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Pluralismo na psicanálise
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E-book438 páginas12 horas

Pluralismo na psicanálise

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Sobre este e-book

Pluralismo na psicanálise é um livro-coletânea que cumpre a iniciativa de dar visibilidade aos resultados das atividades da linha de pesquisa intitulada Filosofia da Psicanálise do Programa de Pós-Graduação em Filosofia (PPGF) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Em suas atividades, ela contempla disciplinas, seminários, orientações, congressos, editorações, traduções, projetos em parcerias nacionais e internacionais, entre outros. Neste livro, o leitor encontrará capítulos de seus membros e de alguns colaboradores nacionais e internacionais, apresentando temáticas caras à pesquisa filosófica, de modo a constituírem uma amostragem do ocorrido.
IdiomaPortuguês
EditoraPUCPRess
Data de lançamento19 de mai. de 2017
ISBN9788568324684
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    Pluralismo na psicanálise - Eduardo Ribeiro da Fonseca

    © 2016, Francisco Verardi Bocca e outros

    2016, PUCPRess

    Este livro, na totalidade ou em parte, não pode ser reproduzido por qualquer meio sem

    autorização expressa por escrito da Editora.

    Pontifícia Universidade Católica do Paraná

    (PUCPR)

    Reitor

    Waldemiro Gremski

    Vice-reitor

    Paulo Otávio Mussi Augusto

    Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação

    Paula Cristina Trevilatto

    Conselho Editorial

    Auristela Duarte de Lima Moser

    Cilene da Silva Gomes Ribeiro

    Eduardo Biacchi Gomes

    Evelyn de Almeirda Orlando

    Jaime Ramos

    Léo Peruzzo Júnior

    Lorete Maria da S. Kotze

    Rodrigo Moraes da Silveira

    Ruy Inácio Neiva de Carvalho

    Vilmar Rodrigues Moreira

    Zanei Ramos Barcellos

    Editora Universitária Champagnat

    Coordenação

    Michele Marcos de Oliveira

    Editor

    Marcelo Manduca

    Editora de arte

    Solange Freitas de Melo Eschipio

    Administrativo

    Larissa Conceição

    Preparação e revisão de texto

    Susan Cristine Trevisani dos Reis

    Capa e Projeto Gráfico

    Solange Freitas de Melo Eschipio

    Diagramação

    José Cabral Lima Junior

    Ilustração

    Canbedone/Fotolia

    Produção de ebook

    S2 Books

    Editora Universitária Champagnat

    Rua Imaculada Conceição, 1155 – Prédio da Administração – 6º andar

    Câmpus Curitiba – CEP 80215-901 – Curitiba / PR

    Tel. (41) 3271-1701

    [email protected] – editorachampagnat.pucpr.br

    Dados da Catalogação na Publicação

    Pontifícia Universidade Católica do Paraná

    Sistema Integrado de Bibliotecas – SIBI/PUCPR

    Biblioteca Central

    P737

    2016

    Pluralismo na psicanálise / Francisco Verardi Bocca... [et al.], organizadores. – Curitiba : PUCPRess, 2016.

    376 p. : il. ; 21 cm. n

    Vários autores

    Inclui bibliografia

    ISBN 978-85-68324-55-4

    eISBN 978-85-68324-68-4

    1. Psicanálise e filosofia. 2. Pluralismo. I. Bocca, Francisco Verardi.

    CDD 20. ed. − 150.195

    SUMÁRIO

    CAPA

    FOLHA DE ROSTO

    CRÉDITOS

    APRESENTAÇÃO

    HAGIOGRAFIA E DIFAMAÇÃO NA HISTÓRIA DA PSICANÁLISE: AS DUAS FACES DO EXCEPCIONALISMO

    COMTE COM FREUD – POSSIBILIDADES DE PENSAR A HISTÓRIA

    MÉTAPSYCHOLOGIE. PARCOURS INAUGURAL D’UN CONCEPT

    ESSE INÚTIL DEVANEIO. A METAPSICOLOGIA COMO UMA RESPOSTA DE SIGMUND FREUD À METAFÍSICA

    GEORGES POLITZER E A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS

    ACHIEVEMENTS OF WINNICOTT’S REVOLUTION

    APONTAMENTOS SOBRE O PARADIGMA DA PSICANÁLISE DE WINNICOTT

    DA DIMENSÃO ONTOLÓGICA DA PSICANÁLISE: CONSIDERAÇÕES À LUZ DE KUHN E HEIDEGGER

    CONTRA HONNETH E SUA INTERPRETAÇÃO DE D. W. WINNICOTT OU O PAPEL DO MODELO ONTOLÓGICO NA CONSTITUIÇÃO DE UMA MATRIZ DISCIPLINAR PSICANALÍTICA

