Eternamente Eu E Você
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Pré-visualização do livro
Eternamente Eu E Você - Maxmiliano Ramos Ponciano
Eternamente eu e vc
Maxmiliano R. P.
1
Todos os direitos desta obra são reservados ao autor
Maxmiliano Ramos Ponciano
Isbn
978-65-01-12515-2
Revisão e diagramação
Foqa_oficial
Desinger de capa
Rafael Souza Ferreira
2
Para Francini Flaudis de Souza, que adorava quando eu escrevia. Sem sua persistência, esta história ainda estaria inacabada.
Eternamente eu e vc
AGRADECIMENTOS
Para Rafael Souza Ferreira, por toda uma vida de apoio ao meu lado, por me incentivar quando eu sempre pensava em desistir; para
minha mãe, Maria S. da C. Ramos, que acreditou no meu sonho, que no início parecia impossível; para minhas irmãs, meu irmão, meu pai e
meus sobrinhos(as). Quero agradecer à minha amiga Lídia Souza, que, quando eu escrevia em sua casa, sempre dizia que um dia eu iria
conseguir publicar meu livro, e ao meu revisor e diagramador, Renan da Silva Cardoso, por tornar realidade o sonho mais improvável.
À editora Uiclap, por ser uma editora diferente para escritores iniciantes e independentes; e à minha nova família online, pelo estímulo, pelos carinhos e pela inspiração.
Obrigado a todos
4
Sumário
Diferente do Comum 14
O bullying continuou 13
A dupla indesejada 21
Bilhete para os pais 30
De um a Cinco 37
Desejo proibido 43
Dias Atuais 50
Sobre meu irmãozinho 59
Nervosismo pelo primeiro dia 65
Primeiro dia de aula 76
Acordo foi revelado 93
Esbarrando em Meet Green 104
Aula de Biologia 121
O almoço inesperado 133
O garoto misterioso 140
Enfim em casa 157
Diferente do Comum
Vou dar um spoiler da vida de Yuri Sallever para vocês que estão lendo. Sua história começa aos dez anos. Talvez vocês estejam se perguntando o que significa ser diferente do comum
. Para um menino de dez anos, isso pode significar muitas coisas. Ser comum, para Yuri Sallever, era tentar se encaixar, fazer o que todas as outras crianças faziam. Por exemplo: ele tomava sorvete de chocolate, andava de bicicleta no parque, assistia aos desenhos de super-heróis e organizava batalhas entre seus bonecos no tapete do quarto. Visto de fora, Yuri parecia um garoto comum. Mas ele sabia que estava escondendo uma parte importante de si.
Ser diferente
das outras crianças fazia com que ele, paradoxalmente, fosse feliz. Ele podia assistir a Barbie e o Mundo Encantado
, adorava as cenas cheias de cores e magia e sonhava em andar de patins pelas calçadas com o vento batendo em seu rosto. No entanto, sabia que ninguém podia saber disso. A última coisa que ele queria era que os meninos do bairro zombassem dele.
Yuri sabia que era diferente. Sentia isso cada vez que observava as outras crianças no parquinho. Ele era sempre cuidadoso para não parecer muito animado ao escolher o balanço cor-de-rosa ou quando apontava para a vitrine com bonecas na loja de brinquedos. Embora não entendesse completamente o que significava ser gay, já sabia que suas preferências o faziam diferente. Quando via os adultos olhando para ele com uma expressão estranha, percebeu que não estava tão escondido quanto imaginava.
Seus pais, de certa forma, sabiam, mas decidiram não tocar no assunto. Porém, Yuri podia sentir a diferença no ar. Sua mãe, Julian, às vezes ficava muito irritada quando faziam algo grosseiro com ele. Por exemplo, houve uma vez em que, numa tarde, sentado no segundo degrau da varanda de sua casa, Yuri observava o movimento da rua. Era um dia quente e ensolarado, com um leve vento que balançava as folhas das árvores. De repente, um grupo de garotos mais velhos apareceu. Eles riam entre si e, ao verem Yuri sozinho, começaram a fazer piadas. As palavras eram ásperas e, embora nem mesmo eles entendessem o que estavam dizendo, as risadas ecoavam, fazendo Yuri se sentir pequeno.
