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A Era Interestelar: A Trilogia Completa
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A Era Interestelar: A Trilogia Completa
E-book1.216 páginas26 horas

A Era Interestelar: A Trilogia Completa

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Sobre este e-book

Livro 1 - Proibidas as Estrelas

No final do século XXI, um acidente catastrófico, 
no Cinturão de Asteroides, deixou dois topógrafos mortos. Não há nenhum vestígio do seu jovem filho, Alex Manez, ou do próprio asteroide.

No limite exterior do Sistema Solar, a primeira missão tripulada a Plutão, liderada pela mais jovem astronauta feminina, da história da NASA, levou à descoberta, de algo histórico: há uma placa lá, deixada por uma raça alienígena, para a humanidade encontrar. Nós não estamos sozinhos!

Enquanto se estuda a placa alienígena, ela começa a reagir. Quatro horas depois, o asteroide em falta, aparece na órbita de Plutão, juntamente com o jovem Alex Manez, que desenvolveu alguns efeitos secundários alarmantes, da sua exposição ao elemento kinemético, a que chamam Kinemet.

Das profundezas de um império criminoso, com base na Lua, um expatriado, aproveita a oportunidade para tomar o controlo do espaço exterior, e age rapidamente.

Está em jogo o segredo, para a velocidade mais rápida do que a luz, e começa a corrida, para o espaço interestelar!


Livro 2 - A Música das Esferas

A tecnologia para o voo interestelar existe, através do poder do Kinemet, mas a chave para desvendar o seu stério, está num pergaminho, com mil anos de antiguidade, deixado na Terra, por uma espécie alienígena.

Quando o antigo pergaminho é roubado, antes de concluída uma tradução completa, Alex, Michael e Justine tentam recuperá-lo.

No caminho, eles tropeçam numa conspiração interplanetária e descobrem um segredo, que altera o seu paradigma da vida e abala as próprias fundações da nossa existência.


Livro 3 - A Mundos de Distância

Por mil anos a Armada dos Kulsat tem devastado a galáxia, em busca do legado perdido de uma raça extinta, de seres tecnologicamente avançados. Eles destroem qualquer um, que se atravesse no seu caminho.

Agora, eles voltaram a sua atenção para a Terra e estão a reunir as suas forças, para uma invasão.

Justine, Michael e Alex detêm, cada um, a chave para parar o inimigo, mas eles estão a mundos de distância, uns do outros, e estão a correr contra o tempo...

IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de mai. de 2022
ISBN9781507140758
A Era Interestelar: A Trilogia Completa
Autor

Valmore Daniels

Valmore Daniels has lived on the coasts of the Atlantic, Pacific, and Arctic Oceans, and dozens of points in between. An insatiable thirst for new experiences has led him to work in several fields, including legal research, elderly care, oil & gas administration, web design, government service, human resources, and retail business management. His enthusiasm for travel is only surpassed by his passion for telling tall tales.

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    Uma boa história, o autor deixou algumas "pontas" soltas! A solução para explicar a forma de "viajar" na forma de fotons é interessante... afinal... energia é massa.... e massa é energia ( Que Einstein me perdoe!)

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A Era Interestelar - Valmore Daniels

Índice

A Era Interestelar

Proibidas as Estrelas

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A Música das Esferas

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A Mundos de Distância

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Sobre o autor:

Sobre o tradutor:

Posfácio

A Era Interestelar

A Trilogia Completa

por Valmore Daniels

Traduzido por Íris Bértolo

Esta é puramente uma obra de ficção. Os nomes, as personagens, os lugares e os incidentes são o produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência. Este livro não pode ser revendido ou doado sem permissão, por escrito, do autor. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, copiada ou distribuída de qualquer forma ou por qualquer meio eletrónico ou mecânico passado, presente ou futuro.

Copyright © 2016 Valmore Daniels. Todos os direitos estão reservados.

Visite-o em: ValmoreDaniels.com

Distribuído por Babelcube, Inc.

www.babelcube.com

Babelcube Books e Babelcube são marcas comerciais da Babelcube Inc.

Proibidas as Estrelas

1

O FIM

Copán:

Honduras:

Conglomerado da América Central

Os meus antepassados contam, que numa noite calma e silenciosa, se nos esforçarmos o suficiente, podemos ouvir os planetas a moverem-se. Chamam a isso; A Música das Esferas. E a sua melodia, é um conto sobre o retorno dos deuses! Eu já ouvi essa melodia.

Mas eu sou apenas um homem velho. Que sei eu?

O meu neto vem até mim, pedir permissão para ir brincar com os seus amigos. Eu pergunto-lhe: Queres que te conte a história do fim do mundo?

Eu sei que ele já me ouviu contar esta história e que não acredita. Prefere ir brincar com os seus amigos.

Talvez, se eu lha contar mais algumas vezes, ele venha a acreditar.

Posso apenas ter esperança; mas que sei eu?

Conto-lhe de Hunab’Ku, o deus dos deuses, o criador de Maya. Conto-lhe que Hunab’Ku reconstruiu o mundo três vezes, depois de três dilúvios, que saíram da boca de uma serpente do céu - alguns dizem que saíram da boca de Kukulkan, o deus do sol, dos oceanos, da terra e do céu.

Conto ao meu jovem neto, que cresce entediado com as minhas histórias, que Kukulkan construiu o primeiro mundo e o segundo mundo. Ele fez isso, para que o terceiro mundo estivesse pronto para o Povo da Terra, os Maias.

Eu falo-lhe da loucura dos Maias, da sua arrogância, das suas maneiras decadentes, dos sacrifícios humanos e da profecia do homem branco. Falo-lhe do final do terceiro mundo, da destruição dos nossos antepassados.

O meu neto sorri. Ele acredita que eu sou apenas um velho solitário, que conta grandes histórias.

Eu sei a verdade e sei o futuro. Digo-lhe que o quarto mundo pertence ao homem branco. No entanto, esse mundo, não vai estar aqui por muito mais tempo.

Os deuses antigos decretaram isto.

O quarto mundo deve perecer sob um dilúvio, para abrir caminho para o Novo Mundo. Se os homens brancos não aceitarem as mudanças, Kukulkan irá destruí-los.

Os deuses vão construir o Novo Mundo, acima de todas as coisas.

Os deuses retornarão das estrelas e vão precisar de um mundo melhor, no qual fazer as suas casas.

O tempo está a chegar, em breve.

Como assim? O meu neto pede paciência, fazendo a vontade ao seu velho avô.

Tu vais ver o final do quarto mundo, na tua vida, digo-lhe. E vais ver a vinda do quinto mundo. Não sei se eu o irei ver. Estou a ficar muito velho.

Não é assim tão velho, Avô. Diz-me ele.

Eu sorrio-lhe, sabendo que, no fundo, ele é um bom menino. Mas ele olha pelo canto dos olhos para os seus amigos e, anseia por ir brincar.

Agora vai ter com os teus amigos. Digo-lhe. Mas lembra-te do que eu te disse.

Sim, avô. Vou lembrar-me do que me disse.

Ele vai-se embora e sei que se vai lembrar. Mas…irá acreditar?

Ou, pelo contrário, será que ele pensa que sou apenas e só, um velho tolo?

2

Para Divulgação Imediata

Notícias da NASA

Assunto: Missão Orcus

A restringir a Nuvem de Oort e quaisquer outros asteróides ou cometas errantes que orbitam o Sol, Plutão é o último corpo celeste no perímetro externo da família de planetas que compõem o Sistema Solar. Plutão é um marco. Indica a fronteira entre o Sol e o início do espaço interestelar.

Agora, pela primeira vez, a NASA está a enviar uma equipa, para explorar o corpo planetário mais distante do nosso Sistema Solar. A tripulação do voo ainda não foi anunciada, mas um porta-voz indicou que eles estavam perto de finalizar a lista. A Quem atribuírem essa invejável missão, terá de suportar uma viagem de seis meses a Plutão, seguida de outros seis meses de viagem. No regresso a Terra e, contando com os sete meses no planeta, até que este retorne à órbita ideal. No Total, A tripulação da Missão Orcus vai estar longe de casa, durante quase dois anos seguidos.

Os cientistas têm muitas perguntas sobre Plutão. Por isso, esperam que esta missão lhes vá proporcionar o conhecimento de que estão à procura, há mais de um século.

