Praça Viva
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Praça Viva - Evalderiany Honorata
Praça Viva
Evalderiany Honorata
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Copyright © 2023 by Evalderiany Honorata Todos os direitos reservados.
Revisão: Evalderiany Honorata
Diagramação: Evalderiany Honorata Arte de capa: Evalderiany Honorata
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Honorata, Evalderiany
Praça viva / Evalderiany Honorata. -- 1. ed. --
Rondonópolis, MT : Ed. do Autor, 2023.
ISBN 978-65-00-77229-6
1. Contos brasileiros I. Título.
23
-167825
CDD-B869.3
Índices para catálogo sistemático:
1. Contos : Literatura brasileira B869.3
Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129
Impresso no Brasil.
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Esta obra é dedicada à minha mãe Selma, minha irmã Elciany e à todas as praças que trazem tanta beleza e história ao nosso cotidiano.
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Apresentação
Praças, bosques, parques e hortos são espaços únicos de lazer e integração com a natureza nos cenários urbanos do cotidiano. Quem mora perto ou passa pela praça de sua cidade conhece não apenas a história dela, como as histórias que ela cria na relação com a sua vizinhança. Cenário de brincadeiras, jogos, manifestações, encontros, desencontros, lutas, comemorações, alegrias e lágrimas... As praças fazem parte das nossas próprias vidas e elas nos observam há anos como um grande e complexo ser consciente no ecossistema urbano. Em homenagem às praças, esta coletânea apresenta em dezesseis contos o protagonismo de uma praça como espaço de histórias, sentimentos, relações sociais, humanas e ambientais que permeiam a vizinhança de uma cidade comum de médio porte. A praça aqui é sentida como um ser vivo e participante na vida das pessoas, como acontece com as praças ao redor do mundo, do menor vilarejo até a maior metrópole. As nossas praças são cheias de vida!
Viva a praça viva!
Boa Leitura!
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Ninho de Passarinho .............................................................. 9
Xadrez................................................................................... 18
Namoro Secreto .................................................................... 28
Ataque Cardíaco .................................................................. 37
Grupo de Estudos ................................................................ 47
Andarilho ............................................................................. 57
Parada de Ônibus ................................................................ 68
Ligação ................................................................................ 77
Jogo de Vôlei ....................................................................... 86
Dois Cachorrinhos ................................................................ 96
Tia dos Doces ...................................................................... 106
Pôr do Sol Rosa-alaranjado ............................................... 116
Pacto de Amizade .............................................................. 126
Chafariz .............................................................................. 136
Assombrações ..................................................................... 146
Protegendo uma Árvore ..................................................... 157
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Ninho de Passarinho
Mais um fim de tarde iniciou, as áreas abertas da praça foram tomadas por crianças de diferentes idades. Havia muitas pessoas passeando, mas eram os pequenos quem enchiam a praça de alegria. Toda a garotada ali corria, pulava e brincava bastante.
Todas as crianças? Não. Faltava uma. A menininha de olhar melancólico que se mudara recentemente para aquele bairro estava sentada debaixo de uma árvore, observando as outras crianças. Sua mãe a trazia para brincar e conversar com as filhas das vizinhas, para fazer novas amizades.
As crianças do novo bairro a chamaram para brincar quando ela chegou pela primeira vez nessa praça. Chamaram no segundo e no terceiro dia também. Depois de tantas tentativas desistiram, reclamando que ela era metida e estranha. Mas quem se importa com o que eles pensam? Ela só precisava ficar ali durante uma hora em dois dias da semana enquanto sua mãe conversava com as vizinhas do outro lado da praça. Só precisava estar perto da meninada, não interagir com eles.
Por que tinha que fingir felicidade enquanto ela continuava chateada com a mãe por ter se mudado de bairro e perdido o contato com os antigos amiguinhos? Ir para uma praça com vários meninos desconhecidos não a faria mudar de ideia 9
sobre gostar daquele bairro estranho.
Ou pelo menos era isso que pensava, até um ninho de passarinho cair do galho da grande árvore, na qual ela estava encostada. Olhou para cima, não havia sinal do que derrubou a casa de passarinho. O ninho caiu no seu colo, em cima do caderno onde terminava a tarefa da escola. Ela encarou o objeto intruso por alguns instantes... Era melhor não tocar com as mãos.
Usou a ponta do lápis para cutucar a construção de gravetos entrelaçados. Abrigava três ovinhos pequenos.
Não toca neles com o lápis, vai quebrar! um menino gritou de longe, vindo em sua direção.
Ele estava com a roupa suja de terra e de areia depois de uma hora brincando com os amigos de correr, pular e saltar.
