Revista Portugalia Vol. 36.
Revista Portugalia Vol. 36.
Revista Portugalia Vol. 36.
PORTO 2015
DIRECTOR/EDITOR:
Mário Jorge BARROCA
TÍTULO/TITLE:
Portvgalia
Revista de Arqueologia do Departamento de Ciências e Técnicas do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Journal of Archaeology of the Department of Heritage Studies, Oporto University – Faculty of Arts
LOCAL: Porto
ISSN: 0871-4290
ENDEREÇO/ADDRESS: INTERCÂMBIO/EXCHANGE:
PORTVGALIA PORTVGALIA
A/C Mário Jorge BARROCA Biblioteca Central da Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Via Panorâmica, s/nº Via Panorâmica, s/nº
4150-564 PORTO 4150-564 PORTO
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NOVA SÉRIE, VOLUME XXXVI
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Fot. de Paco Rodriguez, cedida por La Voz de Galícia
Soeiro, Teresa — Fernando Acuña Castroviejo: mosaico biobibliográfico
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Teresa Soeiro
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Estes anos de formação serão aqueles em que vai percorrer as difíceis estradas do norte de Portugal
para conhecer os sítios arqueológicos e as colecções dos museus. Por então, Carlos Alberto Ferreira de
Almeida já fazia o percurso simétrico, frequentava regularmente a Galiza, conhecia a anterior geração
de arqueólogos e etnógrafos e firmou com Carlos García Martinez e Fernando Acuña uma amizade para
sempre. Este estará presente, com comunicação, em companhia de Alberto Balil e outros colegas do
Instituto Padre Sarmiento, no II Congresso Nacional de Arqueologia (Coimbra 1970) e no III Congresso,
que teve lugar no Porto, em 1973.
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colecção de bens arqueológicos da Faculdade, para a qual chegou mesmo a adquirir, a um antiquário
de Lugo, o marco miliário romano exposto no claustro. Em 2002/03 foi convidado para proferir a lição
de abertura do ano lectivo.
Ao longo da carreira, orientou teses de licenciatura e doutoramento e tomou parte em diversos
júris de provas académicas e de concursos, em Espanha e Portugal. Foi padrinho no Doutoramento
Honoris Causa de Jorge de Alarcão na Universidade de Santiago de Compostela, em 1996.
Desde a década de oitenta obteve bolsas em:
–– 1984 Bolsa no Deutsches Archaologische Institut de Berlim;
–– 1987‑89 Bolsas ao abrigo do convénio interuniversitário, em Lodz (Polónia);
–– 1998 Bolsa de média duração em Roma, atribuída pela Xunta de Galicia.
Participou em outros projectos levados a cabo a partir da Faculdade, como o de O Caurel (Lugo),
dirigido por José Maria Luzón (1978‑79). Escavou no Castro de Henayo (Alegría, Álava), sob a direcção
de Armando Llanos.
Foi também desde 1978 que tomou parte nas escavações arqueológicas de Carlos Alberto Ferreira
de Almeida, primeiro no Castro de Monte Mozinho (Penafiel), onde chegou nesse ano com Francisco
Calo Lourido e, imediatamente depois, novamente em conjunto, no Castro de Santo Estevão da Facha
(Ponte de Lima) e no Castelo de Faria (Barcelos). Esta equipa galaico‑portuguesa (como lhe chamava
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Jordá) seguiu em 1980 para as Astúrias, tendo participado nos trabalhos a decorrer no Castro de San
Chuís (Pola de Allande), dirigidos por Francisco Jordá Cerdá.
O final da década de setenta e os anos oitenta foram também o tempo das viagens de estudo
conjuntas e das reuniões científicas aquém e além Minho; sirvam de exemplo o I Seminário de Arque-
ologia do Noroeste (Guimarães 1979) e o II Seminário em Santiago de Compostela (1980), ou ainda o
Colóquio Inter‑universitário de Arqueologia do Noroeste, de 1983, no Porto, em homenagem a Rui de
Serpa Pinto, um jovem e promissor cientista, sempre lembrado pela forma como, apesar da sua fugaz
carreira, uniu várias gerações de investigadores da Galiza e do norte de Portugal.
Foi membro fundador do Instituto Cultural Galaico‑Minhoto (1982), que realizou já diversos coló-
quios (Ponte do Lima 1981, Santiago de Compostela 1984, Viana do Castelo 1985, Lugo 1990, Braga
1994, Ourense 1996).
Porque os seus interesses científicos se centram na Galiza, mas não se confinam a esta, tanto
presidiu ao XX Congreso Nacional de Arqueología, que teve lugar em Vigo (1993), foi membro do
Comité Organizador do Colóquio Castrexos e romanos no Noroeste (Santiago 1997), de homenagem a
Carlos Alberto Ferreira de Almeida, e do Comité Científico do Colóquio Internacional de Arqueologia Los
Finisterres Atlánticos en la Antigüedad (Gijón 1995), como integrou o Comité Organizador do XIV CIAC
‑ Congresso Internacional de Arqueologia Clássica (Tarragona 1994), a Comissão Científica do X Colóquio
Internacional da AIEMA ‑ Associação Internacional para o Estudo do Mosaico Antigo (Conímbriga 2005),
o Comité Científico do Primer Simposio Internacional sobre Málaga en la Antigüedad (2006) e organi-
zou a VII Reunión de escultura romana en Hispania. Santiago de Compostela/Lugo (2011), dedicado
à memória de Alberto Balil, entre outras reuniões, bem patenteadas na bibliografia. Acorreu também
a um número bem mais elevado de iniciativas científicas, um pouco por toda a Hispânia e fora dela.
Exerceu regularmente como conferencista em cursos de Verão, nomeadamente da Universidade
de Oviedo, em Navia (1982), e na Universidade Menendez Pelayo, da Coruña.
O estudo da história e defesa do património arqueológico da Galiza fê‑lo merecer cedo a condição
de académico correspondente da Real Academia Galega (1972). Já a dedicação às artes plásticas
clássicas, área de eleição em todo o seu percurso de investigador, foi coroada pela mais recente
admissão como académico numerário da Real Academia Galega de Belas Artes (2013). É membro do
Comité Científico Espanhol do Corpus Signorum Imperii Romani (CSIR) e da Associação Internacional
de Arqueologia Clássica (AIAC).
Tem (ou teve) assento na Consellería de Cultura da Xunta de Galicia (desde 1994), Comisión
Superior de Valoración de Bens Culturais de Interese para Galicia, Comisión Técnica de Arqueoloxía
(1985‑1986, 1989‑1995), Comisión Territorial do Patrimonio Histórico Galego (Consellería de Cultura
‑ Lugo, 1992‑2007), Comisión Asesora do Patronato de Museo de Pontevedra en Arqueoloxía e Antro-
poloxía Cultural (1988), Padroado do Museo de Prehistoria e Arqueoloxía de Vilalba e Comisión Asesora
da Cidade Histórica (Santiago, até 2009).
Integra o comité redactorial das revistas Gallaecia, Brigantium, Larouco e Sémata; pertence ao
conselho assessor do Boletín Auriense e El Museo de Pontevedra, ao conselho consultor da Murguía,
Revista Galega de Historia e à comissão científica do Boletín do Museo Provincial de Lugo, Férvedes.
Portvgalia (U. Porto) e Revista de História da Arte (U.N.Lisboa).
O empenho na transmissão do saber e a reconhecida dedicação à causa pública fazem‑no ser
solicitado para inúmeras conferências e pregões de festas, a escrita de artigos e entrevistas de opinião
inseridos em periódicos ou outros meios de comunicação, bem como para a organização de eventos e
júris de prémios como o Premio de Investigación “Xesús Ferro Couselo” (Concello de Valga, 1995‑2011),
Premio Vicente Risco, o Premio Xesús Taboada Chivite (Comarca de Verín) e as distinções atribuídas
pelo patronato do Pedrón de Ouro.
Deixei propositadamente para o fim, pelo destaque que merece, o verdadeiro desígnio pátrio que
é o projeto Museo do Pobo Galego, em prol do qual laboraram, desde início, os membros do velho
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Seminário de Estudos Galegos, mais toda a geração de Fernando Acuña, que nos anos sessenta deles
recebeu o legado, com a honra e a obrigação de o manter e alargar. Membro fundador do Patronato
do Museo do Pobo, instituído em 1976, desempenhou diversos cargos da Junta Rectora, sendo actu-
almente vice‑presidente do Patronato.
No Museo, dirigido pelo seu amigo de juventude ‑ Carlos García Martinez ‑ e onde se congregam
vontades pela Galiza; entre os livros da sua considerável biblioteca ou as obras de arte contemporânea
que foi juntando; a perscrutar os papéis dos seus maiores para estudar a grande colecção privada de
arte e arqueologia que foi a do seu bisavô Ricardo Blanco‑Cicerón ou as recolhas feitas pelos intelec-
tuais do ramo Castroviejo; a viajar pelo império outrora romano ou a percorrer os caminhos da nossa
terra que conhece como poucos; a apreciar o seu sangue feito vinho e as iguarias da gastronomia local,
acompanhadas por um pouco de conversa amena, está sempre em casa, como também queremos
que seja casa sua a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde vem em múltiplas ocasiões
participar em júris, eventos ou trabalhos de investigação, e na qual soube, desde há quase meio século,
construir amizades.
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Aixón ‑ vol. 1, p. 186
Algara ‑ vol. 1, p. 256
Alobre, Castro de ‑ vol. 1, p. 264
Amboade, Castro de ‑ vol. 2, p. 36
Amedo, Castro de ‑ vol. 2, p. 37
Arqueología ‑ vol. 2, p. 203‑207 (em col. Manuel Carlos García Martínez)
Arxeriz, Castro de ‑ vol. 2, p. 236
Cultura castrexa ‑ vol. 8, p. 97‑106 (em col. Francisco Calo Lourido)
Estela ‑ vol. 10, p. 253‑256 (em col. Francisco Fariña Busto)
Fenícios ‑ vol. 12, p. 5‑6
Fernández Guerra, Aureliano ‑ vol. 12, p. 63
Fita Colomé, Fidel ‑ vol. 13, p. 60
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2 4
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12 13 14
5
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2 7 11
4 6
1
Fig. 2 – Homenagem a Xaquín Lourenzo Fernandes, nos 25 anos do seu falecimento (2014)
(1) Xosé Carlos Sierra Rodriguez, (2) Manuel Carlos García Martínez, (3) Julio Rodriguez, (4) Maria Xosé Fernández Cer-
viño, (5) Francisco Fariña Busto (6) Fernando Acuña Castroviejo, (7) Justo Beramendi González, (8) Concha Rosada (9)
Francisco Calo Lourido, (10) Francisco San Giao,(11) Maria Xosé Sierra, (12) Clodio González Pérez, (13) Manuel Vilar
Álvarez, (14) Manuel Caamaño Suárez, (15) Xosé Luis Quiñoa, (16) Gerardo Esteves Fernández
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6 14 18
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1 5 16
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19
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20 24 25 26 27 28
Fig. 4 – Homenagem a Otero Pedrayo, no Hostal dos Reis Católicos, a 3 de Março de 1968: na segunda fila, a partir
da esquerda, Fermín Bouza-Brey, Manuel Carlos Garcia Martínez, Fernando Acuña Castroviejo, António Martínez Puñal,
Xosé Manuel González Reboredo; na primeira fila, Octavio San Martín, Rv.do Padre Morente, Joaquim Rodrigues dos
Santos Júnior e esposa
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Soeiro, Teresa — Fernando Acuña Castroviejo: mosaico biobibliográfico
Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 7-26
Fig. 5 – Escavações arqueológicas no Castro de O Neixón, em 1969, com a presença de Alberto Balil e esposa, Fernando
Acuña, Manuel Caamaño Gesto e colaboradores
Fig. 6 – Escavações na fortaleza da Rocha Forte (2003). Equipa da Faculdade de Xeografia e Historia: docentes Fernando
Acuña, Raquel Casal e Manuel Caamaño; equipa técnica Sara Rodrigues Souto, Lorena Vidal, Cristobal Nodar, Alvaro
Rodrigues e Luis Cordeiro, junto com estudantes e colaboradores
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Soeiro, Teresa — Fernando Acuña Castroviejo: mosaico biobibliográfico
Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 7-26
Fig. 7 – Fernando Acuña, com Alberto Balil e Carlos Alberto Ferreira de Almeida, no III Congresso Nacional de Arqueo-
logia, realizado no Porto, em 1973
Fig. 8 – Fernando Acuña com Francisco Jordá Cerdá, Carlos Alberto Ferreira de Almeida e José Luis Maya, em visita ao Castro
de Coaña, organizada no âmbito do Curso Prático de Arqueología Protohistorica de Navia, 1982 (Arquivo F. Jordá Cerdá)
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Soeiro, Teresa — Fernando Acuña Castroviejo: mosaico biobibliográfico
Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 7-26
Fig. 9 – Apresentação de Fernando Acuña na sessão de abertura do Painel de Estudos Monte Mozinho - 25 anos
de Trabalhos Arqueológicos, homenagem a Carlos Alberto Ferreira de Almeida, que decorreu no Museu Municipal de
Penafiel, em abril de 1998. Na mesa, da esq para a dir. Jorge Ginja (Delegado Regional da Cultura Norte ‑ fora da fot.),
António Queirós (pelo Gov. Civil do Porto), Agostinho Gonçalves (presidente C. M. Penafiel), Gerardo Pereira‑Menaut (pela
U. Santiago de Compostela), Armando Coelho Ferreira da Silva (DCTP - Faculdade de Letras U. P.) e José Portugal (pela
CCRN) (Fot. Museu Municipal de Penafiel)
Fig. 10 – V Centenário da Universidade de Santiago de Compostela - visita à Biblioteca Médica, 1995. Explicação prestada
aos reis de Espanha Juan Carlos Bourbon e Sofia da Grécia, estando presente Manuel Fraga Iribarne, os vice‑ reitores
Rosario Rodriguez e J. A. Segade e o director da Biblioteca Dario Vilariño
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Soeiro, Teresa — Fernando Acuña Castroviejo: mosaico biobibliográfico
Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 7-26
Fig. 11 – Fernando Acuña a proferir a lição inaugural da Faculdade de Xeografía e Historia U.S.C., no ano de 2002/2003
Fig. 12 – Sessão de admissão como académico numerário da Real Academia Galega de Belas Artes (2013)
(Fot. Xurxo Lobato)
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García Martínez, Carlos — Pre‑historia dun arqueólogo
Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 27-33
RESUMO:
O autor evoca os comezos do Prof. Dr. Acuña Castroviejo no mundo da Arqueoloxía a través da
súa amizade, da aprendizaxe compartida e dos traballos realizados en común.
ABSTRACT:
The author evokes the beginnings of Prof. Dr. Acuña Castroviejo in the world of Archaeology,
through their friendship, shared learning, and works in common.
Pretende ser este texto un persoal achegamento aos comezos e primeiras experiencias no campo
da arqueoloxía do Profesor Dr. Fernando Acuña Castroviejo, a personalidade que aquí se honra pola súa
contribución ao coñecemento desta disciplina en xeral e particularmente polos seus estudos referidos
ao noroeste da península ibérica. Unha particular e amical visión de quen compartiu con este vocacional
arqueólogo, (xunto con outros máis), dende o xa lonxincuo ano de 1966, varias xeiras de traballo, que
ocuparon non poucos anos, e nas que percorremos treitos abondo do territorio galego na busca de tes-
temuños do primixenio pasado dos seus poboadores. Experiencia da que mantemos, os que naquelas
participamos, duradeira lembranza, hoxe avivecida ao congratulármonos con este recoñecemento que
se lle dispensa ao noso conmilitión polos seus colegas e amigos de aquén e alén do Miño.
O personaxe centro da nosa atención, ía para biólogo, mais a arqueoloxía venceu esta súa primeira
vocación.
Souben de Fernando Acuña Castroviejo polo ano 1966, cando cursaba na Universidade de Santiago
o terceiro ano da carreira de Filosofía e Letras, no vello caserón que alberga a Facultade, ergueito ao
pé do antigo castro no que principiou a agromar a cidade de Compostela.
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García Martínez, Carlos — Pre‑historia dun arqueólogo
Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 27-33
Por aquel ano sería elixido delegado de curso na Asociación Profesional de Estudantes, delegación
que conservaría até o ano 1968. Non eran momentos nada favorables para desempeñar os mandados
aos que o tal posto obrigaba. Tempos nos que o compromiso político todo o nordeaba, nunha Compostela
na que o movemento estudantil, adiantado na loita antifranquista, contribuiría dende abril do 68 e ao
largo da década dos anos setenta do pasado século, a activar os ritmos da conquista das liberdades
colectivas e mesmo o pulso dos círculos intelectuais. Comezaba a retomarse a andadura democrática
violentada polo golpe militar de 1936, e xermolaba a semente deitada nos anos de preguerra, anos
dos máis creativos e anovadores que houbo na historia recente de Galicia.
Era o entón aspirante a arqueólogo un mozote baril, de pelo negro ensortellado, pleno de vitali-
dade, un chisco adusto, mais só en aparencia, esforzado e tenaz no traballo de campo, o que lle acaía
a medida para a práctica arqueolóxica, así como incansable andarego que non lle volvía as costas ás
abas máis costentas, nin ás valgadas máis profundas.Tan animoso como terque, nel podía recoñecerse
o padrón do arqueólogo vocacional. Tiña xa por entón un certo ar de fidalgo, que co pasar do tempo
foise virando máis ostensible. De exercer como tal e precisar dunha divisa que o acreditase, seríanlle
apropiados os versos (1972) de Fermín Bouza Brey, seu primeiro mestre, dos que el tanto gusta: É por
unha cultura que se loita,/ por unha lingua en fror que se combate,/ por ter o esprito ceibe é a nosa
coita/ que ha ter o seu remate.
Pero volvamos ao troco vocacional do noso amigo. Que foi o que o impeleu a transitar dende a
bioloxía cara á arqueoloxía?. Poida que a súa contorna familiar tivera algo que ver, e en particular o
seu avó materno, D. Ricardo Blanco Cicerón (1844‑1926), arquetipo do coleccionista na súa acepción
máis próxima á daqueles anticuarios, que foron sinónimo de arqueólogos, preocupados non só pola
colectánea do obxecto, recadalo, senón tamén por conservalo, mesmo, en moitos casos, por estudalo
e, ao fin amosalo. Espléndida colección a que logrou reunir, tanto no relativo a materiais arqueolóxicos
–a salientar o soberbio fondo de xoiaría prerromana, certamente o mellor repertorio desta singular
faciana da nosa pre e protohistoria– como artísticos, arquivísticos, documentais e fotográficos, así como
unha gornecida biblioteca. Avezado e recoñecido coleccionista, Blanco Cicerón mantivo relacións con
distinguidos colegas e eruditos europeos; relación reflectida na correspondencia que se conserva. Non
sería, pois, estraño que a proximidade e a vista daquelas coleccións de arte e arqueoloxía axudasen a
conformar, nalgunha medida, a vocación do noso autor.
Pronto tomaría contacto con algúns outros universitarios aos que unía unha común afección polo
mundo antigo e a arqueoloxía. Afección que se habería afirmar cando a revolución de maio do 68, aquel
grande abalo asembleario estudantil, insurxente e anovador, que supuxo un punto de inflexión fronte
dos valores dunha sociedade apreixada por manidos convencionalismos, que precisaba de inminentes
transformacións. Santiago e a súa universidade vivirían en abril do 68 o seu particular movemento,
que propiciaría as primeiras mudanzas no ámbito universitario e por extensión na sociedade civil. En
Galicia o movemento manifestouse, como non, en favor tamén das linguas e das identidades culturais,
minoradas nos estados plurinacionais. Actitude que amparaba unha meirande atención ao coñece-
mento da realidade histórica e sociocultural do país, que levou a alentar o interese nalgúns sectores
do alumnado universitario polo seu estudo. E a esta corrente nos sumamos algúns.
Aquel grupiño de apaixonados pola arqueoloxía realizaramos unha primeira incursión, ou máis
apropiadamente intrusión, neste mundo do pasado no ano 1966. Nela estivemos, Gerardo Pereira
Menaut, Fernando Acuña, Mauro Fernández Rodríguez (hoxe catedrático de Lingüística da Universidade
de A Coruña) e quen isto escribe. Consistiu nunha pequena sondaxe nos restos dun castelo ergueito
a mediados do século XIII, nomeado da Rocha Forte, nas inmediacións de Santiago, pertencente á
Mitra compostelá, residencia en orixe dos seus bispos e que en 1466 fora asediado e derramado polos
irmandiños. Pasados anos o Profesor Acuña –unha volta ás orixes– e a Profesora Casal García, aco-
meterían nel sistemáticas escavacións que amosaron un relevante complexo defensivo, de cumprida
fortificación e interesante arquitectura.
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En novembro do mesmo ano emprendemos, un pouco ás toas, a escavación dun pequeno grupo
de túmulos megalíticos, emprazados na periferia de Santiago nun lugar coñecido como Montouto, labor
que continuou ao longo dos primeiros meses do ano 1967. Nesta primeira escavación arqueolóxica,
participamos Xosé M. González Reboredo, Gerardo Pereira Menaut, Fernando Acuña Castroviejo, Blanca
Caamaño, Basilio Deibe e o que subscribe.
Mais aqueles afáns e iniciais vocacións por saber da arqueoloxía e das culturas prehistóricas en
Galicia, reclamaban coñecementos, método e rigor, para enfrontar o seu estudo.
Desafortunadamente á altura daqueles anos, 1966‑1968, o estudo da Arqueoloxía na Univer-
sidade compostelá achábase abondo desasistido, figurando esta disciplina agregada á cátedra de
“Historia Antigua y Media de España”, que tamén acumulaba “Historia Moderna e Contemporánea de
España”. Como materia non diferenciada por entón da Historia, o seu ensino non pasaba mormente
dun circunstancial coñecemento, sen actividade de seu. Tampouco era moito o amparo que se podía
tirar da bibliografía arqueolóxica existente na biblioteca da Facultade de Filosofía e Letras. Situación
que en liñas xerais manteríase até 1968.
O noso autor publicou non hai moito, O ensino da Arqueoloxía na Galiza entre o franquismo e hoxe,
(Rev. da Faculdade de Letras, da Universidade de Porto, 2014), no que se presenta nidia a situación e
evolución da súa ensinanza e investigación no tempo que enmarca o título. Un proceso temporal que
nos debuxa un panorama, que o noso autor cualifica de desolador, no que a frustración non deixa de
estar presente. Frustración por canto dos catedráticos, vinculados coa Arqueoloxía ou a Prehistoria,
que solicitaron a praza á que estaba agregada a disciplina na Universidade compostelá, uns estarían
pouco tempo, como Lluís Pericot (1926‑1927) ou Alberto del Castillo Yurrita (1931‑1932) –este pro-
fesor, discípulo de Bosch Gimpera, na súa curta estadía chegou a ingresar no Seminario de Estudos
Galegos e apoiou as reivindicacións dos universitarios galeguistas, o que lle custou ser depurado polo
franquismo–, e outros nin sequera chegaron a tomar posesión, así os casos de Martínez Santa Olalla
ou Almagro Basch. Mesmo en 1945 quedaría deserta a convocatoria dunha praza de Prehistoria e
Historia Universal de las Edades Antigua y Media.
En 1955 Carlos Alonso del Real accede á cátedra de Prehistoria e Historia Universal Antigua y
Media y de Historia General de la Cultura –en 1967 a titulación quedará en Prehistoria e Etnografía–,
cátedra que, como apunta o noso autor no artigo arriba citado, non se caracterizou polo seu traballo
arqueolóxico, agás algunha intervención no castro de Fazouro, en Foz, ou a participación na escavación
duns túmulos megalíticos no Morrazo con Ramón Sobrino Lorenzo‑Ruza.
Con todo, houbo tamén momentos de especial relevo no que fai ao coñecemento da Prehistoria
e da Arqueoloxía en Galicia. Así a viaxe que realiza en 1922 o Profesor Hugo Obermaier, Catedrático
de Historia Primitiva del Hombre da Universidade de Madrid, na que impartirá unha serie de confe-
rencias en diversas cidades galegas, cuxa publicación constitúe unha primeira, e necesaria, síntese
da prehistoria galega; ou a estadía de Lluís Pericot en 1926‑1927, rexentando a cátedra de Historia
Antigua y Media de España da Universidade de Santiago, quen terá relación co Seminario de Estudos
Galegos e moi especialmente con López Cuevillas; ambos os dous escavarán no Castro de Troña,
publicando os resultados, e o primeiro dedicará unha monografía ao estudo dos vasos campanifor-
mes da colección La Iglesia achados nas Pontes de García Rodríguez. O traslado de Pericot en 1927
e o de Castillo Yurrita en 1932, fai que a investigación arqueolóxica quede fundamentalmente nas
mans do Seminario de Estudos Galegos (SEG), do que tamén forma parte Sebastián González García
Paz, profesor da Facultade de Filosofía e Letras da USC, e que estaba chamado a desempeñar un
especial papel no ensino e investigación da arqueoloxía en Galicia, que a guerra estragará ao ter que
exiliarse o mencionado profesor.
Polos anos cincuenta e sesenta do pasado século o interese da Universidade de Compostela
polo estudo da realidade galega era moi limitado e a dinámica sociocultural que se estaba a xerar en
sectores intelectuais galeguistas, verbo da análise da nosa personalidade colectiva como pobo, da súa
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identidade e da súa cultura apenas resoaba nos ambientes universitarios; e a arqueoloxía non era unha
excepción, pois o seu estado seguía a ser do máis precario, ao menos até o ano 1968.
Ende ben contábase dende o ano 1943 co Instituto de Estudios Gallegos “Padre Sarmiento”,
adscrito ao Consejo Superior de Investigaciones Científicas, a través do seu Patronato de Humanida-
des Menéndez Pelayo, dirixido até a súa morte en 1971 polo Profesor Dr. Francisco Javier Sánchez
Cantón. Fora creado polo CSIC como arremedo do histórico SEG, probablemente a institución cultu-
ral máis simbólica e transcendente da Galicia do século XX, que sería proscrita polo franquismo en
1936. O Instituto “Padre Sarmiento” aglutinaba o labor arqueolóxico, que realizaban os membros
procedentes do extinto Seminario de Estudos Galegos e viña desenvolvendo dende a súa creación
un silandeiro pero importante labor historiográfico, no que Fermín Bouza Brey, un dos fundadores do
SEG, continuaba a tradición dos estudos arqueolóxicos na liña comezada nos anos vinte do pasado
século con López Cuevillas, pai da prehistoria moderna en Galicia. A Sección de Arqueoloxía e Prehis-
toria do Instituto, continuadora do extraordinario labor realizado pola gobernada por Cuevillas na
preguerra, levará a cabo un salientable papel no eido daquelas disciplinas, dende os anos corenta
até os anos oitenta do século XX. E nesta institución encontraríamos o lugar apropiado onde encar-
reirar as nosas arelas arqueolóxicas.
Nos primeiros meses de 1967 coñecemos a D. Fermín Bouza Brey, por mediación dun sobriño
de seu. Acudimos á súa casa na Rúa do Vilar, en Santiago, o aquí homenaxeado, Xosé M. González
Reboredo e quen isto firma. Daquela primeira entrevista, na que lle comentamos os nosos degaros,
sairá unha encomenda: por en limpo as referencias e notas da escavación das mámoas do Montouto.
Xurdiu presto o consello inequívoco, o enfoque axeitado do traballo, a análise dos datos e a bibliografía
adecuada; non fallou nin sequera, a corrección da escrita e do estilo. E aquel inicial artigo apareceu,
pola súa intercesión, na revista do Instituto Padre Sarmiento, Cuadernos de Estudios Gallegos. Era a
nosa primeira publicación.
A proposta de Bouza Brey crearase no seo do Instituto “Padre Sarmiento” en novembro de 1967
un Seminario de Prospeccións Antropolóxicas, Etnográficas e Arqueolóxicas, que logo se incorporará
á Sección de Arqueoloxía e Prehistoria que dirixira até a súa morte en 1958, o seu grande amigo e
compañeiro, Florentino López Cuevillas, e a partir dese ano o propio Bouza Brey. Sección que habería
converterse nunha das máis dinámicas e anovadoras da institución.
Da man do noso valedor ingresamos na mencionada Sección cara a finais do ano 1967, Xosé
Carro Otero –antropólogo físico e arqueólogo–, Fernando Acuña, Xosé Manuel González Reboredo e
quen isto escribe. Novicios con ansia de penetrar no arcano das primeiras culturas do noroeste da
península ibérica, tivemos a grande fortuna de coñecer a algúns daqueles intelectuais que conformaran
o Seminario de Estudos Galegos, Otero Pedrayo, Xaquín Lorenzo, Fraguas Fraguas, Martínez López,
Filgueira Valverde, Carballo Calero –Cuevillas e Risco tiñan xa falecido en 1959 e 1963– e outros máis,
Chamoso Lamas, García Álvarez, Taboada Chivite...
Ao tempo que descubriamos por medio da súa palabra a recente memoria histórica do país, da
que foran non poucos dos citados protagonistas directos, soubemos do inmenso labor levado a cabo
polo Seminario de Estudos Galegos, dende a súa creación en 1923 até o seu imposto pechamento
pola ditadura franquista en 1936. Significados mestres que nos falaron do importante papel que tivera
aquela institución no estudo e comprensión, dende unha perspectiva integral, interdisciplinar e colectiva,
da formación histórica de Galicia, deseñando por vez primeira un proxecto para o seu coñecemento
científico. Unha tarefa que de par da pescuda da identidade galega, significouse polo compromiso cívico
dos seus membros e o carácter militante da súa obra. E aínda nos fixeron comprender o porqué do seu
sacrificio e da represión que moitos deles padeceron pola man irada dun réxime ditatorial, aturando
uns o amargor do exilio, outros, o non menos acedo do exilio interior e non poucos a morte asañada.
O Dr. Bouza Brey porfiaba en manter a actividade da Sección no suco polo que a guiara López
Cuevillas, procurando recuperar a súa acción, na que de par da atención aos contidos teóricos, impres-
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Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 27-33
cindibles para a actualización e avance no estudo daquelas disciplinas, fomentábase o labor de equipo
e o traballo de campo.
Con esa directriz comezouse a preparar en reunións semanais un programa de actuación que se
enceta coa recollida pormenorizada de bibliografía de prehistoria, arqueoloxía e antropoloxía, seguindo
o patrón, actualizado, do publicado polos autores arriba citados, na revista NÓS, en 1927; a realización
de catalogacións, prospeccións e escavacións do patrimonio arqueolóxico e preparación dalgún estudo
interdisciplinario de comarcas coa intención de proseguir o modelo de tarefa colectiva de anteguerra que
fixo posible singulares traballos de campo, uns como os do Ribeiro, Deza ou Fisterra, dos que só saíron
do prelo algúns traballos parciais, ou as magníficas monografías como Parroquia de Velle, Vila de Calvos
de Randín ou Terra de Melide, as tres editadas, constituíndo estudos pioneiros para os anos nos que se
levaron a cabo (entre 1930 e 1933) e nos que salientan as achegas nos campos da prehistoria, arqueoloxía
e etnografía, cuxo coñecemento era indispensable para alumar as orixes da formación histórica de Galicia.
Nos seguintes anos fóronse incorporando á Sección de Arqueoloxía e Prehistoria do Instituto Padre
Sarmiento, Vázquez Varela, Arias Vilas, Fariña Busto, Romero Masiá, Ramil Soneira, Sierra Rodríguez,
Calo Lourido, Caamaño Gesto, Rodríguez Casal, ...
Entendía Bouza Brey que o traballo arqueolóxico, tiña tamén que indagar no contexto, procurar o
coñecemento do lugar e a contorna na que se radicaba o obxecto de estudo. Nos traballos de campo,
nas xuntanzas semanais ou nos parladoiros que celebrabamos nas tascas do casco vello compostelán,
esta análise estaba moi presente. Era unha regalía asistir a aquelas leccións maxistrais, nas que a
arqueoloxía se enfiaba na súa conversa enriquecedora, coa arte, a lingüística, a toponimia, a etnografía,
a historia. A explicación dun xacemento ou unha xeira, era aproveitada para esculcar noutros aspectos
culturais. Como nos ilustrados do XVIII, nada era alleo á súa atención. O entorno xeográfico, o lugar e
a parroquia, a traza das igrexas rurais, a feitura e iconografía dos retablos, a orixinal e integrada arqui-
tectura popular, a conversa demorada co campesiño na busca dun costume, lenda ou refrán, do cantar
do pobo, o epígrafe dun cruceiro ou a escudriña no antigo arquivo parroquial, selado pola poeira do
tempo. Nin sequera faltaba a análise precisa de plantas e árbores, da utilización da medicina popular:
as propiedades da digitalis purpurea, das rutáceas ou da cortiza do bidueiro.
E así foi unha continua lección dende as terras de Compostela, deica as irtas penedías do Buriz,
e no medio, Lampai, Bexo, O Grove, Roupar, Barbanza, Terra de Montes... O profesor Acuña, como
membro da Sección de Arqueoloxía e Prehistoria do Instituto de Estudios Gallegos “Padre Sarmiento”,
habería participar en non poucas das prospeccións, catalogacións e escavacións realizadas. Entre elas
podemos citar a catalogación arqueolóxica da comarca de Santiago (1968); o estudo monográfico das
terras do Incio, Lugo, (1968), a escavación dos Modorros de San Pedro, Lugo (1968); a escavación da
necrópole megalítica de Bexo, Rianxo (1969); a prospección da necrópole megalítica de Lampai, Teo,
A Coruña (1970); a escavación da necrópole galaico‑romana de Adro‑Vello, O Grove, Pontevedra (1971);
ou o estudo monográfico da Terra de Montes, Pontevedra (1973‑1975).
Bouza Brey mantiña contactos con institucións e investigadores que traballaban no eido da prehis-
toria e arqueoloxía en España, Portugal e outros países europeos, Italia, Francia, Gran Bretaña ou Irlanda.
Nas reunións periódicas que celebraba a Sección daba conta das novidades que se producían naquelas
materias, que lle chegaban a través dos intercambios que tiña con colegas dos mencionados ou dou-
tros países. Insistía na conveniencia de concorrer a congresos e encontros científicos e de establecer
relacións con investigadores, aspectos que entendía convenientes para a formación e a investigación.
O seu nome era referencia para os investigadores foráneos, a quen recorrían na procura de información
encol da arqueoloxía galega. Por el coñecemos a significados arqueólogos dos que sabiamos polas
súas publicacións, o que deu pé para colaborar en programas de investigación que algúns daqueles
realizaron en Galicia. Estas relacións, con prehistoriadores e arqueólogos, portugueses, españois e
doutros países europeos, permitíronlle incorporar á súa biblioteca unha especializada bibliografía nos
campos da antropoloxía, prehistoria e arqueoloxía, en momentos, como xa se indicou, nos que o estudo
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Jorge de Alarcão1
RESUMO:
O Parochiale Suevum terá resultado de uma decisão, tomada no concílio de Lugo de 569, de
reorganizar o mapa eclesiástico do reino suevo. A nova divisão terá sido aprovada no II Concílio
de Braga (572). As fronteiras dos bispados de Braga e do Porto constam de documentos apó-
crifos que, todavia, parecem ser substancialmente correctos: não temos razão para supor que
não recordam os limites da época sueva mas os que as dioceses teriam tido em época posterior,
eventualmente no tempo de Afonso III de Leão.
Palavras‑chave: Parochiale Suevum; Dioceses de Braga e do Porto.
ABSTRACT:
The text known as Parochiale Suevum gives us a list of dioceses and their parishes of the kingdom
of the Suevi in Spain by 569‑572 AD. In the council of Lugo (569) it was decided to reorganize
the ecclesiastic divisions of the kingdom and the map seems to have been approved in the II
Council of Braga (572). The boundaries of the dioceses of Bracara and Portucale are only known
from forged documents dated to the end of the 11th century, but there are no reasons to suppose
they do not correspond to those of the end of the 6th century.
Keywords: Parochiale Suevum; Dioceses of Braga and Oporto (Portugal).
O preâmbulo com que o Parochiale Suevum se apresenta (LF 10 e 551) é certamente apócrifo
(DAVID,1947: 64‑65). Nele se diz que os bispos do reino suevo, reunidos em Lugo em 569, leram uma
carta que o rei Teodemiro lhes dirigira:
Cupio sanctissimi patres ut providi utilitate decernatis in provinciis regni nostri quia in tota Gallecie regione
spaciose satis dioceses a paucis episcopis tenentur ita ut aliquante ecclesie per singulis annis vix possunt a
suo episcopo visitari. Insuper tanta provincia unus tantummodo metropolitanus episcopus est et de extremis
quibusque parrociis longum est singulis annis ad concilium convenire.
Desejo, Santíssimos Padres, que tomeis as necessárias providências tendo em atenção que em toda a
Galiza as dioceses são muito vastas e os bispos são poucos, de modo que não podem visitar as suas igrejas
senão uma vez por ano. Além disso, sendo tão extensa esta província, só tem um metropolita — e é penoso
vir todos os anos das paróquias mais distantes ao concílio.
1 Professor Catedrático Aposentado da Faculdade de Letras de Coimbra. Membro do Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências
do Património.
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Continua o preâmbulo:
Dum hanc epistolam episcopi legerant elegerunt in sinodo ut sedis Lucensis esset metropolitana sicut et
Bracara quia ibi erat terminus de confinitimis episcopis et ad ipsum locum Lucensem grandis semper erat
concilio Suevorum. Etiam in ipso concilio alias sedes elegerunt ubi epsicopi ordinarentur.
Lida esta carta, os bispos decidiram, no concílio, promover a sé de Lugo a metropolitana, à semelhança da
de Braga, porque o lugar era central para os bispos dos territórios confinantes e nesse lugar de Lugo, desde
longa data, sempre se reunia a assembleia dos Suevos. Escolheram também no mesmo concílio outras
sedes para as quais se deviam ordenar bispos.
O texto que acabámos de transcrever e de traduzir pode ter sido redigido para servir de preâmbulo
às cópias que nos fins dos séc. XI e nos inícios do XII se fizeram do Parochiale Suevum. Nesta época,
em que os bispos disputaram a delimitação das suas dioceses, o Parochiale (então chamado Divisio
Theodemiri) foi muitas vezes copiado e invocado. Encontramo‑lo mencionado, por exemplo, na sen-
tença que D. Sesnando proferiu quando, em 1078, julgou o pleito ente os bispos D. Pedro de Braga e
D. Ederónio de Orense sobre a posse do território de Baroncelli (LF 21 e 619; COSTA, 1959, II, docs. 25
e 25A), ou na bula de Pascoal II, datada de 24 de Março de 1101, que confirmou ao bispo de Coimbra,
D. Maurício, as terras que vinham até Castrum Antiquum, isto é, até Vila Nova de Gaia (LF 5; LP 592 e
621; ERDMANN, 1927: 154‑156, doc. 2).
O carácter apócrifo do preâmbulo do Parochiale Suevum não exclui a possibilidade (ou probabili-
dade) de ser substancialmente verdadeira a notícia que nele se contém: num concílio reunido em Lugo,
em 569, por ordem ou com o apoio do rei Teodemiro, os bispos terão reconhecido a necessidade ou
conveniência de procederem a uma reorganização administrativa eclesiástica, com criação de novas
dioceses, sua delimitação e aprovação das paróquias de cada uma.
A preparação do novo mapa eclesiástico terá demorado algum tempo. Existiriam já então muitas
igrejas, umas modestas ou mesmo pobres, outras mais abonadas de rendas e de alfaias, umas em
cidades, outras em vici ou castella, algumas de fundação privada em villae ou in domibus potentum.
Acresciam mosteiros ou baselicae que assumiam a cura animarum das populações da sua vizinhança.
Algumas destas igrejas ou baselicae de fundação privada não eram instituídas com intuitos verdadeira-
mente piedosos, mas como um meio de seus proprietários tirarem proveito pessoal das contribuições
ou dádivas dos fiéis. Isto foi condenado em vários concílios, designadamente no II de Braga (572), que
também confirmou a obrigação, para quem fundasse igreja ou mosteiro, de dotá‑lo de bens fundiários
cujas rendas assegurassem devidamente as necessidades do culto.
Acresce que era preciso separar o trigo do joio e de privilegiar as igrejas cujos párocos garantissem
a divulgação da fé cristã sem suspeitas de arianismo, sem contágio da nefandissima Priscilliana secta,
ou sem aquelas práticas pagãs que S. Martinho de Dume denunciou no seu De correctione rusticorum.
Se no concílio de Lugo de 569 foi decidido reorganizar o mapa eclesiástico do reino suevo, a
aprovação deste terá sido feita no II Concílio de Braga, em 572, já no reinado de Miro, sucessor de
Teodemiro. Esta parece ser a data mais provável do Parochiale Suevum que Pierre David (1947: 67‑68)
atribuiu ao período de 572‑589 e Avelino de Jesus da Costa (1997: 40) situou entre 572 e 582.
Se efectivamente os bispos pensaram, em 569, em criar novas dioceses, a concretização da ideia
não terá ido muito longe. Pierre David (1947: 69) sugeriu que, entre o I e o II concílios de Braga, isto é,
entre 561 e 572, foram instituídas as dioceses de Magneto (com sede em Meinedo, posteriormente
transferida para o Porto), Idanha, Lamego, Tui e Orense. Meinedo e Tui teriam sido criadas por desmem-
bramento da diocese de Braga; Idanha, Lamego e Orense teriam sido distraídas de Conimbriga, Viseu
e Astorga, respectivamente. Pierre David não procurou distinguir as dioceses que terão sido instituídas
entre 561 e 569 (se é que algumas o foram) das que terão sido criadas na sequência da deliberação
do concílio de Lugo de 569.
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porém, que a diocese de Egitania tenha sido desmembrada da de Conimbriga. A linha montuosa das
serras da Estrela, do Açor e da Lousã e o vale do Zêzere constituem uma barreira e um fosso que separa
dois mundos. Não nos parece que de Conimbriga tenha partido a evangelização para a Beira Baixa;
mais facilmente admitiremos que a introdução do Cristianismo na Idanha tenha partido de Mérida.
Abordaremos agora o tema principal deste nosso artigo: o dos limites das dioceses de Bracara
e de Portucale.
Uma delimitação da diocese de Braga, atribuída a 572, encontra‑se no documento 15 do Liber Fidei:
Per flumina de Limia usque Limdoso ad illa Portella de Homine, per illa Portella de Larauco et inde per illa
Portela de Cegulus et inde per Carracio et inde ad Petra Ficta et inde ad montem Miserum et inde ad Coli‑
naria ad radice alpis Sispiatio, et inde per cacumina montium usque ad Bovia que dicitur de Vaccas et inde
ad portum de Mirleus per illa aqua de Estole usque in Durio, usque in foze de Corrago et inde ad montem
Maroni et inde ad Castro quod dicitur Villa Plana et inde ad illa ponte de Tamice et inde per illa aquam usque
ad fluvio de Uteros et inde ad Lumba et inde Portum Purgaani per illam aquam de Ave usque in Castro.
Pelo rio Lima até Lindoso, às portelas do Homem, de Larouco e de Cegulus, e daí, por Carracio e Perafita,
ao monte Miserum (Mísero ou da Miséria?) e a Colinaria, ao (ou no) sopé do monte Suspiácio; daí, pela
cumeada dos montes, até Bovia que chamam das Vacas e ao porto de Mirleus, e pelo Esla até ao Douro e
à foz do Corgo; daí à serra do Marão e ao castro a que chamam Vila Chã; daí à ponte do Tâmega e por este
rio até ao Odres; por Lomba e pelo porto de Burgães, (seguindo) pelo rio Ave até Castro.
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O documento 15 do Liber Fidei atribui ao concílio de Lugo e a 572 a delimitação que acabámos de
analisar. É óbvio que faz confusão entre o concílio de Lugo (569) e o II Concílio de Braga (572). Tanto
bastaria para suspeitarmos de que esta demarcação é apócrifa. Reforça‑se a suspeita com o que no
documento se diz: que a delimitação foi feita pelo bispo Martinho de Braga (isto é, por S. Martinho de
Dume) e pelo bispo Nigídio de Lugo, que teriam, muito diligentemente, ouvido os mais antigos e con-
sultado velhas escrituras. Não é credível que os bispos tenham consultado escrituras e ouvido anciãos
para fazerem a demarcação. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de assinalar que, de acordo com
o documento, teriam sido os bispos de Braga e de Lugo os autores da demarcação. Porquê o de Lugo,
se esta diocese não tinha fronteira com a de Braga?
Não nos esqueçamos de que, em 569, o bispo de Lugo foi promovido a metropolita, criando‑se
assim dois sínodos, com sedes em Braga e Lugo, embora o bispo lucense não tivesse total autonomia
e reconhecesse a maior autoridade do de Braga (COSTA, 1997: 42‑43). Como autoridades eclesiásticas
máximas, terão sido autores da demarcação das fronteiras de todas as dioceses da Galiza? O mapa
eclesiástico aprovado em 572 não enunciaria apenas as paróquias de cada diocese, mas conteria,
por escrito, os limites diocesanos? Apócrifo, o documento 15 do Liber Fidei ter‑se‑á inspirado num
documento autêntico?
O documento 552 do Liber Fidei contem outra versão do documento 15. Na delimitação propria-
mente dita não há, porém, divergências. O documento 554 do mesmo livro é uma bula de Pascoal II,
datada de 1114, confirmando ainda os mesmos limites.
Para Pierre David (1947: 56), Avelino de Jesus da Costa (1997, I: 29‑30 e 367) e José Marques
(1998‑1999: 407), esta demarcação da diocese de Braga não seria a do tempo dos Suevos, mas teria
sido efectuada por Afonso III (866‑910), que teria ampliado o bispado.
O rei de Leão restaurou a diocese de Braga (bem como as do Porto, Viseu e Coimbra). A revitaliza-
ção da vida cristã na diocese bracarense parece atestada por documentação relativa a várias igrejas e
mosteiros nos séculos IX e X (COSTA, 1959, I, passim; COSTA, 1981: 149‑157; AMARAL, 1999: 322‑324).
Por outro lado, a designação de Castro dada a Vila do Conde pode sugerir realmente uma demarcação
redigida nos finais do séc. IX ou nos inícios do X. Um documento de 953 chama já Villa de Comite a Vila
do Conde, mas, ao mesmo tempo, designa o lugar por castro vocitato Sancto Johanne (DC 67; COSTA,
1959, II: 1‑2; Vila do Conde. Tempo e território: 82‑84). Nos meados do séc. X usar‑se‑ia ainda a antiga
designação de Castro, mas com tendência a desaparecer; sendo assim, também não devemos datar
o documento do Liber Fidei 15 posteriormente aos inícios do séc. X.
Os bispos das dioceses restauradas por Afonso III não vieram, porém, residir nas suas sedes.
Isto acha‑se confirmado para Flaviano, bispo de Braga, para Rosendo, bispo de Dume e para Nausto,
bispo de Coimbra (COSTA, 1997, I: 196‑197). Flaviano teve residência em Lugo e os seus sucessores
mantiveram‑se na mesma cidade por mais de um século (CARRIEDO TEJEDO, 1998‑1999: 316‑317 e
329‑330).
Parece pouco credível, por isso, o alargamento territorial da diocese de Braga num tempo em
que o respectivo bispo nem sequer residia na sua cidade. Mais facilmente admitiríamos a redução
territorial do bispado a favor de Orense, Astorga ou Zamora. Afonso III repovoou Zamora em 893 e a
cidade tornou‑se sede de bispado (MARTÍN VISO, 2002: 68 e 90). Perto, a igreja de San Pedro de la
Nave, no território zamorense, um dos bons exemplos da arte asturiana, data dos séculos IX‑X (CABAL-
LERO ZOREDA e ARCE, 1997). Era necessário dotar a diocese de um território e, olhando o nosso mapa,
não custa a crer que Afonso III tenha podido pensar em levá‑lo até ao rio Sabor ou até ao rio Maçãs.
Nestas circunstâncias, afigura‑se‑nos pelo menos duvidoso que o rei de Leão tenha alargado, para
oriente, as fronteiras do bispado de Braga.
Tentando aprofundar esta questão de saber se os limites da diocese bracarense, como se definem
no documento 15 do Liber Fidei, podem remontar ao período suevo, examinaremos a localização dos
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pagi que o Parochiale Suevum atribui a Braga e que se situavam na parte mais oriental da diocese.
São eles:
Pannonias
Laetera
Brigantia
Aliste
Astiatico
Tureco
Vallariza
Auneco
Mantemos os itálicos da edição crítica de Pierre David, que assim quis distinguir o que considerava
interpolações tardias no texto original do Parochiale. Os nomes em redondo estariam contidos na versão
original e corresponderiam, por isso, aos pagi que, em 572, fariam realmente parte da diocese de Braga.
No nosso Mapa 2 representamos o que poderá ter sido a localização desses pagi.
Não há dúvida de que Pannonias ficava imediatamente a oriente do rio Corgo. Aí, em Vale de
Nogueiras (conc. Vila Real), o célebre santuário romano de Panóias mantem o nome do pagus. A vila de
Constantim, à qual D. Henrique e D. Teresa deram foral em 1096 (DR 3), chamou‑se de Panóias. São
numerosos os documentos medievais que, referindo lugares ainda hoje facilmente identificáveis, os
situam na área de Panoyas ou Panonias (SERRA, 1989: 222‑224, citando apenas alguns documentos
numa lista que sem esforço poderíamos multiplicar).
Na definição do âmbito geográfico do pagus suevo de Pannonias não demos, porém, demasiada
atenção aos documentos medievais. É possível (ou mesmo provável) que os limites da “terra” medieval
de Panóias não tenham coincidido exactamente com os do pagus suevo. Aqui, como nos demais pagi,
guiámo‑nos sobretudo pelas sub‑regiões naturais de Trás‑os‑Montes, admitindo (mas isto é claramente
um pressuposto) uma certa coincidência entre as regiões naturais e os pagi. Outros investigadores com
mais directo conhecimento da geografia regional e da ocupação romana da província poderão corrigir
as nossas fronteiras.
Cunharam moeda em Pannonias os reis visigodos Recaredo (586‑601), Viterico (603‑610) e
Sisebuto (612‑621) (VICO MONTEOLIVA, CORES COMENDIO e CORES URÍA, 2006).
O nome de Laetera está conservado em Fornos de Ledra, Vale de Prados de Ledra e Vilar de Ledra
(COSTA, 1959, I: 136). O pagus pode ter correspondido, grosso modo, a uma civitas romana que terá
tido sua sede em Vale de Telhas (conc. Mirandela) (LEMOS, 1993, IIa: 266 e Ib: 495; CRUZ, 2000: 221
e 421‑422).
Viterico (603‑610), Sisebuto (612‑621), Suintila (621‑631) e Tulga (639‑642) cunharam moeda
em Laetera.
O pagus Brigantia teria sede em Castro de Avelãs ou já no sítio da actual cidade de Bragança. Na
época romana, Castro de Avelãs parece ter sido a capital da civitas dos Zoelae, integrada no conventus
Asturicensis (TRANOY, 1981: 52). Esta seria, como muitas outras de zonas menos romanizadas, uma
civitas sine urbe, isto é, o seu centro cívico ou administrativo seria diminuta povoação. Duas aras à
divindade indígena Aernus recolhidas em Castro de Avelãs (CIL II 2606 e 2607; GARCIA, 1991: 281‑282;
REDENTOR, 2002: 46‑50), uma delas consagrada pelo ordo Zoelarum, deixam‑nos crer que ficava aí a
capital da civitas. Por outro lado, a mesma divindade foi adorada em Malta (conc. Macedo de Cavalei-
ros), nas faldas da serra de Bornes (GARCIA, 1991: 282; REDENTOR, 2002: 47‑48). Aernus parece ter
sido a divindade tutelar dos Zoelae. Sendo assim, é legítimo admitir que a civitas Zoelarum vinha, a
sudoeste, até à serra de Bornes. O pagus Brigantia parece ter tido menor área que a da civitas romana.
Os reis visigodos Recaredo (586‑601), Viterico (603‑610), Gondemaro (610‑612) e Sisebuto (612
‑621) cunharam moeda em Brigantia.
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Aliste surge como pagus da diocese sueva de Braga apenas na cópia do Parochiale inserta no
Liber Fidei como doc. 10.
Para Avelino de Jesus da Costa (1959, I: 110), o território de Aliste terá feito parte da diocese
bracarense desde a demarcação original (nisto discordando de Pierre David). O facto de apenas surgir
numa das cópias do Parochiale e de esta ter sido feita no scriptorium da Sé de Braga obriga a muita
ponderação.
Talvez em 572 não houvesse terra ou área chamada Aliste: o nome poderia ser tão só o de um
rio. Temos alguma dúvida em levar o pagus de Brigantia até ao rio Aliste, embora este pudesse ser
efectivamente a fronteira entre o pagus bracarense e a paróquia sueva de Maurelos do bispado de
Astorga. Posteriormente, Aliste ter‑se‑á tornado também corónimo, isto é, nome de região — sem que
isso queira dizer que se tornou pagus independente do de Brigantia. Inserindo o nome Aliste a seguir
ao pagus Brigantia, o responsável por aquela cópia bracarense do Parochiale apenas terá querido
assinalar que a área de Aliste pertencia, sem dúvida, à diocese de Braga. Aliste seria realmente uma
interpolação, talvez de finais do séc. XI. Esta interpolação teria sido necessária ou útil numa época em
que os bispos de Braga e de Astorga ambos reclamavam a posse do território.
Em 974, o bispo de Astorga teria reclamado, segundo documento publicado por Flórez (ES, XVI:
443), ecclesiae quae sunt in Bregantia per illum rivulum qui dicitur Tuella et discurrit usque dum intrat
in Durio contra Zamoram ad partem orientem, et intus Aliste et Senabria, Tibres, Caldellas, Caurielle et
Carioga et Jurres, “as igrejas que ficam em Bragança (a oriente) do rio que se chama Tuela e que corre
para o Douro, e as igrejas a oriente (do mesmo rio) até Zamora, e as que ficam em Aliste, Sanábria,
Trives, Caldelas, Caurielle, Carioca e Jurres”.
As pretensões do bispo de Astorga eram desmedidas: da diocese de Braga pretendia as terras a
oriente dos rios Tuela e Tua; da diocese de Orense, queria incorporar Trives, Senabria e Jurres (a primeira
e a última mencionadas no Parochiale sob os nomes Teporos e Geurros); da diocese de Lugo, Carioca.
O texto transcrito parece também uma interpolação, feita em data posterior a 974 (COSTA, 1959, I:
110), mas não há dúvida de que o bispo de Astorga em algum tempo fez ocupações abusivas, pois, em
1103, o bispo de Braga, D. Geraldo, recorreu ao Papa Pascoal II para obrigar o bispo de Astorga, D. Paio,
a restituir‑lhe quosdam metropolis sue parrochias, Laedram videlicet et Alistam et Bragantiam, quas
desolationis tempore perdiderat (LF 588; COSTA, 1959, I: 109), “algumas paróquias da sua metrópole,
isto é, Ledra, Aliste e Bragança, que havia perdido em tempos de devastação”.
Não é muito fácil equacionar estes tempos de devastação com as campanhas de Almançor que,
entre 979 e 994, por diversas vezes atacou Salamanca, Zamora, Astorga e Leão (MOLINA, 1981). Aquela
data de 974 (a do documento interpolado) é anterior às campanhas do chefe muçulmano. Terá o bispo
de Astorga ocupado indevidamente terras de Braga, Orense e Lugo antes dos ataques de Almançor?
Ou imediatamente depois?
D. Geraldo, reclamando, em 1103, Ledra, Aliste e Bragança, invocaria o Parochiale Suevum para
justificar o seu direito àquelas terras.
A contenda entre os bispos de Braga e de Astorga sobre a posse de Aliste e Bragança arrastou‑se
ainda por muitos anos (COSTA, 1959, I: 110‑111; MARQUES, 1998‑1999: 407‑408).
Ficavam certamente na parte oriental de Trás‑os‑Montes também os pagi Astiatico, Tureco e
Auneco, cuja localização levanta problemas.
A nossa anterior proposta de situar o Astiatico no planalto de Miranda do Douro/Mogadouro
(ALARCÃO, 2001: 35) deve considerar‑se como hipótese que carece de confirmação. Neste momento,
porém, não a rejeitamos.
O pagus Tureco, cuja existência se confirma por moedas de Sisebuto (612‑621) e de Suintila (621
‑631), ficaria talvez no planalto de Macedo de Cavaleiros, Izeda e Morais. Rejeitamos assim a nossa
anterior ideia — apresentada, porém, com muitas dúvidas — de situar este pagus no Vale da Vilariça
(ALARCÃO, 2004: 200‑202).
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Se esta proposta de localização dos pagi Pannonias, Laetera, Brigantia, Astiatico e Tureco se con-
firmasse, o Parochiale procederia, na sua enumeração, por contiguidade geográfica — neste caso, no
sentido dos ponteiros do relógio. A ordem manter‑se‑ia situando o pagus de Vallariza na área de Torre
de Moncorvo e do vale da ribeira da Vilariça e o pagus Auneco no planalto de Carrazeda de Ansiães.
Idácio, na sua Crónica 233, 239 e 249, refere os Aunonnenses e, no último daqueles parágrafos,
informa que, tendo feito paz com eles, os Suevos invadiram e pilharam certas localidades da Lusitania
e do conventus Asturicensis. Talvez de um topónimo *Aunium se tenha derivado o nome *Aunieco
> Auneco. Do mesmo topónimo, na sua forma locativa *Aunione, poderá ter‑se formado o etnónimo
Aunonnenses. Os sufixos –ecus e –ensis são equivalentes. Situando o pagus Auneco no planalto de
Carrazeda de Ansiães, localizamo‑lo simultaneamente na Lusitania e junto do conventus Asturicensis.
Esta proposta apresenta todavia algumas dificuldades.
Francisco Sande Lemos (1993, Ib: 483), tendo examinado o limite ocidental do conventus de
Asturica Augusta, coincidente com o oriental do de Bracara Augusta, traçou‑o pelo planalto da Lomba,
na confluência dos rios Mente e Rabaçal, pela cumeada da serra da Coroa e pela crista quartzítica das
Penhas Juntas, depois pelas serras da Nogueira e de Bornes e, vindo ao Tua, fê‑lo seguir pelo curso
inferior deste rio, que aí corre num vale muito encaixado.
O rio Douro constituía a fronteira setentrional da Lusitania desde a foz até a confluência do Tua.
Subindo por este rio, a fronteira da província acompanhava o rebordo norte do planalto de Carrazeda de
Ansiães, cruzaria o curso superior da ribeira da Vilariça, seguiria o rebordo sul do planalto de Miranda
do Douro/Mogadouro e regressaria ao Douro.
Este território da Lusitania a norte do Douro seria o da antiga civitas romana dos Banienses, que a
inscrição da ponte de Alcântara CIL II 760 integra na lista dos municipia da Lusitania que contribuíram
para as obras da ponte.
A integração desta área do extremo sudeste da nossa província de Trás‑os‑Montes na antiga
província romana da Lusitania não põe particulares problemas, visto que era fácil a transposição do
Douro em vários pontos a montante da confluência do Tua. Mas podemos perguntar‑nos: o território dos
Banienses incluía também o planalto de Carrazeda de Ansiães? Ou apenas a área que hoje é conhecida
como Vale da Vilariça? E por onde é que os Banienses confrontavam, a norte, com os Zoelae?
Como atrás vimos, estes últimos, com capital provavelmente em Castro de Avelãs, poderiam descer
até Malta (Macedo de Cavaleiros). Neste caso, deveríamos fazer subir até à serra de Bornes o limite
setentrional dos Banienses e, consequentemente, da Lusitania? O limite retornaria ao Douro junto da
confluência do rio Tormes, passando pelas alturas da Sra da Assunção?
Admitindo a possibilidade de os Banienses terem integrado as áreas de Vilariça e de Carrazeda
de Ansiães, o seu nome poderia estar esquecido ou já não ser usado no séc. VI e o pagus chamar‑se
‑ia Auneco. Teríamos, a norte, um caso semelhante: o nome dos Zoelae estava esquecido e o pagus
chamava‑se agora Brigantia.
Vallariza surge como pagus da diocese de Braga apenas numa das cópias do Parochiale: a do
Liber Fidei 10.
Pierre David (1947: 33), seguido por Avelino de Jesus da Costa (1959, I: 112), considerou que
o pagus Vallariza correspondia ao pagus Valle aritia que o Parochiale inclui na diocese de Portucale.
Tratar‑se‑ia, pois, de um pagus transferido, tardiamente, de uma a outra diocese.
Não nos parece admissível que a Vallariza do extremo sudeste de Trás‑os‑Montes tenha sido pagus
da diocese do Porto. Olhando os nossos mapas, torna‑se óbvio que Vallariza ficava muito distante da
diocese de Portucale, separada dela pelo pagus Panonnias (e pelo pagus Auneco se acaso este ocupava
realmente o planalto de Carrazeda de Ansiães).
Mas houve mesmo um pagus Valle aritia na diocese do Porto?
Diferentes cópias do Parochiale escrevem Valle aritia, Vallericia, Valericia, Vallacia. As três primeiras
formas encontram‑se em quatro cópias do Parochiale; noutras quatro, o nome é Vallacia. Parece‑nos
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discutível a opção de leitura feita por Pierre David: Valle aritia. O nome do pagus portucalense não
seria Vallacia?
O topónimo Valejas parece ter existido sobre o rio Ferreira, perto de Luriz (ou Loriz), entre Paredes
e Valongo. Em 1147, D. Afonso Henriques coutou ao bispo do Porto a vila de Luriz (ou Loriz) (DR 220).
O documento é conhecido apenas através de uma tradução que dele publicou D. Rodrigo da Cunha
(1742, 2a Parte, cap. IV), mas Rui de Azevedo não viu razão para se duvidar da sua autenticidade.
Neste documento fala‑se da ponte de Valejas. É possível que D. Rodrigo da Cunha tenha traduzido
por Valejas um nome que, no documento latino, seria Vallacia ou Vallegia. Talvez o nome Valejas
persistisse no séc. XVIII. Hoje não se encontra no Repertório Toponímico; mas os lugares citados na
carta de couto permitem situar o couto de Loriz (ou Luriz) na área das actuais freguesias de Astro-
mil, Baltar, Vandoma e Vila Cova de Carros, do concelho de Paredes, e na de Campo, do concelho
de Valongo. A ponte de Valejas, sobre o rio Ferreira, daria passagem a uma via (que não marcámos
na nossa carta). Esta estrada medieval do Porto, por Valongo e Paredes, até Penafiel (ALMEIDA,
1968:174) já existiria na época romana?
Se acrescentarmos que há uma ceca de Recaredo (586‑601) em Vallegia (VICO MONTEOLIVA,
CORES GOMENDO e CORES URÍA, 2006: 198‑199), parece‑nos mais do que provável que este (o de
Vallegia) tenha sido o nome correcto do pagus suevo portucalense. Nunca terá havido pagus Valle aritia
na diocese do Porto — e nunca este território terá sido transferido para a diocese de Braga.
Também nos parece que a região do extremo sudeste transmontano hoje chamada de Vilariça
ficou integrada, em 572, na diocese de Bracara. Moedas de Viterico (603‑610), Gondemaro (610‑612)
e Sisebuto (612‑621) cunhadas em Valleritia atestam a existência do nome pelo menos já nos inícios
do séc. VII. Mas seria Valleritia uma povoação do pagus Auneco? Se, em 572, Valleritia já fosse pagus,
devíamos encontrar o nome em todas as cópias do Parochiale. Ora só o encontramos numa única cópia,
feita na Sé de Braga. Isso convence‑nos de que se trata de uma interpolação tardia. Aceitando essa
interpolação, não temos de concluir necessariamente que a área do pagus Vallericia só foi integrada
na diocese de Braga muito tardiamente. No séc. XI já não se saberia localizar com exactidão a maior
parte dos pagi e paróquias suevas. Os nomes antigos tinham, na maior parte, desaparecido. O nome
Auneco já não existia. A sua área, porém, era de Braga. Por isso o copista, mantendo o nome Auneco,
acrescentou o de Vallariza, sem consciência de que se tratava do mesmo pagus. Ou, se tinha consci-
ência, a manutenção do nome Auneco e o acrescento de Vallariza era como que uma explicitação: o
antigo pagus Auneco correspondia ao que agora se chamava Vallariza.
A área do Vale da Vilariça pode ter sido subtraída a Braga na época visigótica para ser integrada
na nova diocese de Caliabria.
O Parochiale Suevum regista Caliabria como paróquia de Viseu mas acrescenta: quae apud Gotos
postea sedes fuit, “que depois, no tempo dos Visigodos, foi sede episcopal”. Conhecemos bispos de
Caliabria entre 633 e 688 (GARCÍA MORENO, 1974: 174‑175). A permanência do nome Castelo Calabre
imediatamente a sul do rio Douro permite identificar a sede (CABRAL, 1963).
É possível que o bispado de Caliabria tenha recebido, quando foi criado, as terras da Vilariça.
Pela extinção do bispado (aquando da invasão muçulmana?), e na incerteza e confusão dos tempos
subsequentes, a área poderá ter ficado muito tempo sem adscrição eclesiástica. Nada nos deixa crer
que Afonso III, nos fins do séc. IX, tenha integrado o território na nova diocese de Zamora — ainda que
tal hipótese não pareça inteiramente destituída de senso.
Em algum momento, a área pode ter sido atribuída à (ou apropriada pela) diocese de Salamanca.
Esta hipotética integração pode ter sido, porém, muito tardia. O Papa Pascoal II, entre 1109 e 1113,
condenou o arcebispo de Toledo por ter retirado paróquias à diocese de Astorga para as dar ao bispo
de Salamanca (LP 633; ERDMANN, 1927: 164‑165, doc. 12; ERDMANN, 1935: 23). Será que Vallariza
foi, em algum tempo, apropriada por Astorga e que o arcebispo de Toledo a retirou a esta diocese para
a dar ao bispo de Salamanca?
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A posse de Vilariça viria ser disputada entre os bispos de Braga e de Salamanca. A contenda entre
os prelados resolveu‑se provisoriamente quando o bispo D. Paio de Braga (1118‑1137) cedeu ao de
Salamanca, D. Jerónimo, mas a título de préstamo, metade do que pertencia à Sé de Braga entre os
rios Tua e Esla, com excepção de Ansiães e Linhares (Carrazeda de Ansiães) (LF 582; DP IV 77; COSTA,
1959, I: 113; COSTA, 1997, I: 77).
Os limites da diocese do Porto, não estando expressamente mencionados nos documentos 15 e
552 do Liber Fidei, estão neles implícitos, visto que a diocese portucalense confrontava com a de Braga.
Numa bula de Pascoal II, datada de 1115 (Censual: 13; OLIVEIRA, 1956: 39), confirmam‑se esses
limites, com referência a outros pontos não constantes daqueles documentos do Liber Fidei. Vê‑se, por
essa bula, que o bispo do Porto pretendia anexar à sua diocese as terras a sul do rio Douro e até ao
rio Antuã que o bispo de Coimbra, fundado no Parochiale, reclamava como suas. A norte do rio Douro,
porém, a bula papal define assim o território da diocese portucalense:
A fauce Auiae fluminis ubi cadit in mare Occeanum, per ipsum fluminem sursum usque in Auicellam fluuium,
et per Auicella ad archus Palumbaris. Inde ad antam de Temone, inde ad montem Farinae, inde ad montem
Marantis, inde ad Campeanam fluuiam et per ipsum fluuiam sicut defluit in Bandugium et per Bandugium
sicut decurrit in Corregam et per Corregam in Dorium flumen.
Da foz do rio Ave, onde este entra no mar, pelo dito rio acima até ao rio Vizela, pelo Vizela até ao arco de
Pombeiro, depois à anta de Temone, ao monte Farinha e ao monte Marão, daí ao rio Campeã e por este até
ao Banduge, e pelo Banduge até entrar no Corgo, e pelo Corgo até ao rio Douro.
O arco de Pombeiro ficaria em Pombeiro de Riba Vizela (Fig. 3). Não sabemos localizar a anta
de Temone nem o monte Farinha. Atravessada a serra do Marão, a fronteira ia ao rio Campeã. Se não
existe hoje rio com esse nome, devia correr pela área da actual freguesia de Campeã. O Banduge da
bula de Pascoal II não seria a actual ribeira da Bandugem, mas o rio Sordo, que vem desaguar no Corgo.
Concluindo:
Sendo apócrifos os documentos do Liber Fidei que atribuem ao concílio de Lugo os limites da
diocese de Bracara, parece‑nos que estes correspondem efectivamente aos que terá tido a diocese
sueva. Não pode excluir‑se a hipótese de, no séc. IX ou nos finais do XI, ainda subsistir algum documento
do séc. VI, posteriormente desaparecido, que traçaria esses limites. Em alternativa, podemos aceitar
a ideia de que, através de muitas vicissitudes históricas, sempre se conservou memória dos limites
suevos. Não temos razão séria para supor que os limites foram definidos por Afonso III.
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Almeida, Carlos A. Brochado de; Almeida, Pedro Brochado de — Alguns apontamentos sobre a cividade de Bagunte – Vila do Conde
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ALGUNS APONTAMENTOS
SOBRE A CIVIDADE DE BAGUNTE – VILA DO CONDE
Carlos A. Brochado de Almeida1
Pedro Brochado de Almeida2
RESUMO:
A cividade de Bagunte é a mais divulgada estação arqueológica do concelho de Vila do Conde.
Localizada num monte com ótima visibilidade para os territórios situados a norte e a sul do rio Ave,
mereceu, já na ponta final do século XIX, o interesse de arqueólogos como Ricardo Severo e Martins
Sarmento e na década de 40 da centúria seguinte de F. Russel Cortez. Sobretudo este realizou, ali,
algumas campanhas de escavações que puseram a descoberto um misto de construções castrejas
e romanas, distribuídas por espaços ortogonais que têm já a chancela da influência romana na
região. A reorganização urbana do povoado aconteceu na segunda metade do século I, com a
dinastia Flávia. No espólio recolhido e conservado merece destaque o conjunto de cinco torques
de prata e um razoável número de fragmentos cerâmicos de origem indígena (castreja) e romana.
Palavras‑chave: Cividade; Cultura castreja; dinastia Flávia; Romanização; Urbanismo ortogonal;
torques; Núcleos habitacionais; Quarteirões/bairros
ABSTRACT:
The Cividade of Bagunte is the most publicized archaeological site of the municipality of Vila do Conde.
Located on a mound with great visibility over the territories to the north and south of the Ave River it
called the attention and interest of various archaeologists such as Ricardo Severo and Martins Sar-
mento, in the end of the 19th century, and F. Russell Cortez in the 40’s of the next century. F. Russell
Cortez organized digging campaigns at the site that uncovered a mixture Castrejo and Roman type
buildings and structures, distributed by orthogonal spaces that already have the seal of a Roman
influence in the region. The urban reorganization of the town happened in the 2nd half of the century,
with the Flavian dynasty. Many archaeological remains were uncovered such as a set of five silver
torques and a reasonable number of ceramic fragments of indigenous (Castrejo) and Roman origin.
Keywords: City; Castro culture; Flavian dynasty; Romanization; Orthogonal urbanism; Torques;
housing units; Blocks / neighborhoods
A cividade de Bagunte está situada na parte norte do concelho de Vila do Conde, numa elevação
de terreno que ronda os 200m de altitude, num espaço geográfico que está delimitado pelo rio Este a
norte, pelo rio Ave a sul e a oeste, só que mais distante, pelo oceano atlântico. Faz parte de um vasto
leque de povoações da Idade do Ferro do Noroeste Peninsular, algumas delas situadas na sua periferia
– Cividade de Terroso, Laúndos, Castro de São João, Castro de Ferreiró, Castro Boi, Castro de S. Paio,
Castro de Santa Marinha de Retorta e Castro de Alvarelhos – as quais, pelos mais diversos motivos,
têm merecido a atenção dos investigadores desta área do conhecimento científico.
