Chegar a casa e não ter lugar à porta porque a obra que mais se assemelha a Santa Engrácia do vizinho da Casa ao lado ainda não terminou e os Senhores trazem carrinhas e mais carrinhas, todas grandes, e ocupam os melhores lugares.
Deixar o carro lá ao fundo, a praguejar, pois claro, trazer o ovo, a minha mala, a mochila dela, o saco de compras (vá lá que eram só sacos do lixo e gressinos) numa mão e o miúdo na outra, debaixo de um sol abrasador, ainda que fossem só cinco e meia da tarde...
Entrar em casa, um calor insuportável até que o Ar Condicionado (bendito inventor...) começasse a bombar, pousar a miúda na espreguiçadeira, acordadíssima, e abrir a porta para ele se ir molhar no balde do jardim.
Descascar batatas, uma cenoura, uma cebola e espinafres e pôr a sopa a cozer.
Tirar loiça da máquina e pôr a mesa.
Desligar a sopa, subir com ela à tiracolo para banho, gritar por ele, várias vezes.
Encher a banheira para ele. Encher a banheira para ela.
Chamar por ele mais cem vezes.
Dar banho a ela.
Chamar por ele outra vez.
Vesti-la.
Pousá-la e descer, em brasa, e trazê-lo debaixo de gritos e choro.
Birra no auge. Ele chora, ela chora. Ele grita. Não se quer sentar. Toma banho de pé. Duche. Debaixo de gritos. Berros, aliás. Ela chora. Tirá-lo da banheira à força. Limpá-lo a correr e a suar.
Pô-lo de castigo na cama, e daí não sais enquanto eu não disser, vestir o pijama e limpar-lhe o ranho do choro ao mesmo tempo.
Mandar sms ao papá a perguntar previsões de saída.
"Chego às oito".
Pensar no jantar dele. Pensar no nosso.
Ele chora. Ela chora.
Dou-lhe de mamar para ver se acalma.
Ele cala-se.
Descemos todos.
Ela acorda e recomeça a chorar.
Sento-o à mesa, com ela ao colo e dou-lhe a sopa. Ele come sem piar. Vá lá...
Ela chora.
Faço-lhe um ovo mexido e ele come com gressinos.
Chaga o papá.
Ela chora.
O papá agarra-se ao fogão e ela entretanto adormeceu.
Jantamos em sossego. Momentâneo.
Ela acorda.
Já tem fome outra vez.
Subo e toca a alimentá-la outra vez.
Hoje chorei.
Bolas, que isto cansa....