Guerreiro Místico
De Brenda Trim
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Guerreiro Místico - Brenda Trim
Dedicatória
Desde o primeiro dia, nossas maiores incentivadoras foram nossas mães e elas continuam a acreditar em nosso sonho. O amor e a devoção que elas nos dedicam são tão inesgotáveis quanto as bebidas energéticas que consumimos. Nós amamos vocês!
Queremos agradecer de todo o coração a todos os nossos leitores, que se juntaram a nós nesta emocionante aventura. Vocês apreciaram Guerreiro dos Sonhos o bastante para pedir o livro seguinte, então aqui está ele. Apertem os cintos, crianças!
Capítulo Um
— Obrigada por vir me buscar esta noite, especialmente a esta hora. Devo-lhe essa – murmurou Cailyn, enquanto abraçava a melhor amiga na calçada do lado de fora da retirada de bagagens, no Aeroporto Internacional de San Francisco.
— Sempre que quiser, você sabe disso. E obrigada por me deixar dirigir o seu carro, eu o adoro. É o carro mais legal que já dirigi e que poderei dirigir – brincou Jessie, enquanto mantinha o porta-malas aberto para Cailyn jogar sua bagagem ali dentro. – Então, como foi o casamento? E o mais importante, passou bons momentos ao lado do sexy Dr. Jace? – terminou a amiga, enquanto fechava o porta-malas. Cailyn ainda estava atordoada com o fato de Zander ter colocado alguns de seus Guerreiros das Trevas em ocupações humanas, para manter a existência dos sobrenaturais em segredo. Jace era um desses sobrenaturais disfarçados, um renomado médico de setor de emergência em Seattle. Mas, sem dúvida, não era como nenhum médico com o qual ela já havia consultado: mais parecia um modelo.
Pensando em Jace, um sorriso se insinuou na boca de Cailyn. Ela balançou a cabeça, foi até a porta do motorista e pulou no assento de couro macio. Pensou sobre a questão, enquanto colocava o carro em movimento e se afastava do aeroporto.
— Surpreendentemente, o casamento foi incrível… mágico. Elsie está muito feliz com seu escocês sexy – respondeu, por fim. Jessie já teria um colapso se soubesse que Zander era um vampiro, quanto mais que era o Rei dos Vampiros. Ela estava morrendo de vontade de lhe contar, mas algumas coisas você não pode confidenciar nem mesmo à melhor amiga, como por exemplo, que sua irmã foi transformada em uma vampira ao salvar sua vida, e que se uniu ao Rei dos Vampiros. – E você deveria ver a casa enorme em que esses caras vivem. Foi um cenário perfeito, com milhares de luzes cintilantes… parecia uma cena de conto de fadas. Como foram as coisas por aqui?
— Você não perdeu muita coisa. Fico contente por sua irmã estar feliz, depois de tudo o que ela passou quando Dalton foi assassinado. Não há ninguém que mereça ser feliz mais do que ela. Mas você, minha amiga, está evitando o verdadeiro problema. Rompeu seu noivado com John meses atrás por causa de sua atração por esse médico. Agora, desembucha, MacGregor.
Cailyn deu um suspiro exasperado. Adorava Jessie, mas desejava que ela não fosse tão persistente. Não tinha nenhuma vontade de falar sobre Jace. Os mais ínfimos pensamentos sobre ele lhe causavam uma excitação tão intensa, como nunca havia experimentado antes por ninguém, nem mesmo quando estava no auge da paixão. Então, havia essa atração inexplicável, puxando-a na direção dele. Seus estranhos e impressionantes olhos cor de ametista a atraíam, como uma mariposa para a chama.
