Não faz sentido encarar mais um
Dia Mundial da Saúde sem fazer um balanço do que se passa no sector, e
especialmente se estamos a melhorar a qualidade dos serviços prestados, ou se
pelo contrário estamos a descurar os cuidados de saúde dos portugueses.
Começando pelo número de camas de
internamento nos hospitais públicos, temos uma clara diminuição das mesmas, em
contraste com o aumento das dos hospitais privados.
Falando de qualidade temos que os
internamentos no serviço público foram em 95% dos casos em enfermarias, já nos
hospitais privados 61% dos internamentos foi feita em quartos privados.
No atendimento de situações
urgentes houve uma ligeira diminuição no serviço público, que mesmo assim
esteve com os serviços a rebentar pelas costuras em diversas épocas do ano, e um
aumento significativo das urgências no sector privado que quase duplicou esse
atendimento.
Se o número de centros de saúde
pouco diminuiu, a verdade é que as urgências básicas e os serviços de
atendimento permanente ou prolongado foram reduzidos em mais de 60%.
Sendo esta a situação actual,
mesmo que em traços bem largos, podemos concluir facilmente que a situação está
pior para os que mais necessitam do Serviço Nacional de Saúde devido à sua
situação socioeconómica, para os que vivem longe dos grandes centros
populacionais, para os mais idosos e para todos os que não podem pagar bons
seguros de saúde.
Em termos práticos e numa
linguagem simples, a grande maioria dos cidadãos está mais mal servida, os
grandes grupos económicos detentores dos hospitais privados, e das companhias
de seguros, prosperam à custa da saúde e do erário público por abandono por
parte do Estado no investimento no sector, não garantindo assim a igualdade de
direitos a todos os portugueses em termos de saúde.
“É coisa preciosa, a saúde, e a
única, em verdade, que merece que em sua procura empreguemos não apenas o
tempo, o suor, a pena, os bens, mas até a própria vida; tanto mais que sem ela
a vida acaba por tornar-se penosa e injusta.
Michel de Montaigne