Papers by Wagner Martins Madeira
Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso ISSN …, 2010
RESUMO A ficçao de José Saramago é deliberadamente sincrônica. Tempo e espaço diferentes, em pro... more RESUMO A ficçao de José Saramago é deliberadamente sincrônica. Tempo e espaço diferentes, em processo teleológico de fusao discursiva, configuram um presente contınuo. Tal procedimento se destaca nos romances em que o discurso religioso é ...
Revista Pandora Brasil-ISSN
Uma faceta pouco conhecida da vida de Monteiro Lobato aparece com força na correspondência trocad... more Uma faceta pouco conhecida da vida de Monteiro Lobato aparece com força na correspondência trocada com Godofredo Rangel: a do enxadrista, apaixonado pelo jogo milenar. Nos dois tomos intitulados A Barca de Gleyre, os dois amigos jogam xadrez postal, algo inimaginável ...
Modernismo: o lado oposto e os outros lados, 2022
Datas são pontas de icebergs. [...] As datas, como os símbolos, dão o que pensar. ALFREDO BOSI Du... more Datas são pontas de icebergs. [...] As datas, como os símbolos, dão o que pensar. ALFREDO BOSI Duzentos anos de história brasileira estão enfeixadas em três datas balizadoras: 1822, 1922, 2022. A independência de 1822 nem em tese prometia e de fato não cumpriu. Somos um país desde sempre dependente, a reboque econômico-político em tempos de Portugal, da Inglaterra, dos Estados Unidos. 1822 não empolga o brasileiro, que não se sente independente para comemorar sequer o feriado de 7 de setembro, ignorando o significado da data cívica. O grito do Ipiranga não encontrou eco, se tornando menos narrativa mítica de fundação do que motivo de riso de nossa "bisonhice histórica", segundo Matheus de Albuquerque. Ou paródia escatológica em chave de rebaixamento de uma celebração renegada, no poema de Murilo Mendes "A Pescaria", constante de
Além do riso: reflexões do humor em toda parte - Elias Saliba (org.), 2021
Linha D'Água, Jun 14, 1997

Uma faceta pouco conhecida da vida de Monteiro Lobato aparece com força na correspondência trocad... more Uma faceta pouco conhecida da vida de Monteiro Lobato aparece com força na correspondência trocada com Godofredo Rangel: a do enxadrista, apaixonado pelo jogo milenar. Nos dois tomos intitulados A Barca de Gleyre, os dois amigos jogam xadrez postal, algo inimaginável para um leigo da modalidade. Sim, leitor incrédulo, é possível fazê-lo, aliás, há séculos se faz. Hoje mais facilmente com a agilidade propiciada pelo correio eletrônico. Nas primeiras décadas do século XX, Lobato carregava seu tabuleiro a tiracolo onde estivesse-Areias, Caçapava, Rio de Janeiro, Santos, São Paulo, Taubaté-para disparar seus lances epistolares em direção ao amigo Rangel. Mais que xadrez em si, interessa aqui decifrar nas entrelinhas desse jogo que nunca tem fim o que pensa o homem e o escritor Monteiro Lobato. A propósito, lembro aqui do historiador Elias Saliba, emérito professor da USP, que se regalava em sala de aula-e os seus alunos idem-com o sabor inconfundível proveniente de cartas pessoais, documentos sem travas, sem peias, e, portanto, o meio mais transparente para desnudar as complexidades de um personagem histórico. Comecemos por uma carta bastante reveladora nas suas possibilidades metalinguísticas, em que nos atreveremos a desmentir o próprio escritor, então imbuído de uma fórmula de modéstia: Que ideia sinistra a tua, de publicarmos as minhas cartas! Seria dum grotesco supremo, porque cartas só interessam ao público quando são históricas ou quando oriundas de, ou relativas a, grandes personalidades. No nosso caso não há nada disso: não são históricas e nós não passamos de dois pulgões de roseira-eu, um pulgão publicado; você, um pulgão inédito. O interesse que achas nas tais cartas é o interesse da coruja pelas peninhas dos seus filhotes. Formam um álbum de instantâneos da nossa vida. Mas o público quer penas de pavão, plumas de avestruz ou aigrettes de garça: não quer peninhas de filhote de coruja. Todos iriam rir-se de nós, além de que estão cheias de maldadezinhas endereçadas a amigos e conhecidos, sobretudo por mim, que tenho a mania de arrasar tudo, a começar por mim mesmo. Não. Varra com a ideia 1. 1 A Barca de Gleyre, t. II, p. 198-199, endereçada de São Paulo, no dia 26 de maio de 1919. Os quarenta anos da correspondência de Lobato com Rangel foram publicados originalmente pela Brasiliense no ano de 1944 em dois tomos, intitulados A Barca de Gleyre, doravante denominados pela sigla BdG. Baseio-me nesta nota e seguintes na 2ª edição, publicada no ano de 1948, atualizando a ortografia.

