sexta-feira, outubro 28, 2005

Radio Nostalgia - Saudades dos 80


Aqui há dias, com o lançamento do novo trabalho dos Depeche Mode, veio-me alguma nostalgia de certas músicas dos anos oitenta. A verdade, é que a geração dos neo-românticos



Duran Duran - Girls on Films

apesar de não terem merecido da minha parte uma tão grande atenção como outros movimentos musicais, deu origem ao nascimento de alguns grupos muito agradáveis, com linhas melódicas simples. Era a pop pela pop, sem grandes engajamentos nem complicações.
Por cá, era o tempo do Frágil e do renascimento dos concursos de conjuntos pop, desta vez no Rock Rendez-Vous, local mítico para as bandas portuguesas, onde tocaram Rui Veloso ou os Mão Morta, de Adolfo Lúxuria Canibal ou os Xutos e Pontapés. Foi o tempo dos Salada de Fruta , dos Táxi ou dos Radar Kadafi.
Surgiram desses concursos os Mler if Dada, os Pop Dell’Arte, os EnaPá2000 e mais tarde os Ornatos Violetas, entre outros.


The Buggles - Video Kill the radio stars

Foi uma época muito fertil em termos musicais, uma espécie de segunda vaga das bandas nacionais.
Foi nessa altura que se começaram a vulgarizar as vindas de nomes conhecidos da pop mundial a Portugal para concertos, alguns deles, já então em estádios de futebol.
Mas este texto era mesmo só sobre os neo-românticos, que por essa altura vieram cá quase todos por iniciativa do Júlio Isidro (quem diria!). Eram todos uns rapazinhos muito alinhadinhos, muito bem penteados, precisamente o oposto dos punk cujo movimento então estrebuchava.

Depeche Mode - Enjoy the silence

Gostava especialmente dos Prefab Sprout e do Brian Ferry (embora este já viesse desde o movimento glam-rock), dos Tears for Fears e dos Frankie Goes to Hollywood, que fizeram sair álbuns memoráveis, mas a isso dedicarei mais tarde um post.
A propósito, ainda alguém se lembra do Non-Stop Erotic Cabaret, dos SoftCell?

segunda-feira, outubro 24, 2005

Something para recordar


Em breve se completarão 4 anos sobre a morte de uma das mais extraordinárias personalidades do panorama musical mundial – este par de meses que aí vem está fatalmente assinalado – George Harrison.
Conhecido como o “Beatle tranquilo”, e parecendo viver um pouco na sombra de John e Paul, deixou sempre bem vincada a sua importância no seio do seu grupo. Guitarrista dotado, foi, na minha opinião, um pouco subestimado pela crítica, talvez devido ao seu carácter reservado ou à sua pouca exuberância musical, por sempre ter privilegiado o grupo, escusando-se a sobressair. As suas intervenções nas entrevistas colectivas, são disso esclarecedoras. Contudo, nomes como Dylan ou Eric Clapton faziam parte da sua legião particular de admiradores.
Foi essa sua personalidade muito virada para o transcendental e a meditação que o levou a estabelecer laços com o Guru Maharishi, um místico indiano, que o iniciou, e aos restantes membros do grupo na filosofia Krishna, que seguiu até ao fim da vida. Das incursões que então fez à Índia, tem marca a sua música, na qual a cítara foi introduzida –por exemplo, na faixa Within’ you, Without you, do álbum Sgt. Peppers – e um amadurecimento, uma espécie de libertação, em termos musicais.
Se até então já tinha escrito algumas canções notáveis, como If I needed Someone, ou Taxman, foi a partir daí que surgiram as suas criações mais notáveis, das quais While my guitar gently weeps, no White Álbum, dava já a verdadeira dimensão do grande guitarrista que George era


No entanto, o grupo caminhava para o seu fim, que não chegou sem que George tivesse escrito, aquele que ficará, talvez, como o seu verdadeiro hino, Something, uma canção de amor com um lirismo quase incomparável.
George era um homem de convicções e solidário. Não lhe bastava falar da guerra, da fome. Para ele, os actos eram mais importantes, e a miséria era-lhe pesada. O horror que ocorria em princípios dos anos 70 no Bangladesh tocou-lhe especialmente, e comovido pelo apelo do seu amigo Ravi Shankar em favor dos refugiados bengalis, decidiu organizar um festival de beneficência no Madison Square Garden, de Nova York, cujas receitas reverteriam para as vítimas da catástrofe.
Bangladesh_Apple_Acetate2

