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A beleza e a Glória de Cristo
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A beleza e a Glória de Cristo
E-book352 páginas5 horas

A beleza e a Glória de Cristo

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Sobre este e-book

Para ser verdadeiramente cristão, temos de abraçar como doutrina e como experiência os principais dogmas da Reforma: sola gratia, sola fide, solus Christus, sola Scriptura e soli Deo Gloria. Não é a nossa salvação baseada somente na Escritura, somente por meio de Cristo, recebida somente pela fé, obra somente da graça e somente para a glória de Deus? No fulcro dessas veementes verdades está solus Christus (somente Cristo). "Somente Cristo" é nossa vida e a nossa salvação, a nossa beleza e a nossa glória. Cristo Jesus é o Senhor e Salvador glorioso, belo, que tem "pernas, colunas de mármore" (Ct 5.15), pois ele é forte e inabalável e é totalmente desejável (v.16). Nas palavras de Thomas Brooks, "Cristo é desejável, Cristo é muito desejável, Cristo é o mais desejável, Cristo é sempre desejável, Cristo é totalmente desejável". Brooks também disse: "Cristo é o diamante mais brilhante no anel da glória".

Aproveite a festa espiritual servida em A Beleza e a Glória de Cristo, uma compilação das palestras da conferência anual do Seminário Teológico Reformado Puritano em agosto de 2010 em Grand Rapids, Michigan. Cada ensaio estabelece diante dos leitores as inesquecíveis riquezas do Senhor Jesus Cristo, a esperança da nossa glória e a glória da nossa esperança. Os tópicos incluem a beleza de Cristo profetizada e tipificada em Isaías e Cântico dos Cânticos; A glória de Cristo em sua encarnação, ministério terreno e morte na cruz; Cristo na teologia histórica e na vida cotidiana; A gloriosa exaltação de Cristo em sua ressurreição e em seu triunfo no livro do Apocalipse. Os colaboradores são David Murray, Iain Campbell, Richard Phillips, Gerald Bilkes, David Carmichael, Albert Martin, Joel Beeke, William VanDoodewaard, Ray Pennings e James Grier.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de set. de 2022
ISBN9786559891382
A beleza e a Glória de Cristo

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    A beleza e a Glória de Cristo - Joel R. Beeke

    Nosso belo e glorioso Cristo é o presente indizível de Deus para nós. A beleza e a glória de Cristo. A beleza e a glória de Cristo evocam as nossas emoções mais fortes e nossas convicções mais arraigadas. Organizado por Joel R. Beeke. Com Albert N. Martin, David Carmichael, David Murray, Iain D. Campbell, James Grier, Jerry Bilkes, Ray Pennings, Richard D. Phillips, William VanDooderwaard. Cultura Cristã.Nosso belo e glorioso Cristo é o presente indizível de Deus para nós. A beleza e a glória de Cristo. A beleza e a glória de Cristo evocam as nossas emoções mais fortes e nossas convicções mais arraigadas. Organizado por Joel R. Beeke. Com Albert N. Martin, David Carmichael, David Murray, Iain D. Campbell, James Grier, Jerry Bilkes, Ray Pennings, Richard D. Phillips, William VanDooderwaard. Cultura Cristã.

    A Beleza e Glória de Cristo, de Joel R. Beeke (org.) © 2017 Editora Cultura Cristã. © 2011 by Puritan Reformed Theological Seminary com o título The Beauty and Glory of Christ. Publicado originalmente por Reformation Heritage Books. Traduzido e impresso com permissão. Todos os direitos são reservados.

    1ª edição 2017

    B414b

    Beeke, Joel R.

    A beleza e glória de Cristo / Joel R. Beeke; traduzido por Fernando Santos Kerr . _ São Paulo: Cultura Cristã, 2017.

