DISCURSO DE POSSE
NA ACADEMIA DE CIÊNCIAS DO PIAUÍ
Proferida por Maria Dilma Ponte de Brito
Parnaíba – Piauí / 15.01.2009
Devo iniciar minhas palavras com um solene
juramento diante dos senhores e senhoras acadêmicos e da platéia que nos
agracia com a sua presença. Prometo honrar e dignificar esta Academia, sua
missão, seus princípios e seus objetivos e buscarei, na medida do possível,
corresponder à confiança que me foi depositada. Prometo também assumir o
desafio de responder com eficiência aos propósitos desta Casa e dedicar-me com
ardor e trabalho à tarefa de dividir com cada um dos que fazem esta Academia o
melhor do meu conhecimento, dedicação, disponibilidade e entusiasmo. Esta
promessa é a sincera expressão do meu sentimento de gratidão pela generosidade
da minha escolha.
Permitam-me mencionar o cientista,
astrônomo e biólogo, norte – americano Carl Edward Sagan ao dizer:
“Habitamos
um universo onde os átomos são formados no centro das estrelas; onde a cada
segundo nascem mil sóis; onde a vida é lançada pela luz solar e acesa nos ares;
onde a matéria-prima para a evolução biológica é algumas vezes obtida de uma
explosão de uma estrela na outra metade da Via-Láctea; onde algo belo como uma
galáxia é formada cem bilhões de vezes; onde pode haver buracos negros, outros
universos e outras civilizações extraterrestres. Muito pálidas, pela
comparação, são as pretensões das superstições e pseudociências. Como é
importante para nós nos dedicarmos a entender a ciência, esforço este caracteristicamente
humano”.
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Ratificando as palavras do
cientista, enfatizo a importância do homem direcionar seus esforços para entender
e produzir a “ciência”. A Academia de Ciências tem o singular papel de fomentar
em todos os ambientes o interesse pelo conhecimento científico, quer nos meios
acadêmicos onde são desenvolvidas as pesquisas, até em lugares remotos na motivação
de crianças e jovens.
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Deus deu ao ser humano à
extraordinária capacidade de usar a inteligência, o raciocínio, a curiosidade,
a sabedoria, a possibilidade de transmissão do aprendizado acumulado,
propiciando o conhecimento científico e tecnológico desenvolvido através de
pesquisas e estudos científicos. Cada um de nós, em conseqüência, é chamado a
participar, dentro de sua área específica, a contribuir com seu esforço e
trabalho para que a Ciência cumpra seu fundamental papel na construção da
sociedade.
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Fazer parte da Academia de
Ciências do Piauí, que reúne grandes intelectuais e cientistas com o propósito
de fortalecer o desenvolvimento da Ciência, da Tecnologia e da Cultura de nosso
Estado, é sem dúvida experimentar de inúmeros sentimentos: o orgulho, a
responsabilidade e o comprometimento de multiplicar os esforços que já venho
dedicando à produção científica.
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Honra-me, sobretudo tomar assento na Cadeira número
36 da Academia de Ciências do Piauí, que tem como Patrono, o meu conterrâneo, Simplício
Dias da Silva, cuja biografia passo a relatar.
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Simplício Dias da Silva, filho do afortunado português
Domingos Dias da Silva, e de Claudina Josefa, nasceu na cidade de Parnaíba,
então Vila de São João da Parnaíba, no dia 02 de março de 1773, conforme está
registrado na lápide da Matriz da Catedral de Nossa Senhora da Graça, onde ele
está sepultado. Aos 12 anos de idade foi estudar em São Luís, capital do
estado do Maranhão, por ser um centro melhor em educação e aos 15 anos deu
continuidade aos seus estudos em Portugal, precisamente na cidade de Coimbra.
Antes de retornar ao Brasil ele conheceu toda a Europa, fazendo muitas amizades
e sendo sempre bem recebido por onde passava. De volta à sua terra natal, como oficial
de Milícia preparou seu próprio exército e como amante da música encaminhou
vários filhos de escravos para Portugal que ao retornarem como músicos formaram
orquestra de salão e bandas, incentivados e apoiados por Simplício Dias. Em
1804, ele solicitou do Governador da Capitania de São José do Piauí, juntamente
com outros comerciantes a criação de uma Alfândega para Parnaíba e o comércio
direto com Portugal. Sendo criada apenas em 1817, por D.João VI, com o nome de
Inspeção do Algodão.
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Homem rico e
poderoso, possuidor de muitas terras e muitos escravos, amigo de D.Pedro, o que
lhe levou a proclamar corajosamente a independência do Piauí, no dia 19 de
outubro de 1822, atendendo e respeitando os ofícios de D.Pedro que queria a
nomeação dos Deputados Provinciais para a Corte do Brasil. Assim, Simplício
Dias, proclamou na Praça da Graça, no largo da Matriz de Nossa Senhora da
Graça, a Independência do Brasil, no Piauí, apoiado nesse feito por uma
comitiva de patriotas, entre os quais, Dr. João Cândido de Deus e Silva, José
Francisco de Miranda Osório, Leonardo de Carvalho Castelo Branco, Joaquim
Timóteo de Brito, Bernardo Antônio da Silva Henrique, Bernardo de Freitas
Caldas, Manoel Antônio da Silva Henrique, Ângelo da Costa Rosal.
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Parnaíba, na
época de Simplício Dias, cresceu economicamente e por isso e por tudo que foi
dito e não dito para evitar delonga, a cidade rende homenagens ainda hoje, a
esse grande homem, que faleceu há 180 anos, precisamente em 17 de setembro de 1829,
dando o seu nome à Ponte que une Parnaíba a Ilha Grande de Santa Isabel, a
escolas, e própria Academia de Ciências do Piauí lhe prestigia como Patrono da Cadeira
36.