Razões afins levarão um dia a que, no algarve, como alguém terá o cuidado de escrever, toda a pra... more Razões afins levarão um dia a que, no algarve, como alguém terá o cuidado de escrever, toda a praia que se preze, não é praia mas é beach, qualquer pescador fisherman, tanto faz prezar-se como não, e se de aldeamentos turísticos, em vez de aldeias, se trata, fiquemos sabendo que é mais aceite dizer-se holiday's village, ou village de vacances, ou ferienorte. A Viagem do Elefante, José Saramago Um romancista é, por natureza, um inventor de histórias imaginárias. Truísmo que vale para José Saramago, embora sua ficção parta vez por outra de fatos históricos para se desenvolver. É assim em Memorial do Convento (1982), romance célebre em que denuncia a barbárie da construção a toque de caixa do convento de Mafra, no século XVIII. Em A Viagem do Elefante (2008), o escritor qualifica de "conto" a épica empreitada da comitiva que leva um paquiderme presenteado pelo rei Dom João III de Portugal ao arquiduque Maximiliano, da Áustria. Saramago soube da veracidade da história por acaso, após uma palestra na Universidade de Salzburgo, num jantar no restaurante "O Elefante", em que foi informado dos "ignotos fados" que se conjugaram na "cidade de Mozart", confirmados posteriormente na investigação da professora e amiga Gilda Lopes Encarnação. Henry James certa feita declarou que o romancista é alguém para quem nada está perdido, o que se afigura uma definição precisa para a literatura de Saramago. Mais uma vez, portanto, a história será recuperada, em recuo agora para meados do século XVI. Mais uma vez, interessa ao ficcionista português a inventiva crítica, subvertendo a lógica hegemônica da história contada a partir da visão dos poderosos, para recontá-la dando voz aos desvalidos. Desta vez, no entanto, não há mortes a deplorar, o tom é mais leve, em nenhum momento chega a ser trágico, prevalecendo uma onipresente comicidade, a escarnecer da vanidade da nobreza, do autoritarismo militar, do oportunismo religioso. O próprio escritor esclarece: A Viagem do Elefante é a primeira ficção minha em que o humor tem uma participação tão directa, tão constante. Sendo menos irônico, o livro é, de certa forma, mais "inocente". Ao distrair-se com o prazer de narrar, a sua ironia limita a sua intencionalidade em geral agressiva

A ficção de José Saramago é deliberadamente sincrônica. Tempo e espaço diferentes, em processo te... more A ficção de José Saramago é deliberadamente sincrônica. Tempo e espaço diferentes, em processo teleológico de fusão discursiva, configuram um presente contínuo. Tal procedimento se destaca nos romances em que o discurso religioso é manifestamente problematizado, O Evangelho segundo Jesus Cristo e Caim. A abordagem se detém no campo axiológico e autoral das duas obras, ao engendrar uma categoria formal-analítica-autor-cronotópico-, tomando de empréstimo o conceito de Bakhtin, homólogo ao diálogo literatura e história empreendido no corpus objeto. Palavras-Chave: Saramago, O Evangelho segundo Jesus Cristo, Caim, Autor-cronotópico, Bakhtin. ABSTRACT José Saramago's fiction is deliberately synchronic. Different time and space, in teleological process of discursive fusion, configure a continuous present. This procedure stands out in novels in which the religious discourse is manifestly problematized, The Gospel According to Jesus Christ and Cain. The approach focuses on the axiological and authorial field of the two titles, engendering a analytical-formal category-chronotope-author-by borrowing Baktin's concept, homologous to the history and literature dialogue undertaken in the object corpus.