    Recurso eletrônico (ePub)

    ISBN 978-65-5989-138-2

    Tradução The beauty and Glory of Christ

    1. Teologia 2. Trindade 3. Vida Cristã I. Título

    CDU 27-584

    A posição doutrinária da Igreja Presbiteriana do Brasil é expressa em seus símbolos de fé, que apresentam o modo Reformado e Presbiteriano de compreender a Escritura. São esses símbolos a Confissão de Fé de Westminster e seus catecismos, o Maior e o Breve. Como Editora oficial de uma denominação confessional, cuidamos para que as obras publicadas espelhem sempre essa posição. Existe a possibilidade, porém, de autores, às vezes, mencionarem ou mesmo defenderem aspectos que refletem a sua própria opinião, sem que o fato de sua publicação por esta Editora represente endosso integral, pela denominação e pela Editora, de todos os pontos de vista apresentados. A posição da denominação sobre pontos específicos porventura em debate poderá ser encontrada nos mencionados símbolos de fé.

    ABDR. Associação brasileira de Direitos Reprográficos. Respeite o direito autoral.Editora Cultura Cristã

    Rua Miguel Teles Júnior, 394 – CEP 01540-040 – São Paulo – SP

    Fones 0800-0141963 / (11) 3207-7099 / Whatsapp (11) 97133-5653

    www.editoraculturacrista.com.br – [email protected]

    Superintendente: Clodoaldo Waldemar Furlan

    Editor: Cláudio Antônio Batista Marra

    Com o agradecimento sincero a

    Henk Kleyn

    Que ama Cristo, sua beleza e sua glória; estimado por seu grande coração de servo por todos os seus professores, funcionários e alunos do Puritan Reformed Theological Seminary; e o melhor e mais leal Diretor Acadêmico que um seminário poderia desejar.

    Sumário

    Prefácio

    PARTE 1 – A beleza de Cristo profetizada e tipificada

    A beleza do Servo de Deus

    David Murray

    A canção do Filho de Davi

    Iain D. Campbell

    Ele é totalmente desejável

    Iain D. Campbell

    PARTE 2 – A glória de Cristo, de Belém ao Gólgota

    A glória da encarnação vitoriosa de Cristo

    Richard D. Phillips

    A glória das parábolas de Cristo

    Gerald M. Bilkes

    Jesus: Senhor da tempestade

    David Carmichael

    Jesus: Senhor da angústia

    David Carmichael

    A glória da morte vitoriosa de Cristo

    Albert N. Martin

    PARTE 3 – Cristo na teologia histórica e na vida cotidiana

    A glória na justificação imputada de Cristo

    Richard D. Phillips

    Thomas Goodwin sobre a beleza do coração de Cristo

    Joel R. Beeke

    O verdadeiro conhecimento de Jesus Cristo crucificado: a cristologia na medula da teologia

    William Van Doodewaard

    Cristologia: Calvino, Kuyper e a política

    Ray Pennings

    O desafio diário de uma vida centrada em Cristo

    Ray Pennings

    PARTE 4 – A exaltação gloriosa de Cristo

    A glória da ressurreição vitoriosa de Cristo

    Albert N. Martin

    A investidura do Cordeiro

    James Grier

    Aleluia ao Cristo triunfal!

    James Grier

    Contribuições

    Prefácio

    No Puritan Reformed Theological Seminary, a beleza e a glória de Cristo evocam as nossas emoções mais fortes e nossas convicções mais arraigadas. Pela graça do Espírito, conseguimos impregnar a mente e a alma de cada participante de nossa conferência de 2010 – e as nossas também – com esse tema glorioso. Pois Cristo é nossa esperança de glória e a glória de nossa esperança.