Teve, para a ideia, o apoio de músicos como Eric Clapton e Bob Dylan– dois dos seus grandes amigos de sempre – Badfinger, Leon Russell, Ringo Star, Billy Preston e o próprio Ravi Shankar, um virtuoso da cítara, e dos dois espectáculos ficou um álbum triplo magnífico. Terá sido esse o percursor dos concertos Live-Aid.
BanglaDesh

A sua carreira a solo foi intermitente, passando vários anos sem gravar, para tristeza dos seus indefectíveis, embora com trabalhos assinaláveis como o triplo All things must pass, Cloud Nine ou o póstumo, Brainwashed, e também os dois álbuns que gravou em 1988 e 1990, integrado no grupo Traveling Wilburys (já aqui falei em pormenor desse belo projecto), do qual faziam parte Roy Orbison, Jeff Lynne, Bob Dylan e Tom Petty, o primeiro dos quais,último disco em que colaborou Roy, é uma verdadeira pérola.
Descuidada, porém, nunca foi a sua faceta filantrópica, assumindo-se sempre como cidadão do mundo consciente e irmão.
Foi um dia muito triste, aquele em que soube da sua morte, embora já fosse esperado. Afinal, foi ao som da sua guitarra que decorreu a minha adolescência.
Mas ficará sempre Something que o recordará


George2

quarta-feira, outubro 19, 2005

Blue Eyed Blues


Longe vão os tempos do grande “boom” dos blues na velha Inglaterra, nos anos 60, época em que floresceram grupos que se esmeravam em cumprir à risca o código “bluesiano”, e dos quais emergiram grandes nomes, como Eric Clapton ou Stevie Winwood, Eric Burdon ou Peter Green. Faziam parte do que se designou de “Blue Eyed Blues”, e da corrente constavam outros nomes, que por cá nunca tiveram grande reconhecimento, apesar de terem tido trabalhos de elevada craveira, como os Graham Bond Organisation, grupo onde se iniciaram Jack Bruce e Ginger Baker, ou os Savoy Brown

Savoy Brown - Tell Mama
Lembro que na altura, os puristas eram quase fanáticos, e se Clapton abandonou os Yardbirds, foi por entender que se estavam a afastar das raízes. Curiosamente, ele próprio fez, ao longo da sua já extensa carreira, muitas cedências, e tal valeu-lhe tantas críticas como as que ouviu Dylan quando se decidiu a electrificar o seu political-folk, tornando-o um folk-rock que demorou a ser aceite.
Na altura, e como já referi, era vulgar os grandes bluesmen americanos serem apoiados por grupos ingleses quando faziam tournées na velha Albion, mesmo quando os grupos já eram reputados, como aconteceu com Sonny Boy Williamson e os Yardbirds, em 1966, aproveitando quase sempre para gravar um álbum que assinalasse o evento. Geralmente, são discos muito ricos, frutos de visões diversas, mas complementares.
Actualmente, as opções divergiram muito desse campo, e se na Grã-Bretanha ainda se tocam muitos “blues”, suponho que é por subsistirem nomes como Eric Clapton ou Mark Knopfler, Georgie Fame ou Van Morrison (este, actualmente mais chegado a uns Irish Blues, se assim se pode chamar à sua música), ou quando alguns elementos dos velhos grupos se reúnem para uma jam-session, como aconteceu há uns anos atrás com os Yardbirds e os Pretty Things, sessão da qual saiu um álbum bastante curioso (PrettyThings/Yardbirds Blues Band), e que servem de incentivo a alguns cultores do género, que já serão quase só ouvintes.
Creio no entanto que o respeito e o prazer que os Blue Eyed bluesmen têm ainda hoje quando tocam com os velhos bluesmen negros, se mantem inalterável. Prova disso é um disco saído no ano passado, em que Clapton toca com visível alegria junto com o monstro sagrado, B. B. King, e em que parece recuperado de todas as mazelas, e os seus blues, voltado às origens
B.B. King & Eric Clapton - Come rain or come shine

Esta menor atenção que os blues hoje merecem por parte dos músicos brancos, principalmente na Europa, acaba por causar alguma tristeza aos amantes deste tipo de música que vêm assim as opções de escolha limitadas, isto apesar de nos EUA se continuar, e bem, a tradição.
Porque lá, vão aparecendo tipos como Jonny Lang, um jovem músico fantástico, aparecido há poucos anos e que gravou o seu primeiro álbum a solo, Lie to Me, com a espantosa idade de 15 anos.