A partir do momento em que Jace entrou no apartamento de Elsie, Cailyn sentiu-se cativada por ele, o que a surpreendeu. Normalmente, essa espécie de homem, usando uma trança longa e uma grande pulseira de prata, não fazia o seu tipo. A combinação a fazia pensar em um homem afeminado, mas certamente não havia nada de afeminado em Jace. Ele era todo força masculina, e um bravo guerreiro até a alma. Ela nunca esqueceria a batalha violenta que destruiu o Clube Confetti, onde ele empunhava as armas com exímia precisão.
Ela se viu no meio de uma guerra sobrenatural, e ficou extremamente apavorada, mas a maneira como Jace se movia tão fluidamente, lutando com confiança e vigor, fez seu coração bater forte por diferentes razões. Ela se lembrou de como ficou ali, incapaz de fazer qualquer coisa para ajudar ou se defender. Estava fora do seu elemento. Por um lado, sentia-se horrorizada com o sangue e a violência, e queria correr e se esconder; porém, por outro lado, estava cativada e encantada por aquele guerreiro místico. Desnecessário dizer que a situação lhe provocou uma grande perturbação.
Como Jessie havia dito, aquela atração implacável, além da confusão em que se via, a fizeram desistir de seu noivado com John meses antes. Os pensamentos sobre John criavam uma culpa terrível, mas familiar. Ele era atraente, atencioso, leal e compreensivo, tudo o que ela queria em um marido. Era ridículo desejar Jace. Afinal, havia muitos homens bonitos no mundo. Sem mencionar que Jace apenas a via como a irmã mais velha de Elsie.
Ela olhou pelo espelho retrovisor para a estrada escura e vazia atrás dela, pensando em como responder a Jessie.
— Não passei nenhum tempo sozinha com ele. Foi uma viagem curta e ele ficou no hospital quase o tempo todo. Poderia dizer que praticamente dancei com ele na recepção do casamento. Bem, estávamos todos juntos em um grande grupo, mas ficamos tão próximos um do outro que nos tocamos várias vezes e o calor entre nós… – Cailyn parou de falar, e seu corpo estremeceu ao se lembrar da ocasião.
— Como você conseguiu comparar seus sentimentos por John e por Jace, se você não passou nenhum tempo com ele? Achei que você fosse tentar apanhá-lo sozinho. – Jessie balançou as sobrancelhas para Cailyn, fazendo-a rir.
— Do jeito que você fala, até parece que é fácil. O que eu deveria fazer, ir até ele e arrastá-lo para o closet mais próximo? Olha, você sabe como essa situação toda me deixou confusa. Eu estava comprometida com John e o amo, mas não consigo parar de pensar em Jace. Honestamente, não confiei em mim mesma para ficar sozinha com ele. Meu corpo tende a ter mente própria no que diz respeito a ele.
— Preciso ver esse cara. Ele tem que ser abrasador para fazer com que você, a pessoa mais fiel que conheço, se questione. Pelo menos, finalmente contou à sua irmã que rompeu seu noivado com John?
— Não, não tive coragem para lhe contar. Era o grande dia dela e ela passou por tanta coisa nos últimos dois anos que merecia que tudo fosse perfeito. Se eu tivesse lhe contado, ela teria passado muito tempo se preocupando comigo. Eu lhe contarei, se for necessário. As coisas ainda podem dar certo, você sabe. – Ela odiava como sua voz soava tão insegura. Normalmente, não tinha problemas para tomar decisões, grandes ou pequenas. Aquilo era irritante.
Ela foi sincera, no entanto. Era possível que as coisas com John dessem certo. Ela e John ainda se falavam desde que ela terminou, e ele continuou tentando reconquistá-la. Ela se recusava a reatar com ele antes que seu desejo por Jace se extinguisse. Continuava dizendo a si mesma que a atração por Jace era uma fase, e que iria acabar. O problema era que sua atração era mais forte agora do que antes.
— Se você não quiser Jace, posso ficar com ele? Ele atende em casa? De repente, estou me sentindo mal – gemeu Jessie, inclinando a cabeça para trás sobre o assento, colocando as costas da mão sobre os olhos castanhos.