    Estou convencido de que, para ser verdadeiramente evangélico, temos de abraçar como doutrina e como experiência os principais dogmas da Reforma: sola gratia, sola fide, solus Christus, sola Scriptura e soli Deo Gloria. Não é a nossa salvação baseada somente na Escritura, somente por meio de Cristo, recebida somente pela fé, obra somente da graça e somente para a glória de Deus? No fulcro dessas veementes verdades está solus Christus (somente Cristo). Somente Cristo é nossa vida e a nossa salvação, a nossa beleza e a nossa glória. Cristo Jesus é o Senhor e Salvador glorioso, belo, que tem pernas, colunas de mármore (Ct 5.15), pois ele é forte e inabalável e é totalmente desejável (v. 16). Nas palavras de Thomas Brooks, Cristo é desejável, Cristo é muito desejável, Cristo é o mais desejável, Cristo é sempre desejável, Cristo é totalmente desejável.1 Brooks também disse: Cristo é o diamante mais brilhante no anel da glória.2

    Muitos vieram de todos os Estados Unidos até Grand Rapids para serem alimentados pela Palavra de Deus. A conferência superou as nossas expectativas. As mensagens proferidas pelos diversos homens de Deus foram uma festa espiritual. Enquanto nos levavam aos pastos verdejantes da Escritura, colocavam diante de nós as riquezas insondáveis do Senhor Jesus Cristo. Ao expor a Palavra de Deus escrita, eles exibiam a beleza e a glória da Palavra viva – as boas graças do Filho do Pai e sua graça indescritível para conosco.

    Na quinta-feira, 26 de agosto, David Murray pregou sobre a profecia de Isaías, mostrando-nos a beleza e a glória do Servo do Senhor. O ministro escocês David Carmichael nos levou aos evangelhos para nos mostrar Cristo como Senhor da tempestade durante seu sofrimento inexpressável, antes e depois, na cruz. Outro ministro da Escócia, Iain Campbell falou sobre a beleza e a glória de Cristo como exibidas no livro de Cântico dos Cânticos de Salomão. Apresentei algumas impressões do grande teólogo puritano, Thomas Goodwin, relativas ao belo coração de Cristo, que prega para a igreja como seu Mediador à destra do Pai.

    Na sexta-feira, Richard Phillips falou sobre o valor de Cristo como a Palavra de Deus encarnada. Jerry Bilkes nos apresentou opiniões úteis sobre as parábolas de Cristo. Al Martin proclamou a beleza e a glória de Cristo em sua morte e ressurreição. James Grier encerrou o dia dando-nos uma imagem prévia da sala do trono no céu, onde ele viu o belo Cordeiro de Deus, a quem foi dado todo o poder nos céus e na terra.

    No sábado, Ray Pennings falou sobre a nossa obrigação de exibir a beleza e a glória de Cristo ao viver vidas centradas em Cristo. James Grier terminou a conferência chamando a atenção para o Cristo triunfal, e nos conclamando a dizer com a igreja de todos os tempos: Vem, Senhor Jesus, vem logo!.

    Outras palestras incluíram a de William Van Doodewaard sobre A cristologia na medula da teologia, a de Richard Phillips sobre A glória na justificação imputada de Cristo, e a de Ray Pennings sobre Cristologia: Calvino, Kuyper e a política.

    A conferência confirmou que nosso belo e glorioso Cristo é o presente indizível de Deus para nós. Somos gratos a Chris Hanna e ao pessoal do Puritan Reformed Theological Seminary (PRTS) pela organização da conferência, que provou ser uma das melhores de que já participei. Se você não teve como se juntar a nós, pode fazê-lo agora com algum atraso por meio das páginas deste livro. Ao organizar este volume, que é dedicado basicamente a leigos e ministros do evangelho, deixei que os oradores decidissem em que nível eles manteriam o estilo falado de seus respectivos capítulos, o que explica por que alguns capítulos são um pouco mais formais do que outros. De maneira geral, os resumos do seminário são escritos em estilo um pouco mais acadêmico.

    Agradeço de coração a todos os oradores pelo trabalho diligente em suas excelentes palestras. Como conjunto, essas palestras oferecem um livro informativo e reconfortante sobre o nosso precioso Salvador. É nossa prece que Deus abençoe este volume para que possa melhorar a sua caminhada com Cristo.