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À imagem doutras estações arqueológicas ‑ nomeadamente Briteiros, Sabroso, Santa Luzia, Terroso,
Alvarelhos ‑ também esta captou a atenção dos arqueólogos na ponta final do século XIX, pois em todas
elas foram feitas algumas das primeiras intervenções arqueológicas em estações da Idade do Ferro
desta região. Foi delas que saíram as primeiras referências documentais, baseadas nos materiais reco-
lhidos em sondagens, avulsas ou mais sistematizadas, que ajudaram a tipificar uma das mais pujantes
culturas ibéricas à data da conquista romana, aquela que prontamente foi batizada de Cultura Castreja.
Que a cividade de Bagunte foi uma importantíssima povoação da Idade do Ferro desta parte da Gallecia
meridional, que integrou o território dos Bracari e que desempenhou um papel preponderante nas ligações
entre as diversas etnias que povoavam a região situada entre o Douro e o Cávado, é matéria que ninguém
coloca em causa devido ao conhecimento que sobre este habitat existe. Aliás, o conhecimento da sua exis-
tência é muito anterior ao das primeiras pesquisas com chancela de pesquisa arqueológica sistemática.
A mais antiga referência bibliográfica de que há notícia sobre este castro data de 971 e faz parte
de um documento pré‑nacional inserido na coletânea dos Diplomata et Chartae. Neste diploma, a
propósito de uma propriedade localizada na villa Gacim, toma‑se como referência um “subtus monte
Bogonte”3, que mais não é que a cividade de Bagunte4. Aliás, a menção a civitas só aparece mais
tarde, num outro documento, este de 1028 e também onde há uma referência posicional à herdade
de Gacin: “de illa ereditate in villa Gacin ad radice civitas Bogonti”5.
O interesse documental pelo monte da cividade não se esgota, todavia, no castro em si. É que,
de um certo modo, ligado a ele está Argifonso, um pequeno castro, que também foi castelo, localizado
na vertente norte do monte da cividade. Está situado no topo de um cabeço orientado para o vale do
rio Este e foi de tal modo importante que a documentação o tomou como ponto de referência de uma
forma bem explícita: “subtus mons kastro Argifonsi”6.
Também e à imagem de outros povoados, os séculos obscureceram um passado cheio de vida e
de tradições e quando, esporadicamente, voltavam a ser recordados, nem sempre o foi pelos melhores
motivos. Falava‑se deles porque eram locais a evitar, porque davam guarida a toda a sorte de entidades
maléficas, sem descurar mouros e mouras encantadas e que serviam até para guardar tesouros encan-
tados. Ora como não podia deixar de ser, também o monte da cividade de Bagunte e o seu entorno não
escaparam a esta sedução, bem típica, aliás, do imaginário minhoto.
Vários foram os autores que se referiram à crença popular de que havia um “caminho coberto”
entre a cividade, o castro de Argifonso e o rio, já para não falar do “penedo do gato” e de um outro,
localizado na vertente meridional do monte da cividade, na proximidade da antiga estrada da Póvoa de
Varzim para Famalicão, todos eles com histórias para contar a aferrados discípulos de São Cipriano7.
Apesar da sua importância, esta povoação da Idade do Ferro esteve longe, mesmo na Idade
Média, de ser a única entidade conhecida pelos moradores das terras situadas no entorno do monte.
Uma leitura, mesmo que superficial, das Inquirições que D. Afonso III ordenou em 1258 à freguesia de
Santa Maria de Bagunte, mostra que havia antas, pelo menos em dois sítios – Outeiro da Anta e Vilar
da Anta ‑, mormoriais e que a travessia do rio se fazia em barco, já para não mencionar a ponte de D.
Zameiro junto da qual havia uma ermida dedicada a Santa Cruz8.
Os séculos rodaram e o interesse pelas ruínas do monte da cividade, parcialmente visíveis, só
voltou à ribalta documental no início do século XVIII, quando o P.e Carvalho da Costa escreveu a sua
corografia. Sobre elas, o parágrafo que ele lhe dedicou é bem explícito e dispensa qualquer tipo de
pág. 137‑141; SARMENTO, F. Martins, Antiqua, Apontamentos de Arqueologia, Sociedade Martins Sarmento, Guimarães, 1999, pág. 290‑291.
8 PMH, Inquisitiones 1258, pág. 1420.
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Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 49-62
comentário, já que alia o aspeto lendário à realidade arqueológica existente à data. Por outras palavras,
o autor refere‑se ao castro/castelo de Argifonso, à cividade e às lendárias ligações subterrâneas que
haveria entre si: “ junto do rio Deste acima da Ponte de Arcos estão vestígios de fortificação, que se
comunicava por estradas encubertas com outra mayor no alto do monte, a que inda chamão a cividade,
& as ruínas mostrão qual seria sua fortaleza”9.
Muito mais parco em referências ao sítio foi a abade Luís Ferreira Caldas, pároco de Santa Maria
de Bagunte, relator das Memórias Paroquiais de 1758. Na sua dissertação sobre a freguesia limita‑se
simplesmente a dizer que o monte mais alto da terra “se chama o da Cividade”, que sobre o rio Ave havia
uma ponte10 “na estrada que vai para Viana e mais terras do Norte”, mas não faz qualquer alusão às tão
propaladas ruínas11. Bastante mais elucidativo foi Pinho Leal quando abordou no seu dicionário corográ-
fico o que de mais relevante havia na freguesia de Santa Maria de Bagunte. Segundo ele, ali havia “um
alto monte chamado da Cividade que é tradição antiquíssima ter sido cidade e fortaleza dos mouros”12.
Coevo destas notícias é o interesse de Ricardo Severo e de Fonseca Cardoso pelo Monte da Cividade.
Ambos eram membros da “Sociedade Carlos Ribeiro”, uma agremiação cultural fundada no Porto em 1887
e que se interessava pelo estudo da arqueologia. Desta sociedade faziam parte nomes do universo arqueo-
lógico nortenho de então, como Rocha Peixoto e com ela colaboraram homens como F. Martins Sarmento.
O interesse de Ricardo Severo pelo estudo da cividade entende‑se porque a sua família possuía
uma quinta na base do monte, junto à estrada Porto‑Rates‑Barcelos, que ele naturalmente visitaria
antes de iniciar as suas primeiras sondagens no topo do monte. É hoje uma propriedade que faz parte
do espólio dos Padres Monfortinos em Portugal e que administrativamente pertence à freguesia de São
Simão da Junqueira. Aliás, não foge à regra de então. Martins Sarmento interessou‑se pela Citânia de
Briteiros devido à proximidade da sua casa de família, o solar da Ponte na freguesia de São Salvador
de Briteiros. Rocha Peixoto era natural da Póvoa de Varzim, daí o seu interesse pela arqueologia envol-
vente, mormente pelo Castro de Terroso, cujas escavações dirigiu conjuntamente com José Fortes13 que
também tinha estado envolvido nas primeiras sondagens do Castro de Alvarelhos no ano de 189914.
A atividade arqueológica desenvolvida pela dupla de investigadores na Cividade de Bagunte, devido
ao seu entrosamento no meio científico, haveria de despertar o interesse de outros investigadores, como
F. Martins Sarmento, J. Leite de Vasconcelos e Mendes Corrêa. Não sabemos se a primeira intervenção
feita no castro por Ricardo Severo é temporalmente afim à visita que ai fez Martins Sarmento, mas é
bem provável que uma das realidades esteja associada à outra.
Numa carta enviada a 16 de Agosto de 1883 por Martins Sarmento a J. Leite de Vasconcelos, este
informava que indo para a Póvoa de Varzim pretendia visitar o monte da Cividade de Bagunte onde lhe
diziam haver vestígios arqueológicos melhor conservados que os que se viam em Terroso. Que a visita
se fez não há qualquer dúvida, pois a carta que ele enviou com data de 19 de Setembro desse mesmo
ano descreve o que ali viu, concluindo que, tanto Terroso como Bagunte, eram semelhantes a Laúndos15.
Aliás, nos apontamentos que deixou e que mais tarde viriam a ser publicados pela Sociedade com o
seu nome, Martins Sarmento informa que no dia 6 de Agosto daquele ano estava junto a Bagunte,
em Casal Pedro, onde pretendia recolher informações acerca das antiguidades que havia entre o Ave
e Cávado16. Que este investigador subiu ao topo do monte, não restam dúvidas pois ele é bem claro
quando informa que junto ao marco geodésico havia um moinho de vento arruinado e que junto dele
9 COSTA, P.e Carvalho da, Corografia Portuguesa, T. I, Lisboa, 1706, pág. 321‑322.
10 Pontede D. Zameiro.
11 CAPELA, José Viriato et alii, As Freguesias do Distrito do Porto nas Memórias Paroquiais de 1758, Braga, 2009, pág. 711‑713.
12 LEAL, Pinho, Portugal Antigo e Moderno, Vol.1, Lisboa, 1873, pág. 307.
13 GOMES, José Manuel Flores; CARNEIRO, Deolinda, Subtus Montis Terroso, Póvoa de Varzim, 2005, pág. 99.
14 FORTES, José T. R, A estação archeologica d’Alvarelhos, Typografia Central, Porto, 1899.
15 VASCONCELOS, J. Leite de, Extractos da correspondência de F. Martins Sarmento (1881‑1883), in O Archeólogo Português, Vol. VI (1‑2),
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se estava “no centro da cividade”. Finalmente que o monte também recebia o nome de facho e que
este talvez fosse a “mamoa gorda” de que falavam os pescadores poveiros17.
A visita de F. Martins Sarmento ao cimo do monte da cividade data de meados de 1883 e fácil será
de admitir que a relação que ele tinha com Ricardo Severo e demais membros da Sociedade Carlos
Ribeiro os tenha juntado, na quinta do primeiro, antes da digressão arqueológica. Pode também não
ter sido assim e Martins Sarmento ter‑se socorrido de outros companheiros de aventura, mas o certo
é que, três anos depois, em 1886, Ricardo Severo e Artur Cardoso assinavam a notícia da primeira
intervenção arqueológica que ali tinham feito um ano antes, enviada precisamente para a Revista de
Guimarães fundada e dirigida por aquele investigador vimanarense, o mesmo que acrescentou um
pequeno comentário sobre o potencial arqueológico que havia nem torno da cividade.
O pequeno artigo começa por localizar a cividade, precisando que esta se situa a uma altitude de
197m e que o cimo é uma espécie de pequeno planalto “enrugado por montículos”. Foi precisamente
num destes montículos que eles abriram uma vala, sem definição de comprimento, mas com 50cm de
profundidade. Foi dela que extraíram cerâmica que eles consideraram ser igual à do castro de Sabroso,
portanto castreja e que muitos destes fragmentos haviam sido fabricados com a roda de oleiro e que
muitos dos bocados, incluindo fundos planos, apresentavam sinais de utilização ao fogo. Entre todo o
material individualizavam, pela raridade, um cossoiro18.
Terá sido esta investigação que contribuiu de forma decisiva para a classificação, em 16 de Junho
de 191019, da Cividade de Bagunte com Monumento Nacional. Facto meramente curioso é o desta
classificação ter sido decretada ainda durante o período da monarquia que viria a ser deposta a 5 de
outubro do mesmo ano.
Seguiu‑se a visita de Mendes Corrêa. Este antropólogo, que foi fundador do museu que leva o
seu nome e se encontra no edifício da Reitoria da Universidade do Porto, menciona a sua passagem
pela Cividade de Bagunte num relatório que tem a data de 18 de Fevereiro de 1950. Nele escreveu
que tinha ali estado em 1915 e ali tinha realizado ”algumas sumárias sondagens e visitado as ruínas
anteriormente exumadas por R. Severo e Fonseca Cardoso”20.
À imagem de tantos outros sítios, também a Cividade de Bagunte resvalou para o esquecimento
após esta primeira tentativa de reabilitação patrimonial. Assim aconteceu até ao começo da década
de 40 do século XX, altura em que Fernando Russel Cortez, à data delegado da Junta Nacional da
Educação em Vila do Conde, voltou a movimentar o interesse arqueológico pelo sítio. Para isso muito
terá contribuído um mecenas local, então presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde e que vivia
em Vilarinho, Macieira da Maia, praticamente às cavaleiras da ponte de D. Zameiro, sobre o rio Ave.
Chamava‑se Bento de Sousa Amorim, era senhor de uma vasta fortuna, o que lhe permitiu contribuir
com importância de 14.000$00 para que as escavações se realizassem21.
Não sabemos, verdadeiramente, quando a intenção de retomar a investigação na Cividade de
Bagunte foi equacionado, mas a ajuizar pelas missivas trocadas, este deverá ter sido retomado em 1943,
já que, a 28 de Fevereiro de 1944, tinha havido um despacho ministerial favorável a tal intenção. Foi no
seguimento deste despacho que Russel Cortez informou a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais (DGEMN) que “a exploração metódica da Cividade de Bagunte” tinha começado no dia 17
de Julho de 194422. Antes, em 21 de Junho, por altura da preparação dos trabalhos, o arqueólogo
17 SARMENTO, F. Martins, Antiqua, Apontamentos de Arqueologia, Sociedade Martins Sarmento, Guimarães, 1999, pág. 263.
18 SEVERO, Ricardo; CARDOSO, Artur, Notícia Arqueológica sobre o Monte da Cividade, in Revista de Guimarães, Vol. III, Guimarães, 1886,
pág. 137‑141.
19 Decreto de 16.6.1910.
20 Arquivo da DGEMN – Cividade de Bagunte.
21 Arquivo da DGEMN – Cividade de Bagunte.
22 Arquivo da DGEMN – Cividade de Bagunte. A campanha deste ano está devidamente assinalada numa das plantas que posteriormente
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responsável informava a DGEMN que o proprietário da parcela onde as escavações se iriam realizar
queria ser indemnizado dos prejuízos futuros, por força do local ficar improdutivo.
Os trabalhos desta primeira intervenção duraram pouco mais que um mês, porque no dia 21
de Agosto, Russel Cortez informava a DGEMN que o subsídio atribuído por Bento de Amorim se havia
esgotado e ele desconhecia o montante que o Ministério das Obras Públicas iria atribuir aos trabalhos.
Lamentava ainda não poder estar presente quando os proprietários das bouças procedessem à venda
da madeira, porque temia pela conservação das ruínas23. Os trabalhos realizados nesse ano mereceram
honra de notícia num dos jornais diários de maior expansão nacional, pois o O Século de 22 de Agosto
desse mesmo ano escrevia que a intervenção arqueológica na cividade tinha sido um sucesso, porque
“aturadas escavações” tinham revelado “a existência de uma antiquíssima povoação”24.
Embora não haja uma publicação oficial dos resultados desta campanha, tudo indica que Russel
Cortez elaborou um relatório que foi enviado à entidade que então tutelava a investigação arqueológica
em Portugal. No dia 4 de Janeiro de 1945 a 2ª Sub‑Secção da 6ª Secção da Junta Nacional da Educação
incumbia o seu delegado em Vila do Conde, Russel Cortez, a prosseguir com os trabalhos na Cividade
de Bagunte, sob a orientação do Instituto de Antropologia da Universidade do Porto, visto que “os resul‑
tados obtidos nesta primeira campanha podem qualificar‑se de notáveis”25. Rematava este relatório
com uma chamada de atenção para o facto da primeira campanha ter tido somente o apoio pecuniário
de Bento de Amorim, pelo que se propunha que a DGEMN solicitasse os bons ofícios do Comissariado
do Desemprego na atribuição de um subsídio que permitisse a continuidade dos trabalhos.
A dinâmica empregue no primeiro ano da campanha de Russel Cortez não encontrou a necessária
correspondência em 1945, segundo se depreende de uma exposição que o mesmo enviou à DGEMN
no dia 8 de Fevereiro de 1946. De acordo com o citado texto, no ano de 1945 não havia sido possível
imprimir “o ritmo aconselhável aos trabalhos em curso” por motivo de não ter chegado atempadamente
a comparticipação pecuniária26. Por isso, naquele ano, havia‑se limitado a fazer pequenas obras de
limpeza e de arrumo de materiais saídos da área escavada e que impediam uma leitura do sítio. Apro-
veitava o ensejo para expor algumas das preocupações mais prementes e evidentes, aquelas que mais
atentavam contra a integridade da estação arqueológica.
Referia, em primeiro lugar, o facto de se continuar a “confeccionar carvão na área melhor conser‑
vada das ruínas” e como se isso não bastasse continuava‑se, sem qualquer critério, a abater árvores, a
rachar lenha, a arrancar trêpos e a circular com carros de bois. Tudo isto somado causava irreparáveis
danos nas ruínas, tanto mais que os prevaricadores disfarçavam as covas com “terriço e musgo”. Por
isso e para evitar males maiores propunha que se procedesse à expropriação dos terrenos27 de uma
área circunscrita a 250m de raio a partir do “buraco na rocha que serviu para segurar a antiga vara
do telégrafo” e que se abrisse um caminho de acesso às ruínas28.
O apoio estatal às escavações na cividade previsto para 1945 só chegou no ano seguinte, pois
a 8 de Março de 1946, o Comissariado do Desemprego informava a DGEMN que, por portaria, havia
sido concedida uma comparticipação de 18.000$00 destinada ao “prosseguimento das escavações
na Cividade de Bagunte, em Vila do Conde”, razão pela qual os responsáveis teriam de proceder ao
recrutamento do pessoal, a estabelecer um caderno de encargos e a comunicar, com 15 dias de ante-
cedência, a data do começo dos trabalhos29. Estes começaram a 7 de Agosto daquele ano, mas antes,
a 4 de Junho, Russel Cortez enviou o solicitado caderno de encargos no qual se comprometia a escavar
Torres, do lugar do Castelo, freguesia de Arcos; Manuel Ferreira Lopes Marafona, de Casal Pedro, freguesia de São Simão da Junqueira; Amadeu
Faria, de Casal Pedro, freguesia de São Simão da Junqueira e Dr. Gonçalves Costa, freguesia de Balazar, concelho da Póvoa de Varzim.
28 Arquivo da DGEMN – Cividade de Bagunte.
29 Arquivo da DGEMN – Cividade de Bagunte.
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cuidadosamente todas as terras, recolhendo todos os materiais à razão de 100$00 o metro cúbico, a
consolidar as paredes pelo valor de 150$00 o metro cúbico e a fornecer todos os materiais de escava-
ção e de conservação, bem como o seguro dos operários, sem outros encargos mais para o Estado30.
Até ao início de 1948 não voltamos a encontrar notícias sobre esta estação arqueológica, razão
que leva a presumir que durante o ano de 1947 não tenha havido trabalho de monta no castro, não por
falta de vontade do arqueólogo em continuar os trabalhos, mas porque, nem privados, nem o Estado,
disponibilizaram verbas para o efeito. Essa ideia só voltou a ser equacionada a 20 de Setembro de 1949,
quando o arquiteto Raul Lino, à altura diretor dos Serviços da DGEMN, enviou uma lista de monumentos
de Vila de Conde que necessitavam de obras de restauro. Nela estava a Cividade de Bagunte. De acordo
com esta diretiva ali deveriam ser gastos 18.000$00 nos seguintes itens: escavação e arrumação de
terras; consolidação de estruturas dentro da muralha; consolidação dos vários troços de muralha e
transporte dos entulhos para fora da área de proteção31.
A intenção de Raul Lino não passou disso mesmo, talvez porque a DGEMN não deveria ter fun-
dos suficientes e uma nova comparticipação do Fundo do Desemprego não parecia ser viável, como
posteriormente se veio a comprovar, porque, como o reconhecia Russel Cortez, havia o espartilho da
lei. Por seu lado a Câmara Municipal, através do seu presidente Bento de Amorim, em ofício de 11 de
Novembro de 1950, mostrava‑se disponível para construir uma estrada de acesso à cividade desde
que o Estado expropriasse os terrenos e promovesse a investigação. Estariam também na disposição
de auxiliar financeiramente os trabalhos arqueológicos, na condição do poder central também o fazer
e de nomear um guarda permanente para sítio. Caso contrário não estava “disposto a colaborar, por
considerar inútil gastar‑se dinheiro sem possibilidade de defeza das obras realizadas”32. Desde o
começo da campanha de Russel Cortez, em prol da Cividade de Bagunte, que ele lutou contra a falta e
a intermitência do financiamento, contra a inconsciência de certos agentes para com as ruínas e pela
definição de uma área de protegesse juridicamente a área do antigo habitat.
A luta contra as tropelias praticadas, consciente e inconscientemente, no povoado começaram no
preciso momento em que as escavações arqueológicas se iniciaram. Já nessa altura Russel Cortez se
queixava do arranque e corte de árvores, do fabrico de carvão, no trânsito de carros de bois na área já
escavada e depois da replantação de eucaliptos. Por exemplo a 8 de Junho de 1949 ele queixava‑se,
num relatório enviado ao Ministério da Educação, que na gleba pertencente a Manuel Gonçalves Costa
os estragos eram elevados, pois o corte de um grande eucalipto tinha destruído uma das casas circulares
feitas “de barro ou adobe”. Ainda e segundo o referido relatório, o mesmo proprietário havia “recoberto
de terra certos elementos do interior das casas, dos restos de fornos, pilares e colunas de sustentação de
telhados, pavimentos barro endurecido”. Como se não bastasse foi retirado do lugar “um pilar decorado
com rosetas exifólias33, mós de moinho que estavam encastradas em paredes e, muita pedra”. Foram
estes os motivos que estão na base de uma comunicação da Repartição do Património do Ministério das
Finanças à DGEMN, datada de 12 de Dezembro de 1949 e na qual esta informava que havia solicitado
à Câmara Municipal, na sua qualidade de autoridade policial naquele concelho, que “tomasse as provi‑
dências para que os proprietários e outros não danifiquem as ruínas a descoberto”34.
No ano seguinte, em 1950, a destruição da cividade continuava na ordem do dia e de tal modo que
a Câmara Municipal, na impossibilidade de contratar um guarda permanente, arranjou como solução
alternativa encarregar um proprietário local para vigiar o local. Esta ideia não viria a dar resultados
práticos, como aliás o viria a reconhecer, em Agosto de 1950, o diretor geral da DGEMN.
da Cultura Castrexa Galego‑Portuguesa, Vol. I, Museo de Pontevedra, Pontevedra, 1994, pág. 112‑114.
34 Arquivo da DGEMN – Cividade de Bagunte.
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Almeida, Carlos A. Brochado de; Almeida, Pedro Brochado de — Alguns apontamentos sobre a cividade de Bagunte – Vila do Conde
Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 49-62
Sentindo‑se manietado pela situação criada, Russel Cortez sugeria que caso a expropriação não
avançasse com a necessária celeridade, que ao menos os proprietários fossem avisados das penalida-
des em que incorriam sempre que danificassem as ruínas arqueológicas postadas nos seus terrenos.
As escavações arqueológicas dirigidas por Ricardo Severo e posteriormente por Russel Cortez
foram sempre feitas em terrenos privados, pois o Estado ou a Câmara Municipal nunca avançaram com
um processo de compra amigável e muito menos com um processo de expropriação, embora tivesse
havido pressões e indicações nesse sentido, por parte de algumas entidades.
Russel Cortez por mais que uma vez sugeriu a expropriação e chegou mesmo a indicar uma área,
todavia nunca conseguiu que se passasse das intenções aos atos. Contudo, depois de tanta insistên-
cia, à qual a Câmara Municipal não foi alheia, a Repartição do Património do Ministério das Finanças
ordenou que se estudasse uma área de proteção da Cividade de Bagunte e que se especificasse quais
as parcelas que mais interessavam ao prosseguimento das escavações arqueológicas, com a finali-
dade do Estado as adquirir. Definidas e delimitadas, totalizavam uma área de 75.915m235. Como não
podia haver uma área a expropriar e uma outra destinada à proteção do monumento sem haver uma
planta topográfica credível, foi contratado o Agente Técnico de Engenharia Civil José Maria de Sousa,
do Porto, para a elaborar na escala 1/500, pela quantia de 7.500$00. Esta abrangia uma área de
23.274 hectares inscritos num círculo com 600m de diâmetro36.
Terão sido estes relatos de abandono e de constante destruição das ruínas arqueológicas que
estarão na base da criação de uma Zona Especial de Proteção (ZEP) das mesmas, em 195037. Procurava
‑se, desta forma, materializar em planta a área que deveria ser alvo de proteção legal acrescida, na
esperança que tal travasse o ritmo de destruição.
Que os terrenos nunca foram expropriados pelo Estado Central é um facto comprovado. Mas
também é sabido que, em 1986, a Secretaria de Estado da Cultura não exerceu o seu direito de pre-
ferência sobre uma das parcelas que então se encontrava à venda. A cedência dos direitos do Estado
assentaram num parecer negativo da sua auditoria jurídica, que foi corroborado por um outro oriundo
do Departamento de Arqueologia38.
As notícias posteriores à década de cinquenta sobre a Cividade de Bagunte continuaram e nem
sempre pelos melhores motivos. Algumas das vezes foram agitadas pela imprensa diária. Por exemplo,
em 1964, como reação a uma notícia saída num periódico, a secção norte da DGEMN admitia que a
cividade se encontrava sem manutenção, repleta de vegetação que tinha crescido e desenvolvido após
a paragem das escavações. Mais explicitamente informava que a limpeza podia fazer‑se com uns meros
5.000$00, só que havia o contratempo dos terrenos serem privados. Finalmente, em 1982, foi a vez
do então Presidente da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, Francisco Sande Lemos,
informar o Instituto Português do Património Cultural (IPPC) que a Cividade de Bagunte se encontrava
sujeita a uma série de vandalizações, incluindo escavações clandestinas, de permeio com a destruição
do património, aos quais urgia por cobro. Para o efeito sugeria que fosse estabelecido um protocolo
de colaboração com o Ministério da Administração Interna para que a Guarda Nacional Republicana
(GNR) pudesse deslocar‑se ali em patrulhas de vigilância39.
Os anos andaram e só com a constituição do Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal e da APPA
‑VC40 é que se começaram a procurar soluções para a Cividade de Bagunte. Através de acordos pontuais
com os proprietários conseguiu‑se proceder à limpeza das ruínas postas a descoberto por Russel Cortez,
35 De acordo com o arquivo d DGEMN elas eram dos seguintes proprietários: José Ferreira da Costa com 38.352m2; Amadeu Faria com
arqueológico concelhio.
55
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Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 49-62
travou‑se a proliferação das árvores, mormente dos eucaliptos, cortaram‑se aquelas que estavam a danificar
seriamente as estruturas, valorizou‑se o caminho de acesso para visitas pedonais e criou‑se informação
bilingue distribuída por placares colocados junto dos locais mais significativos. Mais recentemente, 2009,
estabeleceu‑se um programa de cooperação com a University of Texas at Austin (EUA) que resultou no reinício
das intervenções arqueológicas, num espaço próximo àquele que foi escavado por Russel Cortez, mas ainda
não tocado41. O trabalho desenvolvido pelo Município de Vila do Conde teve sucessos mais recentes, 2015,
que se materializam na integração da Cividade de Bagunte na rede de Castros do Noroeste Peninsular e
na aquisição de um conjunto muito significativo de terrenos, num total de quase 18ha. Entre os terrenos
adquiridos encontra‑se todo o espaço onde se incluem as ruínas escavadas nos séculos XIX, XX e XXI.
As escavações realizadas por Ricardo Severo e depois por Russel Cortez incidiram sobre o topo da
colina. Puseram a descoberto uma série de estruturas, permitiram recolher uma série de materiais arque-
ológicos que foram depositados no Museu de Antropologia da Universidade do Porto e no antigo Museu
do Douro Litoral42, mas não produziram qualquer estudo científico consistente, porque, salvo algumas
informações dispersas e parcas, nunca os autores publicaram qualquer estudo monográfico sobre o sítio.
Russel Cortez ainda prometeu escrever uma memória circunstanciada, mas que não passou da intenção43.
A falta de informação precisa sobre este sítio não impediu que a estação arqueológica fosse suces-
sivamente recordada, sobretudo, por causa dos materiais arqueológicos que as campanhas feitas por
Russel Cortez depositaram no Museu de Antropologia da Universidade do Porto. Uma outra fonte de
referências aos materiais arqueológicos da Cividade de Bagunte provém dos seus torques em prata44.
O conjunto é composto por cinco peças, sendo que um é uma bracelete e os restantes quatro são
colares rígidos. O seu centro produtor levanta muitas dúvidas, não por força das suas tipologias, antes
por causa da prata. Por esse motivo, há quem avente a hipótese da sua origem ser mediterrânica, preci-
samente porque os torques de tradição castreja são fabricados em ouro e não em qualquer outro tipo de
matéria‑prima. Tal facto não invalida, obviamente, que eles tenham sido trazidos para Bagunte como parte
integrante do espólio familiar de alguém que possa ter participado, por exemplo, nas campanhas militares
que se desenrolaram no centro e sul da península durante os consulados de Décimo Júnio Bruto, Sertório
e Júlio César45, à imagem de outras peças encontradas noutras estações arqueológicas nortenhas46.
A primeira notícia desta descoberta surgiu em 1948 pela mão do próprio Russel Cortez47 para
ser reafirmada, em 1951, pelo arqueólogo galego F. Lopez Cuevillas48. Posteriormente muitas outras
referências se fizeram49, das quais a mais completa será a de Armando Coelho, quando os incluiu na
lista da ourivesaria proto‑histórica, na revisão que fez à sua 1ª edição da sua tese de doutoramento50.
Se nos abstrairmos dos materiais não cerâmicos – vidros, contas de pasta vítrea, um pequeno anel
ou o cabo de uma faca que remata em cabeça de animal – há que destacar um vasto leque de fragmentos
cerâmicos, na sua maioria de fabrico indígena, mas onde também há outros de importação, entre as quais
avultam as ânforas e as sigillatas de fabrico sud‑gálico e hispânico51. Algumas destas peças são interessantes
do ponto de vista morfológico e até funcional, nomeadamente um pequeno recipiente, de corpo cilíndrico,
41 O protocolo com esta universidade americana foi assinado em 10 de Julho de 2009 e renovado em 25 de Julho de 2013.
42 Neste antigo museu encontrava‑se depositada com o nº 5461 de inventário, a possível ombreira de porta descrita e publicada por Calo Lourido.
43 CORTEZ, F. Russel, Actividade Arqueológica em Portugal durante 1947, in Archivo Español de Arqueologia, Vol. XXI (72), Madrid, 1948,
pág. 269‑281.
44 A Câmara Municipal de Vila do Conde comprou os torques, em 1995, ao Dr. João Rebello de Carvalho pela quantia de 2000 contos.
45 GONZÁLEZ GARCIA, Francisco Javier (Coord.), Los Pueblos de la Galicia Céltica, Editorial AKAL, Madrid, 2007, pág. 302.
46 Pode ser também esse o caso dos capacetes e travessa com copos em bronze encontrados no castro de Castelo de Neiva.
47 CORTEZ, F. Russel, Actividade Arqueológica em Portugal durante 1947, in Archivo Español de Arqueologia, Vol. XXI (72), Madrid, 1948, nº 72.
48 LÓPEZ CUEVILLAS, F., Las Joyas Castreñas, Madrid, 1951, pág. 38‑40.
49 LADRA, L., Os torques de prata da Cividade de Bagunte, in Estudos Pré‑históricos de Viseu, Viseu, 2001, pág.111‑112.
50 SILVA, Armando Coelho Ferreira da, A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal, 2ª edição, Paços de Ferreira, 2007, pág. 355‑356, Est. CXII.
51 ALMEIDA, Carlos A. Brochado de, A Romanização no Concelho de Vila do Conde, in Actas do Congresso Histórico Comemorativo dos
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que remata em bico e tem sinal de uma asa. Esta peça tem sido considerada como um cadinho52, mas é
provável que seja um recipiente onde se recolhiam as limalhas usadas depois na metalurgia53.
Na sua quase totalidade, o espólio desta estação arqueológica está por estudar, tal como o estão as
estruturas defensivas e habitacionais postas a descoberto nas campanhas dos séculos XIX e XX. Não há
registos estratigráficos, desconhecemos se há algum diário de campo das campanhas de Russel Cortez
e lutamos contra as agressões que a natureza e a incúria humana têm vindo a lançar sobre um povoado
que mostra sinais de ter tido uma interessantíssima organização urbana interna. Em linhas gerais, em
território de Brácaros, só há paralelos, para já, na citânia de Sanfins, na cidade Velha de Santa Luzia, em
Alvarelhos e mais remotamente em Briteiros e no Monte Mozinho. Nos restantes povoados, com alguma
atividade arqueológica já registada, nomeadamente nos castros de Terroso, de São Lourenço, de Âncora,
de Castelo de Neiva, etc., raras são as manifestações próximas ou afins a este tipo de ortogonalidade.
Ideia mais generalizada coloca a Cividade de Bagunte no interior de uma malha defensiva formada
por três ordens de muralhas. Não sabemos se será esse o número exato e tão pouco se, as que são
mais ou menos visíveis, são coevas umas das outras, ou se são o produto das reformulações e acres-
centos que a área habitacional teve ao longo de mais de meio milénio de vida.
Tanto a planta topográfica elaborada em tempo de Russel Cortez como a mais recente54, da res-
ponsabilidade dos técnicos da Câmara Municipal de Vila do Conde, levanta‑nos um série de dúvidas
quanto à orientação das muralhas e estas, a serem‑no, arrastam atrás si outras tantas incertezas. Por
exemplo, como é que elas se articulam tendo orientações por vezes bem divergentes e noutros casos
como é que se explica a presença de um muralha de pedra, precisamente ao lado, de uma outra em
terra, precedida de um talude e um fosso, largo e fundo, à distância de a uma escassa dezena de
metros. Provavelmente não são estruturas cronologicamente coevas, mas isso só poderá ser explicado
através de uma intervenção arqueológica que procure radiografar esta e outras situações, que feliz-
mente abundam em todo o povoado. Uma outra dúvida que nos persegue é sabermos até que ponto,
a muralha mais exterior deste povoado, que está servida de um fosso, bem visível no caminho de
acesso à acrópole, é coeva da outra, caso não seja a mesma, que presumivelmente circunda o espaço
habitacional no ponto mais alto do habitat.
Apesar de não haver registos estratigráficos, as escavações levadas a efeito por F. Russel Cortez
puseram a descoberto uma série de estruturas que permitem, apesar de algumas indefinições, esta-
belecer alguns parâmetros e tirar certas ilações.
A primeira está relacionada com o facto da área escavada da acrópole se situar no interior de uma
muralha em pedra observável a quem chega vindo do sul. A segunda procura perceber a organização
interna, com uma malha um pouco à maneira da citânia de Sanfins, assente num arruamento central
(parcialmente escavado) que se ramifica, provavelmente num outro postado a poente, sendo que os
dois são servidos, pelo menos por cinco arruamentos transversais, os quais servem de baliza a uma
série de espaços sub‑retangulares, aos quais poderemos apelidar de quarteirões ou bairros. Esta orga-
nização interna sugere a existência de unidades intermédias, de tipo unidades familiares, as quais, por
sua vez, estariam subdivididas em unidades menores ou seja em núcleos familiares.
Em linhas gerais é isto que se observa do levantamento topográfico das estruturas descobertas
e agora recentemente limpas e que passamos a analisar mais em pormenor, apesar de sabermos que
nem todas as unidades descobertas terão o mesmo enquadramento cronológico. A apoiar há ainda as
plantas elaboradas em 1948 pelo arqueólogo e que foram enviadas à DGEMN55.
52 ALMEIDA, Carlos A. Ferreira de, Cerâmica Castreja, in Revista de Guimarães, Vol. LXXXIV(1‑4), Guimarães, 1974, pág. 171‑197.
Armando Coelho Ferreira da, A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal, 2ª edição, Paços de Ferreira, 2007, pág. 200 e Est. LVII,3.
53 SILVA,
54 Em 1948 foi encomendada uma planta topográfica que um ano depois a Repartição do Património do Ministério das Finanças esperava
que lhe fosse entregue para avançar com a zona de proteção. Possivelmente ainda nesse ano recebeu‑a conjuntamente com outras onde estão
representadas as estruturas então descobertas.
55 O arquivo da antiga DGEMN possui um total de seis plantas da cividade de Bagunte.
57
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Quarteirão/bairro A
Este conjunto está delimitado por três arruamentos, XP, X1 e X2 e encosta, ou quase, provavel-
mente, à muralha de pedra mais interior57. É para estes arruamentos que estão orientadas as poucas
entradas conhecidas, nomeadamente a do núcleo I. Para além deste, seguindo a orientação dos muros
divisórios e morfologia das diversas estruturas, conclui‑se que este espaço estava repartido por mais
que cinco núcleos, porque o II, face à vasta área vasta, que ocupa, está muito mal definido em termos
de estruturas, sejam elas habitacionais ou não.
Núcleo I
Está bastante bem definido e compreende cinco estruturas, todas em conexão com um pátio central
que está empedrado, tal como a sua ligação à rua X158. A estrutura principal é uma casa circular, de fábrica
castreja, com porta orientada para o centro do pátio. Esta bem pode ser o resquício arquitetónico de um
ordenamento anterior. Os restantes edifícios, todos eles já com a chancela romana, têm formas retangu-
lares ou próximas e com as portas também orientadas para o pátio. Como não há registos estratigráficos
não é fácil deduzir qual a funcionalidade de cada um no interior do núcleo, mas tomando como exemplo
outros casos conhecidos, é provável as construções 1 e 2 sejam anexos de animais, reservando para a 4
e 5, as funções de celeiro, arrumos e outras funcionalidades próprias de uma casa que vivia da lavoura,
dos produtos da floresta e da criação de animais, nomeadamente os ovino‑caprinos.
Núcleo II
Deste núcleo só conhecemos verdadeiramente o que resta de uma casa circular castreja que foi
parcialmente incorporada na parede divisória do núcleo I. É possível que dele, também fizesse parte a
estrutura 2, só que esta tem a entrada orientada para a rua X1, o que faz dela uma estrutura irracional
em função destes dois núcleos familiares. Outra certeza, é que este núcleo – será seguramente mais
do que um – tinha ligação através de portas com o I e também com o V.
Núcleo III
Trata‑se de outro espaço também ainda muito mal definido, pois dele só está cartografada uma
estrutura sub‑retangular encostada à linha divisória com o núcleo IV. Sabemos que é um espaço fechado
com entrada provável para o arruamento transversal mais meridional ou seja, para o X1.
56 Tais elementos estão bem presentes, por exemplo, no arruamento que agora classificamos como X2
57 Atendendo à planta elaborada por Russel Cortez é provável que a balizar pelo lado poente haja um outro arruamento, mas que nas
atuais circunstâncias não está visível.
58 Nem todo o empedrado, fora e dentro dos núcleos está representado no levantamento topográfico mais recente. Aliás a planta que agora
se apresenta possui muitos lapsos porque toda a área escavada por Russel Cortez precisa de uma reinterpretação com a finalidade de estabelecer
uma ligação entre os muros que se encontram, por diversos motivos, interrompidos e entre estes as ligações entre si e com os arruamentos.
58
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Núcleo IV
Apesar das estruturas também estarem mal definidas e imperfeitamente representadas na atual planta,
é possível perceber que possuía uma casa circular castreja, a qual resta uma pequena parcela e duas estru-
turas retangulares, de fábrica romana, de dimensão e funcionalidade, provavelmente distintas. O acesso
a este núcleo far‑se‑ia a partir do arruamento transversal X2, como acontece, aliás, ao vizinho núcleo V.
Nota interessante é que a base da casa circular é integralmente feita em barro, desconhecendo
nós como seria a parte restante.
Núcleo V
Este núcleo tinha entrada para a rua X2 e tinha ligações com II. Do conjunto de estruturas que
possuía resta parte de uma casa circular de técnica castreja e parte de uma outra, possivelmente um
anexo, de forma quadrangular que faceava com a rua X2 e com o acesso à mesma. No atual estado
da situação é muito difícil avançar com qualquer outro tipo de análise.
Quarteirão/bairro B
Este espaço está delimitado pelo arruamento central XP e pelos transversais X2 e X3. É possível,
tal como acontece com o anterior, que este também estivesse balizado a poente por um novo arrua-
mento, do qual há indícios, mas não certezas.
É um espaço ainda muito mal definido, sobretudo na parte voltada ao arruamento X3. Esta par-
cela ou ainda não foi escavada integralmente, ou então sofreu das muitas constrangimentos por que o
castro já passou. Na atual situação tem quatro núcleos habitacionais bem definidos, mas estes devem
crescer para cinco ou mesmo seis.
Núcleo I
Este é um dos conjuntos habitacionais mais completos e também dos mais complexos, porque
apresenta as incongruências típicas de um espaço que sofreu uma profunda remodelação mas não
eliminou totalmente os resquícios da realidade anterior.
Compreende entre cinco a seis estruturas estrategicamente distribuídas em torno de um pátio
central e num espaço delimitado e fechado por muros. A única entrada está orientada para a rua X2.
O edifício principal deste conjunto é uma antiga casa circular provida de vestíbulo ou caranguejo que
foi integrada na nova ordem urbana com a remodelação urbanística que forneceu o modelo que chegou até
nós. A acompanhar esta habitação há uma série de estruturas de tipologia sub‑retangular (2, 3 e 4) que se
alinham em redor do pátio que era integralmente empedrado, tal como outros espaços mais mortos, como
aquele que se situa entre a casa castreja e a estrutura retangular nº 2. É, aliás, para este pátio que todas as
entradas das diversas casas se orientam. Difícil de entender é o espaço nº 6, que parece ser o que resta de
uma antiga casa circular, mas que não joga com a realidade do edifício nº 3, porque impede a comunicação
entre e pátio e o espaço que lhe está adjacente. Realidade distinta é a comunicação que havia entre o pátio
e as traseiras das casas 3 e 4, pois que entre elas havia um pequeno espaço de circulação.
Núcleo II
Este espaço, também com entrada garantida para o arruamento X2, compreende quatro estruturas
habitacionais (1, 2, 3 e 4) todas elas de planta sub‑retangular. Estão também todas orientadas para um
espaço central o qual, de acordo com o levantamento de Russel Cortez, também estava empedrado59.
59 A manta morta que ali se criou posteriormente à intervenção dos anos 40 do século passado não foi retirada e impediu que tenha sido
59
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Núcleo III
Este núcleo, que tem como limites balizadores as ruas XP e a X2, é um dos mais difíceis de analisar
porque só tem visíveis duas casas circulares e restos de uma construção que parece ser retangular.
A parte restante ou não foi ainda escavada, ou foi uma das parcelas que foi fortemente violada no
período pós‑escavação. A esta realidade acresce ainda o facto de uma das casas, a nº 1, ter a base
feita em barro, à imagem de uma outra que pertence ao Núcleo IV do Quarteirão A.
Núcleo IV
Na sua presente composição este núcleo é formado por três estruturas, sendo que a 1 é uma casa
circular, a 2 oblonga com restos de um caranguejo e a 3 um espaço retangular. A entrada do núcleo
dá diretamente para o arruamento X3, enquanto a das estruturas convergia para um pátio comum.
Quarteirão/bairro C
Este é um dos espaços da acrópole que está manifestamente incompleto no que diz respeito à
escavação. Situado entre as ruas X3, X4 e a XP, só o sector que tem por baliza o arruamento principal é
que pode ser verdadeiramente analisado, percebendo‑se que está dividido, pelo menos em três núcleos.
Núcleo I
Ao invés do que é visível na área escavada deste povoado, este núcleo tinha a sua área coletiva
logo na entrada da rua X3, estando por isso mesmo adjacente a ela. Em redor dele havia quatro com-
partimentos sub‑retangulares, sendo duvidoso que o nº 5 fizesse parte dele, porque a planta que Russel
Cortez fez, mostra que o espaço entre a construção 1 e a 5 era lajeado e que seria uma ligação entre
a rua e um outro núcleo situada mais atrás e que é o III.
Núcleo II
Ainda que imperfeitamente indefinido, este núcleo, que tinha entrada garantida pela rua X4, era
constituído por duas casas de características castrejas e talvez por dois ou três compartimentos de
tendência retangular romana. Uma das casas castrejas, a 1, de forma circular, tem restos de um caran-
guejo, tal como também o tem a 2, que possui uma forma oblonga imperfeita. Em qualquer dos casos,
todas as estruturas estavam orientadas para um pátio central, também ele empedrado.
Núcleo III
Este núcleo, como já vimos, tinha uma ligação direta com a rua X3 e estava balizado, pelo lado
nascente, com um muro que o separava o II. Dele pouco sabemos à exceção de que tinha, pelo menos
uma casa circular, a 1.
Quarteirão/bairro D
Entre as ruas X4 e X5, mais a XP como balizamento oriental, há um conjunto de estruturas de
formato retangular60, dispostas lateralmente em função de uma larga rua, interna, lajeada, para a qual
todas as construções têm as suas portas orientadas.
60 Não estão representadas na planta de Russel Cortez. A remoção da enorme carga de detritos que se foram acumulando nos últimos anos
sobre a área das antigas escavações não permitiu ainda que a limpeza fosse total de modo a permitir registar todas as estruturas aí existentes.
60
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Não sabemos verdadeiramente qual a função destas estruturas, mas tudo aponta para que não
seja uma área habitacional. Olhando para o seu perfil e para estruturas congéneres de outras estações,
inclinamo‑nos mais para que seja uma área de serviços, construída já no decorrer do baixo‑império, quando
alguns destes povoados adaptaram certas áreas, antes residenciais, em olarias, ferrarias, carpintarias, etc.
Cronologia
Sem estratigrafias e sem materiais arqueológicos dispostos em camadas credíveis, torna‑se muito
difícil apontar uma cronologia aceitável para as populações que usaram durante séculos este sítio.
Os materiais arqueológicos, quase todos provenientes das camadas mais superficiais, apontam
para uma cronologia que se situa entre o período La Tène e o fim do Império. O grosso do material
situa‑se entre o século I a.C. e o II, mas a reorganização urbanística do castro, essa deve ter ocorrido
já no período imperial, provavelmente na segunda metade do século I, possivelmente já debaixo da
liderança da dinastia Flávia. Esta situação, a ter acontecido assim, não invalida que a vida no castro
tenha acontecido muito antes e que depois tenha perdurado muito para lá da falência da cultura Cas-
treja. Não faltam exemplos de povoados, com o Monte Mozinho, o castro de São Lourenço e o castro de
Castelo de Neiva à cabeça, onde no século IV se conhecem revitalizações da vida urbana, em muitos
casos tornados prestadores de serviços daqueles que tinham optado por descer para a planície quando
os efeitos da romanização se começaram a fazer sentir na Gallaecia meridional.
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Arezes, Andreia — Guarnições de freio de equídeos: perspectivas sobre um conjunto de materiais da antiguidade tardia no território português
Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 63-76
Andreia Arezes1
RESUMO
O presente artigo pretende inventariar e sistematizar as características de um conjunto de
guarnições metálicas de freio conservadas em distintas instituições museológicas portuguesas.
A análise morfológica desses materiais serve‑nos de ponto de partida para a reflexão em torno
de uma série de questões pertinentes que se colocam a seu respeito e que passam pelos mais
diversos domínios. Neste sentido, a abordagem proposta incide sobre a iconografia privilegiada
na concepção destes objectos, promove a discussão acerca da natureza simbólica e social de
que se reveste a sua utilização e, necessariamente, empreende um esforço de afinação do
respectivo enquadramento cronológico.
Palavras‑chave: Guarnições de freio; Equídeos; Antiguidade Tardia.
ABSTRACT
This article aims to inventory and systematize features of a set of metallic harness linings found
in different Portuguese museums. The morphological analysis of these materials serve as a star-
ting point of reflection on several pertinent issues related to multiple domains. In this regard, the
approach focuses the iconography privileged during conception of these objects, promotes the
discussion of the symbolic and social nature of its use and, necessarily, undertakes an attempt
to improve its chronological framework.
Keywords: Harness lining; Horses; Late Antiquity.
1. Introdução
O cavalo assume‑se como uma “figura” de prestígio, cuja importância surge inequivocamente reflec-
tida nas fontes arqueológicas, históricas e iconográficas, e não apenas para o quadro da Antiguidade
Tardia. Basta, pois, atentar na abundante produção científica que vem sendo dedicada aos equídeos,
aos materiais ou aos contextos arqueológicos que com eles se relacionam, para desde logo se constatar
o quanto, nas mais distintas cronologias, foi já aberto espaço e desbravado terreno para a concretização
de um progressivo investimento neste campo de investigação2. Naturalmente, compreende‑se o interesse
granjeado por tais domínios, sobretudo em razão da valiosa utilização a que estes animais, celebrados
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entre os autores antigos, poderiam ser votados: elementos fulcrais no trabalho do campo, na caça, no
transporte ou em combate, percebe‑se o quão significativo poderia revelar‑se o seu uso. E se a relevância
do cavalo enquanto recurso “utilitário” é eloquente e inequívoca, o mesmo se pode afirmar relativamente à
carga simbólica passível de lhe ser imputada. Com efeito, participava de cenários lúdicos, integrando jogos
públicos, “encenações” de aparato (Aurrecoechea Férnandez 2007: 321‑322) ou, inclusive, a ambiência
funerária. Na verdade, os enterramentos de cavalos parecem encontrar‑se imbuídos de conotações mági-
cas, suscetíveis de transmitir uma mensagem vital de força, poder e fertilidade (Karczewska et al. 2009:
62), e de criar aproximações com a dimensão religiosa e mitológica (Aurrecoechea Férnandez 2007: 321).
A articulação entre tais esferas surge plasmada, por exemplo, nos sepultamentos de cavalos sacrificados,
como os descobertos num núcleo mortuário localizado a norte do Sena. Neste cenário, atestado arqueo-
logicamente, o equídeo foi identificado com Sleipnir, ser mítico consagrado a Odin, cuja função primordial
seria a de assegurar, uma vez por ano, o retorno dos defuntos ao universo terrestre (Rouche 1989: 488),
interpretação sugestiva, até pelo facto de ilustrar claramente o vigor das concepções que pressupunham
uma inevitável fluidez e interpenetração entre mundos, o dos vivos e o dos mortos. De qualquer modo,
os vestígios que vêm sendo coligidos parecem suficientes para garantir que os enterramentos de cavalos
ou de materiais a eles associados enformam uma prática constante ao longo do primeiro milénio, e um
pouco por toda a geografia europeia, independentemente de se correlacionarem com a implementação
do ritual de incineração ou de inumação (Cross 2011: 190).
Mas, direcionando‑nos para um outro patamar, vejamos também como a posse do equídeo é,
por inerência, sinal de um certo estatuto económico e indício da pertença do detentor a um patamar
social elevado. Pedro Palol Salellas, uma referência incontornável no estudo das guarnições de freio,
chamou a atenção para o facto de tais objectos configurarem reflexo evidente do gosto pessoal e da
mentalidade que norteava os proprietários. E entre estes, haverá naturalmente que fazer menção aos
que controlavam os espaços fundiários. Com efeito, as escavações que levou a cabo na villa de Pedrosa
de la Vega, em Valencia, parecem ter dado um contributo de vulto para que se estabelecesse uma
associação clara entre os hábitos de uso dos grandes potentiores e a utilização deste tipo de peça.
Além do mais, e no seu entender, permitiram firmar algumas das características basilares da cavalaria
hispano‑romana dos séculos IV e V (Palol Salellas 1972: 140; Ripoll López; Darder Lisson 1994: 278).
Contudo, importa ressalvar que a possibilidade de os equídeos vinculados a esses vastos domínios
participarem de um propósito militar continua a merecer algumas reservas. Efectivamente, e apesar
de a hipótese se afigurar plausível, não foi ainda plenamente demonstrada a existência de pequenas
unidades de soldados de cavalaria vocacionados para a defesa e proteção dessa terras (Ripoll López;
Darder Lisson 1994: 279), pelo que a questão continua em aberto.
2. Guarnições de freio
3 Além das guarnições, ainda na posse do bridão de ligação, o sepulcro abarcava dois passadores, vários instrumentos cirúrgicos e uma
moeda de Marco Aurélio, cunhada entre os 161 e 180 d.C. (Palol Salellas 1972: 136; lâm. III).
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recorte promovido sobre a lâmina metálica, não sendo de excluir que constitua uma espécie de modelo
“inaugural” para uma série de objectos (Ripoll López; Darder Lisson 1994: 290) que, em cronologia
mais avançada, acabarão por reproduzir idêntico esquema funcional, ainda que em obediência a uma
renovada concepção decorativa.
Ainda no quadro das considerações introdutórias alusivas a estes materiais, afigura‑se‑nos
igualmente pertinente evocar o debate travado acerca da suposta relação entre a sua ocorrência e a
existência de uma linha de fronteira na região do Douro, um limes de âmbito peninsular. Contudo, tal
hipótese de trabalho, defendida por alguns investigadores, encerra um problema intrínseco: o de pugnar
pelo confinamento espacial dos achados, quando, na verdade, um mapeamento relativamente recente
dos artefactos demonstrou uma amplitude vasta de distribuição que, efectivamente, não só extravasa
tais limites territoriais (Ripoll López; Darder Lisson 1994: 278; 280) como, em paralelo, abarca uma
geografia bem mais ampla4.
De qualquer modo e, segundo Palol Salellas, a origem destes materiais radicará precisamente na
Hispania (Palol Salellas 1952: 297). É também esta a opinião defendida por G. Ripoll López e M. Darder
Lisson, autoras que relacionam os fabricos em causa com produções específicas de oficinas locais ao longo
dos séculos IV e VI (Ripoll López; Darder Lisson 1994: 282; 292). É inegável, porém, a variabilidade das
hipóteses formuladas a respeito da filiação destes artefactos, denunciando o peso das dúvidas e incertezas
que gravitam em torno da referida temática. Palol Salellas começou por chamar a atenção para o facto de
estas peças surgirem reiteradamente classificados em obras de síntese como “visigóticas”, muito embora
sem fundamentação científica válida. De tal resultou um duplo problema que se funda, por um lado, na
errónea imputação de uma ascendência “germânica” a estes objectos e, por outro, nos consequentes
erros de enquadramento cultural e cronológico advindos de tal classificação (Palol Salellas 1952: 298).
Num outro artigo, posterior, e ao debruçar‑se mais detalhadamente sobre alguns destes elementos, em
concreto, sobre os que patenteiam representações de zoomorfos alógenos ao território peninsular, o autor
aventou‑se não só a sublinhar o seu cunho oriental mas, igualmente, a apontar as linhas estilísticas por
eles reproduzidas. Com ascendentes na antiga Mesopotâmia, teriam persistido no tempo e circulado até
outras paragens, nomeadamente através dos contactos tecidos com citas e sármatas, acabando por
penetrar nos territórios do sul da Rússia (Palol Salellas 1953‑54: 291). Contudo, esta perspectiva está
longe de ser consensual, daí que venha a ser discutida e inevitavelmente contrariada nos artigos trazidos
a lume nos últimos anos5 (Ripoll López; Darder Lisson 1994: 348), até porque deixa por responder uma
interrogação de fundo, constatada pelo próprio autor, e que se prende com a dificuldade em perceber
de que modo esses influxos acabaram por se tornar perceptíveis na realidade hispânica tardo‑romana e
hispano‑visigótica (Palol Salellas 1953‑54: 291‑292). De acordo com Ripoll López e Darder Lisson a tal
não será alheio, por um lado, o comércio de animais exóticos, distribuídos por diferentes pontos da bacia
do Mediterrâneo e, por outro, o conhecimento da iconografia auferido pelos artífices hispânicos que se
dedicavam a laborar nestas produções (Ripoll López; Darder Lisson 1994: 347).
E a propósito das produções, note‑se que há duas modalidades de fabrico a equacionar: a primeira,
atestada no período alto‑imperial, concerne ao recorte da chapa ou lâmina metálica, posteriormente
retocada com buril ou cinzel; a segunda, por seu turno, à fundição total das peças, com recurso a molde
(Palol Salellas 1952: 306; 1972: 141‑142). No caso das guarnições de Conimbriga, por exemplo, a fun-
dição terá sido efectuada em moldes bivalves, nos quais se encontraria já delineada toda a decoração;
o trabalho da lima ficaria assim restrito a aplicação posterior, servindo somente para anular rebarbas
4 No mapa de distribuição elaborado por G. Ripoll López e M. Darder Lisson (1994: 353), há um único sítio cartografado em território
português: Conimbriga. Acrescentamos, no presente artigo, materiais procedentes de outros locais; todavia, estamos cientes de que haverá
certamente muitos mais, parte dos quais ainda por classificar e publicar.
5 A este respeito, confrontemos a opinião veiculada por Palol Salellas com a defendida por Ripoll López e Darder Lisson: “[...] No cree-
mos que debamos remontarnos a piezas de la Grecia arcaica o de la cultura escito‑sármata, para buscar el origen de las representaciones de
animales afrontados con la cabeza vuelta pues, como decíamos, estas figuras son habituales en los repertorios iconográficos romanos. [...]” (cf.
Ripoll López; Darder Lisson 1994: 348).
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3. Os materiais em análise
Os artefactos que reunimos no presente artigo têm origens diversas. O conjunto quantitativamente
mais significativo procede de Conimbriga (Condeixa‑a‑Velha), sítio especialmente conhecido pela ocu-
pação ali sedimentada em época romana, mas cuja diacronia, afinal bem mais longa e fecunda, tem
vindo a ser progressivamente melhor documentada no quadro de renovadas publicações recentemente
dadas à estampa (Alarcão 2012: 122‑124; López Quiroga 2013: 319‑341). Às guarnições de Conim‑
briga6, recuperadas nas chamadas “Escavações Antigas”, anteriores a 1962 (Pereira 1970: 13‑14) e
actualmente conservadas no Museu Monográfico, acrescem outros materiais, entre os quais dois de
proveniência desconhecida7; os dois restantes, por seu turno, remetem para lugares distintos, sendo um
oriundo de São Torcato (Guimarães)8 e outro9, de local indeterminado dos arredores de Leiria (Almeida
1962: 247; 256). Há, porém, um denominador comum a aproximar indelevelmente a maior parte
deles: as lacunas de informação que lhes são inerentes, decorrentes da carência de dados precisos e
contextualizados10, circunstância que redunda em incontornáveis problemas e limites interpretativos.
3.1. As morfologias
A opção dominante entre os autores que se vêm dedicando ao estudo das guarnições de freio tem
sido a de propor a classificação destas peças em função da sua morfologia e das temáticas decorativas
nelas plasmadas (Ripoll López; Darder Lisson 1994: 288). Na perspectiva de Isabel Pereira, sustentada
na natureza dos achados de Conimbriga, as guarnições de freio dividem‑se, fundamentalmente, em dois
grupos: o dos artefactos decorados e o dos que se apresentam isentos de ornatos11 (Pereira 1970: 3). No
conjunto que aqui nos propusemos abordar avultam três elementos simples (dois dos quais enformam
um par), que não só se diferenciam dos demais pelo facto de serem destituídos de qualquer motivo de
adorno como, em paralelo, em razão do material utilizado e da técnica empregue na sua elaboração:
o ferro forjado. Em termos genéricos, podem considerar‑se bastante idênticos, até pelo seu carácter
filiforme e secção rectangular (Ripoll López; Darder Lisson: 295). Não obstante, há algumas nuances
morfológicas a registar. Um dos objectos (n.º de inv. A.914, fig. 1 e 2), denota configuração próxima a
um 8, algo deformado, e não possui qualquer tipo de separação entre o estribo e a aselha12. Já os que
compõem o par (n.º de inv. A.915, fig. 3 a 6), melhor conservados, assemelham‑se antes a um bolbo de
contorno contracurvado, que se fecha na parte superior, de modo a marcar a divisória face à aselha.
6 Perfazem um total de seis peças: A.914, A.915 (designação de inventário aplicado a dois objetos, que compõem um par), A.301, A.511
e A.512.
7 Depositados no Museu Nacional de Arqueologia, encontram‑se inventariados, respectivamente, com os n.º 2000.48.4 e 2005.116.1.
Note‑se que o segundo dos objectos, fragmentado, se encontra sinalizado com a indicação de pertença à “Colecção de Virgílio Correia”.
8 Conservado no Museu da Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães (designação: MSA ‑ 2641 [c]).
9 Depositado no Museu Nacional de Arqueologia (n.º de inv. 2000.48.5).
10 Veja‑se, por exemplo, a informação sumária publicada por Leite de Vasconcelos a respeito da procedência do objeto de São Torcato:
“[...] aparecido creio que no Minho [...]” (Vasconcelos 1932‑34: 5). Ressalvamos, contudo, que há uma exceção a destacar neste panorama
intrinsecamente vago, e que se firma numa das guarnições de Conimbriga. Trata‑se da peça A.301, da qual se sabe ter sido recolhida no nível
H6 e, concretamente, no ângulo nordeste do edifício das termas (cf. Pereira 1970: 14).
11 Neste sentido, a autora recusar o entendimento de Palol Salellas, que fixa uma compartimentação exclusivamente fundada nas temá-
de Dueñas (Palência), onde é visível a cabeça de um equídeo acompanhado da inscrição AMORIS (cf. Ripoll López; Darder Lisson 1994: 280
‑281).
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É possível que estas guarnições, por vezes coadjuvadas por passadores13, conforme observável no
já mencionado mosaico de Dueñas, em Palência (Palol Salellas 1972: 143), tenham paulatinamente
substituído as de contorno peltiforme, similares à exumada no sepulcro da Vega Baja, em Toledo.
Relativamente à cronologia, refira‑se que os dados coligidos parecem sugerir para estes artefactos um
enquadramento balizado entre os inícios do século IV e os do V, daí a probabilidade de terem coexistido
temporalmente com as camas circulares (Ripoll López; Darder Lisson 1994: 281; 290‑291).
Já para o conjunto dos exemplares decorados, todos produzidos em liga de cobre, apontaríamos
dois grandes grupos: um primeiro, referente às guarnições providas de decoração vazada, que com-
porta a peça procedente de São Torcato (n.º de inv. MSA.2641 [c]), a par de um objecto recolhido em
Conimbriga (n.º de inv. 70.281); e um segundo, que por seu turno concerne às guarnições de freio que
exibem decoração zoomórfica. Contudo, devemos sublinhar que os artefactos que compõem este último
não configuram uma realidade propriamente homogénea. Com efeito, enquanto alguns mantêm o con-
torno circular, concentrando as representações figurativas no campo central da peça, outros participam
de uma morfologia mais livre, já não subordinada ao “encerramento” na roda, antes se abrindo a um
esquema que aposta numa composição específica: os zoomorfos afrontados.
Mas atentemos mais detalhadamente nas características de cada um deles.
13 Na opinião de Aurrecoechea Fernández, a utilização destes passadores, documentada a partir do século II e, em especial, na fase final
da centúria, poderá configurar uma das vertentes do particularismo a que se refere como “[...] localismo típicos de nuestra provincial [...]” (Aurre-
coechea Fernández 2007: 343). Note‑se que são vários os museus portugueses a conservar este tipo de material, proveniente dos mais diversos
sítios. Como exemplo, poderíamos indicar os passadores recuperados na Quinta do Fujacal e na villa das Carvalheiras, em Braga (M.D.D.S.), os
do Castro de Fiães, em Santa Maria da Feira (M.H.N.), os de Conimbriga (M.M.C.), os da villa de Torre de Palma, em Monforte (M.N.A.) ou os da
de Milreu, em Estoi, Faro (M.N.A.).
14 Acrescente‑se que D. Fernando de Almeida publica ainda uma guarnição muito incompleta e mutilada recolhida em Idanha‑a‑Velha e
conservada no museu local (Almeida 1962: 247; est. LXIX, fig. 374) que, certamente, se coadunaria com a morfologia e decoração patenteadas
pelos dois artefactos em análise. Mas, além do mencionado objecto, D. Fernando classifica um outro (n.º de inv. 16.272, do M.N.A.), oriundo
da villa de Santo André de Almoçageme (Sintra), igualmente como possível elemento de arreio, integrando‑o, à semelhança do precedente, no
volume intitulado Arte Visigótica em Portugal (Almeida 1962: 247‑248). Posteriormente, também Élvio Melim de Sousa, em artigo relativo à villa
de Almoçageme, veicula idêntica perspectiva, descrevendo a guarnição em causa como “[...] provável peça de arreio «visigótica» [...]” (Sousa
1989: 91). Todavia, e a apesar de, à primeira vista, a peça se assemelhar, efectivamente, a uma guarnição vazada, a ausência de perfuração
destinada à passagem do bridão leva‑nos a questionar esta classificação e a encará‑la com as maiores reservas, pelo que optamos por não
integrar a peça de Almoçageme no presente estudo.
15 No volume VII das Fouilles de Conimbriga, regista‑se que o referido elemento de freio foi exumado num estrato perturbado e revolvido
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em Maiorca (Ripoll López; Darder Lisson 1994: 301; 308, fig. 11), sendo que, comparativamente ao de
Conimbriga, e apesar do esquema geral descrito, denota maior investimento a nível decorativo, patente nos
ornatos sequenciais incisos que ladeiam toda a superfície externa do contorno da roda e no traçado mais
depurado das aberturas, que parecem imitar o desenho de pétalas ou de elemento vegetalista congénere.
16 Leite de Vasconcelos, que o adquiriu para o então chamado Museu Etnológico, actual Museu Nacional de Arqueologia, publicou‑o em
1913 como provável [...] ornato de cinturão [...] (cf. Vasconcelos 1913: 578, nota 2). Só posteriormente, com D. Fernando de Almeida, viria a ser
reclassificado (Almeida 1962: 247).
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que, na sua perspectiva, se colocam a propósito das suas origens (Palol Salellas 1952: 313; 1953
‑54: 289). A tal acresce a própria natureza dos animais em causa, pois aos cavalos, ursos e golfinhos,
somam‑se os felinos, como as panteras e os leões, ou mesmo as criaturas híbridas, que conjugam
especificidades próprias de diferentes seres. Na opinião de alguns investigadores, as temáticas exibidas
configuram uma opção artística que, muito embora remontando a tempos recuados, e com ocorrências
documentadas em toda a bacia mediterrânica e na Europa Central, perdurou no repertório iconográfico
clássico e encontrou nas oficinas hispânicas da Antiguidade Tardia um meio para se perpetuar, ainda
que sob formas evolucionadas (Ripoll López; Darder Lisson 1994: 343‑346) ou até, talvez, adaptadas
a contextos muito concretos.
Ora, uma das curiosidades a destacar nos três exemplares de Conimbriga aqui abordados prende
‑se com o facto de as cabeças dos zoomorfos apresentarem uma disposição distinta da patenteada
pela totalidade das peças peninsulares recentemente reanalisadas (Ripoll López; Darder Lisson 1994:
319‑324). Na realidade, a prática reiteradamente seguida pelos artífices rege‑se pelo intento de mostrar
as cabeças voltadas em sentidos opostos. No entanto, e contrariando esta solução, os artefactos de
Conimbriga obedecem precisamente ao esquema contrário, circunstância que nos leva a questionar
se a opção traduzida poderá refletir algum tipo de especificidade inerente à oficina responsável pelo
fabrico17. Com efeito, e no que concerne, concretamente, aos objectos A.511 (fig. 17 e 18) e A.512
(fig. 19 e 20), onde avultam dois zoomorfos híbridos, não há dúvidas de que pertencem ao mesmo
freio, originalmente unido através de um bridão de ferro18, em cujas extremidades se encontrariam
suspensas as argolas para firmar as rédeas19. Porém, e ao invés do que à primeira vista se poderia
supor, poderão não ter sido elaborados a partir de um só molde: o desajustamento observável através
da justaposição de ambos assim o indicia (Pereira 1970: 12; 14). Tal não significa, contudo, que o
recurso a um único molde não pudesse enformar uma prática recorrente. Ripoll López e Darder Lisson
apontam essa possibilidade, não só para os objectos em causa, mas igualmente para a generalidade
das guarnições providas de decoração geométrica ou de zoomorfos em posição heráldica (Ripoll López;
Darder Lisson 1994: 288; 324).
Relativamente às representações, registe‑se que os dois seres, com pelagem ondulante incisa e
garras bem marcadas, parecem, de facto participar de uma dupla natureza, marítima e telúrica, que
agrega traços porventura resgatados a animais aquáticos (talvez golfinhos, com cauda em forma de
tridente), em combinação com rasgos procurados entre os felinos. Note‑se, contudo, que há outros
motivos a relevar: as peltas e as conchas, recursos bastante vulgarizados na arte do Baixo Império
(Pereira 1970: 11). Na verdade, as peltas foram sobejamente utilizadas na iconografia romana, e talvez
por uma dupla ordem de razões: por um lado, pelo facto de se encontrarem impregnadas de significado
mágico; por outro, devido à fácil adequação daquela forma à preparação de adereços, fossem eles
direccionados para uso humano ou animal (Aurrecoechea Fernández 2007: 162). Já as conchas marcam
presença em diversas composições mitológicas, nomeadamente entre as que evocam o nascimento
de Vénus, deusa do amor, ou entre as que a mostram representada a navegar sobre um destes ele-
mentos marinhos. E apesar de o tema não constituir, naturalmente, um “exclusivo” da Hispania, alguns
autores acentuam o considerável destaque imputado à concha em pavimentos musivos peninsulares
17 Veja‑se como, em contrapartida, a guarnição de proveniência desconhecida melhor preservada do M.N.A. (fig. 13 e 14) não parece
coadunar‑se plenamente com nenhuma das soluções evocadas. Com efeito, os dois zoomorfos afrontados, que António Pinto interpreta como
representações de leões (Pinto 2002: 395), mostram a cabeça em posição frontal e os corpos lateralizados, no que configura uma escolha
claramente diferenciada das demais.
18 Note‑se que parte dos restos ferruginosos do bridão são visíveis na mais completa das guarnições (A.511), onde se encontram a
tapar a abertura central da roda, abocanhada pelos dois zoomorfos, que se colocam sensivelmente em posição simétrica. Já na cama truncada
(A.512), o orifício apresenta‑se desobstruído; todavia a tonalidade alaranjada das superfícies da roda denunciam o contacto com a haste férrea
entretanto desaparecida.
19 Entre os materiais metálicos avulsos recuperados nas “Escavações Antigas” e conservados em reserva no Museu Monográfico de
Conimbriga, figuram duas argolas, inventariadas, respectivamente, com as designações A.511 e A.512, cada uma das quais se articularia com
a correspondente cama de freio.
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datáveis do período que se estende entre o século II e o IV, nomeadamente, se cotejado com o menor
protagonismo de que aufere em conjuntos itálicos e africanos. Em paralelo, é interessante constatar
que em certos mosaicos, caso do de Cártama, em Málaga, o campo inferior da concha, onde a figura
de Vénus surge reclinada, é ornado com golfinhos (San Nicolas Pedraz 2004‑2005: 303; 307‑308),
atestando, uma vez mais, que as combinações plasmadas nas guarnições podem adaptar e conceder
novas roupagens a esquemas iconográficos clássicos.
Vejamos agora o objecto inventariado com a designação A.301 (fig. 21 e 22). Sendo o tema dos
felinos afrontados face a uma cratera ou cantharus igualmente recorrente na torêutica dos tempos finais
do Império (Palol Salellas 1952: 316), afigura‑se‑nos interessante realçar que, apesar das evidentes
influências romanas, esta peça emana um carácter mais frustre que o apresentado pelos materiais
acima elencados (A.511 e A.512). Essa tendência é observável quer na estrutura assimétrica do objecto,
quer mesmo na disposição dos ornatos exibidos pelas panteras, numa combinação densa e irregular
de motivos pontilhados e profusas incisões. Neste sentido, e atendendo à sensibilidade distinta que
a caracteriza, julgamos que se trata de uma produção marcada por um estilo que se queda um pouco
à margem do “cânone”, ainda que imbuído dos esquemas próprios da romanidade, onde terá bebido
a sua inspiração.