Normalmente, Cailyn teria rido, mas um ciúme ardente e cruel percorreu suas veias. Queria dar um soco na cara de sua melhor amiga, repetidas vezes. O que havia de errado com ela? Aquilo estava fora de controle. Precisava sair dos limites do carro. Estava perto de prejudicar sua melhor amiga. A viagem para seu condomínio em Potrero Hill iria ser longa naquela noite.
— Não, você não pode tê-lo – rosnou ela antes que pudesse se conter, arrependendo-se imediatamente de suas palavras. – Sinto muito, Jess. Perco um pouco a razão quando se trata de Jace. Lembre-se, eu quase arranquei os olhos de uma garota por beijá-lo. Se você tiver algum conselho sobre como resolver isso, sou toda ouvidos.
— Cai, você precisa parar de ser tão dura consigo mesma. Você fez a coisa respeitável e terminou com John, apesar do fato de que ainda o ama. Sei que nunca machucaria…
Uma rotação de motor chamou a atenção de Cailyn. Espiando em seus espelhos retrovisor e lateral, ela notou um grande utilitário escuro rapidamente se aproximando delas. Cailyn teve a sensação de que algo estava errado. A maneira agressiva do outro motorista fez o pânico se instalar.
O grande utilitário se aproximou, e ela percebeu que seu conversível não tinha chance contra a fera correndo em sua direção. E era óbvio que ele seguia direto para o carro dela. Seu coração acelerou, enquanto a adrenalina era despejada em seu corpo.
— Que diabos…? Qual é o problema deles? – Ela deixou escapar e mudou de faixa para sair do caminho.
— O quê?
— Aquele carro atrás de nós está bem em cima da minha traseira – respondeu ela, mostrando a tensão na voz.
Jessie se virou no assento.
— Eles mudaram de faixa também, para ficarem atrás de você. Estão nos seguindo?
Cailyn possuía a capacidade de ler as mentes das pessoas que estavam ao seu lado, e, apesar de ter passado a odiar esse poder, ela suspendeu as barreiras que erguera para proteger a mente e abriu a telepatia para os ocupantes do veículo atrás dela.
Ela se encolheu quando a maldade e a raiva cobriram sua mente como lodo de um pântano. Cailyn podia ler pensamentos humanos como um livro aberto, mas era difícil para ela ler a mente dos sobrenaturais. A confusão que estava captando lhe dizia que estava sendo seguida por seres sobrenaturais. As intenções dos ocupantes do utilitário estavam tingidas de malícia sombria, provocando-lhe arrepios na espinha. Ela tentou obter informações suficientes para saber o que estavam enfrentando, mas era difícil se concentrar devido ao medo cada vez maior.
Precisava se controlar, se queria que elas saíssem daquela situação com vida. Procurando sintonizar apenas nos ocupantes do utilitário e afastando todo o resto, ela se concentrou no motorista e finalmente captou algumas palavras desconcertantes: companheira, rei vampiro, Amuleto Triskele, Kadir, captura. Essas poucas palavras fizeram com que um nó se formasse no estômago. Aquilo estava conectado a Elsie e Zander, e ao desejo dos arquidemônios em possuir o Amuleto Triskele. Eles deveriam estar pensando que ela tinha informações ou, pior, planejavam usá-la para forçar Zander a desistir do amuleto. Isso significava um grande problema para ela e para Jessie.
Pisando fundo no acelerador, ela foi jogada no encosto do assento, enquanto o carro disparava. Olhou no espelho de novo e viu que havia conseguido colocar um espaço entre ela e o utilitário. Ela agarrava o volante com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos. Sua vitória durou pouco, pois o motor de seu perseguidor rugiu e uma verificação rápida lhe disse que o veículo estava se aproximando. Estavam enrascadas.