Um pesquisador experiente da NASA, indicou a possibilidade de que a obtenção de informações sobre o pequeno planeta, possa fornecer informações sobre as viagens interestelares.

Nos últimos cinquenta anos, inúmeras naves e sondas não tripuladas, foram a Plutão em missões de exploração. A Orcus representa a primeira missão tripulada.

###

Adenda científica:

Plutão orbita o Sol, a uma velocidade de 17.064 quilómetros por hora, levando 248 anos para dar a volta completa. É de longe, o mais aberrante dos planetas, seguindo uma órbita elíptica excêntrica em 17,148 graus de inclinação acima e abaixo da elíptica.

Leituras preliminares confirmam que a composição do planeta é baseada em metano e nitrogénio. Com traços de hidrogénio, hélio, silício e uma série de outros elementos.

O próprio Sol, não é mais do que uma estrela brilhante no céu distante - cerca de quatro vezes o brilho de Polaris. A Estrela do Norte, vista da Terra. A iluminação de Plutão durante o dia é menor, do que a de uma lua cheia durante a noite na Terra. Dá ao céu um tom matiz arroxeado escuro, bastante exótico e… algo misterioso.

As próprias estrelas, são visíveis através da fina camada de atmosfera de nitrogénio e metano, durante o período de rotação de Plutão de 6 dias, mas são mais fáceis de ver à noite, sem o nevoeiro gelado a obscurecê-las.

De 2.320 quilómetros de diâmetro, Plutão tem cerca de 0,04 de gravidade, segundo o padrão da Terra.

Em 1905, o astrónomo Percival Lowell previu a existência de um nono planeta. No entanto, morreu antes de o poder observar. E, na realidade, as coordenadas que ele havia previsto, estavam erradas. Ainda assim e, em sua honra, o planeta foi nomeado com as letras das suas iniciais; PL - Plutão.

Essa honra, a da primeira observação de Plutão, foi dada a um antigo estudante de Lowell; Clyde Tombaugh, em 1930. Fotografou três imagens do pequeno planeta, a partir do Observatório do seu antigo professor. No entanto, a análise dos seus resultados, não coincide com os números de Lowell. Uma vez que, o planeta necessitaria ter mais massa, para assim, afetar a órbita de Neptuno. Isso deixou no ar, a possibilidade de existir um outro corpo celeste próximo a Plutão.

Só em 1979, é que James Christy descobriu, que Plutão tinha um irmão gémeo menor; Caronte.

3

Macklin Rock:

Mina Número 568 da DME:

Sistema Solar:

Cinturão de Asteróides:

O som da sirene de emergência encheu os seus auscultadores septafónicos.

<Piratas. No leitor de telemetria são assinalados três motores> SIAC, a personalidade do computador, falou com ele num tom sucinto, à medida que imagens passavam pelo campo de visão de Alex, através dos seus tampões ópticos.

Ao fundo, a Nebulosa de Ronge, brilhava. Verde escura, em grandes redemoinhos, contra um magnífico campo de estrelas. Pequenos sinais de luz identificavam os veículos de guerra. Eram Pilotados pelos piratas que infetavam este setor da galáxia. Havia três deles.

O Capitão Alex Manez amaldiçoou os seus pilotos de reserva, que se tinham afastado para perseguir uma NEP (nave em perigo). Era, obviamente, uma pista falsa. Tinha sido projetada para dividir as suas forças.

Com o dispositivo de ligação-mente, de primeira geração, preso à sua têmpora, Alex não tinha necessidade de retransmitir os seus comandos verbalmente. Era, no entanto, uma segunda natureza fazê-lo.

SIAC faça uma chamada de emergência para os pilotos Grande e Makato. Diga-lhes para voltarem já! Com os seus traseiros para aqui, para o flanco!

<Mensagem confirmada. Transmitida,> disse o computador em voz alta, à medida que as palavras passavam ao fundo da janela do SRD (simulador de realidade digital).

Dê-me uma análise de todo o sistema de defesa deles e de todas as suas possíveis principais munições. Ordenou ele. Não havia tempo para um reconhecimento do computador. Os piratas levariam três minutos, para passar dentro do alcance de tiro.

Quando a avaliação chegou, Alex ponderou e tomou uma decisão rápida.

Eu quero todos os escudos no máximo. A traseira toda coberta. Cinquenta por cento nas laterais. Carregue dois raios laser de longo alcance. Prepare o canhão maser de radiação para a aproximação. Confirme!

<Ordens confirmadas.>

O relógio confirmou que os piratas estariam no alcance, dentro de um minuto e quarenta e um segundos. Piscou um indicador luminoso na janela do SRD.

<Os mantas estão preparados e quentes. As trajetórias dos inimigos são estáveis.>

Dê-me uma projeção de zero menos trinta, da posição deles. Disse Alex a SIAC. Eu quero antecipar o seu ataque e ver como eles reagem. Atinja só os pilotos da asa, deixe o líder para o canhão maser.

<Ordens confirmadas> respondeu o computador.

Cerca de um nanossegundo depois, apareceram as coordenadas para o ataque, na janela do SRD. Alex sabia, que o computador nunca tinha considerado a reação humana ao estar debaixo de fogo. Os parâmetros eram demasiado grandes. Essa era a razão, pela qual, as naves tinham que ter pilotos humanos.

Quando os radares dos piratas detetassem as duas ogivas manta mortais a aproximar-se, eles iriam dividir-se e tentar separar os mantas; e a nave não alvejada iria, então, tentar desativar os mantas com o seu próprio material bélico. No caso dos Piratas de Ronge, usavam-se repetidores laser padrão. Não tão mortais como os canhões maser. Mas, em última análise, mais rápidos no lançamento. Alex tinha algo planeado para eles, depois disso, uma surpresa que ele tinha vindo a preparar mentalmente, desde o seu último confronto.

SIAC altere as coordenadas do primeiro manta para - 118.12.335; e do segundo manta para - 136.53.799. Confirme e efetue o lançamento.

<Ordens confirmadas. Mantas lançados.>

Antes que os mantas estivessem a meio caminho do seu destino, um sinal de mensagem brilhou no canto superior da janela do SRD e a redundância do SIAC disse-lhe:

<Ordens Recentes.>

Esperando que fosse a resposta dos seus pilotos, a informá-lo de que se iriam juntar ao combate, Alex ficou surpreendido, quando a voz que veio ao longo dos auscultadores septafónicos era do sexo feminino. Ele reconheceu-a imediatamente.

Alex. Disse a sua mãe: Estamos prontos para sair lá para fora. Venha despedir-se de nós.

SIAC: pausa; salva. Disse Alex ao programa. E o seu jogo parou a meio do ataque. Teria que continuar mais tarde.

Ele tirou o dispositivo de ligação-mente e os tampões ópticos, bem como os auscultadores septafónicos, que a sua mãe o fazia utilizar quando os seus pais estavam na UHTA (unidade de habitação temporária asteroidal). Deixou a sua cabine pessoal e, foi procurar a sua mãe e o seu pai. Deambulando pela área comum da unidade de habitação temporária asteroidal.

Havia um grande grau de indiferença no seu comportamento e no seu passo. Estava a tentar não se importar por ter sido, mais uma vez, deixado sozinho horas a fio, com nada para fazer, segundo a sua estimativa. Passou casualmente a mão pela cabeça, lançando para trás o seu longo cabelo.

Os seus pais concederam-lhe certos privilégios no seu último aniversário. Para compensar as limitações das suas novas responsabilidades, deram-lhe a escolher como manter o cabelo. Ele decidiu deixá-lo crescer e evitar um corte de cabelo do servobot pessoal programado. Orgulhoso do comprimento do seu cabelo, ele fez um grande esforço para aperfeiçoar o movimento da sua cabeça para o lado. A manobra mantinha a franja fora dos olhos e provocava uma careta de desaprovação nos seus pais. Ele gostava de lhes lembrar que tinha sido uma decisão sua, boicotar o corte de cabelo tradicional.

A sua mãe sabia que a sua equanimidade, era uma fachada. E ele sabia, que a sua mãe sabia, que era uma fachada. Ainda agiu como se não se importasse, que ambos os pais tivessem que sair novamente, nesse dia, para ir para o local em estudo. Interiormente, ele odiava quando eles o deixavam sozinho na pequena UHTA, tendo apenas a sua ligação à TerraNet como companhia.

