Respostas à oração: Por George Müller
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Respostas à oração - George Müller
Capítulo 1
INÍCIO E PRIMEIROS DIAS DO TRABALHO COM ÓRFÃOS
…para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo. —1 PEDRO 1:7
George Müller, o fundador de New Orphan Houses (Novos Orfanatos), em Ashley Down, Bristol — instituições que têm sido, por muitos anos, um dos maiores monumentos dos tempos modernos ao Deus que responde orações —, fornece em A Narrative of Some of the Lord’s Dealings with George Müller (Uma narrativa de alguns acordos de Deus com George Müller), volume I — livro tremendamente valioso e instrutivo —, entre muitas outras, as seguintes razões para estabelecer um orfanato:
"Certas vezes, percebia que os filhos de Deus eram assombrados na mente pela perspectiva da velhice, quando já não estariam mais aptos para trabalhar. Sendo assim, eram assediados pelo medo de precisarem recorrer a um abrigo para pobres. Nessas ocasiões, caso eu argumentasse o quanto o Pai Celestial sempre socorre aqueles que colocam sua confiança nele, eles nem sempre chegavam, eventualmente, a ponto de declarar que hoje os tempos são outros, mas, ainda assim, ficava bastante evidente que Deus não era considerado por eles como o Deus VIVO. Meu espírito frequentemente ficava abatido diante disso, e eu ansiava por colocar algo diante dos filhos de Deus pelo qual pudessem constatar que o Senhor não abandona, ainda em nossos dias, aqueles que dele dependem.
"Outra classe de pessoas eram os irmãos no mundo dos negócios, que sofriam em sua alma e traziam culpa em suas consciências por administrarem seus negócios praticamente da mesma forma que os não convertidos. A concorrência de mercado, os tempos difíceis, o país populoso, eram alguns dos motivos indicados para justificar que, caso o negócio fosse gerido simplesmente de acordo com a Palavra de Deus, não se poderia esperar que fosse bem-sucedido. Eventualmente, um irmão empresário expressava o desejo de que pudesse estar em situação diferente, mas muito raramente vi que ele se posicionava por Deus, que estava reverentemente determinado a confiar no Deus vivo e a depender dele para que a sua boa consciência pudesse ser mantida. A essa classe, igualmente, eu desejava demonstrar, por prova visível, que Deus é imutavelmente o mesmo.
"E ainda havia outra classe de pessoas, indivíduos em profissões em que não podiam permanecer com boa consciência, ou pessoas que estavam em uma posição não bíblica em referência às coisas espirituais; mas ambas as classes temiam, em razão das consequências, abrir mão da profissão que as impedisse de permanecer com Deus, ou ter que abandonar sua posição para que não ficassem desempregados. Meu espírito ansiava por ser instrumento para fortalecer a fé deles, dando-lhes não apenas exemplos da Palavra de Deus, da disposição e habilidade do Senhor em auxiliar todos aqueles que dele dependem, mas também de demonstrar-lhes, por meio de provas, que Deus é o mesmo em nossos dias.
Eu bem sabia que a Palavra de Deus deve ser suficiente, e era, pela graça, suficiente a mim; mas, ainda assim, considerava que deveria estender a mão a meus irmãos de alguma forma, e seria pela prova visível da imutável fidelidade do Senhor que eu fortaleceria as mãos deles em Deus. Pois lembro-me de grandes bênçãos que minha alma recebeu por meio das ações do Senhor para com o Seu servo A. H. Franke, que, em dependência somente do Deus vivo, fundou um enorme orfanato que eu vira muitas vezes com meus próprios olhos. Portanto, considerei-me obrigado a ser servo da Igreja do Senhor exatamente no aspecto em que eu obtivera misericórdia, a saber: em poder confiar em Deus por Sua palavra, e disto depender.
Todos esses exercícios de minha alma, que resultaram do fato de tantos cristãos com quem convivi serem assediados e perturbados em sua mente, ou sentirem a consciência culpada pelo fato de não confiarem no Senhor, foram utilizados por Deus para despertar em meu coração o desejo de estabelecer diante da igreja em geral, e diante do mundo, uma prova de que Deus não havia mudado sequer um milímetro. Sendo assim, pareceu-me que isso seria melhor demonstrado fundando um orfanato. Precisava ser algo que pudesse ser visto pelos olhos naturais. Ora, se eu, um homem pobre, obtivesse os meios para fundar e manter um orfanato, simplesmente pela oração e fé, sem pedir a nenhum indivíduo, haveria algo que, com a bênção do Senhor, poderia ser instrumento no fortalecimento da fé dos filhos de Deus, além de ser um testemunho à consciência dos não convertidos, sobre a realidade das coisas de Deus.