Sua mãe, que estava dentro de casa, ouviu tudo. Num instante, ela saiu correndo pela porta e começou a gritar com os meninos. Ela sempre fazia isso — estava sempre pronta para defendê-lo. Esse era o jeito dela: uma proteção feroz, como se estivesse lutando contra o mundo para manter seu filho a salvo. Yuri sabia que ela o amava, mas também sabia que sua mãe não o via como um garoto comum. Se ele fosse, ela não precisaria protegê-lo tanto. Se fosse apenas mais um menino, talvez pudesse simplesmente ser ele mesmo, sem precisar esconder quem era. Mas, no fundo, ele também compreendia que ser comum ou ser diferente não mudava o fato de que ele era especial aos olhos dela — e isso, por si só, já fazia o mundo parecer um pouco menos assustador.
Mais tarde, Yuri Sallever teve uma ideia que achou absolutamente brilhante: desenhar criaturas fofinhas e chamá-las de Deuses do ArcoÍris
. Apesar de frequentarem muito pouco a Igreja Católica, ele sabia que era na missa que se aprendia sobre os santos e suas tradições. Eram eles que concediam bênçãos e guiavam as pessoas, conforme suas rezas. No entanto, enquanto Yuri Sallever respeitava essas crenças, tinha algumas opiniões pessoais e criativas sobre espiritualidade.
Yuri sempre foi bom em desenho e um pouco inteligente em outras matérias da escola, então decidiu criar alguns personagens. Entre eles, havia um unicórnio majestoso, com uma crina e uma cauda com todas as cores do arco-íris. Yuri se dedicava a capturar cada nuance de cor, criando um efeito brilhante e vibrante. Também desenhou uma fada, inspirada na Sininho do Peter Pan, com suas minúsculas asas iridescentes e um brilho encantador. E, claro, não podia faltar um urso cor-de-rosa, com uma barriguinha adornada com as seis cores do arco-íris.
Para garantir que seus pais não encontrassem os desenhos, embora desconfiassem, Yuri decidiu colá-los no fundo do guarda-roupa. Era o seu lugar secreto, onde sabia que ninguém os veria. Todas as noites e manhãs, Yuri se ajoelhava diante dos desenhos, murmurando seus desejos e esperanças. Sua pequena cerimônia de devoção era um pedido inocente.
Yuri Sallever acreditava que, de alguma forma, seus Deuses do Arco-Íris
estavam lá para atendê-lo.
Esses momentos o faziam se sentir especial. Apesar da diferença entre as crenças dos seus pais e as suas próprias criações, havia uma sensação de singularidade. Yuri Sallever sabia que era diferente, mas, para ele, isso era o que tornava tudo mais mágico.
Oi, deuses do arco-íris, aqui é o Yuri Sallever, o seu menino gay da cidade de Nova York. Como estão? Qual é a boa? Talvez estejam ajudando outros garotos da mesma idade, ou até mesmo os mais velhos, a sair do armário. Só queria lembrar que daqui a algumas horas começarei o primeiro dia de aula no fundamental em uma escola nova, cujo nome eu não sei direito. Achei que seria bom falar com vocês. Confesso que estou com muito medo. Talvez eles não me aceitem como sou.
Mas será que há alguma forma de ajudar com isso? Sou apenas um garoto frágil de dez anos, inexperiente com tudo isso. Gostaria de pedir três coisas para vocês, deuses.