    Agradeço a Rebecca Van Doodewaard e a Kate de Vries pela utilíssima assistência na edição de toda a obra, Stan McKenzie por sua meticulosa revisão, a Gary e Linda den Hollander pela digitação precisa e pela hábil revisão, a Amy Zevenbergen por mais um desenho de capa grandioso, e a Bartel Elshout pela assistência em parte deste prefácio. Agradeço também a Lois Haley pela transcrição de duas das palestras e a Phyllis TenElshof por me auxiliar na transformação das transcrições em manuscritos. Agradeço também à minha extraordinariamente paciente e dedicada esposa, Mary, e meus filhos queridos, Calvin, Esther e Lydia, que sem reclamar me permitiram o tempo extra necessário para trabalhar na produção de literatura sólida como é este livro.

    A conferência deste ano (2011) ocorreu de 25 a 27 de agosto, no mesmo local, o Centro de Convenções de Princeton, Calvin College, em Grand Rapids, Michigan – sobre a beleza e a glória do Espírito Santo. As palestras discorreram sobre uma diversidade de maneiras pelas quais o Espírito Santo lidera, conduz, convence e conforta os crentes.

    Joel R. Beeke

    Notas

    1 Heaven on Earth. In: GROSART, Alexander B. org. The Complete Works of Thomas Brooks. Edimburgo: James Nichol, 1866, 2:476.

    2 BROOKS. "The Unsearchable Riches of Christ." In: Works, 3:57n3.

    PARTE 1

    A BELEZA DE CRISTO PROFETIZADA E TIPIFICADA

    CAPÍTULO 1

    A beleza do Servo de Deus

    David Murray

    Nestas passagens, não estamos longe da mais elevada cristologia do Novo Testamento, como a que encontramos no quarto evangelho.1 Henri Blocher está se referindo ao que se chama de canções do Servo – embora não haja evidência de que tenham sido algum dia entoadas – em Isaías 42.1-9; 49.1-6; 50.4-9 e 52.13–53.12.* Alguns também defendem uma quinta canção do Servo em Isaías 61.1-4. Este seria um clímax adequado para a série, pois o narrador tem muitos paralelos com o Servo e, com essa profecia, Cristo confirma o seu cumprimento em si próprio (Lc 4.16-21). No entanto, essa passagem é normalmente compreendida como uma fala autobiográfica de Isaías, ainda que ele o faça de uma maneira que prenuncie profeticamente a pessoa e a obra de Cristo.

    Vamos examinar essas quatro passagens e fazer duas perguntas sobre o Servo dessas canções: em primeiro lugar, quem é ele? E, em segundo lugar, como ele é? Vamos responder essas duas perguntas em duas vertentes: sobre a identidade do Servo e a beleza do Servo.

    A IDENTIDADE DO SERVO

    A primeira pergunta que devemos fazer é: quem é o Servo? Há quatro respostas principais:

    O Servo é Israel;

    O Servo é Isaías;

    O Servo é um segundo Moisés;

    O Servo é uma profecia de Jesus Cristo.

    Vamos ver as forças e fraquezas de cada opção.

    O Servo é Israel

    Há quem diga que o Servo é a nação de Israel, que sofreu no lugar das nações gentias. Mais especificamente, os remanescentes fiéis de Israel. Argumentos em favor dessa identificação são:

    Isaías se dirige e descreve Israel como servo do Senhor por todo o texto (cf. 41.8-9; 42.19; 43.10; 44.1–2, 21; 45.4; 48.20).

    A segunda canção do servo chama o servo de Israel (49.3).

    Israel e o servo são descritos de modo semelhante:

    A quem eu sustenho (41.10; 42.1).

    O meu escolhido (42.1; 43.20; 45.4)

    ... te formou desde o ventre (44.2, 24; 49.1)

    Chamei pelo nome (43.1; 49.1)

    Luz para os povos (49.6; 51.4).

