As princesas e o segredo da corte
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Sobre este e-book
Leopoldina vinha para o Brasil a fim de encontrar-se com seu esposo, e Amber, para viver com seu tutor, o misterioso marquês de Maviero e Sá. As princesas não sabiam ao certo o que as esperava nesse distante e desconhecido país, pois só tinham ouvido falar das maravilhas da sua fauna e da sua flora. Não sabiam que, além das belezas e das riquezas do Rio de Janeiro de 1817, encontrariam dificuldades, problemas, mistérios e segredos.
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As princesas e o segredo da corte - Elisabeth Loibl
comigo!
CAPÍTULO I
E screvo no ano de 1817, mais precisamente no dia 2 de fevereiro. Hoje eu soube que minha amiga, a princesa Maria Leopoldina Josefa Carolina, filha do imperador Francisco I da Áustria, irá se casar com o príncipe português D. Pedro de Bourbon e Bragança, herdeiro do trono de Portugal, do Brasil e do Algarve. As negociações diplomáticas estavam concluídas; faltava apenas solenizar o ajuste dos gabinetes e pedir publicamente a mão de minha amiga em casamento, em nome do rei de Portugal, D. João VI.
O casamento de Leopoldina foi arranjado pelo príncipe Von Metternich, que tem grande influência na corte de Viena. Na verdade, é ele quem comanda os destinos da Áustria.
Leopoldina se curvou, humilde, diante de um casamento que lhe foi imposto, para atender a razões diplomáticas. Fora educada para obedecer. É tradição da casa dos Habsburgos selar alianças políticas por meio de casamentos. O lema dessa dinastia real da Áustria é: As outras nações que façam guerra, a Áustria estende seu poder por intermédio de acordos matrimoniais
.
Eu sou mais rebelde que minha amiga. Não sei se me sujeitaria a uma imposição tão cruel. Mas não pertenço a uma dinastia importante; sou apenas uma princesa à margem dos grandes acontecimentos. E até agradeço por isso.
Leopoldina fala muito em destino. Quando lhe perguntei se não tinha medo de se unir a um homem que nunca havia visto antes e ainda por cima atravessar o oceano para viver numa terra distante e desconhecida, o Brasil, ela respondeu:
– Tenho coragem, pois de nada adiantaria ter medo.
– Mas é um casamento! – exclamei. – Você terá de dormir com ele! Isso não deixa você angustiada?
– É minha obrigação fazer sacrifícios pela minha pátria.
– Oh, Leopoldina! – exclamei. – No fundo, até invejo você, não pelo marido, mas pela viagem.
Leopoldina riu.
– Minha querida amiga! Que espírito de aventura! Certamente o herdou de seu pai. Não fique triste, seu dia chegará!
Meu dia chegou bem antes do que eu imaginava.
CAPÍTULO II
H oje Leopoldina me contou que o embaixador designado para pedir formalmente a sua mão é um certo Pedro Joaquim Vito de Menezes Coutinho, marquês de Marialva. Na corte não se fala outra coisa! Uma excitação febril tomou conta de todos, de mim inclusive.
Eu queria ver a entrada do marquês em Viena, mas a minha família havia me proibido de misturar-me às multidões. Mesmo assim consegui escapar da vigilância rígida do primo Horácio e da tia Emily e fui ver o cortejo.
Nunca Viena presenciou tamanho esplendor. Nem mesmo Napoleão Bonaparte, quando mandou buscar Maria Luísa, irmã de Leopoldina, ostentou tanto luxo.
Naquele momento invejei Leopoldina. Como eu gostaria de acompanhá-la! Nada me prendia a Viena. Mamãe morrera havia pouco tempo, mas eu não sentia sua falta. Meu pai, o príncipe Vladimir von Woroncev, mal conheci. Só sabia que pertencera a uma antiga nobreza da Polônia e que passara a maior parte da vida viajando pelo mundo, pesquisando e coletando plantas e animais exóticos.
Por isso o Brasil não era nenhuma terra desconhecida para mim. Eu conhecia esse país pelas cartas do meu pai, as quais eu devorava com paixão. Foi do meu pai que herdei o espírito de aventura e pesquisa. Mas nasci mulher e, portanto, era obrigada a esconder minha inteligência e sede de saber.