    AGOSTINHO, LACAN E A QUESTÃO DO SIGNO LINGUÍSTICO

    QUANDO O VERBO NÃO SE FAZ CARNE: O PATHOS DA PALAVRA

    O ENACTMENT E SUAS ARTICULAÇÕES COM A CONTRATRANSFERÊNCIA

    DU CERCLE AU NOEUD: SUR LA TOPOLOGIE DU MOUVEMENT OBSCUR DE L’EXISTENCE

    CHARCOT (1893)

    SOBRE OS AUTORES

    APRESENTAÇÃO

    Este livro-coletânea cumpre a iniciativa de dar visibilidade aos resultados das atividades da linha de pesquisa intitulada Filosofia da Psicanálise do Programa de Pós-Graduação em Filosofia (PPGF) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), que contempla disciplinas, seminários, orientações, congressos, editorações, traduções, projetos em parcerias nacionais e internacionais, entre outros. Longe de exaurir seu passado, traz uma amostragem do ocorrido.

    Seus capítulos, organizados por aproximação temática, têm início com Richard Theisen Simanke e Fátima Caropreso apresentando uma contribuição intitulada Hagiografia e difamação na história da psicanálise: as duas faces do excepcionalismo, que se aproxima de uma chave de leitura – se o leitor assim o quiser – para os demais capítulos, na medida em que trata da psicanálise como objeto da historiografia, a partir do que chamaram de reivindicação de excepcionalidade. Excepcionalidade que a trata, de um lado com difamação e, de outro, com idealização. O casal propõe, indicando os prejuízos de ambas, uma renúncia ao embate, a dissolução das mitologias sobre Freud e sua obra, sugerindo a retomada dos textos psicanalíticos a partir de um trabalho de contextualização histórica, visando um tipo de historiografia que revele adequadamente a especificidade da psicanálise, possível em vista da verificação do tipo de desenvolvimento histórico que a possibilitou. Assim advertido, o leitor poderá seguir a leitura desta coletânea ponderando sobre a perspectiva que subjaz em cada um dos autores.

    Na sequência, em Comte com Freud possibilidades de pensar a história, Francisco Verardi Bocca reflete sobre a recepção (não confessada) de alguns aspectos do pensamento de Auguste Comte por Freud, especialmente quanto às suas concepções acerca do progresso civilizatório da humanidade, da marcha progressiva do espírito humano, de sua filosofia da história. Tarefa realizada apontando aproximações, bem como divergências relativas ao pensamento de ambos. Tudo no interesse de colocar em seus devidos lugares, vale dizer, desmitificar a simplificação de considerações otimistas ou pessimistas, respectivamente, sobre a humanidade atribuídas a Comte e Freud.

    Privilegiando a correspondência de Freud, Luiz Eduardo Prado de Oliveira, em Métapsychologie. Parcours inaugural d’un concept, mostra o processo inconcluso do empreendimento metapsicológico de Freud, considerando o velho adágio de que Freud pretendeu substituir a metafísica pela metapsicologia, na verdade criando uma nova metafísica pretensamente apresentada como ciência. Especialmente considerando que em dado momento, por acasião da publicação de Além do princípio do prazer, a metafísica reaparece como tentativa de reunificação de sua teoria. O autor investiga este percurso levando em conta aspectos teóricos, assim como os pessoais de Freud, o que lhe permitiu indicar a lógica nem sempre clara que resultou numa teoria que não apresenta o mesmo sentido em cada etapa.

    Situando Freud nos quadros da história da filosofia moderna Eduardo Ribeiro da Fonseca, em Esse inútil devaneio. A metapsicologia como uma resposta de Sigmund Freud à metafísica, adensa o tema da metapsicologia freudiana confrontado com a metafísica, sobretudo com o recurso à metafísica imante de Schopenhauer, esta às voltas com o Inconsciente freudiano. Visando esclarecer ainda mais o entrelaçamento entre filosofia e ciência, na perspectiva dos desafios clínicos da psicanálise, Eduardo retoma o estatuto heurístico de seus conceitos, considerando que toda explicação física requer uma metafísica, o que lhe permitiu indagar se a metapsicologia seria de fato uma metafísica ou uma ciência kantiana. Cabe ao leitor decidir.

    André Carone, em Georges Politzer e A interpretação dos sonhos, também tematizando a metapsicologia, apresenta a já clássica crítica de Politzer ao método empregado por Freud na Interpretação dos sonhos, subsidiando, como sabemos, a elaboração de sua psicologia concreta.Com o intuito de recolocar a psicanálise no bom rumo, denunciou a duplicidade postulada por Freud entre processos psíquicos e fenômenos, recusando a hipótese de entidades e processos interiores explicativos dos relatos exteriores. Correndo todos os riscos, Carone apresenta uma crítica da Crítica dando a Politzer o mesmo tratamento que este deu a Freud, sustentando que a psicanálise, pelos motivos alegados, não pode ser assimilada à psicologia concreta, a não ser por uma má leitura de Politzer, denuncia.