Essa, então, foi a primeira razão para fundar o orfanato. Eu certamente desejava em meu coração ser usado por Deus para beneficiar o físico das pobres crianças enlutadas pela perda de ambos os pais e buscar em outros aspectos, com o auxílio do Senhor, fazer-lhes o bem nesta vida. Eu também ansiava, em especial, por ser usado por Deus para instruir os queridos órfãos no temor do Senhor; mas, ainda assim, o primeiro e principal objetivo do trabalho era (e ainda é): que Deus pudesse ser engrandecido pelo fato de que os órfãos sob meu cuidado têm provisão de tudo o que precisam apenas pela oração e pela fé sem que eu ou meus colegas trabalhadores façamos pedido algum a ninguém; e por meio disto se possa ver que Deus é AINDA FIEL e AINDA OUVE ORAÇÕES. Tem ficado inegavelmente provado, desde novembro de 1835, que eu não estava errado, tanto pela conversão de muitos pecadores que leram os relatos que foram publicados em conexão com esse trabalho, como também pela abundância de frutos que surgiram em seguida no coração dos santos, pelo que, do profundo de minha alma, desejo ser grato a Deus, a quem a honra e a glória por tudo isso são devidas apenas a Ele, mas que eu, por Seu auxílio, posso atribuir a Ele."
Abre bem a boca
No relato escrito por Müller, em 16 de janeiro de 1836, a respeito do orfanato que se pretendia fundar em Bristol, em associação à Scriptural Knowledge Institution for Home and Abroad (Instituição para promoção e conhecimento das Escrituras), lemos:
"Quando, já posteriormente, os pensamentos de fundar um orfanato em dependência do Senhor foram reavivados em minha mente, eu, durante duas semanas, apenas orei para que, sendo do Senhor, Ele o concretizasse; mas que, se Ele não se agradasse de graciosamente fazê-lo, que removesse todos os pensamentos sobre isso de minha mente. Minha incerteza sobre conhecer o que se passava na mente do Senhor não surgiu do questionar se era ou não agradável aos olhos dele, ou se o orfanato seria um abrigo e local de educação bíblica para crianças destituídas de pai e mãe, mas se seria a vontade de Deus que eu fosse o instrumento para colocar em curso tal obra, posto que minhas mãos já estavam mais do que cheias. Meu consolo, entretanto, era que, sendo vontade do Senhor, Ele proveria não somente os meios, mas também indivíduos qualificados para cuidarem das crianças, de modo que minha parte do trabalho tomaria apenas uma porção do meu tempo, o qual eu, considerando a importância da questão, daria não obstante meus muitos comprometimentos. Durante todo o tempo das duas semanas, jamais pedi ao Senhor dinheiro ou pessoas para se comprometerem com esse trabalho.
"Em 5 de dezembro, contudo, o tema de minha oração repentinamente se tornou diferente. Eu estava lendo o Salmo 81 e fui especialmente surpreendido, mais do que em qualquer momento anterior, pelo versículo 10: …Abre bem a boca, e ta encherei
. Pensei por algum momento sobre essas palavras e então fui levado a aplicá-las ao caso do orfanato. Fui surpreendido por nunca haver pedido ao Senhor nada referente ao orfanato, exceto saber qual era Sua vontade com relação a ser fundado ou não; e então caí de joelhos e abri bem minha boca pedindo muito a Ele. Pedi em submissão à Sua vontade e sem estabelecer um tempo em que Ele deveria responder à minha petição. Orei para que Ele me desse uma casa; fosse como empréstimo, ou que alguém fosse levado a pagar o aluguel de uma casa, ou que uma casa me fosse dada permanentemente para esta obra. Depois, pedi a Ele 1.000 libras¹ e, igualmente, que houvesse indivíduos qualificados para cuidar das crianças. Além disso, tenho sido levado, desde então, a pedir ao Senhor que coloque no coração do Seu povo que me enviem artigos de mobília para a casa e algumas roupas para as crianças. Enquanto fazia essa petição, tive plena consciência do que estava fazendo: eu estava pedindo algo que não tinha perspectiva natural de obter de irmãos a quem conhecia, mas que não era demais para que o Senhor concedesse.
10 de dezembro de 1835. Na manhã de hoje, recebi uma carta em que um irmão e uma irmã escreveram o seguinte: ‘Nós nos apresentamos para o serviço deste pretendido orfanato, caso o senhor nos considere qualificados para isto. Também abrimos mão de toda a mobília e demais coisas que Deus nos deu, para o uso do orfanato; e assim o fazemos sem receber salário algum, crendo que, se for a vontade do Senhor nos empregar, Ele suprirá todas as nossas necessidades.’
"13 de dezembro. Um irmão se determinou, no dia de hoje, a doar quatro pence² por semana, ou dez libras e oito pence anualmente, desde que o Senhor lhe proveja os meios. Oito pence foram doados por ele, como adiantado ao valor de duas semanas. Hoje, um irmão e uma irmã ofereceram-se, com toda a sua mobília e todas as provisões que têm em casa, caso possam ser proveitosamente empregados nas questões do orfanato."
Um Grande Encorajamento
"17 de dezembro. Eu estava bastante abatido na noite passada e, nesta manhã, com a situação, questionando se deveria ou não estar comprometido desta forma. Fui levado a