Oduvaldo Vianna: renovador do teatro brasileiro de comédia O teatro brasileiro contemporâneo ao a... more Oduvaldo Vianna: renovador do teatro brasileiro de comédia O teatro brasileiro contemporâneo ao advento e primeiros anos do Modernismo foi estigmatizado pela crítica especializada como de baixa qualidade estética. Dramaturgos da estirpe de Oduvaldo Vianna caíram no ostracismo, em nome do hegemônico cânone crítico modernista, que desprezou as manifestações anteriores à exibição da clássica montagem de Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues, em 1943, considerada o marco inaugural da modernidade teatral no Brasil. Criou-se um buraco negro, para onde foram tragados os dramaturgos, como se quisesse esquecer que houve teatro no período. Mas em que lugar ficam, então, Joraci Camargo, Gastão Tojeiro, Oduvaldo Vianna, entre outros de uma constelação de comediógrafos de sucesso? Tudo começou com as iradas estocadas de Antônio Alcântara Machado contra o teatro brasileiro produzido na década de 20. O paladino modernista se irritava com "as comedinhas parisienses" por demais edificantes, tais como "A vida é um sonho", de Oduvaldo. Dizia que embora as personagens tivessem vida, eram "mal aproveitadas". As comédias foram classificadas pelo crítico em três tipos: "piegas, caricatural, costumes" 1. Crédula, boa parte da crítica brasileira repete até hoje os mesmos julgamentos do passado. Vozes isoladas, embora de peso, se manifestaram por uma reparação. Em meados da década de 80, Sábato Magaldi augurava pela "reavaliação da obra de Oduvaldo Vianna, que tanto contribuiu para o desenvolvimento do palco brasileiro, sobretudo nas décadas de 20 e 30" 2. O crítico reconhecia a necessidade de se examinar não apenas a dramaturgia, mas também o esforço de Oduvaldo no sentido de nacionalizar a prosódia dos elencos brasileiros, que adotavam o sotaque luso. Sábato lamentou o fato do teatro ter ficado ausente da Semana de Arte Moderna. Segundo ele, "a exigência do trabalho coletivo, no espetáculo, com o concurso obrigatório de autor, intérprete e público, afastou o palco da inquietação e da pesquisa". A principal exceção da crítica brasileira, na revalorização do teatro do período, vem de Décio de Almeida Prado, quando afirma que "há entre os dois (o teatro e o 1 A. A. Machado, In Cavaquinho e saxofone, José Olympio, 1940, p. 434-7. 2 S. Magaldi, Jornal da Tarde, "Uma peça de Oduvaldo Vianna. Com encenação amadora", 07/09/84, p. 6.

o texto quando desapareceram os prestígios da representação, espera numa biblioteca ressuscitá-lo... more o texto quando desapareceram os prestígios da representação, espera numa biblioteca ressuscitá-los algum dia. Gaston Baty, Apud Sábato Magaldi, In Iniciação ao teatro Precisamos, antes de uma análise que possa considerar-se rigorosamente sistemática da dramaturgia nacional, proceder ao levantamento e à publicação de textos (...) Talvez a tarefa não seja de um único pesquisador: exige busca paciente em arquivos e jornais, leitura de alfarrábios e inéditos, a esperança de que se publiquem documentos inencontráveis. Sábato Magaldi, Panorama do teatro brasileiro Uma primeira questão se coloca ao pesquisador que se propõe a organizar os textos da obra de Oduvaldo Vianna-em que medida tal iniciativa faz justiça com os pontos de vista do autor, reconhecidamente despreocupado em vida com a edição da própria obra? A dúvida logo se dissipa quando se constata que uma simples peça, por mais limitada enquanto fatura estética que seja, traz de volta todo um universo cultural do Brasil das primeiras décadas do século XX. Esse é o ponto: uma peça de teatro, de um autor injustamente relegado ao ostracismo como Oduvaldo, é um importante documento histórico. Mais que privilegiar a análise das peças, afinal de contas é o seu meio, o pesquisador da área de Letras sabe reconhecer que a possibilidade dos textos novamente virem à luz representa um ganho exponencial, pois multiplica-se de súbito os leitores. Abre-se, assim, um enorme leque: de alunos e professores universitários para estudantes de maneira geral; de profissionais de teatro que pretendam fazer releituras das peças, com propósitos quem sabe de novas encenações; de amantes de teatro e literatura em suma, que até então se viram privados de conhecer a obra de Oduvaldo Vianna, o pai. A maioria das peças sequer foi editada. Quando o foram, não contaram com o cuidado editorial que mereciam. Manuseou-se, via de regra, cópias xerográficas precárias, que necessitaram de trabalho artesanal de decifração, de caracteres apagados