    Assim como Ezequiel retrata a história de Israel como de sofrimento, morte e ressurreição (Ez 37), também Isaías retrata de maneira semelhante o Servo em Isaías 53.10ss. O salmista descreve Israel como um cordeiro levado ao abate (Sl 44.22) e, do mesmo modo, Isaías descreve o servo (Is 53.7).

    A morte de Israel abençoou as nações (Is 49.6) pelo testemunho de fiéis israelitas no exílio (por exemplo, Daniel, Ester, Mordecai).

    As objeções à visão de que Israel é o servo são as seguintes:

    O Servo sofre e morre apesar de sua condição sem pecado (50.5; 53.9), enquanto Isaías destaca que o povo de Israel é composto por pecadores que sofrem por seus pecados (40.2; 42.18-25; 43.22-28). Isaías também descreve os fiéis remanescentes como pecadores (43.22; 46.3; 48.1).

    Embora a figura do Servo seja corporificada em Israel em outros capítulos de Isaías, os capítulos que contêm as canções do servo parecem, todos, referir-se a um único indivíduo. Foi assim que o eunuco etíope entendeu a passagem (At 8.34).

    Isaías 49.5-6 diferencia Israel do Servo (veja também 43.3; 53.8).

    Sempre que Isaías fala em nome do povo de Israel, ele utiliza nós, nosso e, normalmente, faz isso de maneira muito abrupta (1.9; 16.6; 42.24). Em Isaías 53.1ss, quando Isaías utiliza nós, nosso, sem identificar quem fala, ele fala em nome de Israel. Portanto, quando Isaías começa a falar do Servo como ele, não pode ser Israel.

    As Escrituras retratam Israel como ovelhas perdidas (Sl[57.7-10]; 119.176; Jr 50.6), que é condizente com Isaías 53.6.

    Isaías caracteriza Israel como o servo cego e surdo (Is 42.19), mas o Servo das canções do Servo é o ouvinte perfeito (Is 50.4).

    O Servo é Isaías

    Se o Servo não é Israel, então talvez seja o próprio Isaías. O eunuco etíope também mencionou isso como possibilidade. Argumentos a favor:

    Isaías 20.3 identifica Isaías explicitamente como meu servo.

    O Servo da canção do Servo fala na primeira pessoa como meu, eu (49.1).

    O Servo sofre aflições físicas e rejeição (42.4; 50.6-9; 53.3-12), da mesma maneira que Isaías.

    O Servo tem características proféticas: ele intercede (53.12), ensina a lei de Deus (42.4; 49.2) e é dotado do Espírito Santo (42.1).

    Temos as seguintes objeções à visão segundo a qual o servo seja Isaías:

    Há traços proféticos no Servo, mas algumas coisas não se encaixam em uma identidade profética. Por exemplo, o Servo recebe a incumbência de promover a justiça na Terra – uma função típica de reis (42.1, 3). Além disso, um profeta dificilmente se encaixa nas descrições vitoriosas contidas em Isaías 52.13,15 e em 53.12.

    Há referência na primeira pessoa (eu, meu) nos cânticos segundo e terceiro. Entretanto, nos cânticos primeiro e quarto, Isaías fala do Servo na terceira pessoa (ele, seu).

    Isaías se mantém no pano de fundo por todo o livro de Isaías, deixando a sua mensagem em destaque. Ele é o menos biográfico dos profetas.

    Até aqui, vimos que o Servo não é Israel (no todo ou em parte) nem Isaías. Outros estudiosos identificaram o Servo como alguma figura real ou sacerdotal, como Esdras ou Ezequias. No entanto, embora o Servo tenha algumas características sacerdotais ou reais, ele tem outras funções e características que não se encaixam nesses papéis. As características e funções do Servo são muito mais amplas do que qualquer um desses dois cargos.

    Isso leva alguns a verem o servo como um segundo Moisés (em cumprimento a Dt 18.14ss), porque ainda que ele seja, basicamente, um profeta, ele também incorpora características e funções reais e sacerdotais. Vamos a seguir considerar as evidências para essa visão.