4. Considerações finais
O breve estudo que nos propusemos realizar em torno de um pequeno conjunto de guarnições de
freio de equídeo permitiu‑nos aflorar um mundo complexo, feito da interessante articulação entre os
ascendentes clássicos, os influxos orientais e os contributos gerados pelo próprio substrato peninsular.
Assim o demonstra a evolução plasmada na forma e funcionalidade dos artefactos e no modo como
estas se combinam com as soluções iconográficas adoptadas, num registo que faz eco de evidentes
continuidades.
Neste sentido, não surpreende que o conjunto aqui analisado possua uma inegável coerência.
Porém, e em conformidade com o que tivemos oportunidade de constatar, há diferenças morfológicas
e decorativas a valorizar. A própria cronologia poderá não ser, em rigor, absolutamente uniforme. Com
efeito, e ainda que possamos afirmar que a generalidade destas guarnições de freio de cavalo se inscreve
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no intervalo que se estende entre os século IV e VI, carecemos de dados concretos e sustentados que
nos ajudem a reduzir a amplitude proposta e a especificar, de modo mais objectivo, o enquadramento
de cada um dos materiais abordados.
Seguramente que nas reservas dos museus, colecções particulares e acervos reunidos no quadro
das intervenções de contrato, subsistem muitas outras peças idênticas às que aqui tivemos oportuni-
dade de apresentar. Neste sentido, esperamos que este artigo possa assumir‑se não só como um con-
tributo para a aferição de algumas das características e interrogações suscitadas por estes artefactos,
mas igualmente como um estímulo para que outros sejam trazidos à luz. Efectivamente, teria todo o
interesse incrementar o conjunto de guarnições publicadas, especialmente se coadjuvadas de dados
contextualizados. As problemáticas que se espraiam em torno das mais diversas vertentes do mundo
da Antiguidade Tardia carecem de investigações firmadas em bases sólidas, que permitam não só
prosseguir com o mapeamento destes e de outros materiais, mas igualmente relacioná‑los com todas
as dinâmicas que lhes são subjacentes, como as que se referem ao âmbito das respectivas teias de
produção e circulação, ou às implicações de ordem económica e social a retirar do seu estudo.
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Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 63-76
Fig. 1 e 2 – Fragmento de guarnição de freio filiforme, produzida em ferro forjado (n.º de inv. A.914, do Museu Mono-
gráfico de Conimbriga).
Fig. 3 a 6 – Par de guarnições filiformes, pertencentes ao mesmo freio, e igualmente produzidas em ferro forjado (n.º
de inv. A.915, do Museu Monográfico de Conimbriga).
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Fig. 7 e 8 – Guarnição de freio de liga de cobre, vazada, com decoração geométrica (n.º de inv. 70.281, do Museu
Monográfico de Conimbriga).
Fig. 9 e 10 – Guarnição de freio de liga de cobre, vazada, com decoração geométrica (n.º de inv. MSA - 2641 [c], do
Museu da Sociedade Martins Sarmento).
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Fig. 11 e 12 – Guarnição de freio de liga de cobre, com decoração zoomórfica: um equídeo em posição de marcha (n.º
de inv. 2000.48.5, do Museu Nacional de Arqueologia).
Fig. 13 e 14 – Guarnição de freio de liga de cobre com dois felinos afrontados (n.º de inv. 2000.48.4, do Museu Nacio-
nal de Arqueologia).
Fig. 15 e 16 – Fragmento de guarnição de freio de liga de cobre com representação de uma felino (n.º de inv. 2005.116.1,
do Museu Nacional de Arqueologia).
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Fig. 17 e 18 – Guarnição de freio de liga de cobre decorada com dois zoormorfos híbridos afrontados (n.º de inv. A.511,
do Museu Monográfico de Conimbriga).
Fig. 19 e 20 – Fragmento de guarnição de liga de cobre pertencente ao mesmo freio que a peça precedente (n.º de inv.
A.512, do Museu Monográfico de Conimbriga).
Fig. 21 e 22 – Guarnição de freio decorada com dois zoomorfos afrontados frente a um cantharus (n.º de inv. A.301,
do Museu Monográfico de Conimbriga).
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Arias Vilas, Felipe — Aspectos arqueolóxicos e patrimoniais do Castro de Viladonga (Lugo): os retos para o futuro
Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 77-90
ASPECTOS ARQUEOLÓXICOS
E PATRIMONIAIS DO CASTRO DE VILADONGA
(LUGO): OS RETOS PARA O FUTURO
RESUMO:
Depois de um breve resumo dos 40 anos de trabalhos arqueológicos desenvolvidos no Castro
Viladonga, torna‑se uma caracterização deste sitio castrejo e galaico‑romano perto de Lucus
Augusti e examinam‑se as questões não resolvidas mais importantes em futuras pesquisas sobre
este sitio e, especificamente, que oportunidades ainda têm de ser desenvolvidas em relação
aos seus aspectos patrimoniais, de educação, de turismo e, finalmente, sociais.
Palavras‑chave: Arqueologia, Património, Viladonga.
ABSTRACT:
After a brief summary of the 40 years of archaeological works developed in the Castro of Vila-
donga, becomes a characterization of this site castrexo and galician‑roman Lucus Augusti near
and examines the most important unresolved issues in future research on this site and, speci-
fically, that opportunities have yet to be developed in relation to its heritage, education, tourism
and, finally, social aspects.
Keywords: Archeology, Heritage, Viladonga.
Proemio
Sirvan estas liñas e os parágrafos que seguen para expresar a nosa lembranza persoal a Fernando
Acuña. Coñecémolo, nós como alumno, no curso académico 1968‑1969 na Facultade, entón, de Filosofía
e Letras da Universidade de Santiago de Compostela, onde el axudaba e/ou substituía ao recordado
profesor Alberto Balil tanto nas clases prácticas como nas teóricas. Desde entón trabamos unha boa
amizade con el, e non só nas aulas senón tamén, e maiormente, en toda unha serie de andainas e
roteiros culturais (e mesmo lúdico‑gastronómicos) pola cidade e a contorna compostelá e logo por toda
Galicia e boa parte de Portugal. O trato persoal e profesional fortaleceuse na Sección de Arqueoloxía do
Instituto P. Sarmiento de Estudios Galegos, na que entramos pola súa proposta, e sobre todo na dita
Facultade ao coincidirmos nela como docentes ata 1974, período que incluíu a asistencia a numerosos
e moi diversos foros e reunións científicas e culturais (entre elas, unha impagable viaxe –por moitas
circunstancias persoais– ao XII Congreso Nacional de Arqueología de 1971 en Jaén). Posteriormente
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Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 77-90
e pese á distancia, pois eu fiquei asentado na miña cidade natal lucense, mantivemos unha dilatada,
continua e por veces intensa relación na comunicación persoal e no traballo profesional, fundamen-
talmente a través do Museo do Pobo Galego e, tamén, do mesmo Museo do Castro de Viladonga que
é o tema deste artigo así como da súa Asociación de Amigos –da que foi membro fundador e tempo-
ralmente directivo‑. Así pois, expresamos o noso desexo de que a iubilatio que aquí se conmemora lle
sexa propicia e favorable para o seu devir persoal e, aínda, para o seu labor como arqueólogo.
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escaleiras, pavimentos lousados, lareiras...). Desde moi cedo, chamou a atención a inxente cantidade
de materiais e obxectos achados, en moitos casos de clara cronoloxía romana, todo o cal, unido á súa
monumentalidade, fixeron do Castro de Viladonga un xacemento senlleiro e representativo da cultura
castrexa, principalmente durante a súa evolución e transformación na etapa galaico‑romana.
A aculturación material entre o mundo indíxena galaico e as numerosas achegas romanas está ben
demostrada no poboado de Viladonga: moitas das construcións, ben articuladas sobre eixes viarios moi
claros, cóbrense con tégulas e ímbrices de barro, e entre os moi numerosos e moi diversos artefactos
documentados pola arqueoloxía (desde as ferramentas ós útiles domésticos e desde os adornos aos
xogos...), hainos ‑ moitas veces nos mesmos espazos habitados ‑ de tradición propiamente castrexa, de clara
adscrición romana e ás veces de procedencia ben distante coma o Mediterráneo oriental e, así mesmo,
hai materiais onde a mestura de tradicións, orixes e influencias semella clara aos ollos da arqueoloxía.
Os materiais atopados neste Castro constitúen unha serie moi ampla de vestixios que aportan innumera-
bles datos sobre as formas de vida e as dinámicas socioeconómicas dun período histórico moi dilatado.
Viladonga é, pois, un dos exemplos máis sinalados destes castros ocupados na etapa galaico
‑romana e, neste caso, mesmo na fase máis tardía, ata o final do Imperio e mesmo coincidente coas
primeiras décadas da implantación sueva, sendo ademais o paradigma do modelo de poboado rural
fortificado dentro da área de influencia dunha cidade e capital romana de referencia, e influencia indu-
bidable veste Castro, como é Lucus Augusti.
Hoxe en día, despois das escavacións feitas nos anos 70 do século XX por Chamoso Lamas e as
realizadas por nós mesmos desde 1982 (ou proxectadas supervisadas desde o Museo desde 1996),
a superficie do Castro atópase intensamente escavada o que permite a súa exhibición a todo tipo de
público. O conxunto formado polos restos do poboado e a exhibición dos materiais no Museo mono-
gráfico configuran un conxunto de gran interese polas súas grandes posibilidades didácticas levadas a
cabo con sinxeleza e eficacia. É precisamente este último punto, a utilización patrimonial, sociocultural,
educativa, e mesmo de lecer e turística do conxunto de Viladonga, unha razón complementaria de peso
para ser convertido nun espazo protexido.
Para completar esta función cultural, a maiores da puramente científica e histórica, xa nos anos
70 construíuse ao seu carón un edificio destinado a servir de Museo de sitio – idea certamente pioneira
naquela altura‑ para gardar, exhibir, interpretar e explicar os seus materiais arqueolóxicos‑ aínda que
a súa creación oficial demorouse ata maio de 1983 (por O.M. do Ministerio de. Cultura español) e foi
aberto ao público en novembro 1986, como tal museo en canto ao desenvolvemento de todas as súas
funcións, a conservadora, a investigadora e a de comunicación e difusión, atento ademais ao seu amplo
contorno xeográfico e contexto histórico pois sempre se intentou integrar nunha comarca determinada
e ben definida como a Terra Chá e, pola súa vinculación xeo‑histórica, coa cidade de Lugo.
A creación e formación deste Museo do sitio permitiu que, ao lado dos traballos de escavación
arqueolóxica, se desenvolvesen ata hoxe labores de conservación (tanto de estruturas como de mate-
riais), e que se acometa a documentación, investigación e interpretación do descuberto, para logo
devolvelo á sociedade a través da difusión e a comunicación a todo tipo de público, cumprindo así a
dita función educativa e social á par que “turística”, e por tanto económica, a partir dun patrimonio
arqueolóxico que, ademais e baseándose nas razóns anteriormente resumidas, foi declarado Ben de
Interese Cultural polo Decreto 441/2009 do 11 de decembro (Diario Oficial de Galicia nº 251, de 28
de decembro de 2009, p. 19552) .
O Castro de Viladonga é un conxunto patrimonial vivo e dinámico, no sentido de que estivo e está
sempre en continua evolución, tanto nos seus aspectos científicos como nos puramente patrimoniais.
Todo o feito ata agora acumula unha serie moi diversa de valores e potencialidades que, poren, deben
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Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 77-90
estar en permanente revisión. Así, cómpre resumir aquí os aspectos e os temas que, dalgún xeito,
son os retos para os futuro, de tal maneira que os logros conseguidos desde 1972 ata 2014 teñan
continuidade e mellora nos anos vindeiros, coa conseguinte evolución no persoal, técnico e auxiliar,
que atende o Castro e o Museo e, por descontado, co correspondente reflexo nos medios e recursos
que deben prover as administracións responsables, isto é, a estatal (Ministerio de Educación, Cultura
e Deporte) como titular do Museo e, nomeadamente, a Xunta de Galicia (Consellería de Cultura, Edu-
cación e Ordenación Universitaria) como titular e xestora do Castro e responsable, a todos os efectos
prácticos, da entidade museística.
Estes que se enumeran a continuación e referidos en primeiro lugar ao Castro como xacemento,
serían, pois, os temas a realizar no futuro, máis próximo ou máis dilatado:
Aínda que non é a tarefa máis urxente, cómpre proseguir a realización de escavacións arqueolóxicas
en varias áreas extensas do xacemento aínda non abertas pero lindeiras doutras zonas xa descubertas
como son: en todo o lado sur da croa central para comprobar, como é previsible, a existencia de máis
construcións dispostas aproximadamente en paralelo á muralla principal por esta beira do acrópole;
en case todo o antecastro ou aterrazamento existente no lado oeste do monte, por fóra da croa e,
igualmente, no recinto ou antecastro situado ao sueste da croa, onde se atopa a cova (de posible pros-
pección ou explotación mineira aurífera ‑?‑ antiga, tamén pendente aínda dunha investigación seria,
demorada e profunda), se ben neste último caso este predio é unha das poucas zonas ou fincas que
aínda non son de propiedade pública no xacemento de Viladonga.
De xeito máis limitado e puntual, tamén cómpren actuacións de escavación noutras áreas para
coñecer, por exemplo, como é a ligazón entre a croa e o antecastro oeste, probablemente cunha entrada
similar á xa descuberta na porta principal do lado leste; ou ben, como é obvio polo seu interese arque-
olóxico e histórico, seguir afondando ou ampliando o que denominamos nivel prerromano detectado
no ángulo NE. do Castro, moi atuado e derramado por baixo das construcións que hoxe están á vista.
Outro tema pendente é o da localización e, de ser así, a posterior escavación cando menos parcial,
da necrópole que, suponse, debe de estar asociada a este xacemento pola súa cronoloxía galaico‑romana
e tardía, é dicir, probablemente de inhumación e situación indefinida pero fóra das áreas con restos
de habitación e para a que aínda existen posibilidades diversas e aínda moi abertas por fóra da croa,
se ben nalgunhas outras xa se desbotou a súa existencia por prospeccións ou informacións previas.
Neste sentido, e permítasenos aquí este breve excurso, hai que seguir concedéndolle a importancia
que merece ao patrimonio intanxible ou inmaterial vinculado a este Castro (o que antes na bibliografía
clásica se chamaba “folclore arqueolóxico”) – ao igual que ao patrimonio natural da contorna ‑, pois
aquel xa é ben sabido que se vai perdendo con enorme celeridade, se ben no caso de Viladonga temos
a inmensa sorte de estar xa documentado e recollido desde os anos 70 do século pasado, aínda sendo
conscientes que sempre pode haber algunha nova información ou diferentes versións e interpretacións.
Por último, en canto á prosecución das escavacións, ábrese agora unha nova posibilidade de
actuación en áreas da ladeira sueste do monte do Castro, por mor dunha recente e xenerosa cesión
de terreos privados a favor do Museo (en realidade será para a Xunta autonómica de Galicia) e, aínda
que non é, en principio, unha zona principal do xacemento, si pode ofrecer informacións sobre a ocu-
pación dos recintos laterais vinculados ao Castro e mesmo sobre os antigos camiños de acceso a este,
un deles xa documentado cara este lado cando se fixo a ampliación do edificio do Museo en 1992.
Con todo, e no referente ás estruturas arqueolóxicas de Viladonga, o prioritario e o fundamental
nesta altura seguirá sendo a súa conservación para poder transmitir o xacemento ás futuras xeraci-
óns, o que esixe, como se veu facendo nos últimos dez anos, continuar cos traballos de consolidación
e de restauración daquelas estruturas que, pola súa feitura en lousa e xisto do país, ás veces e nos
casos de maior fraxilidade e menor consistencia, dá lugar a exfoliacións que comprometen seriamente
a estabilidade dos muros. Por tanto, os escasos medios e os poucos recursos económicos existentes
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duns anos a esta parte, deben empregarse principalmente, e por veces con urxencia, na conservación
e restauración do patrimonio arqueolóxico hoxe visible e visitable.
Como é lóxico, outro tema que sempre está aberto ao futuro é o da documentación, estudo e
interpretación dos materiais arqueolóxicos deste Castro de Viladonga.
Existe, obviamente, a documentación imprescindible e obrigada dos fondos arqueolóxicos do Museo
do sitio, que son máis de 80.000 fichas identificativas e descritivas dos materiais dentro da aplicación
DOMUS que se usa nos museos de titularidade estatal (e xestión transferida á Comunidade Autónoma
de Galicia neste caso). Moitas desas fichas de inventario teñen os datos mínimos de identificación
dos achados, pero en moitas outras acompáñase de máis e maior información que, en calquera caso
e como é habitual nestes centros, sempre está aberta a ampliacións, revisións e reinterpretacións,
camiño este que precisará no futuro seguir dispoñendo de persoal técnico adecuado e suficiente para
estes labores de documentación e estudo dos materiais procedentes do Castro.
Por outra parte, están xa feitos algúns estudos en forma de catálogos de diverso obxectivo e
extensión sobre diferentes materiais, ou mellor grupos de materiais, publicados ás veces na revista
Croa editada (impresa e agora tamén en edición dixital) pola Asociación de Amigos do Castro e logo
–desde 2005‑ polo propio Museo, ou noutras publicacións similares e mesmo, nalgunhas ocasións,
como monografías. Pódense citar, por exemplo, os estudos de materiais como a terra sigillata (Caamaño
Gesto e López Rodríguez), as cerámicas de paredes finas (M. Vila), as marcas de fauna en tégulas (R.
Gimeno e O. Castro), apliques e botóns de bronce (F. Arias, MªC. Durán e P. Fernández), os torques áureos
(X.L. Ladra), as fíbulas galaico‑romanas (M. Lage), as doas de colar (C. Pérez e Y. Porto) ou os achados
numismáticos (J.J. Cepeda, MªC. Durán), sen mencionarmos aquí os traballos sobre pezas concretas,
tanto procedentes do Castro como da comarca chairega que se gardan no Museo de Viladonga como é
o caso dunha ara dedicada a Navia? publicada en tempos recentes precisamente por Fernando Acuña.
Pero para o futuro queda moito traballo por facer sobre materiais tan abundantes como definitorios
como a inxente cantidade de cerámica de tradición castrexa e, sobre todo, de cerámica común romana;
ou coma o instrumental de ferro, que é enormemente amplo e variado (moito máis que as armas –
bélicas e de caza...‑ tamén necesitadas dun estudo monográfico) igual que os diversos instrumentos
de bronce e moitos outros materiais que son, todos eles, temas abertos para posibles traballos, sexan
académicos ou non, de distinto nivel, obxectivo e difusión. Neste sentido seguirá sendo fundamental
a continuidade da devandita revista Croa, como órgano de expresión científica e de difusión cultural
que desde 1991 é un complemento vital para o coñecemento e divulgación do Castro de Viladonga e
o seu Museo.
Por último, debe continuarse co traballo e coa especial atención á contorna arqueolóxica do
xacemento, traballo que se iniciara xa por Felipe Senén López nas campañas dos anos 70 e que se
proseguiron, é certo que de xeito descontinuo, nas décadas posteriores. É importante esta atención ao
contexto arqueolóxico de Viladonga pois as informacións existentes apuntan a unha contorna de gran
interese e, sen dúbida, definitorio para a interpretación histórica deste Castro. Ademais da importancia
deste contexto arqueolóxico e histórico máis próximo, hai temas nos que se debe seguir afondando,
como é a posible relación deste e doutros castros coas villae tardías, especialmente neste caso coa
veciña de Doncide (no lindeiro concello de Pol), a influencia e incidencia que ten a proximidade dunha
capital conventual como Lucus Augusti, a existencia de posibles vías de comunicación entre Lugo e a
súa costa cantábrica precisamente a través de comarca na que se insire Viladonga, etc.
Non estará tampouco de máis facer un comentario que, quizais, podería explicar algunhas cousas
como a adopción de complexos sistemas defensivos en plena época galaico‑romana máis ou menos
tardía: é moi posible e ata probable que algúns castros viviran, e mesmo desempeñaran un certo
protagonismo, na etapa de transición cara ó Reino Suevo: (os castella tutiora de Hidacio). Estariamos
diante da evolución dalgúns asentamentos, que xa non sabemos se denominalos castrexos?, galaico
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‑romanos?, xermánicos?, pero que acabarían converténdose algunhas veces en poboados ou enclaves
estratéxicos. Velaí outro tema para a investigación a partir do caso de Viladonga.
No relativo ao Museo e aos diferentes aspectos do seu funcionamento e da súa xestión patrimo-
nial, cumprirá apuntar aquí as seguintes consideracións:
É preciso continuar coas actualizacións museográficas necesarias con carácter periódico, tema
este obrigado pero moi dependente dos recursos dispoñibles, que son escasos nestes tempos pois,
ademais, entidades xa relativamente vedrañas coma este Museo teñen que loitar e sufrir fronte a outras
instalacións “culturais” froito da desemesura e do gasto millonario que compromete o funcionamento
estable daquelas outras entidades culturais e científicas que levan décadas, e nalgúns casos máis dun
século, de traballo a prol da cultura galega.
Despois da importante ampliación e reforma do edificio do Museo feita pola Xunta de Galicia entre
1992 e 1994, que modificaba substancialmente a primeira construción ideada por Chamoso Lamas
nos pasados anos 70, hai agora que barallar as posibilidades dunha nova ampliación, aínda que esta
opción se poida ver agora como moi remota, en parte polas razóns citadas no parágrafo anterior . Ade-
mais de ser de dubidosa execución, hai que ter en conta que toda reforma e ampliación ten que ser
acompañada, se non se quere agravar os problemas no canto de resolvelos, dunha maior dotación de
persoal tanto técnico como auxiliar, algo que semella impensable polo menos a curto e medio prazo.
Hai que ter en conta, ademais, o traballo engadido que desde hai poucos anos ten o Museo do
Castro de Viladonga ao ser depositario dos achados arqueolóxicos que se producen na provincia de
Lugo, ou en case toda ela e, moi especialmente, na cidade de Lugo, con todo o que iso supón para o
funcionamento do centro. De feito, de Viladonga depende a organización e control técnico dun alma-
cén arqueolóxico instalado precisamente en Lugo, que debe ser atendido nestes momentos en que o
Museo do sitio ten menos persoal. Esta situación, pois, pode entorpecer no futuro, e moito, o funciona-
mento normal do Museo de Viladonga, polo menos en tanto non exista en Lugo aquí un Centro‑Museo
da Romanización que estaba previsto instalar no antigo Cuartel de San Fernando da cidade lucense
(xa protexido legalmente desde 2008 para ser destinado a aquela función), pero que, por desacordos
maiormente políticos, parece ser unha actuación só posible a moi longo prazo.
En definitiva, todos os temas aquí citados deben terse en conta para que o Castro de Viladonga
siga sendo un referente arqueolóxico e patrimonial, e non só no Noroeste ibérico senón nun marco
moito máis extenso como xa o é actualmente.
O Museo arqueolóxico do Castro de Viladonga, que naceu para complementar decisivamente unha
función socio‑cultural e educativa do propio xacemento castrexo e galaico‑romano, trata de cumprir os
seus fins como tal Museo (é dicir, conservador, científico e didáctico‑comunicativo), do xeito máis cabal e
completo posible. Os máis de 464.000 visitantes recibidos nos case 28 anos de vida do Museo cara ao
público desde a súa apertura a finais de 1986 ata 2014 inclusive (mentres son unhas 575.000 visitas
estimadas para o Castro no mesmo período e en ambos os dous casos cun público moi diversificado),
permítennos inferir e mesmo dar fe de que se está no camiño correcto e adecuado, coas limitacións
xerais e particulares que poida haber e das que somos conscientes, e coas melloras que sempre se
poderían acometer. Con todo, cremos que hoxe constitúe practicamente o único exemplo en Galicia de
conservación e posta en valor dun ben arqueolóxico por medio da integración e conxugación dun xace-
mento, presentado como ruína consolidada, e – e velaí está o matiz diferencial con outros conxuntos
patrimoniais ‑ un museo propiamente dito, que quere ofrecer un discurso rigoroso e ó propio tempo
cunha clara orientación didáctica e comunicadora para toda a sociedade.
Desenvólvese así unha acción museal na cal, para a estratexia de interpretación e posterior
difusión, tívose sempre en conta a súa localización no medio natural circundante, a certa distancia de
entidades de poboación importantes pero á vez moi accesible desde estas, características que, por
unha banda, contribúen á súa singularización fronte a outras alternativas culturais do seu contorno, e
por outra, facilítalle o acceso a moitos grupos sociais e de moi diverso ámbito.
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A este respecto, a actividade de difusión pasou sempre pola atención a diversos factores e aspec-
tos, entre os que abonde lembrar aquí, a xeito de exemplo e corolario final e como retos a cumprir para
o futuro, os seguintes:
–– Unha adecuada sinalización na rede de estradas, que complemente a información dispoñible
en oficinas de turismo, axencias de viaxes, establecementos hostaleiros máis ou menos pró-
ximos, etc.
–– Unha presenza o máis constante posible nas “axendas” dos medios de comunicación, en
publicacións moi variadas dentro do ámbito do Patrimonio Cultural, Turismo Rural e viaxes,
así coma nos programas culturais, no seu máis amplo sentido, de televisión (incluídas as de
carácter local se as houber).
–– A potenciación da seus sitios Web, tanto a páxina www.aaviladonga.es – moi completa e visi-
tada – elaborada no seu día (1997) pola Asociación de Amigos do Castro, entidade creada en
1989 e que tivo e ten un papel moi activo e ata determinante no bo funcionamento global do
Museo, como a páxina de carácter institucional incluída no portal Web de Cultura da Xunta
de Galicia (www.museosdegalicia.com) e que ofrece, entre outras cousas a visita virtual ao
Castro e ao Museo.
–– O mantemento dun horario de apertura do Museo de, cando menos, nove horas ininterrompidas
e de luns a domingo.
–– A actualización periódica dos seus Programas de Acción Didáctica, iniciados xa en 1989 e
adecuados para os diferentes niveis escolares ademais de dispoñibles en internet, que bus-
can motivar a visita destes colectivos e incrementar o seu rendemento educativo, cultural e
mesmo lúdico.
–– A producción de todo tipo de material divulgativo (e máis científico) en todos os formatos
posibles, incluídas por suposto as novas tecnoloxías da información, sen desbotar nunca a
cooperación con outras entidades e institucións (públicas ou privadas e, nomeadamente, coa
citada Asociación de Amigos), poñendo como exemplo a continuidade do Boletín anual Croa.
–– Unha atención constante á boa organización, funcionamento e actualización de todos os
servizos do Museo (dentro das posibilidades que ofrece a súa dependencia administrativa,
con titularidade estatal e xestión autonómica), como a Biblioteca (especializada no ámbito
temático do Museo e o Castro), ou as áreas de.Conservación, Documentación, Difusión, etc.,
promovendo tamén a participación do persoal técnico e auxiliar en todo tipo de proxectos e
actividades relacionadas co Patrimonio Cultural.
–– A realización de exposicións temporais cun decidido carácter divulgador e itinerante, para
favorecer a presencia do Castro de Viladonga en ámbitos tanto urbanos como rurais (de Lugo
e de toda Galicia), e en ambientes tanto académicos ou cultos (outros museos, entidades
educativas e culturais...), como de tipo turístico, comercial, etc.
–– A colaboración e intercambio constante con outras institucións culturais, facilitando a presen-
cia dos seus fondos en exposicións de terceiros, prestando a súa cooperación a iniciativas
de asociacións culturais moi diversas, tanto abrindo as súas instalacións para algunha das
súas actividades como aproveitando o Museo e o Castro para o inicio e o desenvolvemento de
itinerarios culturais: a Ruta de sendeirismo entre Viladonga e Castro de Rei, seguindo o val do
río Azúmara ofrécenos un bo exemplo desta colaboración.
Este amplo abano de actuacións garantirá unha notable presenza do Museo no universo das
comunicacións, co obxectivo de chegar a un espectro de público o máis numeroso e diversificado
posible, pero incidindo de xeito especial en tres grandes bloques ou grupos: a poboación da comarca
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Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 77-90
na que se localiza o Museo ‑ incluíndo a cidade de Lugo ‑, os estudantes de calquera nivel educativo e,
en fin, un moi extenso colectivo de persoas interesadas nunha oferta cultural de calidade, grupo cada
vez máis numeroso sobre todo se incluímos nel o chamado “turismo cultural” ou “turismo rural”. Para
todos eles deseñouse un plan patrimonial, arqueolóxico e museolóxico, que se destaca a todos os niveis
polo seu carácter didáctico e comunicativo, e pola creación dun ambiente agradable e ameno (sen
caermos nos modernos perigos do excesivamente lúdico, do “epatante” ou do doadamente “divertido”
pero nada científico), de modo que convide e incite a coñecer e usar axeitadamente e con deleite físico
e mental do Patrimonio arqueolóxico e natural do seu contorno e, por extensión, promova a estima
(e a tan necesaria autoestima) e o interese pola protección do Patrimonio Cultural con carácter xeral.
En resumo, o Museo do Castro de Viladonga debe seguir esforzándose en contribuír á promoción
e ao desenvolvemento cultural e integral da sociedade á que serve, a través da conservación, inves-
tigación, difusión e exhibición (con criterios científicos e didácticos pero tamén estéticos) das súas
colecciones e, igualmente e de xeito inseparable, do xacemento anexo que o motiva e que lle dá a
razón de existir. Con esta tarefa e cos medios e as accións brevemente expostas aquí, coadxuvarase
así na recuperación e transmisión da nosa memoria histórica, como país diferenciado, para o resto
dos cidadáns, sexan galegos ou non. Unha tarefa na cal a máis que notable proporción de “satisfeitos”
e mesmo de “devotos” (os que volven e traen con eles a máis xente), axudarán sen dúbida a manter a
ilusión por ofrecer un traballo que estea ben feito e, por un lado, a seguir dando o que moitos xa agar-
dan ao chegaren a Viladonga, e por outro, a sorprender aos que non se imaxinan o que un Castro e o
seu Museo poden ofrecer á hora da promoción socio‑cultural, da información educativa, da explotación
turística e, tamén, da amenidade no lecer.
BIBLIOGRAFIA
A bibliografía de referencia é numerosa e de moi diversa entidade, contido e obxectivos, pero aquí
só se inclúe unha escolma selectiva dela. Moitas das referencias publicáronse periodicamente (desde
1991 ata 2005) nunha sección da revista Croa. Boletín da Asociación de Amigos do Castro de
Viladonga. Remitímonos aos índices desta publicación, hoxe asumida e editada pola Xunta de Galicia e
tamén presente na web da Asociación de Amigos www.aaviladonga.es, onde se atoparán varios artigos
e estudos sobre aspectos e materiais deste xacemento e do seu museo.
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autonómicas e Museos.Cara a un modelo racional de xestión (Actas das Xornadas, Santiago de Compostela 1996),
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Fig. 1.1. – O Castro de Viladonga ao inicio das escavacións nos anos 70.
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Barroca, Mário Jorge — S. Jorge e o Dragão: Uma escultura da oficina de Mestre João Afonso procedente de Marecos (Penafiel)
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RESUMO:
Estudo de uma escultura gótica quatrocentista representando S. Jorge a combater o Dragão,
acompanhado pela Princesa, procedente da Ermida de S. Jorge de Marecos e hoje conservada
no Museu Municipal de Penafiel. A escultura, provavelmente destinada a um retábulo, filia‑se
nas produções da oficina de Mestre João Afonso, um dos mais prolixos e importantes escultores
do segundo Gótico de Coimbra, com actividade conhecida entre 1439 e 1469.
Palavras‑Chave: S. Jorge e o Dragão; Escultura gótica; Mestre João Afonso; Marecos (Penafiel).
ABSTRACT:
We present the study of a fifteenth century sculpture representing St. George fighting the dragon,
accompanied by the Princess. The sculpture, founded in the Chapel of St. George of Marecos (Penafiel),
is now exposed in the Municipal Museum of Penafiel. It was probably conceived for an altarpiece and
it’s affiliated to the production of the workshop of Master João Afonso, one of the most prolific and
important sculptors of the gothic sculpture of Coimbra, with known activity between 1439 and 1469.
Keywords: Saint George and the Dragon; Gothic Sculpture; Master João Afonso; Marecos (Pena-
fiel, North Portugal).
O Museu Municipal de Penafiel conserva, no seu acervo, uma escultura representando S. Jorge a
combater o Dragão e a salvar a Princesa. Esta peça, oriunda da Ermida de S. Jorge, em Marecos, ingressou
nas colecções do Museu Municipal de Penafiel em data não conhecida, mas anterior a 1953, e, apesar
de ter estado sempre em exposição no Museu, conseguiu chegar até hoje praticamente inédita, sem
conseguir cativar a atenção dos investigadores. Tendo ocupado lugar central na exposição dedicada
à Procissão do Corpo de Deus, organizada em 20032, viria a ganhar outra visibilidade no novo Museu
Municipal de Penafiel, inaugurado a 24 de Março de 20093. É sobre esta escultura, proveniente de um
espaço geográfico que o Professor Doutor Fernando Acuña Castroviejo conhece bem, porque o percorreu
muitas vezes, que nos iremos deter nesta pequena nótula que lhe dedicamos em singela homenagem.
Nova Série, vol. XV, Porto, 1994, pp. 83‑134. A escultura estaria, muito provavelmente, na “Sala 4” (op. cit., p. 109).
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Barroca, Mário Jorge — S. Jorge e o Dragão: Uma escultura da oficina de Mestre João Afonso procedente de Marecos (Penafiel)
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A proveniência: Marecos
A escultura em análise é, como referimos, oriunda de Marecos, uma povoação localizada a escassa
distância de Penafiel, a velha Arrifana de Sousa. Começaremos por traçar o percurso desta povoação
socorrendo‑nos, para tanto, da documentação escrita conhecida.
As origens de Marecos são ancestrais. Para além de vestígios arqueológicos romanos detectados
no seu aro4, a povoação encontra‑se documentada desde 1043, quando é referida na dependência do
Mons Petroselo, em pleno território da Civitas Anegia, unidade territorial instaurada em 875, no tempo
de Afonso III das Astúrias. Com efeito, em 1043 Garcia Moniz e sua mulher, Gelvira ou Elvira, venderam a
Gonçalo Raupariz e a sua mulher, Múnia, a herdade que possuíam em Marecos: “… ereditate nostra probia
que avemus in villa que vocidant Marecus subtus mons Petroselo discorente ribulo Cavaluno teredorio
Anegia …”5. A figura de Garcia Moniz é bem conhecida: filho de Mónio Viegas, era um elemento dos Gas-
cos, linhagem oriunda da Gasconha que se deslocou para o Douro Litoral onde participou no processo da
Reconquista e adquiriu fortuna. Garcia Moniz era, portanto, um antepassado de Egas Moniz de Riba Douro.
Segundo José Mattoso, foi governador de Anegia entre 1047 e 10616. O diploma de 1043 é a primeira
notícia documental conhecida para Marecos. Mas a partir de então as referências documentais, apesar
de espaçadas, são regulares. No século XIII já nos surge com o orago de Santo André, que manteve até
aos nossos dias. Assim aparece referida no «Rol das Igrejas do Padroado Régio», de 1220‑12297, e nas
Inquirições Gerais organizadas por D. Afonso III, em 12588. A paróquia é de novo mencionada no século
XIV, no Censual do Cabido da Sé do Porto (taxada em uma libra de cera, três morabitinos e dois moios
de milho miúdo)9, no Rol das Igrejas, do tempo de D. Dinis, datado de 1320 (onde é taxada em trinta
libras)10 e em 1371 (quando se menciona o pagamento de três libras e quinze soldos)11. Já no século XVI
foi referida no Numeramento Geral do Reino, de 1527‑31, onde nos surge inserida no Julgado de Penafiel
de Sousa, no Termo da cidade do Porto, sendo‑lhe atribuída uma população de 61 habitantes maiores12.
E volta a ser referida em 1542, no Censual da Mitra da Sé do Porto13.
Chegamos, finalmente, ao Século XVII e nele encontramos a primeira referência documental à
Ermida de S. Jorge. Com efeito, a 28 de Maio de 1680, D. António de S. Dionísio, que era natural de
Marecos14, decidiu instituir uma capela dedicada a Nossa Senhora da Piedade e do Desterro na sua
quinta de Stº. André15. O processo arrastou‑se por quatro anos, entre 1680 e 1684, e no derradeiro
documento relativo à instituição desta ermida, datado de 9 de Junho de 1684, D. António de S. Dionísio
determinou que as alfaias litúrgicas da nova capela não deveriam ser emprestadas a outros templos,
4 No espaço desta freguesia estão recenseados um castro e uma necrópole romana, tendo ainda aparecido, na Capela da Senhora do
Desterro, uma ara romana conhecida como “Ara de Marecos” (datada de 9 de Abril de 147 d.C.) – cf. Teresa Soeiro, “Monte Mózinho – Aponta-
mentos sobre a ocupação entre Sousa e Tâmega em Época Romana”, Penafiel – Boletim Municipal de Cultura, 3ª Série, vol. 1, Penafiel, 1984,
p. 96. Sobre a Ara de Marecos, e para além do estudo pioneiro de José de Pinho (“Ara de Marecos”, Penafiel, 1928), veja‑se, ainda, P. Le Roux e
A. Tranoy, “Contribution a l’etude des regions rurales du N.O. Hispanique au Haut‑Empire: Deux inscriptions de Penafiel”, Actas do III Congresso
Nacional de Arqueologia, vol. 1, Porto, 1974, pp. 252‑255.
5 PMH, DC 324. Vd. também Domingos A. Moreira, “Freguesias da Diocese do Porto. Elementos onomásticos altimedievais”, Boletim
Cultural da Câmara Municipal do Porto, 2ª Série, vol. 3‑4, Porto, 1985‑86, p. 119; Maria José Ferreira dos Santos, “A Terra de Penafiel na Idade
Média. Estratégias de ocupação do território (875‑1308)”, Cadernos do Museu, nº 10, Penafiel, Museu Municipal, 2004.
6 Cf. José Mattoso, A Nobreza Medieval Portuguesa. A Família e o Poder, Lisboa, Ed. Estampa, 1981, p. 183.
7 Stéphane Boissellier, La construction administrative d’un Royaume, Lisboa, UCP, 2012, p. 85.
8 PMH, Inq., p. 589.
9 “De cera unam libram. De mortuarijs tres morabitinos. De millio duos modios.” ‑ Censual do Cabido da Sé do Porto, Ed. de João Grave,
Dias dos Santos, Porto, CMP, 1973, pp. 218, 268, 307 e 535.
14 Foi nomeado Bispo de Meliapor, sem no entanto ter sido sagrado, não tendo, por isso, exercido o cargo. Foi depois Bispo de Cabo Verde,
Comissão Municipal de Cultura, vol. V, Penafiel, 1951, pp. 10‑15. O primeiro documento, de instituição da Ermida, remonta a 28 de Maio de
1680, acompanhado de Breve do Papa Inocêncio XI de 30 de Maio do mesmo ano. Mas há outros documentos, de 1681, 1682 e 1684, relativos
ao processo de construção da capela.
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abrindo apenas excepção para a Igreja Matriz de Marecos e para as Ermidas de Nossa Senhora da
Póvoa e de S. Jorge16. O diploma de 1684 constitui, assim, a primeira referência documental directa
que conhecemos para a Ermida de S. Jorge.
Nos inícios do Século XVIII, em 1706, o Pe. António Carvalho da Costa, na sua Corografia Por‑
tuguesa, registou que Marecos tinha 160 vizinhos e rendia 200.000 reis, mas não reteve elementos
sobre os espaços de culto que existiam nesta paróquia17. Alguns anos volvidos, em 1742, António
Cerqueira Pinto, na II Parte do Catálogo dos Bispos do Porto, de D. Rodrigo da Cunha, referiu apenas
uma ermida na paróquia de Marecos: “S. André de Marecos. Ermida de Nossa Senhora da Póvoa. Tem
de Communhão 270 pessoas, menores 69. Rende cento e sessenta mil reis. Abbadia.”18.
Chegamos, finalmente, às Memórias Paroquiais de 1758. No inquérito pombalino a freguesia de
Santo André de Marecos surge com 163 fogos e 463 habitantes “maiores”19. O pároco esclarece que
a sede distava um quarto de légua de Arrifana de Sousa (Penafiel) e seis léguas da cidade do Porto.
E, ao ser inquirido sobre as capelas existentes na freguesia, respondeu dizendo: “Item, tem esta fre‑
guesia de Marecos três hermidas, hua que está quasi ao pé da igreja, que hé da invocação de São
Jorge, tem outra no lugar de Povoa, a Senhora do Desterro, e tem outra no lugar de Marecos também
do Desterro.”20. E acrescentou que “… não [há] nestas capellas concorrência de romarias, nem em
dias certos…”21. A freguesia de Marecos possuía, portanto, duas capelas com a mesma invocação,
dedicadas a Nossa Senhora do Desterro: uma, como vimos instituída por D. António de S. Dionísio, na
sua quinta de Stº. André; e outra localizada no lugar da Póvoa. Foi a esta Ermida de Nossa Senhora da
Póvoa que se referiu António Cerqueira Pinto, em 1742. E tinha uma terceira capela, erguida próximo da
Matriz, consagrada a S. Jorge, que é a que nos interessa. Devemos, no entanto, registar que, quando o
inquérito pombalino foi lançado, na freguesia de Stº. André de Marecos, existiam outras capelas: uma
dedicada ao Bom Jesus de Bouças, instituída por João Gaspar de Marecos em 1730; outra, dedicada
a Stº. António, instituída por Bernardo de Almeida Pinto e Paulina Josefa em 1753; e uma terceira,
consagrada a Stª. Ana, instituída pelo Dr. Pedro Teixeira da Silva no mesmo ano de 175322. E que, em
menos de uma década, seriam erguidas mais duas ermidas23.
Não querendo prolongar excessivamente o rol de referências documentais a Marecos, apenas
diremos que a freguesia de Santo André foi extinta com a reforma administrativa de 2013, passando
o seu espaço a estar integrado na vizinha freguesia de Penafiel.
A peça
16 Eugénio de Andrea da Cunha e Freitas, “D. Fr. António de S. Dionísio, Bispo de Cabo Verde (1613‑1684)”, Penafidel. Boletim da Comissão
mentos de várias memórias eclesiásticas desta Diocesi, no discurso de onze séculos ilustrado, por António Cerqueira Pinto…, Parte II, Porto, Na
Officina Prototypa Episcopal, 1742, p. 167.
19 José Viriato Capela, Henrique Matos e Rogério Borralheiro, As Freguesias da Diocese do Porto nas Memórias Paroquiais de 1758,
Braga, UM, 2009, p. 545 (ed. que aqui utilizamos). As Memórias Paroquiais de 1758 foram igualmente publicadas por Manuel Ferreira Coelho,
“O Concelho de Penafiel nas «Memórias Paroquiais» de 1758”, Penafiel – Boletim Municipal de Cultura, 3ª Série, vol. 4‑5, Penafiel, 1987‑88,
encontrando‑se esta passagem na p. 299.
20 Idem, p. 545.
21 Idem, p. 545.
22 Cf. A. M. R. [António Moreira da Rocha], “Capelas no Concelho de Penafiel”, Penafiel – Boletim de Cultura da Câmara Municipal, nº 1,
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O edifício, muito modesto, resulta de uma reforma moderna, provavelmente executada no século XX,
que veio substituir um templo anterior. A placa encontrava‑se embutida na empena principal do tem-
plo, sobre a porta de entrada, tendo sido removida e substituída por uma réplica, que ainda hoje ali
se conserva. A escultura medieval, quatrocentista, deu entrada no Museu Municipal de Penafiel em
data não apurada, mas seguramente anterior a 1953, altura em que Abílio Miranda já a refere como
estando depositada no «Museu de Sobral Mendes», uma das primeiras designações do museu pena-
fidelense24. Como até 1948, data da fundação do Museu Municipal de Penafiel, as peças recolhidas
no espaço concelhio eram encaminhadas para o Museu de Etnografia e História da Junta Distrital do
Porto, podemos sugerir que o ingresso desta peça, já não no museu portuense mas no penafidelense,
ocorreu algures entre 1948 e 1953. Nesta instituição museológica acabaria por receber o número de
inventário MMPNF/1993/00119525.
Trata‑se de uma placa de calcário de Ançã‑Portunhos que, no seu actual estado de conservação,
apresenta como dimensões máximas, 68,5 cm de largura, 48,0 cm de altura e 19,5 cm de espes-
sura26. A morfologia da placa e a forma como se apresenta rematada na base sugerem que se trata de
um elemento de retábulo. Tal como a natureza do suporte nos revela, e as características estilísticas
confirmam, trata‑se de uma escultura gótica produzida nas prestigiadas oficinas dos escultores do aro
de Coimbra. E, como veremos mais à frente, deve ter sido o resultado de uma encomenda realizada
junto da oficina de Mestre João Afonso, nome maior dos escultores do “segundo gótico” de Coimbra.
Apesar da sua qualidade, a escultura de Marecos chegou quase inédita até aos nossos dias.
Apenas conhecemos duas referências publicadas: uma breve alusão de Abílio Miranda, em 1953, e
outra, não muito mais extensa, num pequeno texto de Joaquim José Mendes escrito para a Festa de
Corpus Christi de 200227.
Não é apenas a origem de Marecos que é remota. Também o culto a S. Jorge é muito antigo. Ape-
sar de ele se ter popularizado e difundido sobretudo a partir do último quartel do século XIV, fruto da
influência militar inglesa durante os conflitos fernandinos com Castela e durante a Crise de 1383‑85,
quando S. Jorge suplantou Santiago como patrono do exército português, o certo é que o seu culto
entre nós é muito mais antigo.
Jorge é de Capadócia, canta Caetano… Natural de Nicodémia28, cidade da Capadócia, S. Jorge
é tradicionalmente apontado como um dos mártires das perseguições de Diocleciano, nos inícios do
século IV (c. 303 d.C.)29. O seu culto começou por se circunscrever ao Próximo Oriente – à Palestina,
à Lídia e ao Egipto (onde foi cultivado pelos monges coptas)30 –, mas no século VI já era conhecido
na Gália31. E, apesar dos testemunhos do seu culto na Península serem quase todos mais tardios –
do século X e seguintes –, Carmen García Rodriguez regista que S. Valério († 695) já o refere no seu
tratado De vana saeculi sapientia32.
24 Abílio Miranda, “A minha opinião”, Abril de 1953 (reed. na colectânea Terras de Penafiel, vol. IV).
25 Agradecemos à Drª. Maria José Ferreira dos Santos, directora do Museu Municipal de Penafiel, a autorização concedida para estudar
esta peça e o apoio dado.
26 Estes dados foram retirados da respectiva ficha museológica, realizada pela Drª. Maria Helena Parrão Bernardo.
27 Abílio Miranda, “A minha opinião”, Abril de 1953 (reed. na colectânea Terras de Penafiel, vol. IV); Joaquim José Mendes, “O Estado
de S. Jorge”, reed. in Teresa Soeiro (Coord. de), “Dias Festivos. O Corpo de Deus em Penafiel”, Cadernos do Museu, vol. 6‑7, Penafiel, Museu
Municipal, 2000‑2001, pp. 223‑224.
28 Hoje Izmit, cidade da Turquia.
29 Cf. Flos Sanctorum, História das vidas e obras insignes dos Santos, pelo M. R. P. Pedro de Ribadaneira, Religioso da Companhia de
Iesus, e de outros Autores, traduzida da língua castelhana em a nossa Portugueza, pelo Licenceado Iaom Franco Barreto, Lisboa, António Cra-
esbeeck de Mello, 1674, pp. 497‑500 (para o Martírio sobretudo pp. 499‑500).
30 Louis Réau, Iconographie de l’Art Chrétien, volume III, tomo 1, Paris, PUF, 1958, p. 572.
31 Carmen Garcia Rodriguez, El Culto de los Santos en la España Romana y Visigoda, Madrid, CSIC, 1966, p. 198.
32 Carmen Garcia Rodriguez, El Culto de los Santos en la España Romana y Visigoda, Madrid, CSIC, 1966, p. 198. Vd. Também Xosé
Manuel González Reboredo, Os Santos titulares de parroquia en Galiza, Santiago de Compostela, Sotelo Blanco Ediciones, 2012, pp. 72‑74.
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Barroca, Mário Jorge — S. Jorge e o Dragão: Uma escultura da oficina de Mestre João Afonso procedente de Marecos (Penafiel)
Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 91-106
Depois dessa referência pioneira, do século VII, as primeiras menções que encontramos ascendem
aos meados do século X. Em 946, numa doação ao mosteiro de Lorvão, é referida uma igreja dedicada
a S. Jorge situada na região de Mucela (Vila Nova de Poiares, Coimbra)33. E, em 959, S. Jorge é men-
cionado entre a copiosa série de santos invocados por Mumadona Dias no seu testamento, figurando
então como titular secundário do Mosteiro de Guimarães34. Logo de seguida, é de novo referido no
Calendário de Córdova, entre as festividades comemoradas pelas comunidades cristãs. O Calendário
de Córdova é um manuscrito árabe, bilingue, que Reinhart Dozy atribuiu ao ano de 961. Apesar da
datação proposta por Dozy suscitar dúvidas junto de alguns autores, Pierre David defendia que, se
não era um original de 961, seria, de qualquer forma, anterior a 96735. Nesse Calendário registava-se
no dia 22 de Abril: “Chez les Chrétiens, fête de l’apôtre Philippe [à Jérusalem]. Saint Georges.”36. Esta
passagem é tanto mais interessante quanto os restantes calendários conhecidos indicam outras datas
para a festa de S. Jorge: segundo Marius Férotin e Ángel Fábrega Grau37, nos calendários visigóticos e
moçárabes ibérios aparece referido a 24 de Abril; nos calendários mais tardios, a partir do século XII,
regista-se a comemoração a 23 de Abril, data que se manteve nos nossos dias. Vejamos, sinteticamente,
o panorama que detectamos da análise de vários calendários litúrgicos peninsulares:
Calend. do Missal de
[1130-1150] 23 de Abril Joaquim O. Bragança, O Missal de Mateus, Lisboa, FCG, 1975
Mateus
33 PMH, DC 55.
34 PMH, DC 76.
35 Pierre David, Études Historiques sur la Galice et le Portugal du VIe au XIIe siècles, Lisboa, Liv. Portugália, 1947, p. 192.
36 R. Dozy, Le Calendrier de Cordoue, Nouvelle Édition annotée par Ch. Pellat, Leiden, E. J. Brill, 1961, p. 72 (1ª ed., Leiden, 1873).
37 Marius Férotin, Le Liber Ordinum en usage dans l’Église Wisigothique et Mozarabe d’Espagne du Cinquième au Onzième Siècle, 1904,
p. 462 (reprint, Roma, Edizioni Liturgiche, 1996, p. 318); Ángel Fábrega Grau, Pasionario Hispánico (Siglos VII‑XI), Madrid-Barcelona, CSIC, 1953,
p. 233.
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Barroca, Mário Jorge — S. Jorge e o Dragão: Uma escultura da oficina de Mestre João Afonso procedente de Marecos (Penafiel)
Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 91-106
Da análise deste quadro ressalta que, na tradição peninsular mais antiga, a festividade de S. Jorge
se comemorava a 24 de Abril, mas que, com a influência europeia, acabou por se transferir para a vés-
pera, para o dia 23 de Abril. A única fonte que apresenta uma data diferente é, portanto, o Calendário
de Córdova, que indica o dia 22 de Abril.
Entre nós, e para além das primeiras referências ao culto a S. Jorge – na doação ao Mosteiro de
Lorvão, em 946, e no testamento de Mumadona, de 959 –, devemos acrescentar que, em 974, se
encontra documentado um “monasteriolo nomine Sancti Georgii” na zona do Dão38. E que no Censual
do Bispo D. Pedro, elaborado um século depois, por volta de 1075‑1091, estão registados no âmbito da
Diocese de Braga seis templos consagrados a esse santo39. Finalmente, mais ou menos pela mesma
altura, D. Sesnando Davides, o Alvazil de Coimbra, fundou uma ermida dedicada a S. Jorge, em Ceira,
com um mosteiro anexo, que teve comunidade monástica activa entre 1088 e o Século XVI40.
Há, por isso, suficientes testemunhos para podermos afirmar que o culto a S. Jorge, sendo conhe-
cido no espaço peninsular desde o século VII, se intensificou sobretudo a partir do século X41.
Com as Cruzadas, a veneração por este santo militar alastrou pelo Ocidente. Tornou‑se patrono
da Ordem dos Cavaleiros Teutónicos e ganhou adeptos em Inglaterra, onde, por decisão de Ricardo
Coração‑de‑Leão, se tornou protector do exército real inglês. Alguns anos mais tarde, no Sínodo de Oxford
de 1222, tornar‑se‑ia patrono do próprio reino, passando a sua bandeira – a cruz vermelha colocada
sobre fundo branco –, a constituir a bandeira real inglesa42. Entre nós, seria a partir dos finais do século
XIV que ele se tornaria verdadeiramente popular. Com efeito, a generalização do seu culto, e sobretudo
a sua associação às empresas militares, foi uma consequência da influência inglesa em Portugal, a
partir do seu envolvimento nos acontecimentos ibéricos ao lado da coroa portuguesa: em 1381, junto
de D. Fernando; a partir de 1383‑85, ao lado de D. João I. Foi a partir de então que S. Jorge substituiu
S. Tiago como patrono das actividades militares portuguesas. Na Batalha de Aljubarrota, travada a 14
de Agosto de 1385, o exército português e os seus aliados ingleses gritaram, em uníssono, por S. Jorge,
enquanto as forças castelhanas se mantiveram fiéis ao velho patrono da Reconquista e apelaram por
S. Tiago. Seria, de resto, complicado que os dois blocos opositores invocassem o mesmo protector nos
momentos que antecederam o prélio…
É, portanto, a partir dos conflitos do último quartel do século XIV, fernandinos e joaninos, que o
culto a S. Jorge ganha uma nova dimensão em Portugal. Para além do aspecto militar, a sua popula-
rização ficou igualmente a dever‑se ao facto de, a partir do século XV, a figura de S. Jorge ter passado
a integrar a procissão de Corpus Christi, festa maior do mundo urbano cristão, onde lhe foi conferido
um lugar de destaque. No Porto, a participação da imagem de S. Jorge, montado a cavalo, no Corpus
Christi está documentada pelo menos desde os tempos de D. João II43. O seu protagonismo nestas
procissões conheceu um grande incremento ao longo da Época Moderna, e conseguiu chegar até aos
nossos dias, com direito a grande destaque na vanguarda do cortejo e a uma encenação da luta entre
S. Jorge e o Dragão (a Coca), personificando a luta entre o Bem e o Mal44.
38 PMH, DC 114.
39 Avelino de Jesus da Costa, O Bispo D. Pedro e a Organização da Diocese de Braga, vol. I, Coimbra, 1959, p. 323.
40 Bernardo Vasconcelos e Sousa et alii, Ordens Religiosas em Portugal. Das Origens a Trento – Guia Histórico, Lisboa, Livros Horizonte,
2005, p. 185.
41 Foi, ainda assim, um culto sempre limitado, quer em Portugal, quer na Galiza – cf. Xosé Manuel González Reboredo, Os Santos titulares
de parroquia en Galiza, Santiago de Compostela, Sotelo Blanco Ediciones, 2012, pp. 148‑149 e 169‑170.
42 Louis Réau, Iconographie de l’Art Chrétien, volume III, tomo 1, Paris, PUF, 1958, p. 573.
43 Cf. Luís de Sousa Couto, Origens das Procissões na Cidade do Porto, 2ª ed., Porto, CMP, 1971, pp. 20‑21. A Procissão de Corpus Christi
é muito anterior, mas não encontramos, nas primeiras referências documentais, menção expressa a S. Jorge. Veja‑se, por exemplo, Iria Gonçal-
ves, “As festas de «Corpus Christi» do Porto na segunda metade do Século XV: a participação do Concelho”, Estudos Medievais, vol. 5/6, Porto,
1984/85, pp. 69‑89 (especialmente pp. 75‑76) e Iria Gonçalves, As finanças municipais do Porto na segunda metade do Século XV, Porto, CMP,
1987, pp. 94‑105 (especialmente pp. 95‑96). Sintoma de que a imagem de S. Jorge não entrava ainda no cortejo? Ou, simplesmente, que não
era custeada pela Câmara mas sim pelas corporações que tinham o Santo como protector? Em 1621, quando se estabeleceu um regulamento
para a procissão, S. Jorge aparecia em sétimo lugar, associado às corporações dos Douradores, Conteiros, Apavonadores e Cerieiros (Luís de
Sousa Couto, op. cit., p. 98).
44 Ainda assim acontece em Penafiel (cf. Teresa Soeiro, “Dias Festivos. O Corpo de Deus em Penafiel”, Cadernos do Museu, vol. 6‑7,
Penafiel, 2000‑01; José Alberto Sardinha, Danças Populares do Corpus Christi de Penafiel, Penafiel, MMP, 2012) e em muitos lugares do Noroeste
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Barroca, Mário Jorge — S. Jorge e o Dragão: Uma escultura da oficina de Mestre João Afonso procedente de Marecos (Penafiel)
Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 91-106
Apesar de, como vimos, as origens do seu culto remontar a épocas muito recuadas, a icono-
grafia de S. Jorge é substancialmente mais recente. O exemplo mais antigo que Louis Réau aponta,
na sua clássica síntese dedicada à Iconografia da Arte Cristã, é o tímpano da Catedral de Ferrara45,
obra do escultor Nicholaus atribuível a 1135‑1155, onde se pode ver S. Jorge, a cavalo, de espada
em riste, espezinhando e vencendo o Dragão, ferido de morte com a lança espetada na sua boca. As
representações equestres de S. Jorge começaram por integrar apenas estes dois elementos: o Santo,
montando o seu cavalo branco, e o Dragão. Mas, com a difusão da Lenda de S. Jorge, uniformizada
pela Legende Dorée, o quadro completou‑se com a representação da Princesa, filha do rei Silene, que
estava na iminência de ser sacrificada ao Dragão para que este poupasse a cidade, quando S. Jorge
apareceu e a salvou. As representações tornar‑se‑iam, aos olhos dos Cristãos, poderosas alegorias: “…
Les Chrétiens de Syrie firent de sa lutte contre le dragon le symbole de la conversion de la Cappadoce.
Plus tard, la princesse sauvée du dragon fut interprétée comme le symbole de l’Église chrétienne
tout entière, arrachée à ses persécuteurs par l’empereur Constantin.”46. É esta iconografia – que foi
magnificamente pintada, por duas vezes, por Paolo Uccello47 –, que vemos na escultura procedente
da fachada da Ermida de S. Jorge de Marecos.
Apesar de também existirem representações estantes de S. Jorge – como a célebre estátua que
Donatello esculpiu para Capela de S. Miguel, em Florença, onde S. Jorge, de ar imberbe, foi retratado
de pé – as representações de S. Jorge a cavalo tornaram‑se mais usuais. Em Portugal contamos com
duas peças tardo‑medievas: o Retábulo de Eira Pedrinha e a placa de S. Jorge de Marecos.
O Retábulo da Capela de Nossa Senhora da Piedade de Eira Pedrinha, a Sul de Coimbra, é uma
peça a todos os títulos notável. Foi concebido para ser colocado sobre a mesa do Altar e encontra‑se,
hoje, embutido na parede, a uma cota elevada. Nele vemos a cena clássica: S. Jorge, montado a cavalo,
ajaezado com arnês, combatendo o Dragão e espetando a sua lança na boca do animal. Ao lado da
cena, em pé, ligada ao Dragão por uma trela que prende a uma coleira, figurou‑se a Princesa, resgatada
por S. Jorge de uma morte certa. A representação deste combate sobrenatural é enquadrada por uma
moldura urbana (que representa a cidade condenada ao Dragão), com a muralha coroada por ameias,
de cujos espaços das abertas emergem pequenas cabeças de figurantes que assistem ao épico com-
bate. Ladeando a figura da Princesa, num plano mais recatado e dignificada por arco, foi incluída, à
esquerda, a representação de uma Santa, provavelmente Stª. Bárbara (atendendo à sua iconografia,
uma vez que segura uma torre). E, à direita, foi incluída a representação de S. Sebastião. O retábulo
de Eira Pedrinha, realizado em calcário de Ançã‑Portunhos, preserva amplos vestígios de policromia e
tem, ainda, a particularidade de estar personalizado por uma inscrição, gravada na moldura inferior,
que regista o nome do seu encomendador e a data da sua execução:
GONCALO : PALMEIRO : MANDOU : FAZER : ESTA : OBRA : ERA : MIL : CCCC : XXX : VI : ANOS48.
No caso da escultura de Marecos, que aqui nos ocupa, a cena é iconograficamente mais sim-
ples: apenas foi representado S. Jorge, a cavalo, combatendo o Dragão, ferido de morte pela lança do
Cavaleiro de Capadócia, e, ao lado esquerdo, a representação da Princesa, ligada fisicamente por uma
trela a uma coleira, pendente do pescoço do Dragão. Não temos, portanto, a muralha ameada, cenário
peninsular (cf. Clodio González Pérez, A Coca e o Mito do Dragón, Vigo, Ir Indo Ediciones, 1993, pp. 170‑180). A imagem de S. Jorge, que integrava
a procissão de Corpus Christi em Penafiel, colocada sobre o dorso de cavalo, está hoje exposta no Museu de Penafiel. A imagem portuense, que
também era colocada a cavalo, com largo manto, integra hoje a colecção do Museu Nacional Soares dos Reis.
45 Louis Réau, Iconographie de l’Art Chrétien, volume III, tomo 1, Paris, PUF, 1958, p. 575.
46 Louis Réau, Iconographie de l’Art Chrétien, volume III, tomo 1, Paris, PUF, 1958, p. 572.
47 São Jorge e o Dragão, pintado c. 1456, National Gallery, Londres; São Jorge e o Dragão, pintado c. 1458‑60, Musée Jacquemart‑André, Paris.
48 Cf. Mário Jorge Barroca, Epigrafia Medieval Portuguesa (862‑1422), vol. II, tomo 2, Lisboa, FCG‑FCT, 2000, Insc. nº 680, pp. 1946‑1949.
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Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 91-106
urbano do combate entre o Bem e o Mal, nem as figuras dos dois santos (Stª. Bárbara e S. Sebastião)
acolitando o embate, como vemos em Eira Pedrinha.
Apesar de se ressentir da exposição às intempéries, a que esteve sujeita durante muitos anos,
a escultura de Marecos, realizada em calcário brando da zona das pedreiras de Ançã, Portunhos
ou Outil, surpreende pelos seus pormenores. As mutilações atingem apenas duas zonas, que estão
ausentes por fractura: o focinho do cavalo e a perna esquerda do cavaleiro. No resto, a qualidade da
escultura e dos seus pormenores é ainda hoje surpreendente. Nela vemos, à esquerda, a Princesa em
pé, coroada e envergando vestes compridas, segurando a trela com a mão esquerda. Esta liga‑se ao
pescoço do Dragão, animal mítico, alado, representado no solo, passante para a esquerda mas com
o focinho voltado à direita, olhando na direcção de S. Jorge. O Cavaleiro, ajaezado com arnês integral
e montado a cavalo, ostenta um escudo de tipo francês, com a cruz de S. Jorge ao centro, e espeta a
lança na boca do animal. Assim como a condição social da Princesa é revelada pela coroa, também a
condição sobrenatural de S. Jorge é sublinhada por um nimbo raiado. Mas, no mais, o Santo apresenta
‑se como um cavaleiro nobre de Quatrocentos. E este é um dos aspectos que torna esta escultura um
documento ímpar. Com efeito, e depois do Retábulo de Eira Pedrinha, datado por inscrição da Era
de 1436 (correspondente ao Anno Domini de 1398), a escultura de Marecos é um segundo grande
documento iconográfico que possuímos em Portugal, fora do universo funerário da escultura jacente,
para o estudo do arnês.
As características morfológicas da peça não deixam grande margem para dúvidas: tal como em
Eira Pedrinha, também a escultura de Marecos pertencia, outrora, ao retábulo da pequena Ermida de S.
Jorge. A moldura inferior, onde se apoia toda a cena, denuncia a sua primitiva função. Mas, infelizmente,
e ao contrário de Eira Pedrinha, não temos vestígios de policromia nem temos inscrição revelando o
doador e a data da sua execução.
Perante uma obra de esta qualidade, a questão que se coloca é, obviamente, a da sua autoria.
A resposta a esta questão encontramos na análise de alguns pormenores, nomeadamente no nimbo
raiado que glorifica a cabeça de S. Jorge, na forma como a sua face foi representada (particularmente
no que respeita à barba) e no tratamento “gráfico” dado às asas do Dragão. Com efeito, estes porme-
nores encontram paralelos estreitos em várias esculturas quatrocentistas:
–– Na representação de S. Miguel pesando as Almas, no primeiro nicho do arcaz de Fernão Gomes
de Góis (Igreja de Oliveira do Conde), datado por inscrição de 1439‑144049, onde vemos o mesmo
nimbo raiado e as asas do Arcanjo com o mesmo tratamento gráfico que as asas do Dragão;
–– No Retábulo do Corpo de Deus (MNMC, Coimbra, Inv. 4023 E 51), datado por inscrição de 144350,
onde encontramos os mesmos nimbos raiados e as asas com um tratamento estético idêntico;
–– No Arcanjo S. Miguel, proveniente da Colegiada de S. Salvador, em Coimbra (MNMC, Coimbra,
Inv. 645 E 37)51, com o mesmo tratamento de asas;
–– No Arcanjo S. Miguel, de proveniência desconhecida (MNAA, Lisboa, Inv. 977 Esc) 52, que apre-
senta o mesmo tipo de tratamento das asas;
49 Cf. António Nogueira Gonçalves, “Datas Gravadas em Esculturas Coimbrãs do Séc. XV”, Estudos de História da Arte Medieval, Coimbra,
Epartur, 1980, p. 281 e ss.; Pedro Dias, O Gótico, vol. 2 da História da Arte em Portugal, Lisboa, ALFA, 1986, p. 133‑134; Maria José Goulão,
Expressões Artísticas do Universo Medieval, Lisboa, 2009, pp. 35‑36.
50 Cf. Pedro Dias, O Gótico, vol. 2 da História da Arte em Portugal, Lisboa, ALFA, 1986, p. 134; Ai Confini della Terra. Scultura e Arte in
Portogallo 1300‑1500, Milano, Electa, 2000, Nº 17; Maria José Goulão, Expressões Artísticas do Universo Medieval, Lisboa, 2009, p. 36.
51 Cf. Ai Confini della Terra. Scultura e Arte in Portogallo 1300‑1500, Milano, Electa, 2000, Nº 56; Pedro Dias, A Escultura de Coimbra do
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–– No Arcanjo S. Miguel, proveniente da Col. Vilhena (MNAA, Lisboa, Inv. 961 Esc)53, que ostenta
também o mesmo tratamento das asas;
–– E no Arcanjo S. Miguel, também de proveniência desconhecida e oriundo da col. Vilhena (MNAA,
Lisboa, Inv. 1002 Esc)54, que apresenta, uma vez mais, o mesmo tipo de desenho nas asas.
O que une todos estes exemplos é o facto de serem obras saídas da oficina de Mestre João Afonso.
É certo que alguns autores, na esteira de Reinaldo dos Santos55, continuam a atribuir parte destas
peças ao designado «Mestre de Alhadas» ou «Mestre da Igreja de Nossa Senhora de Alhadas»56. No
entanto, perfilhamos a opinião de Pedro Dias, que não vê motivos para estabelecer uma distinção
entre o «Mestre de Alhadas» e o Mestre João Afonso57. Assim, o que une todas estas peças é o facto de
pertencerem todas ao mesmo autor, Mestre João Afonso. A identidade do escultor encontra‑se exarada
numa das três inscrições da arca tumular de Fernão Gomes de Góis, onde se revela que ela tinha sido
concebida por “João Afonso, Mestre dos Sinos”. A actividade deste prolixo escultor e da sua oficina
consegue‑se acompanhar entre o ano de 1439 (túmulo de Fernão Gomes de Góis) e 1469 (escultura
da Virgem com o Menino, da Igreja de Medelim, também datada por inscrição)58.
A escultura de Marecos é, por isso, um novo testemunho das produções do mais influente escultor
do “segundo gótico” de Coimbra e um espelho da importância da oficina de Mestre João Afonso que,
localizada em Coimbra, conseguiu impor‑se no reino, “exportando” peças para zonas bem arredadas
do aro de Coimbra, desde o Alentejo até à Galiza59.
O armamento
53 Cf. Ai Confini della Terra. Scultura e Arte in Portogallo 1300‑1500, Milano, Electa, 2000, Nº 57.
54 Cf. Ai Confini della Terra. Scultura e Arte in Portogallo 1300‑1500, Milano, Electa, 2000, Nº 93.
55 Reinaldo dos Santos, A Escultura em Portugal, vol. 1, Lisboa, 1948, p. 47, que definiu a produção do “Mestre de Alhadas” a partir da
Electa, 2000.
57 Pedro Dias, A Escultura de Coimbra. Do Gótico ao Maneirismo, Coimbra, CMC, 2003, p. 49; vd. tb. Carlos Alberto Ferreira de Almeida e
Mário Jorge Barroca, História da Arte em Portugal, vol. 2, O Gótico, Lisboa, Ed. Presença, 2002, p. 171; Maria José Goulão, Expressões Artísticas
do Universo Medieval, Lisboa, 2009, p. 37.
58 Sobre as produções de Mestre João Afonso veja‑se o que escrevemos em Carlos Alberto Ferreira de Almeida e Mário Jorge Barroca,
História da Arte em Portugal, vol. 2, O Gótico, Lisboa, Ed. Presença, 2002, pp. 170‑176.
59 Cf. Carlos Alberto Ferreira de Almeida e Mário Jorge Barroca, História da Arte em Portugal, vol. 2, O Gótico, Lisboa, Ed. Presença, 2002, p. 171.
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em Aljubarrota envergando arnês integral porque este ainda não se usava entre nós60. Mas o referido
Retábulo de Eira Pedrinha, datado por inscrição da Era de 1436 (A.D. 1398), já apresenta um arnês
integral. E a partir de então não só as representações iconográficas se multiplicam (jacentes de D.
João I (1415‑1430), de D. Pedro de Meneses (c. 1437), de D. Duarte (c. 1438), de Fernão Gomes de
Góis (1439‑40), etc), como a própria documentação escrita passa a referir elementos que integravam o
arnês. Infelizmente, no caso de Marecos, o escudo que S. Jorge segura impede‑nos de conhecer melhor
o seu arnês de corpo. Mas é perceptível o arnês de braços e a ombreira do lado direito, formada por
lâminas sobrepostas, e o arnês de pernas, com a sua joelheira, de igual tipologia. Sobre a couraça61
e o espaldar62 foi representado o boldrié63, composto por uma tira (de couro ou de tecido) colocada à
tiracolo, que remata, nas costas, em peça circular vazada. O escudo que o santo segura é, naturalmente,
um escudo de tipo francês, recto em cima e levemente apontado em baixo. Esta tipologia de escudos
tinha‑se imposto ao velho escudo de tipo normando desde os anos trinta do século XIII. Apresenta, na
sua face visível, uma cruz em relevo, que seria, por certo, pintada a vermelho e colocada sobre fundo
branco. Era, portanto, a “Cruz de S. Jorge”, que o próprio D. João I usou bordada no seu loudel durante
a Batalha de Aljubarrota64. A cruz da nossa escultura ostenta remates flordelizados antecedidos por
aneletes, e apresenta ao centro, na intercepção dos braços, um campo quadrado. Copia, portanto, os
modelos em voga na ourivesaria portuguesa de então. Nos pés do santo são visíveis duas magníficas
representações de esporas de roldana (com dez puas representadas na espora do pé esquerdo). E,
neste caso, até a espora do pé direito, que fica na “face oculta” do relevo, é visível. Estas representações
de esporas de roldana contam‑se entre as melhores que conhecemos na escultura gótica portuguesa
não funerária. Por fim, registemos a presença da espada embainhada, parcialmente ocultada pelo
escudo, mas onde ainda se consegue ver parte das guardas da arma: a guarda principal que se curva
levemente sobre a lâmina, acompanhada de uma guarda subsidiária que se representou fechada, em
forma de círculo, colocada junto da lâmina. Estamos, desta forma, perante uma das mais antigas repre-
sentações iconográficas do sistema de empunhadura que haveria de originar as chamadas “guardas
portuguesas”, circunstância que confere um interesse acrescido a esta peça.