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A ciência é para ser usada em beneficio
do homem e essa é uma questão muito importante. Difundir
o conhecimento de forma que os cientistas e quem a
utilizem possa praticar a ciência do bem.
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Eis-me aqui
caros, acadêmicos, senhores e senhoras, numa noite memorável, agradecida pela
confiança que vocês me depositaram ao eleger-me ocupante da Cadeira de
Simplício Dias. Pronta para honrar o compromisso ético e moral de bem
dignificar o dever aqui assumido. Como professora e mestranda em educação estou
cotidianamente, buscando conhecimentos e técnicas com o propósito de contribuir
com informações ou deixar posto resultados e conclusões para serem usados qualitativamente,
essa é a intenção.
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Na sociedade
atual, era do conhecimento, marcada pela globalização, Skinner nos adverte que:
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"O poder do homem
parece ter aumentado desproporcionalmente à sua sabedoria. Nunca esteve antes em melhor posição de construir um
mundo sadio, alegre e produtivo; contudo, as coisas nunca pareceram tão difíceis."
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Cada cidadão tem sua parcela de responsabilidade no espaço que ocupa e
os acadêmicos que fazem parte desta casa, detentores de poder, de capacidade,
de sabedoria, têm a responsabilidade maior de incentivar a construção de um mundo
sadio, sem as dificuldades que são impostas pelo egoísmo. Tenho certeza disso,
porque honram os estatutos desta academia. É assim que me proponho como o mais
novo membro dessa casa procurar corresponder aos votos que me foram concedidos
e que me consagram imortal.
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Antes de concluir esta oratória, quero abordar a importância do
trabalho conjunto e do diálogo entre os intelectuais, mesmo com aqueles que
fazem parte de outras academias, mesmo quando enfocam objetivos diferentes.
Ocupo a Cadeira número 28 da Academia Parnaibana de Letras e brevemente estarei
tomando assento no Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico da Parnaíba. Comprometo-me
a ser o elo entre estas instituições se os nobres Acadêmicos assim me
permitirem, porque entendo esse diálogo benéfico para a vida cultural do país.
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Minhas palavras finais são novamente de agradecimentos. Agradeço especialmente a Herculano Moraes, o
jornalista, poeta e escritor, o caçador de talentos, o homem de visão, que
percorre todo o nosso estado, difundido a cultura, criando academias, e que
como um passe de mágica o encontrei gratuitamente em meu caminho para me conduzir
e me incentivar a continuar trilhando o mundo das letras, da pesquisa, da
comunicação. Agradecimentos especiais dispenso ao Professor Dr. Luis de Sousa
Santos Junior, Reitor Universidade Federal do Piauí, da qual sou ativa no
quadro docente. Homem inteligente, competente, que arregaça as mangas, que
trabalha e que me recebeu nesta casa, traçando o meu perfil e contanto minha
história de uma forma tão calorosa. Nesta casa tenho amigos de profissão, como
os professores universitários, Rômulo José Vieira, Pedro Leolpodino Ferreira
Filho, Iveline de Melo Prado, Maria Nilza Oliveira de Carvalho, Fabiano de
Cristo Rios Nogueira pessoas queridas que muito estimo. O Professor Dr. Jônathas
Nunes foi Reitor da Universidade Estadual do Piauí - UESPI, tempo em que fui
professora e assessora técnica desta instituição de ensino superior e que nele
muitas vezes me espelho pela sua sabedoria, na UESPI também tive o prazer de
conviver com a competente professora Valdira de Caldas Brito Vieira, pessoa de
inteligência privilegiada. Não posso deixar de mencionar neste instante o acadêmico
Viriato Campelo que se destaca brilhantemente como médico sanitarista e o companheiro
de Lions Clube, Gisleno Feitosa, homem solidário e médico renomado; fazem parte
dessa Academia amigos, pessoas muito especiais como o engenheiro Cid Castro
Dias, o perito Vital da Cunha Araújo, o economista Homero Castelo Branco, o Deputado
Wilson Nunes Brandão, o proprietário do Colégio Pro Campos, Clementino Siqueira,
o maestro Emmanuel Coelho Maciel, entre outros. Enfim agradeço a todos que
agregam valores a essa casa e que não citei seus nomes porque somente hoje
passaram a fazer parte do meu convívio. Estou certa, porém que laços de amizade
surgirão, porque lutamos pelos mesmos ideais e temos os mesmos objetivos. Agradeço
a generosa acolhida que me foi dispensada. Obrigada!
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Com a sensação de que ainda falta muito a dizer e que não agradeci o
suficiente, sobretudo a Deus, concluo minhas palavras, envolvida pelas mais
fortes das emoções que já vivenciei nos últimos tempos, invocando o escritor,
pesquisador e conferencista, Louis Berlinguet, ao dizer:
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"No
passado, o pequeno grupo de cientista que com grande dificuldade, examinaram as
primeiras leis do nosso universo, estava circundado pela sociedade. Com a
expansão do conhecimento, nas palavras de Pierre Fayard, houve uma revolução
coperniciana que tende a fazer com que a ciência gire em torno do público, e
não o contrário. Hoje, quer queiramos ou não, estamos todos envolvidos no nosso
quotidiano pela ciência e pela tecnologia. Desse modo, é melhor tentar conquistá-las
do que permanecer passivo face ao seu desenvolvimento”