Para salvar a mãe da morte, jovem de 28 anos assassinou o familiar a pancadas
De todas as noites em que passou em claro, a industriária aposentada Brandina de Oliveira dos Santos, 58 anos, tinha a certeza de que em uma delas uma notícia trágica chegaria da rua: pressentia que o filho não conseguiria sair do pesadelo do crack, que envolveu toda a família. Ela só não sabia que tudo aconteceria diante de seus olhos, dentro de sua própria casa, no pequeno município de Nova Hartz, no Vale do Sinos.
Quando reunia documentos para tentar a 16ª internação do filho Luiz de Oliveira Batista, 35 anos, viciado em crack havia três anos, viu o filho mais novo matá-lo com uma barra de ferro para defendê-la das agressões. Sob o efeito da droga, Luiz exigia da mãe dinheiro para comprar mais pedras e a ameaçava com uma faca, quando Mateus, 28 anos, se adiantou para defendê-la.
– Se o Mateus não tivesse feito isso, tenho certeza de que o Luiz teria matado a todos nós. Tudo isso porque eu não tinha o dinheiro que ele queria – lamentava a mãe.
Eram 22h de terça-feira, e a família se recolhia para dormir após a oração. Evangélica, dona Brandina já não esperava mais o filho naquela noite quando ouviu o estrondo na porta. Era Luiz com uma barra de ferro nas mãos. Ele queria dinheiro.
Com a negativa da mãe para os R$ 10 que virariam duas pedras de crack, o rapaz partiu para cima da aposentada com a faca de cozinha que encontrou em cima da mesa. Deu tempo de jogar uma bacia de pipocas que havia ficado na mesa no rosto da mãe e derrubar a mesa e as cadeiras da cozinha. Quando ameaçou investir novamente contra a aposentada, o irmão mais novo, que dormia no quarto, apareceu. Recolheu a barra de ferro do irmão e deu um golpe certeiro na cabeça de Luiz. Mateus continuou a bater no rapaz, já deitado no chão.
– Ele dizia que, se não terminasse com aquilo naquela hora, o irmão nos mataria. E ele faria isso mesmo, pois já tinha prometido. O Luiz me socava, me empurrava, já bateu com uma barra na minha cabeça. Achei que alguém pudesse fazer isso com ele na rua, mas nunca dentro de casa, olha o que o crack fez com a minha família – lamentava Brandina.
Eduino Planer, 57 anos, companheiro de Brandina há quatro anos, chorava e orava no quarto ao lado. O casal perdeu as contas das vezes em que teve de pedir guarida a vizinhos por medo de voltar para casa.
Este mês, porém, ela pretendia abandonar a casa e deixar o filho. Decidiu que não tinha mais condições de conviver com as influências do crack sobre o rapaz. Data do dia 2 a última ocorrência registrada pela mãe na Delegacia da Polícia Civil, relatando as agressões do filho, pouco depois de ele furtar uma bicicleta da vizinha e trocá-la pelas pedras.
– Nem rancho do supermercado a gente podia ter em casa, qualquer saco de comida fechado ele levava e trocava pela droga. Só tinha em casa o que ia para a panela. Ele levou nossos celulares, os CDs de música evangélica e até o enxoval da irmã – diz Planer.
Luiz trocou mulher e filho pelas correntes do crack
O vício fez Luiz viver para a droga. Abandonou o trabalho, o casamento e o filho de oito anos. Do lado de fora da casa recém-construída, a mãe mandou fazer um quarto para o filho que já não tinha mais horário para nada. Ao lado da cama com lençol bem estendido, dois cachimbos improvisados ficaram à mostra. Ambientada à rotina do filho com a droga, Brandina sabia como Luiz manuseava o cachimbo.
– Enquanto ele se trancava aqui, eu espiava pelas frestas, preocupada. Não tinha mais o que fazer. Ninguém sabe como é difícil ver um filho morrendo pelas mãos de outro. Mas eu tenho de ser forte pelo meu filho que fez isso para me defender – se desespera.
Mateus fugiu do local do crime, mas a família promete apresentá-lo à polícia ainda nesta semana.
Letícia Barbieri, Nova Hartz | [email protected]
Crack Nem Pensar
2 comentários:
Gosto muito do seu blog, por vários motivos, além do caráter educativo. Por isso gostaria de compartilhar um selinho com você. Espero que goste. Abraços fraternos.
A verdadeira liberdade gera alegria, paz e responsabilidade. Vícios, rancores, maldades criam prisão interior, que é a pior das prisões. Voltar-se para Deus e ser como ele o criou: livre e feliz como um filho esperado e querido, mas responsável por seus atos e palavras.
Postar um comentário