O dragão, por seu turno, é um animal magnificamente modelado, com pormenores gráficos assi-
naláveis, como as escamas do corpo, a penugem das asas ou a cauda enrolada em espiral. A Princesa,
filha do rei Silene, representada à esquerda da cena, apresenta‑se, como usualmente, em pé, com
vestes caindo em pregas bem modeladas, corpo dominado pela silhueta em S alongado, ostentando
uma coroa na cabeça.
A cópia executada para a Ermida de S. Jorge, no Cemitério de Marecos, apesar de ter sido realizada
à mesma escala que o original, e provavelmente à vista deste, revela uma qualidade que fica muito
aquém da escultura medieval. O seu autor, que deve ter executado a cópia para substituir o original
entretanto em vias de ser recolhido no museu penafidelense, aproveitou a ocasião para corrigir as duas
ausências por fractura. Com efeito, o relevo que se encontra na empena da capela mortuária do Cemi-
tério de Marecos, a alguns metros da igreja paroquial, representa o cavalo com focinho e reconstituiu
a perna fracturada de S. Jorge. Mas, apesar do esforço do seu autor, não consegue igualar a elegância
do original mediévico.
Resta‑nos abordar a datação do retábulo de Marecos. Como já deixamos entender pelos para-
lelos convocados, a escultura de S. Jorge combatendo o Dragão deve ser enquadrada nas produções
da oficina de Mestre João Afonso. A sua execução situa‑se, por isso, entre 1439 e 1469. Atendendo
60 Fernão Lopes, Crónica del Rei Dom João I da Boa Memória, Parte II, Ed. de William J. Entwistle, Lisboa, INCM, 1977, p. 85.
61 Peça do arnês que protegia a parte frontal do tronco do cavaleiro.
62 Peça do arnês que protegia as costas do cavaleiro.
63 Do francês baudrié, designa o sistema de correias, de couro ou de tecido, usado para suspensão da bainha da espada.
64 Cf. Fernão Lopes, Crónica del Rei Dom João I da Boa Memória, Parte II, Ed. de William J. Entwistle, Lisboa, INCM, 1977, p. 85. Sobre
o Loudel de D. João I, que se conserva no Museu Alberto Sampaio, em Guimarães, veja‑se Maria José Mendonça, Maria José Taxinha e Maria
Emília Amaral Teixeira, O Loudel do Rei D. João I, Lisboa, 1973.
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à tipologia da espada, poderíamos ser levados a atribuir esta escultura aos meados do século ou até
já à segunda metade da centúria, tendo em mente os paralelos que encontra nas pinturas de Nuno
Gonçalves65. Mas devemos chamar a atenção para o facto de, no túmulo de Fernão Gomes de Góis, na
Igreja Matriz de Oliveira do Conde, executado entre 1439 e 1440, já se representar uma espada desta
tipologia. E de se conhecerem várias esculturas que, pese embora sem datação tão exacta, têm sido
atribuídas ao terceiro quartel do século XV e que apresentam espadas deste modelo66.
Desconhecemos quem encomendou esta requintada peça para a Ermida de Marecos. Mas ela
obedece bem à sensibilidade devocional do reino nestas décadas centrais de Quatrocentos, onde o
culto a S. Jorge, patrocinado pela própria casa real portuguesa, ganhou muitos adeptos. Apesar do
desgaste imposto pela prolongada exposição às agruras do clima, a escultura retabular de Marecos
continua a ostentar uma enorme qualidade, bem merecendo que seja resgatada ao injusto esqueci-
mento a que esteve votada.
65 Nos Painéis de São Vicente e na tábua de S. Paulo, ambos do MNAA, encontramos espadas com guardas portuguesas que devem ser
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RESUMO:
Com este trabalho pretendemos sintetizar as diferentes tipologias de selos da cohors I Celtibero‑
rum, unidade auxiliar estacionada no forte romano de Cidadela (Sobrado dos Monxes, A Coruña).
Partindo dos grupos de legendas encontrados em materiais laterícios, trataremos de definir as
múltiplas variantes de cunhos usados na marcação desses materiais, principalmente sobre
tegulae e em menor quantidade em ladrilhos. Para além disso, trataremos de analisar outras
questões como o contexto arqueológico dos achados, questões relacionadas com o processo
produtivo e a função das marcas presentes neste sítio arqueológico.
Palavras‑chave: selo, militar, material laterício, forte
ABSTRACT:
In this paper, we summarize the different types of stamps belonging to the cohors I Celtiberorum,
an auxiliary unit stationed in the Roman fort of Cidadela (Sobrado dos Monxes, A Coruña). Based
on the types found organized in several groups, we will attempt to define the multiple variants of
dies used to mark clay materials, predominantly on tiles and to a lesser extent on bricks. Also,
we will try to analyze other issues such as the archaeological context of their finding and issues
arising from the production process and the role that these marks had on this site.
Keywords: stamp, military, brick and tile, fort
1. INTRODUCCIÓN
1 Profesor Titular de Arqueología, Departamento de Historia I, Facultade de Xeografía e Historia de la Universidade de Santiago de Com-
postela (USC).
2 Doctorando del Departamento de Historia I, Facultade de Xeografía e Historia, Universidade de Santiago de Compostela (USC). erik.
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Corda y las estribaciones de la vecina parroquia de Curtis. La filiación militar del yacimiento ya fue
apuntada por Ángel del Castillo (1935), pero no sería hasta más tarde cuando se identificó como la
cohors prima Celtiberorum gracias a los abundantes restos epigráficos (Caamaño Gesto 1984). Se
trata, por tanto, de una unidad equitata, dependiente de la legio VII gemina, estacionada en León.
A juzgar por las moderadas dimensiones (Fig. 1, 2), alrededor de 2,4 hectáreas, este espacio acogería
con cierta seguridad a los efectivos de una unidad quinguenaria. Existen importantes lagunas respecto
a los orígenes de la cohors, pues las primeras evidencias epigráficas con que contamos son varios
diplomas de inicios del s. II d.C. hallados tanto en Britannia como en el Norte de África (Costa García
2009: 218). Sabemos que posiblemente se traslada a la región Galaica en un momento impreciso
entre finales del reinado de Trajano y con mayor seguridad durante el de Adriano (Caamaño Gesto
1987: 75‑76). El primer testimonio epigráfico de la presencia de este destacamento en Hispania viene
dado por la tabula hospitalis de Castromao, datada con exactitud en el 132 d.C., entre el prefecto
de la cohors I Celtiberorum, C. Antonius Aquilus Nouaugustanus, y el populus de los Coelerni. La
presencia de un mando militar en este documento nos sugiere que dicha unidad estuviera en activo
con cierta anterioridad en esta región. Permanecerá en el lugar de Cidadela desde inicios del siglo
II d.C. hasta la baja romanidad cuando, según nos informa textualmente la Not. Dign. Occ. (XLII, 30)
“tribunus cohortis celtiberae brigantie, nunc iuliobriga”, se traslada esta unidad a Iuliobriga en una
fecha que no podemos precisar con seguridad. Considerando que este texto está escrito durante el
s. IV d.C., indicaría que este hecho se produciría con anterioridad.
Geográficamente hablando, Cidadela se encuentra situada a una distancia equidistante de dos
núcleos de importancia como son Brigantium y Lucus Augusti, la capital conventual. Esta unidad garan-
tizaría, en gran medida, el control estratégico del paso entre la costa y el interior (Caamaño Gesto y
Fernández Rodríguez 2000: 207), especialmente por la cercanía de la vía XX per loca maritima, extensión
de la XIX (Braga‑Lugo‑Astorga) que conecta la zona litoral con esta vía en dirección al interior peninsu-
lar. Asimismo, la amplitud y flexibilidad del espacio en el que ejerce su actividad, manifestada una vez
más gracias a la tabula hospitalis de Castromao, localizada a más de 100 km del campamento y en el
vecino conventus bracarensis. A menor escala, el campamento actuaría de centro administrativo de su
propio territorio. En sus inmediaciones se encuentran no solo elementos militares dependientes como
la torre de vigilancia localizada en A Medorra das Fanegas (Caamaño Gesto & Criado Boado 1992), sino
también un hábitat civil en la actual aldea de Ínsua (Insula), posible uicus asociado al campamento y
toda una serie de castros descubiertos en sus proximidades3.
La dilatada investigación en este yacimiento comienza a principios del siglo XX identificándose como
una estación del Itinerario de Antonino (García Romero 1909), aunque contamos con referencias de la
existencia de “exploraciones” puntuales con anterioridad, a finales del siglo XIX (Costa García 2013a:
111). Descartada ya esta interpretación, la primera intervención se realiza durante la década de los
treinta, de mano de Ángel del Castillo, con limitados resultados. No es hasta el año 1981 cuando se
inician las intervenciones sistemáticas bajo nuestra dirección, trabajos que se desarrollaron –con algu-
nas interrupciones‑, hasta la última campaña realizada en 20104. Fruto de esta actividad a lo largo de
los años, han salido a la luz diversas edificaciones como el praetorium y los principia del campamento.
Han sido descubiertos, asimismo, parte del sistema defensivo (murallas, interuallum y foso). Con la
partida de la unidad militar romana, el yacimiento es reocupado y presenta varias fases subsiguientes
de ocupación civil hasta el siglo VII‑VIII (Costa García, Rodríguez Álvarez, Varela Gómez, 2001).
3 Ninguno de los castros han sido objeto de intervención por lo que no podemos asegurar su coexistencia con el fuerte de Cidadela.
4 Se han realizado un total de 15 campañas dirigidas por José Manuel Caamaño Gesto en los años 1981, 1983, 1989, 1990, 1991,
1992, 1993; codirigidas con Carlos Fernández Rodríguez en 1996 y 1997, y con Emilio Ramil González en 2006, 2007, 2008, 2009 y 2010.
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5 La primera vez que se identificaron estas marcas fue en la campaña de excavación de 1981 y dadas a conocer por Caamaño Gesto
(1984: 248).
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la misma en su parte superior, se prolonga con un apéndice horizontal. El grosor de las letras
es algo más de 1 cm (Fig. 3, 4).
–– Tipo 4. Cartucho igual que los anteriores, la variedad está en la leyenda C P C, en que la P está
invertida y presenta en su parte central lo mismo que la segunda C un apéndice horizontal.
–– Tipo 5. Cartucho similar a los anteriores. Las dos ces (C), llevan en su parte central interior
un apéndice horizontal. La letra P es más ancha que la de otros sellos y su trazo curvo es de
pequeñas dimensiones y casi circular. La anchura de su pie es de 1,5 cm.
–– Tipo 6. Cartucho rectangular con esquinas redondeadas. Se trata de un sello más alto que los
anteriores. La segunda C es muy cerrada y más gruesa que esta misma letra de otros ejem-
plares alcanzando los 2 cm.
–– Tipo 7. Cartucho como los anteriores. Con letras de muy buena factura y la P presenta en su
parte superior un apéndice horizontal. La anchura de las letras es de 0,6 cm.
–– Tipo 8. Cartucho igual que los citados. Marca retrovertida. El trazo vertical de la P se remata
en su parte superior en un apéndice horizontal y su pie se apoya en un apéndice o línea
horizontal. Anchura de las letras 0,5 cm. El fondo de la estampilla presenta una gran nitidez,
lo que nos lleva a pensar que la matriz utilizada era de naturaleza distinta a los otros sellos,
posiblemente metálica.
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e inferior por un trazo horizontal. Este formulario C I C, es el que con más frecuencia aparece
en las inscripciones en piedra de esta unidad militar.
3. PROCEDENCIA Y CONTEXTO ARQUEOLÓGICO
Las distintas campañas de excavación no nos han permitido comprobar si existía alguna diferen-
ciación entre niveles para establecer una secuencia cronológica de los varios tipos de marcas. Los
resultados obtenidos hasta el momento no permiten realizar correspondencias entre las distintas mar-
cas y determinados niveles estratigráficos dentro de alguna de las tres fases de ocupación romana en
Cidadela. Los datos no proporcionan el suficiente detalle como para asignar una cronología específica
a cada marca, ya que por lo general, aparecen indistintamente en los diversos niveles estratigráficos.
El horizonte cronológico de uso de estas marcas se situaría con seguridad entre fines del primer tercio
de s. II d.C. hasta, al menos, mediados/finales del III d.C.
Las únicas consideraciones que podemos realizar se centran en la relación entre el inicio del uso
marcas sobre material constructivo y las estructuras más antiguas del campamento (Fase I). Ejemplo
de ello son un conjunto de canalizaciones correspondientes a esta temprana etapa que transcurren,
por un lado, debajo de la edificación identificada como el praetorium (Fig. 1, 3, 3) y, por otro, actuando
como desagües de los principia (Fig. 1, 3, 1). Ambas estructuras de evacuación de agua están dispues-
tas a partir de la utilización de tegulae para crear el canal, presentando la particularidad de que no
ostentan marca alguna6. En la gran canalización del praetorium, con ocasión de la reforma del edificio
(Fase II), se inhabilita parte de la canalización obligando a realizar una reforma para desviar su curso.
Esta reparación se realiza mediante tegulae que presentan estampación. Esta “ausencia” inicial nos
indica con probabilidad el hecho de que la unidad no se encontrase en el lugar cuando se erigieron las
más antiguas edificaciones al norte de la uia principalis (Costa García 2013b: 223). Sin embargo, en
la campaña de 2010 durante la intervención en la edificación (Fig. 1, 3, 5) paralela a la uia principalis
y a escasos metros de la porta principalis dextra, se localizó un ejemplar del escaso tipo 18 en un nivel
estratigráfico coetáneo al rebanco de cimentación de la edificación correspondiente con las primera
fase de construcción del campamento (Fase I), lo que supone que podría corresponderse con uno de
los ejemplares marcados más antiguos. Con todo, debe considerarse que las diferentes construccio-
nes de las fortificaciones no se erigían a un tiempo, pudiéndose reconocer varias fases constructivas
(Davinson, 1989: 213‑214).
Tampoco existe una diferenciación a la hora de cubrir un edificio con un modelo de teja con un
determinado tipo de marca, sino que encontramos tejas con distintos sellos. No obstante comprobamos
que sí existe un predominio de un tipo de sellos, en comparación con otros, en determinados edificios
6 Las canalizaciones de desagüe de los principia presentan reducidas dimensiones, alrededor de 3 m de largo y formadas por una ali-
neación de cinco tegulae, frente a la gran canalización del praetorium que recorre de Norte a Sur con 32 m de recorrido formado por 61 tegulae
alineadas.
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como puede ser los principia situado en el centro del mismo, en el que la marca que más abunda es
el grupo de COH I C, mientras que el otro edificio central que es el praetorio la marca más abundante
es la C P C. No obstante y en función de los resultados hasta ahora obtenidos, pensamos que la gran
variedad de sellos es más o menos coetánea, sin que se produjera una elaboración siguiendo un orden
cronológico de fabricación o de moda.
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En ocasiones no es posible detectar alfares próximos a los propios campamentos, en este sentido,
yacimientos como Candaneda de Fenar (León), un alfar compuesto por varios hornos que presentan
restos de materiales con marcas de la legio VII gemina, e identificado como uno de los talleres que
abastecen a esta unidad, está situado a más de 30 km de León (Morillo Cerdán 2008: 289). Por otro
lado, la hipótesis por la cual las figlinae militares desplazan las producciones locales no siempre suele
coincidir con la realidad arqueológica, como sucede en el caso del campamento de Baños de Bande
(Aquis Querquennis), donde aparecen hasta cinco marcas diferentes sobre tegula que hacen referencia
a figlinarii civiles (Rodríguez Colmenero 2006: 160‑174). Las únicas evidencias que apuntan a la iden-
tidad de la unidad acantonada en Baños están representadas por cuatro dudosos ejemplos de marcas
–una estampilla y tres marcas digitales‑, sobre la arcilla y que reproducen una misma leyenda C III que
podría leerse como C(ohors) III (Rodríguez Colmenero 2006: 629‑630), un cuerpo militar auxiliar hasta
la fecha no documentado (Costa García 2013b: 131‑132). La posible convivencia de productos civiles
y militares está atestiguada en Cidadela por la aparición de la presencia de la un único sello también
en teja que es rectangular con las esquinas redondeadas y que está fragmentado impidiendo ver las
últimas letras de la inscripción EX OF L[‑‑‑] (Fig. 4, 2), ignorando si corresponde a un alfarero militar del
campamento o si se trata de un producto importado de una officina foránea.
Un alto volumen de marcas, plantea la posibilidad de una producción de tejas elaboradas en tal-
leres dependientes del ejército, posiblemente con la finalidad principal de satisfacer las necesidades
del campamento, pero también podían ser utilizadas en los establecimientos civiles del entorno. Sin
embargo esta última hipótesis no podrá ser evaluada en Cidadela hasta que se localicen las zonas de
producción y se realicen excavaciones en el uicus y otros yacimientos cercanos, ya que las prospec-
ciones en superficie han proporcionado datos limitados. No obstante pensamos como opina Le Roux
(1999: 116), la producción de materiales latericios en los talleres militares tendría fundamentalmente
una finalidad de autoabastecimiento, incluyendo también al menos las necesidades de los uici civiles.
En el caso concreto de Cidadela como indicamos con anterioridad, el uicus se ubicaría bajo la cercana
población de Ínsua al Oeste del fuerte (Caamaño Gesto y Fernández Rodríguez 2006: 168). Durante la
campaña de prospecciones realizada en 1996, se exploró intensivamente los alrededores del yacimiento
así como diversos puntos del territorio circundante. En esta aldea de Ínsua se registran las mayores
concentraciones de materiales, destacando un conjunto de ladrillos bessales hallados a 200 m de su
actual centro y cercano al curso del río Cabalar. Pese a no ser localizados claros indicios de la presencia
de estructuras, esta localización muestra un gran potencial para albergar una posible zona productiva,
debido a la idónea disponibilidad de materias primas. La producción de material latericio se realizaría,
por tanto, fuera del recinto ya que en su interior únicamente se instalarían hornos de tipo doméstico,
como los localizados en el intervallum adosado al lienzo Oeste de la parte Norte de la muralla (Ramil
González; Costa García; Caamaño Gesto 2011‑2012: 276) (Fig. 1, 3, 9).
5. CONSIDERACIONES FINALES
Al igual que otras unidades militares asentadas en la Hispania romana, en Cidadela la cohors I
Celtiberorum marcará los materiales latericios presentes en muchas de sus estructuras. Las estam-
pillas de origen y uso militar han pasado de ser una imagen estática, reducida al análisis epigráfico, a
convertirse en elementos que no sólo nos permiten adentrarnos en la organización interna del propio
campamento, sino que nos proporciona trazas de la interacción con el territorio en el que está inmerso.
En nuestro caso, pese a no contar con el centro de producción, hemos intentado poner de relieve los
datos extraídos de las abundantes campañas realizadas en este yacimiento de un material que con
cierta frecuencia es desatendido.
La presencia de las marcas no es sino un elemento más dentro de un fenómeno más amplio, puesto
que la utilización del signum o “firma” y/o de las “tally marks“ (marcas de cómputo) nos proporcionan una
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visión de cómo pudo desarrollarse el proceso productivo y la posible organización de las producciones.
Las firmas y marcas de cómputo han sido identificadas frecuentemente en Cidadela (Carlsson‑Brandt
2011: 170‑171), cuya función no pasa de los límites de la figlina, mientras que las marcas o estampillas
están hechas para que sean reconocidas fuera de este espacio (Charlier 1999: 189).
El debate acerca del propósito de la marcación de este tipo de materiales en contextos militares
es copiosa (Szilagyi 1972; MacWhirr 1979; Brodribb 1987; Peacock 1987: 136‑151; Kurzmann 2006,
201‑208) y los argumentos esgrimidos varían desde el propósito de propiedad y autoridad jurídica
–el empleado con más frecuencia‑, a consideraciones derivadas del cómputo inherente al proceso
productivo. Ante la dificultad de proporcionar nuevos argumentos a la, ya de por si compleja cuestión,
destacamos que, frente a realidades donde se produce una la baja frecuencia de marcación como la
Galia, en donde solo un 15% de los hornos hallados poseen materiales marcados (Charlier 1999: 185),
o los centros del valle de Guadalquivir (Rico 1995: 182), el uso de marcas viene a responder a una
necesidad específica. Esta necesidad, en el caso que nos compete, por un lado pretende demostrar el
estatus jurídico del productor, puesto que se trata de una unidad militar; por otro destaca, asimismo,
el posible intento de diferenciar sus materiales de otras producciones, justificado por la presencia de
materiales marcados de una fliglina civil o bien sencillamente respondiendo al aspecto más básico de
propiedad y origen de las piezas.
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Fig. 1 – 1: Mapa de situación del yacimiento; 2: Vista aérea del yacimiento de A Cidadela (1993); 3: Croquis interpre-
tativo de las estructuras halladas (a partir de Costa García 2013a: 245): 1) Principia; 2) Almacenes; 3) Praetorium; 4)
Via Principalis; 5) Sector Praetentura I; 6) Sector Praetentura II; 7) Muralla; 8) Vallum; 9) Hornos.
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Fig. 3. – 1: Marca COH I C tipo 10; 2: ídem, tipo 15; 3: Marca C P C tipo 2; 4: ídem, tipo 3; 5: Marca COH I C tipo;
6: Marca CHO[…] tipo 18; 7: Marcas C P C sobre ladrillo.
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Fig. 4 – 1: Tabla del volumen de marcas de los 5 grupos principales; 2: Marca aparecida sobre tegulae de una oficina
posiblemente civil EX OF L[…].
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GUERREIROS E MURALLAS
PARA UNHA CULTURA PACIFICADA
RESUMO:
Os grandes castros foram rodeados de muralhas, e estátuas de guerreiros tutelavam as portas,
porque Roma permitiu e até mesmo potençiou como un elemento da sua política de aculturação.
Palavras.‑chave: Muralhas; Guerreiros; Aculturação.
ABSTRACT:
The large hill‑forts were surrounded by walls, and statues of warriors were guarding the gates,
because Roma allowed it and even fomented as an element of its policy of acculturation.
Keywords: Walls; Warriors; Acculturation.
Os castros tiñan “por objeto principal la defensa de su gente y del territorio que ocupaba; su forma,
su disposición en parapetos y fosos, formando verdaderas fortalezas y siempre ocupando puntos más
o menos estratégicos que aún hoy hacen á muchos inexpugnables á un asalto de infantería, no les
dan otro servicio” (Castillo, 1908, 12).
Esta visión que Ángel del Castillo tiña dos poboados castrexos mantívose entre un bo número de
divulgadores e mesmo de arqueólogos ata hai poucos anos e, para algúns, incluso ata os nosos días,
nos que semella que foi necesaria unha recente tese de doutoramento que “descubrise” que a vida
nos castros viña marcada polo traballo agrícola e non pola guerra. Algúns levamos defendendo isto,
preferindo a verba agraria por englobar agricultura (mellor horticultura) con gandería, mesmo contra
ataques cada vez máis apagados e, en moitos casos, transformados en aceptación vía plaxio, desde
hai, cando menos, 30 anos.
A monumentalidade, máis aparatosa que efectiva, dos elementos considerados defensivos dos
poboados, así como a aparición, xa desde o século XIX, de estatuas monumentais de guerreiros en
pedra distorsionaron a realidade da Cultura Castrexa. Os traballos de López Cuevillas mostraron unha
sociedade case homoxénea ao longo de varios centos de anos, concretamente un milleiro, entre o s. VI
a. C. e o s. IV d. C., empregando para defender isto castros non só na súa meirande parte romanizados,
senón mesmo erguidos ab initio baixo a Pax Romana. As escavacións dos últimos decenios afinaron
cronoloxías e permitiron facer inventarios coherentes e homoxéneos, adscribindo os materiais exhu-
mados a uns momentos moi concretos. É certo que os resultados destes traballos non sempre foron
admitidos por investigadores que, pola razón que fose, mesmo ideolóxica, gustaban máis dun castrexo
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antigo e belicoso, dentro do esquema de López Cuevillas, que do que testemuña o que se estaba e
se está a sacar á luz escavación tras escavación. Guerreiros en pedra e murallas dos castros hai que
tentar explicalos en función dos dados arqueolóxicos e estes falan máis de paz que de guerra.
Diante dunhas murallas, de calquera época, o pensamento primario leva a ver agresividade,
loita, sociedade belicosa, necesidade de protección, etc. Os castros están amurallados. Dise que a
Cultura Castrexa nace como resultado de invasións indoeuropeas, concretamente celtas, alá polo s.
VI a. C. Os invasores conquistan o territorio do NO. da Península Ibérica e, pensa o ladrón que todos
son da súa condición, teñen necesidade de se protexer, amurallando os seus asentamentos. Se a
maioría dos investigadores razoaba deste xeito, o pai da arqueoloxía castrexa, o benemérito Martins
Sarmento, mudou de idea, estudando precisamente a plástica desta cultura, e arremeteu contra o
celtismo acientífico dominante naquel século XIX (Sarmento, 1879: 157; 1882: 1‑2, 19‑21 e 26‑27;
1899: 1 ss.). Foi nefasto para a investigación que o seu pensamento fose arrombado no cabo das
bibliotecas, pois, partindo da xénese celtista para a cultura castrexa, que el estaba principiando a
descubrir e estudar cientificamente, ao comprobar que toda a gramática decorativa que estaba a
atopar era idéntica á que, polas mesmas datas, se estaba a exhumar no Exeo, máis concretamente
en Micenas (as escavacións de Evans en Cnossos aínda tardarán en se facer), e que perduraría ata
despois de Roma, mudou de opinión, publicando varios artigos nos que renega do celtismo inicial,
un deles mesmo co título “A Arte Micénica no Noroeste de Espanha”. “O problema que lle xurdiu foi
o camiño seguido por esta gramática decorativa, o que lle fixo virar os ollos desde os celtas cara aos
lígures” (Calo, 2010: 126‑127).
A autoridade de Sarmento, pero sobre todo os intereses políticos do estado portugués, fixeron que
no país veciño máis que de celtas se falase de lusitanos, o que non impediu que a visión dunha cultura
castrexa guerreira fose semellante nos dous territorios polos que estaba espallada.
Cando, en 1976, principiei a traballar na que, en 1991, sería a miña tese de doutoramento sobre
esa plástica castrexa que fixo mudar de criterio a Sarmento, todos os investigadores galegos (e españois)
concordaban nas datas que, seguindo a López Cuevillas, citei arriba. Eran mil anos, cifra máxica para
unha monumental e específica cultura peninsular. O noso grande arqueólogo, o mesmo que os restantes
investigadores españois, compartía a idea invasionista de Pedro Bosch e os habitantes dos castros,
celtas por suposto, eran xentes guerreiras que se protexían con murallas, foxos, pedras fincadas e que
erguían estatuas de guerreiros. Toda a estatuaria era celta ou, trala conquista romana, de estirpe celta.
Concordan nisto Cuevillas, Cardozo e, por non alongar o listado, Taboada (1965), cun libro chamado
precisamente “Escultura celto‑romana”. Principiei o traballo, sen dirección real, recollendo pezas e
bibliografía ata chegar a unha situación de impase, na que o catálogo medraba e medraba, mentres eu
era consciente de que o coñecemento científico permanecía estancado, sen avanzar nada, o que, por
outra banda, é o habitual nas teses de doutoramento que se fan no eido da antiga Filosofía e Letras.
Todo se reducía a un cada vez maior número de pezas inventariadas e de xacementos arqueolóxicos
que engordaban o listado. Como isto a min non me satisfacía, decidín estudar todos e cada un dos
xacementos que aportaron pedras decoradas e estatuas, sen saber moi ben a onde chegaría.
No verán de 1978, tiven a fortuna de participar nas escavacións de Monte Mozinho, coas que
Carlos Alberto Ferreira de Almeida estaba a alicerzar o coñecemento preciso da Cultura Castrexa ao
longo do século I d. C. Verán tras verán, durante moitos anos, logo xa baixo a dirección de Teresa
Soeiro, escavei nel, verificando que, agás a necrópole do s. IV d. C., todo se reducía a dous momentos:
Xulio‑Claudio e Flavio. Nada, ata os máis recentes traballos, indica que este topos fose habitado antes
de Augusto, pois, como dixo Soeiro (1998: 79): “O primeiro Mozinho teria sido, portanto, aquele que
se ergueu já sob tutela romana, embora habitado por indígenas, que o plasmaram de acordo com a
sua cultura material própria, um castrejo recente bastante evoluido”. Se este xacemento (fig. 1), cos
seus douscentos mil metros cadrados, non mostraba, e segue sen mostrar neste 2015, nada anterior
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a Augusto e a maioría das 92 pezas decoradas2, xunto con dous guerreiros, apareceron como material
reaproveitado na etapa flavia, é preciso pensar que, necesariamente, a non ser que maxinemos un
estraño traslado dun castro anterior para este, foron labradas in situ en época xulio‑claudia.
Naquela altura, polos inicios da década dos oitenta, estaba a ser escavado o castro de Santa
Trega (fig. 2), xacemento que proporcionou a maior cantidade de material plástico, concretamente 119
pezas. Os resultados das escavacións indicaron que este fértil xacemento ten todo el unha cronoloxía
augústea (Cfr. Peña, 1986 e Id. 2001). O terceiro castro en número de pezas decoradas foi Briteiros,
con 75, seguido de Armeá con 34, Sanfins con 26, etc. Só cos xacementos citados, todos eles exclusi-
vamente de cambio de era ou tendo nela o seu maximum, temos xa 346 pezas do total contabilizado
de 596. A partires destes dados, insistín no interese de precisar as cronoloxías da centena de castros
que forneceran plástica en pedra, chegando á conclusión de que do total de 596 pezas recollidas
en 102 xacementos, 536 procedían de castros non anteriores ao século I a. C. Con respecto ás 30
estatuas de guerreiros, podo asegurar o mesmo de 21, pois as dúbidas que puidese ter coas catro de
Castro Lezenho (fig. 3) foron disipadas trala visita de estudo ao xacemento no decurso dunhas xornadas
celebradas en Boticas, en 2008, nas que precisamente desenvolvín un relatorio co mesmo título que o
desta colaboración. Todo o que vin naquela espléndida altura do Barroso fora, sen dúbida, construído
cando Roma controlaba o territorio (fig. 4).
As restantes pezas ou ben apareceran totalmente descontextualizadas ou procedían de castros
que, principiando a súa vida séculos antes de Cristo, tiveron o seu floruit entre a segunda metade do
século I a. C. e a primeira do século I d. C.
A conclusión foi necesariamente que a plástica castrexa en pedra non era anterior a Roma. Foron
moitos anos de esforzo para chegar a isto, pero a miña tese, despois deste cambio de cronoloxías,
deixaba de ser un catálogo ao uso3. Custou e aínda segue custando a algúns arqueólogos aceptar
esta nova visión da Cultura Castrexa, sen se querer decatar de que é imposible que poida haber unha
arte monumental sen que exista un desenvolvemento urbano, e este desenvolvemento só se produciu
aquí baixo as aguias romanas. Escavación tras escavación, foise verificando que todos os grandes
castros foron feitos ex novo despois da conquista romana, caso de San Cibrán de Las, “ocupado de
xeito continuado entre os mediados do século I a. C. e os finais do século I e comezos do século II d. C.”
(Rodríguez et al., 1993: 32) ou ben eclosionaron nesa etapa, como o Castro de San Lourenço, onde a
total renovación a seguir a un incendio foi “nos alvores da Era actual” (Almeida, 2008: 72).
Esta nova visión da Cultura Castrexa levoume a pensar que, se a súa conquista tivese lugar no trans-
curso das Guerras Cántabras, como tradicionalmente se repetía, sería de moi dubidosa lóxica matinar que
Roma, aínda non ben rematadas estas, xa permitise ou obrigase reordenar o territorio, erguendo poboados,
verdadeiras cidades, cando menos no senso xeográfico, como Monte Mozinho, Sanfins, Briteiros, Santa
Trega, San Cibrán de Las, Santa Luzia Âncora, San Millán, Castromao, etc, sen citar máis que algunhas do
que sería Convento Xurídico Bracarense, por ser nel onde se ornaron as vivendas con labras e as murallas
con guerreiros. Por esta razón, máis o desenvolvemento das devanditas guerras, que demostraban que
este territorio non foi escenario das mesmas, como, por outra banda o propio nome indica, etc., sostiven,
xa hai máis de vinte anos, que a conquista efectiva da Cultura Castrexa non se debía a Augusto, senón a
2 As mencións numéricas de pezas fan referencia ás recollidas na devandita tese de doutoramento (Calo, 1991), sendo consciente de
que, desde 1990, en que rematei a súa longa e pesada redacción a máquina, nalgún xacemento ten aparecido algún outro exemplar que nada
inflúe para o que aquí e agora me ocupa.
3 Nun libro de 1998, leo que o único que os autores da xeración intermedia (disque a miña) fixemos foi engadir novas pezas aos reper-
torios: “Es el caso de Calo con la escultura...” e, falando de como se fixeron aquí os estudos sobre plástica “castreña” descubre que o que máis
se asemella aos motivos decorativos castrexos “es el muy extenso arte provincial romano” (!); cando fala das estatuas de guerreiros, insiste na
cronoloxía romana (!), etc. Este libro, publicado 7 anos despois da defensa da miña tese (1991) e catro despois da publicación da mesma en
dous tomos (1994) non merece ser incluído no listado de obras de historia da investigación (por ignorar ou ocultar para plaxiar as precedentes).
O relacionado coa Cultura Castrexa non é máis ca un panfleto tendencioso con algunhas verdades plaxiadas (a min, por ex., o referente á crono-
loxía da plástica, a non función defensiva das murallas, etc). Non hai disculpa de tardanza na saída do libro, pois aparecen na bibliografía obras
de 1997 e a min nin sequera me cita o traballo de 1983. Máis tendencioso, imposible (Fernández‑Posse, 1998. pp. 81‑87).
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César, cando no 61‑60 a. C. “atravesa, ou bordea por mar, o territorio, nunha incursión da que coñecemos
moi pouco, pero da que todo fai sospeitar que esta zona debeu de recibir tal castigo que, cando Augusto
enceta as Guerras Cántabras, as loitas teñen lugar en Asturias” (Calo, 1991, 782‑783). Convencido disto,
repetino en múltiples traballos e, recentemente, vexo que, sen citarme, outros autores principian a dicir o
mesmo (Cfr. Calo, en prensa a, nota 13). César foi o verdadeiro auctor, no senso que os romanos daban
ao xeneral que aumentaba o territorio de Roma.
A eclosión dos grandes castros tivo lugar trala conquista de César, desenvolvéndose conseguinte-
mente entre a segunda metade do s. I a. C. e o S. I d. C., se ben a mudanza que se produciu tralo cambio
de dinastía foi igualmente brutal, o mesmo na arquitectura (tendencia ao rectángulo, construción con
esquinas, emprego da tégula, desaparición do vestíbulo, utilización de todas as labras decoradas e
guerreiros como material de recheo, cambios na cerámica e moi posiblemente nos gustos culinarios,
como podemos deducir da desaparición dos vasos con asas interiores e a aparición das trepias, polo
que xa non se cociña pendurando os cacharros, desaparición do signo “)” de castro ou castelo como
indicativo de orixe, etc... O Ius Latii da paso a uns galaicos en avanzado estado de asimilación do
romano, polo que xa podemos falar propiamente de mundo galaico‑romano).
Pero a min agora interésame a etapa anterior, a que vai desde a conquista por parte de César
ata a chegada dos Flavios. É a época dos grandes castros; a partires dos anos 70, a croa urbanizada
de Monte Mozinho perde poboación e redúcese, o que pode ter relación cos emprazamentos que se
multiplican extramuros, pero esta é outra historia. Non vou repetir o que outros autores e máis eu temos
escrito sobre o urbanismo destes grandes castros4. Só me interesa facer notar que estes enormes
poboados, algúns deles cunha extensión moito maior que a propia Bracara Augusta ou Conimbriga,
foron cercados por unha multiplicación de murallas.
MURALLAS
Entre 1980 e 1985, dirixín as escavacións do Castro de Baroña (Porto do Son) (fig. 5). Os resultados
foron publicados en Calo e Soeiro (1986 e Id. 2004). Todas as escavacións nas que participei desde
as reveladoras de Monte Mozinho me facían pensar na razón para que grandes poboados construídos
baixo o poder Romano se fortificasen; para defenderse de que ou de quen? O feito infrecuente de
ter que descender ata nivel do mar para chegar ao castro de Baroña levoume a pensar que os seus
impresionantes peches non podían ter unha función de defensa. Unha soa catapulta emprazada na
baixada tiña a tiro todo o casarío interior. Alí madurei a idea do non carácter defensivo das murallas
dos castros e desenvolvina na publicación de 1986, anunciando que trataría o asunto máis polo miúdo
nun posterior traballo. Fixen isto en Calo (1993) e insistín en moitas outras publicacións tanto na non
belicosidade da Cultura Castrexa, como no carácter non defensivo (no senso tradicional) das murallas,
sendo inicialmente atacado con dureza, logo plaxiado e, por suposto, nunca máis citado; pero os his-
toriadores movémonos no terreo das cronoloxías e as publicacións levan datas. Noutros territorios,
concretamente no dos oppida (aquí son castros), a muralla é tamén un elemento esencial, pero é máis
“une architecture destinée à être vue et à impressionner l’esprit du visiteur qu’une véritable structure
défensive. La surface enclose était en effet trop vaste pour que la muraille soit parfaitement efficace...”
(Galliou, 1994: 85). As murallas dos oppida “son en realidad construcciones de prestigio que delimitan
y ornamentan las primeras ciudades de la Europa templada” (Büchsenschütz, 1984: 209). As murallas,
máis espectaculares que eficaces, destes grandes castros foron edificadas baixo a Pax ou Impositio
Romana, polo que non é doado ver de que caste de inimigos se querían protexer e, con respecto á súa
construción e a de todas as obras de urbanización dos poboados, Brochado de Almeida preguntouse se
“seriam tais obras possiveis numa sociedade prioritariamente orientada para a guerra, mormente para
4 Remito ao meu último traballo específico sobre a cuestión: Calo (en prensa b).
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a defesa de um modelo de vida em vias de sujeitar‑se a ordens vindas do poderoso inimigo romano?
Muito convictamente achamos que não” (Almeida, 2003: 83).
Volvendo sobre os oppida centroeuropeos, nun libro sobre a paisaxe europea desde as glaciacións
ata hoxe fálase das motivacións ecolóxicas na escolla dos emprazamentos. Cítanse varios asentamentos,
rodeados das súas respectivas murallas, pero indícase que a función destas debeu de ser a salvagarda
das inundacións que se producían na zona. É o caso de Manching, nas Dreisamniderungen (terras
baixas) do Danubio, rodeado por unha muralla de 7 km de lonxitude, ou Tarodunum, no Dreisamtal
bei Freiburg, zona moi rica en pastos, mais en perigo de inundación por varios regatos que baixan da
Selva Negra. Engade o autor que os habitantes destes oppida non eran soldados nin cidadáns, senón
agricultores que protexían o seu sustento das inundacións, e que talvez pretendían conseguir algúns
excedentes que lles permitisen participar da riqueza do mundo civilizado das rexións mediterráneas
(“um teilzuhaben am Reichtum der zivilizierten Welt des Mittelmeerraumes” (Küster, 2013: 138‑139).
Certamente, este biólogo e profesor de ecoloxía vexetal tampouco transita polas sendas das fazañas
bélicas. Recoñece que a súa interpretación é unha especulación, pero non maior que a dos que defen-
den que cada oppidum fose un enclave militar, unha cidade.
As murallas dos grandes castros do convento de Braga son, en función da extensión do poboado,
moi longas, pero estreitas (fig. 6) , con profusión de escaleiras para subir a elas (fig. 7) e con unha
ou varias portas que permiten o acceso ao interior do recinto (8). Ryckwert escribe sobre as murallas
romanas, subliñando a súa condición de “sacra” (sagradas), pero non así as portas (do latín portare,
é dicir, levantar o arado que delimita a cidade), “pues –añade Plutarco‑ a través de ellas había que
transportar los cadáveres y toda suerte de mercancías” (Ryckwert, 1985: 156). No prólogo que o arqui-
tecto Rafael Moneo fai ao devandito autor lemos que “una cerca, una muralla, al margen de su misión
protectora, delimitaba el ámbito de lo sagrado” (Moneo, 1985, ix). Un urbanista e profesor de xeografía
na London School of Economics, falando das cidades chinesas dixo que “las murallas simbolizaban las
montañas, que fueron pensadas para cercar el mundo, pues la ciudad representaba un microcosmos
del universo Chino” (Jones, 1992, 63‑64). Segue dicindo que a cidade ten que estar sempre dentro
duns límites, tanto en construción como en persoas, e que a muralla está aí para establecelos con
claridade. Na páxina 195 lemos: “El círculo viene a representar la contención de la ciudad, la línea de
demarcación entre lo que es y lo que no es ‘ciudad’, indicando que las actividades que tienen lugar
dentro del mismo son muy diferentes de las que tienen lugar fuera. Históricamente el círculo era la
muralla de la ciudad. Hoy día podría ser un cinturón verde”; en p. 206: “Las murallas antiguas, como
vimos, no eran necesariamente defensivas”, e engade que o que antes eran as murallas hoxe son
os cintos verdes: “El ejemplo relevante es el cinturón verde de Londres, que desempeñó un papel
fundamental en la planificación de postguerra y es todavía celosamente defendido como concepto y
como política”. Por rematar coas moi interesantes citas de Jones, en 225 lemos: “Muchas ciudades
europeas reconstruyeron sus murallas para contener la expansión: París representa el caso clásico,
siendo construida la última muralla en el siglo XIX”.
Para non repetir toda a miña argumentación sobre a non función defensiva das murallas, remito aos
meus traballos citados de 1986 (pax. 26) e, xa in extenso, 1993 (pp. 97‑102). Posteriormente, insistindo
no simbolismo das entradas e da súa protección, mesmo engadín o dito que se poñía enriba das portas
alemás en época medieval: Die Stadtluft macht frei (“O ar da cidade fai libres”), frase prostituída na
entrada de Auschwitz, Dachau e outros campos de exterminio, mudando Stadtluft por Arbeit (traballo).
GUERREIROS
“Todo ten que pasar polas portas, mesmo as epidemias, e por iso serán salvagardadas tamén
simbolicamente, xa sexa polos leóns micénicos ou venecianos, polas estatuas de guerreiros castrexos,
caso de Sanfins (fig. 9), ou polos santos protectores propios da comunidade” (Calo, 1993: 102).
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ou Adronus tiñan que ser individuos colaboracionistas aos que os ocupantes enaltecen para mellor
controlar o territorio (Cfr. Wölfel, 1968: 309‑310).
Dicía Hauser (1975: 27) que a arte serve para elaborar armas na loita pola existencia, mesmo
como instrumento da maxia, do rito e da propaganda, e aquí están os guerreiros a testemuñalo, xunto
con toda a decoración, a grandeza dos poboados e as obras defensivas. A función social de todo isto
resulta evidente e podemos nós sintetizala, dicindo: “Baixo Roma vainos ben”. Os guerreiros son, xa
que logo, unha sutil mensaxe ideolóxica; o que sucede é que, como dixo Grabar, as imaxes‑signo só
cumpren o seu propósito na medida en que son claras; pero o concepto de claridade está en función da
preparación de quen as mira. Para os moradores dos castros poderían resultar diáfanas, mais non para
nós que estamos a dous mil anos daquela situación política, social e cultural. Empreguei “poderían”
porque é moi probable que, sendo froito dunha nova situación non todos captasen completamente o seu
significado. Na arte romana pagá, un moscóforo ou crióforo era un símbolo de filantropía (humanitas);
pero, cando os paleocristiáns, a partires do s. III d. C., deciden incorporar esta imaxe‑signo á súa arte,
mudan o seu significado, transformándoo na representación de Cristo máis usual dese século e do
seguinte. Para un romano inculto non iniciado era un home cun animal ao lombo ou en brazos, para un
romano culto, a representación da humanitas, e para os da expansiva seita oriental a representación
de Cristo. Estamos diante dunha “creación cristiana a partir de un símbolo de filosofía moral” (Grabar,
1985: 21).
Sendo moi probable que nin todos os habitantes do castro comprendesen (e aceptasen) con
idéntico criterio e intensidade a icona de guerreiro, pretender nós aprehender todas as súas notas,
ou mesmo unicamente as pertinentes, resulta francamente inxenuo e ilusorio. Nós, diante dunha
destas estatuas, somos bosquimáns ollando a Derradeira Cea de Leonardo (Cfr. Panofsky, 1972: 21).
O guerreiro representa sen dúbida un individuo; as que levan inscrición están a testemuñalo e as que
non, como teño defendido noutras ocasións, ou a perderon por abrasión ou o texto da mesma sería
pintado e desapareceu. En teoría da arte, ata o século XX, é axiomático que o feito de poñer o nome
do representado implica unha arte realista, independentemente do bo ou mal facer plástico do autor.
O guerreiro é, xa que logo, un individuo concreto, pero posiblemente foi e, hoxe, segue a ser visto como
un símbolo. Pensemos no que dixo Gombrich (1971: 51) sobre a Estatua da Liberdade de Bartholdi,
na que só vemos o símbolo e non a nai do artista que, moi posiblemente, posou para ela. O guerreiro
plasma un individuo coñecido (Malceinus, Adronus...), pero, como dixo Arnheim (1985: 178‑179),
representar non significa máis que poñer de relevo os “caracteres pertinentes”, e no guerreiro galaico
isto fica moi claro: militar en parada con caetra, puñal, etc.
Xa na miña tese de doutoramento (1991) dixen que resultaría atractivo a un tipólogo evolucionista
tentar ver unha secuencia dos guerreiros en distintas etapas desde Capeludos (fig. 11) ata talvez Refo-
jos de Basto (12); pero realmente non hai nada que nos indique que teñan cronoloxías distintas, polo
que a hipótese de que foron feitas por artistas que sabían interrogar ao medio de maneiras distintas é
máis pura e científica. A outra ten, a priori, un grao de especulación maior. Xa, en 1908, un moi grande
e nada recoñecido investigador, Alves Pereira, dixo que o artífice da plástica castrexa fixo o que a súa
falla de formación lle permitiu. O cicel non lle foi dócil para revelar o sentimento artístico (Pereira,
1908: 233‑234). Temos aquí a “teoría do medio” moito antes de que a formulase un investigador ale-
mán. Os artistas interrogan o medio e moitas veces é o medio en bruto quen se impón. Por isto, como
dixo Chamoux (1965: 350): “Guardémonos bajo la influencia del gusto moderno por los primitivos, de
confundir la torpeza con el estilo”. Con esta estatuaria non só se fixo e se fai isto, senón que mesmo
se chegou ao extremo de lexicalizar a obra mutilada, convertendo a mutilación en criterio estilístico.
A obra de arte é unha elección entre posibilidades e para facer os guerreiros optouse pola rixi-
dez e o hieratismo; se ben quizais non sobre lembrar que, con moita probabilidade, esta estatuaria,
o mesmo que as labras en pedra, das que apareceron exemplos con pintura, estaba policromada, o
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mesmo que toda a escultura antiga5, medieval, etc. e non sobra lembrar que “Las miradas fijas en el
vacío que conocemos de los museos resultan de la desaparición de la pintura con el paso del tiempo”
(Woodford, 1985: 23), e que na propia Roma hai que agardar a Adriano para ver os ollos labrados no
canto de pintados. As meniñas dos ollos pintadas mudarían espectacularmente o aspecto que hoxe
coñecemos das estatuas.
Despois das citadas xornadas de Lisboa, para as que elaborei o catálogo de guerreiros e nas que
todos os investigadores alemáns se mantiveron firmes na presunción de incardinar estas estatuas no
mundo celta, sen aportar nada novo sobre elas e sen poder xustificar a distancia xeográfica e cronoló-
xica entre as pezas centroeuropeas e norditálicas e as galaicas, o organizador publicou un artigo sobre
estas, no que defende a coñecida idea colectiva de Lisboa. Fai un estudo dos guerreiros, seguindo un
evolucionismo tipolóxico no máis puro da práctica xermánica; hai, segundo el, figuras estáticas (antigas)
e en movemento (posteriores), chegando a ver nalgunha nada menos que “contraposto” (Schattner,
2004: 9‑66). Acompaña o texto un comentario de Alarcão no que este se admira do “notável poder
de observação” de Schattner, pois fíxonos ver o que “ainda não tínhamos visto: que as estatuas de
guerreiros lusitano‑galaicos não são hieráticas quanto temos dito, mas têm movimento (ou têm‑no
algumas delas)”. Propón Alarcão que, sendo así, máis que evolución, podería ser dexeneración e,
conseguintemente, as máis antigas serían as que Schattner di que teñen movemento. Eu non vin nin
vexo o movemento en ningunha e quizais non sobre lembrar que as estatuas exipcias tiñan a perna
esquerda adiantada e os kouroi gregos tamén, pero nas primeiras o peso descansa sobre a perna
dereita, polo que a figura está totalmente estática, a calma é absoluta, mentres que nas gregas o peso
repártese entre as dúas pernas, polo que aí si hai movemento, está avanzando (Cfr. Harrt, 1989:158).
Nada disto vexo nas estatuas de guerreiros dos nosos castros. Non vou repetir aquí o que xa deixei
escrito en Calo (1991), insistindo só en que cada artista interrogou ao medio como a súa formación llo
permitiu6 e mesmo, baseándome na inscrición do guerreiro de Refojos de Basto, presumín a existencia
de artífices itinerantes, e ata de parellas escultor‑pintor, que percorrerían os castros ofrecendo a súa
propia mestría; pero todas as labras foron feitas entre o s. I a. C. e o s. I d. C.
Murallas e guerreiros formaron parte esencial do proceso de aculturación da zona sur dos castros
galaicos e foron feitos sen relación con actividades bélicas.
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de Elche e Baza, en Osuna, na Porca de Murça, así como nunha roseta de São Miguel‑o‑Anjo, en casas de Âncora, Monte Mozinho, Trega, Troña,
San Lourenço, Briteiros, etc.
6 Na miña tese de doutoramento dediquei un capítulo a incardinar esta plástica nunha historia da arte e outro aos artífices da mesma
cun razoable aparato teórico (1991: 797‑821). Recoñezo que isto non interesa aos arqueólogos, que estudan as obras de arte como se se tra-
tase de calquera outro artefacto achado nas escavacións. Unha membro do tribunal chegou a me dicir que o apartado de arte sobraba, aínda
que seguramente me viría ben para a miña formación. A realidade era que a miña formación en Hª da Arte foi a que me levou a facer isto e, se
utilicei as técnicas de estudo e análise arqueolóxicas, foi pola ausencia de fontes escritas, chegando a ser a icona guerreiro, así como as labras
decoradas, monumento á par que documento, polo que se fixo necesario recorrer á “intuición sintética” que diría Panofski (1972:22‑24). Pobre
Winckelmann!
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Fig. 6 – Muralla de San Cibrán de Las. Fig. 7 – Escaleiras de acceso ás murallas de Carvalhelhos.
Fig. 8 – Porta escalonada do Castro de Baroña. Fig. 9 – Réplica dun guerreiro de Sanfins “in situ”.
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Rui M. S. Centeno1
RESUMO:
Estudo de uma hýdria (kálpis) ática de figuras vermelhas, anteriormente atribuída ao pintor de
Aquiles, onde se propõe ser uma obra do pintor de Meidias ou da sua oficina, da última década
do século V a. C.
Palavras‑chave: Vasos áticos; Vasos de figuras vermelhas; Pintor de Meidias; Pintor de Aquiles.
ABSTRACT:
Study of an Attic red‑figure hydria (kalpis), previously assigned to the Achilles Painter, which is
proposed to be a work of Meidias painter or his workshop, perhaps in the last decade of the
fifth century B. C.
Keywords: Attic vases; Red‑figure vases; Meidias painter; Achilles painter.
Among the many collections, both public and private, of Greek vases found in Portugal, D. Manuel de
Lancastre’s (Lisbon) is particularly noteworthy. The collection comprises a remarkable set of Corinthian
and Etrusco‑Corinthian vases, Attic black‑ and red‑figure vases as well as southern Italian red‑figure
pieces, which include productions from Apulia, Campania and Paestum. Considering the high quality of
many of the pieces, this collection of Greek ceramics is perhaps the most important in Portugal, and
has been the object of several studies in the last few years (Rocha Pereira 2007: 75‑104; Morais &
Centeno 2013 and 2015).
This brief essay analyses an interesting hydria (or kalpis)2 (Fig. 1) bought at auction in London in
1996, whose catalogue attributed the piece to the Achilles painter.3 The identification of this master
as the vase’s author, also corroborated later by Rocha Pereira (2007: 95), is not convincing, since the
scene depicted is far from representative of the pictorial style of the works of the Achilles painter.4
The hydria studied here is small in size, 123 mm in height and 73 mm at its maximum diameter.
It was restored from a number of fragments and bears a red‑figure scene, limited above and below by
a frieze of ovules and dots. The scene (Fig. 2), partially affected by the vase’s state of conservation,
depicts a female figure standing to the right, in a diagonal pose, represented at three quarters leaning
1 Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Faculty of Arts and Humanities, University of Porto) – DCTP and CITCEM.
2 On the form and labels, cf. Richter & Milne 1935, 11‑12, where two passages from Antiphanes and Polybius are quoted, mentioning
the use of the kalpis to keep perfume. Given the vase’s small size, it is possible to admit a similar function. See also, Folsom 1976, 22.
3 A Private Collection of Greek Vases and Terracotas, London, Christie’s, 3 July 1996, Lot 68.
4 Oakley’s (1997) work remains essential to understanding the works of the Achilles painter. See also Oakley 2004, an appendix of new
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to the left, whose head is in profile turning back, and she bears a chiton and himation that unfolds into
multiple pleats; the young woman, who firmly holds the top part of the himation in her hands, keeping
it thus stretched, seems to have been surprised by the “touch” of a floating Eros appearing to the right,
naked,5 whose legs are slightly bent and wearing some type of sandals.6 Between the two figures, a
sprigged acanthus leaf covers Eros, thus favouring the surprise effect of his appearing to the woman,
who when touched on her left hand, gazes astonished and fearful at Eros. With this scene, the artist
perhaps intended to gloss on the awakening of love in youth, in which Eros is depicted as a winged,
naked young man, an image that becomes widespread from the end of the Archaic Period (Cohen 1997:
146), pursuing a woman, an image that becomes quite frequent from the mid‑5th century B.C. (Mannack
2001: 73). Indeed, this motif would be highly appropriate to the vase’s probable function which, given
its small size, would perhaps hold perfumed water, whose fragrance would be one more ingredient in
concocting enchantment.7
As mentioned previously, attributing this vase authorship by the Achilles painter raises a number
of issues and may even be highly improbable, given its style. The treatment of the clothing of impres-
sionist traits, the profile of the faces (nose and eyes in particular), the drawing of the hands and the
movement of the figures, reveals that it is a piece from the Late Classical period, (ARFV: 144‑145),
much more consistent with the pictorial style of the productions from the workshop of Meidias and his
followers (ARV: 1312‑29, 1690, 1704, 1708; Paralipomena: 477‑79; Beazley Addenda: 180‑82; Beaz‑
ley Addenda2: 361‑65). Meidias, one of the last great figures of Athenian vase painting (Richter 1946:
146), was one of the most important and influential painters of red‑figure Attic vases at the end of the
5th century B.C. (Tugusheva 2009: 291). He was also considered the most interesting and original
artist working in Athens at the time (Robertson 1992: 242) and the first vase painter to be described
as Mannerist, whose style is said to be influenced by the works of Phidias (Mannack 2001: 4, 7 and
8). It is thus understandable that his work and that of his associates has been the object of numerous
studies, amongst which most notably those by Hahland (1930), Becatti (1947) and, more recently, Burn
(1987). About fifty vases have been attributed to Meidias but this number rises to 352, if we consider
also pieces by his circle of painters.8
Apart from identifying the scene depicted as one of Meidias’ favourite themes (woman/Eros) (Burn
1987: 83‑4), a closer look at the vase seems to confirm that it was a product of his workshop, particu-
larly considering its composition and the manner in which the elements are placed, such as the female
figure in a diagonal pose, typical of Meidias’ work (Robertson 1992: 234), inclining to the left and gazing
to the right, a pose recorded on several vases attributed to this Master and his circle of artists. On the
famous E224 hydria held at the British Museum (ARV: 1313.5 and 1690; Paralipomena: 477; Beazley
Addenda2: 361‑2; Burn 1987: M5), one of Meidias’ masterpieces, the representation of Peitho moving
to the right and looking to the left, holding a veil with both hands (see photograph Burn 1987: Pl. 7a), is
very revealing of the master’s influence on the artist of the vase here under study, both in terms of the
female figure’s position and the technique of the drawing, visible, for example: in the accentuated curve
of the leg, the prominence of the bosom, using short lines, drawn very close to each other, the two heavier
strokes around the waist, as well as in the use of small, thicker semi‑circular lines, set apart, to finish off
some of the clothing’s pleats.9 There are, nonetheless, slight differences in the quality of the two figures,
particularly a more refined, steadier stroke on the London piece, evident in the drawing of the face and
5 Part of Eros’ figure is damaged, affecting the area between his chin/nape and the top part of his legs, as well as his left arm and the
pp. 347‑49).
8 According to the records of the Beazley Archive (last consulted on 29th August 2014).
9 Meidias used this technique often, seen for example on some of the figures of the British Museum’s hydria E224, as on the already
mentioned Peitho (Burn 1987: Pl. 7a) or Aphrodite sitting near an altar (Burn 1987: Pl. 4b).
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hair, most certainly due to it being a larger vase, warranting greater care from the artist in its decoration.
However, this difference is no longer perceptible when comparing the quality of the drawing of the head
on the female figure on our vase with similar figures drawn by Meidias on smaller vases, such as the three
dancers (especially the one on the left) on the bellied lekythos MNB 2110 at the Musée du Louvre (ARV:
1314.14; Beazley Addenda2: 362; Burn 1987: M16). In this piece, the manner in which the hair and face
are depicted is very similar to the kalpis studied here (see photo, in Burn 1987: Pl. 16c).
The type of sandals Eros is wearing (Fig. 3) also finds echo in Meidias’ work. The best example are
the Erotes pulling Aphrodite’s chariot (see photo, in Burn 1987: Pl. 29a; Richter 1946: Fig. 115), clearly
depicted on the hydria 81947 held at Florence’s Museo Archeologico Etrusco (ARV: 1312. 2 and 1690;
Paralipomena: 477; Beazley Addenda2: 361; Burn 1987: M2).10
Finally, reference should be made to the vegetal element represented on the vase which separates
the woman from Eros, a sprigged acanthus leaf (see Fig. 2), partially damaged, a motif that is rarely
used by Meidias, particularly on large vases, appearing thriftily but with a refined, elegant stroke on
small vases, such as in the case of two bellied lekythoi found at the Museo Jatta in Ruvo (ARV: 1314.16;
Paralipomena: 477; Beazley Addenda2: 362; Burn 1987: M18 and Pl. 38a, 38c) and at the Cleveland
County Museum of Art (Burn 1987: M20 and Pl. 12c). However, the most similar examples can be
found on vases painted “in the manner of the Meidias Painter”, such as the bellied lekythos E699 at
the British Museum (ARV: 1324.46; Burn 1987: MM 75 and Pl. 26a, 26c) and the MNB 1330 at the
Musée du Louvre (ARV: 1325.52bis; Beazley Addenda2: 364; Burn 1987: MM82 and Pl. 15a, 15c).11
Considering what has been said above, it seems that there could be a possible connection between
the vase under study and the work of Meidias or, in more general terms, his workshop. Given the evident
similarities with this artist’s works and following an interesting observation by Robertson (1997: 239)
when analysing his work, it may also be possible that the scene depicted on our kalpis may indeed be an
extract from a much more complex composition, usually painted on larger vases, such as the hydriai. It
was probably quite routine for artists to use “fragments” of scenes depicted on large vessels to decorate
smaller ones, or even to “practice” drawing some figures on pieces of lesser importance. An example of
this practice could be the small hydria (height: 195 mm), sold by the Bonhams auction house in London
in 2010,12 described as “in the manner of the Meidias painter”. The scene depicts two dancing maenads,
the one on the left holding a thyrsus and a flute, and the one on the right, a tambourine (Fig. 7). This
vase, although slightly larger, shows some affinities with our kalpis in the friezes of ovules and dots that
frame the scene, as well as in the strokes used to paint the figures. However, we believe that the pose of
the two maenads and the manner in which their hair and faces are drawn is very similar to two dancers
represented on the frontal part of the lower panel of the hydria 259 at the Badishes Landesmuseum
in Karlsruhe (ARV: 1315.1 and 1690; Paralipomena: 477; Beazley Addenda2: 362; CVA Germany 7,
Karlsruhe, Badisches Landesmuseum 1, 28‑29, Pls. 22.4; Burn 1987: C1 and Pl. 39), attributed to the
Karlsruhe Paris painter, very similar to Meidias but who, for many scholars, is by the Master himself
(Burn 1987: 6). The similarities found on the two hydriai may contribute to reinforcing this hypothesis.
Although it is not certain that the kalpis studied here can be attributed to Meidias, is seems clear that
the piece is very similar to the works by this Master and, for this reason, it can be considered as having
been produced in his workshop at the end of the 5th century B.C., perhaps during the final decade.13
10 For similar sandals, see Figs. 4‑6 of the terracotta Eros (second half of 2nd century B.C.) found at Myrina, Dutuit Collection (Petit Palais
to the Meidias workshop (CVA USA 7, Baltimore, Robinson Collection 3: 22 and Pl. XIII, 1a‑c=Burn 1987: MM11?).
12 Antiquities, (Auction 17822), London, Bonhams, 28 April 2010, Lot 182. See complete references to this piece in Beazley Archive, vase
No. 45142.
13 On the chronology of Meidias’ works, cf. Burn 1987: 7‑8.
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Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 135-142
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Fig. 7 (Photograph: Bonhams Auction 17822, London, 28th April 2010, Lot 182)
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Grazas Fernando,
Pola túa extraordinaria humanidade
como amigo, colega e profesor.
RESUMO:
Este trabalho tem como objetivo avaliar o potencial de ferramentas tais como a fotografia histórica
aérea, a prospecção aérea, as modernas fotografias por satélite, o LiDAR aéreo ou software GIS
para o estudo de assentamentos militares romanos temporais. Cinco sítios localizados dentro
dos limites da comunidade autónoma de Castela e Leão (Espanha) foram selecionados como
amostra ilustrativa: La Chana, Valdemeda, Villalazán, El Burgo de Osma e Huerga de Frailes.
Palavras‑chave: Arqueologia romana militar; LiDAR; Fotografia aérea, por satélite e sensoriamento
remoto.
ABSTRACT:
Or aim in this paper is to gauge the potential of tools such as historical aerial photography, aerial
survey, modern satellite photography, aerial LiDAR & GIS software for the study of Roman military
temporary settlements. Five sites located within the boundaries of the autonomous community
of Castile & León (Spain) have been selected as an illustrative sample: La Chana, Valdemeda,
Villalazán, El Burgo de Osma & Huerga de Frailes.
Keywords: Roman military archaeology; LiDAR; Aerial & satellite photography, Remote Sensing.
1.INTRODUCCIÓN
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seleccionados sin embargo cinco yacimientos que quizá han recibido una menor atención por parte de
la historiografía y que se distinguen por el carácter perecedero de sus estructuras. Con todo, se trata
en su mayoría de asentamientos conocidos de antiguo y que por tanto han pasado a formar parte de
los distintos catálogos elaborados hasta el momento (Morillo 1991; Carretero 1993, 1999; Luik 1997;
Morillo & Aurrecoechea 2006; Costa 2013). Nos referimos a los yacimientos de Castrocalbón, Valde-
meda, Villalazán, El Burgo de Osma y Huerga de Frailes (Fig. 1) que, pese a lo dispar de su naturaleza,
tienen en común el hecho de haber sido descubiertos mediante técnicas prospectivas no superficiales.
En ninguno de ellos han tenido lugar tampoco excavaciones arqueológicas, de ahí la importancia de
calibrar el potencial de nuevos métodos prospectivos en aras de su mejor conocimiento.
2.METODOLOGÍA DE ESTUDIO
3 http://fototeca.cnig.es/
4 http://ftp.itacyl.es/cartografia/03_FotogramasAereos/
5 El Vuelo General de España Serie A cuenta con una escala aproximada es de 1/40000‑1/45000(Fernández & Quirós 1997; Pérez,
Bascón et al. 2013); el de la serie B (USAF AST6 54‑AM‑78), tiene una escala de entre 1/32000 y 1/33000 (Fajardo 2008; Vales, Carpintero et
al. 2010). Ambos pueden considerarse estereoscópicos.
6 El primero, conocido también como vuelo IRYDA (Instituto de Reforma y Desarrollo Agrario),tiene una escala es de 1/18000; el segundo,
CentroDescargas/) o en los respectivos visores ‑Visor Iberpix (http://www2.ign.es/iberpix/visoriberpix/visorign.html); software gratuito Google
Earth (https://www.google.es/intl/es_es/earth/).
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del CNIG‑IGN pueden obtenerse las nubes de puntos LiDAR con una densidad media de 0,5 puntos
por metro cuadrado para la casi totalidad del territorio estatal. Posteriormente este material ha debido
procesarse informáticamente con el fin de obtener un modelo digital del terreno (MDT) de un metro de
resolución sobre el que se han aplicado diversos modelos de visualización9.
9 Para ello hemos empleado las herramientas FugroViewer de FugroGeospatial, LAStools de RapidlassoGmbH y ReliefVisualizationToolbox
del ZRC‑SAZU, así como el software de código abierto SAGA GIS 2.1.2 y QGIS 2.6.1.
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tiempo a la fundación de un eje viario que podría datarse en los años finales del siglo I a. C. (CIL II 4776
y 6215; Rodríguez, Ferrer & Álvarez 2004: 105).
10 Sólo en el vuelo Nacional (0230K0008) puede apreciarse ligeramente el trazado del lienzo oeste en su tramo meridional.
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1996: 269, n. 2; Gillani 2007). Se trata, con todo, de elementos arqueológicos ciertamente esquivos,
puesto que, de toda la documentación gráfica manejada, solamente en la fotografía satelital más
reciente (PNOA 2006 y 2008; Google Inc. 13/09/2009 y 10/02/2011) se distingue de forma parcial
el trazado de la fossa duplex perteneciente al ejemplar más septentrional. De acuerdo con Didierjean
(2008: 112), quien recientemente ha sobrevolado el yacimiento, todavía es posible apreciar también en
algunos puntos el doble foso que delimitaría el segundo de los campamentos. La revisión del MDT‑LiDAR
nos informa, sin embargo, de que en la actualidad ambos recintos se hallan completamente arrasados
a nivel de superficie, por lo que no es posible apreciar resto alguno de sus parapetos originales.
Incluso en unas condiciones de observación óptimas resulta muy complicado reconstruir el tra-
zado íntegro de ambos campamentos dado que sólo contamos con datos fragmentarios. El primero,
mejor conocido, habría tenido una extensión total de algo más de 2 ha pero, al no mostrarse los lienzos
conservados exactamente rectilíneos ni adoptar los esquinales una igual curvatura, no contamos con
mediciones precisas. En cuanto al segundo ejemplar, de acuerdo con las escasas evidencias de que
disponemos estaríamos ante un recinto de al menos 2,6 ha de superficie total.
El campamento de Los Llanos, por su parte, se sitúa a poco menos de 1 km de esta posición en
dirección sudeste. Fue dado a conocer por el mismo Didierjean (2008: 110, 112‑114; Didierjean, Morillo
& Petit‑Aupert 2014, 165) tras haber sobrevolado el lugar en verano de 2007 y, a juzgar por la nitidez y
recurrencia con que se ve reflejado tanto en la fotografía aérea histórica como en la moderna satelital
(Fig. 6)11, lo realmente sorprendente es que su descubrimiento se haya producido hace tan poco tiempo.
Dos marcadas líneas de tonalidad oscura que se corresponderían con sendas trincheras (2,2‑3 m de
anchura cada una) delimitan su perímetro, situándose al interior de las mismas un agger que el MDT‑LiDAR
permite distinguir con claridad sobre el papel pero que en realidad se encuentra muy allanado (Fig. 7)12.
En el centro de los lienzos norte y sur puede apreciarse una interrupción del dispositivo defensivo que
podría indicar la presencia de sendos accesos. Asimismo, en el esquinal sudoeste se observa un pequeño
terraplén que podría corresponderse con un contra‑agger. Pese a que el curso del río Ucero ha afectado
a buena parte del lienzo oeste del recinto, éste ofrece en planta una casi perfecta forma rectangular. Sus
de notables dimensiones (16,6 ha) lo distancian de los campamentos situados en sus proximidades.
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Campamentos como los de Castrocalbón, Villalazán o Vegahoz se conocen en gran medida gracias
a estos vuelos, pero ello no significa que las prospecciones aéreas hayan resuelto todas las dudas
existentes alrededor de los mismos. Debemos tener en cuenta, eso sí, el momento en que muchas de
estas fotografías fueron efectuadas.
Hoy en día, el desarrollo de la fotogrametría permite obtener productos ortorrectificados de alta
calidad sin un gran derroche de medios, ya sea a partir de los fotogramas de vuelos antiguos o bien
de nuevas series fotográficas obtenidas para la ocasión (Verhoeven 2011; Verhoeven, Doneus et al.
2012; Verhoeven, Sevara et al. 2013). Indudablemente, estas herramientas resultarán sumamente
provechosas a la hora de estudiar los recintos militares romanos pero exigen, como las restantes técni-
cas, su inserción dentro de un marco metodológico estricto que desarrolle sus potencialidades de cara
a la obtención de información arqueológica e histórica significativa. Asimismo, en ningún caso debe
prescindirse del fundamental respaldo que a la investigación proporciona la prospección superficial.
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han sufrido a lo largo de las centurias nos impide hallar las claves que explicarían este fenómeno. Algo
similar ocurriría con la orientación de los campamentos, factor que podría verse condicionado tanto por
entorno físico como relacionarse con el paisaje humano (Gilliver 2001: 69‑74; Davies & Jones 2006:
11‑14). Es por ello que resulta tan importante la contextualización histórica y arqueológica de esta
clase de establecimientos.
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muchos casos las antiguas estructuras quedarán completamente arrasadas en el transcurso de pocas
décadas sino años, tendría que considerarse la exigencia de una intervención arqueológica sensible
a las particularidades de estos asentamientos temporales (Peralta 2002). Un completo estudio de los
mismos debiera contemplar al menos la realización de un completo mapeado que permita reconstruir
la planimetría de los recintos y la apertura de sondeos puntuales para conocer mejor sus defensas.
Asimismo, la prospección magnética ha resultado de cierta utilidad en algunos casos a la hora de
recuperar útiles que habrían formado parte de la impedimenta de los soldados.
