Sobre este e-book
Um aldeão morre em circunstâncias estranhas. Suspeitando da natureza sobrenatural e maligna do evento, padre Isidro é enviado para investigar o incidente.
Porém, existem segredos ainda mais antigos e perigosos ocultos no coração de certas montanhas malditas, relembrados pelos últimos sobreviventes de uma época onde a névoa cobria verdades muito desencorajadoras... Agora este véu foi rasgado, liberando a ameaça. Se nada contê-la, o caos reinará.
Chegará a noite onde as fábulas que alimentaram a imaginação de pequenos se tornarão na realidade que aterrorizará até o mais incrédulos dos homens... Quem será capaz de manter a sanidade quando os firmes pilares que sustestam a realidade desmoronam? Magia, bruxaria, e segredos ancestrais irão abalar a ortodoxia do Cristianismo.
Uma aventura que nos levará de volta ao profundo dos Pirinéus, em uma terra fronteiriça, onde o impossível se mostra mais real do que o bom senso de muitos desejaria. Será você a desafiá-la, a perseguir seus mais incômodos e arcaicos mistérios?
Cada árvore, colina, lago, e caverna pertence a dois mundos; um deles ignorado por nós. Seus proscritos moradores têm alimentado as fantasias do folclore popular... até agora.
Adiante, os velhos caminhos que nos conduzem até eles estão traçados, e á sua espera. Viaje através deles, se você tiver a coragem e loucura necessárias.
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Lendas do Poente 3 - X. F. Moix
Capítulos
FRENESI
DESENGANOS
POÇÕES
ACESSO SELADO
AS SETE ERVAS
QUANDO A ESCURIDÃO CAI
SOB A SOMBRA DO MENIR
SEGUINDO O RASTRO
O SÉTIMO
O TANOEIRO
DESAFIOS
FUMO E ÁGUA
UM APERITIVO
REINOS SUBMERSOS
MONTSÉGUR
OSSOS PARTIDOS
GLÓRIA PERDIDA
SEM OPÇÕES
A RAVINA DAS ENLUTADAS
AS DAMAS DA ÁGUA
O CANTO DA SIBILA
REFLEXOS EM AÇO
A NOITE DE JANO
OS ENCANTADOS
KERRESETCAPS
AS MONTANHAS MALDITAS
O LENÇOL DA TENTAÇÃO
UM FETO NAS TREVAS
O NASCIMENTO DE UMA DEUSA
A ESTRELA DA MANHÃ
A DAMA DO CANIGÓ
CAMINHOS ETERNOS
ATIRE-SE NO MAR
O IMPOSTOR
LEVANTANDO VOO
ISIL
LENDAS DO POENTE
FRENESI
Dos arbustos, assomaram os chifres de uma camurça, que escapou rapidamente do lugar após escutar um som distante se aproximando. O grupo de homens cavalgava com rapidez. Salvador Roca levantou o braço, indicando a seus companheiros que freiassem os cavalos.
─O que ocorre?- indagou Abderrabán, olhando ao redor.
─Acamparemos aqui até que anoiteça. -ordenou o mineiro.
─Por qual razão? –replicou O Berrador. ─Não me parece sensato passar a noite à base de uma colina, onde estaremos expostos a qualquer ataque.
─Não o faremos, se é isto que te preocupa. Esperaremos, apenas...
─Esperar o quê? –disse Isidro
─O momento apropriado para seguir nosso caminho, sem correr riscos desnecessários.
O grupo acampou, sem haver entendido com muita clareza o propósito de Salvador. O bandido e Manuel decidiram inspecionar os arredores. Perto, descobriram uma modesta lagoa de águas cristalinas.
─Talvez não tenha sido tão má decisão, vir até aqui. Vou me refrescar! Não vens? ─disse Manuel, enquanto se despia.
─Não gostaria de nadar enquanto caio em uma emboscada. Qualquer bandido astuto lhe advertiria do perigo de fazer semelhante estupidez!
O caolho ignorou seus raciocínios e se jogou. Depois de refrescar-se por vários minutos, decidiu sair. Porém, seu parceiro já havia partido.
─Sabia que não podia confiar nele! Na mínima ocasião, desaparece. -resmungou.