— Segure firme no assento, Jess. Eles estão atrás de nós – aconselhou, olhando ao redor para as casas agrupadas de South San Francisco, em busca de uma rota de fuga. A última coisa que desejava era levar tal perseguição aos subúrbios e colocar pessoas inocentes em perigo. Pensou em ir à polícia, mas rejeitou a ideia de imediato. Os indivíduos que as perseguiam não eram humanos e a polícia seria ineficaz contra o poder deles. Tendo visto a violência no mundo de Zander pessoalmente, sabia que nenhum humano seria capaz de protegê-la, nem proteger Jessie.
— Por que estariam nos perseguindo? Você reconhece o veículo? – O tremor na voz de Jessie a fez querer tranquilizar a amiga e lhe dizer que tudo ficaria bem, mas sabia que era mentira. Cailyn não fazia ideia do que iria acontecer.
Um choque, seguido pelo som de metal sendo amassado, interrompeu sua resposta assim que foi atingida na lateral. O volante deu uma guinada e ela tentou desviar, mas eles conseguiram empurrar seu carro, forçando-a a sair da rodovia. Ela percebeu o motivo, quando viu as placas para o Parque Estadual San Bruno. Era o lugar mais próximo do nada para onde eles poderiam levá-la, estando no meio da cidade.
Com o canto do olho, ela viu que Jessie havia se virado no banco do passageiro e que seus olhos estavam arregalados, olhando, boquiaberta, para o carro atrás delas. Ela se perguntou se Jessie viu os olhos com anéis vermelhos ou as presas dos homens. Achou que não, já que Jessie não estava aos berros.
Ao abrir a boca para dizer a Jessie para ligar para Elsie, Cailyn viu duas criaturas que haviam assombrado seus pesadelos por meses. O choque e o horror a percorreram, quando percebeu Azazel e Aquiel a poucos metros, na frente de seu carro. Azazel era um arquidemônio aterrorizante, que trabalhava para o demônio braço-direito de Lúcifer, Kadir, que queria o Amuleto Triskele de Zander para libertar Lúcifer do inferno. Aquiel era uma fada do sexo masculino, lindo, mas perigoso, que ajudava os demônios. Aqueles sobrenaturais juntos significavam graves problemas para Cailyn e Jessie. O fato de eles a terem encontrado, e claramente acreditarem que ela era uma forma de obter o amuleto, a aterrorizou.
Ela sentiu o medo a engolfar ao perceber a intenção maliciosa nos rostos atraentes. Os olhos vermelhos de Azazel brilhavam de raiva, e os prateados de Aquiel, de expectativa. O coração dela despencou ao examinar a área, buscando uma saída, e não encontrou nada além de árvores e arbustos verdes. Estavam bem fora dos subúrbios, o que significava que ela e Jessie teriam que enfrentá-los sozinhas.
O utilitário se posicionou ao lado dela, ameaçando bater no seu carro de novo.
— Não há nenhum lugar para ir, Jess – ela deixou escapar. Pisar no acelerador não lhes adiantaria nada. O som dos carros colidindo ecoou antes que seu corpo fosse jogado para a direita. Ela lutou para manter o controle do volante, determinada a não ser jogada para fora da estrada. Cerrou os dentes, enquanto segurava o volante.
— Vão nos matar! Oh, Deus. Cuidado, Cai! – gritou Jessie.
O som cortante de metal se fez ouvir, e ela sentiu ser sacudida no assento assim que jogou o carro o mais forte que pôde sobre o outro. Cailyn perdeu o controle do volante e, à medida em que sentia a gravidade a deixar, não conseguia mais dizer para onde subia. Quando o carro capotou, o vidro se estilhaçou e o ar entrou pela janela quebrada, fazendo o vento bater em seu rosto. Um estalo alto foi seguido por uma dor terrível na perna direita. O membro queimava, engolfado por uma dor aguda. Sem olhar, ela soube que havia quebrado um osso.