    O capítulo de Zeljko Loparic apresenta uma perspectiva sobre aspectos que considera revolucionários da teoria psicanalítica de Winnicott e da sua prática clínica, resultado de mais de vinte anos de pesquisa. Loparic informa que este material constitui a base do Curso de Formação em Psicanálise winnicottiana, ministrado em sete Centros Winnicott da Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana (SBPW), que são, em sua maioria, membros da International Winnicott Association (IWA). É também a espinha dorsal do Curso de Treinamento em Psicanálise Winnicottiana.

    Na sequência, em Apontamentos sobre o paradigma da psicanálise de Winnicott, recorrendo à epistemologia de T. Khun, Eder Soares Santos indica o caráter paradigmático da obra de Winnicott, vale dizer, sua descontinuidade em relação a Freud. Tudo isto opondo, entre outras coisas, teoria do amadurecimento à teoria da sexualidade que pressupõe um componente ontológico na natureza humana, mudança radical que possibilitou sua ruptura com Freud e a emergência de seu paradigma.

    Na mesma direção, em Da dimensão ontológica da psicanálise: considerações à luz de Kuhn e Heidegger, Caroline Vasconcelos Ribeiro explicita as diferenças relativamente aos elementos metodológicos que compõem a matriz disciplinar da psicanálise de Winnicott e Freud ecoando Heidegger. Este último, incluído para refletir sobre a maneira como modelos ontológicos se fazem presentes na psicanálise freudiana. Assim,mostra como Freud utilizou explicações objetificantes a propósito de seu compromisso com as ciências naturais. Recurso pelo qual teria expulsado o homem concreto de sua investigação.

    Por outros caminhos, Suze Piza, em Contra Honneth e sua interpretação de D. W. Winnicott ou o papel do modelo ontológico na constituição de uma matriz disciplinar psicanalítica, critica Honneth por sua interpretação de Winnicott nos quadros da filosofia de Hegel, o que teria motivado seus equívocos acerca da própria teoria do amadurecimento, além de outros conceitos fundamentais. Suze acusa-o de, entre outras coisas, ter hegelianizado a relação mãe-bebê, considerando-a em termos de luta dialética e não de dependência, de fato intersubjetivando a relação. Justifica o erro de Honneth pelo fato de operar inapropriadamente o encontro de duas matrizes disciplinares distintas, vale dizer, não considerar a psicanálise de Winnicott como paradigma.

    Numa guinada temática e cronológica, Rogério Miranda de Almeida, em Agostinho, Lacan e a questão do signo linguístico, lança luz sobre os antecedentes do signo linguístico, lembrando que o questionamento sobre a linguagem é tão antigo quanto a própria filosofia, tendo seu início com o estoicismo primitivo em seguida apropriado por Agostinho, numa versão enriquecida, e inserido na doutrina cristã. Já em outra perspectiva, deixando sua univocidade e naturalidade no passado, por ocasião da linguística moderna, o signo emergiu como arbitrário, como reenvio a outro signo, expondo o que está em jogo em sua significação infinita, como expressão do Inconsciente, da tensão do desejo do falante, o que teria seduzido Lacan, que, por seu meio, incensou a questão da verdade e de sua busca.

    Já em Quando o verbo não se faz carne: o pathos da palavra, Sidney Nilton de Oliveira e Desirée Varella Bianeck retomam a reflexão sobre a linguagem e a palavra na psicanálise, cuja interdição decorre, como afirmam, de desejos complexos e distintos. Analisam sua ocorrência no contexto familiar tomando como balisa teórica Françoise Dolto. Mais uma vez, a questão da verdade no uso dos signos aparece destacando a importância do uso da palavra entre crianças e adultos no âmbito familiar.

    Por sua vez, Valmir Uhren, em O enactment e suas articulações com a contratransferência, destaca o recurso ao mito na produção teórica de Freud. Ilustra com recurso ao mito romano de Janus que considera como metáfora da contratransferência e do enactment. O autor recupera a história da contratransferência, para em seguida se perguntar por sua relação com o enactment, que em suas conclusões tem a função de articular e englobar tanto a transferência quanto a contratransferência. Tudo pretendendo oferecer uma caracterização da psicanálise contemporânea como operando uma passagem do modelo intrapsíquico para um relacional. O que faz do enactment, em suas palavras, um novo paradigma em psicanálise.

    Finalizando os capítulos autorais, Guy-Félix Duportail, em Du cercle au noeud : sur la topologie du mouvement obscur de l’existence, apresenta uma conexão entre fenomenologia e psicanálise a partir do que chamou de movimento da existência. O fez recorrendo criticamente ao filósofo Jan Patočka. Responde a ele retomando a noção de existência como espaço-temporal. Para isto, utiliza, na verdade reúne, Heidegger e Merleau-Ponty, além de Lacan a partir do nó borromeano, justamente a propósito de sua topologia que esquematiza a existência apoiada numa noção de tempo espacializado.