da comédia brasileira de teatro. Nascido no Rio de Janeiro em 1815, teve uma infância marcada pel... more da comédia brasileira de teatro. Nascido no Rio de Janeiro em 1815, teve uma infância marcada pela orfandade e condição de vida humilde. Ainda estudante, em 1833, escreveu sua primeira comédia de costumes, O Juiz de Paz da Roça. Sua morte precoce (Lisboa, 1848), vitimado pela tuberculose, abreviou uma carreira brilhante de comediógrafo. Retratou em seu teatro a nossa cor local, o nosso pitoresco, influenciado por intelectuais da geração romântica, os companheiros Gonçalves de Magalhães e Araújo Porto Alegre. Nesse sentido, com pouco mais de vinte anos, participou da campanha pela criação do teatro nacional, empreendida por João Caetano, o maior ator do período, que considerava o autor de O Noviço o "Molière brasileiro". Para o intento nacionalista, contribuiu criando comédias e dramas históricos. Contudo, Martins Pena não tinha propensão para o teatro dramático. O seu gênio se manifestava era na comédia de costumes, em que produzia com extrema facilidade, conquistando, pela originalidade dos seus textos, os aplausos entusiastas do público. Mostrava-se conhecedor dos procedimentos das companhias européias de comédia que visitavam a Corte, cultoras do melhor da tradição cômica ocidental. Foi uma carreira breve, de menos de quinze anos, sendo que o período decisivo da sua produção se concentrou em apenas três anos, de 1844 a 1846, quando criou a maior parte de sua obra. Breves também são as peças de Martins Pena. A maioria de suas comédias contém apenas um ato, composto por cenas curtas, ação dinâmica e trama bem concatenada. As encenações duravam no máximo trinta minutos e funcionavam como intervalo de representação dos dramas. Era o chamado entremez, um complemento para o espetáculo longo. As situações retratadas nas peças fazem a delícia dos espectadores: medo da polícia; travestis e os riscos decorrentes dos disfarces; esconderijos que causam transtornos; dificuldades para contornar um problema; idas e vindas da conquista amorosa; roubos mal sucedidos. Os personagens são invariavelmente caricatos: o trapalhão, o bêbado, o golpista, o caipira, etc. Os esquemas estruturais das peças se repetem exaustivamente. No final,

Comédia em 3 atos 2 PERSONAGENS AMBRÓSIO. FLORÊNCIA, sua mulher. EMÍLIA, sua filha. JUCA, 9 anos,... more Comédia em 3 atos 2 PERSONAGENS AMBRÓSIO. FLORÊNCIA, sua mulher. EMÍLIA, sua filha. JUCA, 9 anos, dito 3. CARLOS, noviço da Ordem de S. Bento. ROSA, provinciana, primeira mulher de Ambrósio. PADRE-MESTRE DOS NOVIÇOS. JORGE. JOSÉ, criado. 1 meirinho, que fala. 2 ditos, que não falam. Soldados de Permanentes 4 , etc, etc. (A cena passa-se no Rio de Janeiro.) ATO PRIMEIRO Sala ricamente adornada: mesa, consolos 5 , mangas de vidro 6 , jarras com flores, cortinas, etc., etc. No fundo, porta de saída, uma janela, etc., etc 7. CENA 1 8 AMBRÓSIO, só, de calça preta e chambre 9-No mundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la. Pintam-na 10 cega... Que simplicidade! Cego é aquele que não tem inteligência para vê-la e a alcançar. Todo o homem pode ser rico, se atinar 11 com o verdadeiro caminho da fortuna. Vontade forte, perseverança 12 e pertinácia 13 são poderosos auxiliares. Qual o homem que, resolvido a empregar todos os meios, não consegue enriquecer-se? Em mim se vê o exemplo. Há oito anos, era eu pobre e miserável, e hoje sou rico, e mais ainda serei. O 1 Aprendiz de religião. 2 Denomina-se Ato cada uma das partes que se divide uma peça. 3 Aquele que se disse; mencionado; referido. 4 Soldados da Guarda Nacional, os quais formaram os corpos de polícia do Brasil imperial na primeira metade do século XIX. 5 Móveis de sala para colocação de objetos ornamentais. 6 Peças de forma tubular que revestem ou protegem outra peça. 7 Dá-se o nome de rubrica a qualquer palavra escrita de um texto teatral que não faça parte do diálogo das personagens. A rubrica é usada para descrever cenário, figurino, entradas e saídas de cena, bem como o estado de espírito das personagens ao enunciar as palavras do texto. Na presente edição, as rubricas aparecem em itálico. 8 Cena é a etapa em que é subdividida a ação de uma peça. 9 Roupão. 10 Linguagem figurada, metafórica, sinônimo de dizer. 11 Descobrir pelo tino, pelo raciocínio; encontrar; acertar. 12 Persistência, continuar firme. 13 Sinônimo de persistência; obstinação.