Estavam em Macklin Rock há dois meses e os seus pais trabalhavam pelo menos seis, em cada sete dias. Isso não lhes deixava muito tempo para Alex.

Macklin Rock, um dos maiores satélites naturais do Cinturão de Asteróides do Sistema Solar, assemelhava-se a um cilindro com extremidades afuniladas. Como um ovo esticado ao máximo. A secção transversal do seu comprimento, cobria uma área maior do que a área metropolitana de Nova York. No entanto, Macklin Rock ainda era uma rocha grande e desinteressante.

Em casa, na Terceira Estação do Canadá, os Holovisores 3D de FC (hologramas tridimensionais de ficção cientifica) alugados, mostravam que o Cinturão de Asteróides do Sistema Solar era um anel cheio de pedras e detritos, que circulava entre o Sol e as órbitas de Marte e Júpiter. Nos Holovisores 3D, o Cinturão de Asteróides era normalmente o lar, para refugiados de um governo global terráqueo mal sucedido, ou para expatriados, que tinham que se esconder dos agentes militares que tentavam eliminar os desertores. O perigo sempre presente de uma colisão de asteróides, mantinha o drama elevado nessas histórias polémicas.

A verdade era ligeiramente diferente. De Macklin Rock e, olhando para o cenário visto das janelas da UHTA, Alex não podia ver qualquer outro asteróide, sem o auxílio de um telescópio. Se houvesse qualquer perigo de colisão, os sensores de proximidade do SIAC dariam o alarme aos habitantes da UHTA, com uma hora de antecedência e, em seguida, disparariam um tiro de deflexão com um laser. Raramente, uma partícula passaria as defesas do computador. Era tudo bastante aborrecido.

O Sol não era nada mais do que um pequeno mármore brilhante. Que fornecia tão pouca luz aos habitantes do Cinto, como a que pode ser vista num dia de nevoeiro em Londres, mas sem a atmosfera romântica daquela velha cidade.

Os outros planetas do sistema, eram nada mais do que pequenas manchas, vistas no telescópio. A Terra, na sua maior aproximação a Macklin Rock, estava mais de mil vezes mais distante, do que a Lua da Terra. Parecia um isolamento maior do que tudo, para uma criança de dez anos de idade, sem amigos próximos ali à mão.

Mesmo Júpiter, com mais de onze vezes o diâmetro da Terra, não era nada mais do que uma pequena estrela estável, que podia ser vista de Macklin Rock a olho nu, por três meses e meio a cada dois anos. O resto do tempo, ela estava obscurecida através dos telescópios normais, pelo brilho do Sol omnipresente.

O SIAC podia filtrar a imagem. Melhorá-la, com uma ampliação de 200 vezes, para lhe dar o tamanho aparente da Lua vista da Terra. Para Alex, que tinha visto mais do que a sua quota de reproduções de todos os planetas do Sistema Solar, através de telescópios, estes não eram diferentes, vistos do Cinto.

De pé, sobre a superfície de Macklin Rock e, a olhar em todas as direções, pode ter-se a impressão de se estar a viver numa ilha escura. Algo deserta, a flutuar pelo Sistema Solar.

Era tudo muito aborrecido. Para Alex tudo era muito mundano.

Não que faltassem tarefas a Alex. Tinha lições para serem integradas e uma análise de biosin que tinha que compensar, por ter faltado às lições dadas por SIAC (sistema informático anfitrião centralizado). Uma vez que, no dia anterior, tinha optado por jogar a última versão de "Piratas de Nova", que tinha descarregado da Sociedade Tailandesa de Multimédia.

Mas Alex estava muito entediado.

Ele enviou mensagens em ASE (audiovisual por sinal eletrónico), para os seus amigos da TEC (Terceira Estação do Canadá), uma das dezenas de orbitais habitadas das várias corporações do país, posicionada no ponto L4 da Terra-Lua.

As comunicações em ASE, eram enviadas mais por dever e obrigação, do que por desejo. As notícias de casa, faziam-no sentir ainda com mais saudades de tudo. O atraso de sete minutos entre as transmissões tornava o diálogo demorado. Uma troca de palavras algo superficial, mesmo para páginas de conversa online.

Alex observava a mãe a preparar-se para a sua excursão.

Mãe, você não pode ficar em casa hoje? Perguntou.

A mãe de Alex virou-se, antes de fechar o seu fato de proteção bio-ecológico, dando um sorriso gentil ao filho.

Sinto muito Alex, mas temos que verificar as novas informações do SIAC; este relatou uma anomalia, na leitura do elemental percentual do Nelson II, no Setor 14. Se for o que estamos à procura, podemos sair deste asteróide dentro de uma semana e deixá-lo para os mineiros da Corporação do Canadá. Você não iria gostar de voltar para casa, na TEC, e brincar novamente com os seus amigos?

Sim. Disse Alex, com relutância. Mas isso demora demasiado…o SIAC é chato! A única coisa que ele quer fazer é, ensinar-me os algoritmos de Fulman e cartografia astral. Eu quero interagir com um rosto real, sabe?

Eu sei Alex. Disse o seu pai, quando entrou na área comum da câmara de descompressão, tendo terminado a reverificação dos medidores de pressão e reguladores atmosféricos.

Gabriel Manez era mais baixo do que a sua esposa. A sua pele estava permanentemente bronzeada, em contraste com pele pálida e branca dela. O seu cabelo era preto, ao contrário de Margaret, que era loira. Alex tinha herdado o aspeto Maia do seu pai.

Ele era a voz da autoridade.

Lembre-se, de que foi você que concordou, que seria melhor vir connosco nesta escavação. Você tinha a opção de permanecer na TEC. A empresa teria atribuído um androide, para lhe fazer companhia.

Sim. Acho que, se não houver problema, talvez da próxima vez eu fique em casa. Como disse antes, aqui em cima é tudo muito aborrecido.

Os Manez participavam em, pelo menos, uma pesquisa todos os anos. Nos anos anteriores, Alex tinha ficado na estação, mas este ano, não quis ficar separado dos seus pais. Mas, considerando a sua situação atual, ele lamentou a sua decisão.

O seu pai sorriu e disse. Bem, você pode enviar um ASE para alguns amigos, depois das aulas. Acho que podemos suportar os custos, em tempo real. E talvez possamos estar em casa, mais cedo do que está a pensar.

Gabriel virou-se para a sua esposa. Especialmente se essas leituras forem precisas, Mags. Esta poderia ser a descoberta, que você está à procura. O bónus que a Corporação oferece nos novos sucessos, será o suficiente para nos reformarmos e podermos comprar uma parte da Estação Ilha Flutuante, como sempre sonhámos.

Ela deu-lhe uma palmada na brincadeira, ignorando o seu entusiasmo. Você sabe, que eu detesto que me chame Mags. Ela repreendeu o marido, fingindo uma expressão de aborrecimento, quando correu o fecho de vácuo do peitoral do seu fato. Gabe! Disse-lhe ela, simulando uma careta propositadamente.

Ele devolveu-lhe um olhar provocante. Está bem. Margaret.

Obrigado, Gabriel.

Eu prefiro, ‘amor da minha vida’.

E eu prefiro mais… Margaret inclinou-se diante do marido, levantou-lhe o capacete replicador atmosférico artificial e… deu-lhe um sonoro beijo nos lábios!

Que nojo! Declarou Alex e, deambulando para a janela holográfica do simulador de realidade digital, localizado na parede pré-fabricada do outro lado do painel da consola, colocou o dispositivo de ligação-mente nas suas têmporas.

Utilizando o SIAC para o motor de ASE, já que não tinha um gerador para autocarros, tal como tinha no seu apartamento na Terceira Estação do Canadá, ele ligou-se ao sistema operacional global da TerraNet e esperou sete minutos, para que as suas configurações pessoais se manifestassem e o seu cyberambiente (ambiente de trabalho) modificado fosse carregado.

Isto leva tanto tempo! Disse, mas também se congratulou, uma vez mais, pela sua inventividade no design.

O seu cyberambiente era baseado num dos seus romances favoritos, a Odisseia de Homero. Chamou-o de odyssambiente.

