Gremi: um sonho de primavera
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Sobre este e-book
Genésio Tocantins, Juraíldes da Cruz, Valter Mustafé, Braguinha, Alcione Guimarães, Delermando Vieira, Ubirajara Galli, Nonato, Luiz Mauro são nomes da cultura de Goiás que muito devem ao GREMI. Foi ali que eles foram revelados e ganharam condições de profissionalização. O festival em seus tempos áureos chegou a receber 200 inscrições somente na categoria de composições próprias. Os concorrentes vinham de longe: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais. O GREMI estava entre os três maiores festivais do Brasil."
Malu Longo,
jornal O Popular, 1994.
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Gremi - Weber Oliveira Venâncio
CASA CHEIA
Fazia um bom tempo que o ginásio municipal de esportes Firmo Luiz de Melo Souza não ficava tão cheio quanto naqueles últimos dias do mês de setembro de 2004. As arquibancadas quase lotadas e nada aconchegantes pareciam se esforçar para acomodar o bom número de pessoas que se locomoviam em busca de um lugar em meio à multidão, um pouco antes das apresentações musicais começarem.
Na plateia, havia um público heterogêneo formado por diversas classes, crenças, idades e visões de mundo. Um aglomerado de pessoas composto na maioria por jovens que, de tão novos, jamais estiveram presentes anteriormente em outra edição do festival ‘Grandes Revelações da Mocidade Inhumense’, o GREMI. Fato compreensível, uma vez que o último concurso de artes promovido pelo Clube dos Trinta de Inhumas havia sido realizado pouco mais de uma década antes desse que se planejara ser o festival da retomada.
Plateia do GREMI na década de 1970. (Fonte: arquivo pessoal de Eurípedes Soares Silva)
Embora a pouca idade não permitisse aos mais moços testemunhar os áureos tempos do evento trinteano em épocas passadas, havia revistas, fotografias e histórias que se contavam. Fragmentos de memória preservados e repassados a eles naturalmente pelas gerações anteriores. Além disso, existia a ideia de resgate, de trazer à tona novamente uma produção local de enorme relevância, mas que se encontrava em estado de hibernação desde a primeira metade dos anos 1990.
Todos esses fatores já seriam suficientes para justificar a presença e a satisfação de cada um dos que ali aguardavam ansiosamente para prestigiar aquele momento histórico. Todavia o valor cultural, embora preponderante, não foi o único elemento responsável pela criação de um ambiente favorável àquela grande festa. Aquele encanto que parecia contagiar boa parte da população, sobretudo a juventude, foi resultado de um processo que teve início muito antes da data marcada para a reabertura do festival.
Alguns meses anteriores à realização daquele GREMI, Inhumas seguia sua rotina de cidade interiorana. Durante a semana, sobre calçadas nem sempre regulares, pessoas indo e vindo de todas as direções caminhavam para mais um dia de trabalho, enquanto crianças e adolescentes com seus materiais escolares partiam para suas respectivas instituições de ensino. Simultaneamente, pelas ruas, ciclistas, carros e motos dividiam espaço com veículos de propaganda que logo cedo anunciavam as promoções do dia, fazendo a trilha sonora diária daquele inalterável enredo urbano.
Aos fins semanais, os bares do entorno da Praça do Estudante eram as opções para a quebra dessa rotina. Assim como as boates de vida efêmera que surgiam na noite inhumense e as ‘domingueiras’ de som-automotivo na praça Belarmino Essado. No entanto, enquanto a vida seguia seu curso naquele município, alguns jovens se articulavam para que algo de grande importância, em um passado recente, voltasse a atrair as atenções ultimamente direcionadas apenas às preocupações cotidianas. Algo que havia ficado no tempo, interrompido subitamente, sem, contudo, deixar de existir nas lembranças de muitos saudosistas de uma época cujo retorno parecia cada vez mais distante. Esse ‘algo’ era o GREMI, e ele enfim voltaria a acontecer.
Tão logo o Clube dos Trinta decidia pelo regresso de seu maior empreendimento, sem demora a novidade era anunciada à população. E essa boa nova
era difundida das formas mais diversas. Por meios impressos, realizou-se distribuição de panfletos, produção de folders com a programação, estampagem de camisetas e instalação de outdoors com a marca do evento. Pela mídia volante, veículos cobertos com adesivos e carros de publicidade ajudavam a propagar o retorno da atração. Nas rádios, organizadores concediam entrevistas convocando os ouvintes a participarem. E, para complementar o trabalho, estandes eram montados em festividades locais e até divulgação em salas de aula era realizada nas escolas da região. Tudo isso fazia parte de uma campanha visando reaproximar a sociedade inhumense ao festival. E, verdade seja dita, a estratégia parecia dar certo!
Em pouco tempo, o que se viu foi a participação de muitos jovens em meio às ações do Clube dos Trinta, instituição responsável pelo evento. Enquanto alguns se engajavam nos trabalhos de divulgação, outros se apresentavam artisticamente em atividades realizadas pela entidade. Notadamente, a mocidade se preparava para um importante acontecimento cultural. Contudo eram nas inscrições para as disputas que se observava o indício mais contundente do envolvimento da juventude inhumense.
Com o ressurgimento do GREMI, muitos talentos locais voltaram a florescer. Músicas, contos e poesias começaram a ser escritas para concorrerem às premiações. Novas pinturas, desenhos e gravuras ganharam formas, estimuladas também pelo retorno do concurso trinteano. E nessa diversidade de categorias subdivididas que o evento dispunha para a competição não faltava cidadão do município inscrito entre os candidatos de qualquer que fosse a área: música, artes plásticas ou literatura. Chegado o grande dia, quem duvidaria que os bons tempos
realmente estariam de volta?
Luzes acesas, jurados em suas cadeiras, artistas em seus lugares e plateia acomodada. Tudo pronto para o festival ‘Grandes Revelações da Mocidade Inhumense’ voltar a dar o ar de sua graça, após longo período de paralisação.
Capa do folder distribuído na edição 2004
O INÍCIO
Final da década de 1960, a juventude brasileira vivia uma fase de inquietações artísticas, políticas e sociais, e em Inhumas não era diferente. Os desejos de autoafirmação e de transformação, que contagiavam muitos jovens dos grandes centros do país, eram também presentes nas cabeças de diversas moças e rapazes daquele município goiano. Na busca por satisfazer esses anseios, muitos encontravam nas agremiações um aliado importante para a realização de seus projetos. Nesse contexto, os clubes sociais eram os que despertavam maior interesse da mocidade inhumense. E um que começava a chamar a atenção nesse período era o Clube dos Trinta.
Com o objetivo de promover ações sociais, esportivas, culturais e filantrópicas nasceu o Clube dos Trinta de Inhumas, oficialmente no dia 18 de novembro de 1967. Sua origem se deu por iniciativa de Gilberto Fleury, nos corredores do colégio Rui Barbosa, localizado na rua Presidente Kennedy, no setor Central, próximo à antiga rodoviária. Professor naquela instituição, Gilberto apresentou sua proposta a alguns estudantes e funcionários que ali frequentavam. Interessados pela ideia, muitos o ajudaram na criação.
"O alunado do colégio era tudo rapaz, rapazote como a gente mesmo, na época. Combinou um com outro de formar um clube lá, e aí surgiu. [...] A maioria era do colégio: o Eurípedes [Soares Silva], de mulher tinha