Jessie gritou e, apesar do fato de ambas estarem usando cintos de segurança, foram jogadas de um lado para o outro dentro do veículo. A bolsa de Cailyn bateu em seu rosto, e, antes que soubessem o que estava acontecendo, seus corpos foram lançados para frente, enquanto o carro batia em algo sólido. Os airbags frontais explodiram, tirando o fôlego de seus pulmões. Ela se sentia como um hematoma gigante da cabeça aos pés.
O carro caiu sobre o teto, enviando uma chuva de destroços ao redor delas. O som de vidro caindo no pavimento era o único barulho depois daquilo. Cailyn rezou para que o teto duro não desabasse e esmagasse as duas. Um olhar pelo para-brisa com rachaduras lhe disse que haviam batido em uma árvore. O som de pneus cantando significava que não tinham tempo a perder. O utilitário, cheio de escaramuças, as alcançou. Ela não fazia ideia se o arquidemônio e a fada ainda estavam na estrada ou não. O medo lhe proporcionava um gosto amargo na boca enquanto ela se preparava para morrer. Não tinha meios para combater aquelas criaturas poderosas.
Precisavam de ajuda. Sua telepatia nunca permitiu que ela se comunicasse com outras pessoas, mas precisava tentar. Expandiu a mente e gritou um pedido de socorro para qualquer um que estivesse perto o suficiente. Implorou para que alguém enviasse a polícia, o corpo de bombeiros, qualquer coisa, para distrair seus perseguidores. Já não conseguia se preocupar com quem mais estaria envolvido. Estava desesperada para que ela e Jessie sobrevivessem àquilo.
Por falar em Jessie, havia apenas silêncio no assento ao lado dela. Estaria viva? Aterrorizada com o que veria, olhou para ver o sangue pingando da têmpora de Jessie no longo cabelo loiro platinado. Com a mão trêmula, sentiu o pulso dela. Estava fraco, mas estava lá, graças a Deus.
O farfalhar de folhas e galhos estalando chamaram sua atenção. Do lado de fora da janela do passageiro, viu o demônio em suas botas de combate pretas se aproximar de seu veículo.
— Jessie, acorda, precisamos sair… – gritou, quando uma faca cortou seu cinto de segurança e alguém agarrou seu cabelo, arrastando-a para fora do carro. Esticando o pescoço, viu que Aquiel a segurava com firmeza.
Quando Azazel arrancou Jessie do carro, ela gritou:
— Deixe-a em paz! Ela não tem nada a ver com isso.
— Infelizmente para ela, agora tem – debochou Azazel. Jessie choramingou e gritou. Jessie havia voltado a si e seus olhos estavam arregalados de medo. Cailyn teria preferido que Jessie permanecesse inconsciente e alheia ao perigo que corriam.
— O que quer? – perguntou Cailyn, distraindo o demônio enquanto se concentrava nos pensamentos e fragmentos de conversas que passavam por sua mente. Normalmente, ficava bombardeada e subjugada assim que erguia suas barreiras, mas estava longe o suficiente de uma área mais povoada, o que tornava mais fácil se concentrar no que estava acontecendo. Uma centelha de esperança acendeu quando ela ouviu o nome de Zander, acompanhado por um senso de lealdade e dedicação. Quem quer que estivesse pensando em Zander respeitava o Rei dos Vampiros e ela rezava para que fossem seus Guerreiros das Trevas. Sabia que eles estavam por perto, mas alcançariam as duas a tempo?
— Você saberá em breve. Devo dizer que é bonita, princesa. Muito mais voluptuosa do que sua irmã, a Rainha – ronronou Azazel. Ela estremeceu quando ele correu um dedo em forma de garra ao longo da face de Jessie, enquanto segurava seu pescoço. Ela sabia que tudo o que ele precisava fazer era flexionar os dedos e acabaria com a vida de Jessie. Abriu a mente de novo e gritou seu pedido de ajuda.