    Como última oferta, André Carone, desta vez, apresenta uma tradução do texto que Freud escreveu por ocasião da morte de Charcot, de suma importância para a pesquisa (do movimento) dos conceitos de Freud.

    Por fim, aproveito esta oportunidade para agradecer a todos que colaboraram para a publicação deste livro, com as atividades da linha de pesquisa Filosofia da Psicanálise do PPGF da PUCPR, além de desejar ao leitor uma excelente e proveitosa leitura.

    Francisco Verardi Bocca

    Verão de 2016

    HAGIOGRAFIA E DIFAMAÇÃO

    NA HISTÓRIA DA PSICANÁLISE:

    AS DUAS FACES DO

    EXCEPCIONALISMO [1]

    Richard Theisen Simanke [2]

    Fátima Caropreso [3]

    A história da psicanálise, tal como cultivada nos meios psicanalíticos e na cultura como um todo, é ainda um pântano de desinformação. Apesar de a psicanálise ter começado a tornar-se objeto de uma historiografia mais profissional a partir do final dos anos 1960, esses estudos ainda estão longe de terem tido um impacto mais amplo na percepção da psicanálise e de sua história, seja entre os adeptos e praticantes da mesma, seja entre o público interessado em geral. Os mitos que infestam a historiografia da psicanálise podem ser divididos, basicamente, em dois tipos: por um lado, os mitos hagiográficos, que apresentam uma visão idealizada e heroica da vida e das realizações de Freud e de seus seguidores mais destacados; por outro, os mitos difamatórios, que surgem, em parte, como uma reação aos primeiros e que projetam uma imagem negativa da psicanálise como uma pseudociência cultivada e disseminada com doses variáveis de ingenuidade, autoengano e más intenções.

    Esses mitos ou injunções difamatórias aparecem em versões mais extremas ou mais brandas e podem endereçar-se à psicanálise como um todo ou apenas a algumas de suas versões ou escolas; nesse último caso, eles podem se originar tanto fora dos meios psicanalíticos, quanto em escolas concorrentes ou adversárias. Mutatis mutandis, o mesmo ocorre com os mitos hagiográficos. Embora já exista uma literatura séria e crítica de ambas as mitologias, sua recepção, ainda limitada, se dá frequentemente em termos ditados por essas posições antagônicas; ou seja, a crítica da mitologia hagiográfica é percebida como difamação e a crítica da mitologia difamatória é percebida como hagiografia. O objetivo deste trabalho é argumentar que uma origem comum a ambas as mitologias pode ser encontrada na reivindicação de excepcionalidade (histórica, epistêmica, antropológica) que é idiossincrática da psicanálise. Essa reivindicação é um dos motes do discurso hagiográfico – que, tipicamente, cultiva uma retórica da radicalidade, segundo a qual todas as realizações psicanalíticas seriam, de uma forma ou de outra, radicais, extremas, absolutas, subversivas, etc. –, mas é reapresentada pelo discurso difamatório como pura e simples mistificação.

    Significativamente, mesmo pesquisas e reflexões metodológicas mais recentemente elaboradas em história da psicanálise, que emanam do campo psicanalítico, tendem para a posição de que essa metodologia tenha que se atentar para a singularidade da psicanálise como disciplina, como prática e como forma de conhecimento e adequar-se a essa especificidade, perpetuando, assim, ainda que de forma nuançada, a atitude excepcionalista. Como conclusão, argumenta-se que a história da psicanálise pode melhor trabalhar no sentido da dissolução dessas mitologias a partir dos pressupostos epistemológicos e metodológicos ordinários da história cultural, da história da ciência e da história das ideias e da consequente renúncia ao excepcionalismo. Tendo isso em vista, é esboçada ao final uma proposta metodológica para conciliar e complementar reciprocamente uma abordagem interna e epistemológica dos textos psicanalíticos com um trabalho de contextualização histórica.

    OS MITOS HISTORIOGRÁFICOS DA PSICANÁLISE

    A psicanálise começou a se tornar objeto de uma historiografia mais profissional de forma mais constante e regular, apenas a partir de meados dos anos 1960. Houve precedentes, é claro, isto é, tentativas de começar a formar uma historiografia mais sistemática e metódica da psicanálise, desde o trabalho pioneiro de Fritz Wittels, ainda contemporâneo a Freud. O primeiro livro de Wittels, nominado Freud, o homem, a doutrina, a escola, aparece em alemão já em 1924. Apesar da crítica ao estilo de história biográfica, que fora inaugurado e praticado pelo próprio Freud e que começava a ser imitado pelos discípulos, o livro ainda tem a vida de Freud como foco. Seu segundo livro, publicado nos Estados Unidos, Freud e sua época (WITTELS, 1931), já adota um referencial teórico mais próximo ao da história das ideias.

