Atualmente são complexos os processos de recrutamento dos treinadores no futebol profissional europeu, procurando diminuir a possibilidade de erro. Escolher um treinador no escuro já não é compreensível, nem admissível, mas foi isso que fez André Villas-Boas quando optou por promover de forma leviana Vítor Bruno a treinador principal. Foi uma decisão amadora, sem racional absolutamente algum e que está agora a sair muito cara.
Vamos aos factos: Villas-Boas escolheu Vítor Bruno sem saber nada de Vítor Bruno. Ninguém sabia se Vítor Bruno tinha unhas para ser treinador principal do FC Porto, porque Vítor Bruno nunca tinha sido treinador principal. Villas-Boas nem sequer conhecia Vítor Bruno, deve ter tido meia-dúzia, se tanto, de conversas com Vítor Bruno. Uma coisa seria, por exemplo, Villas-Boas escolher um adjunto de uma equipa técnica presidida pelo próprio Villas-Boas, em que havia um ano, dois de convivência, de conhecimento, de conversas, em que se podia avaliar com proximidade as competências desse adjunto e então promover uma subida a principal com o mínimo de certezas, outra coisa foi fazer uma aposta no escuro, sem conhecimento, que foi o que aconteceu.
Tratou-se de um erro colossal, ainda por cima muito prolongado no tempo, quando toda a gente já tinha percebido que infelizmente Vítor Bruno não tinha ainda as capacidades necessárias para dirigir um clube como o FC Porto. E as consequências desse erro não terminam com o despedimento desta madrugada, pois se o FC Porto não conseguir pelo menos o segundo lugar e apuramento para as qualificações da Champions fica desde já hipotecada também parte da próxima época.
Vítor Bruno começou muito bem, com a mais extraordinária recuperação que eu vi uma equipa do FC Porto fazer na conquista da Supertaça, mas depois foi sempre a descer, com uma sucessão de maus jogos, ao mesmo tempo que o presidente se limitava a propaganda em benefício da própria imagem, ao mesmo tempo que desaparecia de cena sempre que havia um resultado negativo (até hoje Villas-Boas nunca deu a cara após um resultado frustrante).
Não nos enganemos, estamos nesta situação não por culpa de Vítor Bruno, mas sim por culpa das más decisões de Villas-Boas, que está a mostrar um grau de impreparação no setor em que todos apostávamos que ele estaria mais à vontade, que é a gestão desportiva.
Apesar do desgaste de sete temporadas, apenas a última com um mau desempenho no campeonato (mas bom desempenho na Champions e com uma saborosa vitória na Taça), tínhamos um excelente treinador, que era uma garantia de competitividade, de rigor, de trabalho, de exigência. Era ao mesmo tempo um treinador difícil, porque para ele há tanta coisa inegociável na constante ambição de vencer que não é fácil lidar diariamente com aquele nível de exigência, mas optar pela solução mais fácil vai provavelmente sair muito caro.
Isto para não falar de decisões colaterais sem qualquer sentido, como foi emprestar Francisco Conceição, ele que na segunda metade da época foi o melhor jogador da equipa. Já muitas vezes ficamos sem o melhor jogador da equipa, mas porque foi transferido por muitos milhões, o que depois permitia reinvestir, mas desta vez preferimos emprestar, o que também foi uma decisão lesiva dos interesses da equipa. O departamento de propaganda, através das dezenas de bots que controla nas redes sociais fez passar que o jogador é que quis ir embora, como se a vontade dos jogadores prevalecesse sobre os contratos, mas as palavras de Villas-Boas na altura não deixam dúvidas: “Há sempre uma ligação emocional ao pai e, perante a escolha técnica que fizemos, com o seu anterior adjunto, decidimos que era melhor para todos que ele fizesse este ano por empréstimo”, disse Villas-Boas.
Outra decisão colateral lesiva dos interesses do FC Porto foi a decisão de não ficar com Pepe, um central já muito veterano, que numa análise séria já não teria capacidade para fazer mais do que uma percentagem talvez não superior a metade dos jogos, mas que era uma garantia de qualidade, que tinha acabado de fazer um sensacional europeu, e que podia ajudar quer no relvado, quer no balneário, quer no campo de treinos. A verdade é que temos uma defesa que roça o patético e por muito bons que fossem os relatórios de scouting ainda ninguém percebeu porque se aceitou pagar a enormidade de milhões por Pérez (voltei a ficar com a sensação que não jogou em Barcelos, não me lembro de uma ação defensiva relevante).
Aqui chegados, mais do que Vítor Bruno, quem tem de dar explicações aos sócios e arrepiar caminho é André Villas-Boas. O FC Porto não está melhor do que estava, está pior. Desportivamente está muito pior e o que está a acontecer na equipa B é gravíssimo, o que está a acontecer nas modalidades é gravíssimo.
Vocês acreditam que com Pinto da Costa havia um treinador a destruir um jogador na flash e pouco depois chegava resposta pelo Instragram? Jamais isso seria possível, porque com Pinto da Costa havia liderança, agora há propaganda.
O “milagre económico”, com sucessivas notícias plantadas de que foram pagos x e y milhões vai confrontar-se com a realidade quando forem apresentadas as contas e verificarmos todos em quanto está a dívida bancária.
Meus amigos, não é má vontade minha, a realidade é a que é. Villas-Boas e a equipa de Villas-Boas estão a falhar em tudo, exceto na propaganda, mas até nisso o tiro é errado, porque se tivessem usado estes meses para unir os sócios e adeptos estávamos agora muito mais bem preparados para enfrentar estes tempos difíceis, mas ele preferiu assumir a vingança de outros, o que só tem diminuído e fragilizado o FC Porto.
No fundo, há muita falta de liderança e quando vemos praticamente todas as nossas equipas em crise é porque acima há problemas graves. Oxalá seja possível refletir e mudar o rumo que está a levar à desagregação do FC Porto, como clube associativo, e a uma gigantesca crise desportiva, como nunca aconteceu em 42 anos de Pinto da Costa.
Esta é a minha análise, nunca me escondi, nunca hesitei em dar um passo em frente em defesa do FC Porto, mas feita esta avaliação, que é muito crítica de Villas-Boas e da equipa que o acompanha, voltarei apenas quando houver novo treinador. Estamos num momento decisivo, a direção foi eleita para tomar decisões, todos nós esperamos e desejamos que tome boas decisões, que o FC Porto se reagrupe e combata os verdadeiros inimigos, que são externos e não internos, como tem julgado a direção. Boa sorte para o treinador interino José Tavares, oriente a equipa muitos ou poucos jogos, e muita sorte para quem for escolhido para assumir a equipa. Já na quinta-feira há um jogo muito importante e irei ao Dragão apoiar, como faço sempre que posso.
PS: não está esquecida a auditoria e sobre isso muito há a dizer e a expor, porque é vergonhoso e falso dizer-se que Pinto da Costa comprou jóias com dinheiro do FC Porto. O responsável por isso é, mais uma vez, André Villas-Boas, que prefere passar mentiras à Tânia Laranjo (não interessa se é ele diretamente ou outra pessoa, ele é o responsável) do que defender o bom nome do clube e de quem o serviu de forma brilhante. Se as jóias foram compradas foi com salário e a direção de Villas-Boas sabe isso muito bem e com o próprio salário cada um de nós faz o que bem entende. Até podemos dizer que os salários eram altos de mais, mas não podemos inventar que era dinheiro do clube, só para construir popularidade à custa do melhor de todos nós. Mas voltarei a este tema em breve, porque há mesmo muito a dizer.
Sublinhados e destaques meus