Há um diamante em você
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Carlos Wizard Martins
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Há um diamante em você - Carlos Wizard Martins
Capítulo 1
Há um diamante em mim?
Décadas atrás, ouvi uma história, na verdade simples, mas que ficou em minha mente e cuja filosofia até hoje me norteia. Um relato que se manteve pela tradição oral, contado e recontado por muitas gerações, até chegar aos dias de hoje, como fábula ou metáfora; ainda que seja melhor designá-la como parábola, considerando o ensinamento e a ideia que traz: simples e verdadeira.
A história começa assim. Havia, na África, há mais de duzentos anos, um rico fazendeiro fascinado por diamantes. Aquele continente era completamente diferente do de hoje; distinto em sua divisão territorial, populações, tribos, linguagens, usos, costumes e hábitos. A obsessão por diamantes crescia mais a cada dia no íntimo do fazendeiro que, a certa altura, já com certa idade, decidiu vender tudo o que tinha, e que não era pouco: grandes extensões de terra, bem formadas, que produziam muito.
Por que está fazendo isso?
, questionavam seus amigos. Sua vida está feita, o que mais você pretende?
O fazendeiro, convicto, respondia: Sei que em algum lugar deste continente existem diamantes de enorme quilate. Vou em busca deles. Quero os maiores, os mais valiosos. Só assim poderei me considerar um homem feito, realizado
. Ainda assim, os outros não entendiam e insistiam: Para quê? Você está louco? Vai largar tudo aqui em troca de uma ilusão? De uma utopia?
.
Nada demoveu o fazendeiro daquela ideia. Ele conseguiu um bom comprador para suas terras e plantações, juntou dinheiro e partiu. Suas indicações eram vagas sobre uma ou outra região em que outras pessoas haviam encontrado diamantes e enriquecido. Percorreu grandes distâncias, pesquisou, investigou e seguiu em frente; atravessou grandes regiões, savanas, desertos, florestas; viu rios caudalosos, cachoeiras, planícies. Durante o percurso, encontrava diamantes pequenos, nenhum semelhante ao diamante com que ele sonhava. Ainda assim, o fazendeiro prosseguia. Corriam dias, meses, anos, e ele persistia. Em alguma parte, ele acreditava, estava o diamante com o qual sonhava; e isso alimentava seu desejo.
O tempo passou e o fazendeiro percebeu seu peso; o dinheiro minguava, mas a busca tinha se tornado obsessão, e ele prosseguia. O diamante tinha de estar em alguma parte. Apontavam ora um lugar, ora outro, onde ele já havia passado duas, três vezes. Contavam mentiras e ele acreditava, mudava o rumo, retornava. Nada. Nosso homem continuava obstinado. Ele acreditava que iria encontrar: É impossível não achar meus diamantes; este continente é a terra deles, quantas fortunas foram feitas aqui?
.
Certa vez, durante a caminhada, um velho de uma tribo localizada no Zimbábue garantiu ao fazendeiro que se ele escavasse determinado lugar, encontraria um diamante do tamanho de um elefante da savana, o maior do mundo. O fazendeiro então contratou homens que começaram a cavar, cavar, cavar; por anos eles cavaram e uma enorme cratera se formou no lugar, tão grande que diziam que, dentro dela, poderia caber o Monte Meru, um dos montes mais altos do continente. Ainda que eles não encontrassem o diamante, o fazendeiro mandava que prosseguissem, que cavassem e cavassem, pois ele tinha certeza de que estava ali.
As tribos da região, com o crescimento da cratera, tiveram medo daquele buraco, que agora avançava sozinho, impulsionado por movimentos naturais das placas, e ameaçava engolir tudo a sua volta. Certa noite, eles agarraram o fazendeiro, o colocaram dentro de um saco, fixado no dorso de um elefante que partiu sem destino. Com as chuvas e os ventos, o saco apodreceu, rasgou, e o fazendeiro se libertou. Livre, ele decidiu retornar a sua cidade de origem – se considerando um fracasso, triste, mas com a convicção de que ele ao menos tentara.
Quanto à cratera, quem quiser pode consultar os livros ou até mesmo o Google e verificar que existe uma fenda, que vai do Golfo de Áden até o Zimbábue, considerada misteriosa, que há anos aumenta e se alarga de maneira inexplicável. Seria lenda, mito ou fake news? Quem de nós sabe sobre esses mistérios?