    Os trabalhos do casal Siegfried Bernfeld e Suzanne Cassirer-Bernfeld, nos anos 1940 e 1950, começaram a estabelecer outro patamar de rigor no estudo da história da psicanálise, se abstendo, em geral, de fazer reinterpretações psicanalíticas de Freud a partir da informação biográfica contida em seus trabalhos, e se aproximando, em seus métodos, do estilo da historiografia acadêmica. Sua pesquisa documental realizada, quando ainda em Viena, de fato, constituiu o embrião dos Arquivos Freud hoje mantidos na Biblioteca do Congresso em Washington. No entanto, o aparecimento da biografia oficial e autorizada de Ernest Jones, publicada entre 1953 e 1957, absorveu o trabalho dos Bernfeld, nem sempre de forma reconhecida e sem deixar de introduzir sutis adaptações para adequá-los à imagem fortemente idealizada de Freud que pretendia construir. A biografia de Max Schur, Freud, living and dying, embora só tenha sido publicada por sua viúva em 1972, resultou de pesquisas realizadas desde muito antes e tinha entre seus objetivos declarados complementar e corrigir distorções e omissões, deliberadas ou não, da narrativa de Jones (um dos mais conhecidos refere-se ao episódio envolvendo Wilhelm Fliess e Emma Eckstein, que está por trás do célebre sonho da injeção de Irma). Outro trabalho pioneiro nessa linha de abordagem, já se sobrepondo em parte à nova historiografia que estava por vir, é o do psicanalista sueco Ola Andersson, cujos Estudos sobre a pré-história da psicanálise apareceram em 1962, mas passaram praticamente desconhecidos, até serem desenterrados pela historiadora francesa da psicanálise Elizabeth Roudinesco e publicados na França em 1997. O psicanalista lacaniano Jacques Nassif tinha utilizado largamente o livro de Andersson em sua obra de 1977, Freud, l’inconscient : sur les commencements de la psychanalyse, de modo que ele era mais conhecido entre os psicanalistas francófonos do que em outros lugares, até mesmo na Suécia. A edição brasileira só surgiu depois da francesa, em 2000, e foi inspirada por ela. Houve um interessante intercâmbio epistolar entre Andersson e Henri Ellenberger, quando o primeiro procurava apoio do segundo para dar mais visibilidade a seu trabalho, objetivo que uma série de desencontros entre eles acabou solapando. Roudinesco publicou as cartas na edição francesa, junto com alguns outros trabalhos curtos de Andersson.

    Esses e outros estudos que poderiam ser mencionados, contudo, ainda provinham maciçamente do próprio campo psicanalítico e não de historiadores profissionais. Desde meados dos anos 1960, essa situação começou a mudar, com o surgimento de uma literatura historiográfica independente que resultou em outro salto qualitativo na maneira de praticar a história da psicanálise. Originalmente, um cientista político, Paul Roazen, interessou-se primeiro pelo pensamento político e social de Freud e, a partir daí, pela história da psicanálise como um todo. Começando em torno de 1965, ele utilizou-se dos métodos da história oral e entrevistou ex-pacientes, colaboradores e contemporâneos de Freud, reunindo uma imensa quantidade de material que resultou em seu Freud e seus discípulos, publicado em 1971. No restante de sua obra, ele continuou abordando, seguindo diversos métodos de pesquisa documental, tanto a vida e o trabalho do próprio Freud – incluindo questões sensíveis, como o controverso relacionamento entre Freud e o neurologista e psicanalista austríaco Viktor Tausk – quanto de outros pioneiros da psicanálise, como Helene Deutsch, Sandor Rado, Edward Glover e Erik Erikson.