    O Servo é um segundo Moisés

    Os argumentos a favor dessa visão incluem:

    Isaías desenvolve a ideia de um segundo êxodo por todo o livro, especialmente nos capítulos 40–55, com seus temas repetidos de redenção, recriação, teofania, peregrinação, etc.

    Algumas das canções do Servo têm conteúdo do êxodo muito explícito.

    Como Moisés, o Servo representa o povo, intermedeia a aliança, liberta da escravidão, intercede pelo povo, é humilde e gentil, e leva uma vida exemplar.

    Além de Davi, Moisés é aquele mais frequentemente identificado como o servo. As Escrituras chamam-no de servo 40 vezes, servo de Javé 18 vezes e servo de Deus quatro vezes – a ninguém mais é concedido esse título.

    Mais tarde, em Isaías, há um clamor explícito pelo surgimento de um segundo Moisés (Is 63.11-19).

    Essa é uma analogia muito útil e, na medida em que Moisés era uma espécie de Cristo, seria de se esperar que se construíssem novas profecias sobre isso, e Isaías faz isso claramente. Entretanto, a verdade é que ninguém em posição de profeta, sacerdote ou rei pode preencher esse modelo de Servo. Nem Davi, nem Esdras, nem Moisés, nem Isaías, nem qualquer outra das grandes personalidades de Israel podem calçar os sapatos do Servo.

    O Servo é o Senhor Jesus Cristo

    O Servo é bem maior do que qualquer dos postos em Israel ou do que qualquer das personalidades individuais de Israel. O Servo é a realização integral de Israel. Ele corporifica e realiza tudo aquilo para que Israel foi imaginado. Ele é o Israel ideal, ou o Israel realizado. Isaías resume assim: e me disse: Tu és o meu Servo, és Israel, por quem hei de ser glorificado (Is 49.3).

    Ao dar-lhe a mesma designação de Israel (servo) e, mesmo, ao mencioná-lo na mesma frase em que Israel, Isaías diz que o Servo é tudo que Israel deveria ter sido por convocação. Isso levou Franz Delitzsch a retratar a teologia do Servo de Isaías como uma pirâmide.

    Algumas vezes, o servo de Isaías era Israel como um todo, representado pela base da pirâmide. Em outras ocasiões, Isaías utiliza a palavra servo para se referir ao remanescente purificado de Israel, a seção do meio, mas nas canções do Servo, o Servo de Isaías é o Salvador que virá – o ápice – que é a corporificação de Israel.2 De maneira significativa, Isaías não utiliza o termo plural de servo até depois de Isaías 53. Do capítulo 54 em diante, o plural servos aparece onze vezes, referindo-se ao povo de Deus, inclusive aos estrangeiros. O trabalho do Servo produz servos, não apenas dentro da nação de Israel, mas também de todo o mundo.3

    Isaías previu que Deus traria Ciro, um rei pagão, para libertar o seu povo da Babilônia. Mas Ciro não era o único libertador que viria, Isaías previu um êxodo, uma redenção e um libertador muito maior do que Ciro. O papel de servo de Ciro era introdutório; ele não passava de um prelúdio para o Servo e seu êxodo maior.

    Isaías está apontando para Jesus Cristo, que veio não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos (Mc 10.32-45). Jesus foi o primeiro a ver que ele era o Servo, e viu isso bem cedo (Lc 2.49; 3.22). Esses cantos do Servo deram a Jesus o desenho de sua missão. Logo após o Pentecostes Jesus é chamado de servo quatro vezes (At 3.13, 26; 4.27, 30). De fato, Blocher observa que o tema do Servo era tão destacado na igreja do Novo Testamento que a cristologia era basicamente uma pedologia (servantologia).4

    A BELEZA DO SERVO

    Agora que identificamos o Servo como o Messias, Jesus Cristo, vamos olhar para a beleza do Servo. O que podemos aprender da beleza de Cristo a partir desses cânticos proféticos?

