A prosa do desconforto: Contos de desamor e outros escritos
()
Sobre este e-book
Cenas mentais onde as vivências emocionais vão descortinando, em textos rápidos, a percepção que se tem do próprio deslocamento e desajuste.
E já que são tantos os contos de amor escritos, o livro traz a provocação de se pensar no desamor como a mola que impulsiona mudanças de trajetória dos personagens. É a posição desconfortável do desamor que os coloca diante do embate interno e da procura por apaziguar as emoções, diminuir o desespero diante da vida e do tempo que escoa. Este tempo que "não respeita mesmo ninguém".
Autores relacionados
Relacionado a A prosa do desconforto
Ebooks relacionados
Mazim E A Grande Mentira Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos novos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEventyr Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTranseunte Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos da Escuridão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDavi E O Elmo De Hades Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Espera De Um Resgate Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Três Medos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMinhas Histórias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFome De Contos De Terror Nota: 0 de 5 estrelas0 notasConto De Farpas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFala sério, irmão! Fala sério, irmã! Nota: 4 de 5 estrelas4/5Cai a Noite em Whitby Nota: 0 de 5 estrelas0 notasKemper: Memórias de um assassino em série Nota: 5 de 5 estrelas5/5Filandras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFoi um péssimo dia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Confidências Ao Meio Dia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasClube do vinho Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Segredo Das Bruxas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRenuncias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasArtefato de um Vampiro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Garota Do Lago - Volume Único Nota: 0 de 5 estrelas0 notasForrest Wollinsky: Caçador de Vampiros (Volume I) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAmálgama Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVoltar Para Ti Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Lagarto Que Atravessava Paredes Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAmor Assassino Nota: 1 de 5 estrelas1/5O menino que via demônios Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMarcada: Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEspadas Cruzadas Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Contos para você
A bela perdida e a fera devassa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Felicidade em copo d'Água: Como encontrar alegria até nas piores tempestades Nota: 5 de 5 estrelas5/5Só você pode curar seu coração quebrado Nota: 4 de 5 estrelas4/5Acredite na sua capacidade de superar Nota: 5 de 5 estrelas5/5Contos pervertidos: Box 5 em 1 Nota: 4 de 5 estrelas4/5Os Melhores Contos de Franz Kafka Nota: 5 de 5 estrelas5/5Quando você for sua: talvez não queira ser de mais ninguém Nota: 4 de 5 estrelas4/5Homens pretos (não) choram Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Espera Nota: 5 de 5 estrelas5/5Melhores Contos Guimarães Rosa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Novos contos eróticos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos de Edgar Allan Poe Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Psicólogo Suicida: E Outros Contos Curtos Nota: 3 de 5 estrelas3/5Todo mundo que amei já me fez chorar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO meu melhor Nota: 5 de 5 estrelas5/5Prometo falhar Nota: 4 de 5 estrelas4/5Amar e perder Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMACHADO DE ASSIS: Os melhores contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPergunta idiota, tolerância zero Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAntes de Carnal Nota: 5 de 5 estrelas5/5O DIABO e Outras Histórias - Tolstoi Nota: 0 de 5 estrelas0 notasProcurando por sexo? romance erótico: Histórias de sexo sem censura português erotismo Nota: 3 de 5 estrelas3/5Amor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSADE: Contos Libertinos Nota: 5 de 5 estrelas5/5O homem que sabia javanês e outros contos Nota: 4 de 5 estrelas4/5Lua de mel Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPara não desistir do amor Nota: 5 de 5 estrelas5/5Dono do tempo Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Categorias relacionadas
Avaliações de A prosa do desconforto
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
A prosa do desconforto - Sandra de Castro
Sumário
Fragmento I
Guri
Matemática do amor
Triângulo
A visita
Fragmento 2
Ponto final
Conto de Natal
Fragmento 3
Irreversível
Sala de espera
Fragmento 4
O grito
Eneida
Fragmento 5
Infância
O labirinto
Fim
Sobre a autora
Créditos
Para minha filha Paola, por ser a força que põe certa ordem no caos.
Para a grande amiga Jória, por essa nossa amizade psicanalisante que nem Freud explicaria.