JonnyLang

Jonny Lang - Lie to me

A apoiar esta minha “quase-decepção” está o facto de no último ano só ter conseguido adquirir, em termos de novidades em blues, um cd de Carey and Lurrie Bell (Second Nature) e um, já de 2003, do jovem Lang.
Uma nota à margem do que escrevi: dos bluesmen, muitos são extraordinários guitarristas, como B.B. King, Albert King, Buddy Guy e tantos outros cuja perícia é lendária, fruto de anos de trabalho árduo. Antes, um guitarrista que se prezasse, sabia todas as escalas dos blues, e orgulhava-se disso, fazendo alarde do seu virtuosismo em jam-sessions memoráveis, algumas perpetuadas em disco. Hoje, tudo é diferente. Ainda há uns tempos li, um pouco espantado, devo confessar, numa entrevista concedida por um dos elementos de um dos grupos actualmente mais em moda – os Franz Ferdinand, que já editaram dois álbuns de muito boa qualidade – que um ano antes de editarem o 1º trabalho, ainda não sabiam que instrumento cada um iria tocar.
Ora tal afirmação levou-me a concluir que, das duas uma: ou todos eles sabiam tocar muito bem todos os instrumentos, ou nenhum deles sabia tocar nenhum. Como considero que a 1ª hipótese pouco verosímil, só tenho que concluir que os computadores fazem milagres.
Yardbirds2

sábado, outubro 15, 2005

Canções...diferentes III - Tiny Tim

Este “fenómeno” apareceu em fins de 68, mas trazia já atrás de si mais de 10 anos de carreira, embora num registo diferente do que o levou até aos tops com esta canção. Tiny Tim era um bom barítono e um tocador de ukelele de mérito, mas nunca sobressaindo.
Até que se decidiu adoptar o falsetto amaneirado, que aliado ao seu aspecto estranhíssimo – era um latagão de quase 1,90m e nariz proporcional – formava um conjunto improvável, picaresco. E transformou-se, com Tip-toe through the tulips, num instant-hit.
E não se pode dizer que não tivesse aproveitado a onda, uma vez que lançou quase de seguida 3 álbuns, um deles com canções para crianças, tendo sido mesmo convidado para o maior festival pop de 1970, na Ilha de Wight.
A carreira de Tiny Tim prosseguiu até à sua morte, em 1996, de forma bastante curiosa, com uma estadia de alguns anos na Austrália pelo meio, e com presença em alguns dos mais conhecidos shows de tv como Howard Stern ou Conan O’Brien, nunca voltando aos píncaros dos fins dos anos 60, mas também sem nunca ter caído completamente no esquecimento. Era um razoável entertainer – foi mais por isso que como músico que foi convidado para Wight – e a sua voz permitia-lhe fazer duetos consigo próprio – falsetto/barítono – espectáculo curioso que era bastante apreciado, bem como em relação à sua perícia com o ukelele (foi durante um festival de ukelele que sofreu um ataque cardíaco, cujas sequelas o deixaram debilitado de tal forma que não sobreviveu ao 2º, ocorrido alguns meses depois)
Aqui, há mais sobre ele. Se acharem que vale o trabalho.


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terça-feira, outubro 11, 2005

Woodstock 69 - A verdadeira Utopia


Há uns tempos atrás, saiu uma edição de 4 discos, comemorativa dos 25 anos do 1º festival de Woodstock, em 1969. Ouvi e verifiquei que era mais completa do que as anteriores, embora mesmo assim tivesse algumas lacunas assinaláveis, por isso, comprei-o
Woodstock ficará para sempre como um marco, não só na história da música popular, mas também na da juventude de todo o mundo, podendo ser talvez considerado o culminar de um ano de contestação por excelência, à guerra do Vietname, à discriminação racial, na sequência dos recontros de Maio de 68 em Paris.
Pessoalmente, foi um ano muito importante, e por isso terá sempre um lugar especial no meu livro de memórias, e não decerto, por ter sido o da primeira alunagem.


Talvez o filme mais emblemático desse ano, para todos nós que o vivemos, tenha sido o Easy Rider, e o seu hino principal, “Born to be Wild”, dos Steppenwolf, que encerrava em si o desejo de liberdade de toda uma geração.
Voltando ao festival que dá mote ao texto, realizou-se ele num Agosto em que andava por terras de Santarém, longe de todos, saudoso de casa e da família, e mais ainda, como muitos da minha idade, frustrado por não poder partilhar aqueles dias de magia onde estariam presentes quase todos os grandes nomes da cena musical de então, alguns já quase esquecidos, como
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John B. Sebastian, fundador dos Lovin’ Spoonful, uma das bandas de top da West Coast a par dos Jefferson Airplane de Grace Slick, ou os Canned Heat com o seu boogie-woogie incomparável, Country Joe and the Fish, os Grateful Dead.