À semelhança de Ulisses, ele tinha que navegar com a sua nave para terras diferentes, para ter acesso a programas, utilitários e jogos diversos, no seu cyberambiente. Ele alterava o cyberambiente, sempre que lia um romance que captava a sua fantasia. Animando o seu ambiente de trabalho de acordo com a sua ultima estória favorita. Os seus ambientes de trabalho já tinham incluído os mundos de: Lewis Carroll; CS Lewis; JRR Tolkien ou Robert E. Howard.

Leva uma eternidade só para arrancar com o sistema. Reclamou ele, embora não tivesse escolha, ao utilizar o drive virtual da TerraNet. A ligação LAN do SIAC não tinha sequer até um quarto da memória necessária, para que Alex executasse o odyssambiente. As unidades eram dedicadas aos aspetos técnicos do trabalho dos seus pais e aos sistemas biológicos da UHTA.

Na janela do odyssambiente, a figura grega alta de Ulisses estava na praia da Ilha de Calypso, a fazer uma jangada para tentar regressar a sua casa, em Ithaca. A janela mostrou Hermes, o mensageiro dos deuses, a voar pelo céu fora, logo após entregar a sua mensagem a Calypso, dizendo-lhe que ela devia deixar ir Ulisses. Aquilo assinalou o arranque do seu ambiente de trabalho.

A IGC (imagem gerada por computador) era laboriosamente lenta, na ligação dos troncos da sua jangada e Alex pigarreou com impaciência. O gerador de energia do SIAC, simplesmente, não era poderoso o suficiente.

Não se esqueça, é preciso algum tempo, para que o sinal eletrónico luminoso chegue à Terra e retorne. Nós não dominámos, propriamente, a velocidade da luz… ainda. Brincou Gabriel e, colocou o capacete.

A mãe de Alex colocou o seu próprio capacete e, cada um, verificou o fato do outro. Para assim detetarem alguma brecha no fecho. Passando também um detetor de perda de vacuidade nas costuras e no corpete dos seus fatos. O computador ecossistémico sinalizou que os seus fatos não tinham vazamentos e estavam revestidos apropriadamente.

Ouviu-se, a voz da sua mãe nos auscultadores septafónicos da UHTA. Esta ia perdendo um pouco da sua tonalidade na tradução digital.

Voltamos a ver-nos dentro de dez horas, Alex. Porte-se bem. E… faça os seus trabalhos de casa. O SIAC irá informar-nos, se você não os fizer.

O alerta havia sido dado, logo após a aula da noite anterior e Alex ficou cabisbaixo, com o olhar envergonhado.

Eu sei, eu sei! Respondeu. No dia anterior, ao regressaram do trabalho e pedirem um relatório sobre as atividades de Alex, o SIAC informou-os de que ele tinha passado seis horas a jogar "Piratas de Nova", em vez de se concentrar nos estudos. O SIAC estava a ser mais do que mortalmente preciso, no seu relatório.

O SIAC é um delator. Declarou ele, amuado.

Não. Corrigiu a mãe de Alex. Um delator é quem que fala sobre alguém, com o objetivo de o meter em apuros. O SIAC informa-nos, para o seu próprio bem, Alex. É o programa dele.

Eu sei…eu sei. Mas o timbre da sua voz sugeriu, que ele considerava a ideia desleal, de qualquer forma.

Vamos encontrar-nos em breve, Alex. Porte-se bem.

Está bem.

Os pais de Alex entraram pela escotilha. Com um profundo e audível clique, o trinco da porta fechou-se. A luz da notificação de vácuo brilhava, no painel de controlo à direita da porta ao nível dos olhos, à medida que soava o sinal sonoro, para indicar que a equalização da pressão estava a iniciar.

Ouviu-se um zumbido baixo, à medida que as bombas sugavam o ar para fora do trinco e o replicador de gravidade e magnetismo largava lentamente o conteúdo, ao corresponder com a G insignificante da superfície do asteróide.

Os seus pais faziam alguns exercícios leves, para acomodar os seus músculos à gravidade próxima do zero e aos seus próprios pesos relativos, de menos de um grama.

Erguida sob a superfície do asteróide, a UHTA fornecia a proteção ideal a uma equipa de pesquisa. A equipa de engenharia de construção, tinha utilizado cargas de luz para criar uma cavidade artificial de dez metros na superfície, formando uma caixa retangular de quinze metros de lado e de quatro metros de altura. Foram robots mecânicos com inteligência artificial, que construíram a própria UHTA.

Com dois cubículos privados, uma área comum, um lavatório, uma cabine para jantar, uma sala de informática e uma câmara-de-ar. Era do tamanho perfeito para uma equipa de pesquisa de duas pessoas. Se os pesquisadores fossem um casal, como era o caso, poderia adicionar-se à missão uma terceira pessoa, como um filho. Tudo sem colocar pressão significativa sobre os recursos da UHTA.

Havia comida suficiente para seis meses e, os conversores de partículas do vento solar, mantinham as baterias completamente carregadas.

Eles construíram um íman de conversão de gravidade no chão da UHTA, ampliando o campo magnético natural do asteróide dentro da construção, num fator de 85,91. O suficiente para simular uma gravidade próxima à da Terra. As exigências de energia eram enormes, mas o Sol, a quatrocentos gigametros de distância, fornecia uma fonte ilimitada de energia.

Construída sobre a superfície do asteróide, a sala de VTT (veículo de todo o terreno), segurava o próprio VTT, bem como um pequeno flutuador para duas pessoas, para o caso de emergência. O flutuador tinha energia suficiente para escapar da gravidade de qualquer objeto celeste, mais pequeno do que a Lua, emitindo depois um sinal luminoso de alerta.

Cada cabine privada dentro da UHTA continha uma cápsula de segurança, que se convertia num flutuador para uma pessoa. A segurança era uma prioridade.

Alex virou-se para o SRD.

SIAC, disse ele em voz alta, ainda que o computador seguisse cada comando, assim que ele o pensasse. Dê-me uma janela de realidade virtual, para a câmara do VTT.

Por um momento, ele ignorou o seu odyssambiente, preferindo utilizar o motor da UCP (unidade central de processamento) do SIAC, que era muito mais rápido para tarefas locais. Desativou a sua ligação à TerraNet. Afinal de contas, ele deveria estar a trabalhar na sua biosin. O SIAC tinha, na sua drive virtual, planificação suficiente de aulas carregadas para mais um mês.

Não era necessária uma ligação à TerraNet, mas Alex sentia-se melhor, ao saber que o contacto com a Terceira Estação do Canadá estava a sete minutos de distância.

O SIAC disse:

<VTT visto em holograma, Alex. Por favor, coloque os tampões ópticos de realidade virtual.>

Alex pegou nos tampões ópticos, mas esperou, antes de os colocar nos seus olhos.

A câmara de interface do painel do VTT ligou-se. Iria proceder a um registo audiovisual do progresso dos seus pais, em cada um dos setores do Nelson II, gravando os seus relatórios, teorias, falhas e descobertas. De forma automática estas eram enviadas por ASE, para os terminais da Corporação do Canadá. Mais propriamente para Ottawa, na Terra.

A janela do SRD à frente de Alex mostrou uma imagem em 2D, do campo de visão atual da câmara. Alex sentiu escorregar os tampões ópticos do dispositivo de ligação-mente. Pressionou as estruturas oculares contra os seus olhos, para que elas se acomodassem aos contornos do seu rosto.

A partir do painel da sala de VTT, de repente, ele viu tudo, como se estivesse lá sentado na capota.

Aproximando-se do VTT, os seus pais foram guiados por um sistema de cabos de sustentação, ligados ao VTT e à sala. Com a gravidade minimalista do asteróide, um salto forte poderia atirar uma pessoa para fora do asteróide e pô-la a voar pelo espaço.

O próprio VTT utilizava uma versão dos ímanes gravitacionais, combinada com um íman de polaridade invertida, para se repelir contra a superfície do asteróide, de modo a que pudesse flutuar dois metros acima do solo.

Os seus pais prenderam-se aos seus lugares, no interior do veículo e dispararam as células de energia, antes que a sua mãe visse a luz verde da câmara a indicar ‘transmissão de imagem’, assim como ‘gravação de imagem’.