A ficção de Saramago é deliberadamente sincrônica. Tempo e espaço diferentes, em processo teleoló... more A ficção de Saramago é deliberadamente sincrônica. Tempo e espaço diferentes, em processo teleológico de fusão narrativa, configuram um presente contínuo. Tal procedimento se destaca nas obras em que o discurso religioso é manifestamente desconstruído, e negado, os romances Evangelho segundo Jesus Cristo e Caim. A abordagem se concentra no papel do narrador das duas obras e engendra uma categoria formal-analítica-narrador-cronotópico-, tomando de empréstimo o conceito de Bakhtin, homólogo ao diálogo literatura e história do corpus objeto. Palavras-Chave: Saramago, Evangelho segundo Jesus Cristo, Caim, Narrador-cronotópico, Bakhtin. ABSTRACT The present ... KeyWords José Saramago tem pautado sua obra romanesca pelo esquadrinhamento sem tréguas do discurso religioso. O poderio político secular da igreja católica portuguesa junto ao reinado de D. João V para a construção do faraônico convento de Mafra é o condutor do entrecho do Memorial do Convento, de 1982. O Novo Testamento, que mostra um Cristo humanizado, dá o tom em O evangelho segundo Jesus Cristo, 1991, e o Velho Testamento, relido em chave literal e crua, é o objeto no recém-lançado Caim, 2009. Estas obras revelam um percurso histórico de gradação ambiciosa, do particular para o universal, saindo da experiência portuguesa malograda no século XVIII, retrocedendo depois pelo marco inaugural do cristianismo e remontando por último às bases do judaísmo. São milhares de anos de cultura religiosa revisitados no tempo e no Doutor em Literatura Brasileira, professor-adjunto I

Resumo Dramaturgos brasileiros da estirpe de Oduvaldo Vianna caíram no ostracismo, em nome do heg... more Resumo Dramaturgos brasileiros da estirpe de Oduvaldo Vianna caíram no ostracismo, em nome do hegemônico cânone crítico modernista, que desprezou as manifestações anteriores à exibição de Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues, em 1943. Oduvaldo é autor de uma vasta obra de teatro, em diferentes formas de comédia que merecem uma revisão. Feitiço e Amor, dois de seus melhores textos, foram traduzidos e encenados em diversos países. Palavras-chave: comédia, crítica, moderno. Abstract Brazilian dramaturgists of the stirp of Oduvaldo Vianna fell in the ostracism, in name of the hegemonic canon of modern critique, which despised the manifestations before the exhibition of Vestido de Noiva, by Nelson Rodrigues, in 1943. Oduvaldo is an author of a great range of theatrical creations in different forms of comedy which deserve to be revised. Feitiço and Amor, two of his best texts, were translated and acted in several countries. Fingimos que adoramos as comédias francesas, porém, o que faz rir de fato uma platéia brasileira, mas rir de perder o fôlego, é algo intraduzível, incompreensível em qualquer outra língua e qualquer outro teatro, algo de muito Professor de Literatura Brasileira, Universidade Presbiteriana Mackenzie.

