O canto das sereias: Dois brasileiros na Grécia Antiga
()
Sobre este e-book
Neste O canto das sereias, os irmãos vão parar na Grécia – bem ali, onde os soldados de Odisseu, o rei de Ítaca, constroem um gigantesco cavalo de madeira para invadir Tróia…
Relacionado a O canto das sereias
Ebooks relacionados
A estranha viagem da garota de cabelo azul Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAlice no país das maravilhas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPeter Pan: A história do menino que não queria crescer contada por Dona Benta Nota: 5 de 5 estrelas5/5A velha loja de curiosidades - tomo 2 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO guia do herói para salvar o seu reino - Liga dos príncipes - vol. 1 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Ilha do Tesouro Nota: 4 de 5 estrelas4/5Eva, uma vida desgovernada! Nota: 5 de 5 estrelas5/5Rani e O Sino da Divisão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRock Star Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVéu do Diabo: Um crime perfeito. Um investigador determinado. Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCanto De Sirenes Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm na estrada Nota: 5 de 5 estrelas5/5Uma Família De Arrepiar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO bangalô Nota: 5 de 5 estrelas5/5Uma paixão sob medida Nota: 0 de 5 estrelas0 notasThe Greystones - Se Apaixone Por Eles: Um Romance por Ana C. Sales Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA maldição das fadas - Livro 3 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBlythes Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPollyanna Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAnna e o homem das andorinhas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNoite polar: Uma história de fantasmas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTodos os sonhos do mundo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAnne de Avonlea Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA senhora de Silver Bush Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSob um céu de diamantes: Um conto de "Depois de tudo" Nota: 0 de 5 estrelas0 notasKilmeny do pomar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHope - As cores da verdade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasChamado Monstro: Meus Belos Monstros, #3 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Deusa Selvagem Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA filha do louco Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Ação e aventura para adolescentes para você
O diário de uma princesa desastrada Nota: 5 de 5 estrelas5/5As aventuras de Mike: o bebê chegou Nota: 5 de 5 estrelas5/5As aventuras de Mike: mudando de casa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Quatro: histórias da série Divergente Nota: 5 de 5 estrelas5/5O jardim secreto Nota: 5 de 5 estrelas5/5As aventuras de Mike Nota: 4 de 5 estrelas4/5As aventuras de Mike: Edição de colecionador Nota: 5 de 5 estrelas5/5Rebeldes, revoluções e outras coisas que as princesas gostam Nota: 5 de 5 estrelas5/5Guerra em Exu: Realidade e ficção Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO arqueiro e a feiticeira Nota: 5 de 5 estrelas5/5Anne de Green Gables Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuatro: A Transferência: uma história da série Divergente Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEntregas expressas da Kiki Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs aventuras de Tom Sawyer Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBox Pinóquio – As aventuras de Pinóquio: Le avventure di Pinocchio Nota: 5 de 5 estrelas5/5Fate: a saga Winx - Acendendo a chama Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Minotauro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasKodomo: Lendas infantis japonesas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuatro: O Traidor: uma história da série Divergente Nota: 3 de 5 estrelas3/5
Categorias relacionadas
Avaliações de O canto das sereias
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
O canto das sereias - Silvia La Regina
Ao meu pai, Adriano.
1 (α) Tudo de novo!
c uidado, Ana! O barco vai virar!
– Não consigo me segurar! O vento!
– Ana! Pegue minha mão! Não me deixe!
Não me deixe. Que besta que eu sou. Minha irmã caindo nas águas escuras do mar Mediterrâneo, e eu pedindo para ela não me deixar. Mas é assim mesmo: nessas horas, viramos meio crianças, né? Mesmo tendo 14 anos (e 7 meses). Experimente, porém, estar num barco pequeno, sacudido pela tempestade, na companhia de um bando de ilhéus machões e belicosos guiados por um doido varrido e destemido, e você vai entender melhor.
