Clavícula de Salomão: as chaves da magia cerimonial
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Clavícula de Salomão - Irene Líber
CLAVÍCULA DE SALOMÃO
As Chaves da Magia Cerimonial
Logotipo da editora composto por um rosto estilizado e abaixo a palavra Pallas.copyright© 2004 by Pallas Editora
editoras
Cristina Fernandes Warth
Mariana Warth
produção editorial
Pallas Editora
revisão
Gustavo André Ramos Inubi
Marcor Roque
capa e projeto gráfico
Anna Amendola
produção de ebook
Daniel Viana
Todos os direitos reservados à Pallas Editora e Distribuidora Ltda. É vetada a reprodução por qualquer meio mecânico, eletrônico, xerográfico etc., sem a permissão por escrito da editora, de parte ou totalidade do material escrito.
cip-brasil. catalogação na publicação
sindicato nacional dos editores de livros, rj
C555
Clavícula de Salomão [recurso eletrônico] : as chaves da magia cerimonial / [organização Irene Líber]. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Pallas, 2020.
recurso digital
Formato: ebook
Requisitos do sistema: auto executável
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-65-5602-018-1 (recurso eletrônico)
1. Ciências ocultas. 2. Ritos e cerimônias. 3. Magia. 4. Livros eletrônicos. I. Líber, Irene.
20-66138 CDD: 133.43
CDU: 133.4
Camila Donis Hartmann - Bibliotecária - CRB-7/6472
Logotipo da editora composto por um rosto estilizado e abaixo a palavra Pallas.Pallas Editora e Distribuidora Ltda.
Rua Frederico de Albuquerque, 56 – Higienópolis
cep
21050-840 – Rio de Janeiro – RJ
Tel./fax: 21 2270-0186
www.pallaseditora.com.br | [email protected]
Sumário
Capa
Folha de rosto
Créditos
Apresentação
Discurso Preliminar
Introdução
LIVRO I: Fundamentos da Arte Mágica
CAPÍTULO 1 Sobre os Espíritos que Governam as Esferas Planetárias
CAPÍTULO 2 Sobre os Espíritos que Governam os Elementos
CAPÍTULO 3 Sobre as Influências e Virtudes Secretas da Lua
CAPÍTULO 4 Sobre o Templo da Arte
CAPÍTULO 5 Sobre a Consagração dos Instrumentos da Arte
CAPÍTULO 6 Sobre os Instrumentos de Metal Usados nas Operações Mágicas
CAPÍTULO 7 Sobre a Água e seus Acessórios
CAPITULO 8 Sobre a Luz e o Fogo
CAPÍTULO 9 Sobre os Perfumes e os Defumadores
CAPÍTULO 10 Sobre os Bastões do Mago
CAPÍTULO 11 Sobre o Papel, a Pena e a Tinta
CAPÍTULO 12 Sobre os Tecidos e os Fios
CAPÍTULO 13 Sobre a Cera e a Argila
CAPÍTULO 14 Sobre as Pedras, os Metais e o Sal
CAPÍTULO 15 Sobre os Óleos Usados na Operações da Arte
CAPÍTULO 16 Sobre as Inscrições que Devem Ser Feitas Durante as Operações da Arte
CAPÍTULO 17 Sobre o Vestuário do Mago
CAPÍTULO 18 Sobre a Corneta e o Sino
CAPÍTULO 19 Sobre o Livro Mágico
CAPÍTULO 20 Sobre as Oferendas aos Espíritos
CAPÍTULO 21 Sobre os Pantáculos Sagrados
LIVRO II: Operações da Arte Mágica
CAPÍTULO 1 Sobre a Preparação do Mestre da Arte
CAPÍTULO 2 Sobre a Preparação do Ritual
CAPÍTULO 3 Sobre os Companheiros do Mestre da Arte
CAPÍTULO 4 Sobre a Construção do Círculo da Arte
CAPÍTULO 5 Sobre a Conjuração dos Espíritos
CAPÍTULO 6 Sobre as Operações Relacionadas a Coisas Roubadas
CAPÍTULO 7 Sobre as Operações de Invisibilidade e Desaparecimento
CAPÍTULO 8 Sobre as Operações para Garantir a Vitória sobre Qualquer Adversário
CAPÍTULO 9 Sobre as Operações para Obter Riqueza, Prosperidade e Fartura
CAPÍTULO 10 Sobre as Operações de Amor e Amizade
CAPÍTULO 11 Sobre as Operações para Obter Proteção em uma Viagem
CAPÍTULO 12 Sobre as Operações para Obter Proteção contra Logros, Fraudes e Trapaças
CAPÍTULO 13 Sobre as Operações para Interrogar os Espíritos
CAPÍTULO 14 Sobre as Operações Relacionadas a Assuntos Diversos
PALAVRAS FINAIS
APRESENTAÇÃO
A Clavícula de Salomão é o mais antigo tratado de magia cerimonial européia. A palavra clavícula significa chave pequena. A obra leva este nome porque apresenta o que, na época da sua elaboração, considerava-se serem as chaves, ou seja, as regras secretas para a execução de operações mágicas. Embora seja mais conhecido em língua portuguesa pelo título aqui empregado (originário da versão francesa), o livro também foi intitulado (em inglês e francês) As Verdadeiras Clavículas de Salomão, Chave do Rei Salomão, Chave dos Segredos da Magia do Rabino Salomão, Livro de Salomão, Chave do Conhecimento de Salomão e Grande Chave do Rei Salomão (distinto da Pequena Chave de Salomão ou Lemegeton).