Seu cavalo pastava pelos arredores, e se alarmou. Ao aproximar-se dele, encontrou uma roupa que não lhe pertencia caída na grama. O animal relinchou outra vez. Então, naquele momento, viu uma moça sair do meio da mata. Ela lhe sorriu. E ele se rendeu ao encanto de sua beleza. Permaneceu paralisado, ao observá-la achegar-se cuidadosamente. A cada passo que dava, mais detalhes de sua desnuda anatomia conseguia ver. Se deteve a escassos centímetros. Sua longa cabeleira encaracolada caía sobre seus elegantes ombros e seios voluptuosos. Abraçou-o, sem trocar palavras. Manuel mal podia acreditar no que acontecia. Beijaram-se, enquanto entrelaçavam seus corpos para entregarem-se a seus fervores. Após o frenesi apaixonado, Manuel deu suas roupas à moça; mas sorrindo, ela as recusou. Levantou-se e correu até seu cavalo. Com um salto ágil, montou-se em cima dele. Controlava as rédeas com grande destreza. Cavalgou até ela, enquanto seu peito e ventre eram acariciados pela ondulante crina do animal. O caolho conseguiu pará-la e corou, cobrindo-a com os tecidos. A moça os puxou, como se um repentino frio havesse tomado conta de seu buliçoso corpo. Manuel não estranhou, pois a noite começava a cair. Decidiram voltar para o acampamento.
DESENGANOS
Salvador tossiu de repente. Os ataques eram cada vez mais frequentes. Seus esforços para esconder a gravidade de sua doença não convenceram.
─Ancião, poderás continuar nos guiando durante toda a viagem? ─perguntou mordazmente o bandido ─Não foi uma boa ideia ter vindo conosco. Opino que serás mais um fardo do que uma ajuda.
─Silêncio rufião! Alguém se acerca!- advertiu Abderrabán, pondo-se em guarda.
─Será aquele estúpido, que enfim decidiu voltar! -apontou.
Efetivamente era Manuel, que voltava da lagoa. Mas não estava sozinho.
─Calma! É uma linda jovem que conheci! - disse
Não podiam ver seu rosto, pois o cobria timidamente abaixo de seu vestido.
─Não se acanhe menina, mostra-te. - convidou O Berrador, segurando discretamente sua arma.
Manuel desmontou e a ajudou a descer. Quando lhe retirou o capuz, viram o rosto de uma velha sorrindo-lhes infamemente.
─Oh não! Uma bruxa! És uma bruxa! -gritou horrorizado Manuel, retrocedendo até cair de bruços no chão.
─De novo você! -o bandido reconheceu seu rosto ─É a velha que conhecemos numa estrada, quando acompanhávamos os ceifeiros!
─Aia...aia...tens uma boa memória! -respondeu ela.
─Guardem vossas armas!-ordenou Salvador. ─Esta é a mulher que estávamos esperando.
─Maldição!–não parava de repetir, o desequilibrado Manuel. –Harpia infeliz, enganou-me com teus feitiços! -dizia enquanto retorcia-se, coçando o corpo como se padecesse de picadas insuportáveis.
─O que foi?!- perguntou Isidro
─Esta bruxa me enganou! Enfeitiçou a minha mente, e me há... me há violado! -exprimiu com lágrimas nos olhos.
─Não a culpe pelos teus impulsos aberrantes!─disse O Berrador, sem poder conter suas gargalhadas.
─Não tentes justificar-te! Te entregaste a mim voluntariamente! Agora não te arrependas! O que poderia ter feito eu, tão frágil e indefesa, diante da fogosidade de um exaltado?!
─Estás mentindo, bruxa! Alteraste a minha visão, para fazer-me crer que eras uma jovem formosa! Me usaste! Vou te matar!- anunciou, sacando seu cutelo.
─Para trás!-interveio Abderrabán, refreando com firmeza a mão do despeitado. ─Pagarás as contas mais tarde! Não permitirei que nossa longa espera tenha sido em vão!
─Essa mulher possui conhecimentos que nos serão úteis. -indicou Salvador, ao momento que a tosse voltava a assediá-lo.─Deixem de idiotices, soltem-a!
Após acatarem sua ordem, viram que sofria outro ataque. O velho sufocava. E nenhum deles podia ajudá-lo.
POÇÕES
O fumo inundava o interior da cabana. Entre a densa atmosfera, podia-se notar uma grande variedade de substâncias armazenadas em recipientes. Do teto, pendiam feixes de ervas. Em cima das mesas, viam-se pequenos morteiros de barro, onde os ingredientes eram triturados para a criação de misturas com fins mágicos e curativos.
A anciã mexia no conteúdo de sua caldeira, onde fervia um ensopado especial. Acrescentou nele um punhado de folhas de cifre, sálvia, e erva-doce.
─Passe-me a camomila! - ordenou a Isidro ─Ainda me questiono