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Fig. 1 a 3 – Localización de los yacimientos (Arriba). Recintos 1, 2, 5 y estructura circular de La Chana tras aplicar
técnicas de visualización al MDT‑LiDAR (Izquierda). Recintos 4 y 5 de La Chana en el fotograma PNOA 2008_ETRS89_
HU30_H50_231 (Derecha).
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Fig. 3 a 7 – Recinto de Valdemeda en el fotograma 0230_41296 de la Serie B del Vuelo Americano (Arriba Izq.) y tras
aplicar técnicas de visualización al MDT‑LiDAR (Arriba Der.). Recinto de Los Llanos en el fotograma PNOA 2006_ETRS89_
HU30_H50_0377 (Abajo Izq.) y tras aplicar técnicas de visualización al MDT‑LiDAR (Abajo Der.).
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BANQUETEAR‑SE EM VIDA E NO ALÉM:
OS TESTEMUNHOS EPIGRÁFICOS
José d’Encarnação1
RESUMO:
Procura analisar‑se o significado político, social e económico dos banquetes (epula, coenae)
referidos em monumentos epigráficos romanos, atendendo, inclusive, aos que neles eram con-
vidados a participar. Alude‑se às representações dos banquetes funerários, como indício claro
da crença de que os defuntos careciam de alimento e… de companhia!
Palavras‑chave: Banquetes funerários; Epulum; Cupa.
ABSTRACT:
An essay about public banquets and their political, social and economical significance, in the
Roman time, even if we know the people who was invited to participate on them. The represen-
tations of the banquet in a funerary context show also that Romans believed that the defunct
needed food and company!
Keywords: Epulum, Funerary banquets, Cupa.
1 Universidade de Coimbra.
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Para a Última Ceia reservou Cristo a instituição da Eucaristia, completando assim um ciclo que
noutro banquete iniciara – as bodas de Caná. Como que a sublinhar que o banquete se quer eterno
– como os Romanos também pretendem dizer com as cenas do banquete fúnebre. Lá está o defunto
reclinado, as iguarias, os vinhos, os servos dedicados…
A vida e a morte. Refeição para a vida que no Além se prolonga!
Interessará, pois, entrelaçar cada vez mais os dados dos textos literários com os do quotidiano
lapidar:
–– Que é, verdadeiramente, um epulum?
–– Como se distingue de uma coena?
–– Em que circunstâncias se dava um e outro?
–– E a quem: amicis, civibus, populo, plebi, ordinibus…
Ah! E as cupas? Representarão elas a bebida sagrada de que o morto eternamente se inebriará
no Além? Talvez não!... Mas os cachos de uvas e as papoilas dormideiras não poderão querer significar
outro alimento, outra… droga?
E as cenas de caçadas (venationes) que aparecem em sarcófagos são representações da reali-
dade (por vezes se identificam os caçadores) ou o voto de que a carne fresca jamais falte ao defunto?
E se, na Península Ibérica, estudarmos as zonas em que aparecem as estelas epigrafadas com ban-
quetes será que não chegaremos também a conclusões interessantes acerca de curiosas aculturações?
1. Os banquetes públicos
Para comparar com o que se passara em Portugal, aquando da inauguração da Ponte Vasco da Gama,
em 1998, aduzi atrás a epígrafe onde se perpetua o facto de a benemérita Annia Victorina haver querido
assinalar dato epulo, ou seja, oferecendo um banquete, a inauguração do aqueduto (aquam perduxsit)
que mandara fazer totalmente a expensas suas (sua omni impensa), não se esquecendo de especificar
que também fora de seu encargo a construção das respectivas pontes, saídas de água e tanques de
decantação, com os respectivos ornatos: factis pontibus et fistulis et lacubus cum suis ornamentis2.
Epulo dato: traduziríamos por «oferecendo um banquete», conotando‑se a palavra com ‘uma lauta
refeição’, não tão abundante e variada, é bem de ver, como a que Petrónio imagina para o seu faustoso
Trimalquião, mas algo que não deixasse por mãos alheias os créditos da benemérita, que do seu gesto
esperava receber, obviamente, ainda maiores proventos, não apenas em prestígio pessoal mas tam-
bém – e, naturalmente, sobretudo! – em termos de consolidação de uma clientela política que muito
interessava manter. De resto, o objectivo fundamental da iniciativa vem expresso logo no começo da
epígrafe: honrar a memória de seu marido e filho – ob memoriam Marci Fulvi Moderati mariti et Marci
Fulvi Victorini filii. Os Marci Fulvii seriam, pois, família cujo renome importava reter.
Na sua análise acerca da utilização do termo epulum – que reconhece abundante e significativa na
Bética –, Javier Del Hoyo começa por esclarecer que se considera epulum «o banquete público que – com
carácter sagrado – se celebrava tendo como pano de fundo algum acontecimento importante», como é
o caso, e dá uma ideia do que se sabe acerca destas iniciativas3. E poderá consultar‑se com proveito a
entrada «epula» do DA, da autoria de Fustel de Coulanges, que, no final, acentua o facto de os epula se
terem transformado, para o vulgo, em mera «distribuição de carne, de pão e de vinho ou dinheiro», uma
instituição que, como outras, não desapareceu mas se corrompeu, perdido o carácter sagrado d’outrora4.
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Tal como na actualidade, haveria convidados para tais banquetes, que não a população em geral.
Na inscrição de Balsa (Tavira), em que Annius Primitivus agradece à deusa Fortuna Augusta ter sido
eleito sêxviro, há referência a que uma das iniciativas que tomou foi a de presentear a população:
sportulis etiam civibus datis5. A frase é bem clara: foram os cidadãos os destinatários dessas ofertas.
Compreende‑se: foram eles que votaram, são eles que continuam a ter o direito de votar e é o seu voto
a paga. Por conseguinte, os epula só em casos verdadeiramente excepcionais – que não deixarão de
ser também lapidarmente assinalados – é que abrangerão elementos exteriores aos cives. De resto,
quando, na mesma cidade de Balsa, Manlia Faustina celebra, com expressa autorização dos decuriões,
a memória de seu irmão, Titus Manlius Faustinus, que fora duúnviro por duas vezes, epulo dato, «dando
um banquete», certamente os participantes nesse banquete se terão recrutado de preferência entre
os amici da conceituada e localmente marcante gens Manlia6.
Um outro exemplo peninsular, mui provavelmente de Linares – Cazlona, Jaén: os municipes Castulo‑
nenses honram Quintus Torius Culleo, governador da Bética, porque, entre outras muitas benemerências,
epulo populo remisit7. Aqui, o destinatário da oferta é o populus, a população, os habitantes; serão,
porém, os habitantes livres e no uso dos seus direitos civis. Traduzindo, à letra, «povo», acabar‑se‑ia
por dar uma ideia susceptível de induzir em erro, tão cientes estamos hoje que «povo» é a população
indiferenciada – conceito que se não adequa à época romana. Recorde‑se, a título de exemplo, a frase
consagrada senatus populusque romanus: o populus é, também aqui, apenas o conjunto dos cidadãos
no gozo pleno dos seus direitos.
Numa epígrafe identificada em Rute (Córdoba), assinala‑se que Caius Valerius Valerianus forum
aedes quinque signa deorum quinque statuas suas sua impensa dedit donavit, isto é, foi Gaio Valério
Valeriano quem, a expensas suas, deu e ofertou (repare‑se no reforço veiculado pelo pleonasmo, em
que o significado de ‘doação’ é mais forte que o de singela dádiva) o fórum, um edifício (quiçá um
templo), cinco estátuas de divindades e – pasme‑se! – cinco estátuas suas! Não deixou seus créditos
por mãos alheias. Não é, contudo, esse o motivo por que se traz este testemunho à colação: é que
competiu à sua neta e herdeira proceder à dedicação de todo esse acervo monumental, sublinhado
com um banquete: Flavia Valeriana neptis heres epulo dedicavit8.
As razões, atrás enunciadas, de tais repastos não serem nem social nem politicamente inocen-
tes encontram confirmação numa outra epígrafe, achada em Lucena (Córdoba), referente ao mesmo
municipium Cisimbrense, segundo a qual, tendo a ordem dos munícipes decretado a erecção de uma
estátua a Valeria Acte, é a neta Flavia Valeriana que, aceite a honra e paga a despesa pela avó, se
encarrega de a mandar fazer: Valeriae Actes ordo municipum municipii Cisimbrensis ob merita eius
statuam decrevit; Valeria Acte, honore accepto, impensam remisit. Flavia Valeriana neptis faciundam
curavit9. Facilmente se compreenderá, pois, quão significativos são tais gestos em termos sociopolíti-
cos. No banquete se trocariam impressões, se gizariam negócios, se louvariam as benfeitorias de tão
nobre e dedicada família!...
E se a expressão epulo populo, a consignar a organização de um banquete para o povo, amiúde
se regista nos textos epigráficos, outras há também assaz significativas. Assim, do termo do município
romano de Iporca (Sevilha) temos uma epígrafe a dar‑nos conta de que Cornelia Prisca cumpriu, como
herdeira, a ordem testamentária de seu irmão, Quintus Cornelius Gallus, de gratificar os decuriões
(testamento suo sportulis datis decurionibus poni iussit), fazendo‑a acompanhar de um banquete:
dato epulo plebi et ordini.10 Ou seja, o banquete foi oferecido não apenas ao conselho municipal mas
5 IRCP 73.
6 IRCP 79. Fig. 1.
7 Cf. http://eda‑bea.es/, registo nº 9410.
8 Cf. http://eda‑bea.es/, registo nº registo nº 2220.
9 Cf. http://eda‑bea.es/, registo nº 2222.
10 Cf. http://eda‑bea.es/, registo nº 866.
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também à população, aqui identificada como plebs, o que nos dá a entender serem usufrutuários da
benesse todos os habitantes. Fácil é depreender‑se que se está perante a satisfação de (em sentido
lato) uma dívida contraída…
Anote‑se ainda a expressão epulo annuo, que vamos encontrar, por exemplo, numa epígrafe iden-
tificada em Caravaca de la Cruz (Múrcia), no termo do que foi, em tempo de Romanos, a res publica
Assotanorum: Lucius Aemilius Rectus, conceituado scriba a quem várias cidades concederam a honra de
ser seu cidadão honorário e que o imperador Adriano agraciou com a categoria de cavaleiro, determinou
por testamento, na sua qualidade de patronus da referida respublica, que anualmente ali se fizesse
um banquete, para cuja concretização certamente terá legado a necessária quantia, cujo respectivo
montante – mui naturalmente – não vem expresso11.
A inscrição lavrada num pedestal de mármore, dado como procedente de Constantina (antiga
Iporca, perto de Sevilha), informa que a Ordo Iporcensium honrou a sua sacerdotisa perpétua com
uma estátua, homenagem acompanhada de cenae publicae, que, ao contrário do que seria habitual, a
própria ordo pagou (diz o texto «remissis cenis publicis»), tendo os sêxviros, sacerdotes do culto imperial
normalmente eleitos entre os libertos, contribuído também para as despesas, o que pressupõe terem
também eles beneficiado do repasto. Em HEp 11 2001, sob o nº 453, dá‑se conta das interpretações
que o documento tem proporcionado, porquanto o original desapareceu e resta o texto num manuscrito;
o que, todavia, nos interessa frisar é o hábito de se promoverem ceias, cuja realização a Lex Irnitana
devidamente regulamentou; ceias, neste caso, «públicas», ou seja, se a interpretação à letra é válida,
abertas a toda a população do aglomerado urbano.
Valerá a pena, a este propósito, recordar o artigo clássico de Charles Michel, que diz expressamente:
Les occasions de grands repas publics ou, pour mieux dire, de repas donnés au peuple (cenae
populares) se représentaient assez fréquemment, soit dans les cérémonies religieuses, soit lorsque des
candidats aux fonctions publiques, des triomphateurs, des héritiers de riches personnages, y invitaient
tout le peuple [EPULA]. En outre, chaque corporation sacerdotale, chaque curie, chaque gens semble
avoir eu des repas de corps à la suite des sacrifices qu’elle accomplissait régulièrement dans l’année12.
Escusado será acentuar a crença que, de um modo geral, todos os povos têm acerca de uma exis-
tência para além da vida terrena, independentemente da forma como essa vida é concebida. O mais
fácil – dada a enorme espessura do mistério… – é imaginá‑la como prolongamento desta. Por isso, os
Romanos tratavam de a pensar em termos gastronómicos também.
Significativos são, nesse aspecto, alguns textos encontrados em contexto funerário. Lidia Storoni
Mazzolani coligiu alguns bem significativos, de que cito dois:
Vita brevis, spes fragilis, venite!
Accensus est. Dum lucet, bibamus, sodales!13
«A vida é breve, frágil a esperança: entrai! A lareira está acesa; enquanto houver luz, vamos beber,
companheiros!»
Hoc ego sum in tumulo Primus notabilissimus ille vixi lucrinis, potabi saepe falernum balnia vina
Venus mecum senuere per annos14
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«Neste túmulo estou, aquele notabilíssimo Primo! Comi ostras, amiúde bebi Falerno; banhos, vinho,
amores foram minha companhia até à velhice».
Foi, a primeira, frase gravada num copo, encontrado em Klagenfurt (Áustria), e pressupõe, em
contexto funerário, que seja o defunto a convidar os transeuntes, seus amigos, a que a ele se ajuntem,
enquanto há vida, enquanto é dia, para que, no quente conforto da lareira, façam uma saúde à vida: à
deles e à dele também. A bebida, um elixir, uma fonte de convívio – que, em companhia, a eternidade
passa mais depressa!...
A segunda fala é colocada na boca de Gaio Domício Primo. Profundamente impregnada do espírito
epicurista, põe a tónica no que foram os prazeres que teve a dita de a vida lhe proporcionar. Assim, as
deliciosas ostras afrodisíacas acompanhadas de bem fresco e apetitoso Falerno, o vinho mais celebrado
pelos escritores antigos!...15
E estas referências levam‑nos de imediato às representações dos banquetes funerários, que sar-
cófagos e até singelas estelas funerárias ostentam. São eco, naturalmente, da necessidade real de os
parentes do defunto prepararem viandas a fim de bem receberem familiares vindos de fora para as ceri-
mónias fúnebres. Aliás, até mais tarde, ao relembrar‑se o defunto aquando, por exemplo, do aniversário
do seu passamento, a antecâmara do jazigo oferecerá viandas também para que, de copo em punho,
de novo se brinde por este salutar convívio entre os mortos e os vivos16 – e aí estão os monumentos
funerários da Isola Sacra, perto de Roma, ou de Carmona, não longe de Sevilha, a demonstrá‑lo, com
uma arquitectura que integra essa antecâmara para o repasto. Elucidativa nesse âmbito é a epígrafe
sobre que Francisco Marco se debruçou, pois que se refere a um túmulo que tinha uma aediculam
cum vinea et muris, es decir, una viña funerária rodeada de un recinto mural como espacio aislado en
el que llevar a cabo los banquetes de aniversario en memoria del defunto17; prescreve‑se, de resto, no
próprio texto a obrigação perpétua de oferecer seis vezes por ano uma cena, para cujo pagamento se
legou uma quantia18!
Mostram as representações em baixo‑relevo o defunto reclinado, em companhia daqueles que,
durante a vida, lhe foram mais queridos. Diante dele, assim heroificado, a mesa posta. Celebra‑se desta
sorte uma continuidade em que o alimento, o banquete e os seus rituais desempenham papel prepon-
derante, evocando, sem dúvida, os mistérios de Diónisos, como Franz Cumont bem diagnosticou,19
porque também é verdade que, na ideologia dos Romanos, «os mortos precisam de alimento».20 Uma
representação como a dos dois peixes estilizados patente no topo de uma cupa de Alcáçovas21 não se
me afigura passível de interpretar‑se nem como indicativo de eventual actividade piscatória do defunto
(neste caso, uma defunta: Ama) nem como manifestação de um desejo de que tal alimento lhe não
venha a faltar na eternidade; contudo, não será porventura despiciendo supor‑se que a ave debicando
os frutos de uma árvore (a árvore da Vida?), esculpida em relevo na face lateral esquerda da ara IRCP
448 (Fig. 3), simbolize o defunto e a vontade de que nunca o alimento lhe falte.
No que à Hispania diz respeito, anote‑se que houve em torno de León, na região de Lara de Los
Infantes, oficinas epigráficas que escolheram o banquete funerário, mesmo que mui rudemente repre-
sentado e esquematizado, para decoração primordial das estelas funerárias (Fig. 4 e 5).
Poderá relacionar‑se esse hábito com a presença dos soldados da Legio VII Gemina, cujo acam-
pamento esteve, como se sabe, na génese da actual cidade de León. Esses soldados provinham de
ambientes mais cultos, portadores dessas antigas tradições.
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Ao fazer o corpus das inscrições de Lara de Los Infantes, José António Abásolo22 preferiu, a propósito
das representações de banquete, remeter para o trabalho de Luis Fernández Fuster23 e limitou‑se a dar,
na p. 171, o rol das estelas com cenas de banquete, especificando se com uma figura indeterminada,
com uma figura sentada, uma figura sentada e mesa, figuras afrontadas, com um serviçal, com dois
serviçais. Contudo, em 1977, debruça‑se largamente sobre estas representações, que assinala serem
típicas da região de Lara de Los Infantes24, preconizando, para as representações do banquete, uma
datação do último terço do século I d. C.25.
3. As cupas
A referência aos banquetes leva‑nos a pensar, de modo especial, queiramos ou não, nas bebidas
que neles se consomem. O vinho, por exemplo. E, nesse aspecto, chamou, desde há muito, a atenção
dos investigadores o facto de haver túmulos cuja cobertura era em forma de cupa, de barril para trans-
porte de vinho (Fig. 6). Tal circunstância levou imediatamente à ideia de que se quereria simbolizar a
disponibilização, para o defunto, de uma considerável quantidade de vinho, precioso néctar de que se
continuaria a inebriar na eternidade.
A ideia fora proposta por Waldemar Deonna: assim se simbolizaria la boisson sacrée dont le
défunt s’enivrera dans l’au‑delà, mais um testemunho, de resto, em seu entender, do culto à divindade
indígena gaulesa Sucellus, de que o barril era atributo26.
Na mesma linha de pensamento seguiriam outros investigadores, nomeadamente José María
Blázquez Martínez, que chegou a relacionar essa forma com o culto a Diónisos27.
Com efeito, pese muito embora essa convicção, retomada por Robert Étienne, na obra que assi-
nou com Françoise Mayet a propósito do vinho hispânico28, estou em crer que, também neste caso,
o túmulo pretende ser, simplesmente, a imagem do lar confortável em que muito nos aprazeria viver.
Remeto para as considerações que já tive ocasião de fazer a este propósito 29 e onde concluo,
depois de evocar o tecto das casas meridionais e norte‑africanas em abóbada, que as cupas, mais
ou menos alindadas, em determinado momento por graça ‘transformadas’ em barricas, quando já se
lhes perdera o significado inicial, nada mais são do que a recordação dos tempos idos, passados no
Norte de África, daqueles que para aqui vieram viver30. Aliás, Dolorès Julia salientou, de facto, essa
origem africana:
Les cupae de Barcelone et de Tarragone nous offrent, donc, un exemple, assez unique en Espagne,
d’un type de tombeau probablement venu d’Afrique, qui […] se prêta, sans renier ses origines, aux
variations plus ou moins personnelles des ateliers de sculpture locaux31.
Conclusão
22 ABÁSOLO 1974.
23 FERNÁNDEZ FUSTER 1954.
24 ABÁSOLO 1977: p. 65.
25 ABÁSOLO 1977: p. 83.
26 DEONNA 1946: p. 120.
27 BLÁZQUEZ 1962: 163.
28 ÉTIENNE & MAYET 2000: 54‑58.
29 ENCARNAÇÃO 2009: p. 21.
30 Cf. BLÁZQUEZ 2001: p. 214.
31 JULIA 1965: p. 54.
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eram, de hábitos adquiridos em contacto com um ambiente de que dependia a subsistência individual
e colectiva, transmitidos de geração em geração.
Veja‑se que, entre nós, só a 26 de Julho de 2000 foi publicada a Resolução do Conselho de
Ministros n.º 96/2000, a considerar «a gastronomia portuguesa como um bem imaterial integrante do
património cultural de Portugal», preconizando, entre outras iniciativas, «a criação de uma base de dados
de receitas e produtos tradicionais portugueses». Daí a elevar‑se a «dieta mediterrânica» a património
cultural imaterial sancionado pela UNESCO32 foi um passo; e essa consciencialização determinou que,
um pouco por toda a parte, cada vila ou cidade se começasse a intitular «capital» de determinada iguaria
e passassem a multiplicar‑se, ao longo do ano, as semanas ou quinzenas gastronómicas... Não deixa
de ser elucidativo – apenas para se dar um exemplo – que uma cidade como Tudela de Navarra, de tão
grandes tradições históricas e tão rica em significativos monumentos, se intitule «Capital da Verdura» e
sejam os seus afamados legumes o chamariz da sua mais solene festividade anual33.
E não é, pois, de admirar que o nº 28 (Abril de 2015) da revista Visão História esteja inteiramente
dedicado ao tema «À mesa – Cinco mil anos através da alimentação»34! O tema é aliciante, convidativo
– e apetece relembrar o convite lavrado naquele copo romano:
Accensus est. Dum lucet, bibamus, sodales!
«A lareira está acesa! Enquanto a noite não chega, vamos a mais um copo, companheiros!».35
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32 A classificação ocorreu em Baku, no Azerbaijão, a 4 de Dezembro de 2013, durante a 8.ª Sessão do Comité Intergovernamental para
Soares (p. 24‑27); «Roma banquetes e frugalidade», de Carlos Fabião (p. 28‑35), que também assina «Conservas de peixe ‘made in Lusitania’»
(p. 36‑37).
35 Este texto teve como ponto de partida a lição proferida, a 3 de Julho de 2002, em Mérida, no Museu Nacional de Arte Romano, integrada
no Curso de Verão «Alimentos de Hombres, Manjares de Dioses – Productos, Comercio y Banquete en Roma».
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Fig. 2 – IRCP 79
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RESUMO:
Descríbense as evidencias construtivas relacionadas coa romanización previas á edificación
do Pazo do Bispo de Ourense ‑actual sede do Museo Arqueolóxico de Ourense no século XX‑,
aparecidas nas intervencións realizadas como proceso previo á súa remodelación funcional.
Procúrase unha aproximación cronolóxica e interpretación funcional dos diferentes restos des-
cubertos e os vínculos coa inmediata igrexa de San María Nai.
Palabras chave: Ourense. Restos romanos. Necrópole tardorromana e altomedieval. Baptisterio.
ABSTRACT:
In this article we describe the structural remains prior to the building of the palace of the Bishop
of Ourense (current location of the Archeological Museum of Ourense) in the twelfth century,
appeared during the interventions conducted as a previous process to its functional remodeling.
We intend a chronological approach and a functional interpretation of the different remains
discovered and the links with the adjacent church of Santa María Nai.
Keywords: Ourense. Roman remains. Late Roman and early medieval necropolis. Baptistery.
O edificio do Pazo do Bispo de Ourense comeza a ser construído no segundo cuarto do século XII
a carón da igrexa de Santa María Nai e da Torre Beati Martini e dende esa época será unha das refe-
rencias urbanas da cidade (FARIÑA, 1994: p.14; FARIÑA, FERNANDEZ e XUSTO, 2009: p.160), pero o
seu solar non estaba baldeiro. A tradición local falaba de construcións anteriores (LÓPEZ‑CUEVILLAS,
1969) e algúns restos conservados nos seus muros denunciaban a existencia dun asentamento máis
antigo (FERRO, 1955). As obras de reforma do Pazo do Bispo para a instalación do Museo e Arquivo
nas décadas de 1950 e 1960 aportaron novas e incontestables evidencias (FERRO, 1974: p.201‑202)
que posteriores intervencións puntuais confirmaron (FARIÑA, 1994: p.24‑29) e que coas intervencións
arqueolóxicas programadas en relación coa gran reforma do edificio (pendente aínda de execución)
son a base deste traballo, que completa así contribucións anteriores máis xerais e centradas na parte
construída do edificio medieval e nas súas posteriores reformas e engadidos (XUSTO e FARIÑA, 2007:
p.229‑250 e FARIÑA, FERNÁNDEZ e XUSTO, 2009: p. 157‑186).
O edificio actual ocupa unha mazá do centro urbano de 61 x 53 m. e está construído nunha pen-
dente suave que baixa en socalcos dende as abas de Montealegre ao Barbaña, por riba da depresión
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das Burgas. A construción medieval asenta nalgúns puntos directamente no sábrego de base e noutros
sobre elementos anteriores, que corta e modifica. Precisamente esa configuración natural do terreo,
en pendente máis ou menos suave, sentido este a oeste, caendo cara o río Barbaña e as Burgas, de
base granítica alterada (sábrego), mesturada con bolos graníticos, é o que favorece a disposición en
terrazas a cotas diferentes das estruturas e a necesidade de recheos de nivelación nalgúns outros
puntos, coa conseguinte complexidade estrutural das construcións resultantes que parecen feitas
a diferente nivel. Neses socalcos, a cotas variables e estendidos en sentido norte sur sobre una pla-
taforma máis ou menos ampla, paralela ao Barbaña, e na que se introduce a depresión das Burgas,
fóronse establecendo diferentes construcións de época romana, dende o século I d.C., configurando
o que había de ser a cidade de Ourense; construcións romanas que no conxunto da actual cidade
semellan organizarse en base a 3 áreas ben definidas: a primeira delas correspondería o grupo de
estruturas documentadas nas propias Burgas e no Colexio das Xosefinas, cun eixo ortogonal norte‑sur
perfecto; un segundo grupo parece darse nas construcións documentadas en torno as actuais rúas
Cervantes e Vilar nas que predomina o eixo NNE‑SSO e finalmente, e a unha cota xa moito mais ele-
vada, estarían as construcións documentadas como preexistencias no solar do museo, cun claro eixo
NNO‑SSE (FARIÑA E XUSTO, 2008: p.39).
As primeiras evidencias
Ademais dalgúns restos reutilizados na fábrica da obra románica, os elementos máis singulares
de obras anteriores son as columnas e capiteis presentes na fachada barroca de Santa María Nai, que
sustentaron durante tempo o debate sobre a súa procedencia, natureza e datación que resume Carrero
(CARRERO, 2005: p.185‑191). Nas obras de remodelación da década de 1960, no pórtico aberto ao
xardín localizáronse un ara romana, e moitas tégulas así como un conxunto de moedas do século IV
(FARIÑA, 1994: p.25‑26). O sector removeuse e baleirouse na súa totalidade, como puidemos comprobar
posteriormente (campaña de 2003), ao seren cruzado polas tubarias de saneamento.
Posteriormente, en 1982, con motivo de obras de drenaxe e eliminación de humidade no interior
do salón románico, evidenciáronse outros restos de cronoloxía romana tanto nas gabias perimetrais
executadas no xardín –coa localización de moitos fragmentos de tégulas‑, como no interior de propio
salón, onde unha sondaxe transversal do espazo, ao pé das escadas de acceso á primeira planta,
permitiunos descubrir logo dunha capa con material mesturado medieval e romano, unha capa infe-
rior de cor escura, con restos carbonosos, moi revoltos, onde aparecían algúns fragmentos de sigillata
–Hispánica 4, Hispánica 27‑, tégulas, ladrillos, argamasa de construción e cerámicas comúns, unha
delas con bandas pintadas, que, en conxunto ofrecían unha cronoloxía que nos situaba entre o ultimo
cuarto do século I d.C e o século IV d.C. (FARIÑA, 1994: p.29 ).
No ano 2000 realizouse unha sondaxe no xardín do Museo para avaliar a posibilidade do seu uso
como espazo útil para servizos do Museo. No sector oriental da gabia de sondaxe ‑realizada na zona
meridional do xardín‑ documentáronse, baixo un potente nivel de derrube de tégulas, os restos de dúas
esquinas contiguas correspondentes a dous depósitos o pilas recubertas con morteiro hidráulico de
opus signinum, separadas entre si por un muro de 45 cm de ancho, mentres que o muro que as deli-
mita polo sur ‑quizá un muro exterior‑ sobrepasa lixeiramente o metro de grosor. Os muros de ambos
depósitos presentan nas esquinas laterais e da base a característica moldura de cuarto de círculo vin-
culada a ámbitos de tipo hidráulico polo que a súa funcionalidade ben puidera estar relacionada con
procesos de decantación. Os muros, ademais ter a mesma orientación cos relacionados co obradoiro
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metalúrxico documentado posteriormente no interior do edificio, presentan tamén una alzada e unas
cotas de piso similares, por exemplo, os documentados como preexistencias no corpo de Manrique de
Lara: deste xeito mentres que os piso romano nas preexistencias de Manrique de Lara se sitúa entre
as cotas 133.62 a 133.78 e o conservado dos seus muros en torno as cotas 134.09 a 134.19, no caso
dos do xardín, os pavimentos hidráulicos localízanse entre as cotas 133.38 e 133.55, e o conservado
dos seus muros en tornos as cotas 133.94 a 134.05. Estaríamos, polo tanto, ante cotas similares ás
do ámbito metalúrxico e ante una superficie toda ela case chaira ou con escasa pendente cara o sur,
o que nos leva a sospeitar a súa edificación nun mesmo momento construtivo altoimperial, se ben
mentres as estruturas localizadas ao norte gardan relación coas artesanías do lume, pola contra as
localizadas como preexistencias baixo o xardín parecen gardar relación coas artesanías da auga e/ou
dos líquidos, por exemplo cortidurías. Os materiais asociados, depositados sobre o pavimento hidráu-
lico, sitúan, sen embargo, o seu último momento de uso en época tardorromana e entre eles destaca
un fragmento cerámico de fondo Terra Sigillata Bracarense Tardía vermella decorada con palmetas e
cadrados reticulados, similar a outro fragmento procedente da Lanzada (Pontevedra), cuxo apoxeo de
produción se sitúa nos decenios centrais do século V dC (FERNANDEZ, 2013: pp.. 140‑141 e fig. 78)
Facemos seguidamente a descrición, por sectores, das actuacións realizadas nos anos 2002‑2003 e
2007 no interior do edificio e que comprenden zonas construídas do mesmo en época diversa, se ben só
nos referiremos a aquelas que gardan relación co mundo romano, prescindindo dos niveis de uso e ocu-
pacionais posteriores, que poden verse detallados nos correspondentes informes dos traballos realizados
Así, comezamos polos restos aparecidos nas salas que conforman o “quarto dianteiro” mandado
construír polo bispo Muñoz de la Cueva no primeiro terzo do século XVIII, para analizar seguidamente
as estruturas documentadas no espazo que corresponde ao que se coñece na documentación como
“adega do bispo”. Finalmente abórdanse os restos descubertos ao carón do paramento sur da igrexa
barroca de Santa María Nai onde se documentan evidencias de época tardorromana e altomedieval,
fundamentalmente unha estrutura singular á que se asocian tumbas de tégulas de cabalete e que ten
continuidade nunha necrópole de tumbas de laxes en arco de paréntese que semellan altomedievais
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de sábrego, quizá relacionado coa edificación da torre gótica de Santa María e recheo sobre todo con
materiais dos séculos XIV e XV. Ao seu pe apareceron pequenos fragmentos de TSH, que tamén formaban
parte do revolto que reenchía o buraco do que se sacou sábrego, xunto con cerámicas de uso común
de época romana, así como grises de época medieval e outros produtos cerámicos.
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poderían enmarcarse entre os séculos II‑V dC, se ben os mais antigos puideran vir rodados de estruturas
altoimperiais localizadas no inmediato sector leste da bodega románica.
Se ben é certo que a escavación nesta zona parece vincular o paramento oeste e paramento
norte –cara o leste e na súa base‑ a un mesmo momento construtivo –as argamasas de cal semellan
reflectir esa contemporaneidade‑, conformando así o esquinal dunha construción romana –o mesmo
acontecería entre o paramento oeste e o paramento sur da bodega románica‑, sen embargo a dúbida
desta contemporaneidade –e polo tanto do mesmo esquinal da construción‑ ven dada polos resultados
da intervención arqueolóxica feita en 2007 ó longo do paramento norte da bodega románica e cara o
leste, que vimos considerando como correspondente a base dunha construción monumental romana.
Neste caso a intervención arqueolóxica de 2007 ponnos de manifesto como os perpiaños de base
da fábrica románica, que viñamos vinculando ó mundo romano, asentan sobre unha ampla gabia de
cimentación que rompe un nivel de sábrego de base ó cal se asocian algúns restos cerámicos de época
romana, fundamentalmente dos séculos II‑III d.C., polo que os perpiaños de base cabria relacionalos
xa mais ben coa construción do paramento románico norte da bodega; perpiaños que ademais teñen
unha semellante caracterización os documentados en 2002 no sector A01, de xeito que o que conside-
rábamos terceira fiada desde a base en A01 parece ter continuidade aquí. De ser isto certo, só, pois, o
paramento oeste de A01 tería a condición de monumental romano en base a esa amplitude de 1,90‑2
m de grosor. Cabería, finalmente, outra interpretación para a base do muro románico da bodega: dado
que a construción do muro rompe o nivel de uso romano con materiais dos séculos II‑III dC, puidera ser
que a base de dito muro tivese una cronoloxía mais tardía, de xeito que a construción monumental de
8,5 m de ancho no eixo norte‑sur, fose una construción de cronoloxía baixoimperial ou tardorromana.
Entre os materias documéntase a presenza de cerámicas comúns, TSH altoimperial, e mais abun-
dantes, fragmentos de TSHT e de terra sigillata africana.
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que ditas artesanías do lume viñan tendo con respecto ós núcleos de poboación, localizándose nos
contornos máis inmediatos. É por iso que este forno de fosa deste obradoiro metalúrxico probablemente
se localizase no suburbium que se situaba no sector norte do núcleo romano altoimperial, que co paso
do tempo recibiría tamén a presenza de estruturas de habitación.
Vimos falando non só de forno de foxa senón tamén de obradoiro metalúrxico, de probable cronoloxía
altoimperial se temos en conta os fragmentos de TSH asociados, e facémolo sinalando ademais que
a 7 m ó sueste do forno de foxa –no espazo coñecido como baixo a escaleira barroca ou monumental,
e como preexistencia baixo o pavimento de cantos rodados que caracterizaría o andar baixo da panda
oeste do pazo románico‑ detéctanse novas evidencias de actividade metalúrxica e da presenza de
lume, como é o caso dun potente nivel de deposición de tégulas, ímbrices e de terra gris con abundante
carbonización; nivel no que tamén se documentou un pequeno fragmento de crisol manufacturado con
barro refractario que conten aínda no seu interior restos de ouro.
Este nivel con numerosa carbonización relacionase cun muro romano con orientación case norte‑sur,
cuxo nivel de uso, selado polo derrube de numerosas tégulas, se situaría, en termos xerais e con sentido
descendente cara o oeste, entre as cotas 134.18 e 133.82. A ese muro con orientación norte‑sur adósase
outro con orientación oeste‑este pero con lixeira curvatura no seu sector oriental que fai sospeitar da pre-
senza dunha estrutura de deseño periforme, asociada a cal o nivel de carbonización faise máis intenso.
O muro con orientación norte‑sur parece formar, a súa vez, ángulo de 90 graos co muro que se localiza,
xa dentro da bodega románica, o sueste do forno de foxa, quizá delimitando o seu ámbito. Muro no que
o seu nivel de uso, tanto polo seu lado norte como polo seu lado sur, se situaría en torno a cota 133.64
e que a súa vez neste lado sur, presenta desprazada –probablemente polas obras románicas‑ unha basa
de columna que parece indicarnos un ámbito porticado próximo. Ámbito que puidera estruturarse non so
en base ós muros xa citados –o do forno de foxa polo norte e o da área do crisol de ouro polo leste‑ senón
tamén en base ó localizado como preexistencia baixo o corpo renacentista do bispo Manrique de Lara –
antiga sala de epigrafía da cidade‑, posto que este muro, que se asocia a un nivel de uso en torno as cotas
133.62/133.78 –no que, a nivel de cultura material, tamén se documentou imitación de sigillata africana
con decoración brunida datable na segunda metade do século IV e no primeiro cuarto do século V‑, discorre
paralelo o situado ó sur do forno de foxa e perpendicular ó da zona de aparición do crisol con restos de ouro.
Parece, en todo caso, que estamos nunha zona destinada a produción/transformación o igual que acontece,
como xa vimos, no xardín do pazo onde se documentan tanques con pavimentos hidráulicos.
4. A antigüidade tardía e o simbolismo dos seus restos ao carón da igrexa de Santa María Nai
As actuacións arqueolóxicas no solar do vello bazo do bispo ademais de aportar datos sobre os
primeiros séculos de vida do solar no que nacerá Ourense, e sobre actividades de produción ata agora
descoñecidas, aportaron tamén singulares evidencias materiais que cabe enmarcar entre a antigüidade
tardía e a alta idade media, un período para o que as informacións aínda hoxe están dominadas pola escu-
ridade e, polo tanto, para o que a arqueoloxía ten a obriga de aportar novas percepcións e novas miradas.
A intervención arqueolóxica efectuada nos anos 2003 e 2007 baixo os aposentos barrocos mandados
construír polo bispo Muñoz de la Cueva, o carón da igrexa barroca de Santa María e o pé mesmo da porta
de acceso o pazo románico, permitiu documentar, como preexistencia anulada polo piso románico de
acceso o pazo, o tempo que rota pola tamén fábrica románica da ala oeste do pazo edificado polo bispo
Diego Velasco, unha estrutura con morfoloxía en “proa de barco” e con ángulo de 135º ó interior, cun
grosor dos seus muros que oscila entre os 75‑80 cm, e cun revoco exterior de cal ate a súa cota de piso;
cota en relación coa cal se documenta un nivel de enterramento –en torno a cota 134.24‑ con sepulturas
de tégulas dispostas a dobre vertente ou en cabalete, con orientación oeste‑este e mesmo adosadas a
dita estrutura en “proa de barco” . A cota de piso exterior desta construción polo leste –onde se cavan as
tumbas‑ sitúase 42 cm por debaixo da altura máxima conservada, como ben nos sinala o límite e curvatura
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do revoco de cal, mentres que ó interior da construción, o escavado sitúase 1,36 m –cota 133.96‑ con
respecto a cota superior conservada, e 94 cm por baixo da cota do piso exterior –cota 134.90‑.
A existencia dunha fábrica con dous laterais unidos en ángulo de 135 º o interior, no contexto estrati-
gráfico no que se documenta ‑preexistencia baixo a fabrica románica e asociado a sepulturas tardorromanas
de tegulas e a un fragmento de TSHT‑, semella corresponder a un elemento de alto valor simbólico para
a historia da cidade, dado que, como dicimos, polo conservado, pola súa posición estratigráfica e cotas e
polos parelelismos, probablemente debamos interpretrar eses dous laterais murarios como os dous lados
dun ámbito bautismal vinculado ao mundo tardoantigo. Probable carácter que, a partir do conservado no
lado leste e tendo en conta a apertura de ángulo dos dous paramentos, se se fai a súa proxección, nos pon
diante dunha planta hexagonal ou, mais probablemente, octogonal. E nese sentido resulta tamén signifi-
cativo sinalar como se a piscina tivese planta octogonal, ó carón do seu lateral oeste localízanse os restos
doutra sepultura de tegulas –en torno á cota 133.85‑ tan so delimitada no seu lateral sur, posto que a ela
superponse nun nivel de enterramento altomedieval conformado por sepulturas en arco de paréntese, a
súa vez parcialmente roto pola gabia de cimentación dunha zapata de formigón correspondente a etapa
de reformas de Pons Sorolla durante a década dos sesenta do século pasado. Sepultura de tégulas que,
fronte a perfecta orientación oeste‑leste que presenta a sepultura localizada no lateral leste deste espazo,
neste caso –lateral oeste‑ a sepultura necesita desviarse lixeiramente cara o SE da canónica orientación
oeste‑leste precisamente para salvar o vértice dos dous laterais murarios que coincidirían nese punto.
A presenza dunha área bautismal vinculase ademais a existencia dun bispo, posto que na antigüidade
tardía a administración do bautismo estaba reservada de xeito exclusivo os bispos e so se facía unha vez o ano.
Estariamos, pois, ante un elemento singular –baptisterio‑ do primeiro grupo episcopal da cidade (baptisterio,
basílica, aula…) en relación co cal se deberían contextualizar tamén os capiteis tardorromanos reaproveita-
dos da actual igrexa de Santa María ou conservados no Museo Arqueolóxico e que, ata o momento actual
e a falta de intervencións arqueolóxicas no interior desta igrexa, son un mais dos razoamentos utilizados
para postular a orixe antiga desta igrexa. Igrexa que baixo a cimentación barroca da súa fábrica sur, como
xa sinalabamos o comezo deste artigo, presenta o esquinal dunha fábrica de perpiaños conservada nunha
única fiada e cunha labra moi fina similar a que se documenta no edificio do museo o pe da intersección
entre a bodega románica e a torre gótica de Santa María. Un primeiro núcleo episcopal cristián a partires
de evidencias arqueolóxicas que, en síntese, gardaría relación coa existencia real da diocese que parece
reflectirse no ano 572 cando ó segundo Concilio de Braga asiste un bispo de Ourense chamado Witimer.
Os restos dunha terceira sepultura de tégulas, tamén con canónica orientación oeste‑leste,
foron localizados o pé do muro que pecha a bodega do bispo polo leste, sendo cortada pola gabia de
cimentación dese muro, de tal xeito que o proceso de delimitación da sepultura na zona cortada nos
deixaba ver ademais como no interior da súa escasa superficie conservada era aínda perceptible a
presenza de restos óseos. Foi por iso polo que, de acordo coa Dra Olalla López Costas, se procedeu a
súa escavación, ofrecendo no seu interior unha calota craneana completa, pero co frontal moi agretado,
e unha escápula esquerda correspondentes a un mesmo individuo de sexo masculino e maior de 20
anos no momento da morte –con case tódalas suturas craneais pechadas o que puidera ser signo
de idade media avanzada ou maior de 40 anos‑ que foi deposto en posición primaria decubito supino
ou decubito lateral esquerdo e polo tanto coa cabeza descansando sobre o lateral esquerdo (LÓPEZ
COSTAS, 2007 e 2015). Finalmente debemos sinalar como neste caso a sepultura localizábase na cota
133.89, polo que, se temos en conta as cotas das sepulturas anteriores, estamos ante unha área de
enterramento sobre unha superficie basicamente chaira e sen dúbida correspondente a algúns dos
poucos privilexiados que poderían enterrarse xunto ou no interior –caso do baptisterio‑ dos edificios
correspondentes o primeiro grupo episcopal da cidade. Superficie de enterramento na que ademais
as inhumacións aparecen dispostas nun so nivel e con diferente espazo entre elas. No caso doutras
necrópoles de sepulturas de tegulas que coñecemos na cidade, a súa presenza se ben puidera gardar
relación coas vías de comunicación, sen embargo para aquelas, como a da Trinidade‑García Mosquera,
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que tiveron unha clara continuidade na etapa altomedieval, tampouco podemos desbotar a hipótese
que apareceran vinculadas a martyria ou basílicas –sobre as que logo se levantaría unha igrexa, e nese
sentido descoñecemos se inicial igrexa gotica da Trinidade puidera ter eses antecedentes‑ en canto
polos de atracción para os cristiáns que buscaban a protección dos mártires a través das súas reliquias.
A modo de conclusión
Logo deste percorrido descritivo dos restos atopados podemos establecer que as primeiras pegadas
de habitación documentadas corresponden a época romana altoimperial, Asemade o núcleo romano, ade-
mais de definirse pola súa amplitude temporal, presentaba, no caso do solar do pazo episcopal, trazas de
construcións de certa entidade arquitectónica (así sucede cos negativos de base correspondentes a una
construción monumental ou dos restos da construción en “proa de barco”), así como doutras vinculadas a
infraestruturas industriais, como e o caso dos fornos metalúrxicos . Sen embargo desa ocupación romana
no solar seguimos, en termos xerais, descoñecendo as súas características e é preciso completar os datos
illados que ata o presente temos para darlle unha unidade interpretativa e establecer unha relación máis
doada cos outros restos documentados noutros sectores do núcleo histórico de Ourense. E certamente,
existe aínda a posibilidade de completar a exploración nalgúns dos espazos existentes; de todos xeitos a súa
distribución coincide coas liñas xerais definidas para o conxunto do núcleo de poboación romano de Ourense.
Polo que respecta aos restos tardorromanos e altomedievais coidamos necesario proseguir nos
traballos de escavación completando a definición dos mesmos no interior dos espazos do Museo e,
tamén nun futuro, no solar de Santa María Nai, xa que as suxestións que abren os restos descubertos
deberían ter confirmación ou desmentido, en relación co carácter e natureza do recinto descuberto,
que propomos identificar como espazo baptisterial.
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Fig. 1 – Plano xeral do edificio coa distribución dos espazos e dos restos anteriores ao edificio.
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Fig. 6 – Forno.
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RESUMEN:
A través de esta aportación se realizan algunas reflexiones teóricas del fenómeno de la roma-
nización del noroeste peninsular, intentando determinar los rasgos propios de cada una de las
áreas geográficas que componen este espacio: el territorio galaico, las tierras meseteñas de
Asturia y Cantabria, la zona transmontana y los distritos mineros.
Palabras Claves: Romanización; Noroeste de Hispania; Castro; Poblamiento; Minería; Ejército.
ABSTRACT:
We present here some theoretical reflections about the Romanization process in the Northwest
of ancient Hispania. We try to determine the different features of each area of this geographical
space: the Galician territory, the internal plains of Asturia and Cantabria, the inhabited lands of
cantabri and astures transmontani and the mining districts.
Keywords: Romanisation; Northwest of Hispania; Hillfort; Settlement; Mining; Roman Army.
1 El presente trabajo se ha elaborado en el marco del Proyecto de I+D HAR2011‑24095: Campamentos y territorios militares en Hispania
(PRATA), dirigido por Ángel Morillo Cerdán. Igualmente, se enmarca en el Proyecto de I+D: Paisajes de dominación y resistencia. Procesos de
apropiación y control social y territorial en el Noroeste hispano (PADORE) (I+D HAR 2012‑33774), dirigido por A. Orejas Saco del Valle. Ambos
proyectos han sido concedidos por el financiado por el Ministerio de Economía y Competitividad (MINECO).
2 Universidad Autónoma de Madrid.
3 Universidad Complutense, Madrid/Universidade de Porto.
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investigaciones arqueológicas que se verifica a partir de ese momento y que se ha prolongado hasta
nuestros días ha permitido desterrar esta idea a partir de datos empíricos incuestionables.
La renovación del planteamiento conceptual sobre el alcance real de la acción de Roma en el
conjunto de la Península Ibérica ha permitido reenfocar también la visión de la presencia de la poten-
cia colonizadora en la región noroeste. La reivindicación del sustrato indígena posibilita contemplar la
romanización no tanto como una imposición cultural, sino un proceso dialéctico de intercambio recí-
proco, a través del cual la sociedad indígena fue adaptando rasgos de la cultura romana, y ésta a su
vez se vio influenciada por aquella (Keay 1996: 148; Bendala 2006). Teniendo en cuenta la variedad
de tradiciones culturales existentes antes de la llegada de Roma entre los pueblos peninsulares, la
romanización resultante no obedece a un modelo único, sino que revestirá una forma diferente en cada
provincia e incluso, dentro de cada una de ellas, en las distintas regiones. En todas ellas, los rasgos
culturales prerromanos siguen vivos en mayor o menor medida bajo el dominio romano (Fernández
Ochoa y Morillo 2005). Por otra parte, los intereses romanos fueron muy diferentes de unos a otros
territorios y variaron sustancialmente a lo largo del largo proceso de conquista peninsular.
Los nuevos presupuestos sobre la romanización de Hispania, fundamentados a partir de la infor-
mación arqueológica, se imponen asimismo en las regiones del Noroeste peninsular. El fenómeno de
la romanización del Norte no fue, por lo tanto, un fenómeno aislado y peculiar dentro del conjunto de
Hispania, sino equiparable, dentro de sus propios parámetros, al de cualquier otra región peninsular. En
este sentido, los territorios septentrionales no serían los menos romanizados, sino romanizados de modo
diferente. Sin embargo, en los últimos años, la implantación romana, aceptada mayoritariamente a un
nivel científico, choca en algunos lugares con un ambiente social más sesgado hacia una “celtomanía”
al margen de la ciencia, en el marco de estudios históricos más míticos que científicos (Marín Suarez
2005: 21; Fernández Ochoa y Morillo 2005), en los que Roma vuelve a estar condenada a convertirse
en una “edad oscura” en el continuum histórico.
En su día planteamos una reflexión teórica sobre los rasgos distintivos de la romanización del
cuadrante noroeste peninsular por contraposición a los característicos de otras regiones (Fernán-
dez Ochoa y Morillo 2002; 2005). Los componentes específicos de la misma serian, por una parte,
la adaptación a un paisaje físico y humano muy diferente a los de las regiones mediterráneas e
interiores, caracterizado por una forma de ocupación del territorio que encuentra su plasmación en
la generalización del modelo “castro”, que ha llevado incluso a definir como “cultura castreña” al
periodo correspondiente con la Edad de Hierro en estos territorios. Dichos patrones de poblamiento
de origen prerromano se adaptarán cuidadosamente a los intereses la potencia colonizadora; en
segundo lugar, el momento cronológico en que se produce el contacto con Roma y la conquista pro-
piamente dicha de los distintos sectores de esta amplia zona, escalonado desde finales del siglo II
a. C. hasta la conclusión de las guerras cántabras, ya en época de Augusto (19 a. C.), momento que
es preciso valorar de una forma ajustada; en tercer lugar, el destacado papel desempeñado por el
ejército durante toda la etapa romana en buena parte del Noroeste peninsular, que tendría su razón
de ser no en la vigilancia del “indómito indígena”, sino en el interés de Roma por las explotaciones
auríferas; finalmente, la importancia de dichas explotaciones auríferas en la transformación del
paisaje de las tierras astures y, en menor medida, galaicas
Sin embargo, es posible ir un paso más allá en la definición de la acción de Roma en estos territo-
rios, ya que no todos los elementos anteriores afectan de la misma manera y con la misma intensidad
a cada uno de ellos. No cabe duda que estamos ante un fenómeno que presenta muchos matices. Será
preciso analizarlos de una forma individualizada a fin de determinar las diferentes pautas de compor-
tamiento y los “modelos” de romanización resultantes. Se trataría de establecer un cambio de escala
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descendiendo del modelo de “romanización del Noroeste” a los modelos específicos de los territorios
galaico, astur y cántabro, que se configuran a través de un proceso diacrónico (Fig. 1).
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a poco, asumen e interiorizan como propio el mensaje de dominación de Roma y acaban apropiándose
de la cultura “romana” como algo verdaderamente propio.
Los distintos enfoques historiográficos y conceptuales sobre la romanización son propios de una
“arqueología de contacto”, siguiendo la afortunada definición de Fernández‑Posse (1998: 234), en la
que los registros muestran sincrónicamente una aculturación muy rápida e intensa en algunas zonas,
frente a otras más retardatarias. De cualquier manera, en este campo es muy difícil sustraerse a las
posiciones ideológicas y “emocionales” de cada investigador o escuela. En realidad, debería ser el
análisis de las evidencias arqueológicas, no sólo de los materiales sino también de su reflejo en las
estructuras sociales y de poblamiento, la guía de cualquiera de las interpretaciones posibles.
Una primera observación es que carecemos de testimonios arqueológicos directos del proceso
de conquista, lo que sin duda dificulta la interpretación del agente de las transformaciones del modelo
de poblamiento y la estructura territorial que tiene lugar desde el siglo II a. C.
Las fuentes indican que República romana impulsa diversas expediciones con fines claramente
militares desde mediados del siglo II a. C. La más antigua fue la de Polibio quien, en esas fechas, realiza
un periplo en dirección norte a partir del Estrecho de Gibraltar, siguiendo una ruta que contorneó las
costas atlánticas peninsulares y alcanzó la Galia4. Desgraciadamente su relato no se conserva (Fer-
nández Ochoa y Morillo 2013: 63). Lo mismo sucede con la Geografía de Artemiodoro, quien realizó
diversos viajes por las costas hispanas a finales del siglo II a. C. (Kramer 2006: 98 y 102‑105).
En el año 137 a. C. tiene lugar la campaña terrestre de D. Julio Bruto contra los galaicos5, que
supuso la exploración de las áreas interiores meridionales entre el Duero y el Miño, alcanzando el Limia
y la desembocadura del propio Minius. En el 96‑94 a. C. se sitúa una nueva intervención militar en el
Noroeste peninsular. Nos referimos a la de P. Licinio Craso, procónsul de la Hispania Ulterior, destinada
a localizar las famosas islas del estaño, las kασσιτερίδες6. Craso obtuvo en el 93 a. C. un triunfo “sobre
los lusitanos”, lo que indica, por una parte, que la expedición tuvo una finalidad militar indiscutible y,
por otra, que la distinción entre lusitanos y galaicos aún no estaba muy clara.
Años más tarde, entre los años 61‑60 a. C., César, propretor de la Ulterior, extiende el dominio
político romano hasta el Golfo Ártabro. Tras acometer diversas campañas a ambos lados del Duero, la
flota gaditana al mando de L. Cornelio Balbo le permite llegar a Brigantium (A Coruña)7. Seguramente
dicha cita se refiera al desembarco al fondo de la rada coruñesa, al pie del castro prerromano de Elvira
(Bello y González Afuera 2008), ya que la arqueología retrasa la fundación del asentamiento romano
hasta varias décadas más tarde. Los conocimientos de los marinos de Gades respecto a la ruta atlántica
debieron desempeñar un papel fundamental (Chic 1995: 62).
Por el momento ninguna de dichas expediciones, u otras sobre las que las fuentes guarden silencio,
ha dejado evidencias arqueológicas de presencia de las tropas romanas. Carecemos de campamentos
de campaña o destrucciones violentas de asentamientos indígenas (Morillo 2014b: e. p.), un hecho
especialmente llamativo en el territorio comprendido entre el Duero y el Miño, muy bien conocido desde
el punto de vista arqueológico.
Ante dichos vacíos en el registro arqueológico, debemos recurrir a testimonios indirectos del
avance de Roma en tierras galaicas durante el periodo republicano. Entre dicha evidencias destacan
los restos de cultura material.
Los hallazgos fenicios y púnicos en la fachada atlántica de la Península Ibérica, que se remontan al
siglo VI y son especialmente abundantes a partir del siglo IV a. C., avalarían la existencia de un comercio
mediterráneo hasta el territorio de los galaicos (Naveiro 1991: 130‑131; González Ruibal 2006/07:
262‑269, 512‑523; Morais 2007). Dichos testimonios se rarifican hasta casi desaparecer al oriente
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del cabo Estaca de Bares, lo que descarta una continuación de dicha ruta en aguas cantábricas en
época tan antigua. El castro de Campa Torres, en la parte central del litoral asturiano, constituiría el
punto más oriental donde se documentan productos mediterráneos (Maya y Cuesta 2001b: 154‑159;
Carreras 2001; González Ruibal et alii 2010). En el 206 a. C., la entrada de Gadir (Cádiz) en la órbita
romana va a convertir a esta nueva potencia en heredera directa de la política e intereses comerciales
de la vieja ciudad fenicia en las costas oceánicas. Las costas atlánticas peninsulares entran de esta
manera indirectamente en los intereses romanos, por lo que los pueblos costeros debieron irse fami-
liarizando a partir de ese momento con Roma como potencia colonizadora, a pesar de que el agente
directo fueran principalmente los navegantes gaditanos.
Sin embargo, el foedus Gaditanum del 206 a. C. no implica una sustitución radical de las mercancías
tradicionalmente comercializadas desde Gadir hacia la costa atlántica peninsular, el llamado “ciclo púnico
medio” de González Ruibal (2007: 512): ánforas de salazones neopúnicas como la Mañá‑Pascual A4, imita-
ciones grecoitálicas de la bahía gaditana, cerámicas griegas de barniz negro, cerámicas comunes “púnicas”,
cerámica ibérica, cuentas oculadas de pasta vítrea, etc. Desde comienzos del siglo II a. C. tan sólo detecta-
mos la inclusión paulatina de productos itálicos como las ánforas vinarias de la costa tirrénica Dressel 1 o
grecoitálicas, y las cerámicas romanas de barniz negro dentro de los cargamentos que se comercializaban
hacia el norte desde el Estrecho de Gibraltar, donde siguen siendo muy habituales las ánforas béticas neo-
púnicas, como la Mañá C2b. En este sentido, el llamado “ciclo romano” de González Ruibal presenta una
clara continuidad respecto al periodo anterior, sin duda debido a la propia incapacidad del propio comercio
itálico, que carecía de la potencia imprescindible para una actuación agresiva de este tipo.
Paralelamente aumenta la presencia de moneda romana de plata en la región, en forma de
tesorillos y ocultamientos, que implica su incorporación a los registros regionales indígenas como un
elemento de prestigio más en función del valor del metal, aunque evidentemente no podemos hablar de
una circulación monetaria. De nuevo en este caso, la zona meridional y costera concentra la inmensa
mayoría de los hallazgos, indicio inequívoco de la presencia romana (Centeno 1987; 2013).
Algunos autores consideran que una evidencia indirecta más de la presencia romana la encontra-
ríamos en las transformaciones territoriales y sociales que tienen lugar a partir del siglo II a. C. Uno de
los elementos más novedosos sería la aparición de los grandes castros o citânias (Briteiros, Sanfins,
Monte Mozinho, Santa Trega, Vigo), testimonio más significativo de los cambios que se están verificando
en la estructura del territorio (abandono y refundación de poblados, construcción de nuevos sistemas
defensivos, etc.) (Silva, 1986), debido a los movimientos de población derivados de las nuevas alianzas
entre las élites indígenas y la potencia colonial. El territorio de los bracari sería el epicentro de este
proceso, que se extiende entre el Duero y el Miño, región que presumiblemente primero cae bajo el
control de Roma y que tuvo como escenario las campañas de Bruto y Craso. Ya hemos señalado más
arriba que dicho fenómeno se ha leído tanto en clave endógena, consecuencia de la propia evolución de
las comunidades indígenas, como exógena, debida a la presencia romana en la región. Este fenómeno,
que según las últimas investigaciones arqueológicas se extiende hacia las Rías Altas, no es privativo
del área galaica, sino que se verifica en zonas más al oriente, como las llanuras meseteñas habitadas
por los astures (Orejas 1999).
Por lo que se refiere a las áreas interiores de Galicia y Portugal, más alejadas de la costa atlán-
tica en dirección a las elevaciones montañosas de transición hacia León y Zamora, la continuidad del
sistema de poblamiento prerromano nos habla de una presencia romana más tardía.
El periodo augusteo supone una intensificación de las transformaciones iniciadas siglos atrás como
consecuencia de la imposición efectiva del dominio romano sobre el territorio. Las guerras cántabras no
parecen tener repercusiones directas sobre la Gallaecia. Por el momento carecemos de asentamientos
militares propiamente dichos tanto al norte de Portugal como en las planicies gallegas. Sin embargo, las
excavaciones arqueológicas urbanas realizadas en las actuales ciudades de Braga (Morais et alii 2012,
e. p.) y Lugo (Rodríguez Colmenero 2006: 45) han revelado un ambiente militarizado de época augustea
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con un número creciente de materiales claramente vinculados al ejército romano, aunque no hayamos
identificado estructuras constructivas propiamente dichas (Morillo 2002: 75-76). No cabe duda que
su proximidad geográfica al territorio de los astures, debió al territorio de los galaicos de una especial
relevancia estratégica. El ataque romano hacia los confines occidentales de la Asturia Transmontana, al
mando del gobernador de la provincia Ulterior, P. Carisio, debió partir del territorio galaico. De nuevo la
zona de los bracari parece haber desempeñado un papel especial como base logística de operaciones
y aprovisionamiento, con el Cávado como via fluvial de penetración hacia el interior y el lugar donde se
asentó la futura Bracara como núcleo central del territorio y posible punto de ruptura de carga. Otra base
militar debió encontrarse en Lugo o sus cercanias, en esta ocasión situada en el límite del territorio en
el cual el dominio romano se encontraba perfectamente afianzado, para preparar el asalto al occidente
astur, las ulteriores Gallaecia partes mencionadas por Orosio (Morillo 2014: 145; Morillo 2014: e. p.). La
presencia de moneta militaris con reverso la caetra del tipo RPC1, RPC2 y RPC3 en todo el Noroeste, con
especiales concentraciones en Braga y Lugo, confirmaría la presencia de un ejército en armas en época
augustea (Centeno 1987; Pérez González et alii 1995: 204‑205, fig. 4 y 5).
Con el final de las guerras cántabras se inicia un modelo radicalmente diferente al del periodo
republicano en cuanto a implantación territorial. Comenzamos a contar con evidencias arqueológicas
directas de la actuación del estado romano, como son los asentamientos ex novo de tipología mediter-
ránea creados como centros políticos y administrativos de los pueblos galaicos: Bracara Augusta, en
tierras meridionales, y Lucus Augusti, capital de los galaicos norteños. Si Bracara viene a consolidar
un proceso de aculturación regional que había comenzado siglos atrás, Lucus significa la incorporación
de la Gallaecia interior a un nuevo sistema, con escasos precedentes en época tardorrepublicana, ya
que en este área no se había producido los cambios en la estructura del territorio que se verificaron
entre el Duero y el Miño por influencia romana. La fundación de dichos centros supone el arranque del
fenómeno urbano en una región carente hasta ese momento de ciudades en el sentido estricto del
término. Asimismo las nuevas ciudades constituyen las bases de una política de articulación territorial
basada en la creación de un sistema viario que une entre sí las tres capitales del noroeste, las dos
galaicas y Asturica Augusta, en el convento astur.
En un segundo nivel, por debajo de estas fundaciones, subsiste la estructura del poblamiento
anterior, aprovechada de forma selectiva por Roma que introduce en toda la región noroeste el modelo
de la civitas para el control administrativo y fiscal. En época augustea se mantienen los grandes castros
del área galaica meridional. Poco a poco, a lo largo de las primeras décadas del siglo I d. C., junto a ellos
aparecen nuevas formas de ocupación en los valles y en la línea costera, como las aglomeraciones de
tipo secundario o los establecimientos rústicos, en relación directa con la explotación de los recursos
agropecuarios, marítimos o mineros. Estos asentamientos irán adquiriendo un mayor protagonismo en
detrimento de los viejos poblados, que se mantienen hasta finales del siglo I o el primer tercio del siglo
II d. C. (Fernández Ochoa y Morillo 2005).
En resumen, el territorio de los galaicos aparece como un espacio muy diversificado, en el que
la presencia romana se manifiesta con una marcada dualidad derivada de la proximidad al Duero y
a la costa atlántica. Las áreas más meridionales y occidentales, ya frecuentadas por los navegantes
mediterráneos con anterioridad, entran en contacto con Roma desde mediados del siglo II a. C. Dicho
contacto debió de suponer una aceleración de la evolución interna de las sociedades preexistentes.
No cabe duda que esta situación deriva de un modelo de actuación por parte de la potencia colonial
todavía escasamente estructurado, donde prima el interés de cada general o gobernador por el botín
rápido y la rapiña a las comunidades indígenas dominadas frente a una explotación sistemática de los
recursos disponibles. El papel de las élites locales como intermediarias entre las demandas de Roma y
la resistencia por parte de la población local a los cambios inevitables que ello implicaba debió desen-
cadenar profundas transformaciones sociopolíticas y territoriales, dentro de las cuales el ascenso de
los grandes castros o citânias podría ser una de las más significativas.
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Sin embargo, el hecho de que carezcamos hasta época augustea de asentamientos de raiz romana,
aún cuando el dominio parece indiscutible un siglo antes, nos trasmite una imagen de un proceso de
implantación romana relativamente lento y escasamente planificado, del que incluso regiones enteras,
como las áreas montañosas más orientales y quizá la costa septentrional, quedaron casi al margen.
Otro de los rasgos determinantes de este modelo galaico parece ser el escaso papel desempeñado
por el ejército romano. Las expediciones de conquista o exploración apenas han dejado huellas visi-
bles sobre el terreno hasta la fecha, más allá de algunos materiales en los niveles fundacionales de
Braga y Lugo de interpretación muy problemática, que definen únicamente un ambiente militarizado
coincidiendo en el tiempo con las guerras cántabras y los años posteriores. Por otra parte no existen
establecimientos miltiares permanentes tardorrepublicanos o altoimperiales en la Gallaecia meridonal
y son escasos en la actual Galicia, lo que reduce su impacto en la población. Seguramente debemos
vincular este hecho al reducido papel que las explotaciones auríferas tuvieron en tierras galaicas, que
se concentraron en zonas concretas como el valle del Miño (Currás 2014) y las áreas de los iuga Astu‑
rum colindantes con los astures.
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Estrabón, Dión Cassio, Floro y Orosio8 guardan silencio sobre aspectos básicos para el conocimiento
de la estrategia romana de conquista.
En los últimos años se han producido progresos arqueológicos muy significativos en este campo.
En el año 1996, se identificaron arqueológicamente los primeros campamentos de campaña asocia-
dos directamente con las guerras cántabras (Peralta, 1999; 2000), a los que se han ido añadiendo un
número creciente de recintos militares romanos y de asentamientos indígenas con evidencias de asedio.
Gracias a estos testimonios, podemos ya aproximarnos de una forma más rigurosa a la estrategia de
conquista del territorio cántabro en el año 26 a. C. (Morillo, 2014: 145), aunque subsisten todavía muchas
incógnitas sobre el dominio del territorio astur (25 a. C.) y las campañas posteriores del 23 y 19 a. C.
La compartimentación espacial del territorio, y su más que probable falta de unidad en la respuesta
ante la agresión de la potencia colonizadora, nos hace plantearnos que la estrategia militar aplicada
por Roma fue muy diferente a la que la tradición historiográfica transmite habitualmente. Lejos de
enfrentarse con un pueblo políticamente estructurado, debe hacer frente a diferentes grupos humanos
que habitan en un medio natural que dificulta los contactos, con diferentes niveles de organización
socioeconómica y cultural y, por lo tanto, con intereses muy diversos y, a menudo, divergentes. La acti-
tud de las elites dirigentes de estos grupos frente a Roma fluctuará entre el enfrentamiento directo y el
colaboracionismo. Algunos indicios apuntan que algunas comunidades optaron por esta vía, tanto entre
los astures como entre los cántabros9. Con toda seguridad, Roma contó con aliados fiables también
entre los pueblos cántabros (Morillo 2014: 141‑142).
Los datos arqueológicos que se van conociendo confirman estas diferencias de comportamiento
entre unas y otras comunidades. Tal y como apuntó Orejas para el territorio astur meridional, no pode-
mos hablar de una respuesta única sino de múltiples resultados desde el punto de vista arqueológico,
que van desde la reorganización coyuntural del poblamiento, destrucciones, abandonos forzados o
pacíficos de castros, hasta la continuidad de la ocupación de algunos núcleos preexistentes (Sánchez
‑Palencia et alii 1990; Orejas 1999: 30‑31). Todo ello debe ocultar las distintas respuestas políticas de
estos grupos ante Roma: el choque frontal con algunas tribus que daría lugar a auténticos asedios o
batallas campales (la Espina del Gallego, La Loma), la guerra de guerrillas y la retirada indígena hacia
lugares menos accesibles en busca de refugio, el sometimiento pacífico por vía de pactos o por la
simple fuerza de los acontecimientos, grupos que se mantendrán en los mismos oppida, etc. Por otra
parte, en un momento tan temprano resulta muy difícil determinar si el abandono o la amortización de
la facies prerromana en los castros, de lo que vamos conociendo numerosos ejemplos tanto al norte
como al sur de la Cordillera, tiene como motivación inmediata el desarrollo de las campañas militares
de conquista, o bien se produce como consecuencia de la paulatina transformación de estructuras en
la que se ve inmerso el territorio tras su completa pacificación (Fernández Ochoa y Morillo, 1999: 37).
De cualquier forma, el impacto de la conquista no se traduce en signos de violencia generalizada
en los asentamientos cántabros y astures. Por lo tanto, es lícito pensar en una ocupación en su mayor
parte pacífica, que se traduce más en un control territorial que en una acción violenta destinada a
someter por la fuerza a unos pueblos libres e imponer de raíz nuevas normas y modos de vida romanos.
El final de la guerra inaugura una etapa nueva en esta región de mucha mayor trascendencia
para la implantación romana en el noroeste peninsular, periodo que hemos denominado “Paz Armada”
(Morillo 2002: 77). Entre el 19 y el 15 a. C. la guarnición asignada a la provincia queda reducida a tres
legiones. Un legado se encontraría al mando de dos legiones en el área astur, mientras un segundo
8 Estrabón, Geog.III; Dion Cassio, Hist.Rom. LI‑LIV, Floro, Epit. II, 33, 46‑60; Orosio, Hist. VI, 21.
9 En el ámbito astur, la comprobada existencia de pactos con las comunidades indígenas en un momento muy temprano, como el llamado
Edicto del Bierzo, datado el 14 a. C. (Sánchez Palencia y Mangas 2000; Grau y Hoyas 2001), confirma la existencia de contactos políticos con los
pueblos contendientes durante la guerra, y tal vez incluso con anterioridad. Asimismo es bien conocida la referencia de las fuentes a la traición
de los brigaecinos durante la campaña astur. Dicha “traición” parece pivotar sobre algún arreglo pacífico con dicha comunidad con Roma frente
al resto de los astures.
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legado con una única legión estaba asentado en territorio cántabro10. Las evidencias arqueológicas
han posibilitado la identificación de los cuerpos militares que componen dicha guarnición estable
desde finales de las campañas augusteas. Hoy en día no cabe duda de que las legiones VI victrix y X
gemina estuvieron asentadas en territorio astur, en León y Astorga‑Rosinos respectivamente, mientras
la IIII Macedonica se estableció en el límite meridional de Cantabria, en el campamento legionario de
Herrera de Pisuerga (Palencia). Situados en emplazamientos estratégicamente elegidos desde el punto
de vista geográfico y topográfico en relación con las vías naturales de comunicación, configuran un
cordón protector de asentamientos militares permanentes al sur de la Cordillera Cantábrica y al este
de los Montes de León (Morillo 2002).
Junto a las funciones estrictamente militares, el ejército adquiere un papel protagonista en la
organización administrativa de este territorio, la dotación de infraestructuras y la explotación económica,
constituyendo el agente empleado por la administración romana para introducir su poder en esta región
periférica. Sin duda el trazado de vías fue uno de sus cometidos más destacados. En este periodo se
articulan las conexiones entre Bracara Augusta y la zona astur a través de la región portuguesa de
Tras‑os‑Montes (vía XVII del Itinerario de Antonino) y de Lucus Augusti (vía XIX), siguiendo posiblemente
vías militares del periodo de la conquista. Asimismo se acometen las calzadas que conectan la Meseta
con la costa cantábrica en el territorio cántabro y, posiblemente, en la zona astur.
Esta militarización del territorio meridional de astures y cántabros, que supone la presencia de
un notable contingente de población, en su mayoría de origen itálico en varios campamentos, supuso
sin duda un primer impacto romanizador en una región que había permanecido al margen de las redes
de comercialización mediterráneas, que se vio refrendado algo más adelante por la aparición de las
primeras fundaciones urbanas, de las cuales Asturica Augusta, sería el mejor ejemplo. A juzgar por el
registro estratigráfico, en este lugar existió un campamento legionario creado entre el 15‑10 a. C., que
a comienzos del reinado de Tiberio se convierte en ciudad (Morillo y García Marcos 2000: 598‑599). En
comparación con las fundaciones urbanas del área galaica (Lucus, Bracara), supone un retraso de al
menos 30 años en el proceso de implantación, lo que indica que estamos ante una casuística diferente.