Brincadeiras que acabavam levando a empurrões e quedas.
Como o garoto saiu da brincadeira, outras crianças o seguiram querendo saber o motivo dele ter desistido de brincar.
Chamavam-no de Jorginho. Aparentemente Jorge era o líder das brincadeiras, já que quando ele parou, a correria cessou também.
É um ninho de passarinho que caiu no chão! Vem ajudar, pessoal! Jorge chamou os demais para se aproximarem da menina solitária que tinha um ninho de passarinho no colo.
Em poucos minutos, lá estavam o ninho e a garota cercados por uma multidão de crianças curiosas sobre o 10
acontecido. Jorge e alguns colegas tentaram escalar a grande árvore para testar se conseguiriam colocar o ninho no galho de novo. Todas as crianças estavam empenhadas em cuidar dos ovos. Um grupo afastou o gato vira-lata que rodeava faminto.
O ninho caiu em suas mãos. Você não vai ajudar?
questionou Jorge, após sua escalada falhar.
A árvore era muito grande e não tinha como subir. Os adultos também não deram atenção quando foram chamados para ajudar e as crianças se reuniam agora para saber como colocariam o ninho de volta no lugar.
Por que eu devo ajudar? ela retrucou.
O ninho foi para as mãos de outras meninas que vigiavam os ovos.
Seu nome é Júlia, não é? Júlia, nós precisamos devolver o ninho para o galho, senão a mãe-passarinha vai ficar preocupada o líder das crianças afirmou.
O pessoal concordou, alguns até desesperados se sentindo no lugar de como seria se perdessem dos seus pais. A empatia com a mãe-passarinha e os filhotes que ainda nem nasceram era o principal motivo de toda a criançada ter criado uma verdadeira operação para reuni-los novamente. O problema era o tempo.
Estava anoitecendo e logo deveriam ir embora, então o que aconteceria com o ninho de passarinho?
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E quem disse que a mãe-passarinha vai perceber que eles se perderam? Talvez ela nem volte para essa árvore Júlia nem levantou os olhos do caderno ao responder.
Um silêncio entre as crianças perdurou desconfortável. Os menores começaram a chorar diante a possibilidade de a mãe-passarinha não retornar para a árvore ou dela não se importar com o desaparecimento do seu ninho. Coitados dos ovinhos! Eles não mereciam ser abandonados! Os mais velhos murmuravam sobre o ponto de vista de Júlia, assustados. Jorginho interveio.
É claro que ela se importa Jorge disse confiante, e se virando para os outros, anunciou a estratégia de um novo plano para colocar o ninho no alto.
Júlia assistiu as inúmeras tentativas. Todas deram errado.
Do que adiantava tanto esforço se era óbvio que eles falhariam?
A sorte dos ovinhos foi traçada quando eles caíram da árvore, não havia nada a ser feito. Os passarinhos nasceriam e cresceriam sozinhos, longe dos pais que provavelmente nem viriam procurá-los depois.
As crianças tentaram fazer uma torre humana, porém Jorge, que estava no topo, acabou caindo e se machucando. Como resultado, teve que descansar um pouco debaixo da árvore e perto de Júlia. Dava coordenadas e ideias de longe, o que irritava a menina ao lado. Já anoitecia e não havia mais tempo.
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Desistam e deixem o ninho em paz. Não há nada que vocês possam fazer para mudar que esses passarinhos estão sozinhos.
Júlia tentou se concentrar novamente no dever de casa, pois se o ninho voltaria ou não para o galho, não era da sua conta.
Se aquelas crianças intrometidas tinham transformado em brincadeira as tentativas de devolver a casa dos passarinhos no alto da árvore, ela tinha nada a ver com isso.
Por que além de não ajudar, ainda fica desanimando a gente? Jorge cruzou os braços, arranhados pelas quedas das tentativas anteriores.
Estressada com a quantidade de crianças correndo perto dela na vã tentativa de promover o reencontro do ninho com a mãe-passarinha, e irritada com a insistência de Jorginho por tentar envolvê-la nessa brincadeira boba, Júlia soltou o caderno e o lápis de lado.
Porque eu não queria ter mudado de bairro! Eu não queria perder meus amigos! Eu não queria estar aqui nessa praça!
Desde que meu pai se separou da mamãe, ele esqueceu que eu existo. É isso que acontece quando a gente fica longe dos nossos pais... Esse é o destino desses ovinhos também! a menina desabafou furiosa, dizendo tudo que estava preso dentro dela e que não tivera coragem de falar antes.
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Surpreso com a explosão repentina dela, Jorge não respondeu. Contemplou seus colegas, pensativo. As crianças ainda tentavam