    O nome de maior destaque (e impacto) nesse surgimento de uma historiografia profissional da psicanálise é, com certeza, o psiquiatra, criminologista e historiador da medicina canadense Henri Ellenberger. Embora tenha nascido na África Britânica (Rodésia) e obtido depois a cidadania francesa, Ellenberger não era completamente estrangeiro aos meios psicanalíticos, já que foi analisado por Oskar Pfister e membro da Sociedade Suíça de Psicanálise durante alguns anos. No entanto, a maior parte da sua carreira profissional transcorreu em instituições hospitalares e acadêmicas nos EUA e no Canadá. Mesmo antes da publicação de seu clássico A descoberta do inconsciente: história e evolução da psiquiatria dinâmica, em 1970, ele dedicara diversos estudos a desfazer mal-entendidos e mistificações da história da psicanálise (a recepção hostil da conferência sobre histeria masculina de Freud em Viena, os casos clínicos de Anna O. e Emmy von N., estes já nos anos 1970, etc.). Embora seu objeto de estudo não seja exclusivamente a psicanálise, ele lhe concede um espaço significativo e um lugar central na história das teorias e práticas psicodinâmicas no campo da saúde mental. As regras metodológicas que ele apresenta na introdução de seu trabalho soariam como de uma obviedade flagrante, se elas não tivessem sido tão sistematicamente ignoradas na historiografia da psicanálise: "A metodologia relevante pode ser resumida em quatro princípios: 1) Nunca assuma nada como evidentemente verdadeiro; 2) Verifique tudo; 3) Recoloque tudo em seu contexto; 4) Trace uma linha de distinção nítida entre fatos e interpretação de fatos" (ELLENBERGER, 1970/1994, p.v). A isso ele acrescenta as diretrizes, que deveriam ser igualmente evidentes, de recorrer tanto quanto possível a fontes primárias (arquivos, publicações originais em suas línguas originais, testemunhos em primeira mão, etc.) e de testar a confiabilidade das fontes secundárias de todas as formas possíveis.

    Uma síntese eficiente da evolução da historiografia da psicanálise pode ser encontrada na introdução editorial de Lydia Marinelli e Andreas Mayer – Forgetting Freud? For a New Historiography of Psychoanalysis (MARINELLI; MAYER, 2006) – para o número especial da revista Science in Context dedicado ao tema. Esse número apresenta as contribuições a um congresso realizado em 2004, na Fundação Sigmund Freud de Viena. A exploração de aspectos específicos dessa problemática pode ser encontrada nos diversos estudos que integram esse volume.

    Contudo, esses estudos – que não cessaram de multiplicar-se desde essas iniciativas inaugurais – ainda estão longe de terem tido um impacto mais amplo na percepção da psicanálise e de sua história, seja entre os adeptos e praticantes da mesma, seja entre o público interessado em geral. Como resultado, a história da psicanálise ainda manifesta uma ampla coleção de mitos que se disseminam de geração para geração, não apenas de leigos, mas também de participantes ativos do movimento e das instituições psicanalíticas e de estudiosos acadêmicos interessados pela psicanálise, seja no campo da saúde mental, seja no das humanidades e das ciências sociais.

    Os mitos que infestam a historiografia da psicanálise podem ser divididos, basicamente, em dois tipos: por um lado, os mitos hagiográficos, que apresentam uma visão idealizada e heroica da vida e das realizações de Freud e de seus seguidores mais destacados (sobretudo daqueles que, de uma maneira ou de outra, se tornaram chefes de escolas); por outro, os mitos difamatórios, que surgem, em parte, como uma reação aos primeiros (embora estejam também a serviço de outros interesses, inclusive econômicos) e que projetam uma imagem negativa da psicanálise como uma pseudociência cultivada e disseminada com doses variáveis de ingenuidade, autoengano e más intenções. Esses mitos ou injunções difamatórias aparecem em versões mais extremas ou mais brandas e podem-se endereçar à psicanálise como um todo ou apenas a algumas de suas versões ou escolas. Nesse último caso, eles podem-se originar tanto fora dos meios psicanalíticos quanto em escolas concorrentes ou adversárias (pense-se na visão caricata da psicologia do ego e da teoria das relações objetais propagadas por Lacan e sua escola, por exemplo).

    A psicanálise certamente teve seus detratores de primeira hora, mesmo descontando-se a sensibilidade exacerbada de Freud a críticas manifestadas ocasionalmente e o uso político das mesmas – reais ou inventadas – para dar coesão ao movimento psicanalítico nascente. E ela nunca agradou todo mundo, com certeza, ao longo de sua relativamente já longa história e no contexto da ampla disseminação global que experimentou durante o século XX. No entanto, nos anos 1980 e 1990, surgiu uma literatura francamente antipsicanalítica – e antifreudiana em particular –, sobretudo como um fenômeno norte-americano e britânico, mas com consideráveis repercussões internacionais. Podemos nomear como os principais personagens desse movimento autores tais como Frederick Crews, Todd Dufresne, Peter Swales, Frank Sulloway, Frank Cioffi, Richard Webster, Hans Eysenck, Elizabeth Thornton e Jeffrey Masson, entre outros. Assim como os primeiros historiadores da psicanálise eram psicanalistas sem nenhum treinamento específico em pesquisa histórica (embora alguns tenham feito um notável esforço autodidático nesse sentido, às vezes com excelentes resultados, como acabamos de ver), os detratores de Freud tampouco possuíam qualquer especialização nesse tipo de pesquisa (com raras exceções), embora frequentemente apresentassem suas injunções como uma revisão da história oficial da psicanálise (daí o adjetivo revisionista frequentemente associado a esse grupo). Uma exceção aqui seria Frank Sulloway que, embora psicólogo, se pós-graduou em história da ciência em Harvard e trabalhou com história da biologia evolucionária, antes de dedicar-se a Freud. Seu livro Freud, biólogo da mente, publicado em 1979, contém considerável trabalho historiográfico de valor, mas incorre em acusações meio destoantes a Freud em seus momentos mais exaltados, especialmente nas conclusões.