Olá, Alex. Disse ela, sorrindo através da viseira transparente do capacete, adivinhando corretamente que tinha sido ele, quem tinha manipulado a sua realidade virtual para a câmara. Surgiu a clara voz septafónica, nos altifalantes.

Olá mãe.

O que é que aconteceu, filho? Perguntou Gabriel, depois de algum tempo a acelerar os restritores de assento.

Não sei. Só queria que vocês soubessem, que eu tenho saudades vossas.

Nós também sentimos a sua falta. Amo-te, Alex.

Eu também te amo. Ainda não era demasiado adulto para dizer aquilo. Pelo menos não em privado. Quando eles estivessem de regresso à Terceira Estação do Canadá, ele poderia sentir-se desconfortável, em dizer aos seus pais que os amava, à frente dos seus amigos.

"Está bem. Então termine as suas aulas esta manhã, passe nesse teste de biosin… e, quando regressarmos, talvez me possa mostrar exatamente como funciona o jogo ‘Piratas de Nova’." Disse-lhe o seu pai, com o sorriso a preencher a largura da viseira do capacete.

Está bem! Exclamou Alex, subitamente mais animado. Vemo-nos mais tarde, pai!

Ele terminou a ligação de realidade virtual com o pensamento e, virou a sua atenção para a revisão do material de biosin, que o SIAC tinha apresentado numa janela secundária do SRD. Estava a piscar uma luz vermelha, de urgente, nos contornos.

<Lição trinta e sete: revisão-biosin.>

O SIAC foi amável, como de costume.

O computador iniciou a revisão numa voz infantil, mas que endureceu, à medida que Alex tentava concentrar-se. Depressa ele sentiu a sua atenção a vaguear para o jogo ‘Piratas de Nova’ e, uma hora depois dos seus pais terem saído, ele minimizou a janela da lição, ignorando as advertências do SIAC.

Maximizou a janela de realidade virtual.

Segundos depois, ele estava a expulsar os piratas para fora da Nebulosa de Ronge.

4

Relatório Geológico:

Macklin Rock:

Arquivado por Gabriel Manez:

Segmento do Cinto de Asteróides: 14.568

Número da Mina da DME: 928-3

Nome: Macklin Rock

Idade: 237.89 milhões de anos (padrão da Terra)

Tipo: Metálico / Carbono Condrito (Tipo - C)

Distância do Sol: 425.92 gigametros (média)

Abordagem mais próxima da Terra: 276.33 gigametros

Dimensões: 148.11 km de maior diâmetro / 35.08 km de maior diâmetro.

Temperatura da Superfície: -103,5 °C média

Massa (estimada): 10,020.5 teratoneladas

Gravidade de superfície: 0,0000002373 G

Pressão Atmosférica: Nenhuma

Velocidade de Escape: 0.009568 km por hora

Conteúdo mineral: alumínio, cálcio, carbono, cobalto, cobre, hélio, ferro, magnésio, níquel, silício, sódio, enxofre, titânio

Valor Potencial: US$14 (CAN) triliões de dólares canadenses, ao longo de 50 anos.

5

Zona de Exploração da EUA, Inc.:

Missão Orcus 1:

Plutão:

Escuro, frio, silencioso, inóspito.

Maravilhoso.

A Capitã Justine Turner chegou ao limite do Sistema Solar. O reconhecimento histórico foi atribuído a ela, como Capitã da Orcus 1.

Para ela, era mais uma, numa série de estreias: Tinha sido a astronauta feminina mais jovem na história da NASA. A pessoa mais jovem a obter uma capitania de um veículo espacial. O primeiro ser humano a pisar na superfície gelada de Plutão.

Ela tentava pensar em algo notável para dizer, para beneficio daqueles que, na Terra, acompanhavam o seu progresso. Dominada pela vaga de emoções, Justine não conseguia pensar apropriadamente. O ar reciclado viciado no seu fato, não ajudava a limpar a sua mente.

Plutão. Declarou ela finalmente, pelo seu microfone.

Girando a cabeça para enfrentar o Sol, um pequeno alfinete a brilhar no horizonte baixo, ela imaginou que estava a falar para o bem da posteridade.

Foi uma jornada de duzentos anos para chegar até aqui, desde que a existência do planeta escuro foi inicialmente teorizada. Agora, esse sonho, é uma realidade. Esta ocasião é um marco na história da humanidade. A partir daqui, tudo o que resta é conquistar as estrelas.

Ela respirou fundo, antes de continuar o seu discurso, mas uma voz digitalizada preencheu o seu capacete.

Capitã! Chamou Helen Buchanan no comunicador. Emprestada pelo Departamento da Agência Espacial Canadiana, Helen tinha mais do que provado a sua competência administrativa, na sua posição como segundo-comando. Ainda assim, ela tinha uma tendência para o drama.

Irritada pela interrupção, Justine rosnou O que é que se passa, Helen?

A equipa científica informa, que todos os relatórios de análise espectral estão normais. Ekwan pede novamente permissão, para se aventurar lá fora na superfície. A Primeira Imediata baixou a sua voz, para combinar com o tom da Capitã. Sabe Justine, se ele não conseguir o seu objetivo, brevemente vai pôr-nos a todos, para fora do planeta.

Havia sempre uma maçã podre no cesto. Infelizmente a NASA não teve voz, acerca de quem os japoneses incluíam na missão. Tiveram que aceitar Ekwan, juntamente com os quinze biliões em dinheiro, para pesquisa, que a Administração Espacial Japonesa tinha investido.

Contudo, seis meses no espaço, com aquele descomedido e imbecil opinativo, era o suficiente para testar a paciência de um santo.

Devia recusar o seu pedido, só por despeito. Isso seria mesquinho e uma má utilização flagrante da sua autoridade. Além disso, não era uma atitude generosa para se ter com qualquer um dos membros da equipa científica civil.

Olhando à sua volta, ela mal podia ver para além de vinte metros das luzes de aterragem da Orcus 1. Disposta a ignorar as politiquices dos países corporativos da Terra, ela tinha aceitado esta missão, extática e cheia de paixão, para ter a oportunidade de tocar o coração de Plutão.

Agora eu estou aqui! Ela deliciava-se com aquele fato.

A superfície de Plutão era estéril e implacável. A realização de a alcançar, estimularia a Terra a investir mais recursos na exploração do espaço. O manto dessa responsabilidade repousava diretamente sobre os seus leves ombros e ela não se atrevia a deixar qualquer coisa desagradável acontecer nesta missão. Ela sabia que devia fazer com que os outros oito membros da tripulação esperassem, uma hora depois da sua exposição à superfície do planeta, para o caso de existirem micróbios que comessem o seu fato, ou qualquer outra possibilidade fantástica pensada pelos cientistas da NASA.

Mas…e se ao deixar que Ekwan saísse, fizesse com que os sismólogos fechassem as suas bocas barulhentas por apenas cinco minutos…

Permissão concedida, Helen. Mas certifique-se de que ele segue os regulamentos. Eu estou a voltar para dentro da nave. Vi tudo o que precisava de ver, por agora. Tenho fotos suficientes, para manter o departamento de publicidade da NASA ocupado por um ano.

Muito bem, Capitã.

Ela podia sentir o alívio na voz da Primeira Imediata.

Justine fez o seu percurso até à escada de cerâmica da sonda e entrou no ventre da Orcus 1. Levou um minuto para atravessar a câmara-de-ar.

No interior, ela encontrou uma multidão desorganizada. Numa orquestra confusa, quatro tripulantes circulavam sobre o seu condutor espontâneo, todos a gritar de raiva, numa cacofonia.

Ekwan! Vá com calma. Ordenou Justine, captando a sua atenção. Estaremos aqui por sete meses. Você terá todo o tempo que precisa na superfície. Ela fixou os seus olhos irritados. Tanta ansiedade, num homem tão pequeno.

São estes cintos estúpidos, Capitã! São demasiados e estão a atrapalhar. E ela, ele acenou com a cabeça para a Primeira Imediata Helen Buchanan, não me deixa ir lá para fora, sem me ter amarrado como a um prisioneiro.

Ekwan, cumpra os procedimentos. Prefere perder tempo a discutir, ou colocar o seu fato de forma adequada e sair para a superfície mais cedo?