Quem manda ir a lugares exóticos? Quero dizer, fomos a Roma, aconteceu um bocado de coisa maluca,¹ teria sido melhor sossegar e deixar a velha Europa para lá. Mas não, eu tinha que inventar de ir à Grécia, porque gosto de coisas antigas. Tudo bem. Em casa, antes de ir para a Itália, eu já estava me organizando e até comecei a estudar grego antigo – enfim, nunca se sabe, a gente tem que estar preparado para tudo. Curiosamente, não me contaram que o grego antigo era tão diferente do moderno. E é uma maravilha! Pensando bem, é até melhor do que o latim, que já falo muito bem. Olha só: a gente diz hídrico, né? Alguma coisa ligada à água. E como se diz água em grego? É ὕδωρ, algo tipo hidór. Tudo a ver, né? Aí, estudo e decoro e treino... e descubro que, hoje, os gregos chamam água de νερό, neró! Poxa, custava deixar como antes? Mas, enfim, comecei a estudar porque achava as letras gregas tão charmosas. Ana, claro, dizia que era bobagem: apesar de sermos gêmeos e muito parecidos fisicamente, desconfio que um de nós dois seja adotado. Sabe, de repente adotaram um (ela, de preferência) e fizeram uma plástica, para que ficássemos quase iguais – como naquele filme antigo com John Travolta – ou era Johnny Depp?
Estou desviando do assunto. Ana gosta de física e de engenhocas, e até de um pouco de química, é metida a gênio e sempre cria encrencas. Eu, Carlos, gosto de idiomas, do mundo antigo, de tocar guitarra e de animais. De certa forma, pensando bem, nós nos completamos, porque ela saca de ciência e eu saco de tudo o mais... Que ela não me ouça!
Enfim, ela achou bobo eu continuar a estudar grego antigo, principalmente quando soube que o moderno é diferente, porque – disse ela:
– Nós já sabemos bem o latim. Para que aprender outra língua morta? Trate de aprender algo útil!
– Você acha que o latim é inútil, é? Preciso te lembrar que...
– Não discuto... você ganhou! Mas agora não vamos precisar de nada disso! Tudo bem que queira ir ver um monte de pedra velha e...
– Ana, para começar, nós vamos é à Turquia, porque você conseguiu convencer nossos pais de que, antes de voltarmos ao Brasil, tínhamos que ir a Esmirna para o congresso de dementes, quero dizer, de jovens cientistas, esqueceu? E aí, tenha paciência: eu vou conhecer Esmirna, onde se diz que talvez tenha nascido Homero, e, sim, vou ver as pedras velhas
(grrrr), as ruínas de Troia e tudo o mais. E você vai ouvir as bobagens que os tais jovens cientistas têm a dizer, enquanto eu passeio, e depois vamos atravessar de barco para a Grécia! Atenas! O Parthenon! E...
– Pois é! Mas então não era melhor aprender logo o turco?
– Mas é claro que eles vão entender o grego por lá! Fica perto de mim para você ver.
– Mas, Carlos, é grego antigo!
– Você vai ver! E você, que gosta de ciência, deveria se lembrar do Heureca! de Arquimedes.
– O que isso tem a ver?
– É grego, anta!
– Sim, e daí? É cada uma!...
Com ela, é sempre assim. Batemos boca o tempo inteiro. Mas gosto demais de Ana. Prefiro, porém, que ela não saiba. Ficaria muito metida, mais metida ainda, e aí tchau!, acabou-se a pouca paz que tenho.
Tudo aconteceu assim: Ana deu um chilique por causa do congresso, e meus pais, achando que ela ainda estava traumatizada por causa de toda aquela história em Roma (é uma história longa, outra hora eu conto), resolveram que, como ainda estávamos na Itália, podíamos aproveitar e dar uma chegada até a Turquia – e aí eu me impus: nesse caso, teríamos que ir à Grécia também. Afinal, eu também tenho direitos e também podia (não estava, mas podia...) estar traumatizado pelo que aconteceu em Roma, é ou não é?
Arranjamos um lugar onde deixar Júnior, nosso filhote de leão romano (realmente, fica complicado explicar agora...), o que criou alguns transtornos, mas minha mãe, advogada – um trator –, ligou para um juiz, que ligou para um ministro, que ligou para o embaixador, que ligou... Caso Júnior resolvido.