Quase haicai
Dentro dela havia três portas.
Uma dava para um penhasco. Outra dava diretamente para o mar.
A terceira dava para todo e nenhum lugar.
FRAGMENTO I
Tenho dez reais. É tudo que tenho. Dizem que as farmácias andam cheias de boas drogas, há delas para tudo. O melhor da química. As melhores combinações alopáticas. Uma que higieniza a cabeça e nos livra de terríveis pensamentos, outra que evita o delírio e uma terceira que extrai qualquer incômodo.
Já há algum tempo encerrei meu próprio diagnóstico, porque em médicos não creio, muito menos deles necessito. A mais profunda dor é o que tenho. Esse é o meu mal. Uma dor que lateja, perturba, não deixa dormir – difícil de dissimular. A solidão é essa dor. Apelidei-a de solidão endógena, para dar a ela um caráter científico.
Sigo ocupado contendo o choro. Homem não chora. O conselho ouvido na infância ressoa no meu pensamento de tempos em tempos. E parece que quando lembro disso sinto mais uma pontada. É a maldita.
Tentei colocá-la agora no bolso da calça junto com meus dez reais. Não coube. Acho que preciso de um número maior.
GURI
Minha mãe queria mesmo uma menina, sonhava muito. E por obra do destino, na família só nasciam meninos. Primos meninos e nós... meninos. Abortou um quando iríamos contar três. Demorou pra se recobrar, sem dizer um nada a ninguém. Recuperou-se, engravidou de novo e, praguejando contra a sina das mulheres, teve a criança. Menino.
Miguel era de nós o último. O mais bonito
, todo mundo dizia. Não soubéssemos nós que era menino mesmo – pois a gente não viu ele nascer? – iríamos pela opinião das visitas que achavam aquela menininha linda! Sempre de vestidinho, meinha três-quartos com aquelas rendinhas envolvendo as canelas, sapatinho de verniz.
A gente não sabia bem o que passava pela cabeça das visitas quando constatavam o menino travestido. Nem sabíamos se a mãe achava tudo aquilo certo. Ela fazia parecer tudo muito normal.
O pai, por sua vez, era um tipo meio bovino, daquele olhar que não nega, nem afirma. Calado sempre, calando sempre. Só não deixava o cabelo do Miguel crescer, mas isso não significava muita coisa, porque o nosso também não crescia. Todo mês a gente no salão e ele com aquela maquininha zero de cortar cabelo zunindo nas nossas cabeças. Coisa que a gente até gostava, não do corte, mas do cortar. A gente disputava a tapa quem sentava primeiro na cadeira vermelha. O primeiro – meu pai com paciência – ganhava um giro.
Pra cabeça, um encosto regulável que só a minha alcançava. Pros pés um degrauzinho inclinado. Toalha no pescoço, navalhas afiadas longe do nosso alcance, espuma de barba que não se podia tocar nem experimentar. Enfim, a maior parte do tempo a gente tinha mesmo é que ficar imobilizado, sem impulsionar a cadeira, sem balançar a cabeça, sem puxar a toalha.
Só os olhos tinham lá sua autonomia. Iam do espelho pro quadro do Sacré-Couer, do Sacré-Couer para o quadro da Rita Hayworth e de novo pro Sacré-Couer e de novo pro espelho, até cansar de conferir a decoração.
O caçula não escapava do ritual do salão, do mesmo jeito que não conseguia escapar da mania da mãe vestir ele de menina. Nem com pai, nem com mãe tinha conversa. Mas com ela eram mais gritos e palmadas e castigos sem fim. Sem conversa, roupa de mulher!
Uma vez um tio ficou doente por muito tempo, lá em casa. Meu pai nervoso, minha mãe nervosa com o nervoso dele. E nós com mais brasa acesa que o ferro de passar. Nunca apanhamos tanto! O pai chegou a esquecer nosso cabelo. Foi quando conseguimos perceber melhor como ele era. Lembro que foi a primeira vez que minhas orelhas ficaram cobertas.
O tio morreu. Enterramos. Lá fomos pra fila da cadeira vermelha de novo. Aquela vez tive