A primeira vai para a deusa Unicórnio: queria continuar sendo quem sou, sem precisar me esconder em nenhum momento. Queria que os outros alunos me chamassem para festas cheias de doces, tipo na Páscoa ou até mesmo no Halloween, mas eu não experimentaria. Só para poder dizer: Não, eu não como doces
— mesmo que, na verdade, eu ame doces. Sempre quis dizer isso.
A segunda vai para o deus do arco-íris: queria ganhar um pouco de corpo e não parecer um palito moreno e gay. Meus braços e pernas parecem quatro gravetos de uma árvore seca no outono. Os pelos dos meus braços, se vocês pudessem, fariam com que eles não crescessem tanto. Tenho só dez anos, não quinze, mas já raspo os braços duas vezes, escondido dos meus pais. Só que não adianta, eles continuam crescendo e ficam cada vez mais grossos.
O terceiro pedido vai para o deus do Urso: eu queria, muito, muito, um "GRACHI", mas não um nerd que passa o tempo todo com a cara nos livros ou nas atividades escolares.
Também não queria um jogador de futebol que passa mais tempo com o time do que com o namorado. Eu queria um garoto diferente, que me entendesse, e não um bobão que só fica com os amigos no refeitório. Eu só queria que ele fosse um super garoto, alguém com quem eu pudesse ficar o tempo todo ao lado.
— Acho que é isso, obrigado pela atenção. Amo vocês às seis cores do arco-íris, meus deuses, obrigado por me ouvirem.
Você pode estar se perguntando por que um garoto de dez anos, de Nova York, que vai começar em uma escola cujo nome ele mal sabe, está fazendo uma oração para as criaturas e arco-íris. Bem, acho que vocês já entenderam... ou ainda estão se perguntando? — Que história mais maluca! Mas prometo que tudo vai fazer sentido.
Vamos começar pelos pais de Yuri Sallever. Eles se chamam Phil e Julian. Começaram a namorar com quinze anos, estavam no último ano do ensino fundamental, e tudo estava indo bem até Julian chegar com a notícia de que estava grávida. Os planos dos dois tiveram que ser modificados, mas depois de nove meses, ela deu à luz Yuri, que nasceu em 14/11/2009, pesando 3,800 kg. Ele tinha cabelos lisos e negros, e sua pele era morena e macia. Phil, seu pai, assumiu todas as responsabilidades. Ele largou os estudos e foi trabalhar no mercadinho do tio Morris. Três meses depois, Phil e Julian foram morar juntos. Aos 18 anos, eles terminaram os estudos online e se casaram. Foi um casamento pequeno e simples, pois estavam economizando para comprar uma casa em Nova York. Não foi uma época fácil, mas em setembro de 2011, mudaram-se com o pequeno Yuri para a cidade grande.
Aos sete anos, Yuri adorava passar tempo com o pai, assistindo a programas de culinária no sofá da sala, sempre que ele estava de folga do trabalho na ambulância.
Esses momentos eram especiais, pois não aconteciam todos os dias. Phil, o pai de Yuri, trabalhava longas horas como paramédico, e suas folgas eram raras. No entanto, quando estava em casa, ele fazia questão de dedicar o máximo de tempo possível ao filho.
— Pronto para ver quem vai fazer o melhor bolo hoje, campeão? — perguntou Phil, sentando-se ao lado do filho e puxando-o para perto.
Yuri sorriu e pegou o controle remoto, já familiarizado com a rotina. Com alguns cliques, o programa começou mostrando chefs de diferentes partes do mundo, cada um com suas técnicas e histórias inspiradoras. Para Yuri, o fascínio não estava apenas nos pratos elaborados, mas no jeito como seu pai explicava cada detalhe — da escolha dos ingredientes à complexidade das receitas. Phil sempre transformava o simples ato de assistir televisão em uma verdadeira aula de culinária.
— Sabe, pai — disse Yuri, de olhos fixos na tela, enquanto um chef preparava uma sobremesa complicada —, eu acho que vou ser chef quando crescer.