Para matar a saudade, certo dia, o fazendeiro voltou a sua fazenda. Ao chegar, ele foi muito bem recebido pelo comprador, que progredira muito ao longo dos anos. Na hora da refeição, o antigo fazendeiro percebeu, em cima de um armário, um objeto que brilhava quando tocado pela luz. O que é isso? Tão bonito e tão grande
, perguntou. Ao que o comprador respondeu: Não sei, encontrei e gostei. Um dia estava levando meu gado por um riacho e dei com essa pedra, pesada, precisei trazer no lombo de um burro. Linda demais, quem vem aqui fica fascinado
. Pode me levar ao lugar onde você a encontrou?
Os dois então partiram. O fazendeiro foi deixado sozinho, ao lado do riacho, e começou a caminhar pela água; cutucando aqui, ali, trouxe enxadões, pás, e se descobriu dentro de uma mina de diamantes riquíssima. De acordo com a história, a maior encontrada na África até então.
Escutei essa história pela primeira vez quando eu ainda era um estudante universitário na Brigham Young University, em Utah, nos Estados Unidos. Desde então, ela não saiu mais da minha mente; seu significado é muito profundo e verdadeiro. Parece ser da natureza do ser humano buscar realização em terras distantes, em lugares longínquos, sem perceber que a riqueza, o diamante precioso, está bem próximo, dentro de sua própria casa. Mais simples ainda: o diamante está escondido em você, em sua alma, ao seu alcance – basta explorá-lo.
Esse episódio voltou à minha cabeça quando vivi uma experiência incrível, que me acrescentou um conhecimento enorme sobre como empreender e com quem contar para a expansão dos negócios. Nos próximos capítulos, vou compartilhar esse relato, que me fez sentir como o próprio fazendeiro, com você .
diamanteVerdadeiros líderes são como diamantes: raros e preciosos.
Capítulo 2
Uma escola de empreendedores
Avida é uma coisa fantástica: às vezes, clara e límpida, outras, com enigmas e mistérios que precisamos decifrar – está aí o fascínio de nossa existência. Certos pontos parecem soltos, mas, a certa altura, percebemos uma forte ligação entre eles, não por acaso. Começo por relatar uma viagem aos Estados Unidos, em 2015, para participar de um seminário, a convite de Mitt Romney, empresário de prestígio no mercado financeiro. Em 1984, Romney fundou a Bain Capital, primeira empresa de private-equity do mundo. Desde 2012, ele comanda um encontro da alta cúpula executiva, que acontece durante três dias, a portas fechadas, nas montanhas de Park City, em Utah. Em 2012, Mitt Romney disputou a presidência com Barack Obama como adversário e, à época, estimou-se que sua fortuna era duas vezes maior que as fortunas dos oito últimos presidentes dos Estados Unidos juntos. Se tivesse sido eleito, Romney seria um dos presidentes mais ricos da história, somente atrás de Donald Trump.
Àquela altura, eu acabara de vender minhas empresas, e me questionava sobre o que faria de meu futuro profissional. Devo me aposentar? Devo investir? Não devo? Será que vou passar o resto de meus dias apenas descansando? Ou talvez fazendo filantropia? Todas essas eram questões que passavam pela minha cabeça. Certo dia, durante o encontro promovido por Romney, ouvi uma palestra de Arthur C. Brooks, colunista do The New York Times e autor de vários livros sobre os impactos do empreendedorismo. Em seguida, em uma conversa, Brooks tocou em um ponto que me fez pensar, que me marcou muito: Carlos, se você quer fazer a diferença em seu país, deve continuar empreendendo. Foi assim que você conquistou sua fortuna. Por que não ensinar outras pessoas a fazer o mesmo? Quando as pessoas empreendem, elas mudam de atitude, aumentam sua visão, ampliam seus horizontes, transformam o ambiente ao seu redor, enfim, transformam o mundo. Faça isso, ensine os brasileiros a empreender
.
Voltei para casa com esse pensamento em mente e aceitei o desafio, como uma inspiração divina. Continuar a empreender, ensinar a empreender, formar empreendedores – algo amplo –, realizar projetos que tivessem impacto positivo em meu país. Coincidentemente, naquele encontro inesquecível em Park City, encontrei outros executivos ligados ao setor de vendas diretas, que compartilharam suas experiências bem-sucedidas com esse modelo de negócio. De maneira gradual, criou-se em minha mente uma visão embrionária de seguir empreendendo através dessa modalidade de negócio. Fixei-me nesse modelo: vendas diretas, algo possível para qualquer pessoa interessada em ter o próprio negócio, sem a necessidade de investir milhões para dar início a uma atividade empresarial. A partir daí, passei a visualizar a possibilidade de alguém começar seu próprio negócio com mil ou dois mil reais. Ela poderia começar, digamos, vendendo produtos de consumo diário, ganhando confiança em si mesmo e no negócio aos poucos, obtendo lucro, comprando mais produtos, chamando os amigos, formando uma rede de parceiros, e assim, um passo de cada vez, se tornar um grande empreendedor. Eu me perguntava: Qual rumo tomar? Qual linha de produtos comercializar? Qual conceito diferenciado deveria trazer ao mercado brasileiro?