    Não vou levá-lo por uma exegese verso a verso dessas quatro canções. Ao contrário, vou destacar os pontos altos das descrições de Isaías e, então, mostrar como o Senhor Jesus Cristo correspondeu a essas descrições. À medida que prosseguirmos, será possível observar que os cantos seguem a cronologia da vida de Cristo.

    O Servo se alegra com belos relacionamentos

    1. O relacionamento Pai/Filho: Deus Pai disse de seu Filho: Eis aqui o meu Servo (Is 42.1). Deus chamou Adão para esse papel, mas ele desobedeceu, rebelou-se e fracassou. Deus chamou Israel para exercer esse papel. Israel também desobedeceu, rebelou-se e fracassou. Entretanto, aqui Deus prevê um Servo que não falhará, um Servo de quem ele não terá vergonha, um Servo para quem ele conclamará outros. Quando esse Servo aparece, Deus diz a todos: Eis aqui o meu Servo ou Olhem para ele.

    O Deus Pai não apenas enviará o seu Servo por sua própria conta. Ele também vai fortalecê-lo, tomá-lo pela mão tão firmemente que nada poderá derrotá-lo (42.1, 6). O amor do pai pelo Servo está embutido na expressão paternal: meu escolhido. A cultura hebraica via o amor como um ato de vontade, como uma decisão deliberada de se unir a alguém. Não era tanto emocional quanto volitivo. O amor era algo em que você embarcava por escolha – meu escolhido. Isso está sublinhado pela próxima sentença: em quem a minha alma se compraz (42.1). Isso é uma relação mestre/servo altamente incomum.

    A sua realização ficou especialmente clara depois do batismo de Cristo. Quando ele saiu da água, o Deus Pai repetiu, de fato, Isaías 42.1, enchendo Cristo de seu espírito que Isaías prometera no mesmo versículo: Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu filho amado, em quem me comprazo (Mt 3.16-17). Que bela imagem do íntimo relacionamento trinitário – Eis o meu servo!.

    2. O relacionamento Filho/Pai: no segundo cântico (49.1-6), o servo descreve sua experiência com Deus e, particularmente, sua dependência dele. Ele fala de seu desânimo em termos humanos e sobre como se voltou para o pai em busca de apoio. Eu mesmo disse: debalde tenho trabalhado, inútil e vãmente gastei as minhas forças; todavia, o meu direito [justificação pessoal ou o trabalho de restaurar a justiça] está perante o Senhor, a minha recompensa, perante o meu Deus (49.4). Muitas vezes, durante toda a sua vida, Cristo expressou a sua dependência do Pai em meio ao desânimo e ao infortúnio (Jo 17). E, obviamente, no momento de maior necessidade, ele entregou a sua alma ao seu Pai (Lc 23.46).

    3. O relacionamento com a aliança: Deus estabeleceu uma aliança com Adão em favor do mundo, e depois com Israel em favor das nações. Infelizmente, os dois romperam relações com Deus, provando que eram servos infiéis. Mas na primeira canção do Servo, Deus promete que enviará um Servo com mediador de uma aliança com o povo, luz para os gentios (42.6). Diferentemente de Adão e Israel, esse Servo se tornará a aliança e manterá a aliança, estendendo os benefícios da aliança para além de Israel, para todo o mundo. Por meio da aliança da graça, os pecadores poderão fazer parte e desfrutar de uma relação de filho/Pai com Deus.

    O Servo tem um belo caráter

    Uma das características mais destacadas do Servo nas canções do Servo é a sua humilde docilidade. Essa mansidão é muito adequada ao seu papel de Servo. Diferentemente dos falsos profetas dos tempos do Antigo Testamento, que se caracterizavam por um exibicionismo frenético, histérico e de autopromoção, [o Servo] não clamará, nem gritará, nem fará ouvir a sua voz na praça (Is 42.2). Ele será quieto e modesto; não buscará publicidade.

