Meu amor,
Não tenho
palavras para te poder dizer o que senti quando te reencontrei, quando os teus
olhos pousaram de novo nos meus. Foi uma magia que não findou. Um torpor
apoderou-se de mim e enrubesci. Tu, malandro, sorriste.
Imaginei,
mil vezes, o momento de te mostrar como tudo era tão irreal, depois do
afastamento a que nos obrigámos, porque as nossas vidas eram paralelas, mas
intocáveis.
Naquele
momento a tua voz travou e regressaste a um passado sonhado, mas não realizado.
Vi-te
tombar, sem conseguires balbuciar uma única palavra. O meu coração parou,
momentaneamente, com o teu.
Agora olhas
para mim, dessa cama a que te lançaram como se fosses um fardo de palha, e
sorris. Onde está a tua força? Aquela que me davas, quando desabafava contigo a
desgraça em que a minha vida se tornara?
Quero voltar
a abraçar-te. Quero que vivas, por mim, pelo nosso amor. A tua luta é a minha
luta. Sei que vais voltar à realidade, à nossa realidade, porque nos amamos.
Lembras-te
daqueles belos pôr-do-sol que vimos, sempre que passeávamos pelo passadiço? As
nossas mãos, carentes e quentes, colavam-se como se fossem uma só.
Desejo
reviver esses momentos contigo e, agora que os nossos impedimentos terminaram,
não te vais deixar abater. Estou e estarei sempre a teu lado.
Tudo isto
deveria dizer-te ao ouvido, que gosto de mordiscar nos momentos da nossa maior
intimidade. No entanto, é mais fácil escrever-te porque, neste momento, é menos
constrangedor. A tua vida está presa por um fio e sabes disso, mas só tu podes
fazer com que esse fio não quebre. Ergue-te!
Alguém (não
eu), te irá ler esta carta. Estou a ver-te sorrir e as máquinas, a que te
encontras ligado, dispararam velozmente.
Sei que és
um vencedor. Sempre o foste.
AR.
Natália Vale
2018.01.30
Linda carta de amor.Nunca li um livro teu, mas hei-de conseguir.
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