— Quem é aquele que ouço vindo pelos arbustos? Mais brinquedos? – A náusea aumentou ao ouvir as palavras de Azazel. Ela amaldiçoou os sentidos sobrenaturais dele. Esperava que houvesse Guerreiros das Trevas vindo em sua direção, sobrenaturais que poderiam pegá-los de surpresa. Não queria morrer assim, e eles poderiam acabar com ela e Jessie em um piscar de olhos. Eles deveriam querê-las para alguma coisa, raciocinou. Caso contrário, estariam mortas. Ela teria que impedi-lo.
— O que quer comigo? Não tenho nada para lhe dar. Deixe-nos ir ou irá se arrepender. Os Guerreiros das Trevas estão a segundos de distância de nós – atreveu-se ela a dizer. – Você não vai se safar dessa – ameaçou.
— Ah, mas é aí que você se engana. Nós já nos safamos. Lance o feitiço agora, Aquiel. Vou cuidar da amiga dela – ordenou Azazel. Imediatamente, a fada começou a cantar em uma linguagem lírica e, à medida que seu corpo ficava pesado, Cailyn lutava contra o domínio que ele exercia sobre ela. Ela encontrou os olhos assustados de Jessie e viu suas lágrimas fluírem. Quando Azazel espalmou a mão sobre os seios da amiga, Jessie lutou contra ele. Cailyn gritou de raiva.
— Não, deixe-a em paz, seu bastardo doente! – Ela precisava se livrar das garras de Aquiel e ajudar Jessie. Tentou chutar, mas os pés pareciam estar presos em concreto. Errou o alvo por uma milha e sua perna quebrada queimou de dor. Ergueu o braço para empurrar a fada, mas ele também estava pesado. Ela se perguntou o que ele estava fazendo para tornar seus movimentos lentos e descoordenados.
Quando o demônio afundou as presas na carótida de Jessie, Jessie parou de lutar e ficou mole em seus braços.
— Não… Jessie! Não a machuque! – implorou Cailyn. Pontos piscaram em seu campo de visão e sua cabeça pendeu, enquanto ela gastava o resto de sua energia lutando e ouviu a voz irritante de Azazel.
— Ela será minha escaramuça mais bonita até agora.
* * *
Jace fechou a porta da frente do Zeum e ouviu o som da voz frenética de Elsie no corredor, seguida pelo sotaque escocês grave de Zander. O complexo que os Guerreiros das Trevas de Seattle chamavam de lar estava em silêncio, exceto pelo rei e sua companheira. Jace correu para a sala de guerra e parou na porta. Elsie chorava, claramente aborrecida com alguma coisa.
— Zander, estou dizendo que Cailyn está em perigo. O arquidemônio e a fada vão machucá-la. Essa premonição foi diferente. Vi os eventos se desenrolarem, ao contrário de antes, quando apenas experimentei sentimentos de desgraça. Eles vão levá-la. Por favor, ligue – implorou Elsie. Ansiedade, raiva e um senso de urgência bombardearam Jace ao ouvir que Cailyn poderia estar em perigo. A ideia não lhe agradou, e ele não fazia ideia do motivo. Claro, era um médico e seu foco era curar pessoas, mas era algo que ia além disso e ele mal conhecia a mulher.
— Também vejo, a ghra. Aparentemente, agora compartilho suas premonições. Não se preocupe, farei tudo ao meu alcance para ter certeza de que ela está segura – prometeu Zander, pegando o celular e fazendo uma ligação. A magia por trás de um acasalamento surpreendeu Jace. Ele sabia que os Companheiros Predestinados compartilhavam quaisquer habilidades especiais que tivessem um com o outro, uma vez que o acasalamento estivesse consumado, mas nunca havia realmente visto, porque Zander e Elsie foram o primeiro casal acasalado em mais de setecentos anos.