    O Servo também não seguiria o padrão de Ciro, de libertação por meio da força e do poder militar que esmagaram a todos que estavam à sua frente. Ao contrário, Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega (Is 42.3). Como seria reconfortante essa certeza ao Israel em chamas e em pedaços no exílio babilônio.

    Isaías também descreve o servo como uma plantinha que brota e uma raiz seca (53.2). Ele não é alto e bonito, nem forte e imponente. Não há nada sedutor ou atraente em sua aparência ou em seu físico. É como se o profeta dissesse: olhamos para ele, mas não há nada para se olhar.

    Toda a imagem é de mansidão. Isso não quer dizer, no entanto, fraqueza. Embora o Servo não vá quebrar a cana cortada nem apagar o pavio ardente, tampouco ele será como um pavio ardente ou como a cana cortada (42.4). A fraqueza e a fragilidade não serão características dele. Sua luz não se extinguirá. Ele combinará lindamente a força e a candura, a mansidão e a coragem.

    Como Mateus reconhece, Jesus cabe em sua descrição com perfeição (Mt 12.17-21). Na verdade, Jesus sublinhou quanto se agradava da mansidão (Mt 11.29). Ele recusou a publicidade humildemente. Ele não ficou se gabando. Ele buscou os fracos e desanimados e deu valor ao menor sinal de vida espiritual. Ele curou com ternura a cana cortada e reacendeu a chama que se apagava.

    O Servo executa um belo trabalho

    1. Justiça: grande parte do trabalho do Servo é fazer justiça – uma ordem justa – tanto para os gentios quanto para toda a terra (Is 42.1, 3-4). A justiça não tinha tanto a ver com punição, mas mais com o reordenamento do que tinha sido desordenado, trazendo estrutura onde antes havia o caos.

    2. Ensino: quando Ciro, outro servo de Deus, estava em seu caminho, as nações distantes tremiam de terror e temiam os seus feitos (41.3-7). Mas com esse Servo, em contraste, as nações aguardavam com expectativa e esperança. Eles aguardavam com ansiedade pelos ensinamentos penetrantes, incisivos e claros desse Servo (42.4). Em vez de mergulhar as nações em trevas, ele será luz para os gentios (42.6). As Escrituras destacam repetidamente a sua capacidade de ensinar e os seus ensinamentos (49.4-5).

    3. Salvação: o Servo não só dará salvação da Babilônia, mas também do pecado. Isaías descreve algo bem maior do que simplesmente retornar do exílio. Envolve não apenas um retorno, mas uma nova criação. Inclui não apenas Israel, mas também os gentios (49.6-8). Esse Servo fará muito mais do que Moisés jamais fizera.

    Paulo viu as canções do Servo preenchidas na vida e morte de Jesus Cristo (Is 49.8; 2Co 6.2). Que servo é Jesus! Ele faz justiça, ele ensina e ele salva!

    O Servo é belo no sofrimento

    A essa altura, esperamos que a carreira do Servo vá adiante, para cima e para a frente. Entretanto, o terceiro canto nos mergulha no que tem sido chamado de Getsêmani do Servo (Is 50.4-9), levando-nos ao Gólgota do Servo na quarta canção (Is 53). Há uma dica dessa dolorosa possibilidade no segundo (Is 49.4), mas nos cânticos terceiro e quarto, o sofrimento se torna uma parte integral e crescentemente intensa da experiência do Servo. Isaías 53, o Gólgota do Servo, é a mais longa das quatro canções do Servo e a passagem do Antigo Testamento mais frequentemente citada no Novo Testamento. Uma vez que também é a canção com a qual estamos mais familiarizados, não gastarei muito tempo nela a não ser para observar que, em primeiro lugar, o Servo não iria incorporar, satisfazer e acabar com todos os sacrifícios levíticos; em segundo lugar, que o sofrimento imposto ao Servo por Israel seria a salvação de Israel; e em terceiro lugar, que o seu sofrimento era uma substituição – não por ele, mas por nós. "Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava

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