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A LOBA CAPITOLINA
quinta-feira, junho 14, 2012
MERKEL E HÉRCULES
domingo, abril 17, 2011
O TOQUE DE MIDAS
Era uma vez um rei muito rico chamado Midas. Ele possuía mais ouro do que qualquer outro no mundo inteiro, mas ainda assim não estava satisfeito. Nada o deixava mais feliz do que conseguir acrescentar um pouco mais à sua riqueza. Mantinha-o todo guardado em enormes cofres nos subterrâneos do palácio, e passava muitas horas por dia contanto e recontando seu tesouro.
O Rei Midas tinha uma filhinha chamada Áurea. Amava-a com verdadeira devoção, e dizia: "Ela será a princesa mais rica do mundo!"
Mas a pequena Áurea nem se importava com isso. Adorava seu jardim, as flores e o sol, mais do que a riqueza do pai. Ficava sozinha a maior parte do tempo, pois o pai estava sempre ocupado, buscando novas formas de conseguir mais ouro, e contando o que já possuía, de tal sorte que quase nunca tinha tempo para contar-lhe histórias ou passear, conforme deveriam fazer todos os pais.
Um dia, o Rei Midas estava na sala do tesouro nos subterrâneos do castelo. Havia trancado as pesadas portas do aposento e aberto os enormes baús. Despejou todo o conteúdo sobre a mesa e pôs-se a brincar com o ouro como se o simples toque o deixasse satisfeito. Fazia-o escorrer entre os dedos e sorria ao ouvir o tilintar das peças, qual doce melodia. De repente, uma sombra se projectou sobre a pilha de objectos. Ao levantar os olhos, deu com um estranho trajando roupas brancas brilhantes e sorrindo para ele. Soergueu-se, surpreso. Não se esquecera de trancar as portas! O tesouro, então, não estava seguro! Entretanto, o estranho continuou sorrindo.
- Vossa Excelência tem muito ouro - disse ele.
- Tenho, sim - disse o rei -, mas é pouco comparado a todo o ouro que existe no mundo!
- Ora! Esse ouro todo não satisfaz a Vossa Excelência? - Perguntou o estranho.
- Ora, essa! - Respondeu o rei - Mas é claro que não estou satisfeito. Passo longas noites acordado planejando novas formas de conseguir mais. Gostaria de poder transformar em ouro tudo que toco.
- É isso que Vossa Excelência realmente deseja?
- Claro que sim! Nada haveria de deixar-me mais satisfeito.
- Pois o desejo de Vossa Excelência será atendido. Amanhã de manhã, quando os primeiros raios de sol entrarem nos aposentos, Vossa Excelência terá o toque de ouro.
Ao terminar de falar, o estranho desapareceu. O Rei Midas esfregou os olhos.
- Devo ter sonhado - disse ele -, mas como eu ficaria feliz se isso fosse verdade!
No dia seguinte, o Rei Midas acordou quando a primeira luz do dia se fez presente em seus aposentos. Esticou a mão e tocou as cobertas da cama. Nada aconteceu. - Eu sabia que não poderia ser verdade - exclamou, desapontado. Naquele exacto momento, entraram pelas janelas os primeiros raios de sol. As cobertas onde estava encostada a mão do rei transformaram-se em ouro puro. - É verdade! É verdade! - gritou ele, muito contente.
Saltou da cama e correu pelo aposento tocando em tudo que havia. O manto real, os chinelos, os móveis, tudo virou ouro. Foi até a janela e olhou para o jardim de Áurea. - Vou fazer-lhe uma boa surpresa - disse ele. Desceu ao jardim e tocou todas as flores da filha, transformando-as em ouro. - Ela ficará muito satisfeita - pensou.
Voltou aos seus aposentos para aguardar a chegada do café da manhã; e dispôs-se a retomar a leitura da noite anterior, mas assim que suas mãos tocaram o livro, o objecto se transformou em ouro maciço. - Não posso ler, assim - disse o rei -, mas, ora, é bem melhor ter um livro de ouro.
Naquele exato momento, um criado entrou nos aposentos, trazendo-lhe o café da manhã. - Que beleza! Vou começar pelo pêssego, que está vermelhinho de tão maduro.
Pegou-o então, mas, antes de conseguir comê-lo, já se havia transformado num pedaço de ouro. O Rei Midas o colocou de volta no prato. - É muito bonito, mas não posso comê-lo! - Disse ele. Pegou uma broa de pão, mas também ela se transformou em ouro. Colocou a mão no copo de água, mas tudo virava ouro. - O que vou fazer? Tenho fome e sede. Não posso comer nem beber ouro!
E logo a pequena Áurea entrou em seus aposentos. Ela estava chorando, muito sentida, e trazia nas mãos uma das rosas.
- O que houve, filhinha?
- Ah, papai! Veja o que aconteceu com minhas rosas! Estão todas duras e feias!
- Ora, são rosas de ouro, filha. Você não acha que estão mais bonitas agora?
- Não - disse ela, soluçando. - Não têm mais o agradável perfume que tinham. Não crescerão mais. Gosto de rosas vivas.
- Não se preocupe - disse o rei -, venha tomar seu café.
Entretanto, Áurea percebeu que o pai não comia, e que estava triste. - O que houve, meu querido pai? - Perguntou ela, aproximando-se. Deu-lhe um abraço, e ele a beijou. Mas, de repente, o rei soltou um grito de pavor. Ao tocá-la, o lindo rostinho transformou-se em ouro brilhante, os olhos não viam mais, os lábios não conseguiram beijá-lo também, os bracinhos não o estreitaram. Deixou de ser uma adorável e carinhosa menina; transformara-se numa estatueta de ouro.