Claramente infeliz, o sismólogo permitiu que Helen terminasse de amarrar o seu fato. Com um exagero cómico, ele pisou a câmara de compressão.

E espere por nós! Gritou Helen, através do intercomunicador. Estaremos prontos em poucos minutos.

A resposta de Ekwan foi ininteligível, mas não houve nenhum mal-entendido na frustração do seu rosto.

De alguma forma, Justine conseguia relacionar-se com ele. Mesmo no Japão moderno, a necessidade de excelência e de superar todos os outros, dirigia a sua ordem económica e social.

Num país pequeno, com uma densidade populacional tão elevada, não era surpreendente que as pessoas fossem agitadas e mal-humoradas, na sua corrida para chegar à frente no grupo.

Lentamente, no vestiário, os outros atrapalhavam-se ao vestir os seus fatos.

Justine acenou para Johan Belcher, o geólogo da Agência Espacial Europeia. O belo austríaco estava lá para executar testes detalhados sobre a composição da superfície gelada de Plutão, incluindo profundidades, densidades e percentagens.

Se não fosse pela sua posição de Capitã, Justine teria incentivado os seus subtis avanços lisonjeiros. Mas ela tinha que se manter afastada dos outros, pois fazer o contrário, prejudicaria a sua autoridade. Era imperativo que ela mantivesse o seu comando e autoridade, nos vinte meses de duração da missão.

Johan devolveu o aceno com um sorriso calculado, enquanto ajudava Dale Powers, o astro-navegador da NASA, com o seu fato.

Dois dos outros membros da NASA esforçavam-se para ficarem prontos: Henrietta Maria e George Eastmain. Justine suspeitava que os dois se tinham tornado amantes, durante a longa viagem. Eles riam-se um para o outro, como se fossem crianças de escola, quando pensavam que ninguém estava a ver e, segredavam ao ouvido um do outro, com frequência.

Onde está Sakami? Perguntou ela ao grupo. O único representante da República Popular da China, Sakami Chin, era claramente uma pessoa estranha. Ele recusava-se a jantar com os outros e não fazia o mínimo esforço para uma conversa casual. Grosseiro e abrupto, Sakami não disfarçava a sua aversão a viagens espaciais.

Justine virou a cabeça para o som de botas a bater, na placa de metal que dividia o vestiário do resto da nave.

Sakami forçou o caminho através da multidão para apanhar o seu fato, ignorando os gritos de indignação dos restantes membros.

Justine olhou para a Primeira Imediata. Vou para a ponte, se você tiver tudo aqui sob controlo.

Claro que sim, Capitã. Faça uma sesta. Eu alerto-a se Ekwan cair nalguma cratera. Brincou ela.

Não faça isso. Alerte-me só se ele se matar.

Ela forçou um sorriso e caminhou ao longo da nave espacial.

Com a Orcus 1 vazia, Justine passou pela cozinha e serviu-se de um tubo de chá frio. Felicitou-se, por alcançar o objetivo mais importante da sua vida.

As histórias acerca do Planeta X tinham enchido a mente jovem de Justine e alimentado a sua imaginação, e, quando era adolescente, estudou cada livro que conseguiu encontrar sobre o assunto.

Ela fez disso a paixão da sua vida, lendo tudo o que pudesse encontrar sobre o planeta, polindo dois séculos de história. Ela fazia questão de descarregar toda a informação relevante, de cada sonda que passava no mundo escuro.

Depois de se ter licenciado com distinção no Departamento de Astronomia, no Estado do Arizona, o Observatório Lowell deu-lhe uma bolsa de mérito e patrocinou-a no programa de treino da NASA. Justine tinha trabalhado duramente, ao longo da sua curta carreira. Ela abriu o seu caminho nas fileiras, apenas pela oportunidade de realizar o seu sonho. O seu objetivo final era Plutão. A Missão Orcus 1 Pertencia-lhe, embora lhe tivesse custado um casamento, no percurso.

Brian, o seu ex-marido, tinha decidido que não queria ser uma segunda opção relativamente à carreira de Justine. O seu único arrependimento, foi nunca ter aberto espaço na sua agenda para ter um filho. O sentimento de perda e de pesar sobre a sua decisão de colocar a carreira à frente da família, poderia tê-la atirado para uma depressão profunda, se a Missão Orcus 1 não se tivesse tornado uma forte possibilidade.

O dever chamava. Alguém tinha que assegurar o serviço na ponte. Com o tubo de chá na mão, ela caminhou pela nave.

Chegou à sua cadeira de comando, no momento exato em que a sirene tocou.

Ao digitar nos monitores sem sucesso, Justine modelou a voz para conseguir que o computador reconhecesse o seu comando. Comando: ligar. O computador da nave apitou e Justine disse, Aqui Turner. O que é que se passa?

A voz que respondeu chegou repleta de elevado som de estática.

"Capitã! Temos algo estranho aqui fora, sabe! Algo que você tem mesmo que ver!" Não havia, no sotaque canadense de Helen, nenhuma dúvida quando ela estava entusiasmada e ela tendia a ficar superexcitada até nas mais pequenas coisas. Justine suspirou.

Se é um pedaço de gelo com riscas rosa e roxo a atravessá-lo, eu não vou ficar impressionada.

Você quer ficar impressionada? Perguntou a voz digitalizada de Helen. Bem, eu garanto-lhe que não se vai dececionar. Venha cá e veja por si mesma!

O que é…

O computador apitou, indicando que Helen tinha cortado a comunicação.

Contrariada, Justine levantou-se da cadeira e deslocou-se para os armários, com o propósito de vestir o fato e ir lá para fora.

Sempre a resmungar. Canadenses loucos. Sempre com os seus suspenses. Ela provavelmente adora o clima daqui, ao passo que eu congelo o meu traseiro.

Justine, que pesava 59,8 kg na Terra, tinha dificuldade em lidar com o seu peso plutoniano de 2,4 kg. Quando estava fora do simulador de gravidade artificial da Orcus 1 ela pesava tanto como um saco grande de sal. Um salto mais longo, poderia enviá-la umas dezenas de metros em qualquer direção. Esse tipo de atividade, repreendeu-se a ela própria, era inseguro e contra os regulamentos.

Sendo a sua superfície, uma placa lisa de metano congelado e dunas de gelo, qualquer pequeno passo em falso em Plutão, poderia fazê-la deslizar centenas de metros de distância. Não haveria tempo para usar os ganchos de gelo colocados nas mangas dos protetores do seu fato, para a frear. As suas botas eram equipadas com sugadores de vácuo, para se manterem estáveis no gelo. Mesmo assim, uma queda numa das crateras com quilómetros de profundidade, que marcavam a superfície, poderia significar uma morte fria.

O departamento de publicidade da NASA, queria uma grande quantidade de comentários sobre a viagem e, Justine tinha decidido pô-lo de lado enquanto podia. Ela falou ao seu microfone e apontou uma pequena mini-câmara para o maior objeto no céu de Plutão.

A lua Caronte, cuja superfície é maioritariamente à base de água, sem traços de metano, é uma esfera azul escura, que preenche o céu.

Deslocando-se, para sair do brilho intenso das luzes de aterragem da Orcus 1, ela deslizou através de uma extensão de gelo e conteve-se. Com um profundo suspiro de alívio, ela olhou novamente para cima.

Embora tenha 1.270 quilómetros de diâmetro, um terço do diâmetro da Lua, Caronte parece cinco vezes maior do que a Lua, vista da Terra, devido à sua proximidade com Plutão, a 12.640 km de distância.

Justine entrou num VTT e configurou-o para seguir na direção do sinal luminoso que localizava Helen.

Ela relatava, enquanto o veículo deslizava sobre a camada de gelo, que compunha a maior parte da superfície do planeta.

"A principal missão da Orcus 1 é; examinar as possibilidades de formas de vida baseadas em metano, existentes em Plutão. O nitrogénio é necessário à vida e compõe cerca de 78 por cento do volume de ar da Terra. Constitui uma parte vital das moléculas de proteínas. Tal como aconteceu com os micróbios de Marte, há um século atrás, a NASA está à espera de encontrar alguma evidência de vida em Plutão."

O sinal luminoso indicou que ela estava a um quilómetro do grupo.

Ela esforçou-se para pensar em algo para dizer, que pudesse interessar ao público da Terra.

