Tenho
observado minha mãe.
Anda
calada , absorta em seu mundinho particular. Às vezes a olho e fico imaginando o que se passa pela sua cabeça. Vejo-a como uma chama que
se apaga lentamente.
Em certas
ocasiões um pequeno vestígio de brisa leve parece parece trazê-la de volta à realidade.
Não à nossa realidade, mas à realidade dela...
Não à nossa realidade, mas à realidade dela...
E então
é como se despertasse e seu subconsciente a alertasse que é preciso
voltar para casa.
E então
fica ansiosa como uma criança , e por vezes incontrolável nesse
seu desejo de voltar para o que considera “seu cantinho”.
E assim
passam-se os dias. A chama da vida a tremular, oscilante...
É
preciso sensibilidade e um coração aberto ao acolhimento para
perceber os valores que o idoso nos transmite mesmo através do seu
silêncio e apatia ou também na dor.
A sabedoria que vem de minha mãe já alquebrada pelos anos, que não são poucos, só a percebemos nós que estamos a seu redor diariamente. Para o resto da sociedade é como se ela não existisse.
Somente a convivência diária com um idoso pode nos dar a dimensão do que é “ficar velho”.
A sabedoria que vem de minha mãe já alquebrada pelos anos, que não são poucos, só a percebemos nós que estamos a seu redor diariamente. Para o resto da sociedade é como se ela não existisse.
Somente a convivência diária com um idoso pode nos dar a dimensão do que é “ficar velho”.
Por isso
reportagens como a que a TV transmitiu hoje pela manhã tem o dom de
me deixar indignada ao extremo e mexer com meu humor.
Não se
pode admitir que depois de quase uma centena de anos dedicados a uma
família, ao final da vida, idosos sejam tratados como seres inúteis
e empecilhos para a vida dos filhos.
Assim era
tratada dona Maria Júlia , trancada dentro de casa a semana toda e
visitada pela filha Míriam, apenas a cada três dias. Momento raro que vinha para
lhe trazer alimento como se fosse um animalzinho irracional e
indefeso.
Desta vez a idosa estava já há cinco dias trancafiada em casa e foi ouvida pelos vizinhos com gritos de “socorro”!
Desta vez a idosa estava já há cinco dias trancafiada em casa e foi ouvida pelos vizinhos com gritos de “socorro”!
A
situação já perdurava há pelo menos dois anos segundo depoimento
de vizinhos que, também não entendi bem porquê ,só agora
denunciaram esse crime bárbaro.
Melhor
que se apropriar da aposentadoria da mãe, como disse a reportagem,
seria que esse dinheiro fosse usado para os cuidados com a idosa que
vivia isolada , convivendo com a sujeira , fazendo parte da "mobília
velha" da casa.
Eu fico
indignada apenas em relatar tal fato. Imagino que um dia também
poderei estar na pele dessa “velhinha” e não gostaria de receber
esse tratamento de meus filhos. Um mínimo de respeito é o que todos
nós esperamos em situação de velhice dependente.
Sugiro a
quem for do interesse que vejam o vídeo completo sobre essa
reportagem aqui:
Muitos
abominam os asilos, tidos como lugares frios e impessoais. Algumas
experiências, nos passadas pela mídia, talvez acentuem esse nosso
conceito sobre asilos. Mas, acredito que haja os confiáveis, onde
melhor seria estar com pessoas que amenizem a solidão do idoso,
favoreça situações de lazer e melhor convívio social entre
pessoas da mesma faixa etária .
Ali
convivendo com outros na mesma situação de abandono de familiares
,podem se confortar entre si. Além de que certamente serão
alimentados regularmente , terão sua higiene pessoal bem cuidada
e sua saúde como alvo de tratamento prioritário.
Seria o idoso "enxergado", cuidado com carinho e não apenas visto como um objeto dispensável...
Seria o idoso "enxergado", cuidado com carinho e não apenas visto como um objeto dispensável...
“Como
eu disse, a convivência com os idosos é que nos dá dimensão do
que é envelhecer.
É preciso saber enxergar por detrás das rugas, das limitações, das ranhetices...”
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É preciso saber enxergar por detrás das rugas, das limitações, das ranhetices...”
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