E lá fomos nós, quatro brasileiros com onze malas, minha guitarra e um sem-número de sacolas para passar dez dias na Turquia e na Grécia. Na minha mala (quer dizer, numa delas) não tinha quase nada: levei uns manuais de grego, guias, história da Grécia, a Ilíada e a Odisseia de Homero, o novo kindle que ganhei no aniversário (Carlos, mas com ele você não precisa levar os livros!
, Sim, mas... e se a bateria falhar?
) e mais umas coisinhas. Já Ana levou seu tablet, muito turbinado (Eu sou cientista! Preciso!
), uma série de trequinhos científicos, um manual de física em três volumões, um telescópio quase portátil, um microscópio, a filmadora e outras coisinhas.
Claro que perdemos o avião, porque o trânsito de Roma é terrível! Precisamos de um táxi do tamanho de um caminhão, que, solicitado (com a promessa de uma megagorjeta extra) aos berros pela minha mãe, furou sinais, pegou avenidas na contramão, xingou horrivelmente motoristas, pedestres e guardas de trânsito (quase atropelou um, aliás), fez os pneus uivarem feito uma matilha de coiotes, voou pela autoestrada, chegou a arrancar uma placa que estava um pouco caída e finalmente nos deixou na porta do tal de Fiumicino, onde fica o aeroporto principal de Roma (o nome é Leonardo da Vinci – adoro detalhes inúteis), com um atraso grande mas, ainda assim, antes da saída do avião. Foi inútil, porém: chegando suados e trêmulos ao balcão do check-in, meu pai escondido atrás de todo mundo, empurrando um carrinho lotado (minha mãe ia na frente, com um carrinho aceitável), Ana e eu atropelando turistas alemães e freiras tailandesas, uma sacola voando na cara de um chinês gordo que depois tentou correr atrás de mim, enfurecido (nem minha a sacola era!), digo, chegando ao balcão, uma moça pouco amigável disse que o embarque já estava fechado.
Pânico! O congresso ia começar na manhã seguinte (não que eu me importasse de verdade, mas vi a cara de desolação de Ana)! E agora?
2 (β) No aeroporto
b om, Ana, sendo assim, vamos amanhã, para Istambul, com calma, e ficamos lá uns dias; depois, Troia, que tal?
– Carlos, não! E o congresso?
Meu pai chegou empurrando o monstruoso carrinho, do qual caiu uma sacola pequena, porém pesada, bem no pé do mesmo chinês, que ainda estava me procurando. O homem deu um berro e saiu pulando e urrando de dor; meu pai nem se deu conta, tamanhos eram o barulho e a confusão, e só foi perceber que a sacola estava caída no chão porque uma senhora gentil falou com ele. Voltou rapidamente, pegou a sacola e empurrou, suando e dando pequenos gemidos (homem paciente desse jeito eu nunca vi!), o carrinho até perto de nós.
Nisso o chinês – que devia pensar que estava no meio de um complô familiar, sendo perseguido por um bando de xenófobos seriais – se aproximou ameaçadoramente, a passos largos e lentos, e sussurrei:
– Pai, aquele chinês quer me bater porque dei uma sacolada nele, sem querer!
– Tranquilo, Carlos, vou falar com ele, vai ficar tudo resolvido... Vou levar o carrinho, para o pessoal do check-in não reparar nele.
E aí meu pai, homem de paz, foi se desculpar com o chinês na hora exata em que minha mãe o chamou:
– Adriano, venha logo aqui ver a questão das passagens!
– Já vou, Cláudia... – Ele se virou e a sacola (a de número dezessete, talvez de Ana) que levava no ombro bateu na cara do chinês, que deu um berro. Meu pai pulou para trás e foi novamente para perto do chinês, pedindo desculpas em inglês. Nisso, chegou do nada um magrelo alto e gritou: – Você, seu racista, bateu no chinês por quê? –, e deu um soco certeiro na cara do meu pai, que despencou no chão, derrubando o carrinho cheio de sacolas, das quais a mais pesada foi parar novamente no pé, é claro, do chinês.
Aí chegou minha mãe, gritando; Ana foi encarar o chinês e eu, sentindo muita falta