— O que está acontecendo? – perguntou Jace, lembrando-se da primeira vez que conheceu Cailyn. Ficou imediatamente cativado. Não ficando excitado por mulheres, Cailyn inspirou-lhe uma excitação tão quente e dolorosa que ele perdeu o fôlego. A atração por ela não diminuiu nem um pouco ao longo dos meses. Na verdade, tornara-se mais forte. Na cerimônia de acasalamento de Zander e Elsie, foram necessários todos os seus anos de celibato para manter alguma distância. Só o fato de relembrar o rosto doce e curvas voluptuosas fazia seu corpo enrijecer.
O suspiro forte de Elsie interrompeu suas reminiscências.
— Eles estão com ela, Zander, faça alguma coisa – disse, frenética. O coração dele deu um salto e disparou de preocupação por Cailyn.
— Thane – vociferou Zander ao telefone –, onde você está? – O sotaque escocês de Zander se intensificava com a agitação.
Jace ouviu a voz de Thane ecoar do outro lado da linha.
— Estamos bem na saída do Parque Estadual San Bruno. O voo de Cailyn pousou cedo e estamos correndo para alcançá-la.
— Apresse-se. Minha companheira e eu vimos Aquiel capturar Cailyn. Faça o que for preciso para chegar até ela – ordenou Zander ao guerreiro.
— Sim, amo – respondeu Thane.
— Ligue-me quando a resgatar. E, Thane, o fracasso não é uma opção.
— Eles vão chegar a tempo? – exigiu Jace, depois que Zander encerrar a ligação com o Guerreiro das Trevas de San Francisco. Seu instinto protetor estava em alta. Como curador, o bem-estar dos outros sempre o motivou, mas aquilo era totalmente diferente. Não entendia o motivo, mas precisava chegar até Cailyn e protegê-la.
— Ela vai morrer? Pensei que ninguém sobrevivia sempre que você tem uma premonição assim – perguntou Jace a Elsie, mudando de assunto assim que o pensamento lhe ocorreu. Ele tremia e não conseguia imaginar a morte de Cailyn. Seu corpo estremeceu e era algo perturbador, para dizer o mínimo. Suas reações a Cailyn eram intensas e continuavam a confundi-lo.
— Minhas premonições mudaram – explicou Elsie. – Agora, consigo imagens dos eventos que irão ocorrer. Mais cedo, tive uma visão de Cailyn sendo perseguida por escaramuças que a tiravam da estrada. Então Aquiel a agarrou dos destroços do carro. Há uma urgência me atingindo que me diz que estamos em uma corrida contra o tempo.
Aquilo foi o suficiente para Jace. Aquiel havia provado ser uma criatura perversa, e as escaramuças eram antigos humanos transformados por um arquidemônio em irracionais máquinas de matar. O pensamento de Cailyn sendo machucada por qualquer um deles fez sua raiva se transformar em fúria.
— Ryker e Gage estão com Thane? – perguntou Jace sobre os outros Guerreiros das Trevas de San Francisco. Pelo que Elsie descreveu, Thane precisaria de ajuda.
— Sim, estão. Jax também está com eles. Eles começaram a patrulhar em grupos maiores com o aumento da atividade das escaramuças, e isso está a nosso favor esta noite – respondeu Zander, puxando Elsie para os seus braços.
— Por que ainda não ligaram? Essa espera está me deixando louca. Ela não pode se machucar – soluçou Elsie. Zander enxugou as lágrimas de seu rosto e a beijou com amor. Jace maravilhou-se pelo o quanto Zander era paciente com a companheira. Ele a segurou e confortou, em vez de destacar que fazia menos de um minuto desde que terminara sua ligação para Thane.
O pânico fazia com que Jace não conseguisse se sentar, e ele andava inquieto pela sala, de um lado para o outro. Estava com suficiente adrenalina percorrendo as veias para disparar até San Francisco. Faria qualquer coisa para chegar a Cailyn a tempo. Seus instintos de proteção estavam mais fortes do que nunca. Naquele momento, a alma de sua companheira se agitou em seu peito, fazendo-o se perguntar se era possível que Cailyn fosse sua Companheira Predestinada.