Jefferson Airplane – Somebody to Love

Outros, vivos ou mortos, permanecem bem nítidos, como Jimi Hendrix que nesse concerto conseguiu uma das suas mais mediáticas aparições públicas, ou Janis Joplin, que teve uma récita memorável. Estupidamente como tantos outros, desapareceriam no ano seguinte.
Uma das aparições que mais me fascinaria seria a dos Who, que representavam muita da irreverência da geração dos 60, principalmente através das sempre coloridas aparições do seu baterista, Keith Moon, e do solista Pete Townshend

The Who – I can’t Explain

Aquele, foi um tempo estranho. O tempo em que, candidamente, ainda acreditávamos que o amor poderia ser livre, que as comunidades hippies seriam o futuro da humanidade. Mas a ingenuidade foi-se perdendo e as esperanças num universo mais fraterno ficariam pelo caminho.
Mas apesar de tudo, a utopia permanece
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sábado, outubro 01, 2005

Dia Mundial da Música

Dia Mundial da Música


Determinaram que o 1º de Outubro fosse o Dia Mundial da Música. Para quem gosta de música, seria desnecessária a efeméride, porque todos os dias são dias de música.
De qualquer forma, decidi assinalá-la de alguma forma, e assim decidi que durante os próximos dias, iria aqui deixar nota de alguns álbuns e canções que de algum modo marcaram épocas diferentes da minha vida. Se toda a música que aqui tenho deixado faz parte das minhas preferências, digamos que estes são os meus mais entre os mais.


Beatles – A day in the life

A última faixa do album Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band, é o climax de um album que ficará para sempre na história da música pop, e uma das obras máximas do génio de John Lennon. Antecedido por duas jóias de grande valor como Rubber Soul e Revolver, se não se poderá determinar qual o melhor álbum dos Beatles, o Sgt. Peppers é com certeza o mais marcante. Uma mistura sem precedentes de musica pop com música clássica, psicadelia, music-hall e rock, um fio condutor que transforma a obra no que é considerado o 1º álbum conceptual de sempre.
Reza a lenda que o álbum, pela sua excelência, mas particularmente pela que continha de inovação, terá sido, infelizmente, determinante no agudizar dos graves distúrbios mentais de Brian Wilson, alma-mater dos Beach Boys, o prodigioso músico autor de Smile, frustrado por se ver permanentemente ultrapassado.


David Sylvian – Forbidden Colours

Curiosamente, também a última faixa do álbum de David Sylvian, Secrets of the Behive, provavelmente um dos melhores da década de 80, saído em 87, o ano de outra obra da qual sou fã, Joshua Tree, dos U2.
A música do princípio dos anos 80 não me trouxe grandes motivos de satisfações, como aliás já acontecera com os anos 70 com o evento do glam rock e do disco-sound, e posteriormente com o punk e pós-punk, que diga-se, quanto a mim só deu á luz 3 ou 4 nomes dignos de registo, e alguns de vida efémera, como os Clash ou os Smiths, os Joy Division ou Peter Murphy, Ian Dury ou os Talking Heads.
Diria que essa minha insatisfação talvez surja, não da falta de valores (se quisesse até poderia enumerar uma boa dúzia de nomes notáveis que entretanto apareceram, como os Roxy Music ou Kate Bush, os Dire Straits ou os Police e alguns neo-românticos), mas mais do facto de sentir que a minha época de descoberta tinha terminado. Depois, a vida profissional não me deixava, à altura, tanta disponibilidade de tempo como eu necessitava para ouvir tudo como gosto. Na altura, fui pois pela via mais fácil, seguindo quase só os que já conhecia e que me garantiam qualidade.
Do glam-rock surgira entretanto um grupo, os Japan, que nunca me chamar muito a atenção. Isto é, gostava de ouvir, mas não me fazia correr a comprar . Seria porém deles que emergiria David Sylvian, que juntamente com Sakamoto, compôs esta jóia, um dos mais esplêndidos álbuns que jamais ouvi. Uma obra de extremo bom gosto e à elegância da composição. Um sonho para se ouvir bem desperto.


R.E.M. - Nightswimming

Do album Automatic for the People dos R.E.M., 1992. Outro dos meus álbuns preferidos, um disco que se ouve do princípio ao fim, e no qual a dificuldade está em escolher qual a melhor faixa. Uma obra melancólica, por vezes dorida, mas de uma beleza extrema. Um disco coerente, que tirou as dúvidas que me tinha deixado Out of Time, e que de certo modo me varreu alguma desilusão que este me deixara. E a voz de Michael Stipe no seu melhor.