"Plutão foi batizado com o nome do deus romano dos mortos e do submundo. Para continuar a alusão à mitologia grega, eles chamaram ao gémeo menor de Plutão ‘Caronte’, que designa o velho barqueiro que transporta as almas, através do Rio Styx. Seguindo esta tradição, a NASA decidiu nomear a primeira missão tripulada a Plutão Orcus 1, devido a…"

À medida que Justine subia, cerrou os lábios com um estalido que ecoou dentro do seu capacete. Abaixo dela, a equipa de ciência e Helen reuniam-se como acólitos, à volta de uma estátua divina.

Os olhos de Justine contemplaram uma visão, para além de qualquer coisa que ela já tinha imaginado possível.

Num lugar, onde nenhum outro ser humano jamais tinha colocado o pé antes, contra a escuridão fria do horizonte de Plutão, havia um monumento do tamanho de um hangar de aviões. O corpo da estrutura assemelhava-se ao núcleo de um átomo complexo.

A orbitar esse núcleo, uma série de objetos esféricos, que formavam o que parecia ser uma nuvem de eletrões, pairavam no espaço, em redor do monumento, sem quaisquer amarras ou suportes visíveis.

Um estranho calafrio percorreu os dedos gelados até à espinha de Justine.

A humanidade não estava sozinha no universo…

6

St. Lawrence Charity Hall:

Ottawa:

Corporação do Canadá

Michael Sanderson, Vice-Presidente da Divisão de Mineração Espacial da Corporação do Canadá, deu o seu melhor sorriso a Stall Henderson, o Presidente do Município de Ottawa e a Ian Pocatello, o Ministro das Finanças.

Partilhando saudações superficiais com copos de champanhe no St. Lawrence Charity Hall, Michael resmungou interiormente, pela necessidade de tal fachada cosmética.

Michael tinha perdido a conta de quantos eventos daqueles tinha assistido, ao longo dos últimos trinta e dois anos da sua carreira, tanto dentro, como fora do governo corporativo. Desde a sua nomeação para Vice-Presidente da DME, cinco anos antes, que a sua comparência a esses eventos triplicou. Eles desgastavam-no.

O seu sorriso, porém, nunca se desvaneceu.

Eu não costumo beber, mas depois de degustar este excelente champanhe, estou a pensar em mudar a minha perspetiva. Ele tomou um gole, para enfatizar a sua opinião.

A minha esposa leva centenas de horas a tentar descobrir e a provar amostras novas e, compra ocasionalmente, quando descobre um que gosta. Vou dizer-lhe para lhe enviar, a si e a Melanie, uma garrafa pelo Natal. Ofereceu Stall Henderson.

Maravilhoso. Estarei ansioso por isso.

O Presidente do Município, Stall Henderson, era um homem aberto, jovial e bem adaptado a um cargo público. De pequena estatura, ele tinha uma careca e uma barriga em expansão; um sinal dos bons tempos que ele trouxe à cidade. Amigo de todos, ele tinha uma mente rápida mas um sentido de humor seco, que algumas pessoas achavam condescendente.

Michael gostava realmente dele pela sua personalidade e pela sua integridade e perspicácia política. Ele era o político dos políticos.

Então, como vai o negócio dos asteróides? Disse Stall. Ele fixou o olhar no Ministro das Finanças.

Stall Henderson estava bem nos seus sessenta anos e era o Presidente do Município da capital do país, há vinte anos.

No último século, Ottawa tinha crescido de apenas uma capital legislativa do Canadá, para uma grande cidade internacional que atraia investidores e pesquisadores de todo o globo. A Corporação do Canadá tinha resistido à tendência corporativa mundial de diversificação e tinha localizado todas as suas divisões em Ottawa e nos arredores; um grande golpe de sorte para a reputação política de Stall.

Michael sorriu e, pousou o seu copo vazio numa bandeja trazida por um servobot, trocando-o por um cheio.

Oh, estamos a ser tão bem sucedidos, quanto se pode esperar. Disse Michael. Temos mais algumas perspetivas em desenvolvimento, como pôde sem dúvida ler no comunicado da imprensa de ontem. Se os levantamentos preliminares estiverem corretos, posso ver no futuro um dia, em que os recursos naturais da Terra deixarão de ser extirpados. Toda a mineração para o mundo será feita fora do planeta. É muito animador.

Fascinante, acrescentaria eu rapidamente Disse o Presidente. Tudo o que tenha a ver com o espaço exterior tem despertado o meu interesse. Eu tenho um filho a fazer uma pós-graduação sobre as anomalias geotérmicas de Marte.

Sted Henderson. Michael procurou na sua mente e ficou satisfeito com a sua memória. "Sim, eu li a sua tese de doutoramento sobre isso. Acho que foi publicada na última edição do Solar Weekly. Desde que encontraram aqueles micróbios, no século passado, que os especialistas discutem sobre ter existido vida em Marte. A tese de Sted aponta para as mesmas evidências, só que sugere o contrário; que a vida irá existir em Marte algum dia, no futuro e, que o planeta está a preparar-se para algum tipo de explosão evolutiva. Um benefício para o movimento naturalista. Falou-se da degradação das órbitas ou de algo nesse sentido, aumento das temperaturas e por aí adiante."

Sim! Ele ficará encantado por ouvir que você ficou interessado.

Ian imiscuiu-se. "Eu também reparei nesse assunto, embora o tenha comprado mais pela reportagem de capa sobre a Missão Orcus a Plutão."

Ian Pocatello era a atracão da noite, mas ainda numa dimensão desconhecida para Michael. Mais novo que Stall e Michael, pelo menos uns vinte anos, Ian ganhou um assento na Câmara de Ministro na última rodada das eleições para os representantes, com uma retumbante decisão da maioria. Tinha sido a sua primeira campanha, servindo para mostrar que ele era um adversário político perigoso.

Ao pesquisar os antecedentes de Ian, Michael descobriu que o homem passou a primeira parte da sua vida, como um consultor financeiro bem sucedido. Após a sua eleição para a legislatura, Ian foi nomeado como Ministro das Finanças pelo Presidente de longa data da Corporação do Canadá, Pierre Dolbeau.

Os dois primeiros orçamentos, sob a administração de Pocatello, trouxeram cortes profundos para todos os departamentos do governo corporativo do Canadá. Ao aviso de uma tendência para o colapso económico global, com a Japan Ltd., a Austrália Company, a Índia Ltd. e a Corporação de Espanha a serem os primeiros países a declarar falência e a serem tomados pelas potências económicas vizinhas, Ian tinha previsto que um dia, a Corporação do Canadá iria ser vítima de uma aquisição hostil, pela fiscalmente mais poderosa EUA, Inc.

Em três anos, do seu Plano de Cinco Anos, ele transformou as perspetivas financeiras da Corporação do Canadá, e, embora o orçamento ainda fosse restritivo, a dívida da Corporação do Canadá diminuiu em oitenta por cento e as previsões indicavam a possibilidade de um excedente para os próximo seis trimestres.

A abordagem frontal e tranquila de Ian Pocatello nas suas funções, era assustadora. Todavia, seriam necessários todos os recursos de Michael, para manter a conversa e tentar encontrar um ponto fraco nas defesas do Ministro.

Eu não sabia que você era um aficionado do espaço.

Ian balançou a cabeça. E não sou. No entanto, o progresso na indústria espacial merece atenção. Se for rentável, eu estou interessado.

Em torno dos três homens, rodavam dignitários e funcionários de todos os níveis do governo nacional, provincial, municipal, bem como lobistas de diferentes empresas privadas e grupos minoritários, numa dança cacofónica de manobras políticas. Por detrás de sorrisos e acenos educados, estavam planos ferozes e agendas ambiciosas.

Ostensivamente, eles estavam todos presentes no jantar, para ajudar a arrecadar fundos para o Child-Find Canada e estava a ser mais do que um sucesso, ficando em dez mil dólares um prato, com a casa cheia. Mas aquilo era uma desculpa para os participantes fazerem lobby e conseguirem o apoio de outros políticos, para quaisquer objetivos individuais, que tinham trazido para alcançar no Hall.

