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Bienvenidos: História de bolivianos escravizados em São Paulo
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E-book156 páginas1 hora

Bienvenidos: História de bolivianos escravizados em São Paulo

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Sobre este e-book

"O barulho da máquina preenchia a quietude da casa há dias. Era perene, contínuo, denunciava o desespero. Os pés pressionavam o pedal, trêmulos. O corpo da mulher doía, e a blusa larga que o cobria deixava à mostra os ossos salientes das costas. Eram duas horas da tarde e ainda não havia almoçado. As três meninas que trabalhavam com Silveria olhavam para a patroa com pena e medo. Não ousavam dizer mais nada. Já haviam insistido. 'Você vai morrer se continuar trabalhando assim.'. António costurava, em silêncio ainda maior, no canto do quarto. Fazia-o compulsoriamente. Não havia saída, mas acreditava que pregar panos também não seria a solução. À noite, quando se retirava para dormir, insistiu para a mulher deixar a máquina e acompanhá-lo. 'Não adianta você fazer roupa por oitenta centavos, não adianta para nada. Nós estamos trabalhando de graça', repetiu e repetiu, antes de bater a porta e deixar Silveria ali, sozinha. Ela, a máquina, e o barulho de desespero que preenchia o silêncio da casa."
IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de abr. de 2018
ISBN9788592579944
Bienvenidos: História de bolivianos escravizados em São Paulo

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  • Nota: 4 de 5 estrelas
    4/5
    temática muito interessante e muito importante pra que nós, como brasileiros e como consumidores, repensemos muita coisa. o livro é um romance de não ficção, então tem uma leitura rápida e fluida, que infelizmente fica confusa em alguns pontos, mas nada que comprometa muito a experiência. termino a leitura com o coração apertado e a certeza que temos muito que melhorar enquanto sociedade.

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Bienvenidos - Susana Berbert

Brasil.

Jorge

O sol tocava tímido a terra sob os pés descalços de Silveria. Ventava, e a poeira que subia com a brisa gelada encontrava a pele seca e morena da menina, deixando-a com a aparência ainda mais ressequida. O céu era de um azul limpo e profundo e seus olhos amendoados e pretos se erguiam contra o sol para enxergar a paisagem distante. Ela olhava e olhava para o horizonte de montanhas com cimos congelados que ficava em frente à sua casa entre as pausas de descanso que tinha. Às vezes, esses minutos, de tão raros, pareciam horas.

A voz do pai a despertou do devaneio.

Silveria, minha filha, vem aqui.

A menina entrou na casa. O pai a esperava sentado na beira da pequena cama que ocupava o único cômodo do lar, onde dormia com a esposa e seus quatro filhos. O ambiente escuro era iluminado por feixes do sol da manhã que violavam a estrutura de adobe da casa e revelavam a poeira, lentamente, dançando no ar. Silveria colocou-se de frente para o pai.

Sente, minha filha, aqui perto, bem perto. Você precisa guardar um segredo. Você não pode contar para ninguém sobre o que vamos conversar agora.

Ela o observava atentamente. O trabalho no campo deixara vincos fortes e pequenas manchas em sua pele morena. Como parece mais velho, pensou a menina. Os traços ocultavam seus trinta e cinco anos, e a idade aparente avançou ainda mais quando as dores de cabeça começaram. Eram fortes, intensas, frequentes. Arrancavam lágrimas de seu pai. Também gritos.

Hoje o seu pai vai viajar. Vou em um lugar para fazerem uma cerimônia para eu me curar, mas eu não sei se vou sobreviver. Segurou as pequenas mãos da filha com as suas. A direita era retorcida e sem vida. Ficou assim quando a doença que acometia sua cabeça apareceu. Nunca saberiam qual era a causa. Ouça, Silveria, continuou. Você não vai ser camponesa para sempre como eu. Você vai sair daqui, vai para outro lugar. Seus filhos vão estudar e não vão ser como nós. Eu sei que não consegui dar uma vida diferente para você.

Por que você está falando isso, papai?, perguntou a menina.

Experiência de vida. Eu não tive pai, não o conheci e acho que você vai passar por isso também. Olhando para a filha, ele chorou. Silveria também. Você vai cuidar de seus irmãos. Sua irmã mais velha está na casa de uma senhora da cidade e lá ela terá uma vida boa. O problema é você e seus três irmãozinhos. Eu tenho medo que vocês sofram muito, disse baixo, quase

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