Ele descartou a ideia, sem pensar duas vezes. A Deusa nunca amaldiçoaria uma mulher tão celestial como Cailyn com um companheiro como ele. Ele não servia para ser um companheiro. Lady Angelica cuidara disso.
A linha principal tocou e Zander apertou o botão do viva-voz antes de Jace dar um passo.
— Guerreiros das Trevas – vociferou Zander.
— Aqui é Thane. Estamos no local do acidente. No momento em que saímos das árvores, o demônio zombou de nós, agarrou a fada e desapareceu. Estamos com as mulheres. A irmã da rainha está viva, mas ferida. A amiga dela tem uma óbvia mordida de demônio no pescoço. Como deseja que procedamos? Normalmente, deixamos as equipes médicas humanas assumirem o controle neste momento. Quer que chamemos uma ambulância?
Jace parou, petrificado, enquanto a ansiedade sobre Cailyn o dominava. Ficou aliviado ao ouvir que ela estava viva, mas saber que estava ferida fez seu coração despencar.
— Um hospital humano seria uma má ideia – deixou escapar, antes que alguém pudesse responder. — Acredite em mim, esta situação vai trazer muita atenção para o reino. Devemos cuidar disso nós mesmos. – Ele se virou para Zander, com a determinação o dominando. – Preciso ir até elas – declarou. Ninguém o impediria de ir até onde Cailyn estava.
— Concordo. O caminho mais rápido será o portal para Basketane – ressaltou Zander, referindo-se ao complexo de San Francisco. — Você acha que pode aguentar o dreno de energia? Não sabemos a extensão dos ferimentos delas.
— Farei o que for preciso para chegar até ela o mais rápido possível e vou curá-la… mesmo que isso me mate – prometeu Jace, ignorando os suspiros chocados e olhares questionadores.
— Envie uma mensagem para Gerrick e diga-lhe para retornar – disse Zander, poupando Jace de quaisquer explicações adicionais. Jace enviou uma mensagem para Gerrick e Killian, companheiros feiticeiros, antes de Zander terminar de falar. A resposta deles foi instantânea, fazendo com que Jace praguejasse, enquanto disparava outra mensagem.
— O que foi? – perguntou Zander.
— Eles estão a quinze minutos de distância. Vou ter que fazer isso sozinho. – Eles não tinham tanto tempo assim. Precisava chegar lá, naquele momento.
— Leve as mulheres de volta para Basketane – disse Zander, no viva-voz, sustentando o olhar de Jace, firme.
— Estamos levando-as agora e estaremos esperando por você – respondeu Thane.
— Estaremos aí em breve. Gerrick está a cinco minutos daqui e eles irão estabelecer o portal imediatamente após o retorno dele. Envie outra equipe para limpar a cena do acidente. Não queremos que as autoridades humanas se envolvam – instruiu Zander.
O suor escorria da testa de Jace e seu coração estava acelerado. Ouviu Zander confortar Elsie e os outros que haviam se juntado a eles discutirem aquela virada nos acontecimentos. Jace estava pior do que Elsie havia estado, buscando ouvir Gerrick ou Killian a cada dez segundos. Ficar sentado, esperando, não era algo que Jace sabia fazer bem. Precisava agir. Outra volta pela sala não ajudaria. No momento em que pensou que iria enlouquecer, Gerrick entrou pela porta da frente.
Jace correu para as portas duplas.
— Vamos, Gerrick. Você pode se atualizar a respeito mais tarde. Precisamos lançar um portal para Basketane. Agora! – retrucou, quando Gerrick não fez nenhum movimento para ajudá-lo.
— Minha irmã está ferida e precisamos chegar até ela – disse Elsie ao guerreiro mal-humorado na porta da sala de guerra.
Jace sabia que Gerrick odiava ouvir que uma mulher estava em perigo, o