    O resultado desse trabalho é, mais do que uma crítica da psicanálise e da obra de Freud – algo que, quando bem fundamentado seria sempre bem-vindo –, um esforço destrutivo que não recua diante de artifícios como a apresentação seletiva e descontextualizada de informações e, em alguns de seus piores momentos, a calúnia pura e simples. Os títulos ilustram bem o caráter unilateral e simplista desse tipo de crítica: Killing Freud: 20th Century Culture and the Death of Psychoanalysis (DUFRESNE, 2003), Decline and Fall of the Freudian Empire (EYSENCK, 1985), The Freudian Fallacy (THORNTON, 1983), Why Freud Was Wrong (WEBSTER, 1996), entre tantos outros. Um subproduto dessa literatura foi a disseminação de uma série de meias-verdades (quando não completas mentiras ou, pelo menos, acusações não provadas) que constituem isso que estamos chamando de mitos difamatórios: Freud ocultou deliberadamente seu conhecimento da realidade dos episódios de sedução infantil para não prejudicar sua carreira (MASSON, 1984); Freud era adicto à cocaína e todas suas teorias mirabolantes derivam das consequências de seu vício (THORNTON, 1983); Freud mantinha relações extramaritais com a cunhada Minna Bernays (SWALES, 1982), e assim por diante. Não se trata aqui de defender Freud dessa espécie de difamação, um tanto quanto primitiva, mas de apontar como a circulação dessa mitologia contribui para aumentar o nível de desinformação no campo já pantanoso da história da psicanálise e rebaixar o nível da discussão a respeito de seus méritos e deméritos.

    O mesmo pode ser dito, mutatis mutandis, dos mitos hagiográficos. Seguindo a tradição inaugurada por Jones, as maiores realizações foram atribuídas a Freud, mesmo antes da criação da psicanálise stricto sensu. A primeira e mais importante delas – embora atualmente já esteja consideravelmente relativizada – foi a descoberta do inconsciente. Ellenberger provavelmente deu esse título a sua opus magnum para, entre outras razões, enfatizar quão vasta era a história do inconsciente antes de Freud. Antes dele, o engenheiro e historiador diletante da ciência Lancelot Law Whyte já tinha publicado o seu The Unconscious Before Freud (WHYTE, 1962), apontando a onipresença da teorização sobre o inconsciente no pensamento moderno, seja na filosofia, na literatura ou na ciência e medicina. Numa obra mais recente sobre o inconsciente de Schelling a Freud (FFYTCHE, 2012), o historiador das ideias Matt Ffytche aponta as insuficiências da historiografia contemporânea sobre o inconsciente. Tais insuficiências estariam presentes também na história da psicanálise que ainda falha em apreender quão disseminado era esse conceito no século XIX, de modo que a pergunta sequer pode ser se Freud foi influenciado por alguma das inúmeras vertentes e tradições do problema que aí se encontram, mas em qual ou quais delas ele pode ser inserido. Os exemplos podem ser multiplicados à vontade, mencionemos apenas dois: 1) Jones coloca Freud a um passo da teoria neuronal que depois rendeu um prêmio Nobel a Santiago de Ramón y Cajal, quando a leitura dos próprios trabalhos neurológicos a que ele se refere mostra um Freud muito mais próximo da teoria rival (a assim chamada teoria reticular do sistema nervoso), embora Freud de fato tenha adotado a teoria neuronal mais tarde. Nem mesmo o revisionista Sulloway coloca em dúvida essa afirmação, limitando-se a mencionar os autores que a sustentaram, como Jones, Rudolf Brun e Smith Jellife; e 2) poucos dentro do campo psicanalítico ainda duvidam do fato de ter sido Freud o primeiro a falar de uma sexualidade infantil, embora o primeiro trabalho a contestar essa precedência (sem descartar a possibilidade de haver outros anteriores) tenha sido publicado por Stephen Kern, em 1973. Desde então, uma ampla literatura dentro do campo da história da sexualidade tem sido produzida, mostrando as várias formas que assumiu o debate sobre a sexualidade infantil ao longo do século XIX e como a ideia da sexualidade como parte do desenvolvimento infantil normal estava perfeitamente formulada antes de Freud, que aparece como um participante relativamente tardio nesse debate. A mesma atitude reverente pode ser encontrada com relação a outros personagens de destaque na história da psicanálise. Lacan é sempre um bom exemplo, mas há outros. Uma boa ilustração desse estilo historiográfico pode ser encontrada na obra coletiva Psychoanalytic Pioneers, editada por Franz Alexander, Samuel Eisenstein e Martin Grotjahn e publicada em 1966, um pouco depois do falecimento de Alexander. Ela apresenta biografias resumidas, fortemente idealizadas e, geralmente, sentimentais de 40 pioneiros da psicanálise, de Abraham a Erikson.

