Carmilla- A primeira vampira
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Carmilla- A primeira vampira - Shridan Le Fanu
Título original: Carmilla
copyright © Editora Lafonte Ltda. 2023
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Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida por quaisquer meios existentes sem autorização por escrito dos editores.
Direção Editorial: Ethel Santaella
REALIZAÇÃO
GrandeUrsa Comunicação
Direção: Denise GIanoglio Tradução: Maria Beatriz Bobadilha Revisão: Luciana Maria Sanches Capa, Projeto Gráfico e Diagramação: Idée Arte e Comunicação Versão EPUB: Estúdio GDI
Editora Lafonte
Av. Profa Ida Kolb, 551, Casa Verde, CEP 02518-000, São Paulo-SP, Brasil – Tel.: (+55) 11 3855-2100
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Sumário
Prólogo
Um sobressalto prematuro
Uma hóspede
Comparando as impressões
Seus hábitos — um passeio
Uma semelhança espantosa
Uma agonia muito estranha
A descida
A busca
O médico
Angustiado
A história
Um apelo
O lenhador
O encontro
Provação e execução
Conclusão
Prólogo
Num bilhete anexado à narrativa a seguir, o doutor Hesselius elaborou uma nota bastante detalhada, na qual cita seu ensaio sobre o estranho assunto abordado no manuscrito.
Nesse estudo, ele aborda os mistérios do caso com a erudição e a perspicácia que lhe são habituais, de modo notavelmente direto e conciso — e não é por menos que constituirá um dos volumes integrantes da extraordinária antologia desse senhor.
Todavia, como o meu presente objetivo é publicar o caso apenas para sanar a curiosidade dos leigos
, prefiro não me antecipar quanto à dama inteligente que narra a história. Além disso, após as devidas considerações, decidi me abster de apresentar qualquer síntese das conclusões do sábio doutor ou de citar suas declarações sobre um assunto que, segundo ele, provavelmente envolve alguns dos arcanos mais profundos de nossa existência dual e seus intermediários
.
Ao tomar conhecimento da referida narrativa, fui invadido pelo anseio de retomar a correspondência iniciada tantos anos antes pelo doutor Hesselius com a pessoa sagaz e cautelosa que sua informante parece ter sido. No entanto, para o meu eterno pesar, descobri que ela havia falecido nesse meio-tempo.
É muito provável que tivesse pouco a acrescentar ao relato exposto nas páginas subsequentes, cujo nível de detalhamento, a meu ver, é bastante minucioso.
I
Um sobressalto prematuro
Na Estíria, moramos num castelo, ou um schloss, embora estejamos longe de ser nobres. Nesta parte do mundo, uma renda razoável é mais do que o suficiente para determinados luxos. Oitocentos ou novecentos ducados anuais podem fazer maravilhas, mas jamais pertenceríamos à elite da região com os nossos modestos rendimentos. Meu pai é inglês, e carrego um sobrenome inglês, apesar de nunca ter pisado na Inglaterra. Mas aqui, neste lugar remoto e primitivo, onde tudo é incrivelmente barato, não consigo imaginar como uma riqueza maior poderia nos trazer mais conforto ou até mesmo mais luxo.
Meu pai serviu ao governo austríaco e, depois da aposentadoria, passou a viver de uma pensão e suas reservas. Por uma pechincha, adquiriu esta imponente residência feudal e a pequena propriedade ao redor.
Não há lugar mais pitoresco ou solitário. O castelo se situa num pequeno morro no meio da floresta, e a estrada de acesso, tão estreita quanto antiga, passa em frente à ponte levadiça — a qual jamais vi erguida. Da estrada também é possível avistar o fosso, repleto de percas e cisnes que parecem flutuar em meio às enxurradas de nenúfares brancos.
Acima de tudo isso, o schloss exibe sua fachada com inúmeras janelas, algumas torres e uma capela gótica.
