/sétima
pai, chegou o momento do choro
e do esquecimento do tempochegaram as míseras lágrimas que
te alimentam, que te sonham líquido
e te afundam o sentido
chegou, pai, o vento manso e quente
que lançaste um dia sobre a minha luz
e me queimou a liberdade de te escutar
pai, chegaram as notas daquela melodia
(lembras-te desse silêncio,
dessa melancólica melopeia que cantei?)
chegaram todas as notas num acorde
tremendo e luxuoso, trítonos sobre quintas,
quartas perfeitas sobre meios-tons de nunca
pai, o som veio buscar-me,
o trovoar das flautas, o ribombar dos
violinos imperiais, o restolhar dos tímpanos,
tudo às avessas numa orquestra muda
mas ainda assim, som
som onde adormeço quando te escuto
som de onde inspiro a morte
em pausas longas de tão breves
chegou o momento do choro
silente como no sonho que rezei, pai
chegaste, e aqui te reconheço
pela primeira vez
só, de novo
nu
onze: 08, MMXI