Mensageiros da Pandemia
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Mensageiros da Pandemia - Professor Elias José
INTRODUÇÃO
Os sonhos e as profecias trazem a revelação de muitos mistérios, desde os tempos mais remotos, como ocorreu com José, que se tornou governador do Egito, e com o profeta Daniel, cativo na cidade de Babilônia.
As viagens que fazemos, de forma física, virtual ou astral, nos levam ao passado, ao presente e ao futuro, no tempo e no espaço. Isso nos possibilita uma visão mais significante da vida real que vivemos.
Sonhar não custa nada, em sonho nós somos invencíveis, fazemos a história acontecer da nossa maneira, do nosso jeito.
Em nosso sonho, temos acesso irrestrito a lugares, épocas e períodos, com recursos mentais ilimitados, desvendando segredos, códigos e mistérios.
Somos vencedores em sonho porque somos dono da ação do vento, das ondas do mar, do nosso destino e da nossa própria aventura.
Capítulo 1
O Sonho 78
Em dezembro de 2018, o professor Santos chamou todos os voluntários, educadores bolsistas e amigos do teatro que realizavam atividades de lazer, cultura e artesanato, aos finais de semana, com a comunidade na escola para uma reunião.
Estavam reunidos para mais um dia de rotina de tarefas e atividades que realizavam com as crianças, os jovens e os idosos. Também estavam curiosos para saber do que se tratava aquela importante reunião.
O professor aproveitou a oportunidade para agradecer e parabenizar a equipe pelo trabalho e informar a todas as pessoas presentes que havia finalmente assinado sua tão sonhada aposentadoria.
Foi um depoimento comovente depois de 35 anos de contribuição dedicados à educação ministrando aulas de arte a crianças, jovens e adultos.
Deus havia cumprido o desejo do seu coração e lhe dado essa merecida vitória em sua carreira que se encerraria ao final de 2019.
O projeto realizado todos os finais de semana, o grupo de teatro, o time de voleibol e as demais atividades com a comunidade, teria continuidade em outra unidade escolar.
Em 2020, um novo governo assumiu a secretaria da educação estadual e não honrou o compromisso de manter o projeto, por isso não abriram novas inscrições para bolsistas.
Essa atitude sinalizou o fim do programa na escola. Assim, não seria possível realizar nenhuma atividade, principalmente com a chegada inesperada de um vírus chamado de Covid-19, que logo se transformaria em uma pandemia.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) usou como medida de proteção o isolamento social, a mais dura das estratégias. Essa medida dura e radical foi A Quarentena
.
Um dia, em uma noite maravilhosa, o professor Santos teve um sonho diferente, sonhou que estava em sua antiga vila, onde havia uma horta que era administrada pelos japoneses; ali era o local de duas escolas, na avenida principal do bairro, que na ocasião era de paralelepípedo.
Viu a antiga igreja do bairro e observou tudo à sua volta, o outro lado da Avenida Presidente Castelo Branco, onde não havia movimento de carros e ônibus.
As ruas eram de terra e, quando chovia, viravam lama. Os terrenos eram vazios, a mata nativa exibia seus lindos eucaliptos, e o rio de águas cristalinas mostrava-se limpo com seus tímidos peixinhos. Os japoneses usavam essa água limpa para irrigar a horta que abastecia a pequena vila.
Era um sonho bom, bucólico, saudosista e cheio de nostalgia. O professor percebeu então que estava em 1978.
Estava sonhando! Foi essa conclusão a que chegou quando alguém o chamou do outro lado da avenida, era uma prima, que acenava enquanto carregava nos braços uma menina que provavelmente era sua filha.
O professor Santos ficou bastante intrigado, mesmo sabendo que se tratava de um sonho, pois conheceria sua prima 20 anos depois e sabia que ela teria uma filha também 20 anos depois. Como isso era possível?
Lembrou-se de que era um sonho e que tudo era possível, então achou normal.
Acenou com a mão se despedindo da prima, pois sabia que ambos estavam em épocas erradas. Resolveu olhar mais à sua volta e voltou-se para o oeste; não viu a escola onde trabalhou nos últimos anos de sua carreira educacional, tudo ali outrora fazia parte da horta dos japoneses.
O sonho parecia tão real que dava para ouvir o canto dos passarinhos. Era prazeroso e confortável sentir aquela sensação e reviver aquele tempo em que passou brincando na rua com os amigos.
A infância foi o melhor momento da sua vida, em que podia jogar bola, soltar pipa e andar de bicicleta revezando com os irmãos, sem nenhuma preocupação.
O professor mapeou inocentemente o caminho que fazia para a primeira escola onde estudou, que estava morro acima. Quando tocava o sinal do fim das aulas, os alunos saíam correndo ladeira abaixo.