da comédia brasileira de teatro. Nascido no Rio de Janeiro em 1815, teve uma infância marcada pel... more da comédia brasileira de teatro. Nascido no Rio de Janeiro em 1815, teve uma infância marcada pela orfandade e condição de vida humilde. Ainda estudante, em 1833, escreveu sua primeira comédia de costumes, O juiz de paz da roça. Sua morte precoce (Lisboa, 1848), vitimado pela tuberculose, abreviou uma carreira brilhante de comediógrafo. Retratou em seu teatro a nossa cor local, o nosso pitoresco, influenciado por intelectuais da geração romântica, os companheiros Gonçalves de Magalhães e Araújo Porto Alegre. Nesse sentido, com pouco mais de vinte anos, participou da campanha pela criação do teatro nacional, empreendida por João Caetano, o maior ator do período, que considerava o autor de O noviço o "Molière brasileiro". Para o intento nacionalista, contribuiu criando comédias e dramas históricos. Contudo, Martins Pena não tinha propensão para o teatro dramático. O seu gênio se manifestava era na comédia de costumes, em que produzia com extrema facilidade, conquistando, pela originalidade dos seus textos, os aplausos entusiastas do público. Mostrava-se conhecedor dos procedimentos das companhias européias de comédia que visitavam a Corte, cultoras do melhor da tradição cômica ocidental. Foi uma carreira breve, de menos de quinze anos, sendo que o período decisivo da sua produção se concentrou em apenas três anos, de 1844 a 1846, quando criou a maior parte de sua obra. Breves também são as peças de Martins Pena. A maioria de suas comédias contém apenas um ato, composto por cenas curtas, ação dinâmica e trama bem concatenada. As encenações duravam no máximo trinta minutos e funcionavam como intervalo de representação de dramas ou tragédias. Era o chamado entremez, termo espanhol para intermédio, um complemento para o prato principal, o espetáculo longo. A título de exemplo, Vilma Arêas informa que O juiz de paz da roça, quando encenada em 1838, fez parte de um programa que incluía o drama romântico em 3 atos A conjuração de Veneza.

Há uma faceta biográfica de Machado de Assis que pode ser um caminho interpretativo da obra: foi ... more Há uma faceta biográfica de Machado de Assis que pode ser um caminho interpretativo da obra: foi enxadrista apaixonado. O jogo de xadrez está associado, no entendimento comum, ao raciocínio e inteligência, o que o coloca no campo da seriedade. Ao mesmo tempo, como jogo que é, a alegria se faz presente. Na combinação dialética de seriedade e alegria, reside parte do seu fascínio. Não é por acaso que Machado praticava o gamão e o xadrez, dois jogos que exigem concepção estratégica e que minimizam o fator sorte. Os jogos de azar e assemelhados (jogo do bicho, loterias, corrida de cavalos, briga de galos, etc.) constituíam-se para o escritor em verdadeiras mazelas da vida brasileira. O cronista Machado assim se manifestou: "... é um jogo [xadrez] que não admite quinielas e, apesar de ter cavalos, não se dá ao aperfeiçoamento da raça cavalar, como os vários derbys deste mundo". Machado foi compositor e solucionista de problemas de xadrez, sabidamente a forma mais artística do jogo. Sem dúvida, encontrou aí um meio para a manifestação de sua complexa personalidade, um laboratório de idéias, uma forma de treinamento, naturalmente de outra ordem, para seu prodigioso intelecto. Como afirmou a biógrafa Lúcia Miguel Pereira, é impossível estudá-lo dissociando vida e obra, o homem e o artista estão estreitamente ligados. Para a eminente crítica literária, o cérebro do escritor está sempre em atividade, detentor que é de um raciocínio implacável e de uma soberba inteligência para compreender a fraqueza humana.

A ficção de José Saramago é deliberadamente sincrônica. Tempo e espaço diferentes, em processo te... more A ficção de José Saramago é deliberadamente sincrônica. Tempo e espaço diferentes, em processo teleológico de fusão discursiva, configuram um presente contínuo. Tal procedimento se destaca nos romances em que o discurso religioso é manifestamente problematizado, O Evangelho segundo Jesus Cristo e Caim. A abordagem se detém no campo axiológico e autoral das duas obras, ao engendrar uma categoria formal-analítica-autor-cronotópico-, tomando de empréstimo o conceito de Bakhtin, homólogo ao diálogo literatura e história empreendido no corpus objeto. Palavras-Chave: Saramago, O Evangelho segundo Jesus Cristo, Caim, Autor-cronotópico, Bakhtin. ABSTRACT José Saramago's fiction is deliberately synchronic. Different time and space, in teleological process of discursive fusion, configure a continuous present. This procedure stands out in novels in which the religious discourse is manifestly problematized, The Gospel According to Jesus Christ and Cain. The approach focuses on the axiological and authorial field of the two titles, engendering a analytical-formal category-chronotope-author-by borrowing Baktin's concept, homologous to the history and literature dialogue undertaken in the object corpus.
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