Cinco minutos
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Cinco minutos - José Martiniano de Alencar
José Martiniano de Alencar
Cinco minutos
Publicado pela Editora Good Press, 2022
EAN 4064066412142
Índice de conteúdo
J. DE ALENCAR
CINCO MINUTOS
EDIÇÃO ESPECIAL
A D***
I
II
III
IV
V
VI
VII
VIII
IX
X
J. DE ALENCAR
Índice de conteúdo
CINCO MINUTOS
Índice de conteúdo
EDIÇÃO ESPECIAL
Índice de conteúdo
RIO DE JANEIRO
Typ. Mont'Alverne—Rua do Ouvidor 82
1894
A D***
Índice de conteúdo
I
Índice de conteúdo
É uma historia curiosa a que lhe vou contar, minha prima. Mas é uma historia, e não um romance.
Ha mais de dous annos, seriam seis horas da tarde, dirigi-me ao Rocio para tomar o omnibus de Andarahy.
Sabe que sou o homem o menos pontual que ha n'este mundo: entre os os meus immensos defeitos e as minhas poucas qualidades, não conto a pontualidade essa virtude dos reis, e esse mão costume dos Inglezes.
Enthusiasta da liberdade, não posso admittir de modo algum que o homem se escravise ao seu relogio e regule as suas acções pelo movimento de uma pendula.
Tudo isto quer dizer que, chegando ao Rocio, não vi mais omnibus algum; o empregado á quem dirigi-me respondeu:
—Partio ha cinco minutos.
Resignei-me, e esperei pelo omnibus de sete horas.
Anoiteceu.
Fazia uma noite de inverno fresca e humida: o céo estava calmo, mas sem estrellas.
Á hora marcada chegou o omnibus, e apressei-me á ir a tomar o meu lugar.
Procurei, como costumo, o fundo do carro, afim de ficar livre das conversas monotonas dos recebedores, que de ordinario têm sempre uma anecdota insipida á contar, ou uma queixa á fazer sobre o máo estado dos caminhos.
O canto já estava occupado por um monte de sedas, que deixou escapar-se um ligeiro farfalhar, conchegando-se para dar-me lugar.
Sentei-me; prefiro sempre o contacto da seda á vizinhança da casimira ou do panno.
O meu primeiro cuidado foi ver si conseguia descobrir o rosto e as fórmas que se escondiam n'essas nuvens de seda e de rendas.
Era impossivel.
Além de estar escura a noite, um maldito véo cahido de um chapéozinho de palha não me deixava a menor esperança.
Resignei-me, e assentei que o melhor era cuidar de outra cousa.
Já o meu pensamento tinha-se lançado á galope pelo mundo da fantasia, quando de repente foi obrigado á voltar por uma circumstancia bem simples.
Senti no meu braço o contacto suave de um outro braço, que me parecia macio e avelludado como uma folha de rosa.
Quiz recuar, mas não tive animo; deixei-me ficar na mesma posição, e scismei que estava sentado perto de uma mulher que me amava e que se apoiava sobre mim.
Pouco e pouco fui cedendo áquella attracção irresistivel e reclinando-me insensivelmente: a pressão tornou-se mais forte; senti o seu hombro tocar de leve o meu; e por acaso encontrei uma mãozinha delicada e mimosa que deixou-se apertar á medo.
Assim, fascinado ao mesmo tempo pela minha illusão e por este contacto voluptuoso, esqueci-me, á ponto que, sem tino do que fazia, e, favorecido pela obscuridão, passei-lhe a mão pela cintura e cerrei seu talhe delicado.
Ella soltou um grito, que foi tomado naturalmente como susto causado pelos solavancos do omnibus, e refugiou-se no canto.
Meio arrependido do que tinha feito, voltei-me como para olhar pela portinhola do carro, e, approximando-me d'ella, disse-lhe quasi ao ouvido:
—Perdão!
Não respondeu; conchegou-se ainda mais ao canto.
Tomei uma resolução heroica.
—Vou descer; não a incommodarei mais.
Ditas estas palavras rapidamente, de modo que só ella ouvisse, inclinei-me para mandar parar.
Mas sentì outra vez a sua mãosinha, que apertava docemente a minha, para impedir-me de sahir.
Está entendido que não resisti, e que deixei-me ficar; ella conservava-se sempre longe de mim, mas tinha-mè abandonado a mão, que apertava respeitosamente.
De repente veio-me uma idéa. Si fosse feia! si fosse velha! si fosse uma e outra cousa!
Fiquei frio, e comecei á reflectir.
Esta mulher, que sem me conhecer me permittia o que só se permitte ao homem que se ama, não podia deixar com effeito de ser feia e muito feia.
Não lhe sendo facil