Um Pouco de História
Segundo os historiadores do assunto, e ao contrário do que seu título sugere, este livro não foi escrito pelo rei Salomão. A atribuição de uma obra a um personagem famoso era um recurso literário muito utilizado na Antiguidade e na Idade Média européia. Freqüentemente, naquele tempo, os livros eram escritos por mais de uma pessoa: eram o resultado do esforço comum de um grupo de estudiosos e, muitas vezes, consistiam em uma compilação de materiais transmitidos oralmente há muito tempo, sem que fosse possível atribuir-lhes um autor específico. Além disso, não havia, na época, o conceito de dreito autoral, pois escrever livros não era um ofício específico, mas um acessório de outras atividades como o magistério e a vida religiosa. Por esses motivos, era comum que os escritores não se preocupassem em ter o nome associado à obra, mas que escolhessem uma espécie de patrono – um grande sábio dos tempos antigos, uma divindade ou um personagem lendário – para ser seu autor oficial, em vez de lançá-la com o próprio nome. Essa prática tinha a vantagem de dar credibilidade ao material, o que poderia não ocorrer se ele fosse atribuído a um autor sábio mas desconhecido; além disso, o escritor verdadeiro ficava protegido de qualquer perigo, caso o texto publicado fosse objeto de alguma polêmica religiosa ou política – o que poderia levar seu autor à prisão ou à morte. Foi certamente por estas razões que Salomão, autor de vários livros de sabedoria incluídos nas escrituras judaico-cristãs e reputado, dentro da tradição mística, um grande mago e conhecedor dos segredos do saber oculto, foi o nome escolhido para patrocinar essa obra pioneira.
As características do seu conteúdo permitem localizar as raízes da Clavícula de Salomão no gnosticismo (heresia cristã muito difundida na Ásia menor, nos primeiros séculos da Era Comum[ * ]) e na cabala (forma de misticismo judaico que floresceu a partir do século XII E. C. e que foi adotada pelos místicos cristãos). Segundo os estudiosos, isso indica que o livro deve ter sido escrito no Império Bizantino, nesse mesmo século XII ou um pouco antes. Sabe-se que uma versão em língua grega era conhecida no tempo do imperador Manuel I Commenus (que reinou em Bizâncio entre 1143 e 1180) e que, nessa mesma época, começou a circular na Europa ocidental uma versão em latim.
A partir do século XIV, surgiram na Europa ocidental versões traduzidas para o francês e o inglês, pretensamente reveladas pelo rei Ptolomeu, o Grego, ou traduzidas do hebraico para o latim pelo rabino Abognazar (claramente dois personagens imaginários). Cópias manuscritas e impressas dessas versões, cujos autores declaram ter sido fiéis ao texto original hebraico ou latino (embora existam diferenças entre elas), foram preservadas na Biblioteca Nacional da França e na Biblioteca Britânica; elas permitiram que, no século XIX, autores como o inglês MacGregor Mathers e o francês Éliphas Levi recuperassem essa obra em uma forma provavelmente bem próxima da original, comparando as diversas versões disponíveis e adaptando o texto para uma linguagem razoavelmente moderna.
A Goécia
Escrita sob a forma de uma conversa entre o rei Salomão e seu filho Roboão, ao qual o rei ensina seus segredos de magia, a obra é dividida em duas partes. A primeira delas descreve passo a passo as práticas realizadas durante a execução do trabalho mágico, além de apresentar encantamentos para diversas finalidades; a segunda discorre sobre os diversos objetos e materiais utilizados na magia cerimonial. De modo geral, os encantamentos e as técnicas de preparação do mago e do material são centrados em orações nas quais são exaustivamente repetidos muitos nomes hebraicos e gregos de Deus, de anjos e demônios, além de fórmulas mágicas compostas em latim ou hebraico mais ou menos distorcidos.
