SER CONSERVADOR : A VERSÃO ANGLO-SAXÓNICA - 5
"Os conservadores são mais propensos do que os 'liberais' a apreciar a função latente das instituições talvez porque tendem precisamente a preocupar-se mais com a estabilidade e aquilo que a pode perturbar e porque têm uma visão orgânica da sociedade. Quem se preocupa principalmente com os direitos e as necessidades individuais e pensa em termos de padrões racionais é natural que preste menos atenção a essas funções latentes.
Se a complexidade da sociedade e da ordem política era uma das razões pelas quais Burke temia as mudanças radicais e rápidas, havia para tal temor uma segunda razão, igualmente poderosa, que residia nas suas reservas quanto ao motor da mudança que era proposto: o papel da razão nos assuntos humanos. Burke rejeitava a ideia Iluminista do homem como um ser predominantemente racional, calculador, lógico. O seu lado racional existe, mas é uma pequena parte da totalidade da sua constituição. 'Tememos - dizia Burke - pôr os homens, um a um, a viver e tratar apenas com a sua porção própria de racionalidade, porque suspeitamos que que essa porção é escassa em cada um deles.' O hábito, o instinto, o costume, a fé, a reverência, o preconceito - o conhecimento prático acumulado através da experiência, tudo isto era mais importante do que o raciocínio abstracto. Colectivamente, e para bem como para mal, era essa a natureza humana.
Burke não era o primeiro a exprimir estas convicções. O grande filósofo escocês David Hume tinha insistido, uma geração antes, na importância do hábito e do costume. E um ano ou dois antes dos escritos de Burke, os fautores da Constituição Americana e autores dos Federalist Papers, do outro lado do Atlântico, já insistiam em que na construção de uma ordem política era preciso ter totalmente em conta os aspectos agressivos, egoistas e aquisitivos da natureza humana. 'É preciso estar muito perdido em especulações utópicas', achava Hamilton, 'para esquecer que os homens são ambiciosos, vingativos e rapaces.'
Owen Harries, "What Conservatism Means", The American Conservative, Novembro de 2003
Se a complexidade da sociedade e da ordem política era uma das razões pelas quais Burke temia as mudanças radicais e rápidas, havia para tal temor uma segunda razão, igualmente poderosa, que residia nas suas reservas quanto ao motor da mudança que era proposto: o papel da razão nos assuntos humanos. Burke rejeitava a ideia Iluminista do homem como um ser predominantemente racional, calculador, lógico. O seu lado racional existe, mas é uma pequena parte da totalidade da sua constituição. 'Tememos - dizia Burke - pôr os homens, um a um, a viver e tratar apenas com a sua porção própria de racionalidade, porque suspeitamos que que essa porção é escassa em cada um deles.' O hábito, o instinto, o costume, a fé, a reverência, o preconceito - o conhecimento prático acumulado através da experiência, tudo isto era mais importante do que o raciocínio abstracto. Colectivamente, e para bem como para mal, era essa a natureza humana.
Burke não era o primeiro a exprimir estas convicções. O grande filósofo escocês David Hume tinha insistido, uma geração antes, na importância do hábito e do costume. E um ano ou dois antes dos escritos de Burke, os fautores da Constituição Americana e autores dos Federalist Papers, do outro lado do Atlântico, já insistiam em que na construção de uma ordem política era preciso ter totalmente em conta os aspectos agressivos, egoistas e aquisitivos da natureza humana. 'É preciso estar muito perdido em especulações utópicas', achava Hamilton, 'para esquecer que os homens são ambiciosos, vingativos e rapaces.'
Owen Harries, "What Conservatism Means", The American Conservative, Novembro de 2003
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