A lo largo de las décadas siguientes, siguiendo el proceso general de implantación romana regional
veremos aparecer otro tipo de asentamientos, como aglomeraciones secundarias, establecimientos
rústicos, etc, empleando el modelo de la civitas como eje vertebrador del territorio a nivel político y
territorial (Fernández Ochoa y Morillo 2005).
A diferencia del territorio galaico, en este caso nos encontramos con un proceso de romanización
mucho más acelerado y concentrado en el tiempo, que obedece sin duda a una planificación cuidado-
samente meditada, en la que el ejército y la administración desempeñaron un papel trascendental en
las transformaciones de las formas de ocupación y modos de vida.
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igual que los territorios más orientales meseteños. Sin embargo, a diferencia de aquellos, las pendientes
abruptas de los Montes de León y los valles interiores (Bierzo, Valdeorras), así como las cuencas mineras
del occidente asturiano (valles de Navia y Porcía) no llegaron a desarrollar asentamientos urbanos a la
manera clásica. Tampoco se verifica la presencia de asentamientos de tipología militar “canónica” con
posterioridad a la conquista y los momentos inmediatamente posteriores, si bien se detecta un innega-
ble ambiente militarizado, evidencia de una presencia del ejército activa en la zona, el modo en que se
articula dicha presencia sigue siendo una de las incógnitas a despejar por la investigación en el futuro.
No obstante, la transformación de estos territorios periféricos fue si cabe más rápida y radical
que la de las regiones circundantes. El interés de la administración romana por los recursos auríferos
regionales motivó una reorganización en las formas de ocupación y explotación del territorio castreñas,
en el que aparece un nuevo patrón de poblamiento. Los territorios autosuficientes del periodo anterior
dejan paso a un sistema nuevo, basado en redes de poblamiento jerarquizadas, en función de las exi-
gencias de productividad que impone el estado romano a cada uno de los asentamientos vinculados
a la mineria. En esta nueva estructura destaca la continuidad de algunos núcleos prerromanos que se
convirtieron en “lugares centrales”, aglomeraciones secundarias como Las Pedreiras del Lago, Huerña o
Chao Samartín, acompañados por otros de escala regional en relación directa con el papel vertebrador
de las vias y del propio funcionamiento de la administración (La Edrada‑Bergidum Flavium, Las Murielas
de Almázcara‑Interaminium Flavium) (Ruiz del Árbol et alii 2000: 236).
El patrón de implación en los distritos mineros presenta similitudes con los territorios meridionales
de cántabros y astures, como son la planificación estatal y la presencia del ejército como uno de los
agentes principales de la acción de Roma. Sin embargo, en este caso, la transformación respecto al
sistema de poblamiento anterior, periférico y retardatario, fue mucho más radical y se orientó en un
sentido muy diferente al de aquellas áreas. Esta actuación supuso la metamorfosis del paisaje de las
comunidades prerromanas, pero no su adecuación a modelos cívicos clásicos de las zonas urbanizadas,
sino a un patrón que sigue dando una imagen de territorio ruralizado. Se articulan entre sí espacios
antes fragmentados e independientes, pero no en beneficio de las élites locales, como en otros territo-
rios, sino del propio Estado, que creó una compleja infraestructura destinada al control y explotación
de los recursos auríferos, interés prioritario del Estado durante al menos dos siglos.
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fue imprescindible para el control del territorio cántabro y astur central, mientras que el empleo de los
fáciles pasos naturales desde tierras de los galaicos pudo ser determinante en el extremo occidental.
A diferencia de lo que observábamos en los distritos auríferos, con los que este sector guarda
innegables concomitancias, en este caso Roma no interviene de una manera tan directa, temprana
y planificada en la transformación del modelo de poblamiento prerromano, manteniéndose los viejos
castros ocupados hasta finales del siglo I d. C. o comienzos del siglo II (Fernández Ochoa 2006: 282).
Se detecta un ritmo mucho más lento del proceso de implantación, que se articula desde las tierras
interiores, al otro lado de la Cordillera, hacia la costa. La presencia militar parece concentrarse en
las décadas inmediatamente posteriores a la conquista. No hay fundaciones urbanas propiamente
dichas como en las zonas más meridionales y el Estado se limita a potenciar de forma selectiva viejos
núcleos indígenas como Campa Torres, el probable enclave de Noega, para convertirlos en centros
regionales. O crea otros de nuevo cuño, en relación directa con las vías de comunicación y las nuevas
posibilidades generadas por la apertura de la ruta marítima cantábrica a lo largo del periodo julio-
claudio. Aparecen así centros secundarios como Lucus Asturum (Lugo de Llanera, Asturias), Gijón,
Portus Victoriae (Santander) o Santoña, por poner tan solo algunos ejemplos (Fernández Ochoa y
Morillo 1994: 184‑185; 2013: 81).
A partir de estas reflexiones sobre la casuística de los diferentes territorios que integran el espacio
geográfico comprendido entre el Duero, la vertiente meridional de las montañas cantábricas y las cos-
tas atlánticas, se perciben, a nuestro juicio, diferentes patrones de actuación de Roma. Su presencia
impacta sobre un sustrato precedente también heterogéneo, lo que nos lleva a plantear la existencia
de distintos “modelos” específicos dentro de la visión genérica de la romanización del noroeste.
El modelo galaico está determinado por una dualidad derivada de su mayor o menor proximidad al
Duero y a las costas atlánticas, lo que determina la coexistencia de ámbitos más abiertos y evolucionados
y otros más aislados y retardatarios. La llegada de Roma fue muy temprana en este sector, verificándose
desde mediados del siglo II a. C., si bien no se plasma en asentamientos típicamente romanos, sino que
se evidencia a través de la propia evolución de la sociedad castreña que se va transformando política
y territorialmente. No será hasta época augustea cuando aparezcan las primeras fundaciones urbanas
en un ambiente militarizado, aunque el papel del elemento militar romano en este ámbito será siempre
mucho más reducido que en las áreas vecinas situadas más al Oriente, sin duda debido al menor peso
de las explotaciones auríferas en tierras galaicas.
Frente a éste modelo, las tierras meseteñas de Asturia y Cantabria presentan una casuística muy
diferente. La conquista de este espacio se retrasa más de un siglo, hasta las guerras cántabras, en
época augustea. El impacto generado en el territorio por la considerable presencia de población itálica,
miembros del ejército y la administración estacionados al sur del Cordillera Cantábrica en campamentos
y ciudades como Asturica tras el final de la guerra, tiene como consecuencia un proceso de romanización
mucho más acelerado en el tiempo, con resultados trascendentales sobre las formas de ocupación del
territorio y los modos de vida. El peso de la maquinaria estatal (ejército y administración vinculada a la
explotación minera) se mantendrá en este sector durante varios siglos.
A pesar de las similitudes que presenta respecto al modelo anterior, tanto por su proximidad geo-
gráfica como por su vinculación económica y funcional, se pueden segregar los distritos auríferos astures
como un área diferenciada. Comparte con la anterior una presencia romana establecida a partir de
Augusto y un impacto romanizador más acelerado, así como el peso de la planificación estatal a través
de la administración y el ejército. Sin embargo, el resultado será distinto, en función de las exigencias
derivadas de una explotación minera intensiva bajo estricto control estatal. El paisaje se transformó
radicalmente respecto al mundo retardatario y aislado de las comunidades prerromanas, pero se
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mantiene alejado tanto de los modelos precedentes como de los patrones habituales de implantación
romana, lo que le confiere su especificidad.
Finalmente, los territorios transmontanos de cántabros y astures no afectados por las explotacio-
nes auríferas presentan un panorama diferenciado respecto al resto del noroeste, aunque compartan
muchos rasgos en común, como por ejemplo el momento de integración en la órbita romana tras la
conquista. No obstante, el peso de la administración y el ejército apenas se dejan sentir en este sector,
al igual que ocurría en el territorio galaico. Ni siquiera tienen lugar fundaciones urbanas propiamente
dichas como en las áreas más meridionales, y sólo el desarrollo provocado por el progreso de la romani-
zación (instauración del modelo de civitas, incorporación a las redes comerciales marítimas y terrestres)
tendrá como consecuencia una transformación progresiva del paisaje hacia modelos de corte romano.
En definitiva, los elementos que consideramos rasgos distintivos de la romanización del norte
y noroeste peninsulares (paisaje físico y humano diferentes a las tierras meridionales, el momento
avanzado de conquista, la presencia del ejército y la importancia de las explotaciones auríferas) están
presentes en todo este ámbito, pero una visión más detallada permite vislumbrar que el peso de cada
uno de estos elementos tuvo notables oscilaciones entre unos y otros territorios, hecho que habría que
tener en cuenta a la hora de aproximarse a los patrones regionales de implantación romana.
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Fig. 1 – Zonificación aproximada de los diferentes modelos de romanización del cuadrante noroeste peninsular. 1.
El territorio galaico; 2. Las tierras meseteñas de Asturia y Cantabria; 3. los distritos auríferos; 4. Asturia y Cantabria
transmontanas.
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Ferreira, José da Silva; Silva, Armando Coelho Ferreira da — Aras Romanas na Freguesia de Sá (Arcos de Valdevez)
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RESUMO:
Notícia do achado, análise descritiva e estudo epigráfico de duas aras romanas, inéditas, na
freguesia de Sá, Arcos de Valdevez, no Alto Minho, uma anepígrafa e outra com uma inscrição
votiva dedicada ao Sol Invictus ou Mitra, interpretável como referência heliolátrica da tradição
indígena das comunidades castrejas, cuja importância se releva no âmbito da penetração dos
cultos orientais no noroeste peninsular no quadro da romanização.
Palavras‑chave: Alto Minho, Sol Invictus / Mithra, heliolatria.
ABSTRACT:
Information about the finding, descriptive analysis and epigraphic study of two roman altars,
unpublished, from the parish of Sá, Arcos de Valdevez, in Alto Minho, one anepigraphic and
another with a votive inscription dedicated to Sol Invictus or Mithra, interpretable as a reference
to the indigenous tradition of the hill – forts communities, whose importance falls within the
introduction of Eastern cults in the peninsular northwestern under the Romans.
Keywords: Alto Minho, Sol Invictus / Mithra, heliolatry.
O particular interesse pela Arqueologia e pela História do concelho de Arcos de Valdevez, distrito
de Viana do Castelo, tem feito chegar ao conhecimento de um dos signatários deste texto informações
que, depois de exploradas, com frequência se revelam de certa relevância, de algumas delas publicando
o seu estudo (Ferreira 1985 ‑1986, 1987, 2012, 2015).
Foi o que aconteceu neste caso, em que se dá conta da existência de um monumento epigráfico
romano na freguesia de Sá, deste concelho, que, associado à referenciação congénere de outra ara,
ainda que anepígrafa, na mesma freguesia, poderá constituir um valioso contributo para o conheci-
mento da romanização regional, conforme queremos sublinhar, em simples homenagem, ao nosso
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querido amigo Fernando Acuña Castroviejo, pela sua investigação em território (geográfico, cultural e
simbólico) historicamente comum.
Com efeito, tendo chegado recentemente até nós (J.S.F.) a notícia que na igreja paroquial de
Sá, situada num dos pontos mais elevados da freguesia, a 13 quilómetros da sede do concelho, se
encontrava desde há muitos anos “uma pedra com letras”, visitámos o local, acompanhados pelo
pároco, Padre Nelson Barros, e por José Barreiro de Brito, ex‑presidente da junta de freguesia, tendo
sido confrontados com uma ara romana de consideráveis dimensões, parcialmente danificada no seu
capitel e epigrafada numa das faces.
E, aquando dessa primeira visita a esta igreja, mais nos informou o Sr. José Barreiro que num monte
vizinho, acerca de 400 metros, existia uma pedra parecida, que servia de limite desta freguesia com a
de Vilela, conhecida por “Marco do Padrão”. Na visita ao local constatámos que era uma segunda ara,
com um ar de família com a da igreja e certamente procedente do mesmo contexto, quer oficinal quer
litúrgico, cumprindo relevar a existência de duas aras romanas numa localidade que se insere numa
região reconhecidamente pobre em tais monumentos.
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Ferreira, José da Silva; Silva, Armando Coelho Ferreira da — Aras Romanas na Freguesia de Sá (Arcos de Valdevez)
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SABINV Sabinu‑
S ALBINI F s Albini f(ilius)
VOT . SOLI vot(um) Soli
4 I . SOLVIT I(nvicto) solvit
Tradução: Sabino, filho de Albino, cumpriu um voto ao Sol Invicto.
Na linha 1 está gravado o cognome latino SABINV, em nominativo, indicador do dedicante, que
se completa com a primeira letra, um S, da segunda linha. Começa por uma letra com 65mm, de
maiores dimensões que as restantes, certamente por ser a inicial; a segunda letra é um A em posição
oblíqua assente quase verticalmente sobre a haste esquerda, a terceira é um B ligeiramente inclinada
à esquerda, a quarta um I simplesmente indicado por um traço vertical, e a seguinte um N, com ângulo
aberto, com inclinação para a direita, aparecendo a última, com menor altura, já no canto da face ante-
rior com a lateral direita bastante erodida por um desgaste polido ao longo da aresta, que terá servido
em qualquer circunstância como amolador, traindo genericamente a regularidade das dimensões e da
tipologia dos caracteres capitais.
Na linha 2 está o S final do nominativo SABINVS seguido do genitivo ALBINI, designativo da filiação,
cuja presumível gravação não se vê com clareza no fim da linha, na forma de um F; as espiras do S estão
quase fechadas, sugerindo a forma de um B, que designaria como alternativa a filiação de BALBINI, que
preterimos. Pois, segundo parece a primeira letra do nome é a seguinte, um A, com 55mm, também de
maiores dimensões, ainda que só ligeiramente, que as restantes. De resto, nota‑se maior regularidade
quanto ao traçado e morfologia, com exceção para o L, levemente inclinado para a esquerda.
A linha 3 está mais desnormalizada. Das três letras da expressão votiva, VO aproximam‑se de um
perfil esguio e o T em posição sobreelevada com o travessão mal definido, separadas por um ponto
distinguente da palavra seguinte, onde se percebe um S, com 52 mm, também maior que as restantes
letras, com a espira superior quase fechada, igualmente sobreelevada, um O ovalado na vertical, mais
pequeno, seguido de um L com a base inclinada para baixo e como letra final o traço vertical de um I,
dativo da palavra SOL, referência teonímica.
A linha 4 mostra o traço vertical de um I, interpretado como epíteto da divindade, seguido de um
ponto distinguente bem visível, aparecendo a palavra final, como expressão de pagamento da promessa,
SOLVIT, com o perfil esguio, o S, com espiras abertas, inclinado à direita, o O ovalado, de menores
dimensões, o L com a haste da base vestigial e as letras finais muito regulares.
As considerções de teor paleográfico apontam para a atribuição de uma cronologia tardia, even-
tualmente, do século II /III.
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No seu aspecto geral, esta ara é parecida com a anterior. O seu material é granito de grão fino e
duas micas; as faces do corpo foram trabalhadas e apresentam uma superfície lisa; no capitel, dani-
ficado, não se identificam nem toros, nem frontões e, bem assim, o fóculo; mas, na sua face superior,
uma ondulação suave sugere que aqueles componentes existiram mas foram quase apagados por uma
erosão de muitos anos sobre um capitel que deve ter sofrido danos anteriores à erosão. A transição
para o corpo apresenta uma moldura imperfeita, e a transição deste para a sapata não tem qualquer
moldura. A sapata é robusta, tem uma forma paralelipipédica, onde o corpo da ara se continua numa
posição um pouco excêntrica em relação a esta base.
Para identificarmos a base desta ara fizemos uma escavação à sua volta com 1m de raio e, em
profundidade, até a expormos completamente. Na terra e pedra miúda, que retirámos e recolocámos,
não se encontrou qualquer objeto que com a ara se pudesse relacionar. Também fizemos uma inspe-
ção na superfície e muros daquela zona da montanha, sem acharmos qualquer dado que se pudesse
relacionar com a presença da ara.
As dimensões desta ara são:
–– Altura total – 92 cm
–– Altura do capitel – 24 a 27 cm, divididos por um sulco profundo que percorre as quarto faces do
capitel, em duas partes. A superior, de altura variável entre 13 e 16 cm; a inferior, com 11 cm
–– Corpo: Altura – 48 cm; Largura, nas faces poente e nascente – 31 cm; nas faces norte e sul – 37 cm.
–– Sapata – Altura – 20cm; na base, 41‑42 x 51‑56 cm.
COMENTÁRIO
São, efetivamente, muito raros os registos epigráficos votivos do Alto Minho, podendo indicar‑se
apenas mais quatro achados na área do município de Arcos de Valdevez.
O primeiro, ocorrido já nos finais do século XIX, trata‑se de uma ara referenciada na capela de
S. Cipriano, da freguesia de Santa Vaia de Rio de Moinhos, pelo ilustre arqueólogo conterrâneo, Félix
Alves Pereira (1923 – 1924, 257‑260), que a depositou no Museu Nacional de Arqueologia (MNA, Invº
E ‑ 6158), de que era prestigiado funcionário.
Dedicada a uma divindade indígena designada como Caro, a que se atribuem funções guerreiras
(Silva 2007, 437, nº 674, epig. 89; Redentor 2011, 2, 18‑19, nº 009) relacionáveis com o Castro de
Anhó (Silva 2007, 118, nº187), conta com paralelos numa inscrição de Lisouros, Cunha, Paredes de
Coura, declaradamente votada a Marti Caro (Silva 2007, 437, nº 673, epig. 88; Redentor 2011, 2, 107,
nº 140) e também com Marti Carieco, de Santa Eulália, Refóios do Lima, Ponte de Lima (Silva 2007,
nº 436, nº 672, epig. 87; Redentor, 2, 98, nº127).
Duas outras (Redentor 2011,2,103, nº 134; 103‑104, nº155), que foram encontradas na freguesia
de Giela, reportar‑se‑ão à Quinta do Real, classificada como uma villa romana (Carvalho 2008, 89),
sendo dedicadas a uma entidade teonímica eventualmente identificável com os Lares, em consideração
aos dois caracteres, LA, dessa designação.
Uma quarta, fragmentada, foi identificada, em 2000, na igreja paroquial de Miranda, do mesmo
concelho, mas diz respeito a uma divindade desconhecida (Redentor 2011, 2, 109, nº 143).
Havidos os registos invocados como interpretationes de testemunhos de cultos de origem reconhe-
cidamente pré‑romana, ora com significado guerreiro ora como de tutela do território, com esta nova
referência a uma invocação heliolátrica, poder‑se‑ão revelar novos dados sobre o processo aculturador
do mundo indígena face ao domínio romano, tornando visível o crescente sincretismo do seu panteão.
A maior novidade deste monumento epigráfico dedicado ao Sol I(nvictus), identificado com Mithra,
consistirá justamente em tornar‑se em raro testemunho da penetração dos cultos orientais no noroeste,
que, a par de Cybele, Isis e Serapis, se reconhecem quase só como testemunhos cultuais por parte de
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personagens oficiais, de que são conhecidas (Tranoy 1981, 332, 334‑335) as inscrições de Astorga
oferecidas pelos procuradores a Isis, Serapis e Mithra (AE 1968, 230 e 232) e a inscrição do legado
dedicada, como a ara de Sá, ao Sol Invictus (CIL II, 2634; ILER, 189), assim como a dedicação de L.
Cassius Alpinus e M. Cassius Alpinus, em León (AE 1967, 223; ILER, 189), e ainda, e em maior proxi-
midade, a dedicação de Lucretia Fida, em Braga, cujo caráter oficial está indicado pela qualificação de
Augusta dada a Isis e pela qualidade da dedicante, sacerdotisa do conventus (CIL II, 246; ILER, 352).
Para além destas aras e de outros vestígios de cultos orientais reconhecidos no noroeste, apenas
três inscrições fazem alusão ao culto a Mitra: a primeira, encontrada em Caldas de Reyes, e que se
perdeu (CIL IIS, 5365; García y Bellido 1967, 112, nº 9), outra, que é um altar fragmentário dedicado
ao Deus Invictus Sol Mythra, proveniente da região de Santiago de Compostela (IRG I, 5; ILER, 292;
Le Roux ‑ Tranoy 1973, 222), e uma terceira, encontrada em La Isla (Colunga, Oviedo), no conventus
Asturum, que apresenta um texto mais completo, com fórmulas litúrgicas e referências hierárquicas
(CIL II, 2704 e CIL IIS, 5728; García y Bellido 1967, 38, nº 26).
Apesar da sua localização na Lusitânia, conforme observou A. Tranoy (1981, 335), pode somar‑se
a estes altares oferecidos a Mitra, a oferenda feita a este deus pelos habitantes de Braga instalados
em Pax Iulia (Beja), o que dá a entender que o culto devia existir também na sua cidade de origem, pois
que se reúnem em torno desta divindade na capital do conventus pacensis (García y Bellido 1967, 34,
nº 15), tornando‑se, assim, no testemunho de maior proximidade relativamente à ara de Sá.
Mas o que relevará ainda a dedicação da ara de Arcos de Valdevez será a sua distinção deste
enquadramento religioso oficial, havendo‑a como manifestação mais pessoal de uma fé individual, que
cremos ter enquadramento tradicional na religiosidade indígena.
Para este entendimento nos remeterá a onomástica do dedicante, que é indicado por um cog-
nome latino, de origem étnica, Sabinus, frequentemente adotado, em substituição da denominação
indígena, com o avanço da romanização na antroponímia peninsular, onde ocupa o 25º lugar no total
de 72 cognomina identificados (Abascal Palazón 1994: 493).
Na região, parece registado numa inscrição votiva de Reiriz, freguesia de Troviscoso, concelho
de Monção, por sinal, como dedicante de uma expressão de voto duplicada, V.S. V.S., v(otum) s(olvit)
v(otum) s(olvit) (Redentor 2011, 2, 105 , nº 137), e noutra ara votiva, da freguesia de Vilela, concelho
de Amares, aparece como cognome de um Lucretius (Redentor 2011, 2, 89‑90, nº 115).
Do mesmo modo, o nome do seu pai, Albinus, está bem testemunhado por toda a península
ibérica, contando com cerca de meia centena de registos (Abascal Palazón 1994: 265). Por vezes
meramente considerado como de origem latina, este antropónimo constituirá, antes, segundo suges-
tão de J. Untermann (1965, 23), um nome plenamente romano que substitui um nome indígena,
devendo precisamente a popularidade das formas latinas a nomes de naturais de forma semelhante,
certamente por serem derivadas do mesmo radical indo‑europeu *Alp‑, bem testemunhado na área
céltica peninsular (Untermann 1965, 23), em especial, na Calécia meridional, onde também aparece
como referência étnica (Silva 1982‑1983: 86‑87, est.1). Quadrará bem esta referência, que se deduz
com o significado de “altura, elevação, montanha”, com o ambiente castrejo do seu achado, com mais
aproximação ao Castro das Necessidades, da freguesia de Cabreiro (Silva 2007, 117, nº 184) e ao de
Álvora (Silva 2007, 117, nº 182), do outro lado do Vez.
E, sem outros dados arqueológicos e epigráficos disponíveis, não temos como certo que se trate
do cumprimento de um voto por parte de um iniciado nos mistérios mitraicos, podendo a sua oferta
ser dirigida à divindade tomando‑a como nume do panteão romano e não necessariamente como divin-
dade oriental, exótica, como observou A. Redentor (2011,1, 369) a propósito de ex votos congéneres
à Mater Deum / Cybele. Supomos mesmo, nestas circunstâncias, que se tratará de uma interpretatio
heliolátrica castreja bem simbolizada, na região, em numerosos petróglifos de santuários rupestres,
em elementos arquitetónicos, nomeadamente, na ornamentação das “pedras formosas” ou estelas de
entrada dos monumentos balneares, como o do Castro das Eiras (Silva 2006, 15‑16 e 2007, 117, nº
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179), ou na representação da estatuária de guerreiros, como o de Cendufe, que nos foi dado a conhecer
por F. Alves Pereira (1908), considerando, em especial, a solarização do escudo e a decoração do cinto
e dos terminais dos torques, entre outras jóias e adereços emblemáticos.
Mais, não estranhamos que este estudo de caso transmita ainda algo da sacralidade desta tradição
que se percebe em vários registos herdados pelo Cristianismo por via dos cultos mitraicos.
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RESUMO:
Desde a antiguidade, foram atribuídas ao texugo virtudes especiais: medicinais, apotropaicas
e propiciatórias. As últimas manifestações registaram‑se a meados do século XX, quando a sua
pele e as suas garras passaram a ser usadas contra o mau olhado e a inveja, para pessoas e
animais. Em Piornedo (Lugo), quando os bois eram levados à feira, punham‑lhes um chocalho
com pele de texugo, afirmando que era um enfeite, mas o mesmo se fazia nessa época em
outros lugares fora de Galiza contra o mau olhado.
Palavras‑chave: Texugo; Chocalho; Mau olhado; Superstição.
ABSTRACT:
Special virtues are attributed to european badger (Meles meles L.): medicinal, apotropaic and
propitiatory. Last shows are registered about the middle of the XX century, using skin and claws
against evil eye and envy to protect people and animals. In Piornedo (Lugo), when they took oxen
to fair used to put them a cowbell with badger skin, affirming it was an adornment, but at this
time it was made the same in other places outside Galiza against evil eye.
Keywords: Badger; Cowbell; Evil eye; Superstition.
1. Introdución
Na Palloza‑Museo “Casa do Sesto” de Piornedo, na Serra dos Ancares, xusto onde confinan León,
Asturias e Galiza, entre os múltiples apeiros e trebellos agropecuarios que se usaron nesta comarca
ata hai uns cincuenta anos, sobresaen dúas chocas ou chocallos distintos dos demais, que pasan
desapercibidos polos visitantes (Fig. 1).
Non son de chapa de ferro, senón de metal fundido nun molde como as campaíñas que se
usan nas igrexas, de aí que se coñezan por “campanos” e non por chocas, e malia que sexan
semellantes, entre ambos os dous existe unha diferenza notable á que xa se teñen referido algúns
autores, pois mentres os primeiros ao seren de fundición os do mesmo grandor teñen igual son, o
das segundas sempre varía, de xeito que o gandeiro sabe se se trata ou non do seu gando (Aran-
zadi: 1945, I, 491).
O uso destes trebellos non reviste nada especial, pero si os dous “campanos” da Palloza‑Museo
“Casa do Sesto” que contan cun elemento que os fai únicos agora entre os que coñecemos, aínda que
se sabía da súa existencia nesta comarca montañosa dende hai moitos anos: a correa que vai ao pes-
cozo está adornada con pel de teixo ou teixugo, que lle confire un gran valor apotropaico para afastar
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o mal e propiciar o ben, a pesar de que actualmente se perdese esa crenza mesmo entre as persoas
maiores que de nenos aínda andaron cos bois enfeitados co “campano”, pois ‑cando menos na última
época‑ o seu uso restrinxíase a cando levaban estes animais á feira e, en particular, á do Espín, situada
na vila da Veiga de Espiñareda, xa na provincia de León.
A partir da década dos anos sesenta do século pasado, os bois que se cebaban nos meses esti-
vais nas brañas e alzadas das montañas, onde había herba dabondo durante todo o verán (a braña de
Piornedo, coñecida tamén pola Mallada do Mostallar, está a 1.699 m de altitude), foron desaparecendo
así como diminuía a poboación destas agrestes terras, quedando actualmente só algunhas vacas cei-
bas no monte, e non como antes que se organizaban quendas segundo o número de cabezas de cada
veciño para coidar os animais de noite e de día.
No traballo de campo que levamos a termo nestas terras da alta montaña galego‑astur‑leonesa
con Xosé Manuel González Reboredo e outros investigadores, do ano 1984 en adiante, rexistramos a
existencia desta choca especial, pero por máis que se pescudou non chegamos a ver ningún exemplar
que aínda conservase o elemento que as distinguía das demais: a pel de teixo2.
Un dos primeiros que nos falou destes “campanos” ou chocallos foi José Barrero, veciño da aldea
de Murias de Rao (Navia de Suarna) que agora pasaría dos 110 anos de idade, unha persoa moi amable,
observadora e namorada da súa terra, que non só conservaba a memoria da súa época, senón que
se lembraba do que contaban os vellos, de xeito que as súas acordanzas chegaban en moitos casos
ata case mediados do século XIX.
Como daquela non logramos acadar ningún exemplar tivemos que cinguirnos á descrición do
devandito Sr. Barrero, que resumimos así: en vez de levar correa ou cadea ía pendurada dun colar
feito de pel de teixo co pelo para fóra, para que fixese bonito. Unicamente se lles poñía aos bois cando
se levaban a vender á feira. Na posguerra [a partir de 1940] foise abandonando, non se usando xa
na década dos sesenta, que foi cando os campesiños empezaron a desprenderse destes animais
(González Pérez, 1991: 293).
Este gando (as xugadas) levábano case exclusivamente ás feiras do Espín e a Proba de Navia.
A primeira xuntábase na vila leonesa da Veiga de Espiñareda, de grande renome en toda a contorna
da Serra dos Ancares, que concedera a súa celebración en 1317 o rei Afonso XI ao mosteiro de Santo
André de Espiñareda, e a segunda na vila do mesmo nome, capital dende a antigüidade do condado
Naviensis, un dos pertencentes á diocese de Lugo que xa figura nas actas do segundo concilio de Braga
(Portugal), celebrado baixo o goberno do rei suevo Miro o ano 572.
En moitos casos tiñan que facer noite para levar o gando, sobre todo á leonesa, que logo os tra-
tantes mandaban para diferentes puntos da Península, situación que mellorou notablemente así como
o tren se ía aproximando a Galiza (Astorga, 1866; Ponferrada, 1882; Vilafranca do Bierzo, 1883), e
xa a partir de mediados do século pasado coa apertura de estradas, podendo chegar os camións cos
animais a calquera parte.
Os bois cebados no verán coa herba das brañas baixaban para as cortes en setembro ou outubro,
segundo as condicións meteorolóxicas, celebrándose entón as feiras máis concorridas, ás que os levaban
engalanados cos “campanos”, que traían os donos de novo para a casa ao remataren o trato da venda.
2 Froito destas estadías foron, entre outras, as seguintes publicacións: GONZÁLEZ REBOREDO, X. M.; RODRÍGUEZ CAMPOS, J.; GONZÁLEZ
PÉREZ, C.: Antropología y Etnografía de las proximidades de la Sierra de Ancares, Deputación Provincial de Lugo, Lugo I (1990), II (1991); GON-
ZÁLEZ REBOREDO, X. M. ; GONZÁLEZ PÉREZ, C.: Sociedade e Tecnoloxía tradicionais do Val de Ancares, Consello da Cultura Galega, Santiago
de Compostela, 1996; GONZÁLEZ REBOREDO, X. M.; COSTA VÁZQUEZ‑MARIÑO, L.; GONZÁLEZ PÉREZ, C.: Nos lindeiros da galeguidade. Estudio
antropolóxico do Val de Fornela. Etnohistoria, Etnomusicoloxía, Etnografía, Consello da Cultura Galega, Santiago de Compostela, 2002.
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As persoas que aínda andaron así cos bois, a única explicación que dan verbo deste costume é
a de que se trataba dun adorno, pero con toda seguridade na orixe o motivo era moi outro, tendo en
conta que se trata dun obxecto ao que dende a antigüidade se lle atribúe o poder de afastar o mal de
ollo e a envexa (Figs. 2 e 3).
Este mustélido coñécese en Galiza por varios nomes: teixo, porco teixo, teixugo e tamén tourón,
malia que o último non sexa o mesmo animal (Mustela putorius).
O mesmo que noutras partes, non obstante que agora aquí se perdese a tradición, considerouse
dende tempos inmemoriais un animaliño con moitas virtudes medicinais e apotropaicas, entre as pri-
meiras contra a peste, a lepra e a sarna, e das segundas como antídoto eficaz para evitar o mal de ollo.
Non se coñece a orixe destas crenzas, pero en particular as segundas para algúns estudosos puideran
deberse á grande cantidade de pelo fino, que obrigaría á persoa que quere facer dano a contar antes
os cabelos, e tamén a que as poutas teñan cinco uñas, número considerado máxico ‑cinco dedos das
mans e dos pés dos humanos, cinco elementos (terra, aire, auga, lume e éter), o pentagrama de Pitá-
goras, etc‑ (Irigaray Soto, 2001, XXXIII: 56).
Plinio trata do teixo na Historia Natural, pero malia que el non o diga, os comentaristas da súa obra
fixeron fincapé nestas crenzas. Así, por exemplo, Gerónimo Huerta escribía en 1624, que se ten por cosa
cierta, que huyen dellos los lobos, y otros animales ferozes: y por esto ponen a los cavallos y mulas, y
a los jumentos collares, con copetes de su pelo para que nos les hagan daño, aunque algunos se los
ponen, por entender que libran del mal de ojo: y por la misma causa ponen a los niños pequeños una
mano deste animal. E segue dicindo que se come en Italia, Xermania e Castela, e que as súas cinzas
son boas para as reiectaciones de sangre, como antídoto para a peste, o sangue seco para a lepra, a
gordura ou unto eficaz para os tumores ou apostemas, aprovecha contra las calenturas, dor de riles,
xunturas dos ósos, desencolle os nervios, o cerebro alivia todas as dores, e os testículos cocidos con
mel encienden mucho la Venus (Plinio, 1624: 455).
Estas conviccións mantivéronse ao longo dos séculos: o Marqués de Villena, Enrique de Aragón
(1384‑1434), coñecido polo “Astrólogo” e o “Nigromante”, di no Tratado de fascinación o de aojamiento,
escrito en 1425, que por superstiçion poñen a las bestias cuero con pelo de tasugo en el collar e cabe‑
çadas para libralas do mal de ollo (Villena, 1994, I: 332). E no Livro dos conselhos de El‑rei D. Duarte
ou Livro da Cartuxa, que gobernou Portugal entre os anos 1433 e 1438, figura a seguinte receita: Carta
do doutor Diogo Afonso para o rei sobre os pós de texugo que se tomam para a peste, á que dedica
dous capítulos: Como se fazen os pos de teixugo (f. CCLXXV) e Regimento que ha ter o q’ tomar os pos
do teixuguo (CCLIIII) (Livro dos conselhos…, 1982).
A finais do século XV na botica da Celestina non faltaban o unto e o pié de texón, é dicir as garras,
para elaborar unturas e afastar o mal de ollo, respectivamente (Rojas, 1998: 122‑123). Crenza que se
mantivo, como amosa o seguinte texto de Luis Quiñones de Benavente (s. XVI‑XVII), que na obra Los
Mariones, Quiterio pregúntalle a Estefanio que levaba para o mal de ollo e este responde: azabache,
tejón, hierbas de San Juan… (Timón Tiemblo, 2011: 2). Tamén se cría que os testículos eran un afrodi-
síaco eficacísimo (Garci‑Gómez, 1981, V: 32).
En Francia e nos Países Baixos, e o mesmo debía suceder en toda Europa, era un animal do que
se aproveitaba todo, pois ademais de comelo, a gordura, huile de blaireau, era boa para as contractu-
ras dos membros e as estrías dos seos das mulleres; o sangue seco como sudorífero, a lepra, a sarna
e a peste; o cerebro para varias dores; o fígado evitaba o cheiro do alento; os dentes eran un amuleto
para a perda da memoria; os testículos como afrodisíaco; as cinzas contra a hemoptise, etc. (Cloquet,
1822: X, 403; Mérat; Le Lens, 1838: IV, 434).
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3.1. As persoas
Ademais dos casos que quedan vistos, os amuletos das patas e do pelo eran moi comúns contra o mal
de ollo sobre todo por parte de nenos e mulleres. A proba constitúena algúns exemplares que se coñecen:
no antigo Museo del Pueblo Español (agora Museo del Traje. Centro de Investigación del Patrimonio Etno-
lógico, Madrid) custódianse cinco de garras con empuñaduras de prata: catro proceden de Salamanca (en
particular unha de La Alberca) e outro de Astorga (León) (Alarcón Román, 1987: 33, 56, 61, 79, 84, 152).
Un de feitura semellante tamén con engaste de prata pódese admirar no Museo Etnolóxico de Navarra
“Julio Caro Baroja” en Estella (Irigaray Soto, 2001, XXXIII: 56); así como outros en Segovia, Museo Sorolla
(Madrid), “Museo de las Alhajas de la Vía de la Plata” (La Bañeza ‑ León), Museo de la Farmacia Hispana
(Madrid), Museo Nacional de Artes Decorativas (Madrid), “Museo de la Indumentaria tradicional leonesa”
‑unha garra de melandru, denominación astur‑leonesa‑ (Valencia de D. Juan), etc. (Fig. 4).
A época en que estivo máis estendido o costume en España foi durante a dinastía dos Austrias,
entre os séculos XVI e XVII, como testemuñan algúns cadros de nenos con varios amuletos, sobre todo
atados á cintura, entre os que non adoita faltar a pouta de teixo (Callejo, 2000: 282). En 1611 escribía
Sebastián de Covarrubias na definición de aojar: que los niños corren más peligro que los hombres por
ser ternecitos, y tener la sangre tan delgada, y por este miedo les ponen algunos amuletos, ó defensi‑
vos, y algunos dixes, ora sea creyendo tienen alguna virtud para evitar este daño, ora para divertir al
que mira, porque no clave los ojos de hito en hito al mirar, ordinariamente les ponen mano de tasugo,
ramillos de coral, cuentas de ámbar, piezas de cristal, y azabache, castaña marina, nuez de plata con
azogue, raíz de peonía, y otras cosas (Covarrubias y Orozco, 1611: 76). E poucos años despois, en 1653,
Juan Lázaro Gutiérrez de Sepúlveda no Opúsculo sobre el aojamiento, que había la costumbre antigua
y actual de colgar de los hombros de los bebés las manos del mele [tejón], medio con el cual opinan
religiosamente las nodrizas que se previene el aojo de los niños (Sanz, 2001: 360).
Verbo do mesmo, dicía no século XVIII un escribán de Mondragón (Gipuzkoa) nunha obriña de
teatro para representar a noite de Nadal, que “traerei do monte unha poutiña de teixo e colgareicha
do peitiño para que non che fagan o mal de ollo” (Azkonarraren atzapartxoa / ekarriko dot menditi,
/ begizkorik estegizuen / bulartxorean isegui) (Azkue, 1989: I, 125). Tamén se rexistran os mesmos
amuletos en Navarra (Lapuente Martínez, 1976: 405), e en Almería, confirmándose deste xeito a súa
presenza en Andalucía (Salillas, 2000:77).
Os anglosaxóns posuían amuletos de dentes de teixo dos que dicían que eran eficaces contra a peste,
o mal de ollo, o graínzo, etc., así como as garras para os nenos (Azkue, 1989: I‑ 38). Era corrente nalgunhas
rexións italianas (Basilicata, Alta Valle del Tevere, Abruzzo…), levar os nenos amuletos contra a envexa de
zampa e pelo del tasso (Baronti, 2008: 104 ss.), e en particular nos Apeninos centrais cren que o seu cabelo é
un óptimo protector para a envexa, pero se é roubado ou un agasallo dun cazador (Chavez Hualpa, 2008: 69).
3.2. Os animais
O Marqués de Villena, Enrique de Aragón (1384‑1434), afirmaba, como queda visto, que había
o costume de poñerlles ás bestas e aos cabalos coiro con pelo de tasugo en el collar e cabeçadas
(Villena, 1994, I: 332). E en 1653 dicía Juan Lázaro Gutiérrez de Sepúlveda, que os labregos colgaban
a pel do teixo sobre os “brutos”, para que, como sospechan, no les cause prejuicio el ojo hechicero,
e tamén nos rabos dos cabalos, machos e burros, unha buena parte del pellejo de ese animal como
defensa contra las miradas de los fascinadores (Sanz, 2001: 360).
En 1837 escribía un “Asnólogo” (pseudónimo de Manuel Lozano Pérez Ramajo) que es verdad que
el discurso humano hace poner al Asno, lo mismo que á la mula y caballo, collares ó copetes de tejón
por preservativo contra el lobo, el oso y otras fieras que dicen huir del tejón, según tal es la tradición y
costumbre antiquísima (Asnólogo, 1837: 207). O que mostra que tamén este humilde animal adoitaba
gozar da protección do teixo.
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A tradición mantívose nalgúns lugares ata ben entrado o século XX, como en Ataun (Gipuzkoa), que
lle puñan a pel no pescozo en particular aos bois se ían estar xunguidos onde houbese público, como
na feira, constando que o facían para libralos do mal de ollo. Tamén se consideraba un luxo en varias
comarcas de Euskadi levar o xugo dos bois nas celebracións ‑como as vodas‑ adornado con chocallos
e pel deste animal (Barandiarán, 1972‑1983, V: 292; Barandiarán, 1984: 219; Azkue, 1989: I, 271;
Erkoreka, 1995: 138). Nos Abruzzos (Italia) acostumaban poñer nos xugos que transportaban o carro
co dote da noiva unha guedella de pelo de teixo, un lazo vermello e unhas campaíñas penduradas do
pescozo dos animais para afastar a envexa (Nino, 1988: 2‑18); nalgunhas zonas da Umbria cando
levaban os animais á feira ou a outros actos públicos, para defendelos do mal de ollo adornábanos con
lazos vermellos con guedellas de pelo de teixo (Chavez Hualpa, 2008: 91‑92) e noutras mantíñase o
costume de poñerlles pelo del tasso aos animali da tiro o da lavoro (Baronti, 2008: 116). Manifestacións
que tamén se rexistran en varios lugares de Alemaña (Breisgau) (Azkue, 1989: I‑38).
Ademais do gando vacún, en Navarra andaban cunha choca adornada coa pel deste mustélido os
carneiros coa mesma fin, conservándose actualmente no Museo del Traje. Centro de Investigación del Patri-
monio Etnológico (Madrid), unha fermosa peza procedente de Izaba (Sangüesa) (Mingote Calderón, 2005).
Non faltaban tampouco as persoas que poñían garras nas cortes para afastar o mal de ollo (Alarcón
Román, 1987: 33); que crían que a pel era boa para que non lles atacase o lupus aos animais (Azkue,
1989), ou para que a protección fose aínda máis segura, xuntar as crenzas cristiás coas supersticiosas
levándoos a beicer o día de Santo Antón (o 17 de xaneiro) cubertos cunha pel de teixo, como se facía
en Améscoa (Navarra) (Lapuente Martínez, 1976: 405).
4. Recapitulación
Na última época en que se usou o “campano” en Piornedo e, en xeral, nas terras da Serra dos
Ancares (como queda dito, onde converxen Galiza, León e Asturias), xa se consideraba un adobío sen
valor para defender o animal do mal de ollo e da envexa. Pero non se trataba dunha choca máis, pola
pel de teixugo e porque unicamente o lucían os bois ‑os animais máis valiosos que había na casa‑ cando
os levaban á feira fóra da aldea.
Tendo en conta a relevancia deste mustélido en xeral ao longo dos séculos como antídoto contra o
mal de ollo, sen dúbida que aquí nos Ancares tamén a tivo, manténdose na última época como residuo
unicamente a parte ornamental, quizais dende finais do século XIX (Fig. 5).
Ademais da pel tamén se cazaba pola carne, moi saborosa e semellante á do porco, que antes
da expansión das armas de fogo pillábano correndo detrás del ou cavando nos tobos cando non eran
moi fondos.
Non temos constancia polo de agora que se lles dese importancia ás poutas nesta zona, pero
non se pode rexeitar que fose así antes, en particular para protexer os nenos, tendo en conta que un
destes amuletos que se custodian no antigo Museo del Pueblo Español (Madrid) procede de Astorga,
outro do “Museo de las Alhajas de la Vía de la Plata” de La Bañeza, e un terceiro do “Museo de la Indu-
mentaria tradicional leonesa” de Valencia de D. Juan, as tres poboacións pertencentes á provincia de
León, lindeira con Piornedo, e onde se celebraba unha das feiras de gando máis concorridas de toda
a alta montaña astur‑galega‑leonesa, a do Espín na Veiga de Espiñareda.
Na última época os únicos amuletos coñecidos na bisbarra eran as pólas de boíto (Sambucus
nigra, árbore tradicionalmente sempre relacionada coa maxia), a auga bendita, o loureiro do Domingo
de Ramos, os cornos da vacaloura (Lucanus cervus) e o corno do alicornio3.
3 Animal mítico que podía perder o único corno cando ía beber, considerado un talismán para o mal de ollo, envexa, doenzas, etc. Na
realidade adoitaba ser a punta dun corno dalgún cérvido ou mesmo un dente (en particular de xabaril) (RÚA ALLER, J. ; RUBIO GAGO, M.: La
piedra celeste. Creencias populares leonesas, León, 1986).
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Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 207-215
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Fig. 4 – Amuleto con garra de teixo (Museo del Traje. Centro de Investigación del Patrimonio Etnológico, Madrid, c. 1700).
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RESUMO:
Este texto trata da feiras tradicionais de Galiza dende o punto de vista etno‑histórico e etno-
gráfico. Lugares de intercambio económico, mais tamén cun claro aspecto festivo, nos últimos
decenios están en decadencia a causa dos cambios producidos no antigo sistema agrario. Pero
aínda sobreviven algunhas que manteñen características do pasado, do que é exemplo a de San
Martiño en Francos, perto de Santiago de Compostela.
Palabras‑chave: Galiza; Feira; Mercado; Gando; Froitos; Tratantes; Festa.
ABSTRACT:
This text deals with the traditional agricultural/livestock fairs of Galiza from an ethno‑historic
and ethnographic point of wiew. Places of economic activity, but also with an important festive
aspect, they have been in decline for de last decades due to changes in the old agrarian sytem.
However some of them still keep features of the past, like the fair of San Martiño in Francos
(Teo), near the city of Santiago de Compostela.
Keywords: Galiza; Fair; Market; Livestock; Fruits; Traders; Feast.
Limiar
O profesor Fernando Acuña Castroviejo e quen isto escribe nacemos para a investigación no
curso académico 1966‑67, cando eramos alumnos da Sección de Historia da Facultade de Filosofía
e Letras da Universidade de Santiago e, xunto con Carlos García Martínez, actual director do Museo
do Pobo Galego, e Xosé Carro Otero, comezamos a frecuentar o Instituto de Estudos Galegos <<Padre
Sarmiento>> do CSIC, convertido deste xeito nunha especie de universidade paralela grazas ás sabias
orientacións do destacado poeta, erudito, e mestre noso dende entón, Fermín Bouza‑Brey.
Pouco despois, coa chegada á Universidade Compostelá do profesor Alberto Balil, un estimado
especialista en Arqueoloxía Clásica, o amigo Fernando rematou por orientarse cara este tipo de estu-
dos mentres que eu, despois duns anos de alternancia entre a Arqueoloxía pre‑ e proto‑histórica e a
Etnografía, optei por centrarme nesta última especialidade. E esa é a razón principal de que responda
á amable invitación que se me fixo para participar nesta homenaxe acudindo a un tema, o das feiras,
en principio alleo ás inquedanzas profesionais do profesor Acuña, aínda que a temática etnográfica
non estea totalmente ausente das súas preocupacións intelectuais e de activista nos eidos da cultura
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galega, como demostra o feito de ser Vicepresidente do Padroado do Museo do Pobo Galego, unha
institución directamente relacionada coa Etnografía.
Deixando de lado precedentes máis antigos, as características das feiras tradicionais galegas que
chegaron ao século XX, e tamén a estes comezos do XXI, definíronse entre o s. XVIII e a primeira metade
do XIX, momento histórico que coñeceu unha inusitada multiplicación de feiras. Segundo datos de 1788
recollidos nun escrito do Deputado Xeral do Reino en Galiza celebrábanse por estas datas un total de 43
mercados semanais, 264 feiras mensuais e 88 anuais, o que equivale para o profesor Pexerto Saavedra
a un total de 5668 xornadas (Saavedra, 1993: 159; e 1994: 280). Con posterioridade continuou a súa
proliferación, incrementándose entre un 25 e un 35 %, e mesmo houbo intentos de instauración de feiras
na primeira metade do século XX, do que darei un exemplo frustrado en relación coa de Francos.
Esta complexa rede de feiras chamou a atención de analistas que se ocuparon do tema no mesmo
século XVIII ou comezos do XIX, e ten unha xustificación en razóns de diferente orde que conxuntamente
contribuíron ao seu nacemento e proliferación. En principio hai que ter en conta un factor básico, a enorme
dispersión do poboamento en Galiza, xunto cun deficiente sistema de comunicacións ata hai poucos
anos, o que pechaba á xente do agro en ámbitos limitados de relación económica e humana. Pero tamén
influíron outros factores de orde diversa. Entre os primarios son de destacar os específicos da economía
doméstica, como a mellora e incremento da cabana gandeira, especialmente nas terras do interior, ou a
posibilidade de dispoñer de maior cantidade de produtos artesáns—tecidos por exemplo‑‑ para negociar nos
mercados que adoitaban acompañar ás feiras de gando. Outro factor refírese aos intereses dos señores,
do que é bo exemplo un crego de Cartelle (Ourense), quen creou unha feira no século XVIII para facilitar a
venda do gando que tiña posto a medias, seguramente bastante numeroso (González Pérez, 1997: 334).
Finalmente están os que podemos cualificar como de carácter externo, entre eles a demanda de gando
mular para Castela, e de bois ou becerros para exportación xa no século XIX, a necesidade de incrementar
a dispoñibilidade de numerario para pagar cargas forais e trabucos, ou a capacidade de xuntar pequenos
excedentes en moeda para gastar, derivados de actividades como a sega en Castela ou os traballos nas
terras vitícolas do norte de Portugal, labores estes que podían permitir, por exemplo, a adquisición dunha
vaca, dunhas cantas ovellas ou duns porquiños para cebar, así como tecidos e outras mercadorías.
A feira como lugar de negocio deu lugar ao desenvolvemento dunha serie de oficios relacionados
con ela. Entre eles destacaron sempre os tratantes, dedicados á compravenda de animais. Os especia-
lizados no gando vacún recibían nomes como o de rifantes, os centrados nas mulas eran os mulateiros,
os que mercaban ovellas se chamaban ovelleiros, etc. , malia que estas especializacións non eran
sempre tan ríxidas como os nomes poden aparentar, pois o mesmo tratante cambiaba de obxectivos
de compra en función do tipo de feira, da época do ano, ou a posible clientela a quen revenderlle os
animais (Fidalgo Santamariña, 2001: 89 e ss.).
Son varias as descricións que coñecemos sobre a maneira de actuar destes tratantes, que sem-
pre procuraban, como é lóxico nunha mentalidade de mercado, lograr unha compra o máis vantaxosa
posible e unha venda co maior beneficio. Por non estenderme demasiado neste aspecto limitareime a
reproducir un breve testemuño do ano 1912, época na que o sistema de feiras estaba en pleno auxe:
Cuando el tratante interviene para la adquisición de una res, la examina, le da unos golpes con la vara, y
después de preguntar el precio, ofrece. El ajuste es dificilísimo, porque el experto negociante busca el doble
lucro, para sí como intermediario y para su comitente, y el labrador defiende su tipo con tesón; pequeñas
diferencias de una o dos pesetas deshacen un convenio; cuando éste se perfecciona, el comprador da la
señal o arras y marca con unas tijeras, ya figurando una letra, ya de otro modo más sencillo, la res; al final
de la feria reúnense en lugar predeterminado todas las adquiridas y reciben los vendedores el precio (García
Ramos, 1912: 92‑93).
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Polo menos nos últimos cen anos estes tratantes presentaron habitualmente un aspecto que
os distinguía dos labregos e demais feirantes, pois levaban un amplo mandilón negro, un caxato e as
tesoiras coas que lle facían a marca de propiedade aos animais que adquirían. En canto ao mercado
complementario da feira, no que se comercializan produtos como ovos, queixos, manteiga, viño, tecidos,
aveños de labranza, froitos diversos e outros variados produtos, tamén contaban con vendedores espe-
cializados, como as mulleres chamadas rosquilleiras, que ofrecen rosquillas, as regateiras, vendedoras
de alimentos diversos, ou os polbeiros, que preparan sobre todo o típico prato de polbo á feira (Fidalgo
Santamariña, 2001: 88 e ss.).
Un antropólogo que se ocupou das sociedades rurais, Teodor Shanin, sinala que as feiras e
mercados forman parte do sistema campesiño de organización económica porque proporcionan un
lugar onde se poden vender os excedentes da produción familiar e mercar produtos inexistentes, ou
escasos, no ámbito local. Pero cumpren tamén “una serie de funciones <<no económicas>>, como
centros de contacto inter‑aldeano, información, vida social y esparcimiento” (Shanin, 1976: 30), é
dicir, acaban tendo unha finalidade engadida semellante á que podemos atopar en romarías e outros
tipos de festa.
Na nosa terra, o mesmo que noutras partes, arredor do negocio das feiras foise xuntando toda
unha cohorte de pobres de pedir, xitanos, cegos que recitan romances, comerciantes ou charlatáns
que ofrecen obxectos diversos, vendedores de alimentos ou de froitos, e tamén artistas ambulantes.
No século XX as feiras complementáronse con bailes en salóns habilitados para este uso, e a partir
dos anos 30 desa centuria fixo acto de presenza a novidade do cinematógrafo nas vilas con feira. Da
mesma maneira que a festa é punto de encontro da mocidade, tamén a feira converteuse en lugar
propicio para tecer amores entre mozos e mozas, segundo reflicte esta cantiga, publicada por Leandro
Carré Alvarellos: Fun á feira das Travesas; / non fun mercar nin vender; / fun pra falar cunha moza/
que me está a dar que facer (Carré Alvarellos, 1964: 97). En definitiva, as feiras foron sempre ocasión
de bo xantar e divertimento para quen desexase gozar do ocio unha vez rematado o negocio. Por iso o
tempo de feira achégase ao tempo de festa, un período especial marcado pola ruptura coa monotonía
cotiá, algo ben descrito polo periodista Alfredo Vicenti nun artigo que lle dedicou á feira do Foxo, en
terras da Estrada, do que dou a seguinte mostra:
Ellos y ellas, todos sin excepción, vienen además con el firme propósito de pasar un buen día, regalándose
con el coriáceo bacalao y el añejo pan de trigo, que al fin y al cabo valen algo más que el caldo de berzas y
la arenisca brona (Vicenti, 1984[1875‑79]: 86).
Moitas feiras de sona naceron asociadas a celebracións de carácter relixioso, con exemplos
como a feira anual que arredor do 5 de outubro, festividade de San Froilán, santo natural de Lugo,
se celebrou dende 1754 por Real Provisión de 20 de marzo dese ano (Cabana Outeiro/ Rodríguez
Suárez/ Vázquez Bertomeu, 2004: 29 e ss.). Pero tamén o conxunto destes encontros contribuíu
a desenvolver unha cultura festiva profana, afastada do dominio da relixión católica. Contra ese
laicismo loitaron os representantes da Igrexa no século XVIII e comezos do XIX, cando o arcebispo
de Santiago, Frei Rafael de Vélez, arremeteu contra as feiras mediante carta dirixida ao Capitán
Xeral do Reino de Galiza. Esta presión da igrexa xerárquica logrou que, no ano 1829, se publicase
unha Real Orde suprimindo as feiras en domingos e festas de gardar. Mais a prohibición foi axiña
suspendida por mor das queixas dos máis diversos sectores, e as feiras seguiron a impoñer a súa
lóxica ata que os cambios dos últimos decenios provocaron o seu ocaso ou transformación (Pérez
Costanti, (1993[1925‑27]): 85‑86).
Retomando os datos tomados de P. Saavedra antes citados, podemos establecer diferenzas
entre mercado e feira, caracterizándose aquel por negociar con produtos agrícolas, artesáns ou de
importación, e gando miúdo, como pitas e coellos, pero non con gando equino, vacún, porcos , ovellas
e cabras, a diferenza da segunda, que ten neste tipo de gandería o núcleo central da súa razón de ser.
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Ademais os mercados adoitaron ser, polo menos nas cidades e vilas importantes, dunha regularidade
semanal, mentres que as feiras, polo xeral con mercado asociado, son normalmente quincenais, men-
suais ou anuais. As quincenais e mensuais teñen o carácter de ordinarias; pola contra as anuais son
grandes concentracións de persoas atraídas polo seu carácter excepcional. Suxeitas estas últimas aos
condicionantes dun medio natural e a unha cultura rural, as súas datas coinciden en liñas xerais con
importantes momentos de cambio dos ciclos agrarios. Por iso as máis delas teñen lugar na primavera
e no outono, é dicir, nos períodos que separan as dúas grandes épocas do ano campesiño: o verán,
tempo de colleitas e de engorde do gando, e o inverno, período de menor actividade, antes do cal é bo
negociar os froitos, ou os animais, da casa labrega. Dito doutra maneira, o inicio deses dous momen-
tos é propicio para abastecerse de certos trebellos ou produtos necesarios, como sementes, froitos e
aveños, ou para vender a mula ou o xato que, de quedar no inverno na casa, sería un dispendio inútil
para a economía familiar. A iso habería que engadir a importancia das feiras no comezo do outono
para o pago das rendas antigamente, pois os propietarios ou aforadores adoitaban aproveitar esa
época para cobrar os seus dereitos. Así, sucedía, por exemplo, coa feira de San Miguel na Pobra de
Navia (Navia de Suarna‑ Lugo), onde tamén a data, a finais de setembro, era aproveitada para mercar
as varas que se usaban máis tarde para varexar os castiñeiros e facer así a colleita dos ourizos cheos
de castañas xa maduras.
As feiras entraron en crise nos últimos cincuenta anos, a medida que foi esmorecendo a sociedade
rural que as mantiña. Algunhas sobreviven grazas a inercias do pasado, combinadas con actualizaci-
óns como a promoción e venda de novos enxeños tecnolóxicos, ou de mercadorías de orixe industrial.
Outras xurdiron ex novo, plenamente incorporadas a esas novas tecnoloxías agrarias ou aos actuais
procesos de transformación e comercialización dos produtos do campo, do que pode ser boa mostra
a Semana Verde de Silleda (Pontevedra). Con todo, aínda quedan varias que conservan importantes
lembranzas do vello estilo, característico de Galiza e terras veciñas hai máis de medio século. Entre
todas elas ocupareime hoxe dunha xa anunciada no título deste escrito, a de San Martiño en Francos
(Teo‑A Coruña), advertindo que toda a información etnográfica recollida por min, incluídas as ilustra-
cións que acompañan a este texto, remite a hai dez anos, aínda que, por suposto, persiste hoxe con
características semellantes ás por min observadas daquela.
Localización
O lugar de Francos, ou Rúa de Francos, está situado na parte suroeste da provincia da Coruña,
case a metade de camiño entre Santiago de Compostela e Padrón. Pertence á parroquia de San
Xoán de Calo e ao concello de Teo, pasando polo seu ámbito a estrada nacional 550, substituta
no século XX do antigo camiño real que unía Compostela con Pontevedra. Segundo o Nomenclátor
do I.G.E. tiña en 2005 un total de 281 habitantes. Entre os monumentos locais destaca unha sin-
xela capela dedicada ao Espírito Santo, preto da que se ergue unha curiosa cruz sobre esteo con
aparencia de ser medieval, aínda que xa Castelao deixou advertido que non se trata dun cruceiro
en sentido rigoroso e que pode ser unha imitación popular serodia dos cruceiros góticos (Castelao,
1949: 110 e fig. 54).
Mais a aldea e os seus arredores cobran especial relevancia o día 11 de novembro, cando
tiña, e ten, lugar unha feira famosa na comarca de Compostela, con centro nunha vella carbal-
leira. O día coincide co dedicado pola Igrexa Católica a San Martiño de Tours, un santo difundido
nas terras do noroeste peninsular dende o século VI grazas a figuras como o seu homónimo San
Martiño de Braga (González Reboredo, 2012: 52‑53). Porén, a razón de elixir este día non parece
estar en relación co citado referente relixioso, que non ten culto na localidade, senón no feito xa
anunciado de coincidir, como logo reiterarei, cun momento oportuno para negociar o gando equino
e algúns froitos da época.
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A feira de Francos aparece documentada moito antes de que chegase ao seu maior esplendor nos
séculos XIX e XX. Concretamente os testemuños máis antigos sobre ela datan de mediados do século
XVI e están en relación co cobro do imposto sobre as compravendas coñecido como alcabala. Aínda
que nesa época semella ter importancia limitada, pois cada ano se vendían menos de 100 cabezas de
gando – testemuño dos veciños sospeitoso de infravaloración por estar referido ao cobro de impostos‑‑,
debeu lograr unha certa notoriedade co tempo, como o demostra que acudisen a ela compradores de
gando de localidades de Castela‑‑ Villacastín por exemplo‑‑ e mesmo dos reinos de Granada e Portugal
(Gelabert González, 1982: 92; Dehistoria, 2015: 50‑54). O evento logrou sobrevivir durante a centuria
seguinte e chega ao s. XVIII. No ano 1752 aparece aludido nas respostas ao Interrogatorio do Catastro
del Marques de la Ensenada, freguesía de San Simón de Cacheiras e outras, como feira a celebrar
tres veces por ano, en Ramos, é dicir, ao comezo da Semana Santa, pola Pascua do Espírito Santo3,
ou Pentecoste, e o día de San Martiño.
Esta tripla periodicidade anual viña dende a súa fundación e responde ao mencionado principio
de lóxica campesiña, consistente en situar grandes feiras na primavera‑‑Ramos e Pentecoste‑‑ e no
outono—San Martiño—, momentos de cambio estacional importantes nunha economía agraria paleo-
técnica. Por outra parte, a redacción da resposta insinúa que as dúas feiras de primavera tiñan como
principal obxectivo o gando vacún, mentres que na de San Martiño estaba presente o equino sobre
todo, especialización esta que medrou ao longo dos anos, pois os meses de outubro e novembro son
os máis oportunos para negociar este tipo de animais4, o mesmo que sucedía nas feiras de San Froilán
de Lugo, situada arredor do 5 de outubro (Rodríguez Vieito, 2002: 155), e As San Lucas de Mondoñedo,
uns días despois da anterior (Villalba Barreira, 2001). Porén, ao longo do tempo as datas de prima-
vera desapareceron pouco a pouco e soamente continuou a de novembro que chega aos nosos días
(Dehistoria, 2015: 70)
A finais de o s. XVIII Eugenio Larruga inclúe a feira, ou feiras, de Francos entre as que se celebraban
na xurisdición dos condes de Altamira, que posuían este enclave dentro dunha parroquia, San Xoán
de Calo, pertencente ao arciprestado do Xiro da Rocha, en xeral señorío da Igrexa de Santiago. Por esa
época o gando negociado consistía en equinos e a súa duración era de dous días. Poucos anos despois
volve a ser mencionada por José Lucas Labrada, pero, segundo este analista da situación económica
da Galiza do seu tempo, non era soamente de équidos, senón de “ganado caballar y vacuno” (Labrada,
1971[1804]: 92). En canto á continuidade no século XIX, está testemuñada por diversa documentación
e por mencións nos Diccionarios de Miñano e Madoz, que a sitúan no 11 de novembro e xa non aluden
ás vellas xornadas de primavera. Madoz limítase a citala e non di nada sobre a súas características
(Madoz, 1846‑50: entrada Calo, San Juan). Pero Miñano dedícalle unha liñas, nas que se destaca a
especialización en gando equino e a súa exportación fóra do país galego, igual que seguiu sucedendo
ata case os nosos días:
En el lugar de Francos, que pertenece a esta parroquia, se celebra el día 11 de noviembre de cada año la
feria tan nombrada de San Martín, a la que concurre mucha gente de la provincia y de fuera de ella, y se
vende mucho ganado mular y caballar para Castilla y Portugal (Miñano, 1826‑29: entrada Calo, San Juan).
O feito de atoparse Francos a pouca distancia de Compostela fixo que á feira concorresen nume-
rosos santiagueses, moitos deles por pasar un día de diversión e de delicias gastronómicas máis que
2 Neste apartado utilizarei algunha información e documentos incluídos nun amplo e ben documentado dossier remitido polo Exmo.
Concello de Teo ao Goberno Autónomo de Galiza coa finalidade de obter a declaración de Festa de Interese Turístico para a feira de Francos.
Moito agradezo ao arquiveiro municipal, D. Pablo Sanmartín, que tivese a xentileza de facilitarme esta información, na que aparecen moitos
outros datos interesantes que non menciono para non alargar moito este escrito.
3 Esa data seguramente está en relación coa capela dedicada ao Espírito Santo antes aludida, a cal existe dende o século XVI.
4 A información do Catastro pode consultarse en “Respuestas generales del Catastro del Marqués de la Ensenada”, dispoñible en http://
pares.mcu.es/Catastro
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por motivos estritamente comerciais. Un interesante testemuño do pasado, unha crónica publicada en
El Diario de Santiago en 1873, indica que sucedía isto hai máis dun século. O medio de locomoción
utilizado nese ano por moitos festeiros‑feirantes foi o camiño de ferro, concretamente os trens especiais
programados na liña Cornes‑Carril, pioneira en Galiza e con estación en Osebe, moi preto do campo
da feira, a cal fora inaugurada en setembro do mesmo ano e debeu espertar entre os composteláns o
desexo de viaxar neste innovador medio de transporte. Considerando que a crónica desenvólvese nun
estilo destinado a impresionar ao lector, pero recolle información singular sobre o evento, creo oportuno
reproducir algúns parágrafos da mesma. Velaquí o seu contido5:
La célebre o popular feria de San Martín estuvo ayer sumamente concurrida. Los trenes extraordinarios
que la empresa estableció no bastaron para transportar a dicho sitio el inmenso número de viajeros que
a todas horas acudían a la estación para trasladarse al campo donde aquella se celebra, habiendo tenido
que quedarse en tierra infinidad de personas por no bastar los coches que cada tren llevaba, a pesar que
iban como sardina en banasta.
…………………………………………………………………………
El aspecto que presentaba el campo donde se celebra la feria de San Martín era sorprendente. Inmensas
calderas de pulpo se encontraban a cada paso rodeadas de apasionados que, más que comer, devoraban
plato tras plato tan suculento manjar.
Grandes cestas de ostras incitaban a los glotones a saciar su apetito. Enormes pellejos de vino llamaban a
los discípulos de Baco a saciar su ardiente sed. La popular empanada ostentaba en su interior la sabrosa
ave, la delicada anguila o el apetitoso trozo de lomo. La modesta tortilla enseñaba su consabido empedrado
de patatas. Por todas partes no se veían más que incitantes provisiones de boca que desaparecían como
por encanto. El jarro circulaba de mano en mano, de labio en labio, y cuando esto no bastaba se apelaba
a la bota para hacer mejor el vacío....
....Hoy se viene observando la misma afluencia de gente en la estación, y los primeros trenes salen llenos de
viajeros. Estos pueden dividirse en tres clases: feriantes o que solo van a su negocio, devotos de San Martín o
de San Pulpo, y curiosos que llevan por único objeto estudiar a la humanidad en todas sus manifestaciones.
(El Diario de Santiago, 12 de novembro de 1873).
En contraste con outras localidades galegas, nas que se celebran feiras mensuais e unha especial
de carácter anual, a de San Martiño tivo lugar, como xa se dixo, soamente en tres datas do ano primeiro,
e logo unicamente o 11 de novembro. Porén, as miñas pescudas no arquivo do concello de Teo no ano
2005 permitíronme atopar un abortado intento de engadir unha feira mensual xa entrado o século XX.
Concretamente, na Sesión ordinaria do consistorio de 6‑V‑1923 o concelleiro D. Alejandro Torrado del
Río presentou unha moción propoñendo a instauración dunha con esa periodicidade. Pouco despois,
noutra sesión consistorial de 3‑VI‑1923 acordouse, previo informe preceptivo da Comisión de Facenda
e Fomento, aprobar por unanimidade a proposta, fixando a súa data no día 9, e autorizando á alcaldía
a que levase a cabo as xestións oportunas para a súa difusión. O acordo ía acompañado tamén de
autorización para destinar 200 pesetas do presuposto de festexos a premios, seguindo unha moda
moi espallada na época e orientada a fomentar a mellora da cabana gandeira. Con todo, a decisión
municipal nunca debeu executarse, pois non atopei constancia ningunha de que esta feira mensual
se puxese en funcionamento, nin nas fontes documentais nin nos informes orais por min recollidos.
Nas sete primeiras décadas do século XX o desenvolvemento da feira conservou en xeral o seu
aspecto e orientación tradicionais, malia incorporar algunhas novidades propias de cada momento, como
o uso de vehículos a motor, altofalantes para divulgar as mercadorías e espectáculos, uso de recipientes
de plástico, etc. Mediante informe oral recollido en 2005 de D. Antonio Castroagudín, natural do lugar
5 Agradezo a Xesús Santos Suárez a información que me subministrou en relación con esta crónica de El Diario de Santiago dedicada á
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de Francos e nesa data tenente de alcalde do concello de Teo, puiden saber que duraba dous días e
viñan a ela tratantes de distintos lugares de España para comprar, sobre todo, mulas. Permanecían na
localidade os dous días, cargando os animais adquiridos na estación de Osebe, de onde saían cada
ano ata cinco vagóns con este tipo de gando. O dito polo citado informante complétase con testemuños
documentais como as denominadas Guías para la circulación de ganado. Citarei dous exemplos do
ano 1919 entre os posibles: un deles autorizando a remitir por camiño de ferro 31 mulas a Calatayud,
e outro permitindo o traslado de 16 cabezas de gando equino a Játiva6.
Don Antonio tamén lembrou a presenza de atraccións, entre elas o teatro de Barriga Verde, moi
famoso na época e presente en todas as grandes feiras e celebracións festivas galegas, así como os
cegos que cantaban historias de crimes famosos, ou o baile que se organizaba o día 12, ao final da
feira. Segundo manifestei na primeira parte deste escrito, novidades como o cinematógrafo fixeron acto
de presenza nas feiras para diversión dos asistentes, e no caso de Francos é de sinalar que chegou a
contar cunha sala de cine estable, chamada Carpeni, con aforo situado entre 280 e 300 butacas. Na
documentación reunida polo Concello de Teo nos últimos anos consta o expediente de creación desa
sala, construída mediante proxecto do ano 1958 debido ao arquitecto Antonio Tenreiro Rodríguez e
promovida por Antonio García Calvo e Ramón Penide Fraga.
Unha interesante fonte de testemuños sobre como era a feira nos anos 30,40 e 50 do século XX é a
transcrición dunha mesa redonda celebrada no ano 2014, na que participaron dous veteranos veciños e
unha veciña do lugar. Publicada no 2015, nela se sinalan detalles como a presenza de tratantes <<cas-
tellanos>>, das polbeiras, que eran do Carballiño e traían o polbo fresco e curado, non conxelado como
nos nosos días, ou o feito de que nas casas do lugar se preparaba comida para venderlle aos feirantes,
destacando pratos como os callos e o polo con arroz. En xeral o lugar de Francos tiña na feira, que com-
prendía dende o día anterior ao 11 de novembro ata o seguinte, unha importante fonte de ingresos porque
se alugaban cortes para gardar o gando, se daba aloxamento, se subministraba leña para os lumes, se
vendía viño e os alimentos antes citados, etc. (Calvo/Castro/Fariña/Iglesias, 2015: 12 e ss.)