Bem diante das muralhas, a floresta se abre numa clareira fascinante e irregular, mas uma íngreme ponte medieval à direita do castelo conduz a estrada de volta à mata, transpondo um riacho que serpenteia pela densa escuridão do bosque. Como disse, trata-se de um local bastante remoto, mas sinta-se livre para julgar a veracidade da minha palavra. Ao observar a estrada pela porta de entrada, no alto do morro, é possível notar que a floresta do castelo se estende uns vinte e cinco quilômetros à direita e vinte à esquerda. O vilarejo povoado mais próximo está a onze quilômetros à esquerda, e não existe outro schloss habitado e digno de alguma relevância histórica a menos de trinta quilômetros à direita — no caso, o castelo do general Spielsdorf.
E digo o vilarejo povoado mais próximo
porque, a apenas cinco quilômetros no sentido oeste, bem na direção da propriedade do general Spielsdorf, encontra-se um vilarejo fantasma. Ali, em meio às casas abandonadas, os corredores de uma curiosa capela destelhada ainda guardam as tumbas deterioradas da suntuosa família Karnstein, hoje extinta. Essa nobre linhagem era proprietária de um castelo igualmente abandonado, que se ergue na mata fechada com vista para os destroços silenciosos da cidade.
Quanto às causas da deserção deste lugar magnífico e melancólico, existe uma lenda que lhe contarei mais tarde.
Por ora, detenho-me em relatar o ínfimo número de moradores do nosso castelo. Não incluo os serviçais, tampouco os dependentes que ocupam os quartos anexos do schloss. E imagine só! Tanto espaço para o meu pai, o homem mais bondoso do mundo, já meio envelhecido, e para mim, com apenas dezenove anos à época desta história. Passaram-se oito anos desde então.
Eu e papai constituíamos a família que habitava o schloss. Minha mãe, uma típica senhora estíria, morreu quando eu ainda era criança; mas tive uma governanta de bom coração, aos cuidados da qual fui entregue desde a primeira infância. Nem sequer me lembro dos dias em que o rosto rechonchudo e gentil dessa mulher não me fosse familiar.
Refiro-me à madame Perrodon, uma senhora nascida em Berna, cujos carinho e bondade supriram um pouco a ausência de minha mãe — de quem não tenho qualquer lembrança, tão cedo a perdi. E era a madame Perrodon quem ocupava o terceiro lugar da nossa pequena mesa de jantar. Havia também uma quarta cadeira, destinada à mademoiselle De Lafontaine, uma senhorita que poderíamos chamar de governanta educadora
. Ela falava francês e alemão, enquanto a madame Perrodon falava francês e um pouco de inglês; embora eu e meu pai tivéssemos o hábito de conversar em inglês todos os dias, tanto para conservar a fluência como por motivos patrióticos. A consequência disso era uma verdadeira torre de Babel, que se tornava motivo de riso para quem nos via de fora e que não me atrevo a reproduzir nesta narrativa. Havia ainda duas ou três amigas, mais ou menos da minha idade, que às vezes me visitavam por curtos ou longos períodos — e vez ou outra eu lhes retribuía a visita.
Esses eram nossos contatos sociais mais corriqueiros; sem contar os eventuais encontros com vizinhos
que moravam a apenas vinte e cinco ou trinta quilômetros do castelo. Apesar disso, posso lhe afirmar que minha vida era bastante solitária.
Minhas governantas exerciam pouquíssimo controle sobre mim; como é de se esperar de qualquer pessoa esperta que precise lidar com uma jovem mimada, de quem o pai viúvo atende a praticamente todos os caprichos.
A primeira situação que me deixou terríveis marcas, a ponto de continuar nítida em minha memória, é um dos primeiros incidentes dos quais consigo me lembrar. Para algumas pessoas, esse episódio pode parecer tão insignificante que nem deveria estar aqui registrado. Porém você compreenderá em breve o motivo pelo qual o menciono. No último andar do castelo se encontra um quarto bastante espaçoso, com teto inclinado e forro de carvalho, que costumávamos chamar de berçário
— embora eu fosse sua única ocupante. Eu não devia ter mais de seis anos quando acordei certa noite, observei todo o espaço ao redor da cama, em busca de algum sinal da criada, e não a encontrei. Tampouco encontrei minha governanta, e me vi totalmente sozinha.
Não fiquei assustada, pois era uma daquelas crianças que têm a felicidade de ser