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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Convivendo com idosos

Tenho observado minha mãe.
Anda calada , absorta em seu mundinho particular. Às vezes a olho e fico imaginando o que se passa pela sua cabeça. Vejo-a como uma chama que se apaga lentamente.
Em certas ocasiões um pequeno vestígio de brisa leve parece parece trazê-la de volta à realidade.
Não à nossa realidade, mas à realidade dela...
E então é como se despertasse e seu subconsciente  a alertasse que é preciso voltar para casa.
E então fica ansiosa como uma criança , e por vezes incontrolável nesse seu desejo de voltar para o que considera “seu cantinho”.
E assim passam-se os dias. A chama da vida a tremular, oscilante...
É preciso sensibilidade e um coração aberto ao acolhimento para perceber os valores que o idoso nos transmite mesmo através do seu silêncio e apatia ou também na dor.
A sabedoria que vem de minha mãe já alquebrada pelos anos, que não são poucos, só a percebemos nós que estamos a seu redor diariamente. Para o resto da sociedade é como se ela não existisse.
Somente a convivência diária com um idoso pode nos dar a dimensão do que é “ficar velho”.
Por isso reportagens como a que a TV transmitiu hoje pela manhã tem o dom de me deixar indignada ao extremo e mexer com meu humor.
Não se pode admitir que depois de quase uma centena de anos dedicados a uma família, ao final da vida, idosos sejam tratados como seres inúteis e empecilhos para a vida dos filhos.
Assim era tratada dona Maria Júlia , trancada dentro de casa a semana toda e visitada pela filha Míriam, apenas a cada três dias. Momento  raro  que vinha para lhe trazer alimento como se fosse um animalzinho irracional e indefeso.
Desta vez a idosa estava já há cinco dias trancafiada em casa e foi ouvida pelos vizinhos com gritos de “socorro”!
A situação já perdurava há pelo menos dois anos segundo depoimento de vizinhos que, também não entendi bem porquê ,só agora denunciaram esse crime bárbaro.
Melhor que se apropriar da aposentadoria da mãe, como disse a reportagem, seria que esse dinheiro fosse usado para os cuidados com a idosa que vivia isolada , convivendo com a sujeira , fazendo parte da "mobília velha" da casa.
Eu fico indignada apenas em relatar tal fato. Imagino que um dia também poderei estar na pele dessa “velhinha” e não gostaria de receber esse tratamento de meus filhos. Um mínimo de respeito é o que todos nós esperamos em situação de velhice dependente.

Sugiro a quem for do interesse que vejam o vídeo completo sobre essa reportagem aqui:

Muitos abominam os asilos, tidos como lugares frios e impessoais. Algumas experiências, nos passadas pela mídia, talvez acentuem esse nosso conceito sobre asilos. Mas, acredito que haja os confiáveis, onde melhor seria estar com pessoas que amenizem a solidão do idoso, favoreça situações de lazer e melhor convívio social entre pessoas da mesma faixa etária .
Ali convivendo com outros na mesma situação de abandono de familiares ,podem se confortar entre si. Além de que certamente serão alimentados regularmente , terão sua higiene pessoal bem cuidada e sua saúde como alvo de tratamento prioritário.
 Seria o idoso  "enxergado", cuidado com carinho  e não apenas visto como um objeto dispensável...


 “Como eu disse, a convivência com os idosos é que nos dá dimensão do que é envelhecer.
É preciso saber enxergar por detrás das rugas, das limitações, das ranhetices...”



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