Capítulo 2
Na era do celular
O professor viajava em devaneios quando foi interrompido pelo som de um telefone, um celular que estava em seu bolso e que quebrou toda a magia daquele momento.
Era um muito estranho e familiar o som de um celular; atendeu o aparelho pensando em quem poderia ser!
Por que alguém em sonho ligaria para ele logo em 1978? Quem seria? Não conseguia imaginar como poderia atender o celular já que estava vivendo uma situação surreal, mas o gesto foi o mais normal possível.
Uma voz rouca, arrastada e cansada falava do outro lado da linha causando estranheza e confusão. Era a voz de uma pessoa que ainda estava dormindo, embriagada pelo sono e muito paranoica.
Mas era possível reconhecê-la, era a mesma pessoa que sempre ligava aos domingos de manhã, do mesmo jeito, querendo saber o paradeiro do professor mesmo sabendo que ele estaria na escola para coordenar as atividades de esporte, lazer e cultura com a comunidade.
Santos sorriu, pois sabia de quem se tratava, mesmo assim ficou surpreso de a ligação acontecer até em sonho.
— Alou! Quem fala? — perguntou o professor.
— Hélios! Onde você está? — indagou com a voz rouca.
— Estou na escola, mister Paulus — afirmou com dúvida o professor olhando para trás.
— Tem certeza? A escola não está fechada? E a pandemia? O que você está fazendo aí? — questionou Paulus.
— Sim, eu tenho certeza. A escola está aberta! Eu estava passando, olhei e vi, estão acontecendo atividades de lazer, esporte e cultura.
— E quem está administrando?
— Eu não sei! Eu vou me aproximar para ver o que está realmente acontecendo, estou vendo todos os voluntários, educadores e as pessoas da comunidade.
A situação, porém, era surpreendente para o professor e para Paulus, que estava muito curioso e inconformado do outro lado da linha.
Capítulo 3
Estamos em lockdown
— Nós estamos em lockdown! O comércio está aberto? — perguntou Paulus com espanto.
— O comércio está fechado, só a escola está aberta — respondeu o professor com estranheza.
— Eu vou tomar um café bem rápido e vou até a escola para ver isso de perto — disse Paulus com ímpeto.
Paulus era um dos voluntários do projeto e um grande amigo do professor, sempre estava presente em reuniões, palestras, debate, principalmente em apresentações teatrais. Ele desceu rapidamente as escadarias da viela e, quando chegou à avenida, não teve nenhuma grande surpresa, pois tudo estava fechado como era de se esperar, menos a escola, que estava aberta.
Paulus se aproximou e ficou perplexo tentando entender por que a escola estava aberta em plena quarentena?
Depois de vários questionamentos e conflitos, o rapaz finalmente entrou. Pensando que talvez fosse uma pegadinha, entrou brincando e foi recebido com a mesma alegria de sempre, saudou a todos com Sharon
, ou seja com a paz!
Como era de costume, continuou brincando com os colegas, fazendo alguns comentários da quarentena que não faziam sentido. Tudo na escola estava acontecendo como antes da pandemia, isso o intrigou ainda mais.
— Por que a escola está aberta? Nós estamos em lockdown! O decreto ainda está funcionando? E a sua aposentadoria? Você, eu, nós deveríamos estar casa! Esse pessoal não tem medo do coronavírus? — Paulus tinha muitas perguntas.
— Eu também não entendo! Eu acordei aqui, em frente à escola, e tudo era a antiga horta do japonês! Aliás, estou sonhando! Por que você está em meu sonho?
— Você não pode estar sonhando, isso é bem real! Vamos esclarecer uma coisa, você se aposentou, nós fizemos três festas de despedidas em 2019 e foi o fim!
— Sim, eu me lembro de tudo isso!
— Aí surgiu o vírus da Covid-19. Os bares, as escolas, as igrejas, o comércio, tudo fechou por causa da quarentena! — continuou Paulus.
— Então você sabe do vírus? Você também voltou no tempo? Veja a data de hoje no caderno de registro de visitantes!
A data era 19 de março de 2019, o que fez Paulus tomar um verdadeiro susto.
— Essa data está errada! Eu não posso estar em seu sonho em março de 2019 em plena pandemia! — afirmou Paulus.
— Mas nós estamos — insistiu o professor.
A discussão seguiu acalorada por causa da suposta alteração da data, como se quisessem enganar Paulus, que não acreditava estar no passado. Algo estava errado.
Ele sentia em seu coração que o clima estava estranho, seus olhos presenciava um fato diferente da realidade e se questionava se era realmente sonho. Quem estava sonhando?
Paulus era metódico e insistia em sua própria verdade e convicções, por