Os pares de sapato não acompanham as quedas
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Sobre este e-book
A história é narrada em detalhes descritivos ricos misturados a reflexões e questionamentos. Tudo isso um capítulo único, assim como também era único o filho de Célia que, com apenas vinte e nove anos, se lança da janela do seu apartamento, causando na mãe não só a dor inenarrável da perda de um filho, mas o questionamento sobre a perda da sua própria identidade: "É isso o que sou. Ou melhor, é isso o que eu deixei de ser: uma mãe".
Fim, início, meio, o passado invadindo o presente tomado pela preocupação de um futuro que parece impossível. A noção de tempo se confunde ao longo da narrativa que, mesmo breve, tem a profundidade de um abismo. As memórias aqui são apresentadas como numa montanha russa, mostrando como a linearidade do tempo se confunde quando se fala de alguém que não existe mais, mas que insiste em se manter eterno.
Maria Eugênia M. consegue mostrar essa alternância no ritmo do texto, quando narra as memórias do filho em listas extensas que cobrem uma ou mais páginas, mas que são interrompidas por algo que conecta a narradora de volta ao inevitável presente. "Da primeira desilusão amorosa que fez o meu filho chorar sozinho em alguma esquina do centro da cidade – a menina, sua primeira namorada, esteve no velório".
Este é um livro que nos leva a refletir sobre o nosso descontrole diante do que simplesmente é. Tendo o suicídio de um filho como o exemplo maior do incompreensível. Para uma mãe um filho só deve existir no início e no meio, nunca antes do seu próprio fim.
Só uma mãe que perde um filho sabe o que é perder um filho. Mas não é preciso ser mãe para entender que se trata de uma dor que pode sim levar à loucura. E ainda bem que a literatura tem o poder de colocar em palavras o que não sabemos. É isso que Maria Eugênia M. faz aqui ao narrar o barulho que tem o silêncio de uma dor para a qual "não existe consolo", que persiste de forma confusa e fragmentada, confundindo tempo e espaço. Uma dor que não se esquece, se tem.
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Os pares de sapato não acompanham as quedas - Maria Eugênia Moreira
Os pares de sapato não acompanham as quedas
Os pares de sapato não acompanham as quedas
Maria Eugênia Moreira
Copyright © 2023 Maria Eugênia Moreira
Os pares de sapatos não acompanham as quedas
© Editora Reformatório
Editor
Marcelo Nocelli
Revisão
Pamela P. Cabral da Silva
Natália Souza
Imagem de capa
Márcio Júnior
Capa
Gustavo Nieri
Editoração eletrônica
Negrito Produção Editorial
Livro digital
Gabriela Fazoli
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
Bibliotecária Juliana Farias Motta (crb 7/5880)
Índice para catálogo sistemático:
1. Romance brasileiro
Todos os direitos desta edição reservados à:
EDITORA REFORMATÓRIO
www.reformatorio.com.br
Para Cariño,
quem me apresentou
os melhores diálogos.
Para Carlos Felinto,
as melhores mãos
para trabalhos
em madeira.
um diário,
uma alucinação.
Apresentação
Maria Eugênia é escritora e por acaso foi minha aluna lá na psicologia. Me pediu para que escrevesse um prefácio para seu belo livro que primeiro me enviou por e-mail e que tive dificuldade em ler. Muito real, próximo da vida de muitas pessoas e da minha também. Interessante pensar que eu tenha sido chamado para prefaciá-lo, porque o livro é ficção, mas o psicanalista acabou sendo eu, que sou de verdade.
Entendo que me caiba falar algumas poucas coisas envolvendo minha área. O trabalho do luto é construção freudiana. Antes disso o luto existia, mas não era chamado de trabalho. Desde então é encontrado pelos analistas cotidianamente como um exercício constante do eu de reparação da sua relação com a realidade. Recuperação de si e do mundo, onde o desafio é a manutenção da possibilidade de ligação interessada com os outros. Conseguir realizá-lo é sinal de saúde.
Mas o trabalho todo do luto é frustrante. Ainda por cima, a possibilidade de elaborar a culpa sentida por danos reais e imaginários causados ao objeto perdido pode se tornar um fardo insuportável.
Digo isso pois este escrito de Maria Eugênia nos traz um relato massacrante do luto de uma mãe pelo filho suicidado. Somos apresentados a seu caos interior. Por mais que ela se esforce, e as defesas obsessivas e negações e cisões são prova disso, existe agora algo no mundo que não tem conserto. É imperioso, no entanto, tentar reparar esse dano terrível sentido dentro de si. Como garantir a continuidade da existência, seja lá como for, daquele que escolheu ir embora deixando atrás de si um rastro de silêncio e lembranças partidas?
Temos acesso a vários momentos da tentativa de elaboração psíquica dessa mãe. Falarei brevemente sobre alguns deles, pois vejo importantes relações com