As Noites do Asceta
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As Noites do Asceta - Alberto Pimentel
The Project Gutenberg EBook of As Noites do Asceta, by Alberto Pimentel
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Title: As Noites do Asceta
Author: Alberto Pimentel
Release Date: July 7, 2009 [EBook #29347]
Language: Portuguese
*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK AS NOITES DO ASCETA ***
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of public domain material from Google Book Search)
OPUSCULOS ROMANTICOS
II
AS NOITES DO ASCETA
POR
ALBERTO PIMENTEL
LISBOA
Empreza Editora, Carvalho & C.ª
RUA LARGA DE S. ROQUE, 100, 1.º
1876
AS NOITES DO ASCETA
POR
Alberto Pimentel
LISBOA
Empreza Editora, Carvalho & C.ª
RUA LARGA DE S. ROQUE, 100, 1.º
1876
Typ. de J. C. Almeida, Rua da Vinha, 65—Lisboa.
a
Jacintho Maria Rodrigues
Oh, que viesse o que não crê, comigo,
Á vecejante Arrabida, de noite,
E se assentasse aqui sobre estas fragas,
Escutando o sussurro incerto e triste
Das movediças ramas, que povoa
De saudade e amor nocturna brisa;
Que visse a lua, o espaço oppresso de astros,
E ouvisse o mar soando:—Elle chorára
Qual eu chorei.........................
Alexandre Herculano—A Harpa do Crente.
«Ajuntava a esta abstinencia (Frei Agostinho da Cruz) as muitas vigilias, ásperas disciplinas, em que se exercitava, e outras mortificações, que elle depositou no archivo do silencio, e só nos deixou as inferencias, de que eram muito esquisitas.»
Frei Antonio da Piedade—Espelho de penitentes e chronica da Provincia de Santa Maria da Arrabida. Tomo I, part. I, liv. V.
{7}
Eram aquelles os tempos do Amor.
Por toda a parte o coração era a mais fecunda, a mais vivida, a mais completa manifestação da Vida. A humanidade entrára no idyllico periodo da sua primavera. As flores do sentimento brotavam candidas e perfumadas sob os pés da Mulher deificada pela adoração. Deus estava no ceu e a Mulher na terra. A mesma religião absorvia e confundia estas duas grandes individualidades mysteriosas, porque Deus fôra gerado no ventre da Mulher virgem. Pois que o amor divino se librava puro, austero, immaculado, o amor terreno procurava igualal-o pela candura das suas intenções. O seculo XIV, um dos mais famosos seculos do grande cyclo amoroso, vê um rei de Inglaterra curvar-se para levantar a fina liga de seda da condessa de Salisbury, e ouve a legendaria imprecação do rei aos maliciosos cortezãos cujo riso envenenava esse extremo de galanteria{8} palaciana. E é d'essa pequena fita, acolchetada por esmaltadas fivelas de oiro, que o rei namorado quer fazer o mais ambicionado, o mais nobre, o mais difficil galardão cavalheiresco:—a jarreteira azul. O mesmo seculo vê um rei portuguez realisar á beira do Mondego o mais ardente e lacrimoso idyllio da tradição amorosa nacional, e, para diluir as sombras com que os validos de Affonso IV quizeram ennegrecer o que n'esse grande amor havia de puresa, mandar rasgar-lhes o peito e lavar a crudelissima affronta no sangue d'elles. A loira Ignez apparece depois de morta menos princesa que martyr. Os seus funeraes são uma apotheose; a memoria que de si deixa completa a deificação. D. Pedro quer que desde Coimbra a Alcobaça passe o athaude por entre duas filas de cirios, duas fitas d'estrellas—como diz Schœffer—; no tumulo de Ignez avultam entre os phantasiosos ornatos as azas que denunciam os cherubins. O Amor faz de Ignez um anjo, e é ainda pelo anjo, que voou, que a pequena fonte da margem do Mondego chora lagrimas de casta saudade.
Petrarcha não pôde esquecer n'este poetico seculo do Amor. Elle representa o mais puro, o mais santo, o mais ideial amor que é dado conceber-se: o amor sem esperança. Elle renega as tendencias voluptuosas da Roma classica, em que foi educado, e lança-se na solidão de Valchiusa, sem amaldiçoar Laura, quando o amor lhe dilacera o peito, como o açor póde dilacerar