O Rei Midas baixou a cabeça e os soluços o sobrepujaram.
- Vossa Excelência está feliz? - Alguém perguntou. O rei levantou a cabeça e viu o estranho de pé a seu lado.
- Feliz! Como te atreves a perguntar uma coisa dessas? Sou o homem mais triste na face da terra! - Disse o rei.
- Vossa Excelência tem o toque de ouro. E isso não basta?
O Rei Midas não tornou a olhar para o estranho, nem respondeu.
- O que Vossa Excelência prefere: comida e um copo de água fresca ou essas pedras de ouro? - Disse o estranho.
O Rei Midas não conseguiu responder.
- O que prefere ter, ó Majestade? Aquela estatueta de ouro ou uma menina que pode correr, rir e amá-lo?
- Ah, devolva-me minha filhinha Áurea e eu abdicarei de todo o ouro que tenho! - Disse o rei. - Perdi a única coisa que realmente me valia ter.
- Vossa Excelência demonstra agora mais sabedoria do que antes - disse o estranho. - Vá mergulhar no rio que passa nos fundos do jardim, e depois leve um pouco da água para jogar sobre tudo aquilo que deseja ter de volta ao normal.
O estranho, então, desapareceu.
O Rei Midas levantou-se rapidamente e foi correndo até o rio. Mergulhou, pegou um bocado de água e retornou ao palácio. Jogou-a sobre Áurea e as cores voltaram a iluminar seu rosto. Ela tornou a abrir os olhinhos azuis. - Ora, papai! - Disse ela - O que aconteceu?
Chorando de alegria, ela a pegou no colo.
Depois disso, o Rei Midas nunca mais se preocupou com ouro algum, a não ser o ouro que existe no brilho do sol e nos cabelos da pequena Áurea.
Adaptação de O livro das maravilhas, de Nathaniel Hawthorne (DAQUI)segunda-feira, dezembro 03, 2007
EUROPA
Sobre essa passagem, o mitologista Thomas Bulfinch (1796-1867) escreve em “O Livro de Ouro da Mitologia”, que a mortal Aracne – “uma donzela que atingira tal perfeição na arte de tecer e bordar, que as próprias ninfas costumavam deixar suas grutas e suas fontes para admirar seu trabalho, que era belo não somente depois de feito, mas belo também ao ser feito” –, entendeu que poderia desafiar sua mestra, a deusa Minerva, para uma competição de bordados, pretendendo demonstrar dessa forma que sua habilidade como bordadeira era inigualável. Em um dos trabalhos feitos nessa oportunidade, ela mostrava que Europa, iludida por Zeus (Júpiter) sob a forma de um touro, sentiu-se encorajada pela mansidão do animal, e por isso aventurou-se a cavalgá-lo. Júpiter, então, entrou no mar e levou-a a nado para Creta. Dessa união entre a jovem e o deus supremo, nasceram três filhos, Minos, Radamanto e Sarpedonte.
Na descrição desse sequestro de autoria divina (na ilustração, tela de António Carracci -1583/1618- representando o momento em que ele se realizou), costuma-se dizer que Europa, passeava um dia com algumas amigas em certa praia de Tiro, cidade mediterrânea ao sul do actual Líbano, a uma distância relativamente curta da pastagem onde se encontrava o rebanho de seu pai. As moças colhiam flores, e caminhavam assim, alegres e satisfeitas, quando Europa notou que um touro de porte majestoso e com pelagem branca e brilhante, era o que mais se destacava entre todos os bovinos ali reunidos. Ela nunca o tinha visto e por isso, curiosa, aproximou-se dele, e ao acariciá-lo sentiu que pairava no ar o odor de açafrão. O touro então dobrou os joelhos e deitou-se a seus pés, de forma a permitir que ela subisse em seu dorso, e a esse convite explícito a jovem não resistiu: montou, ornou os cornos do animal com as flores que carregava, e este em seguida pôs-se de pé, caminhou directamente para o mar, entrou na água e nadou até Gortina, ao sul da ilha de Creta, acompanhado por nereidas navegando sobre tritões e delfins. Lá chegando, o touro transmudou-se em Zeus, (Júpiter), deu-se a conhecer a Europa, e o casal então se amou junto a uma fonte e debaixo de plátanos que, segundo a lenda, conservaram para sempre a sua folhagem.
Europa recebeu três presentes de Júpiter; Talos, um gigante de bronze dotado de movimentos, capaz não só de atirar pedras como o de se aquecer a ponto de queimar os intrusos, cuja missão era guardar a ilha de Creta contra possíveis invasores; um cão que seguia sempre a pista de sua presa, e uma lança que nunca errava o alvo. Por ordem de Júpiter ela casou-se posteriormente com Astério, rei de Creta, que adoptou seus três filhos. Um deles, Minos, assumiu o trono da ilha quando da morte do padrasto. Porém, segundo uma outra tradição, Europa foi primeiramente transportada para a Beócia, onde teve um filho, Carnao, antepassado das égides, que eram os filhos de Egeu, ou atenienses.
Seu pai, durante toda a vida, a procurou em vão, e ela, uma vez morta, foi elevada por Zeus à categoria de divindade e transformada em constelação. Em homenagem a Europa, várias festas eram realizadas em Creta e na Grécia. Seu rapto foi ilustrado por artistas de todos os tempos, desde aqueles que representaram a cena em templos arcaicos, ou então sobre vasos, moedas, a frescos e mosaicos, até aos pintores de épocas mais recentes, como Veronese, Ticiano, Tintoreto e outros mais.
Texto de FERNANDO KITZINGER DANNEMANN