Por último, dos anos setenta do pasado século temos datos que amosan a desaparición do nego-
cio das mulas a causa da mecanización da agricultura, pero tamén unha pequena continuidade da
exportación de bestas, poldros ou burros a León e Valencia. Unha mostra disto é a información recollida
polo xornal El Correo Gallego de 12‑XI‑1978, na que constan estas reveladoras cifras:
Bestas: 333
Poldros: 312
Asnos: 262
Lugares de destino:
Valencia: 143
Palencia e León: 91
Galicia: 673
A visita que realicei a Rúa de Francos hai dez anos permitiume facer unha valoración in situ da feira
en tempos recentes. Tras dificultoso desprazamento dende a estrada nacional 550 a causa das obras
no camiño de ferro do Eixo Atlántico, que cortaran a ponte para chegar ao lugar, puiden comprobar que
o mercado se estendía por distintos puntos dos accesos á aldea. Neles asentábanse postos de carne
6 Estes dous documentos, xunto con algún outro das mesmas características figura fotocopiado no antes aludido dossier preparado polo
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salgada e embutidos de porco, outros con prendas de vestir, e mesmo había un vendedor de turrón. Xa
á altura da ermida do Espírito Santo, e carón da interesante cruz de pedra antes aludida, principiaban a
abundar os postos de venda de froitos e produtos do país, como castañas, noces, mel, patacas, e algúns
con oferta tamén de viño e augardente. Como dato indicativo, direi que o prezo das castañas oscilaba
entre 1,5 e 3 euros o quilo, dependendo da calidade e tamaño, mentres que as noces valían a 3 euros.
Entre a capela e a parte da carballeira onde se atopaba o gando medraba a densidade de chur-
reiros, postos con prendas de vestir, pan e empanadas, rosquillas, xoguetes, ou os que ofrecían fouces,
sachos, asadores de castañas, etc. A diferenza do pasado, notábase a presenza de magrebíes ofrecendo
alfombras e paraugas, e algúns subsaharianos con lanternas, transistores, cintos, bolsos e outros
obxectos. Algo máis adiante estaba presente a maquinaria agrícola e de xardinería, e tamén alambiques
ou prensas para a confección de augardente e viño. Xa chegando á zona de gando, a ambos lados do
camiño de acceso, erguíanse diversos postos de arreos, selas e complementos para as cabalerías.
A breve descrición anterior permite apreciar que o día de San Martiño en Francos concentra un
variado mercado de produtos tradicionais xunto con outros propios dos nosos días. Pero o máis notorio
enlace co pasado segue a estar alí onde se sitúan bestas, cabalos, poldros e algún que outro burro,
se ben a presenza dos modernos camións dos tratantes introducía en 2005 unha nota de actualidade
no medio das centenarias árbores. Compre sinalar que a maior parte dos terreos deste espazo son de
propiedade particular, pois a súa superficie é de 12000 m2 e só uns 4000 son de titularidade municipal.
Aínda que os particulares poden cobrar por facer uso das súas propiedades, o concello non cobra taxa
algunha, sendo polo tanto, e a diferenza do pasado, unha feira franca neste aspecto.
Con respecto ao número de equinos, resulta menor que hai décadas debido á decadencia deste tipo de
gando e a conseguinte baixa na comercialización. Algúns datos recollidos pola prensa indican a presenza duns
800 animais en 2005, pero un reconto aproximado que fixen sobre as 12 horas deume unha cifra bastante
inferior, de algo máis de 250, sen tomar en conta, por suposto, os que a esa hora xa estaban cargados en
camións ou apartados da zona de transaccións. Se tomamos en consideración a súa caste , o predominio
absoluto era dos cabalos, bestas e poldros, xa que só puiden ver 8 asnos e unha única mula, en contraste
coa abundancia destes últimos équidos hai décadas, cando as mulas eran moi demandadas para revendelas
en Castela e os asnos aínda conservaban a súa utilidade como axuda en diversas actividades agrícolas.
En relación cos cabalos presentes, estes eran de tres tipos: algún poney, variedade de recente pre-
senza entre nós, bastantes exemplares galegos <<de monte>>, vendidos para carne, os que adoptaban
a clásica actitude defensiva de formar un apertado conxunto coas cabezas cara o centro e as ancas para
atrás, e, por último, os cruzados de monta ou algún puro sangue. Co obxectivo de coñecer o valor, falei
cun tratante, quen me dixo que os animais para carne ese ano valían entre 90 e 120 euros. Maior prezo
alcanzaban os cruzados de monta, e un rapaz aseguroume que pedía polo que tiña á venda 600 euros. Algo
despois puiden asistir a un regateo entre vendedor e comprador, no que o primeiro trataba de convencer
ao segundo de que mercase o seu cabalo por 500 euros, prometendo levarllo a casa sen gasto algún.
Ata aquí limiteime a destacar os compoñentes que conforman o mercado e a feira de gando. Mais
hai que ter en conta que toda esta mostra de produtos e animais funciona como unha escenografía na
que se moveron ao longo do día unhas 15.000 persoas, procedentes da comarca e mesmo de localida-
des bastante afastadas, incluso da distante cidade de Vigo. Centos de vehículos particulares, e algúns
transportes colectivos, ocupaban os aparcadoiros habilitados nas inmediacións do campo da feira, e
tamén as estradas de acceso ao lugar. Nas entradas ao centro da carballeira, onde están instalados os
postos de obxectos relacionados cos cabalos, o xentío dificultaba a media mañá a circulación polo camiño
central. Calquera membro do público pode ser comprador potencial, pero tamén un curioso que acode a
gozar dunha xornada extraordinaria. Moitos acaban ocupando totalmente os bancos e mesas da ducia
de establecementos de polbo, situados no lado sur do arboredo, nos que se ofrece, ademais deste prato
típico, outros como churrasco e carne ao caldeiro. Ao cabo, o xantar de feira, hoxe coma onte, contribúe
a crear unha atmosfera festiva na que os manxares, xunto co viño, se erixen en reis da celebración.
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Non faltou no ano 2005 outro compoñente tradicional de feiras e festas. Refírome a un grupo de
xitanos, dous homes e unha muller, que ofrecían o seu espectáculo, consistente nunha cadeliña ensinada
a facer exercicios de salto e andar en dúas patas, así como unha cabra que subía a unha escaleira de
man para amosar as súas dotes de equilibrista, cun acompañamento musical executado por un dos
seus tres amos, mentres outro conducía os animais e a muller recollía os donativos dos espectadores.
Tampouco deixaron de estar en Francos este día outros feirantes pouco aconsellables, pero habituais
neste tipo de encontros, como algúns carteiristas, ou moinantes, que intentaban aproveitar despistes
para facerse cos cartos ou bens alleos.
Un feito propio dos últimos tempos é a xeneralización do uso do automóbil polos asistentes, facili-
dade de locomoción que provocou que as feiras, o mesmo que as romarías, reducisen a súa duración. En
efecto, se antano os feirantes permanecían no lugar todo o día, ou mesmo máis dun día, agora acoden
durante unhas poucas horas e logo retornan á casa ou continúan a outros lugares. E isto foi evidente
en Francos no ano 2005, pois a media tarde xa se desfixera a feira, e tampouco houbo actividades
vespertinas moi propias de outrora, como as sesións de cinematógrafo ou os bailes
Finalmente indicarei que, o mesmo que sucede con outros eventos deste tipo ou coas festas, a feira
de San Martiño ten un recoñecemento oficial por parte do concello de Teo, quen declara cada ano esta
xornada como festa local, celebrando unha comida oficial nun dos postos de polbo, con autoridades invi-
tadas dos municipios limítrofes. Tamén axudou nos últimos decenios a mellorar as condicións do campo
da feira, dotándoo de auga corrente e iluminación pública ou de camiños urbanizados con cemento, así
como de seguridade mediante vixilancia da policía local. Coa finalidade de incrementar o atractivo da feira,
nos últimos anos tratouse de incorporar ao evento novas actividades, por exemplo unha mostra de gando
autóctono galego no ano 2014. Todo este esforzo complementouse coa iniciativa municipal de solicitar
do Goberno Autónomo de Galiza a declaración deste encontro como Festa de Interese Turístico, proposta
que inicialmente foi desestimada, pero que, reiterada de novo, está á espera de lograr un merecido éxito.
Remate
A descrición que acabo de facer da feira de San Martiño pon en evidencia a súa dimensión non só
de lugar de actividade económica, senón a súa crecente dimensión de lugar de divertimento. Reiterando
o xa dito, móvese nun continuum que oscila entre un tempo de feira, relacionado co negocio, e un
tempo de festa, de ocio, caracterizado pola implantación nun espazo determinado dun tempo especial
no que os asistentes poden gozar dunha ruptura co cotián propicia para a diversión e o consumo de
manxares propios dunha celebración festiva. Malia a antes citada redución do tempo de permanencia
na feira e a desaparición de espectáculos de antano, os derradeiros tempos amosan que a faciana
lúdica, connatural con este tipo de reunións dende as súas orixes, incrementouse a causa de dous
factores de distinta orde: a decadencia evidente da actividade agraria tradicional, xunto coas súas
connaturais formas de comercialización, e a xeneralización dunha economía monetaria que permite
masivos desprazamentos por lecer, algo habitual na sociedade de arestora, na que o consumo non é
só unha maneira de cubrir necesidades básicas, senón tamén unha actividade gratificante.
Algúns dos datos antes manexados deixan ben manifesta esta tendencia, pois a cifra de 800 ani-
mais á venda en 2005, aceptando unha cantidade moi optimista, e ademais reducida amplamente en
edicións posteriores, non xustifica que pasen polo lugar miles de persoas ao longo do día. En definitiva,
a asociación intensa entre lugar de feira e visitantes por consumismo festivo é unha constante in cres‑
cendo que non se pode evitar nin moito menos negar. Grazas a esta adaptación da súa funcionalidade
a feira de San Martiño de Francos ten posibilidades de sobrevivir ao naufraxio do mundo campesiño
que a veu nacer e medrar, polo menos mentres novas ameazas, entre elas a preocupante situación
demográfica de Galiza, cunha poboación rural envellecida en drástico descenso xunto cunha baixísima
natalidade xeral, non acaben por aniquilala sen remedio.
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González Reboredo, Xosé Manuel — Notas sobre as feiras de Galiza. O caso da feira de San Martiño en Francos (Calo-Teo)
Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 217-230
BIBLIOGRAFÍA
Advertencia previa: Ademais da bibliografía citada no texto, considerei oportuno facilitar algúns títulos máis que
me serviron para coñecer, xunto coas miñas experiencias <<de campo>>, o mundo das feiras de Galiza, e que poden
ser de utilidade a quen queira seguir afondando nesta temática.
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Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 217-230
Fig. 1 – Vista da zona onde estaban situados en 2005 os postos de prendas de vestir e complementos.
Fig. 2 – Lugar de venda de froitos. Na dereita pode verse a curiosa cruz de pedra de Francos.
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Fig. 3 – A tecnoloxía actual faise presente nos lugares onde se exhibe maquinaria agrícola.
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Vasco Mantas1
RESUMO:
Vulgarmente considerada como parte da estrada Olisipo‑Bracara, a via Bracara Augusta‑Cale
pertencia ao reduzido grupo de estradas com características de autênticas vias, homogéneas
na sua balizagem. Embora se possa atribuir a estrada à época de Augusto, os seus miliários
mais antigos não são anteriores a Adriano, imperador a que corresponde uma operação de
marcação geral da via, provavelmente em consequência de uma reforma do seu traçado inicial.
Desta operação de balizagem conhece‑se um total de seis miliários, dos quais sobreviveram três,
incluindo neste número um monumento completamente desfigurado. A partir da análise dos
dados conhecidos, é possível admitir uma renovação total da via nos últimos anos do governo
de Adriano.
Palavras‑chave: Miliários; Vias romanas; Adriano; Bracara Augusta.
ABSTRACT:
Usually considered as a part of the Olisipo‑Bracara road, the Bracara Augusta‑Cale route belonged
to a select group with true road characteristics, homogeneous in their signaletic. Although the road
can be attributed to the time of Augustus, the older milestones do not predate Hadrian, emperor
identified with a general route marking operation, probably as a consequence of a change in its
course. Of this marking operation, a total of six milestones are known, of which three survived
including a completely defaced monument. From the analysis of known data, it is possible to
admit a complete renovation of the road in the final years of Hadrian’s rule.
Keywords: Milestones; Roman roads; Hadrian; Bracara Augusta.
A importância de Bracara Augusta como centro viário é justamente conhecida, não faltando
numerosos testemunhos das diversas estradas que irradiavam da cidade, uma das quais era a que se
dirigia a Cale, nas proximidades da foz o Douro2. Não se tratando de uma estrada muito longa, pois o
Itinerário de Antonino lhe atribui 35 milhas de extensão, valor correcto, o facto deste famoso roteiro a
incluir, ainda que como troço final do grande itinerário Olisipo‑Bracara (IA 420,8‑422,1), e a circunstân-
cia pouco usual de se tratar de uma autêntica via, no sentido restrito e mais especializado do termo,
uma vez que a contagem das milhas se fez sempre tendo Bracara como ponto único, conferem‑lhe um
destaque especial.
A estrada conta com um número avultado de miliários, sobre os quais existem diversos estudos, o
último publicado recentemente no âmbito de um valioso corpus dos monumentos viários do Noroeste
1
Universidade de Coimbra. Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos.
Dos 34 itinerários hispânicos incluídos no Itinerário de Antonino, cinco têm Bracara Augusta como ponto inicial: Hervás 1975: 35‑36;
2
Mantas 2000: 53‑87. Agradecemos cordialmente ao Dr. Luís Madeira a preparação das ilustrações deste artigo.
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atentar no facto de nenhum dos miliários de Adriano registados indicar que a via foi construída (fecit)
ou reconstruída (refecit‑restituit) por ele, contrariamente ao que se verifica com outros monumentos
deste imperador em diversas estradas hispânicas. Como não é possível duvidar da existência anterior
da via, devemos considerar a possibilidade de uma renovação completa da balizagem da mesma, efec-
tuada maioritariamente entre 133 e 134, período correspondente ao décimo oitavo poder tribunício de
Adriano12. Todavia, o facto de se proceder a uma nova colocação de miliários abrangendo a totalidade
do percurso da estrada não justifica, no caso de Adriano, a eliminação total dos anteriores, admitindo
que existiam, a exemplo do que se conhece na estrada Bracara‑Tude, pois era habitual a manutenção
dos existentes, a menos que se tratasse de uma espécie de damnatio memoriae radical, inadmissível.
Sem o podermos afirmar de forma conclusiva, cremos que a renovação da balizagem da via só
pode explicar‑se no cenário de uma alteração significativa do seu traçado com consequências na medida
da distância total entre Bracara e Cale, inutilizando parte das indicações miliárias disponíveis. Se assim
aconteceu, embora os novos miliários não considerem trata‑se de uma obra nova, a envergadura dos tra-
balhos pode justificar uma balizagem completa da via, mesmo nos troços não alterados, onde teria sido
possível conservar os miliários anteriores. Estamos convencidos de que essa alteração do percurso existiu,
encurtando‑o, e que teve lugar nos últimos anos do governo de Adriano, terminando com a colocação de
uma série de miliários em granito de grão fino, com inscrições homogéneas, com o nome imperial em dativo,
circunstância ainda não muito vulgar no século II, mostrando regularmente o topónimo indicativo da origem
da via em ablativo. Também, de forma pouco habitual neste tipo de epigrafia, se utilizaram hederae como
parte da pontuação (CIL II 4736; CIL II 4738), denotando um cuidado especial no aspecto formal dos textos
Admitindo que a iniciativa dos trabalhos coube à autoridade provincial13, a ocorrência da dedicatória
ao imperador concorre para valorizar a hipótese de trabalhos de significativa envergadura envolvendo
a estrada. Não podemos, de forma nenhuma, considerar os marcos como simples colunas honoríficas,
uma vez que ostentam indicações miliárias. Como sucede normalmente, quase todos padrões viários
posteriores receberam igualmente indicação de distâncias nos seus letreiros, transformando‑os em
monumentos mais ou menos honoríficos. Na origem desta evolução talvez se encontrem os miliários
levantados para comemorar o início do governo de determinados imperadores, levando a um local
frequentado uma prova de respeito pelo governante e que também servia para manter a população
informada sobre quem regia os destinos do Império. Como é natural, à medida que o peso dos trabalhos
viários recaiu sistematicamente sobre as cidades, os miliários tornam‑se com frequência monumentos
honoríficos, uma vez que esses mesmos trabalhos são dedicados ao imperador, que os impunha14.
Cremos que o traçado inicial da estrada era diferente, correspondendo à que de Cale conduzia à
Barca do Lago por Rates, a Karraria antiqua, das referências na documentação medieval. O seu traçado,
relativamente nítido anos atrás15, conta com alguns vestígios arqueológicos, embora sem miliários.
Partiria de Cale talvez do local do traiectus do Douro, na Ribeira do Porto. Seguiria por Cedofeita, em
direcção a Padrão da Légua, com um percurso idêntico ao da estrada referida nas Inquirições de 1220
como Via Vetera, salvo no troço inicial. Continuava por Gondivai, onde um documento de 1099 a refere
como Carreira, atingindo o Leça na Ponte de Barreiros ou da Azenha. Esta ponte, com três arcos de
volta inteira e talha‑mares arruinados, a montante, tem 20 metros de comprimento e quatro metros
de largura. O seu estado actual resulta de diversas reconstruções e reformas, porém, a sua origem
romana é segura, contando o primeiro arco da margem direita com várias aduelas almofadadas. Pro-
vavelmente, os dois restantes corresponderão a obra posterior. A ponte pode incluir‑se facilmente no
modelo 1 definido por Durán Fuentes16.
12 Cagnat 1914: 196. Uma balizagem semelhante, e do mesmo período, existe na Vía de la Plata: Torres 1995: 127.
13 Pekary 1968:113‑115; Sillières 1990: 695‑696.
14 Pharr 1952: 194‑205, 423, 431, 524; Mantas 2012: 97‑100.
15 Almeida 1980: 151‑170.
16 Fuentes 2005: 326
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A simples existência de uma ponte de pedra neste itinerário é suficiente para lhe conferir uma
importância especial, não se compreendendo de outra forma a sua presença a tão curta distância da
Ponte da Pedra, também obra originariamente romana e da qual sobrevivem vestígios sugerindo uma
tipologia construtiva do século II, particularmente alguma silharia sobrevivente e o muro de protecção do
encoste da margem esquerda17. Cremos que a Ponte de Barreiros servia o traçado inicial da estrada18,
a qual continuava para Mosteiró, onde abandonava o caminho que seguia para norte, flectindo para
ganhar as proximidades do grande castro de Alvarelhos e o lugar de Muro, a partir do qual o trajecto
coincidia com a via Bracara‑Cale da balizagem de Adriano. Assim, julgamos que no início do Império a
estrada tinha um traçado que foi rectificado no século II, encurtando‑o e levando à construção de uma
nova ponte sobre o Leça, a Ponte da Pedra, menos conhecida por Ponte de Santa Ana.
Na falta de miliários anteriores a Adriano e tendo em conta a intervenção de Augusto na região,
podemos admitir que a estrada remonta ao início da época imperial, exactamente como a que ligava
Bracara a Tude. Cremos que o cipo funerário do militar olisiponense L. Lavius Tuscus, achado na
encosta do morro do Castelo Velho de Gaia e vagamente parecido com um tosco miliário, pode, pelas
suas características e pela forma como indica a origem e a tribo19, reflectir trabalhos viários na zona
pelo final do principado de Augusto, a exemplo das indicações oferecidas pelos miliários da estrada que
unia Bracara ao Rio Minho em Tui, do ano 11. Como a sul do Douro o miliário mais antigo da estrada
Olisipo‑Bracara, em Ul, remonta a Tibério, seguindo‑se na zona de Coimbra os de Calígula20, parece
possível aceitar a hipótese de que se verificou uma sucessão ordenada de trabalhos viários, iniciados
em função do desenvolvimento de Bracara Augusta. A renovação da via, sob Adriano, terá começado
a partir de Cale, o que também é lógico considerando que o tramo inicial, até ao Ave, terá sido o que
necessitou de trabalhos mais complicados, incluindo pontes. Seja como for, o miliário de Bracara que
indica a extensão total da via foi o último a ser colocado (CIL II 4748), pois a titulatura de Adriano lhe
atribui uma datação de 134‑135, posterior a todos os restantes, situados, talvez com uma excepção (CIL
II 4737 = CIL II 4739), no período 133‑134, o que sugere ter a frente de trabalho avançado em direcção
a Bracara Augusta. O levantamento sistemático dos materiais provenientes de sítios arqueológicos ao
longo da via poderá contribuir decisivamente para precisar a cronologia e a história da mesma.
Do total de 21 miliários da via Bracara‑Cale apenas seis pertencem a Adriano, ou seja 28,5%, a
maioria dos quais se perdeu desde que foram registados. Ainda assim, trata‑se de um núcleo relativa-
mente importante, disperso ao longo do traçado da via (Fig.2). Um aspecto interessante que o estudo
do conjunto de miliários que chegaram ao nosso conhecimento permite reconhecer é o que se relaciona
com a manutenção de Bracara como ponto único de contagem das distâncias (caput viae) até ao ponto
terminal, inclusive nos miliários do Baixo‑Império, o mais recente dos quais contendo indicação miliária
é o de Constante, datado de 337‑338 (CIL II 4742 = CIL II 6209), achado na demolição da velha ponte
da Ribeira de Sedões, na Trofa Velha21, miliário que indica a milha XXI. Verifica‑se, desta forma, que a
estrada manteve a sua condição de via homogénea, circunstância que não acontece noutras situações
em que inicialmente a contagem de fazia ao longo de todo o traçado tendo sempre como referência o
ponto inicial, como sucedeu, por exemplo, na via que unia Emerita Augusta à Serra da Estrela, seguindo
para o Douro, construída no principado de Augusto, a qual teve os miliários posteriores com um sistema
de contagem de distâncias parcelar22, baseado em entidades políticas entretanto criadas.
Este facto obriga a retomar a questão da organização administrativa do território dos Bracari,
sobretudo na região a sul da sua capital. Nenhum dos roteiros viários antigos refere entre Cale e Bracara,
17 Bidwell,
Holbrook 1989: 1‑49, 138‑140.
18 Almeida 1980: 160‑161. Não é impossível que, a norte do Ave, a via tivesse inicialmente um traçado próximo do que foi depois seguido
pela estrada para Braga, tal como ela existia no século XVI: Ferreira de Almeida 1968: 187; Matos 1980: 44‑46, 188‑190.
19 Matos 1937: 670‑673; Le Roux 1982: 119. Preferimos uma datação alta para este monumento.
20 Mantas 1996 I: 324‑342.
21 Mantas 1996 I: 367‑371
22 Mantas 2012: 250‑252; Curado 2013: 59‑74.
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qualquer outra estação, circunstância que, mesmo considerando as incongruências de que enfermam,
parece significativa. Se existisse, entre os centros urbanos unidos pela estrada, outra civitas, dificilmente
deixaria de se encontrar registada no Itinerário ou na Cosmografia. É certo que o estatuto urbano de Cale
continua a ser uma incógnita, mas já não é possível considerar a povoação que se desenvolvia à volta do
morro de Pena Ventosa como uma obscura aglomeração secundária. A reforma da via Bracara‑Cale sob
Adriano, que devemos situar no cenário de desenvolvimento verificado na região meridional do Conventus
Bracaraugustanus nos inícios do século II, desenvolvimento que se reflecte claramente na melhoria das
vias de comunicação23, leva‑nos a recordar a epígrafe portuense consagrada aos Lares Marini por um tal
Q. Ulpius Flaus (AE,1973,311), cujo gentilício nos situa perfeitamente na época em questão.
Não esqueçamos que a inexistência de um estatuto urbano privilegiado não significa, sobretudo
quando se trata de povoações envolvidas em actividades económicas importantes, que estas fossem
de modestas proporções e parca monumentalidade. O porto de Cale desempenhou um triplo papel a
nível das comunicações da Calécia e da Lusitânia, como centro viário estratégico, porto fluvial e porto
marítimo, o que lhe conferia um lugar especial entre as povoações dos Callaeci, de que seria na época
romana a mais importante. Outra povoação, provável capital dos Madequisenses, o castro de Alvarelhos,
parece ter perdido capacidade de afirmação política, passando‑lhe a estrada, depois da rectificação que
propomos, alguns quilómetros a oriente, na zona do Muro, onde cremos dever situar‑se uma estação
viária. A alteração do traçado, considerando a distância indicada no miliário achado no Muro (CIL II
4743), rondará pelos seis quilómetros, razão que nos leva a admitir outras causas para a mesma e não
apenas a limitação do percurso a percorrer. O facto de se tratar de uma estrada cujo traçado aparen-
temente englobava mais de metade da que já existia, umas 23 milhas, pode ter influenciado a falta de
menção ao tipo de trabalhos desenvolvidos, o que, convenhamos, não é usual mesmo em renovações.
Do estudo do povoamento regional e da dispersão dos miliários existentes parece poder deduzir
‑se a presença de um limite territorial cerca do Rio Ave, possivelmente o limite entre Callaeci e Bracari.
Embora não se tenha identificado nenhum ninho de miliários, como os que se conhecem na Via Nova
ou na via Emerita‑Asturica, devemos referir os quatro miliários achados na velha ponte da Ribeira de
Sedões, tardios, pois se repartem por Tácito, Licínio, Constante e Magnêncio, miliários que se encon-
trariam todos no mesmo local24, provavelmente no ponto onde a estrada tocava o limite sul do território
de Bracara. Seja como for, e a epigrafia não tem dado grande ajuda nesta questão, parece evidente
que as duas grandes entidades políticas existentes na região foram a dos Brácaros e a dos Calaicos,
alheando‑se o testemunho dos miliários de qualquer outra referência, mesmo ocasional.
Quais são, então, os seis miliários de Adriano que se conhecem da via Bracara‑Cale e onde se
acharam? Em Braga um, com indicação da distância total da via (CIL II 4748); em S. Cosme do Vale
ou Vale de S. Cosmado, outro (CIL II 4867); dois na área de Vila Nova de Famalicão (CIL II 4737 = CIL
II 4739; CIL II 4738); um na Quinta o Paiço (CIL II 4736); um em S. Mamede de Infesta (CIL II 4735).
Infelizmente, como veremos, deles apenas sobreviveram os marcos recolhidos em Braga (CIL II 4748)
e na Quinta do Paiço (CIL II 4736). Procederemos à descrição dos monumentos de seguida, não pela
ordem em que normalmente são apresentados, a partir do Porto, de acordo com a enumeração das
estações da estrada Olisipo‑Bracara (IA 420,8 ‑4 22,1), mas sim segundo a ordem da balizagem da
via, a partir de Bracara, tal como ocorre numa obra recentemente publicada por investigadores do
país vizinho25, metodologia que nos parece mais adequada ao estudo de uma estrada que foi lançada
para unir Bracara a Cale, acabando por ser integrada num itinerário compósito (IA 421,8‑422,1).
Dispensamo‑nos de citar uma bibliografia exaustiva dos monumentos, facilmente consultável a partir
das obras que indicamos.
23 Tranoy1982:206‑220;
24 Capela
1895: 221‑222, 226‑227, 251; Mantas 1996 I: 359‑375.
25 Colmenero, Sierra, Asorey: 614.
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Este miliário encontrava‑se na primeira metade do século XVII na cerca do Colégio de S. Paulo
e dele nos deu notícia o arcebispo D. Rodrigo da Cunha26, prelado que reuniu nos jardins do paço
arquiepiscopal várias inscrições romanas. Era um monumento com as mesmas características do que
foi recolhido no Campo de Santana, para depois passar às Carvalheira e daí ao Museu D. Diogo de
Sousa (CIL II 4752). Podemos presumir tratar‑se de uma coluna viária de boa qualidade, ignorando‑se
o que lhe terá sucedido. A paginação repete a que se encontra nos restantes miliários de Adriano per-
tencentes a esta série (Fig.3), executada com particular cuidado, pelo que podemos supor o recurso
a pontos circulares e hederae.
A epígrafe apresenta dois problemas, quanto a nós falsos problemas. Na l.5 encontramos a referên-
cia ao décimo nono poder tribunício, que Hübner sugeriu estar por XIIX, de acordo com o que se verifica
noutros miliários de Adriano, mas nunca na série da via Bracara‑Cale, razão que nos leva a manter a
lição de D. Rodrigo da Cunha. Como dissemos, os miliários terão sido colocados a partir de Cale pelo
que este seria o último, levando a indicar o XIX poder tribunício, que correspondeu quase por completo
ao ano de 135. O segundo problema, levantado por Hübner, refere‑se à indicação do término da via,
que segundo o epigrafista germânico poderia resultar de uma interpolação. Não só não vemos nenhum
interesse por parte de D. Rodrigo da Cunha em inventar tal indicação, facilmente compreensível por
se tratar de uma estrada com balizagem sistemática a partir de Braga. O melhor argumento a favor da
autenticidade da referência consiste noutro miliário de Adriano (Fig.4), também achado na cidade e que
se refere à estrada para Asturica Augusta27, miliário felizmente conservado e oportunamente integrado
na colecção do Museu D. Diogo de Sousa (CIL II 4747; EE VIII 456). Transcrevemos a epígrafe tal como
existe: [...] / […]RINO / AVG / […] MAX / TRIB. POTEST. [X]IIX / COS. III. P. P. / A BRACARAVG / ASTVR[…]
E / M.P.C[…]. Assim, julgamos não haver razões para suspeitar do texto que nos foi transmitido para o
miliário da via Bracara‑Cale.
Esta coluna viária marcava a saída da estrada para Cale, muito provavelmente na extremidade
da antiga Rua da Cruz da Pedra28, não muito distante da actual Rua do Caires. Funcionava como um
autêntico indicador viário, ainda que sem pormenorizar as estações secundárias da estrada. Ambos os
limites indicados nos miliários de Braga correspondem a locais importantes do ponto de vista adminis-
trativo: a fronteira da Tarraconense, no caso de Cale (CIL II 4748), e uma capital conventual, Asturica
Augusta, no caso do miliário da Via Nova (CIL II 4747). Esta circunstância comprova a importância
de Braga como centro viário e destaca o cuidado posto pela administração, na época de Adriano, na
manutenção e aperfeiçoamento da rede viária hispânica, evidente na via Bracara‑Cale.
Miliário desaparecido que, nos inícios do século XVI, segundo o Doutor João de Barros, se encon-
trava no Vale de S. Cosmado, freguesia dos Santos Cosme e Damião, concelho de Vila Nova de Fama-
licão. Não temos uma descrição formal desta coluna viária, que se encontrava metida na terra, mas
o que foi transcrito da epígrafe permite incluí‑la entre os miliários de Adriano da via Bracara‑Cale. É
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possível que o local conhecido pelo microtopónimo Pedra, nome de um lugar junto ao Rio Pelhe, esteja
relacionado com este miliário.
A referência de João de Barros à localização deste miliário não permite dúvidas quanto a tratar
‑se do vale do Rio Pelhe. A sua atribuição à área de Barcelos ficou a dever‑se ao facto de Vila Nova
de Famalicão pertencer, no século XVI, à comarca de Barcelos: Nesta terra de Barcelos há uns valles
muy frescos assim como Vermoin e São Cosmado e outros. E neste valle, mais adiante, está outra
coluna...IMP. CAESARI… HADRIANO AVG… POTIF. MAX29. Este miliário tem sido, por vezes, atribuído
à via Bracara‑Asturica, por Lugo, erro corrigido já há alguns anos por Brochado de Almeida30. O vale
do Rio Pelhe condicionou claramente, na zona de S. Cosme, a directriz da estrada entre Santiago de
Antas e Santa Marinha da Portela.
Não é possível averiguar nada quanto ao destino ou provável paradeiro deste monumento, que
debalde tentámos localizar anos atrás. O seu estado de conservação não seria o melhor, ainda que a
legenda incompleta se possa dever ao facto do miliário se encontrar semienterrado, impedindo uma
leitura completa do texto. Nenhuma das transcrições anteriores a Hübner coincide na translineação,
pelo que resolvemos reconstituí‑la a partir da paginação dos miliários de Adriano da estrada Bracara
‑Cale. A presença na l.4 da abreviatura PONTIF parece‑nos suficiente para o distinguirmos do miliário
CIL II 4737, de Vila Nova de Famalicão, em cuja epígrafe o mesmo cargo foi grafado como PONT. Trata
‑se, seguramente, de um miliário da série do décimo oitavo poder tribunício de Adriano, de 133‑134.
Atendendo à topografia da estrada é provável que este padrão viário do Vale de S. Cosmado corres-
ponda à milha IX, contada naturalmente a partir de Braga, representando o testemunho da balizagem
sistemática da via por Adriano registado mais perto da cidade, exceptuando o miliário inicial (CIL II
4748), em Bracara Augusta.
3 – Vila Nova de Famalicão: Capela 21; CIL II 4738 = CIL II 4752; Mantas 1996 39;
Colmenero 2004 5 = 540
Miliário de granito de grão fino, cilíndrico (245x65cm), com toda a probabilidade transportado para
Braga no século XVI, para o Campo de Santana, passando depois às Carvalheiras, de onde acabou
por seguir para o Museu D. Diogo de Sousa (Fig.5). É um dos dois únicos miliários da via que se con-
servaram. Julgamos tratar‑se do miliário que Mariangelo Accursio registou em Vila Nova de Famalicão
(CIL II 4738), levando à sua duplicação31. O marco encontra‑se em bom estado, embora ostente uma
fractura sob o campo epigráfico, do lado direito do mesmo. O letreiro foi renovado, como tantos outros
recolhidos em Braga, pelo que é necessário contar com possíveis alterações no texto original.
O miliário que Accursio situou na cidade de Braga, de forma algo imprecisa, não deve ser outro
senão o que o mesmo humanista diz encontrar‑se em Vila Nova de Famalicão32, na única referência
directa ao mesmo. Embora divergindo da interpretação tradicional, já cautelosamente suspeitada por
Alain Tranoy em 198333, cremos que se trata realmente de uma duplicação. O miliário mostra o mesmo
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tipo de paginação e de texto dos miliários de Adriano da estrada Bracara‑Cale, na qual encontraremos
apenas uma excepção no monumento que analisaremos depois deste (CIL II 4737 = CIL II 4739).
A inscrição foi renovada, pelo menos parcialmente, como sugere a falta das letras NO no antropónimo
HADRIANO, na l.2. A pontuação, com noutros miliários desta série, conta com pontos circulares e
hederae, em parte desaparecidas. Todas as letras numerais são encimadas por uma barra, como se
verifica também no miliário da Quinta do Paiço (CIL II 4736).
Na l.5 encontramos uma divergência em relação aos restantes miliários deste conjunto, com excep-
ção do que foi referido por Accursio em Famalicão (CIL II 4738), no qual corre igualmente a abreviatura
POTES, tal como o miliário recolhido em Braga. Atendendo a este pormenor, que não podemos atribuir
à renovação da inscrição, e ao facto da única referência ao miliário de Vila Nova da Famalicão ser a
de Accursio, pois nem João de Barros, que alude pouco depois a dois miliários de Adriano da mesma
zona (CIL II 4737; CIL II 4867), o refere. Assim, é muito provável que ao ser renovada na inscrição a
indicação da distância, esta tenha sido modificada de XII para XIII milhas, tal como na l.7 terá sido
regravada a abreviatura AVG(usta). Transcrevemos o texto transmitido por Accursio do miliário de Vila
Nova de Famalicão: IMP (hédera) CAESARI / TRAIANO (hédera) HADRIANO / AVG / PONTIF (hédera) MAX
/ TRIB. POTES. XVIII / COS (hédera) III P.P. / A BRACARA / M.P. XII (CIL II 4738).
É difícil decidir definitivamente sobre a identificação que propomos, que nos parece viável, tanto
mais que assim ficamos na zona de Vila Nova de Famalicão com os miliários de Adriano das milhas XII
e XIII, seguindo‑se‑lhe os os marcos de Caracala das milhas XIIII e XVI. Capela estranhou que um marco
tão afastado de Braga tivesse sido deslocado para a cidade, argumento que não utiliza a propósito
do miliário considerado da milha VIII, que julgamos corresponder à milha XIII, localizado em Vila Nova
de Famalicão (CIL II 4737). Não é impossível, embora os miliários recolhidos em Braga apresentem
distâncias mais reduzidas, que o miliário da milha XII tivesse sido deslocado para Braga devido ao
seu estado de conservação e a encontrar‑se num lugar público de onde a sua remoção não levantaria
problemas, a mais tratando‑se de iniciativa de um prelado bracarense. Accursio refere apenas que o
monumento se encontrava em Vila Nova de Famalicão, aldea ducis Braganzae.
No caso de aceitarmos o ponto de vista de Martins Capela teríamos que considerar que a indica-
ção de distância está gravemente alterada, devendo ser reduzida para III ou IIII milhas, o que não nos
parece razoável de acordo com os dados disponíveis, tanto mais que o marco de Braga indica o XIX
poder tribunício de Adriano (CIL II 4748), enquanto este indica o XVIII, integrando‑o melhor no conjunto
conhecido fora da cidade. Na verdade, embora nenhuma das circunstâncias favoráveis à hipótese da
duplicação seja indiscutível e absolutamente conclusiva, no conjunto sugerem francamente a duplica-
ção e a alteração da distância miliária por altura da regravação do texto, concluindo‑se que o miliário
de Braga não é outro senão o de Vila Nova de Famalicão.
4 – Vila Nova de Famalicão: CIL II 4737 = CIL II 4739; Mantas 1996 38; Colmenero 2004 541
No século XVI, João de Barros escreveu que este miliário se encontrava na aldea chamada Villanova
de Famelicão, em huma casa do duque de Barcellos34, casa situada em local indeterminado da actual
sede concelhia. De acordo com a transcrição, o miliário encontrava‑se em bom estado. Julgamos, como
Martins Sarmento, que este monumento (CIL II 4737) é o mesmo que Serra Craesbeck viu, em 1724,
já praticamente destruído, na adega de uma casa de Vila Nova de Famalicão (CIL II 4739).
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5 – Quinta do Paiço: CIL II 4736; Capela 28; Mantas 1996 25; Colmenero 2004 554
Miliário cilíndrico, em granito de grão fino (113x62), incompleto, conservado no jardim da Quinta
do Paiço (Fig.7), na antiga freguesia de Alvarelhos, agora união de freguesias de Alvarelhos e Guidões,
concelho de Santo Tirso. Não é possível localizar com precisão o local de achado do miliário, com toda
a probabilidade transportado de um ponto não muito distante da quinta onde foi recolhido em data
também ignorada, anterior a 1858. O estado do monumento é regular, com acentuado desgaste, tendo
perdido a parte inferior com prejuízo para a epígrafe, a que falta a última linha respeitante à indica-
ção da distância. No topo mostra uma cavidade circular, ligada a um pequeno entalho perpendicular,
reflectindo alguma reutilização desconhecida.
A proveniência do miliário já no século XIX era desconhecida, não sendo possível mais do que
atribuí‑lo à freguesia de Santa Maria de Alvarelhos39. Perdida a indicação da distância torna‑se difícil
calcular o local exacto onde foi levantado, seguramente não muito longe da quinta, no troço da via entre
Muro e S. Pedro de Avioso, zona onde os achados romanos são muito numerosos e que dista pouco
do importante castro romanizado de Alvarelhos e do lugar de Palmazão, registado num documento do
século X como Villa Palmatianus40.
O miliário da Quinta do Paiço, um dos dois que se conservaram de uma série de pelo menos 36, teria
originalmente mais de dois metros de altura e, mesmo truncado, conserva ainda um aspecto imponente.
A paginação é excelente, com um eixo de simetria bem definido, alternando harmoniosamente a extensão
das linhas, respeitando com rigor a regra da integridade das palavras. O recurso a linhas auxiliares para traçar
os caracteres, próprios da escrita capital quadrada do século II, reconhece‑se na regularidade da epígrafe.
A pontuação, bem marcada, é sóbria, combinando as hederae com pontos, muito difíceis de identificar. As
letras numerais são todas encimadas por uma barra, que é agora o único vestígio da l.8. A inscrição não
levanta problemas de leitura e felizmente não foi regravada. O ordinal referindo o exercício do poder tribu-
nício não se vê com facilidade, mas consideramos, a exemplo dos restantes miliários da série, que seja
XVIII. Teremos, assim, mais um marco levantado entre 10 de Dezembro de 133 e 9 de Dezembro de 134.
A epígrafe mostra uma grande sobriedade, clássica, presente na totalidade das inscrições mili-
árias de Adriano pertencentes às estradas que irradiavam de Bracara Augusta. Na l.8, a barra que
encimava o numeral da distância tem uma extensão que sugere, considerando inclusive a topografia
da via, tratar‑se do marco da milha XXIII ou XXIIII. Na verdade, os traços remanescentes não permitem
qualquer leitura, mas o facto de se ter achado no Muro um fragmento de miliário de Maximiano com
a indicação da milha XXIII autoriza a considerar este da Quinta do Paiço como transmitindo o mesmo
valor, uma vez que estamos, senão perante a primeira balizagem da via, pelo menos perante uma
balizagem sistemática e anterior à do miliário do Muro (CIL II 4743). Em alternativa, poderia indicar a
milha XXIIII, a situar para além do Muro, em direcção a S. Pedro de Avioso.
6 – S. Mamede de Infesta: Soromenho 20; CIL II 4735; Mantas 1996 22; Colmenero
2004 557
Este miliário representa um bom exemplo das vicissitudes sofridas pelas colunas viárias da via
Bracara‑Cale. Reutilizado inicialmente como pedestal de um cruzeiro junto à Quinta do Dourado ou
Quinta de Santo António, na Igreja Velha, freguesia de S. Mamede de Infesta, concelho da Maia, de
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onde foi transportado, cerca de 1894, para o cemitério paroquial onde, depois de algum tempo, foi
desbastado para servir de novo como base de uma cruz, no centro do referido cemitério, exactamente
no dia em que Martins Capela o foi procurar41. Nada sobreviveu de aproveitável a esta “requalificação”
avant la lettre, salvando‑se o conhecimento do texto por ter sido já copiado por vários antiquários, entre
os quais Augusto Soromenho42, e como tal foi transcrito por Emil Hübner. Não podemos adiantar nada
sobre o aspecto do marco, a não ser confirmar tratar‑se de um monumento em granito de grão fino,
decerto semelhante aos restantes miliários de Adriano levantados na via Bracara‑Cale. Numa região
tão rica em pedra é francamente lamentável esta estulta reutilização.
A identificação do miliário que se encontrava junto à Quinta do Dourado com o que foi transportado
e reutilizado da forma mais desastrosa no cemitério de S. Mamede de Infesta, onde permanece (Fig.8),
não permite dúvidas e, para lá dos testemunhos escritos dos reverendos Farinhote e Castro da Cruz,
transmitidos por Capela, é confirmada pelo facto de Pedro Ribeiro e Castro da Cruz aludirem apenas às
três primeiras linhas, o último na carta que escreveu a Capela em 1894: Na circunferência da pedra
estavam gravadas certas letras, que já mal se liam, e que diziam Hadriano, Caesari, Augusto43. Fica
assim perfeitamente assegurada a existência de um único miliário em S. Mamede de Infesta.
Tendo em conta a localização do miliário em relação área de Pena Ventosa, no Porto, onde se deve
situar o núcleo principal de Cale, e a topografia possível da via, o marco de S. Mamede de Infesta corres-
ponde muito provavelmente à milha XXXII, a partir de Bracara. Este é o único miliário de Adriano do troço
da via a sul de Muro de que ficou registo, pertencendo, como a maioria dos restantes, à série do XVIII
exercício do poder tribunício, em 133‑134. O papel de Adriano, aqui como noutros itinerários peninsulares,
parece ter sido o de conservar as estradas em bom estado, introduzindo‑lhes as alterações consideradas
necessárias para o pleno exercício de funções progressivamente centradas em necessidades de tipo
administrativo e económico. Os trabalhos efectuados, tardios no quadro cronológico da governação de
Adriano, trabalhos que, no troço entre Olisipo e Scallabis da estrada que conduzia a Emerita Augusta44,
estão bem testemunhados por uma epígrafe datada de 135 (CIL II 4633), permitem manter a identidade
da via Bracara‑Cale no itinerário Olisipo‑Bracara, como obra distinta, destinada fundamentalmente a
facilitar as comunicações de Bracara, capital conventual, com a fronteira da Lusitânia e, a partir de Cale,
provável sede de civitas, com outra capital conventual e importante centro viário, Scallabis (Santarém).
***
41 Capela1895: 58
42 Soromenho 1858: 20.
43 Capela 1895: 58.
44 Mantas 2012:174‑179.
45 Alarcão 1988: 1‑38.
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Uma das questões que periodicamente se renova é a do valor métrico da milha romana, a qual
também tem sido evocada em relação à via Bracara‑Cale46. Os itinerários e os padrões viários pres-
supõem, naturalmente, a existência de um módulo único e permanente para a medida dos percursos
e respectiva balizagem das estradas. Esse módulo era a milha romana, equivalente a oito estádios
alexandrinos, que correspondem em termos de sistema métrico a 1481,50 metros. Podemos desde
já recordar duas excepções, que são, realmente, excepções: a medição dos trajectos marítimos em
estádios e a utilização na Gália e na Germânia, a partir dos finais do século II, de medidas em léguas
de 2222 metros, ou seja, milha e meia romana47.
Na Península Ibérica, desenvolveu‑se, desde 1912, uma longa discussão entre os especialistas acerca
da existência ou não existência de medidas regionais, a qual continua, e a que a recentíssima confirmação
da autenticidade do famoso Itinerário de Barro de Astorga veio dar novo impulso48. Em relação às estradas
do Noroeste hispânico devemos recordar, entre os defensores da tese favorável a existência de vários
tipos de milha, Rodríguez Colmenero e Brochado de Almeida49, enquanto outros, como Roldán Hervás,
Alain Tranoy e Pierre Sillières50, se declaram abertamente contrários. Pese o respeito que nos merece o
trabalho dos colegas defensores da possibilidade do recurso a milhas de longitude diferente, entre os
quais alguns há que nos honram com a sua amizade, parece‑nos destinado a prevalecer o reconhecimento
geral da utilização na Península Ibérica da milha romana normal, o que não exclui, naturalmente pequenas
diferenças por excesso ou por defeito. Devemos recordar que o problema resulta em larga medida da falta
de miliários in situ, pois quase sempre foram deslocados do seu local de implantação original, sugerindo
prudência nas conclusões sempre que faltem outros testemunhos da estrada.
Do nosso estudo sobre o itinerário Olisipo‑Bracara, vulgo via XVI, concluímos que o valor da milha
utilizada em todo o percurso é o da milha normal, cruzando as informações miliárias e a localização das
mansiones incluídas no Itinerário de Antonino51. Para a via Bracara‑Cale, privilegiada com um número
maior de miliários com indicação de distância, vantajosamente computada a partir de um ponto único,
o resultado é bastante claro quanto à medida utilizada, comprovando a uniformidade da milha romana.
Incluímos neste cálculo todos os miliários com indicação da distância registados entre Bracara e Cale,
independentemente do imperador a que pertencem.
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Os resultados que indicamos, obtidos através de múltiplas medições com o curvímetro sobre
cartas de diversas escalas, representam a média dos valores obtidos para cada situação. Naturalmente
há que ter em conta uma certa margem de erro, quer em relação às medições quer, nalguns casos,
a prováveis desvios dos miliários dos seus locais de implantação. Mesmo assim, e apesar de incluir-
mos um reduzido número de testemunhos, cremos ter demonstrado que o módulo da milha utilizada
na estrada Bracara ‑ Cale é o normal, dado que as medições efectuadas oscilam entre 1485 e 1476
metros, o que situa a média, que é de 1480,50 metros, quase coincidente com a longitude habitual
de 1480 ou 1481,5 metros por cada milha. Estes valores são comprovados, por outro lado, através de
medidas efectuadas sobre o traçado da estrada, entre pontos onde se conservaram miliários vizinhos
ou tendo em conta locais de muito provável implantação. A via Bracara‑Cale, relativamente curta e com
um trajecto reconstituível, contribui significativamente, devido à sua balizagem homogénea durante o
governo de Adriano, para a análise do problema da chamada milha ibérica.
Há vários anos sugerimos que se organizasse um Museu da Estrada52, no qual se recolheriam não
só os miliários sobreviventes da via Bracara‑Cale, todos já fora de contexto, como outros testemunhos
da utilização deste importante eixo viário ao longo da história, nomeadamente fotografias, gravuras
e bibliografia diversa, assim como objectos representativos da vida que animou a estrada durante
séculos. Não aconteceu assim, em tempo de facilidades e facilitismos culturais, parecendo‑nos agora
uma ideia difícil de concretizar, embora a não consideremos absurda. Resta‑nos recordar o Padre Mar-
tins Capela, que parece ter sido o primeiro investigador a constatar, em parte devido aos miliários de
Adriano, que a via Bracara‑Cale constituía uma unidade bem definida53, sem que tal verificação tenha
sido valorizada de forma devida nos estudos posteriores, sempre com tendência a apresentarem os
grandes itinerários como homogéneos. Deste grande investigador e da sua obra disse, num tempo de
Humanidades agora preteridas, Emil Hübner: Operam nondum absolutam esse Capella vir modestis
simus ipse satis intellexit; sed tamen exemplum statuit investigatione pertinaci illustre, quod speramus
fore ut imitandum sibi sumant rerum antiquarum studiosi Lusitani et Hispani54.
BIBLIOGRAFIA
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Corpus Inscriptionum Latinarum, Berlim (= CIL).
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BARROS, João de (1919), Geografia d’Entre Douro e Minho e Trás‑os‑Montes, Porto.
52 A propósito do miliário de Caracala conservado na Quinta de Santa Catarina (EE VIII 206), cuja casa nos pareceu particularmente
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Fig. 3 – O miliário inicial da via Bracara Augusta‑Cale, segundo Hübner (CIL II 4748).
Fig. 4 – O miliário inicial da via Bracara Augusta‑Asturica Augusta (Museu D. Diogo de Sousa. Braga).
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Fig. 5 – Miliário de Vila Nova de Famalicão (CIL II 4738 = CIL II 4752), regravado (Museu D. Diogo de Sousa. Braga).
Fig. 6 – Miliário de Vila Nova de Famalicão, duplicado (CIL II 4737 = CIL II 4739).
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Fig. 8 – Estado actual do miliário da Quinta do Dourado (CIL II 4735), agora em S. Mamede de Infesta.
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Rui Morais1
Teresa Soeiro2
Maria José Sousa3
RESUMO:
Estuda‑se a recepção, no sul do conventus bracaraugustano, da cerâmica romana de uso comum
com engobe vermelho não vitrificado fabricada em Lucus Augusti e discutem‑se as condições
técnicas, o gosto e as linhas de comercialização que facilitaram o seu sucesso.
Palavras‑chave: Callaecia bracarense; Cerâmica de engobe vermelho de Lugo; Comercialização
de cerâmica.
ABSTRACT:
The reception, in the south of the conventus bracaraugustano, of Roman common ware with
non vitrifiable red slip, produced in Lucus Augusti, is studied and the technical conditions, the
taste and the trade lines that made its success possible are discussed.
Keywords: Callaecia; Non vitrifiable red slip ware from Lugo; Ceramic trade.
Ao pensarmos no tema a eleger para este pequeno estudo, que se integra na merecida homenagem
dedicada pela Faculdade de Letras U.P. a Fernando Acuña Castroviejo, interrogamo‑nos sobre a forma
como poderíamos significar o seu permanente movimento pendular, físico e idiossincrático, entre as
terras galaicas a norte e a sul do Minho, onde vem muitas vezes, como seria de esperar, exercer fun-
ções académicas na nossa escola e também participar em eventos científicos organizados por museus
e centros de investigação, ou mesmo integrar equipas de trabalho arqueológico de campo, estaleiros
propícios ao forjar de cumplicidades intelectuais e amizades. Mas igualmente revelador é o seu hábito
de fazer, com assiduidade, estas deslocações discretamente, pelo simples e radical prazer de estar,
de experienciar, de conhecer território e gente.
A escolha surgiu de modo inesperado, quando estávamos na reserva de arqueologia do Museu
Municipal de Penafiel, instituição de seu particular apreço, e constatámos que alguns exemplares cerâ-
micos de engobe vermelho, recolhidos no Castro de Monte Mozinho, tinham grandes afinidades com
aqueles produzidos na cidade romana de Lucus Augusti. Ali estava o mote para um possível diálogo
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sobre itinerância e partilha, que necessariamente envolvia terceiros, outras populações residentes no
sul da Callaecia, as quais consumiram estas mesmas vasilhas, usando‑as na preparação e serviço de
alimentos, sobressaindo como maior centro recetor, se não mesmo redistribuidor, a cidade de Bracara
Augusta.
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em detrimento das oriundas da zona centro de Itália e da região etrusca. Aquelas vieram a substituir
estas durante o século I a.C. e alcançaram particular difusão durante o reinado de Augusto, tendo per-
durado até ao famoso desastre das cidades do Vesúvio, ocorrido em 79, quando perdem relevância.
Não surpreende, por isso, que as produções da Campânia estejam presentes na fachada atlântica
já desde os finais do século I a.C. e, em número acrescido, com Augusto e nos primeiros decénios do
Império. Numa primeira fase, tal presença deve certamente enquadrar‑se no âmbito militar e no con-
texto da sua influência junto das populações. Mas, gradualmente, a aprendizagem do seu uso vai sendo
assimilada, justificando a inclusão entre outros materiais importados de origem itálica e o posterior
fabrico local de espécies similares.
Como se sabe, estas produções originais comercializaram‑se a partir do sul, sendo naturalmente
mais escassas a norte do Douro, onde apenas foram registadas algumas ocorrências como, por exem-
plo: cerca de uma vintena de fragmentos em Braga, entre os quais um bordo da forma Oberaden 22/
Aguarod 4 (Fig. 1, 1) e Luni3/Aguarod 21 (Fig. 1, 2) e quatro bordos da forma Oberaden 21/Aguarod 6
(Fig. 1, 3); cinco no Castro de Monte Mozinho (Penafiel), também com pelo menos dois exemplares da
forma Oberaden 21/Aguarod 6 (SOEIRO 1984: 139‑140, Fig. LXIII 8), todos recolhidos em unidades
estratigráficas de época flávia (Fig. 1, 4); um da forma Oberaden 21/Aguarod 6, do Castro das Ermidas
(V. N. Famalicão), com a marca EOIR em cartela, ao centro, no interior (DELGADO 1993‑94:116, Est. I 1),
proveniente de contextos do séc. I d.C. com sigillata hispânica (PAUTREAU, QUEIROGA 1990), (Fig. 1, 5).
Esta presença pouco numerosa e tardia deve ser relacionada com a prevalência das tradições
culinárias da população local, e correspondente olaria de lume castreja, até pelo menos os meados do
século I d.C., tendência que se estenderia mesmo aos novos centros urbanos, como Bracara Augusta
e seu aro, onde o fabrico de cerâmicas de uso comum e de qualidade, ao gosto romano, se está ainda
então a afirmar (MORAIS, FERNÁNDEZ, MAGALHÃES 2012: 499‑520). Outro tanto se poderia dizer de
Lucus Augusti (ALCORTA 2001: 50‑56), mas com uma especial chamada de atenção para as cerâmicas
castrejas, mesmo formas fechadas de exterior enegrecido e com as tradicionais decorações brunidas/
estampadas/aplicadas, que começam a receber um forte engobe interior vermelho, à maneira dos pratos
de engobe vermelho pompeiano (ALCORTA 2001: 93), característica que perdurará nas bem‑sucedidas
e muito difundidas produções lucences, em que se incluem os exemplares objeto deste estudo.
Nas necrópoles com enterramentos datados até meados do século I d.C., os pratos estão ausentes,
como vemos em Bracara (MORAIS, FERNÁNDEZ, MAGALHÃES 2012: 499‑520; MORAIS, FERNÁNDEZ,
BRAGA 2013: 313‑326; MORAIS, SOEIRO, FERNÁNDEZ, no prelo) ou em Monteiras (Penafiel), aqui
mesmo em conjuntos da época de Cláudio‑Nero. Pelo contrário, as incinerações de cronologia flávia
desta necrópole já mostram pratos de lume, com perfis curvilíneos, a lembrar a forma predominante
entre os importados (SOEIRO 2009‑10: 33‑35).
As designadas cerâmicas de uso comum, que abarcam uma diversificada panóplia de produções,
assumem plenamente o modo romano nas últimas décadas do século I d.C.. A escala e as técnicas de
fabrico distinguem‑nas das precedentes, o mesmo se podendo dizer do aspeto final do produto, das
formas e das funcionalidades. Se é certo que as panelas e potes, por exemplo, continuam numerosos,
como já eram os correspondentes vasos fechados de perfil em S castrejos; o vaso de asas interiores,
presença em todas as casas castrejas, encontra‑se agora em muito menor número e fabricado com
as novas características de pasta e cozedura. Teria cedido o lugar, como sugerimos antes, aos pratos,
caçarolas e frigideiras de pousar sobre o fogo, cada vez mais abundantes e com diferentes tamanhos,
que continuarão a ser os eleitos até ao final do Império. Muitos destes recipientes, mesmo os destina-
dos ao lume, vão ser acabados com aguadas alaranjadas, a cor da moda, que predomina de maneira
ainda mais constante na baixela de mesa, mesmo a mais grosseira, como pratos, taças, malgas, bilhas,
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jarros, etc.. Na louça fina, que emula a sigillata ou as paredes finas, estes acabamentos são de muito
melhor qualidade, como as pastas utilizadas e o empenho em copiar formas e decorações.
É deste contexto que se tem individualizado uma baixela de cozinha e mesa bem caracterizada
pelo facto de possuir na face interna e bordo um revestimento argiloso avermelhado, com alto teor
de ferro, vulgarmente designado engobe vermelho não vitrificável. De preferência espessos para não
estalar sob a ação do calor, estes engobes eram adequados ao uso culinário, como cozer pão e outros
alimentos à base de farinhas ou acabar os guisados espessos e com ovos, evitando que os prepara-
dos aderissem à superfície, o que sucederia facilmente se esta fosse porosa e rugosa. Embora sem
a qualidade dos engobes vitrificados, «a sua espessura suportava polimentos mais ou menos fortes,
conforme a intensidade do brilho que se pretendesse dar à superfície», como bem observou Manuela
Delgado (DELGADO 1993‑94: 116).
Encontrámo‑los em vários tipos de assentamento a partir da época flávia, reconhecendo‑se em
observação macroscópica grandes grupos de produções: um deles com pastas mais arenosas, em
tons do bege claro ao acastanhado, superfícies alisadas e cobertas por aguada laranja avermelhada,
não muito espessa, os mais vulgares por todo o Entre‑Douro‑e‑Minho; outro com pastas finas bem
decantadas, que em Bracara atinge fabricos de apurada qualidade.
Neste mesmo momento, começam a chegar ao sul da bracarense outras produções, relativamente
às quais hoje sabemos com segurança provirem da cidade de Lucus, onde têm vindo a ser estudadas
por Enrique Alcorta e uma equipe que escava naquela cidade, onde nos deslocamos para com eles
dirimir dúvidas. Seguiremos os seus trabalhos sobre esta temática, economizando, a partir daqui,
a repetitiva aposição de referências (ALCORTA 1995; ALCORTA 2001; Alcorta, Bartolomé 2012;
Alcorta, Bartolomé, Folgueira 2014; Alcorta, Bartolomé, Folgueira no prelo).
Caracterizam‑se por apresentarem um comum engobe vermelho polido, geralmente bem conser-
vado, espesso e mate ou ligeiramente brilhante. A cor é variável, afim ao vermelho pompeiano, mas com
tonalidades mais escuras. A superfície interior das peças fica totalmente engobada, acabamento que
se prolonga sobre o bordo ou o lábio e por uma banda exterior. A restante parede, e mesmo o exterior
do fundo, são alisados ou levemente polidos, tornando‑se macios ao tato. Quanto a formas, as mais
comercializadas, desde as últimas centúrias do século I, são o prato e a tigela.
Apesar das olarias locais, de onde saíam milhares de peças que se assemelhavam a estas, Bracara,
destacado centro urbano regional, terá sido também aquele que recebeu primeiro vasos de engobe
lucences, porém ainda longe das quantidades que atingiriam em séculos posteriores. O significado
desta observação preliminar foi pertinentemente reforçado pela sumária revisão do espólio de Monte
Mozinho onde, embora os primeiros níveis flávios mostrem grande capacidade aquisitiva da população,
que recebe materiais importados de diferentes proveniências, não encontramos os produtos de Lucus,
os quais, por outro lado, vão surgir em níveis posteriores, certamente já da primeira metade do século
II, ambientes bem menos trabalhados neste sítio arqueológico.
A caracterização da produção lucence aponta, além dos traços gerais antes referidas, que lhe dão
identidade, para alguma variação nos fabricos, mesmo que todos pareçam sair das oficinas instaladas
na própria cidade, bem localizadas pela quase meia centena de fornos já registados e escavados, dis-
tribuídos a par da veia de argila que constituiu a matéria‑prima fundamental para as olarias.
Predomina o uso de pastas ocres, micáceas e finas, com poucos e.n.p., relativamente duras, de
aspeto laminado e que com frequência possuem um cerne acinzentado, com superfície uniforme e bem
alisada, pronta a receber o engobe e, por vezes, certificada com o selo da oficina. Este fabrico estará
já em uso nas últimas décadas da primeira centúria, a par do seguinte, e vai prevalecer até ao final,
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tornando‑se exclusivo nos séculos baixo‑imperiais, sem se notar qualquer perda de qualidade tanto
nas pastas como do acabamento engobado.
O segundo fabrico que nos interessa apenas corresponde ao Alto‑Império, parecendo desaparecer
nos finais do século II. Com ele se fizeram pratos e tigelas de boa qualidade, ostentando selos como os
anteriores. Caracteriza‑o o tom alaranjado da pasta, que tem um aspeto algo mais arenoso, com abundan-
tes e.n.p. de fino calibre, alguns quartzos de tamanho médio e presença de ínfimos grãos de moscovite.
Pode ter um cerne acinzentado, mas é compacta e apresenta superfície exterior uniforme e bem alisada.
As formas mais difundidas são, como dissemos antes, apenas duas, sendo que a tigela desapa-
recerá no final (se não antes) do Alto‑Império. Trata‑se de um vaso aberto, de fundo plano, espessado,
alisado pelo exterior e por vezes com uma canelura, corpo troncocónico mais ou menos arqueado e
bordo extrovertido em aba côncava ou aplanada, inclinada, com lábio engrossado. O tamanho maior
teria cerca de 20 cm de diâmetro (ES1) e o menor ao redor de 15 cm (ES1A).
A forma mais numerosa no sul da bracarense é, sem dúvida, o prato de fundo plano (alisado e
com ou sem caneluras no interior e exterior) e parede oblíqua terminada em lábio biselado introvertido
(EP1). Na origem produziu‑se nos dois fabricos, apresenta diversos diâmetros e pode levar selo se
antigo. Em Lugo, é acompanhado nos níveis alto‑imperiais por outras duas variantes, caracterizadas
pelo lábio arredondado (EP2) e pela curvatura e abertura da parede oblíqua (EP3), estendendo‑se este
último pelo século III ou mesmo IV. Ambos existem em Braga, ainda que muito escassos.
Tanto as tigelas como os pratos parecem ter sido usados com carácter polivalente, na mesa e na
preparação de alimentos ao lume, de que resulta a presença exterior de alguma fuligem. No entanto,
se compararmos a quantidade destas concreções e a intensidade de calcinação das paredes dos reci-
pientes com o que conhecemos bem da cerâmica comum, nomeadamente dos pratos ditos de lume
ou das caçarolas, vemos como os vasos engobados foram poupados à exposição direta e persistente
à chama. Por outro lado, manchas escuras e alterações, caso não resultem de problemas de fabrico,
podem sugerir o uso de alguns destes pratos na cozinha mas para enfornamento ou cozedura sob
campânula, à maneira afinal dos pratos de engobe pompeiano (AGUAROD 1991: 54‑55). O facto de
mostrarem no exterior do fundo, quase sempre bem acabado, alguns sulcos concêntricos pode sugerir
aplicações técnicas para difusão do calor, muito mais eficaz nos casos em que toda a superfície exterior
está coberta por finas estrias. Já no interior, as incisões retilíneas, desordenadas, que atingiram a inte-
gridade da camada protetora, têm sido interpretadas como resultantes do corte do alimento cozinhado.
Nos mapas de difusão das produções engobadas de Lugo, apresentados por Alcorta, Bartolomé
e Folgueira Castro (no prelo), constata‑se uma dispersão considerável em toda a área abarcada pelos
três conventus do Noroeste, que se alarga, em particular no período baixo‑imperial, a locais bem mais
distantes como Conímbriga (Alarcão 1976: 51‑131, Pl. XII), La Vega Baja (Toledo) ou Petavonium,
Veleia, etc.. Parece espectável, portanto, que as possamos encontrar na parte sul do conventus bra‑
caraugustano e particularmente bem representadas na sua capital (Fig. 1, mapa).
Como pudemos observar numa análise sumária do espólio das escavações de Bracara guardado
no Museu D. Diogo de Sousa, as cerâmicas engobadas de Lugo, tanto antigas como tardias, foram
recolhidas em toda a área urbana (Anexo 1), parecendo mais abundantes em níveis de ocupação e
zonas de revolvimentos do século IV‑V. Quando ainda eram limitadamente conhecidas pelos arqueólo-
gos, a análise química permitiu confirmar a proveniência (Oliveira et alii 2005: 159‑164; Prudêncio
2008: 72‑77). A significativa presença desta baixela desde as décadas finais do século I pode denotar
capacidade de compra e enquadrar‑se no importante papel que a cidade já desempenharia como
centro redistribuidor regional.
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Neste conjunto, são maioritários os pratos/travessas que derivam da forma Oberaden 21/Agua-
rod 6 (tipo EP1), (Fig. 2, 1‑9). Porém, a circunstância, já sublinhada pelos investigadores lucences, de
o fabrico dominante (pasta fina micácea ocre e engobe vermelho espesso) manter as características
ao longo dos séculos, dificulta muito a sua atribuição cronológica, que será mais delimitável quando
se apresentam feitos na pasta arenosa alaranjada, duas dezenas de casos (Fig. 2, 1‑2). Os pratos das
formas EP2, para os quais se perspetiva menor diacronia (Fig. 3, 1), e EP3 parecem bastante raros
(seis dos primeiros, dois dos segundos), (Fig. 3, 2‑3) e são todos em pasta ocre. Procuramos ilustrar
exemplares de diferentes tamanhos, já que há pratos com algo menos de 20 cm de diâmetro e outros
com mais de 50 cm, variação que se constata igualmente na altura da parede, entre 2 e 8 cm.
Também se atribuem ao período alto‑imperial, pela sua proximidade ao estabelecido para as sigillatas,
os exemplares de prato que ostentam no exterior do fundo, em posição excêntrica, a marca da oficina
impressa em cartela, com as letras em positivo: OF.LATI, de Latius (?), oleiro ainda não conhecido, que
estampou a sua marca num prato de pasta avermelhada (Fig. 2, 11); O QV... é da oficina de Quintus,
que laborou nas décadas finais do primeiro século e início do segundo, usando‑se para o presente
exemplar a pasta fina e ocre (ALCORTA 2001: 313‑324 e ALCORTA, BARTOLOMÉ 2012: 714), (Fig. 2, 10).
A mesma dualidade de fabrico apresentam as duas dezenas de tigelas do tipo ES1 (Fig. 4, 1‑6),
tendo uma delas, de pasta fina ocre‑acastanhada muito bem cozida, parte da marca da oficina, tam-
bém em cartela, aplicada no exterior do fundo em posição excêntrica. Lê‑se possivelmente... NI (Fig.
4, 6), remetendo talvez para Rufianus, cujas peças marcadas são conhecidas em Lugo, Astorga, Cas-
tromao (Ourense) e no acampamento de Rosinos de Vidriales (Zamora), aí datados de final do século
I (ALCORTA 2001: 317‑318; Alcorta, Bartolomé, Folgueira no prelo).
Fora da capital conventual, estas tigelas foram recolhidas pelo menos em dois sítios próximos
do Douro: no Castro de Monte Mozinho (Penafiel), um exemplar em unidade estratigráfica de final do
século I ou primeira metade do II (sector b), que se guarda no Museu Municipal de Penafiel, fabricado
na pasta avermelhada, bem cozida e com a superfície exterior muito bem alisada (Fig. 4, 7); no Monte
Castêlo (Guifões, Matosinhos), proveniente de escavações antigas, espólio de Joaquim Neves dos Santos
entregue ao Gabinete Municipal de Arqueologia e História de Matosinhos, feito em pasta ocre (Fig. 4,
8), da qual existem mais dois fundos planos de prato indeterminado. Já sobre o Douro Internacional,
as escavações no Castelhar de Picote (Miranda do Douro) brindaram-nos com outros exemplares de
tigela, além de dois pratos.
Como sucede em Lugo, também em Braga são baixo‑imperiais a maioria dos pratos EP1, no
total cerca de três centenas, agora sempre em pasta ocre fina, mas indestrinçáveis dos anteriores; o
mesmo se podendo dizer das prateiras ou travessas das formas EP6 e EP7, pouco mais de uma dezena
repartida por igual.
À cronologia baixo‑imperial pertencerá a forma EP4, que tem em comum, além do fabrico, o facto
de ser uma prateira de fundo plano e parede oblíqua baixa, terminada por uma aba pouco desenvol-
vida, de tendência horizontal. Esta linha de grandes prateiras ou travessas redondas foi perseguida
na bracarense, pelo menos desde o século II, mas sobretudo no III/IV, tanto pelos fabricantes de cerâ-
micas comuns arenosas, rematadas com aguada laranja (veja‑se os inumeráveis exemplos recolhidos
nas necrópoles), como pelos que desenvolveram produções mais cuidadas, certamente centradas em
Bracara, o que justificaria a pouca representação de exemplares chegados do norte.
Também chegaram de Lugo pratos com cronologia claramente baixo‑imperial. Trata‑se daqueles de
fundo plano, com interior soerguido e muitas vezes decorado por conjuntos de circunferências estriadas;
possuem uma parede oblíqua que termina numa aba de tendência horizontal, lisa ou decorada com
duas molduras (EP6), (Fig. 3, 4‑5). Mais elaborados, os pratos e prateiras ou travessas EP7 desenvolvem
o perfil dos anteriores, mas apresentando as paredes decoradas com profundas depressões feitas a
partir do interior (se oblongas EP7, se circulares EP7A) e a aba mais alargada, lisa ou com duas ou três
molduras, imagem de conjunto que vagamente recorda a forma Hayes 59 da sigillata africana (Fig. 3, 6‑8).
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Para além destes modelos perfeitamente tipificados, a Bracara parece terem chegado também
algumas formas fechadas, fabricadas em idêntica pasta fina e ocre, exteriormente cobertas por espesso
engobe vermelho. Ilustramos um pequeno púcaro (V2), (Fig. 4, 9), mas haveria também vasos sobre o
globular, com reticulado brunido a decorar os ombros e bojo, e outros com o corpo subcilíndrico (Fig. 4,
10), todos pouco numerosos.
A par destes achados da capital bracarense, devemos colocar: um exemplar de prato EP1 da
necrópole de Monte Mozinho, encontrado fora de sepultura mas em contexto tardio (SOEIRO 1984:
298), (Fig. 3, 9); um exemplar das escavações da Casa do Infante (Fig. 3, 10) e os de Tongrobriga (Marco
de Canaveses), isolados pelo autor da publicação, que os designou Grupo 11 (formas 1 e 2), repre-
sentando pratos/travessas EP1, recuperadas em contextos do século IV (DIAS 1997: 252‑253, 278).
A estes acrescente‑se ainda um fragmento de prato do tipo EP2 do Castro de Alvarelhos, proveniente
da intervenção de 2008, recolhido com espólio do século IV (Fig. 3, 11).
A análise que efetuámos à cerâmica lucense de engobe vermelho que chegou a Bracara permitiu
ainda revelar a presença de fragmentos de pratos reutilizados, uns simplesmente cortados em redondo
para fichas de jogo e outros circulares perfurados ao centro para servirem como cossoiros.
