante nasal depois de vogal VCn  - campo [kãpu]

c)   Consoante nasal em fronteira de sílaba V.Cn – lana > lã

Nas exceções, luna >lua, persona > pessoa, bonna > boa, Mattoso argumenta que embora exista uma nasal subjacente, as vogais são diferentes, por isso não nasalizam.

Para esse autor há dois tipos de nasalidade em português:a fonética ou alofnônica e a constrastiva. Para o argumento do arquifonema , /N/ na coda, o que vai interessar será a nasalidade constrativa ou fonêmica, aquela em que há distinção de significado, por exemplo:

cato – canto; lá – lã; capo – campo; mudo – mundo.

Para Mattoso a representação da nasalidade fonêmica desse segmento é bimorfêmica:

lã -  /laN/

1 - Ela perpassa pelo argumento da distribuição dos r:

a) em posição intervocálica há oposição entre tepe e vibrante: caro  - carro

b) entre vogal oral e nasal nunca aparece um tepe, só o r  múltiplo forte: tenra, honra. O tepe não aparece porque não é uma vogal nasal e sim uma vogal seguida de uma consoante nasal.

c) o tepe sempre aparece entre vogais, nunca em coda.

2 – Argumento da impossibilidade de hiato entre vogais orais e nasais:

boa < bona

bom < boa

*bõa

valentão

valentona

Ou cai a nasal e leva junto a nasalidade ou se introduz uma consoante nasal.

3 – Impossibilidade de crase entre vogal oral e nasal, sândi externo

A postônica final da primeira palavra se junta com a pretônica inicial da segunda palavra, pois ambas são orais (casa azul)

O mesmo não ocorre com (lã azul), pois há uma consoante nasal subjacente na palavra lã A postônica final da primeira palavra se junta com a pretônica inicial da segunda palavra.

A postônica final da primeira palavra se junta com a pretônica inicial da segunda palavra /laN /

4 – Argumento das proparoxítonas

Travamento silábico puxa o acento para si, em português não existe proparoxítona se a penúltima sílaba for travada ou pesada, como a nasalidade funciona como uma sílaba pesada o acento vai recair nessa sílaba:

Flamengo – penúltima sílaba pesada

plácido  - penúltima sílaba leve

Com base nesses argumentos, sempre que houver uma consoante nasal na coda, o arquifonema nasal deve ser representado. Esses argumentos justificam a configuração abaixo da estrutura silábica do português:         

 
Esturura da sílaba em português

V - é

CV - casa

VC - arte

CVV - Paulo

CCVC - brando

CCV - plano

CVC - turma

CCVCC - transtorno

CCVVC – claustro

CVVC - caimbra

CVVV – Uruguai

Poesia

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No poema, a sílaba tônica é a sílaba de mais ênfase, a que se pronuncia mais forte, utilizada para classificar a métrica dos versos.

Características diversas

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Quanto à decomposição silábica das palavras, a sílaba é, na maioria dos casos, iniciada por uma consoante (se existir), terminando numa vogal. Na língua portuguesa existem, contudo, casos excepcionais:

  • Emperrado = Em + per + ra + do

No caso acima, os R não ficaram unidos quando da separação das sílabas. A mesma regra se aplica para a letra S, quando dobrada.

Ver também

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Outros projetos Wikimedia também contêm material sobre este tema:
  Definições no Wikcionário

Referências

  1. a b Ledur 2006, p. 23.
  2. Bisol 2005, p. 69.
  3. Abreu 2003, p. 58.
  4. Ledur 2006, p. 31.
  5. Dubois 2001, p. 71.
  6. Araújo 2008, p. 44.
  7. Araújo 2008, p. 42-43.
  8. Dubois 2001, p. 78.
  9. Ledur 2006, p. 30.
  10. Bisol 2009, p. 13.

Bibliografia

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  • Abreu, Antônio Suárez (2003). Gramática Mínima para o Domínio da Língua Padrão 2 ed. [S.l.]: Atelie Editorial. 356 páginas. ISBN 9788574801988 
  • Araújo, Reginaldo Gomes de (2008). Gramática do Aramaico Bíblico. [S.l.]: EdiçõesTargumim. 367 páginas. ISBN 9788599459010 
  • Bisol, Leda (2005). Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro 4 ed. Porto Alegre: EDIPUCRS. 296 páginas. ISBN 9788574305295 
  • Bisol, Leda (org.); Collischonn, Gisela (org.) (2009). Português do sul do Brasil : variação fonológica 1 ed. Porto Alegre: EDIPUCRS. ISBN 9788574308883 
  • Dubois, Jean (2001). Dicionário de Linguística 8 ed. [S.l.]: Cultrix. 653 páginas. ISBN 9788531601231 
  • Figueiredo, Adriana; Figueiredo, Fernando (2012). Gramática Comentada com Interpretação de Textos, 2a Edição: Teoria Completa e Questões Comentadas. [S.l.]: Elsevier Brasil. 532 páginas. ISBN 9788535256826 
  • GOLDSMITH, John A. The handbook of phonological theory. Blackwell,1995.
  • Ledur, Paulo Flávio (2006). Português Prático 7 ed. [S.l.]: Editora AGE Ltda. 223 páginas. ISBN 9788574972848 
  • MATTOSO CÂMARA, Joaquim. A estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 2004.