As intenções de Michael eram simples, mas seria melhor guardar os seus intentos ou os outros iriam utilizá-los para algum interesse particular. Se ele não agisse como uma barracuda política, perderia a posição e a reputação. O esforço de mineração iria sofrer e, em última análise, ele acreditava que também assim seria para o resto da subcorporação.

A DME necessitava de fundos, para reforçar os seus esforços de investigação. No momento, eles possuíam treze minas de níquel de Classe 2 para apresentar, pelos cerca de $ 140.000.000.000 que as corporações e os agentes privados tinham investido na Divisão de Mineração Espacial. Quarenta e duas, das suas minas projetadas nos asteróides, tinham mostrado depois de pesquisas adicionais, terem jazidas de minerais impuros e, num custo versus esquemática do produto, no momento, elas não valiam a pena.

Michael Sanderson acreditava que a DME, seria a melhor esperança para a supremacia financeira da Corporação do Canadá na economia global, e também, a melhor esperança para o mundo. Os cientistas tinham estimado, que o próprio Cinturão de Asteróides continha centenas de novos elementos não descobertos, com atributos que podiam melhorar a qualidade de vida de todos na Terra.

A EUA, Inc. e o Conglomerado Britânico da Commonwealth, já tinham programas de mineração do espaço agressivos e rentáveis em funcionamento, embora a maioria das outras empresas do país tenham ido tão longe, quanto sido tão mal sucedidas, como a Corporação do Canadá. Ainda não tinha sido descoberta uma grande jazida de minério, em nenhum dos asteróides da Divisão de Mineração Espacial e a corrida à jazida-mãe de minério mais conhecida, estava a ficar tensa.

Michael sabia que havia jazidas de ferro no Cinturão, que seriam mais do que justificativas, para o investimento maciço da Corporação do Canadá e de outros. Uma ou duas grandes descobertas, iriam aliviar a dívida que a DME estava a acumular.

Ele precisava de mais alguns biliões de dólares para os custos operacionais e de investigação, pois existiam centenas de milhares de asteróides para fazer o levantamento e ele tinha a certeza de que a ‘Grande Descoberta’, iria ocorrer em breve. Ele tinha que ter o Ministro das Finanças do seu lado e levá-lo a acreditar na DME.

Depois, eles poderiam levar o seu caso ao Presidente Dolbeau.

Todavia, nos últimos dois meses, Michael tinha sido incapaz de organizar uma reunião com Ian Pocatello. O Ministro tinha estado indisponível para reuniões privadas com o Vice-Presidente da DME e, não havia retornado nenhuma das suas chamadas. Quando Michael descobriu, que o Ministro das Finanças estava na lista de presenças para o jantar de caridade dessa noite, soube que ele e o Ministro iriam cruzar caminhos.

Um outro homem estava a aproximar-se e, ao ouvir as últimas palavras que foram ditas, comentou numa voz irónica.

"Nós temos uma canadense na Orcus 1. Sabia disso? Eu mesmo estou a seguir a história de perto. Ele riu-se. E vi um tablóide na Net, ainda hoje, a prometer que o desembarque em Plutão irá significar o fim do mundo. 93% dos leitores concordam."

Era por isso, que eles realizavam extensos testes de competência mental e de personalidade, antes que alguém pudesse comprar uma quota da corporação do país e pudesse, então, votar nos assuntos nacionais, pensou Michael.

Os outros enrolaram os lábios com o comentário, quando o Ministro da Energia, das Minas e Recursos, co-superior Diretor de Michael, se juntou a eles. Ele e o Ministro da Exploração Canadiana do Espaço dividiam conjuntamente o portfólio da presidência da Divisão de Mineração Espacial.

Michael, como está? Perguntou Alliras Rainier. Um homem de cabelos grisalhos, de setenta e um anos, que foi o principal impulsionador da DME. Há dez anos atrás tinha feito uma cruzada pessoal para levar à aprovação do projeto para se criar a divisão e, pressionado para o seu amigo de longa data, Michael Sanderson, ser nomeado Vice-Presidente e Diretor do empreendimento. A ascensão meteórica de Michael, através das fileiras da ERM (Energia e Recursos Minerais) poderia ser atribuída, em certa medida, à sua associação com Alliras Rainier, um defensor de longa data das filosofias de Michael, em matéria de energia e conservação.

O próprio Michael tinha acabado de comemorar o seu quinquagésimo terceiro aniversário juntamente com a família, uma semana antes, na casa dele nos arredores de Hull no Quebec, durante o fim-de-semana. Ele mantinha-se em forma a correr duas milhas todas as manhãs, a evitar as gorduras animais e a comer cereais, peixe, arroz, frutas e legumes em abundância. No seu último check-up, o médico disse-lhe: Eu tenho más notícias; você só tem cerca de mais cinquenta ou sessenta anos de vida.

A família era a coisa mais importante da vida de Michael. Mas, quase simultaneamente, era o bem-estar dos seus companheiros humanos que lhe suscitava mais emoções. Não apenas dos canadenses, mas de todos os seres humanos. Ele fazia doações para a caridade e fazia o que podia para ajudar o meio ambiente. Razão pela qual entrou na área da energia ambiental na Universidade de McGill, onde conheceu a sua esposa Melanie, uma especialista em Humanidades.

Alguns pequenos sucessos; no inicio da sua carreira, concederam-lhe a atenção do Departamento de Energia, Minas e Recursos da Corporação do Canadá. Nos últimos trinta anos, ele tinha vindo a subir na carreira, na corporação governamental e, hoje em dia, estava próximo do topo, onde ganhou mais influência do que já tinha esperado ou sonhado.

Ele estava numa posição de efetuar grandes mudanças, na forma como o mundo descobria e utilizava a energia e as possibilidades entusiasmavam-no. A paixão que o tinha guiado para os Estudos Ambientais na Universidade, não se tinha dissipado ao longo dos anos.

O seu nível de energia e de tolerância para manobras políticas, contudo, estava a desvanecer-se rapidamente.

Quando Michael acenou com a cabeça que estava bem, Alliras perguntou solícito, E a sua adorável esposa, Melanie?

A conversa a partir deste ponto foi coreografada. Os dois tinham-se reunido na casa de Michael, na noite anterior, para discutir as táticas.

Melanie? Ela anda por aqui, algures. Acho que está a encurralar a Angela e as duas estão provavelmente num debate profundo sobre a estética da arte pré-colombiana.

Eu nunca a deveria ter incentivado, a tirar essa disciplina do curso de Carleton. Acho que já gastei mais de uma centena de notas grandes, em estátuas feias de deusas grávidas, nos últimos seis meses. Ele riu-se e os outros três homens juntaram-se-lhe, gentilmente.

Michael podia observar, que Ian Pocatello estava a começar a sentir-se mais do que um pouco encurralado, com três lobistas de pró-mineração em torno dele. O Ministro estava tenso, como se esperasse o ataque concertado.

Toda a charada lembrou a Michael, os tigres a perseguirem um urso polar.

Teriam que ter cuidado ou iriam enfurecer o urso.

Virando-se para Ian, Michael sorriu. Eu sei que estão na ordem do dia, os parabéns pelo seu último orçamento?

Sim. Era simples, na verdade…

Se havia uma coisa de que Ian Pocatello gostava, era de ouvir o som da sua própria voz.

Os outros acomodaram-se para o ouvir, provocando no Ministro uma falsa sensação de segurança. Eles cheiravam a vitória.

7

Zona de Exploração da EUA, Inc.:

Missão Orcus 1:

Plutão:

A doze quilómetros do local de aterragem, Justine, conduzindo o VTT, parou lentamente.

Frente a ela, estava um artefacto alienígena.

Ekwan Nipawin deu um passo em direção a ela.

Pare! Rugiu Justine.

Um por um, eles viraram-se para ela.

Ela saiu do VTT e caminhou até eles. Foi uma tarefa difícil, considerando o caminho traiçoeiro e a sua incapacidade de tirar os olhos do artefacto, por mais que alguns momentos de cada vez.

Quando se aproximou mais dele, percebeu que podia ver através da superfície semitransparente do monumento. Com um hectare de largura na sua base e, facilmente, uns dezasseis andares de altura, era uma estrutura enorme de construção alienígena.

Justine olhou para o artefacto gigante, com a sua imaginação a escapar-lhe. Pensamentos sobre outras formas de vida na

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