    Já existe, é verdade, uma literatura séria e crítica de ambas as mitologias, isto é, que não respondem apenas pela contraposição da mitologia oposta. Para a crítica da literatura difamatória, os melhores exemplos talvez sejam os trabalhos de Kurt Jacobsen, Freud’s Foes (JACOBSEN, 2009), e de Paul Robinson, Freud and His Critics (ROBINSON, 1993), este último escrito no auge da voga antifreudiana. Jacobsen, um cientista político com pouco comprometimento direto com a psicanálise, fala dos inimigos de Freud deliberadamente para distingui-los de seus críticos e se refere com isso à literatura difamatória descrita acima. Robinson, por sua vez, se concentra nos trabalhos de Sulloway, Masson e do filósofo da ciência Adolf Grünbaum e procura mostrar a falta de fundamento teórico e empírico de suas críticas. Observe-se, porém, que a crítica de Grünbaum, em The Foundations of Psychoanalysis (GRÜNBAUM,1984), embora severa, é estritamente filosófica e foi respondida nos mesmos termos por autores como David Sachs (1989) e Nigel MacKay (1989), entre outros.

    A crítica da mitologia hagiográfica pode ser encontrada na verdadeira historiografia revisionista (isto é, não a literatura difamatória que se intitula revisionista), como os trabalhos de Ellenberger (1970), Roazen (1978), Andersson (1962) e Ffytche (2012) mencionados acima, aos quais se poderia vir a acrescentar outros como Carl Schorske (1980), Mark Luprecht (1990), Eli Zaretsky (2015) e George Makari (2008). Estes últimos realizam indiretamente essa crítica ao praticarem uma pesquisa histórica sistemática, metodologicamente rigorosa e tanto quanto possível isenta de comprometimentos a priori contra ou a favor da psicanálise. O problema é que a literatura difamatória frequentemente busca se apropriar desses trabalhos e tratá-los como convergindo com seus próprios objetivos. Isso é particularmente claro num trabalho como o Freud Files: An Inquiry into the History of Psychoanalysis, obra conjunta de Mikkel Borch-Jacobsen (antes um estudioso de Lacan que, em algum momento, resolveu envergar as vestes do inquisidor) e Shonu Shamdasani (um excelente historiador de Jung e da psicologia analítica, mas que não manifesta o mesmo rigor ou objetividade ao tratar de Freud). Embora o trabalho procure se apresentar como uma revisão séria das polêmicas que animam a história da psicanálise (inserindo-se, de certa forma, no campo atualmente florescente da história da historiografia), os autores claramente procuram transformar clássicos, como Ellenberger e Roazen, em aliados em sua cruzada antifreudiana, ao mesmo tempo em que utilizam dois pesos e duas medidas para avaliar a obra de todos os estudiosos da área a que se referem: todo aquele que rejeitar Freud é transformado em modelo de rigor historiográfico, enquanto que qualquer autor que manifestar alguma simpatia ou mesmo moderação em sua abordagem é imediatamente alinhado ao cortejo dos sicários subservientes e bajuladores que seguem a psicanálise. Borch-Jacobsen foi um dos mentores do Livro Negro da Psicanálise, publicado na França em 2005, que prestou o desserviço de assoprar as brasas da cruzada antipsicanalítica que estavam se apagando e recolocar em circulação alguns de seus protagonistas, além de abrir caminho para recém-chegados oportunistas. É um trabalho que dá todas as mostras de exprimir a disputa de mercado entre psicoterapeutas psicanalíticos e terapeutas cognitivo-comportamentais. Os psicanalistas responderam com o Anti-Livro Negro da Psicanálise, organizado na França por Jacques-Alain Miller em 2006 e, na América Latina, em 2011, com o Livro Negro da Psicopatologia Contemporânea, organizado por Silvia Fendrik e Alfredo Jerusalinsky em 2011. Desnecessário dizer que esses golpes e contragolpes não fizeram avançar a compreensão da história da psicanálise e de suas relações com as disciplinas e práticas que lhe são próximas, como a psiquiatria dinâmica e a psicopatologia geral. A recepção de uma literatura historiográfica séria no campo psicanalítico – ainda restrita, como se observou acima – é limitada ainda mais pelo acirramento desses debates e se dá frequentemente nos termos ditados por essas posições antagônicas; ou seja, a crítica da mitologia hagiográfica é percebida como difamação e a crítica da mitologia difamatória é percebida como hagiografia (pelos antipsicanalistas).

    CONCLUSÃO

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