A Clavícula de Salomão expõe as regras da goécia, a parte da magia dedicada à invocação dos espíritos que povoam o mundo oculto, com o objetivo de obrigá-los a realizar alguma ação ordenada pelo mago. A goécia é um ramo da magia cerimonial, nome dado à forma específica de magia desenvolvida por eruditos europeus na Idade Média. A magia cerimonial opôs-se à magia natural derivada das religiões agrícolas pré-cristãs, mais apropriadamente chamada de feitiçaria por trabalhar com feitiços (encantamentos, amuletos, poções mágicas, simpatias etc.). Praticada principalmente por mulheres do povo, que também eram as parteiras e curandeiras das aldeias rurais, a feitiçaria destinava-se a resolver os problemas quotidianos das pessoas, como o desejo de casar, a necessidade de conseguir um trabalho, a dificuldade para ter filhos, uma doença ou um problema de relacionamento amoroso, familiar ou social. Já a magia cerimonial, masculina, urbana e elitista, enraizada nos conceitos e nas práticas dos misticismos judaico e cristão, era uma forma de magia erudita, praticada principalmente por religiosos de alto escalão, que tinham possibilidade de estudar a ciência e a filosofia da época e que visavam, por meio das técnicas sobrenaturais, adquirir sobre os indivíduos, as coisas e a natureza um poder pessoal que não teriam por meios comuns.
É fácil perceber à primeira vista a diferença entre os dois tipos de magia. A natural preservou o antigo calendário das religiões agrícolas, que comemoravam as datas do início e do meio das quatro estações do ano, os grandes marcos do ciclo vital de plantas e animais. Já a cerimonial é completamente desvinculada desses marcos naturais e segue calendário e horário resultantes da imagem do mundo como ele foi reconstruído teoricamente pela filosofia clássica: um universo formado por círculos concêntricos, cada um habitado e dirigido por uma legião de seres sobrenaturais, pertencentes a dois mundos opostos mas exatamente espelhados, o dos anjos e o dos demônios; desta forma, todo ser, animado ou inanimado, todo lugar e todo evento eram governados e protegidos por duas entidades opostas: uma totalmente boa, celeste e espiritual – seu anjo –, e outra totalmente má, terrestre e material – seu demônio. Enquanto a magia natural cultuava os deuses e deusas da natureza, responsáveis pelos ciclos naturais da vida e do clima, a cerimonial buscava o contato com esses espíritos bons e maus, considerados representantes de Deus (ou do demônio) que receberam a tarefa de governar o mundo material e que, portanto, teriam pleno poder para realizar, dentro de seus domínios, até mesmo maravilhas contrárias às leis da natureza.
O tipo de entidade invocada pela goécia expressa claramente as principais preocupações do pensamento cristão em seus primeiros séculos de desenvolvimento. Na Idade Média, o que mais obcecava os meios religiosos cristãos era o poder do demônio. Esse foi o tempo do florescimento da demonologia como disciplina teológica, do exorcismo como prática religiosa e do satanismo como corrente mística individualizada. Alinhados com essas idéias, os magos desejavam o poder dos demônios por pensarem que ele era muito máior que o dos anjos para realizar seus desejos, uma vez que aos anjos não interessavam os fatos e objetos do mundo material; e o que os magos buscavam era sempre algum elemento desse mundo, como poder, riqueza ou vingança. Por este motivo, excetuando-se algumas referências a forças da natureza, como os espíritos elementais, grande parte do material mágico escrito na época consistia em operações de magia negra e invocações demoníacas. Mesmo nos casos em que Deus era invocado, o objetivo era obrigar os demônios a obedecer ao mago; e mesmo quando eram invocados espíritos, estes nada mais eram que demônios, como mais cedo ou mais tarde era dito nos textos cerimoniais. Os anjos ficavam com as funções de proteger o mago e emprestar sua força para favorecer a realização de um desejo relacionado com seu campo de influência. Mesmo neste último caso, porém, muitas vezes o mago invocava o demônio, e não o anjo do planeta que governava o assunto do seu desejo, por considerá-lo mais adequado para atendê-lo.
Entretanto, esses magos, embora desejassem usar as entidades demoníacas para atingir seus propósitos, tinham muito medo delas, pois consideravam que elas, com seu grande poder e maldade, poderiam arrastá-los para o pecado e assim arruinariam para sempre suas chances de ir