. Eu sabia que não podia fazer o que já existia. Se eu quisesse vencer, teria que ter algo inovador na essência do produto e no modelo empresarial. Enquanto pensava em tudo isso, havia apenas uma certeza em minha mente: Não vou me aposentar. Vou auxiliar o maior número de pessoas a empreender, crescer e vencer através do negócio próprio. Vou fazer do empreendedorismo uma missão de vida
.
O diamante não teria seu valor se fosse encontrado em cada esquina.
Capítulo 3
Como lapidar um diamante
Neste ponto, relato um momento do passado, um momento em que tive uma surpresa e uma revelação. Foi um dia feliz para mim, descobri que minhas filhas Thais e Priscila, então com nove e sete anos, talvez inspiradas pelo pai, davam seus primeiros passos como empreendedoras. Eu não contava com isso, foi algo natural.
Na ocasião, eu voltava dos Estados Unidos com um presente inusitado para as meninas. Era uma caixa cheia de adesivos perfumados, sensação da época entre a criançada norte-americana, assim como são entre nós os álbuns da Copa do Mundo, que de tempos em tempos fascinam e envolvem milhares de pessoas. Esses adesivos perfumados não existiam no Brasil. Eles tinham diversos temas: adesivos com a figura de uma fruta tinham o aroma da fruta; se fossem uma xícara de café, teriam o aroma do café; de uma pizza, e seguiam essa lógica – as crianças ficavam fascinadas. Cada cartela focava em um tema e os adesivos vinham impregnados com o cheiro da figura. Apesar de ser comedido, errei na dose – coisa de pai que procura agradar as filhas: cada menina ganhou cinco caixas, sendo que cada uma continha cem cartelas, e cada cartela, vinte adesivos, ou seja, quinhentas cartelas para cada uma. A Thais, que é rápida com a matemática, logo disse: Pai, acho que dessa vez você exagerou mesmo. Temos dez mil adesivos. Vai durar toda a vida
. Bem, fazer o quê? Os adesivos eram delas, e elas podiam fazer o que quisessem com tal presente.
Ao ver aquele monte de cartelas, Thais concluiu que as duas iriam brincar por muito tempo. Mesmo usando bastante, ou desperdiçando além da conta, ainda sobraria um bocado. Elas também poderiam dar para as primas e colegas da classe. Demonstrando os primeiros sinais de espírito empreendedor, então, o que fez Thais, ainda na terceira série? Separou suas cartelas e as cartelas da irmã e levou o excesso
para a escola. Resolveu vender por um real cada cartela. O cheirinho de fruta virou atração e as amigas começaram a comprar várias figurinhas; algumas compravam uma cartela por um real para revender por dois reais no bairro onde moravam. De repente, minhas filhas começaram, sem perceber, a formar uma pequena rede de distribuidoras. Cada dia chegavam em casa com um dinheirinho extra no bolso, resultado da venda do dia. E lembrar que ainda não existia internet, redes sociais, tudo era contato pessoal, venda direta. Quando iam à escola, elas pareciam felizes por promover seus produtos. Certo dia, elas chegaram em casa e me mostraram: 52 reais, em um único dia de vendas
.
Ao acompanhar toda essa movimentação, fiquei ainda mais feliz do que elas. Jamais imaginei que um simples presente pudesse despertar o espírito empreendedor das minhas meninas
, de forma tão espontânea e natural – a maçã não cai longe da macieira. Thais conta que até hoje se lembra da minha reação: O rosto do pai se iluminou, um sorriso se abriu, ele se mostrou feliz e orgulhoso de ver as filhas empreendendo
. Naquele momento, como a vida é um conjunto de ciclos que se alternam, que se repetem, me vi de volta a determinado período de minha infância, quando, filho de caminhoneiro, eu saía, depois da escola, para vender de porta em porta as roupas feitas em casa por minha mãe.
Algum tempo depois, outro episódio revelou como a personalidade dessas duas meninas foi moldada. Hoje, mães de família, integradas ao mercado, acompanhadas por maridos que tocam seus próprios negócios, à parte. Eu e minha esposa adotamos, desde o princípio, uma forma muito peculiar de educar nossos filhos. A