– Uma jovem bem-educada não deve demonstrar inteligência – minha mãe costumava dizer.
– Mas eu sou inteligente! – exclamei certa vez, revoltada. – Por que esconder um dom que a natureza me deu?!
– Porque os homens não gostam de mulheres inteligentes – ela explicou pacientemente. – Eu quero que você faça um bom casamento.
– Mas a princesa Leopoldina também é inteligente e vai fazer um bom casamento! – retruquei.
Minha mãe suspirou.
– Ela é arquiduquesa da Áustria, meu bem! As arquiduquesas sempre fazem bons casamentos.
– O embaixador! O embaixador! – gritou a multidão nesse instante, interrompendo meus pensamentos.
Apesar do frio que fazia nesse dia, 17 de fevereiro de 1817, o Sol colaborou com os festejos, banhando Viena em ouro liquefeito.
Um fremir ansioso correu pela multidão, que se acotovelava para não perder nada do cortejo.
De repente retumbaram os clarins. Estrondou no chão o patear áspero dos cavalos. Por todos os lados ouviam-se gritos:
– O embaixador! O embaixador!
Era o embaixador extraordinário de Portugal, Sua Excelência o senhor marquês de Marialva, que entrava em Viena com toda a glória. Que reino maravilhoso devia ser esse que ostentava tamanha pompa!
À frente vinham as carruagens (dezessete ao todo!), ladeadas por escudeiros vestidos em librés guarnecidas de ouro.
– Meu Deus! – exclamei, maravilhada.
– São as carruagens dos príncipes da corte imperial para receber o embaixador do rei português – murmurou perto do meu ouvido uma voz masculina.
Voltei-me, assustada. Era um homem alto, de olhos azuis, em elegante uniforme branco e dourado. Uma figura que impressionava!
No entanto, antes que eu pudesse responder, minha atenção foi desviada pelo espetáculo à minha frente. Agora vinham os criados e pajens montados em cavalos negros com arreios de prata e cobertos com telizes de veludo, ricamente bordados de ouro. E, por toda parte, o brasão da casa dos Marialva.
– É fascinante, não é? – perguntou o homem ao meu lado.
– Sim.
Ele não desistiu.
– Veja as carruagens douradas!
– Não sou cega – respondi rispidamente.
Ele não se deixou intimidar e continuou:
– Numa delas está o embaixador do rei de Portugal.
Fiquei irritada.
– Obrigada, mas não preciso de explicações!
– Realmente?! – perguntou com leve ironia.
Por quem me tomava? Alguma bobinha, que ele pretendia impressionar?
Enquanto isso, o cortejo continuava: seis cavalos castanhos com arreios de prata, seis cavalos brancos com arreios de ouro e, por último, fechando o cortejo, as carruagens dos embaixadores da Espanha, da França e da Inglaterra.
– Não acho que nossa arquiduquesa deva casar-se com o príncipe português. Não será toda esta pompa brilho falso?
– Mas que atrevimento! – exclamei. – Se eu fosse o senhor, não falaria de coisas que não entendesse.
– Ah! E a senhorita entende?
Eu ia abrir a boca para lhe informar quem eu era, mas o bom-senso fez com que me calasse a tempo. Afinal, ele era um estranho. Mais que depressa me embrenhei na multidão, para voltar para o palácio. Mas não contei com a insistência do meu admirador.
– Permita-me que a acompanhe?
Oh! não, pensei, aflita.
– Obrigada, não é necessário.
– Poderia revê-la?
Queria me livrar dele o mais rápido possível.
– Por favor, não insista!
– Mas é perigoso para uma senhorita andar desacompanhada.
Eu não respondi. Quase correndo, consegui escapar da insistência dele.
CAPÍTULO III
T odos estavam felizes, menos eu. Minha melhor amiga estava de partida, e eu ficaria em Viena, à espera de um marido, que minha família iria escolher! O que a vida reservaria para mim? Dias monótonos ao lado de um homem que, sem dúvida, não amaria.
Há quem diga que Leopoldina e