Longe vão os tempos do grande “boom” dos blues na velha Inglaterra, nos anos 60, época em que floresceram grupos que se esmeravam em cumprir à risca o código “bluesiano”, e dos quais emergiram grandes nomes, como Eric Clapton ou Stevie Winwood, Eric Burdon ou Peter Green. Faziam parte do que se designou de “Blue Eyed Blues”, e da corrente constavam outros nomes, que por cá nunca tiveram grande reconhecimento, apesar de terem tido trabalhos de elevada craveira, como os Graham Bond Organisation, grupo onde se iniciaram Jack Bruce e Ginger Baker, ou os Savoy Brown
Savoy Brown - Tell Mama Lembro que na altura, os puristas eram quase fanáticos, e se Clapton abandonou os Yardbirds, foi por entender que se estavam a afastar das raízes. Curiosamente, ele próprio fez, ao longo da sua já extensa carreira, muitas cedências, e tal valeu-lhe tantas críticas como as que ouviu Dylan quando se decidiu a electrificar o seu political-folk, tornando-o um folk-rock que demorou a ser aceite.
Na altura, e como já referi, era vulgar os grandes bluesmen americanos serem apoiados por grupos ingleses quando faziam tournées na velha Albion, mesmo quando os grupos já eram reputados, como aconteceu com Sonny Boy Williamson e os Yardbirds, em 1966, aproveitando quase sempre para gravar um álbum que assinalasse o evento. Geralmente, são discos muito ricos, frutos de visões diversas, mas complementares.
Actualmente, as opções divergiram muito desse campo, e se na Grã-Bretanha ainda se tocam muitos “blues”, suponho que é por subsistirem nomes como Eric Clapton ou Mark Knopfler, Georgie Fame ou Van Morrison (este, actualmente mais chegado a uns Irish Blues, se assim se pode chamar à sua música), ou quando alguns elementos dos velhos grupos se reúnem para uma jam-session, como aconteceu há uns anos atrás com os Yardbirds e os Pretty Things, sessão da qual saiu um álbum bastante curioso (PrettyThings/Yardbirds Blues Band), e que servem de incentivo a alguns cultores do género, que já serão quase só ouvintes.
Creio no entanto que o respeito e o prazer que os Blue Eyed bluesmen têm ainda hoje quando tocam com os velhos bluesmen negros, se mantem inalterável. Prova disso é um disco saído no ano passado, em que Clapton toca com visível alegria junto com o monstro sagrado, B. B. King, e em que parece recuperado de todas as mazelas, e os seus blues, voltado às origens B.B. King & Eric Clapton - Come rain or come shineEsta menor atenção que os blues hoje merecem por parte dos músicos brancos, principalmente na Europa, acaba por causar alguma tristeza aos amantes deste tipo de música que vêm assim as opções de escolha limitadas, isto apesar de nos EUA se continuar, e bem, a tradição.
Porque lá, vão aparecendo tipos como
Jonny Lang, um jovem músico fantástico, aparecido há poucos anos e que gravou o seu primeiro álbum a solo,
Lie to Me, com a espantosa idade de 15 anos.
Jonny Lang - Lie to meA apoiar esta minha “quase-decepção” está o facto de no último ano só ter conseguido adquirir, em termos de novidades em blues, um cd de
Carey and Lurrie Bell (
Second Nature) e um, já de 2003, do jovem Lang.
Uma nota à margem do que escrevi: dos bluesmen, muitos são extraordinários guitarristas, como
B.B. King, Albert King, Buddy Guy e tantos outros cuja perícia é lendária, fruto de anos de trabalho árduo. Antes, um guitarrista que se prezasse, sabia todas as escalas dos blues, e orgulhava-se disso, fazendo alarde do seu virtuosismo em jam-sessions memoráveis, algumas perpetuadas em disco. Hoje, tudo é diferente. Ainda há uns tempos li, um pouco espantado, devo confessar, numa entrevista concedida por um dos elementos de um dos grupos actualmente mais em moda – os
Franz Ferdinand, que já editaram dois álbuns de muito boa qualidade – que um ano antes de editarem o 1º trabalho, ainda não sabiam que instrumento cada um iria tocar.
Ora tal afirmação levou-me a concluir que, das duas uma: ou todos eles sabiam tocar muito bem todos os instrumentos, ou nenhum deles sabia tocar nenhum. Como considero que a 1ª hipótese pouco verosímil, só tenho que concluir que os computadores fazem milagres.