Algumas peças mostram grafitos pos‑coturam, muito provavelmente feitos já na cidade, pelos utili-
zadores. Leves e de mão insegura, quase riscados, ou profundos e bem planeados, no interior do fundo
de pratos, são maioritariamente alfabéticos e em maiúsculas, mas também parece haver inscrições
cursivas (Fig. 4, 11‑16). Acompanham‑nas desenhos, algum de carácter figurativo. Os das fichas de
jogo (Fig. 4, 13‑14) e cossoiros (Fig. 4, 15‑16) parecem feitos antes mesmo de os cortar. Não são muito
abundantes, mas alguns tornam‑se verdadeiramente interessantes, reveladores do grau de literacia
de alguns habitantes da cidade, como N/VRSI (= N(aevius) Vrsus), (MORAIS 2005: 87; Est. XII, nº 20).
Perspetivas
Na discussão sobre o tema na Mesa Redonda celebrada em 2014 em Bilbao, intitulada “Cerámicas
de época romana en el norte de Hispania y Aquitania: producción, comercio y consumo entre el Duero
y el Garona”, Carmen Aguarod sugeriu que uma das razões para o sucesso destas cerâmicas e a vasta
difusão que se tem vindo a documentar pode estar relacionado com o final das produções de engobe
vermelho pompeiano, logo após a destruição das cidades do Vesúvio em 79. Como consequência deste
desastre, ter‑se‑iam criado oficinas provinciais que passaram a produzir cerâmicas idênticas àquelas,
aproveitando o nicho de mercado e colmatando a falha de abastecimento sentida.
Como é bem conhecido, no noroeste peninsular podem identificar‑se dois grandes focos produtores
de cerâmicas comuns romanas, especialmente de vasilhame que pela sua aparência e qualidade lembra
modelos de grande comercialização, são eles as cidades romanas de Lucus Augusti e Bracara Augusta.
A vasta difusão de algumas produções engobadas de Lugo, em particular os pratos/travessas
EP1, insere‑se assim neste comércio interprovincial, envolvendo, quem sabe, a elite municipal e uma
complexa rede de distribuição através das vias marítimas, fluviais e terrestres, a cargo de mercatores e
negotiatores artis cretariae, em que os bens seriam transacionados também como cargas complemen-
tares ou de retorno, facilitadas pela morfologia simples, que permitia fossem empilhados sem ocupar
um espaço excessivo. Bracara Augusta, onde se encontram com maior quantidade, seria certamente,
pela sua centralidade e supremacia regional, uma interessante escala intermédia de redistribuição.
O sucesso desta mercadoria, porém, não se explica apenas por questões de rede e logística
comercial; a qualidade de fabrico das baixelas, em particular as revestidas por engobe de excelente
aparência e propriedades funcionais, tornariam apelativo o seu uso pelo consumidor, tanto nas ativi-
dades culinárias como no serviço à mesa.
A formação, em época romana, de uma forte tradição de produções engobadas em ambas as cidades
poderia pressupor um contexto de autarcia, em que se justificasse apenas uma presença pontual de
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cerâmicas lucenses em Braga, da mesma forma que as desta cidade escassamente chegaram a Lugo.
Como tal não se verifica, talvez devamos considerar que a capacidade produtiva instalada em Lugo,
onde havia no subsolo um grande veio de argila de que perto de meia centena de oficinas desfrutaram,
tenha permitido alguma especialização para venda, focada num produto de qualidade, multifuncional
e com relativa facilidade para ser transportado mesmo a razoáveis distâncias, o que implicaria uma
rede de distribuição, instalada a partir das últimas décadas do século I, que estaria ainda mais ativa no
Baixo‑Império, com pontos de redistruição e, no sul da Callaecia, uma malha de extensa capilaridade
para chegar a diversos povoados próximos do Douro, onde se apreciava viver e comer à romana como,
entre outros argumentos, o gosto expresso na cultura material vem patenteando.
Agradecimentos
Manifestamos a nossa gratidão ao Museu D. Diogo de Sousa, pela autorização para estudar
cerâmicas romanas recolhidas nas escavações de Bracara Augusta e pelas facilidades de fotografia
e desenho de materiais; ao Museu Municipal de Penafiel, pelo acesso ao espólio das escavações do
Castro de Monte Mozinho, do casal da Bouça do Ouro e de diversas necrópoles; à Câmara Municipal de
Matosinhos/Gabinete Municipal de Arqueologia e História, pela consulta do fundo de Joaquim Neves
dos Santos e disponibilização de fotografias; à Câmara Municipal da Trofa, por apoiar a investigação do
Castro de Alvarelhos; à Casa do Infante, na pessoa do arqueólogo António Silva, pela possibilidade de ver
alguns materiais das escavações realizadas nesta instituição e desenhar o que interessava. Devemos
ainda uma palavra de apreço às instituições e colegas que nos permitiram visionar outras coleções e
espólios, ainda que não tivéssemos encontrado o tipo de material em estudo: Museu da Sociedade
Martins Sarmento, Solar Condes de Resende e Museu de Antropologia da Universidade do Porto.
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albergue 7 1 1 ...NI
cardoso da saudade 9 1 1
carvalheiras 40 2 1 1 1 2 1
casa da bica 15 2
casa da roda 1
cavalariças 23 2 1
ctt (necrópole) 4
Fujacal 64 OF.LATI. 2 1 1 2 3
Hospital 2
lg. do colégio 1 1
lg. s. Paulo 2
maximinos 9 1
misericórdia 8 1
misericórdia (a) 6 1
misericórdia (b) 1
misericórdia (j) 2
nª sª do leite 3
Paço 1
rua de s. geraldo 7 1 1 1 1
rua de s. sebastião 7 1
rua do anjo 1
sé 10
seminário de santiago 4
termas 49 1 1 2
teatro 9 2 1 (?) 1 2 2
total 339 5 2 6 1 2 1 6 5 20 1 4 2 6 5
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Fig. 1 – Pratos de engobe vermelho pompeiano: 1 a 3 Bracara Augusta; 4 Castro de Monte Mozinho (Penafiel);
5 Castro das Ermidas (Vila Nova de Famalicão).
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Fig. 3 – Pratos de engobe vermelho de Lugo: 1 a 8 Bracara Augusta; 9 Castro de Monte Mozinho (Penafiel); 10 Casa
do Infante (Porto); 11 Castro de Alvarelhos (Trofa).
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Fig. 4 – Tigelas de engobe vermelho de Lugo: 1 a 6 Bracara Augusta; 7 Castro de Monte Mozinho (Penafiel); 8 Monte
do Castêlo (Guifões, Matosinhos). Outras formas: 9 a 16 Bracara Augusta.
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Francisco Queiroga1
RESUMO:
Breve abordagem à evolução da arquitectura doméstica da área meridional da cultura castreja.
Referência às tipologias construtivas em materiais perecíveis e o seu enquadramento cronoló-
gico. Apresentação de evidências de construções em materiais perecíveis detectadas no castro
de Penices.
Palavras‑chave: Cultura castreja; Arquitectura doméstica; Cabanas em materiais perecíveis.
ABSTRACT:
Brief approach to the evolution of the domestic architecture within the southern area of castro
culture. Reference to the typologies of building with perishable materials and its chronological
framework. Presentation of some evidence of huts built with perishable materials uncovered at
the Penices Iron Age hillfort.
Keywords: Castro Culture; Domestic architecture; Huts.
Introdução
A cultura castreja do noroeste foi, muito justamente, caracterizada como uma “civilização da
pedra” (Almeida 1984) em virtude da omnipresença da pedra em todas as estruturas que formam a
sua unidade de povoamento: o castro. As muralhas e as habitações, os balneários e a estatuária, tudo
o que dela temos como característico está plasmado na pedra. De resto, já Romero Masiá (1976) o
tinha salientado, na sua compilação sobre a arquitectura castreja, enquanto que Christopher Hawkes
(1984) manifestava a sua perplexidade sobre a origem de um tamanho volume de pedra empregue
nas estruturas de um povoado, sugerindo a obrigatoriedade da sua extracção em pedreiras.
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2 Evocamos a veemência com que o salientava Jean‑Pierre Pautreau, com quem partilhámos a direcção de duas campanhas de escavação
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encetar para se enfrentarem os desafios colocados pela escavação deste modelo de arquitectura. Com
base no acima enunciado, defendemos ainda que, nesta fase da investigação sobre o tema, impor-
tará circunscrever as tipificações à escala local e regional, em detrimento de generalizações pouco
consubstanciadas. Desta forma, limitamo‑nos à área meridional da cultura castreja (Almeida 1973,
1983a, 1983b), na qual se articulam sobejos traços caracterizadores de uma unidade cultural (Soeiro
1997) e, dentro desta, evocaremos a evidência recolhida no castro de Penices, comparando‑a sempre
que oportuno com a que foi surgindo em outros povoados coevos da faixa sul do Entre Douro e Minho.
A arquitectura doméstica
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a então nova técnica da parede dupla3, com o largo espaço entre as faces exteriores cheio com terra e
pedras. Ora, o travamento deficiente das faces da muralha, apartadas entre si em cerca de três metros,
fragilizado pela pressão crescente do enchimento de terra e pedras, sobretudo quando saturado de
água da chuva, motivou o arqueamento e o derrube da estrutura em vários pontos, que hoje podemos
documentar pela irregularidade das suas faces. Tratando‑se de uma instabilidade estrutural recorrente,
entenderam os habitantes do castro melhorar a solidez da muralha através do seu alargamento, o
qual só poderia ser feito no lado interior do recinto. Esta obra, que cremos ter sido executada entre os
séculos VII e V a.C4., com fundamento nas datações absolutas realizadas (Queiroga 2003, fig. 2.2) iria
colidir com o espaço então ocupado por habitações em madeira, que estavam encostadas à muralha,
talvez buscando a sua protecção contra os ventos. Para poupar esforços de demolição, os construtores
desta ampliação da muralha incendiaram as cabanas situadas no seu caminho, e logo começaram a
construir a nova face interior desta estrutura e a encher o seu interior com pedras e terra, soterrando os
restos das cabanas ainda não totalmente consumidos pelo fogo. Nesta fase, continuaram ainda a ser
construídas cabanas em madeira, até que se começa a aplicar às habitações a técnica de construção
ensaiada na muralha. No entanto, antes de tal ocorrer, fez‑se um outro muro igualmente em pedra, e
seguindo a mesma técnica (Figura 1‑4) o qual se destinava a criar uma plataforma regularizada onde
se construíram cabanas (Figura 4.1), seguindo um padrão que se vulgarizará em épocas posteriores.
Temos, portanto, que neste povoado o edificado de carácter público, e estruturante, como as muralhas
e os muros de suporte de plataformas, são as primeiras peças construídas em granito.
A cronologia da adopção generalizada deste material nas construções domésticas é ainda algo
obscura, por falta de elementos seguros, mas afigura‑se‑nos diagnóstico um pequeno fragmento de
cerâmica grega, de verniz negro, encontrado no nível de ocupação de uma cabana, que poderá enquadrar
‑se no conjunto dos achados de cerâmica grega (Queiroga 2003, fig. 51), datáveis do século IV a.C.,
exumados nos castros do noroeste português. Desta forma, a “petrificação” da construção doméstica
no castro de Penices poderá ter ocorrido ainda nos finais do século IV a.C., ou mais seguramente ao
longo do século III a.C.
À semelhança do que foi constatado nas construções mais antigas do castro de Sto. Estêvão
da Facha (Almeida et al. 1981), as construções habitacionais em pedra mais antigas dos castros de
Vermoim e de Penices apresentam aparelhos irregulares, e nenhuma pedra apresenta vestígios de ter
sido afeiçoada com pico, antes sendo partida pelas zonas de clivagem natural, indiciando que a génese
da utilização do granito na arquitectura doméstica se desenvolve num ambiente parco em utensilagem
de ferro, metal que é indispensável para trabalhar o granito com desenvoltura.
A primeira habitação em pedra conhecida no castro de Penices está representada por um alicerce
circular muito destruído (Figura 1‑7), pois sobre ele foi implantada uma outra construção (Figura 1‑8),
e as pedras que utiliza são de pequeno calibre, e sem vestígio de afeiçoamento a pico (Figura 3.1).
A construção de um novo edifício no mesmo local, se bem que ignorando o preexistente, sugere que
estaria estabelecida a organização do espaço, e do perfil funcional, do que designamos por casa, ou
núcleo familiar castrejo.
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constituíam a esmagadora maioria das matérias primas utilizadas na utensilagem e nas construções.
A madeira ocuparia um lugar cimeiro devido ao largo ecletismo das suas aplicações (Noël ‑ Bocquet
1987; Earwood 1993), da facilidade com que se trabalha, e da sua disponibilidade local. Além destas
características, temos ainda que cada espécie arbórea e arbustiva possui qualidades próprias, como
dureza, flexibilidade, resistência ou durabilidade, que não raramente as agregam a funcionalidades
específicas dentro da utilização quotidiana.
As referências a vestígios de construções em madeira em castros do Noroeste aparecem, espar-
sas, desde as observações antigas, veiculadas por López Cuevillas (1947, 141‑2) e Bouza Brey (Bouza
‑ Cuevillas 1927, 9). Mais raros foram os conjuntos de vestígios que permitiram identificar construções
em materiais perecíveis em castros, sendo que as evidências que sobrevivem no contexto arqueológico
são normalmente muito ténues e inconspícuas.
A maioria dos exemplos conhecidos de cabanas em materiais perecíveis não deixam o seu registo
ao nível da alterite rochosa, indícios aos quais estamos acostumados nas intervenções em sítios da
pré‑história recente, os designados “povoados de fossas”. As estruturas assentes em terra humosa
exigem uma metodologia de escavação adequada à especificidade dos contextos, temperada pelo
prévio conhecimento da sua existência, razão pela qual elas se têm mostrado tão elusivas. Estamos
convictos que uma maior atenção para as pequenas evidências diagnósticas desta realidade durante
o processo de escavação contribuirá grandemente para o aparecimento de novos dados em muitos
dos castros onde as cabanas são, por agora, ausentes.
A título de exemplo, evocamos da primeira escavação realizada no castro de Vermoim, em 1982,
durante a qual se detectaram lareiras dispersas, isto é, dissociadas de quaisquer construções pétreas,
adjacentes às quais se dispersavam algumas manchas de saibro. Apesar de, tanto os contextos como as
metodologias então utilizadas, não nos permitirem descodificar estes vestígios, à época insólitos, persis-
tiu a dúvida, que idêntica experiência de colegas5 permitiu consubstanciar. Os dados acumulados nas
décadas seguintes permitiram clarificar esta questão, abrindo caminho para a realidade tão fascinante
quanto críptica das construções em materiais perecíveis nos níveis antigos de ocupação dos castros.
Na zona meridional da cultura castreja são conhecidos numerosos vestígios de cabanas, os quais
têm merecido atenção por parte da investigação castreja (cf González Ruibal 2006, 92‑7, 194‑), mas
integrados num quadro geográfico/cultural que nos aconselha a sua exclusão desta pequena abordagem.
Reportando‑nos ao entorno do Vale do Ave, ao qual por agora nos circunscrevemos, evocamos os
vestígios de cabanas detectados no castro da Bóca6, também no concelho de Vila Nova de Famalicão.
Este pequeno povoado encontra‑se num esporão pouco pronunciado que pende sobre o vale aluvionar
do rio Pelhe, o qual é apenas um pequeno córrego. A escavação do castro permitiu detectar vestígios
de um conjunto de cabanas em materiais perecíveis, com o nível de piso interior aparentemente rebai-
xado em relação ao exterior, e ténues vestígios dos postes que as compunham, só visíveis pelo anel
de pedras que os cerceavam pelo lado exterior.
No castro de Vermoim, pouco distante deste último, escavámos em 1982 vestígios de lareiras
circulares em argila (Figura 2.2), sem qualquer outra evidência associada. Com os dados hoje disponí-
veis, vemos nelas uma marcante analogia com os vestígios de cabanas do castro de Penices. Ainda em
Vermoim, foi detectada a planta de uma cabana circular com cobertura em ramagens e argila (Figura
2.1), cujas dimensões pouco se afastam da construção posterior, em pedra, que lhe está adjacente. Este
facto confere algum sentido à antiguidade da datação pelo C14 obtida para estes contextos (Queiroga
1992/2003, Fig. 2‑2), apesar do carácter errático do conjunto das três datas obtidas.
5 Recordamos que, em informação verbal, Carlos Alberto Brochado de Almeida confidenciou então ter detectado idênticas ocorrências
e amiga, com quem partilhámos as várias campanhas de escavação do castro de Penices, agradecemos a amabilidade da partilha destes dados,
ainda inéditos.
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A citânia de S. Julião, já afiliada geograficamente ao vizinho vale do rio Cávado, forneceu também
um conjunto expressivo de testemunhos de cabanas circulares, em materiais perecíveis (Bettencourt
2000), numa sequência estratigráfica que documenta a sua continuidade ao longo de um período pre-
sumivelmente longo, cuja datação é confirmada por um conjunto substancial e coerente de datações
por radiocarbono. Evocamos as suspeitas anteriormente manifestadas (Queiroga 1992/2003, Fig.
28‑2) sobre a existência neste povoado de uma estrutura de suporte, e quiçá de defesa, em materiais
perecíveis, do tipo paliçada, que poderá ser contemporânea das cabanas referidas acima. A ser ver-
dade esta hipótese, teríamos neste sítio exemplo de uma sincronia na utilização dos materiais, que no
castro de Penices já não se verifica.
Por se encontrar na mesma latitude, e na bordadura deste contexto geográfico com o interior mon-
tanhoso, evocamos também as evidências de cabanas exumadas no castro do Crastoeiro, em Mondim
de Basto, onde surgem enquadradas com vestígios de silos escavados no saibro (Dinis 2001, 51‑2), os
quais constituem curiosa reminiscência tecnológica e cultural de fases anteriores da pré‑história recente.
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parede mais larga. Esta construção circular, de que só ficou parte do alicerce, documenta o momento
em que se começa a utilizar a pedra na construção das casas, e que, ainda que com reservas, situamos
no século III a.C. A construção desta casa encerra, portanto, um longo ciclo no qual imperou a madeira,
ramos e saibro, como elementos construtivos das habitações que, sem conotação depreciativa, desig-
namos como cabanas.
Concluída a escavação dos níveis de ocupação da fase castreja mais recente, correspondente a um
conjunto de três construções circulares em pedra, acima referidas, avançou‑se na decapagem do nível
inferior. De imediato, começou a notar‑se, no espaço entre a muralha e a construção circular adjacente,
uma densa concentração de troncos de árvores de diâmetro reduzido, dispostos paralelamente entre
si, que passavam por debaixo da face interior da muralha. A primeira explicação que ocorreu foi a de
se tratar de vestígios de uma paliçada anterior à muralha em pedra, facto que justificaria o desmonte
de uma parte desta estrutura, para esclarecer esta questão de suma importância. Foi desmontado
um pequeno tramo da face interior da muralha, e retirado o seu enchimento até ao nível dos troncos
incarbonizados, e durante duas campanhas decorreu o lento e metódico processo de escavação do
contexto de troncos incarbonizados, processo que beneficiou da presença e da orientação de Carlos
Alberto Ferreira de Almeida, cujo espírito inquisitivo e finas observações do contexto arqueológico muito
contribuíram para as interpretações e adequação das metodologias.
Com o decurso da escavação constatou‑se que a maioria dos troncos pertencia a sobreiros jovens,
que se uniam entre si por um entrelaçado de galhos de pequeno diâmetro, que os iam abraçando, em
jeito de vencelhos. Entrecortando este conjunto, notava‑se uma ampla dispersão de nódulos compac-
tos de argila calcinada, cujo interior albergava uma densa teia de finos ramos incarbonizados. Após a
remoção das primeiras camadas deste conjunto compacto, constatou‑se que os troncos não estavam
alinhados perpendicularmente à muralha, mas enviesavam em plano semi‑circular, além de que se
concentravam num espaço de escassos metros, facto que lançou dúvidas sobre a interpretação inicial.
A escavação de outras áreas estratigraficamente coevas desta, situadas entre as construções circulares,
ia revelando vestígios de lareiras estruturadas, o que começou a cimentar a percepção de estarmos
perante um amplo conjunto de vestígios de cabanas construídas com materiais perecíveis.
Expostas as circunstâncias dos achados, passamos à tipificação das evidências.
A cabana soterrada pela muralha apresentava planta circular ligeiramente distorcida, com cerca de
quatro metros de diâmetro, e o solo era pavimentado com uma camada irregular de argila, em virtude
de esta habitação se posicionar em parte sobre um afloramento rochoso. Ao centro havia uma lareira,
sem qualquer estrutura. A ausência de vestígios de poste indica que a cobertura da cabana seria auto
‑sustentada na cumieira, onde convergiam os postes laterais. Nos restantes exemplos completos de
cabana não foi detectado qualquer apoio central, mas em alguns casos nota‑se um poste solidamente
cravado, no extremo da lareira oposto ao trasfogueiro. Este poste poderia ter servido, acessória ou
exclusivamente, para suspender recipientes de cozinha sobre o lume. Recordamos a grande percenta-
gem de formas de cozinha de dependurar, como tachos de asa interior (Dinis 1993/94, 184) que se
observam nos estratos coevos das cabanas.
Os restantes vestígios de cabanas encontrados no castro de Penices são bastante mais modes-
tos, mas constituem um corpo que é tipologicamente mais coerente, até pelo formato da sua planta,
que é sistematicamente circular alongado, ou sub‑elíptico, com dimensões que oscilam entre os três
e quatro metros. A presença destas cabanas é muito discreta no registo arqueológico, pois na sua
construção raramente se recorre aos calços em pedra na compactação dos postes, pelo que não
ficaram no registo os tradicionais “buracos de poste” estruturados. De resto, o alinhamento destes é
raramente perceptível no contexto das terras negras e humosas que constituem o solo, tanto do inte-
rior como do exterior da cabana, e que séculos de actividade radicular da vegetação se encarregou
de desagregar. Em seguida, temos a característica de este modelo de cabanas apenas possuir uma
lareira estruturada, com formato ovalado alongado, cuidadosamente construída em argamassa de
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saibro, bem alisada e sempre com um trasfogueiro feito de uma estreita laje de granito afeiçoada no
extremo superior, por vezes por polimento. Estas peças foram sendo encontradas, descontextualizadas,
nos diversos contextos, pelo que se ajuíza um grande ritmo de reconstrução destas cabanas. O solo
era, como se disse, em terra batida, não se diferenciando substancialmente do piso do exterior da
cabana. A sua estrutura seria muito semelhante à da cabana que encontrámos incarbonizada, mas a
evidência arqueológica aqui não é tão nítida. Da sua estrutura em madeira nada sobreviveu, nem dos
troncos nem das ramagens. O saibro que calafetaria a cobertura tombou, e dispersou‑se em manchas
que as reconstruções posteriores entrecortaram, retirando‑nos a visão espacial do conjunto. Nos casos
felizes em que a cabana foi consumida pelo fogo, temos manchas de argila salpicadas com carvões de
ramagens, como documenta a Figura 3.2.
Presumimos que estas construções seriam efémeras, residindo aqui, talvez, o seu maior inconve-
niente, e um dos incentivos para a adopção da construção em pedra. Com efeito, os postes de madeira
enterrados neste solo ácido e húmido seriam permeáveis ao rápido apodrecimento, supondo‑se que a
sua duração seria inferior a uma dezena de anos. Apesar de colocarmos esta hipótese, não encontrámos
sinais da incarbonização parcial dos postes como estratégia para aumentar a sua durabilidade no solo.
É de supor que estes condicionalismos tenham motivado a introdução de uma técnica construtiva, que
aqui se não verifica, que é a construção de um murete baixo, em pedra ou saibro sobre o qual assenta
a estrutura em madeira.
Uma das inúmeras questões a esclarecer no futuro será a da tipologia e funcionalidade das caba-
nas. É sabido que o conjunto de construções em granito que formam a unidade doméstica nos castros
desta região apresentam diferenças tipológicas que são consentâneas com as suas diferentes funções,
das quais salientamos de momento duas: armazenar colheitas, e habitar/cozinhar. Perguntamo‑nos
se esta divisão funcional nascerá com a petrificação das estruturas, ou se vem já destas fases mais
antigas. Recordamos que o espaço entre as construções pétreas do núcleo familiar escavado em Peni-
ces foi comparativamente pouco perturbado pelas construções mais tardias, o que permitiu conservar
evidências ténues de alguns fundos de cabana em terra batida. A estrutura em madeira que constituía
a parede das cabanas praticamente não deixou marcas na terra humosa. Contudo, logrou‑se descorti-
nar a imagem de uma das cabanas ter uma planta sub‑elíptica em virtude da grande concentração de
fragmentos de cerâmica e de alguns carvões no seu lado exterior, formando uma linha separadora. De
resto, foi num destes contextos que se encontrou um fragmento de cerâmica grega, bem como algumas
contas de colar em pasta vítrea, e ainda pesos de rede feitos com seixos rolados, e lâminas em sílex.
A inexistência de materiais cerâmicos no seu interior aparta‑a de outras que os contêm. Uma outra
cabana, adjacente à referida, apresentava no seu entorno uma percentagem anormalmente elevada
de cereais e leguminosas incarbonizadas. As sementes incarbonizadas eram visíveis a olho nu, tal a
sua densidade, e, neste quadro sobressaía a grande quantidade de favas (vicia faba) incarbonizadas.
Tendo em mente este conjunto de vestígios, colocamos a hipótese de, já nesta fase, existir a diferen-
ciação funcional no seio das construções que formam o núcleo familiar castrejo, ao qual a petrificação
do povoado apenas dará outra configuração e visibilidade.
A cronologia destas edificações em madeira tem sido suportada por dados de diversa ordem,
começando a consubstanciar‑se uma imagem regional coerente para o processo de transição desta
tipologia construtiva na direcção da petrificação das estruturas.
Os vestígios de cabanas detectados no castro de S. Lourenço, em Esposende, parecem datar do
século IV a.C. (Almeida ‑ Cunha 1997), e surgem debaixo dos níveis onde se implantam as edificações
em pedra. As datações disponíveis para o castro do Crastoeiro (Dinis 2001, 65) corroboram esta suges-
tão, apontando, mais especificamente, para o período entre meados do século IV e os inícios do III a.C.
Em Penices, tanto as datações por radiocarbono como o posicionamento oportuno do fragmento de
cerâmica grega, corroboram as cronologias destes dois sítios.
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Em face dos dados disponíveis, parece aceitável a sugestão de estar ainda comparativamente
generalizado o hábito de construir cabanas em madeira nos inícios/meados do século IV a.C. no inter-
flúvio Cávado‑Ave, podendo, contudo enquadrar‑se entre este período e os inícios do século III a.C. as
últimas manifestações desta prática, e a mudança dos padrões construtivos das habitações no sentido
da utilização da pedra. Podemos ainda sugerir que o povoado configurava já a imagem que nos será
familiar na época seguinte, defendido por uma potente muralha, com o seu espaço interno organizado
em terraços aplanados, e com as unidades familiares distribuídas em espaços simbólico/funcionais
de fruição individualizada. Um quadro que a petrificação das casas talvez pouco tenha vindo a alterar.
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Fig. 1 – Planta da área escavada no castro de Penices, com representação das estruturas mais significativas.
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Fig. 2.1 – Vestígio de uma cabana circular, escavada no castro de Vermoim, em V.N. Famalicão.
Fig. 2.2 – Castro de Vermoim. Lareira em argila, sem qualquer outro contexto visível associado.
Fig. 2.3 – Pormenor do aparelho da muralha do castro de Penices, notando-se a ausência de aparelhamento e irregu-
laridade das pedras, bem como o travamento deficiente do aparelho.
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Fig. 3.1 – Vestígios do alicerce da construção doméstica mais antiga do castro de Penices.
Fig. 3.2 – Vestígios da cobertura de uma cabana, com argila e ramos, entretanto incarbonizados
Fig. 3.3 – Vestígios de cabana. Pormenor de um conjunto de ramos incarbonizados, entrecruzados em malha.
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Fig. 4.1 – Restos de lareiras e fundos de cabana com vestígios de poste, situados numa plataforma (Figura 1-13)
suportada por muro em pedra.
Fig. 4.2 – Vestígios de uma cabana (Figura 1-15) com ampla dispersão da cobertura em saibro, e restos da lareira, ao
centro. O bordo rectilíneo, no lado superior, corresponde ao trasfogueiro em pedra, que já não tinha aquando da escavação.
Fig. 4.3 – Vestígios de coberturas de cabanas assentes sobre o afloramento rochoso, em contexto que forneceu quan-
tidades elevadas de cereais e de fava.
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Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 277-294
RESUMO:
Descreve‑se e analisa‑se neste artigo o fenómeno das festas novas, criadas ou reinventadas nos
nossos días pelas comunidades locais sob condicionamentos laicos. Festividades que, sem estarem
empurradas pela crença religiosa, mostram analogias formais com as celebrações religiosas. De
maneira semelhante áquelas, as neo‑festas desenvolvem um ritual muito pautado e imaginam
os seus próprios relatos que convertem em alicerce dos seus discursos e mensagens. Trata‑se,
neste trabalho, o caso da Festa da Istoria (Ribadavia, Galiza), um acontecimento destinado a
reviver o medievo, uma época considerada nesta localidade como o tempo do seu esplendor.
Palavras‑Chave: Festa; História; Memória; Ritual; Signo e Símbolo.
ABSTRACT:
This paper describes and analyzes the phenomenon of new festivities, those which were created
or reinvented in our days by local communities under laic premises, but despite of not being driven
by religious beliefs, they still display formal analogies with religious festivities. Neo‑festivities,
similarly to religious feasts, develop a ruled ritual and invent their own narration which they con-
vert into the ground of their own discourse and their message. This article’s case study is the
Festa da Istoria (Ribadavia, Galicia), an event which intends to relive the Middle Ages, a period
considered to be this town’s moment of highest splendour.
Keywords: Festivity; History; Memory; Ritual; Sign; Symbol.
1 Agradecemos aos membros da Coordinadora da Fundación Festa da Historia – particularmente a Edmundo Araujo, Francisco Alonso
e Xavier Carreira ‑, aos seus diferentes directivos e aos integrantes do Centro de Estudios Medievales, os seus testemuños. A documentación
consultada, complementar do traballo de campo realizado, pertence ao Museo Etnolóxico e ao Arquivo Histórico Provincial de Ourense. As foto-
grafias que ilustran o artigo son do Fondo Fotográfico do MER (Museo Etnolóxico.Eibadaviua-Ourense) e da autoria de Santiago Míguez Amil.
2 Museo Etnolóxico. Ribadavia‑Ourense. [email protected].
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Sierra, Xosé Carlos — A Festa da Istoria de Ribadavia – Relato, Invención, Vivencia
Portvgalia, Nova Série, vol. 36, Porto, DCTP-FLUP, 2015, pp. 277-294
concello veciño de Leiro. Leopoldo Meruéndano publicou en 1915 unha obra dedicada ao estudio da
comunidade xudea na historia de Ribadavia, na que se destaca a súa relevancia sociodemográfica no
baixo medievo e a súa plena integración na vida desta Vila:
[…] Todas estas consideraciones deducidas de los hechos expuestos, hacen ver cuan identificada estaba
en Galicia en general, y en particular en esta villa, la raza judía con el resto de la población […]
Alude este autor a unha cerimonia que formaba parte dos festexos patronais de Ribadavia, adi-
cados á patrona da Vila, á Virxe do Portal, e celebrados nos días anteriores ao 8 de setembro, data de
celebración da súa festa maior. A orixe da devoción, e da festa conseguinte, sitúanos a comezos do
século XVII, documentandose a data de construcción da capela ao redor do ano 16213. Meruéndano
fala da inclusión nas festas do Portal dunha pantomima ou representación escénica, coñecida como
“La Historia”, que el interpreta como unha ‘reminiscencia del pueblo judaico’. A súa interpretación
fai unha analoxía entre aquela representación e as loitas entre mouros e cristianos, concluindo que
o que representaba era unha pasaxe da historia dos hebreos nas súas loitas con idumeos, filisteos e
exipcios. Sanuel Eiján (1920) reproduce a cita de Meruéndano, atribuindo a este autor a interpretación
da euxenesia hebraica da Pantomima e do significado que a representación ten con relación á vella
comunidade xudea de Ribadavia: “Este autor [Meruéndano] cree descubrir en el caracter hebraico de
tales representaciones una reminiscencia de la influencia judía en nuestra Villa”.
Eiján engade que o asunto, temática ou contido desta escenificación era variable e elexido polos
representantes do Concello, na súa función de organizadores e responsables económicos da festa
patronal:
“[…] Algunos días antes de las fiestas del Portal dos Capitulares dan los papeles de la Istoria[…]Celoso
debió ser siempre el Concejo de no dejar la elección de asunto representable a gusto de los que habían de
representarlo, sino de escogerlo por si mismo y entregarlo luego para su estudio[…]”4.
Podemos considerar a hipótese de que estas dramatizacións que se realizaban de imaxes do pobo
hebraico poideran responder tamén a escenas bíblicas e non a relatos épicos sobre a comunidade xudía.
Ademais, o perfil marcadamente barroco das Festas do Portal atopámolo nas danzas, mascaradas e
representacións escénicas de estrutura para‑teatral (Bonet,1990), tantas veces cheas de referencias
alegóricas con especial acento relixioso. A pantomima de La Historia (segundo Meruéndano) ou da
Istoria (segundo Eiján) lembra as manifestacións para‑dramáticas barrocas e pode constituir un caso,
en modo algún atípico, de utilización de pasaxes bíblicas como argumento.
Pero non é a intención deste traballo analizar a orixe e o contido da pantomima escénica integrada,
ata mediados do s. XIX, no calendario festivo da Virxe do Portal de Ribadavia. O que nos interesa aquí
é analizar a Festa da Istoria e como emerxe ou se re‑inventa a finais do século XX un fenómeno festivo
inspirado nunha celebración anterior. Porque, independentemente, do contido estrito daquel evento
no contexto das Festas do Portal do século XIX, o certo é que os relatos de Meruéndano e Eiján sobre
a pantomima histórica (ou bíblica), co seu potencial épico e literario, favoreceron a re‑invención dunha
nova festa promovida polos integrantes da Escola Taller de Santo André de Camporredondo (Ribadavia).
O significativo da celebración denominada Festa da Istoria é a participación veciñal que os cronistas
atribúen ao evento cívico‑relixioso no que se inpira: “[…]en cuya pantomima tomaban parte muchos
vecinos de la villa[…]”. Festa e participación son os dous elementos máis visuais das experiencias fes-
tivas dende a baixa medievalidade ata o barroco e un compoñente fundamental nas celebracións do
Corpus –de singular relevancia na Ribadavia baixomedieval e renacentista (González,1998), ‑ e tamén
3 A historia da capela da Virxe do Portal témola en Rodríguez L. (2001): “Arte” en X. C. Sierra (coord.), O viño da cultura. A cultura do
viño. Pontevedra. Editorial Mirabel, pp. 360-363, e atópase en prensa e edición dun traballo inédito La Virgen del Portal y su capilla, escrito en
1966 polo medievalista M. Rubén García Álvarez, que irá precedido dunha introdución crítica a cargo d historiadora Isolina Rionegro.
4 Dato reflectido no Libro de Acuerdos do concello de Ribadavia, que no ano 1865, di “[…]las piezas que se han de representar elegidas
por el Ayuntamiento[…]”
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nas festas patronais que emerxen na época barroca como acontece coa citada festa maior, adicada á
Virxe do Portal. En todos os casos o espazo urbano absorbe boa parte do ritual e ordena a secuencia
espazo‑temporal da celebración. No Corpus e na festa patronal do Portal os poderes cívicos e relixio-
sos e os segmentos sociolaborais (os grupos gremiais) inciden na organización da festa, establecen a
distribución de posicións e lugares no ritual procesional, debaten sobre o reparto de funcións xestoras
e sobre as cargas económicas para o finanzamento da festa e deciden (os que ocupan as posicións de
hexemonía ou privilexio) as tramas e contidos das representacións profanas e pararelixiosas, ordenando
a liturxia da celebración e concelebración propiamente sacras. Os distintos axentes concernidos pola
organización da festa tradicional participan dun xogo de cooperación e competencia, no que emerxen as
diferenzas sociais e o papel relevante das distintas institucións. Na festa nova, en troques, a cooperación
preside as accións que levan á invención, xestación e organización da festa, pero a competencia e o
conflito non están ausentes das prácticas organizadoras e das iniciativas orientadas a captar vontades,
a conseguir colaboracións e a obter recursos para materializar a vivencia festiva.
O chamativo da Festa da Istoria, na súa intención e na súa configuración, é a implicación da
poboación de Ribadavia como protagonista da experiencia festiva e dos veciños como cómplices para
activar iniciativas e conseguir recursos. Na fase inicial diferentes testemuños apuntan que a Escola
Taller procuraba a combinación da historia como cultura local, identidade e recurso turístico (Fernán-
dez de Paz, 2002), susceptible de ofrecer unha saída laboral aos seus estudantes. A vila de Ribadavia
posuía un patrimonio cultural que os rectores da Escola Taller consideraban socialmente produtivo, si
se manexaba doadamente:
“[…] Los objetivos[…] la recuperación de la historia de esta comarca y la potenciación de esta villa a tododos
los niveles, y sobre todo el turístico […]”
(Faro de Vigo, 1 de setembro de 1989)
A Escola Taller non inventou, de forma programada, esta festa como resposta explícita ao marco
de oportunidades que motivaban a creación das Escolas Taller, pero a Festa que se fundaba en 1989
proporcionaba certamente un laboratorio didáctico, ao tempo que un recurso potencial, para dinamizar
Ribadavia e, indirectamente, absorber sociolaboralmente aos seus alumnos. A chamada inmediata aos
axentes sociais da vila, así como a outras asociacións culturais, empresariais e de consumidores, bus-
caba a obtención das sinerxias indispensables para garantir o éxito dunha festa como esta e procuraba
outros efectos sociais desexables: a cohesión do vecindario nun proxecto común e o espertar duns
sentimentos identitarios. A recuperación dun evento localizado nunha festa antiga (independentemente
da discutible cientificidade da súa interpretación)5 e dun relato que conectaba co período considerado
como o do esplendor de Ribadavia favorecían a combinación destes variados aspectos.
“[…]Mais ainda fervorosos se atoparon ante a enorme creatividade que con xusta imaxinación, orixinali‑
dade, espontaneidade, sinceridade i naturalidade se fai desta festa da historia, reconstruindo o pasado e
achegando as nosas vidas un regueiro de alegría, amor i felicidade, felicidade que xa nos –escomenza no
mesmo intre de nos‑vestir con aquestas roupas, felicidade que coido que ainda moitas persoas desta vila
non sentiron e que, o non se vestir de historia, non se atopan desta Ribadavia i acougan vacios, tristes e
distantes do seu pobo […]”
(Pregón da III Festa da Historia, 1991)
5 Habitual neste tipo de eventos e performances festivas son as mesturas, confusións e sincronías históricas que fan convivir no esce-
nario do festexo a figuras do século XI con outras dos séculos XIV e XV: Don García, rei de Galicia no século XI comparte protocolo cos Sarmiento,
Adelantados Maiores e Condes de Ribadavia nos momentos finais da Idade media e nos séculos iniciais da Idade moderna. A intemporalidade
épica ten moita máis potencia e proporciona meirande eficacia simbólica ca o rigor histórico.
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O texto redactado polos organizadores para o Pregón da III Festa da Istoria (1991) destaca os
aspectos que constitúen a cerna da nova celebración: a inmersión no pasado como un xogo no que se
conxuga a interpretación do tempo conmemorado co enaltecemento dos atributos morais que adornan
ese pasado. Recrear ese tempo supón asumir durante un día o seu imaxinario visual, o que conleva
outorgar ao vestiario un papel central na imaxinería da festa; para os organizadores aqueles que non
se “visten” fican excluidos da plena participación no festexo e o pregón establece a distinción entre os
verdadeiros ribadavienses (no contexto da festa) e os que se “acougan, vacios, tristes e distantes do seu
pobo” por non adecuar o seu aspecto ao escenario pactado para redefinir os límites espacio‑temporais
da Ribadavia medieval festivamente recuperada.
Segundo o seu testemuño, os ribadavienses ese día non se disfrazan, vístense, e esa distinción
terminolóxica dá conta da visión que teñen da festa. Organizadores e partícipes insisten na distancia
existente entre o disfraz carnavalesco e o vestiario do que se apropian todos os que retornan ao medievo
para reproduciren a época que coidan máis representativa da historia de Vila. No entroido a máscara
e o disfrace inverten a personalidade, establecendo un xeito de contrapunto entre o individuo e a súa
negación. O disfrace entroideiro non constitúe unha viaxe no tempo, senón unha distorsión da relación
entre as persoas disfrazadas e o seu medio habitual. A máscara oculta a personalidade e proporciona
outra constitución ao enmascarado. Contrariamente, os que se visten na Festa da Istoria son persoas
que viaxan no tempo para adoptar outro papel (sen mudar necesariamente de personalidade) no marco
dunha trama compartida por todos os actores que acordan facer, a través da festa, a mesma viaxe. Os
medios de comunicación, pola súa banda, emiten as mensaxes e ideas que produce o ritual festivo:
Un desfile (en el Auditorio) de moda medieval precederá en julio a la III Festa da Historia […] un
llamamiento a todos los vecinos que tengan en su poder vestimentas de época medieval, para participar
en un desfile que tendrá lugar a mediados del mes de julio […] tiene como fin mostrar […] ideas […] para
confeccionar su propio atuendo. Las personas que en otras ediciones hayan lucido algun traje pueden
participar en este desfile exhibición […]
(La Voz, de Galicia 25 de junio de 1991)
Como experiencia para‑teatral a Festa da Istoria precisa un escenario e acode ao espazo ‘natu-
ral’. O Castelo dos Sarmiento, as igrexas románicas de Santiago e San Xoán e os conventos e igrexas
mendicantes (Santo Domingo e San Francisco), situados na tanxente do perímetro fortificado, propor-
cionan os fitos monumentais que marcan a trama da cidade histórica. Así pois, o escenario vén dado,
permanece como lugar de memoria (histórica) para todos os veciños de Ribadavia e tamén para os
visitantes. As rúas de San Martiño, Santiago ou a praza da Magdalena favorecen un rápido traslado ao
pasado escolleito. Na Festa da Istoria viaxan no tempo tanto as rúas e prazas do conxunto histórico de
Ribadavia como os seus veciños e convidados:
“[…]Primeramente mandaron y ordenaron, que se declarare dia festivo a todos los efectos en todo el termino
del Condado y conforme es costumbre antigua salga la Comitiva por anunciar el comienzo de la Fiesta del
lugar y hora que es costumbre y que también como es ya de viejo uso en la Plaza los vecinos y forasteros
estén en posesión y disfrute de todas las calles y plazas dentro del límite de la muralla […]”
(Bando, Festa da Historia, 1991)
Consonte ao indicado, tamén os edificios, portas, fiestras e rúas son vestidos de historia e unha
nova orde escenográfica adecua actores e figurantes a unha paisaxe históricamente trocada. Se o
entroido configura un espazo intencionalmente caótico, a Festa da Istoria moldea un territorio ordenado
conforme a unha mudanza de época, que non precisa o cambio de lugar. Pero o lugar debe mostrar, con
signos visibles, que o tempo da Istoria é otro e que a paisaxe urbana regresa a períodos ben recuados.
Polo tanto o pre‑ritual da festa establece as sús propias ordenanzas e todos deben ‘acatalas’ para o
logro dos obxectivos da celebración instaurada:
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O ritual festivo establecido polos organizadores desta festa combina formas propias do ritual das
festas cívico‑relixiosas do Corpus e do Portal –descritos con bastante detalle por Eiján e Meruéndano‑
xunto con formas creadas ao ditado do guión que recrea e dramatiza o mundo medieval, de acordo
cos estereotipos máis divulgados. Fronte á dimensión lúdica e libre da festa, que outorga protagonismo
crecente a todos os que se achegan a Ribadavia neste día e transitan espontáneamente polo limes
territorial da Istoria/historia, a Festa perfila o seu carácter mediante a institucionalización dun conxunto
de actos que pautan o horario do festexo, graduando os tempos e delimitando os espazos da Vila no
seu regreso ao pasado medieval. O ritual da Festa da Istoria impón unha disciplina e unhas prescrici-
óns que contrastan co movemento libre dos que se mergullan sen protagonismo definido no acoutado
territorio do medievo:
“Perdidos no tempo, a xente poderá sumerxirse polas rúas dunha Ribadavia xudeo‑cristiá, que volta ao
medievo, e disfrutar dos postos de mostra e venta dos produtos da Comarca”
A festa inventa unha celebración e establece o seu propio ritual, pero tanto a celebración como o
ritual se inspíran en tres elementos de partida, sobre os que medra e se asenta o discurso erudito e o
imaxinario popular acerca da grandeza de Ribadavia e O Ribeiro:
–– a relación entre mundo medieval e comunidade xudea, literaturizada pola pantomima ou
representación comentada e descrita polos eruditos locais.
–– as figuras históricas que a erudición e a historiografía identifican con Ribadavia e o seu tempo
de esplendor: a condición de capitalidade do reino de Galicia no século XI e a consolidación
dun señorío con rango condal, entre os ss. XIV e XV.
–– un conxunto histórico con iconas arquitectónicas monumentais que nos remiten aos séculos
centrais da idade media e á transición entre a baixa medievalidade e os comezos da idade
moderna.
Nas primeiras edicións da Festa (1989‑1993) o seu ritual presenta unha configuración máis sin-
xela e, entre 1993 e 1995, vaise incorporando ao elenco cerimonial da festividade un repertorio máis
amplo de actos que adoptan unha estrutura ritual fixa dende aquel momento ata as últimas edicións
da festa. O Desfile da Istoria, acto central da escenografía festiva estabiliza a súa forma e percorrido,
adiantando lixeiramente o seu comezo respecto do horario dos tres primeiros anos.
Nunha descrición sumaria dos actos máis significados desta secuencia ritual salientamos:
DESFILE da ISTORIA: Logo de varios cambios no seu itinerario, o cortexo de autoridades e digna-
tarios medievais inicia o seu percorrido dende a outra marxe do río Avia, formándose a comitiva un
centenar de metros antes do convento de San Francisco e da propia ponte sobre o Avia. Dende aquí,
logo de cruzar o río, a comitiva vai circulando con grande ceremonial polo límite da “cidade Istórica”
(rúa Progreso) ata chegar á Praza Maior. En 1994 regularízase este itinerario, comezado algun ano no
Castelo (1993) e o ano de inicio na cerna do casco histórico.
BANDO e PREGÓN: Pola mañá pouco antes do Desfile e do Pregón anunciábase o Bando da Festa
da Istoria, normalmente lido por un heraldo. Dende os primeiros anos escolléronse como pregoeiros
figuras do xornalismo ou intelectuais ligados por orixe ou por outros vínculos a Ribadavia (Valentín
Lorenzo Fariña, Xesús Alonso Montero, etc.). Logo da lectura do pregón, os Condes da linaxe dos Sar-
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miento, personificados en D. Pedro e Dna. Ana, saudan a veciños e visitantes que agardan congregados
na praza maior. O Pregón botábase nos primeiros anos dende o balcón do Concello e posteriormente
dende un palco instalado ao efecto na praza maior e situado fronte ao concello e diante da Casa dos
Condes. Neste palco entronizase a El‑Rei e á Raiña cun posto destacado para os anfitrións, os Condes
de Ribadavia.
ENTREGA de MEDALLAS: Este acto comeza en 1995 (7ª edición da Festa) cando cómpre fortalecer
lealdades coa festa, comprometer aos colaboradores institucionais e persoais coa súa organización
e deixar constancia documentada de pulos e favores recibidos. Posteriormente decidíuse adicar un
día de homenaxe aos voluntarios no último trimestre do ano. Cómpre indicar que entre os integrantes
da Coordinadora (ao redor de 25) e os encargados doutras actividades, voluntarios incluídos, a Festa
chega a mobilizar durante o ano ata 700 persoas, o que nos mostra o grao de implicación no evento
dos veciños de Ribadavia.
VODA XUDÍA: Esta actividade supón a gradual presenza e protagonismo na Festa da Istoria dunha
entidade cultural de Ribadavia, o Centro de Estudios Medievales (CEM), integrado por un activo, aínda
que reducido, grupo de persoas defensoras da presenza e da incidencia da comunidade xudía na
historia de Ribadavia. O discurso sobre o que se sustenta a reinvención da Festa favoreceu a colabora-
ción entre o CEM e a Cordinadora, coa inclusión conseguinte na programación do evento dunha serie
de actos orientados a significar e visibilizar a identidade xudaica na tradición cultural ribadaviense.
A escenificación dunha voda xudea, ceremonia consolidada dende 1995, compleméntase con outras
actividades, caso da liturxia do Sabat, incorporadas polo CEM á festa6.
BAILE MEDIEVAL: Dende 1994 a montaxe de coreografìas con danzas de época forma parte do
programa festivo. O lugar escolleito para esta manifestaciòn è a praza maior, aínda que nalgunha edi-
ción as danzas celebràronse no Castelo dos Sarmiento. A dificultade de reclutar homes para os bailes
de època levou aos organizadres a utilizar o eufemismo de “donas sen cabaleiros”.
CETRERÍA, TIRO con ARCO, TORNEO. Estas actividades tan interiorizadas no imaxinario difundido
“do medieval” aparecen xa na primeira etapa da festa, aínda que a súa regularización e distribución
secuenciada establécese entre a 6ª e a 7º ediciòn (1994‑1995). A súa vistosidade e espectacularidade
provocan a curiosidade do pùblico asistente á Festa, o que incrementa o éxito da celebración. O enalte-
cemento dos valores masculinos –forza e destreza física‑ e mais a recreación de relatos cabaleirescos
potencia a dimensiòn épico‑literaria da construción festiva.
ACTIVIDADE MUSICAL: A partir de 1993 regularízanse os concertos, realizados en varias igrexas
románicas e gòticas da Vila ‑Santiago, Santo Domingo,…‑, participamdo grupos corais ou instrumentais
con repertorios de música medieval ou de polifonía do renacemento. O reforzamento de signos de traza
xudía, produto da colaboración co CEM, levaron a orientar, en edicións posteriores, os concertos cara
a grupos e repertorios de tradición sefardí7.
TEATRO: A gran pantomima da Istoria, sobre a que xermola, segundo indicamos, a creación da nova
Festa da Istoria redacta os argumentos e asigna os papeis a un fato de veciños para a representación
de dúas representacións menores que se inscreben no ritual da pantomima xeral. A fonda tradición
teatral de Ribadavia, intensamente arraigada dende os tempos heroicos do festival de Teatro Galego
de Abrente (1972‑1979) facilita a montaxe doada destas obras dramàticas8.
6 Non podemos falar dunha etncidade xudía asumida polos habitantes de Rbadavia. Si dunha crenza –proxectada pola difusión da obra
de Meruéndano e potenciada pola actividade do CEM‑ na existencia no pasado dunha colectividade xudía influínte. Hoxe a cuestión deféndese
como un recurso, con aproveitamentos turísticos escasamente consolidados, e non como un factor identitario, étnicamente falando. Para este
debate consúltese RODRÍGUEZ CAMPOS, X. ‑ Del patrimonio local a las comunidades transnacionales…, 2010.
7 A propia organización do festexo, coa prticipación directa do CEM, montou o Grupo de Corda da Istoria con intervención habitual dende
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CEA MEDIEVAL: Constitúe un dos actos máis minoritarios da Festa, aínda que a súa celebraciòn
adopta un significado cerimonial, conxugado polo interese de captar algúns recursos adicionais para
compensar o custo da Festa. Por unha banda certas figuras, pregoeiro incluido, e autoridades (do
medievo e do presente) son convidadas ao ágape; pola outra, o resto dos comensais pagan o seu
cuberto a un prezo de “cerimonial”, pois a cea non semella un refrixerio para mendigos. Con todo, nas
sucesivas edicións, fóronse arredando da cea os manxares que non tiñan moita cabida no medievo
europeo –patacas, café…‑, afondándose no coñecemento dos produtos e condimentos consumidos
polas xentes acomodadas –nobres e reis‑ daqueles tempos:
“[…]Uno de los capítulos que destaca en la complicada coreografía que pretende convertir la zona amurallada
en una villa del s. XIV es el de la cena medieval que será celebrada en la Plaza Mayor[…]en la que se exige
ir vestidos de época[…] La invitación puede retirarse en el ‘bar[…]’ al precio de 1200 pts […] Nos decía ayer
que el Alcalde […] hará acto de presencia con indumentaria de judío[…] El cargo de ‘fariseo’ le vendría bien
a otro municipe cuyo nombre no facilitamos[…]”
(La Region, 3 de agosto de 1989)
A Festa da Istoria fixou como data anual de celebración o último sábado de agosto, aínda que
nalgunha das primeiras edicións o acontecemento tivo lugar o primeiro domingo de setembro. Sempre,
en todo caso, oito ou nove días previos ao día da patrona, a Virxe do Portal (8 de setembro), coincidinte
coa Natividade da Virxe e data fundamental do calendario festivo mariano (González Reboredo,1997;
2006). A escolla do día para o novo evento supón, ao tempo, unha lexitimación e un enlace entre a
festa nova (laica) e a festa vella (relixiosa).
O éxito da Festa ven confirmado pola elevada participación no evento de moitos veciños, ache-
gados e visitantes dende os seus comezos: unha festa de todos e para todos (Prado, Lira e Llana,
2010: 121ss.). A prensa, pois non constan avaliacións estatísticas precisas de asistencia, fixo un
9 A Festa podémola dividir en tres fases fundamentales: a xestación e posta en marcha do evento (1989‑1991); a fase de asentamento
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reconto de vinte/vintecinco mil asistentes por ano entre 1996‑2006, dato significativo para unha
vila cunha poboación residente que non supera a quinta parte desta cifra. Este éxito pode medirse
igualmente polos resultados obtidos logo da decisión en 1992 (4ª edición da Festa) de introducir o
maravedí como unidade de cambio no territorio da Festa. Tal inicitava tiña unha dobre finalidade:
por unha banda, ‘medievalizar’ a moeda e as transaccións durante o festexo e, pola outra, obter
uns ingresos para equilibrar o gasto crecente do acontecemento, xa que a Coordinadora detrae
un 10% de cada peseta ou euro que cambia para o pagamento do que se consume nas tendas,
expositores e obradoiros da Istoria. O fluxo indicado de xente polo conxunto histórico ribadaviense
explica que nos últimos anos se movera unha cantidade media, por festa, duns 180 a 240 mil euros,
cifras que non inclúen o diñeiro non cambiado por maravedís nos ámbitos exteriores ao recinto
festivo. Cómpre engadir que a introducción da moeda e a taxa de cambio establecida provocou
protestas dos vendores, artesáns e taberneiros ao entenderen que iso reduciría o gasto da xente.
Mais a avaliación posterior demostra que a decisión foi gradualmente asumida por todos e hoxe
achegarse á Ahóndiga/Alhóndiga para cambiaren o diñeiro actual pola divisa medieval supón un
rito máis da comuñón festiva.
Todos os actos incluidos no ritual festivo teñen a súa guía ou folleto informativo, que no seu
conxunto constitúen un xeito de breviario ou libro de horas para mergullármonos de maneira máis
intensa na festa. A música, a voda xudía, as actividades dos artesáns, as actividades para os nenos, o
torneo, o teatro, etc. están reflectidos e explicados nos diferentes e variados documentos de man que
circulan pola Istoria. Destaca entre todos eles o libriño‑folleto editado regularmente dende 1993 pola
Cordinadora da Festa, que, ilustrado cun plano, axuda aos visitantes a transitar polo recinto recreado
como territorio da Istoria –coincidinte en boa medida coa trama urbana do conxunto histórico declarado
(Ben de Interese Cultural hoxe) o ano 1947‑ e a identificar o servizo de cambio de moeda, o aluguer
e venta do vestiario de época, a ubicación das actividades máis significativas durante a xornada da
festa –voda xudía, cea medieval, xadrez vivinte, espazo para as danzas, torneo medieval, cetrería, etc.
‑. Este folleto localiza ademais os postos e núcleos de artesáns que fan e venden durante a festa os
seus produtos e destrezas e mostra a distribución por ruas e prazas dos postos de venda de alimentos
e bebidas, o pan e as obrigadas pulpeiras. Mostra igualmente o plano indicado a ubicación dos fitos
monumentais da cidade medieval. Moitos veciños do conxunto histórico abren este día os baixos, as
traseiras e resíos das súas vivendas (Prado, Lira e Llana, 2010:142), o que permite contemplar as vellas
adegas e a configuración urbana do casarío dunha vila capital dunha relevante comarca vitivinícola.
Moitos destes recantos, agochados durante o resto do ano, acollen o día da Festa a veciños e amigos,
e a eles acceden xentes de dentro e de fóra, que se apropian metonímicamente dun espazo privado
(García, 1976:124‑125).
O folleto territorializa a festa e establece o mapa da súa representación. O conxunto histórico é
vestido de época –vestido de Istoria‑ e convertido así no escenario privilexiado para interiorizar a paisaxe
urbana do pasado e convertelo no ‘limes’ entre o tempo pasado e o presente. Para acudiren a certas
actividades e zonas cómpre ir ‘vestido’ de época e o recinto do Castelo exerce a función de alfándega
espacial, materialización física da aduana simbólica na que se transforma o “tempo da Istoria” para
boa parte dos veciños e organizadores da Festa. A fronteira do espazo crúzase coa fronteira do tempo
e o folleto que comentamos segrega convenientemente o “foco de sacralidade laica” –escenario do
sociodrama festivo‑ das zonas para aparcadoro de automóbiles, nas que fica ‘aparcado’ o presente en
beneficio dunha paisaxe non contaminada polas iconas da contemporaneidade.
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RITUAL E CONFLITO
As esixencias impostas pola organización da Festa para evitaren que signos e imaxes ‘ex‑tem-
poráneas’ penetrasen nas lindes do medievo provocou en diversas ocasións tensións e conflitos con
algúns dos axentes sociais convocados a participar no acontecemento. A escasa implicación na Festa
de membros do sector hostaleiro tense denunciado, pública e privadamente, por varios responsables
da Coordinadora. As quéixas dos organizadores céntranse nas reducidas achegas económicas deste
sector ao evento, coas contadas excepcións que os recoñecementos anuais teñen sinalado. Así mesmo,
os desacordos e discusions afectan a aqueles que pretenden instalar na Festa postos de venda de
produtos, alimentos e bebidas á marxe da disciplina establecida sobre os recipientes, sobre o tipo de
alimentos e sobre as bebidas. Os primeiros anos a propia obriga de ir vestido no espazo acoutado para
o festexo provocaba algunhas críticas entre os que non entendían a lóxica e o significado outorgado a
esta festa polos organizadores e polos veciños máis comprometidos. Curiosamente as prescricións da
Coordinadora posúen unha significativa analoxía coas ordenanzas antigas e reproducidas no Bando
da Istoria, lido na primeira hora do festexo. As nocións de “fóra” e “dentro”, explicitadas nas antigas
ordenanzas municipais, emerxen agora como coacción formal para todos os que queren retornar ao
medievo e vivir un día na Ribadavia de antano:
La cooperativa Brotes[…] no pudo en el día de ayer regalar todas las flores previstas ante la expulsión del
Barrio Judío de los integrantes de esta cooperativa […] los integrantes de la cooperativa guardaban las flores
en envases plásticos[…] tuvieron que desplazarse fuera del recinto medieval para instalarse tras la “Puerta
Nueva”, una de las salidas del Barrio Judío […]
(La Voz de Galicia, 1 de setembro de 1991)
O conflito xorde tamén polo aproveitamento particular de espazos monumentais que deben quedar
ise día baixo a autoridade dos “representantes colectivos do pasado”. Neste caso a igrexa da Magda-
lena (desafectada de culto) era utilizada para diferentes actividades e tamén para a cea medieval que
pechaba o programa festivo:
“La “Festa da Historia” no utilizará la iglesia de la Magdalena al cederla el párroco para instalar un bar[…]
Considera que la postura de los responsables ecclesiasticos no ha sido la más correcta, teniendo en cuenta
que si ‘tiveron en conta determinados intereses por encima do ben público como é a Festa da Istoria’ […]”
(La Voz de Galicia, 11 de xullo e 29 de agosto de 1991)
A propia cea foi obxecto de desavinzas entre os integrantes da Coordinadora, ao entender algúns
deles que non debían ser convidadas autoridades políticas de hoxe. Prevaleceu a postura dos mem-
bros da organización que coidaba oportuno ter un xesto amable con aquelas autoridades que, polo
seu significado ou por teren apoiado a Festa, merecían compartir a cea coa nobreza medieval e cos
restante comensais de pago.
Noutro ámbito, as servidumes mediaticas obrigaron á Coordinadora a modificar coxunturalmente
(1991) o percorrido do Desfile, para permitir á TVG (televisión galega) transmitir a Festa:
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“La emisión del programa “En pé de Festa” desde la Mayor de Ribadavia […] podría obligar a la comitiva
de la Festa da Istoria a variar su itinerario a causa del lugar que ocupará el plató desde el que se realizará
el programa […]”
(La Voz, 28 de agosto de 1991)
Este feito provoca o enfrontamento dos grupos politicos municipais, ante o malestar dos veciños
polas molestias ocasionadas pola TVG:
“Veciños de Ribadavia acusa a TVG de ‘invadir’ la III Festa da Istoria”
(Faro de Vigo, 4 de setembro de 1991)
“El grupo […] socialista […] culpa al teniente de alcalde de la villa de la excesiva presencia de la TVG en la
Festa da Istoria […]”
(La Voz, 4 de setembro de 1991)
Igualmente a loita política aflora na relación que o Concello e os grupos políticos locais manteñen
coa Coordinadora organizadora do evento. A Festa da Istoria e a súa incidencia social é aproveitada
polas forzas políticas para consolidar a súa posición en Ribadavia:
“Después de que la moción de censura haya empezado a ‘rebulir’ los socialistas […] y proponen al pleno[…]
solicitar de la Xunta que la Festa da Istoria sea declarada ‘de interés turístico’”
(La Región, 6 de setembro de 1989)
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Como indica Baudrillard (1974), relendo aos clásicos do funcionalismo antropolóxico, as socie-
dades producen alimentos, obxectos, imaxes e signos que, unha vez producidos, son consumidos
e distribuidos. A festa constitúe un dispositivo de coacción cultural orientado a mobilizar signos e a
activar e construir relacións simbólicas entre individuos e comunidades, entre estamentos e clases,
e entre valores e significados. Mobilización caracterizada pola utilización destes signos, pero funda-
mentalmente pola súa circulación. As festas laicas, en continua emerxencia e difusión, conviven coas
festividades relixiosas, competindo con elas e, nos espazos urbanos, tendendo a súa sustitución.
O cristianismo predicou a subordinación da natureza a Deus, sendo o home (Baudrillard,1983: 64‑65)
o instrumento de dominación sobre aquela en cumprimento do mandato divino, funcionando a festa
sacra e o calendario cíclico que a sitúa e regula como proxecto fundamental na estratexia cristiana
de separación/alternancia entre ocio‑descanso e traballo. O postulado cristiano de trascendencia
do home sobre a natureza elimina o equilibrio ou a equidistancia pagana entre os dous polos desta
relación. A forma asumida polos protagonistas das hierofanías e polas imaxes da sacralidade con-
sagra e marca a separación e a distancia entre home, salvación e natureza. A festa relixiosa tece os
signos desta separación, establecendo os marcadores da subordinación indicada. O traballo consti-
túe o exercicio de dominación do home sobre a natureza e a festa delimita o tempo de celebración
que regula os ciclos temporais para o traballo, ao tempo que identifica e significa os espazos nos
que a natureza é transformada pola manifestación da sacralidade. Como acertadamente explica
Baudrillard (1983:66), o cristianismo provoca a ruptura dos intercambios simbólicos entre home
e natureza que presidían as expresións relixiosas pagás e precristiás. A festa relixiosa lembra que
terra e traballo non son únicamente factores de producción e, polo tanto, as colleitas e os produtos
obtidos non proceden da equivalencia ou da compensación polo esforzo realizado polos homes. É o
intercambio simbólico establecido coa divinidade, a través do ritual relixioso e festivo, o que garante
ás comunidades a obtención dos froitos da natureza.
A relevancia das festas non relixiosas reside, inicialmente, no papel que desempeñan na socie-
dade contemporánea para unha nova ruptura do proceso de intercambios simbólicos entre home e
natureza, e entre os individuos entre si. A sacralidade, como hierofanía e como límite entre o natural
e o sobrenatural, desaparece ou perde protagonismo, acentuándose a humanización da experiencia
festiva e sustituíndose o foco de sacralidade por signos e imaxes profanas que se constitúen agora nos
referentes idealizados polo discurso dos seus protagonistas e nos elementos que trazan os percorridos
simbólicos da nova ritualidade.
A institución dun ritual vai de seu en toda vivencia festiva. Marcar, delimitar, significar e lexitimar
son funcións esenciais en todo proceso ritual e as neo‑festas (históricas, gastronómicas ou políticas)
non constitúen unha excepción. A relación metafórica que se establece entre o territorio da festa, os
axentes que a convocan, dirixen e protagonizan e os chamados a compartila e disfrutala marca un
espazo que se delimita e pecha –nalguns puntos físicamente‑ para instaurar o escenario festivo e crear
o nicho da representación do ritual festivo e deseñar os itinerarios da vivencia que comparten os que
se achegan á festa.
O territorio delimitado axuda ademáis a neutralizar a tendenza actual a mostrar toda manifesta-
ción festiva como espectáculo e como produto de voyeur, no que a liminalidade percibida ven dada
pola convivencia entre os que se integran na festa e aqueles outros que fican como observadores
externos ou curiosos, alleos ao seu ritual e, polo tanto, non partícipes dos seus contidos. Os pasos
propios de todo proceso ritual –separación, límite e incorporación (Van Gennep, 2008:24‑26)10‑
10 Unha interesante revisión desta cuestión témola en SEGALEN, Martine ‑ Ritos y rituales contemporáneos. Madrid: Alianza Editorial 2005.
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reprodúcense de xeito especial nas festas ‘históricas’, xa que nelas a pasaxe cara a outro tempo
constitúe a súa cerna como fenómeno festivo. O espazo físico da festa cobra un sentido análogo
ao que posúe o foco de sacralidade no festexo relixioso: neste o santuario e o patrón/a teñen ben
fixado o seu ámbito devocional, definido claramente pola sacralización dun ou varios lugares nos
que se manifesta e venera ao santo/a, donos espirituais da circunscrición sobre a que se desen-
volve cadanseu proceso ritual. Na festa histórica o santuario é sustituido por unha edificación
ou territorio laicos –castelos en Catoira ou Moeche, conxunto histórico e castelo en Ribadavia‑ e
o santo por figuras históricas e/ou literarias asociadas épicamente aos acontecementos que se
conmemoran e que configuran o relato da nova festa: El‑Rei Don García (rei de Galicia entre 1064
e 1071) e os Sarmiento, linaxe que ostenta o dominio señorial sobre os estados de Ribadavia,
despois do s. XIV. A Festa da Historia constitúe nas súas prácticas e formulacións unha ficción ou
impostura dun rito de institución (Bourdieu, 1999:319‑323) no que se traspasa o límite do tempo
grazas á disponibilidade dun espazo “histórico” que favorece un paréntese de conmunitas –“un
momento en e fóra do tempo” (Turner, 1988:103)‑ compartido polos que traspasan o limiar do
recinto festivo da Istoria.
Esta cita axuda a comprender a demanda de cooperación co festexo solicitada pola Coordinadora
da Festa da Istoria e a apatía mostrada por unha parte dos hostaleiros e comerciantes, que non se
implican, ou fano con moitas reticencias, na organización da festa, desconfíados de obter os beneficios
económicos agardados.
Cómpre lembrar que no marco da economía dos bens simbólicos a Igrexa intercambia grazas,
beizóns e un repertorio variado de servizos e mercés espirituais –misas, indulxencias, pregarias…‑ por
ofrendas materiais en diñeiro ou en especie, que garanten a reproducción material das institucións
eclesiásticas e o beneficio espiritual dos fieis. Esto supón unha relación de intercambio asumida e repre-
sentada como unha equivalencia, na que os devotos entregan bens de uso como moeda de troco para
satisfacer o pago da tracendencia e a Igrexa devólvelles bens inmateriais,: non hai culto sen ofrendas
e as ofrendas materializan a reciprocidade da celebración relixiosa e da manifestación da graza divina
e da protección dos santos. A festa relixiosa participa desta economía de cambio, constituindo o foco
de sacralidade o espazo privilexiado para a circulación de bens materiais e inmateriais orientados a
sufragaren as necesidades mundanas dos ministros dos santuarios festexados o que, consecuente-
mente, conleva a distribución sobre o territorio de graza das beizóns e a protección espiritual para todos
os que participan no seu ritual e fan as ofrendas previstas.
A carencia dun foco de sacralidade nas festas laicas e ‘históricas’ elimina a forma de dominación
simbólica inscrita nesa relación de intercambio, pero desenvolve outras formas de intercambio sim-
bólico. O ritual establecido nas novas festas resposta a outro campo de crenzas nas que o fenómeno
enaltecido combina un territorio e un ou varios acontecementos cos seus porotagonistas, un territorio
e un produto (xeralmente gastronómico) ou unha celebración ligada a un acontecemento, un conflito
heroico, un relato singular ou un monumento significado.
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A MODO DE CONCLUSIÓN
A emerxencia, difusión e consolidación destas neo‑festas é unha das moitas respostas dadas
polas culturas de base territorial para subsistir habilitando novas prácticas orientadas a establecer
novas formas de relación entre o propio e o foráneo, entre o próximo e o alonxado, entre o local e o
global. Trátase dunha resposta que explora nas expresións identitarias, que se manifestan non só en
termos de afirmación, senón tamén como unha táctica integrada na economía de intercambio dos
bens simbólicos e dos intereses materiais. As festas históricas trasmiten a imaxe da relevancia e a
singularidade dun territorio, mediante a recreación da grandeza e o esplendor que a historia conta da
linaxe colectiva das súas xentes, herdeiras dun pasado vedraño e ilustre, adornado dos valores que
‘hoxe’ consideramos máis positivos: a tolerancia, a convivencia en paz,
“[…] E tamén vos ordeo: que nesta vila de Ribadavia, todos xuntos como irmans, celebredes esta festa, os
xudeos cos cristians. A tódolos ribadavienses, vos digo para rematar que fagades esta festa ou deixedes
de soñar[…]”
Este mandato aparece no Bando que D. Pedro Ruiz Sarmiento, Señor de Ribadavia (s.XIV), lanza
aos veciños e moradores da Vila e aos participantes na festa –medios de comunicación incluidos‑ des-
tacando os atributos característicos dos ribadavienses, “certificables” dende o baixo medievo, e que o
evento lembra: a bonomía, a sociabilidade e a hospitalidade. A historia recupérase como experiencia
festiva e organízase cono unha dramatización coral, na que participan moitos veciños que, ao evocaren o
pasado como historia‑signo e como historia‑memoria, establecen a equivalencia entre historia e memoria:
“[…] Que ós demais lle mostredes, ao facer a Festa da Istoria, que sodes fillos dun pobo que non perde a
súa memoria […]”
(Extracto do Bando da Istoria)
No marco actual de globalización económica e tecnolóxica, as festas e feiras de novo cuño, sexan
históricas, gastronómicas, deportivas, etc., combinan con singularidade e creatividade formas de iden‑
tidade reactiva con propostas de identidade‑proxecto (Castells,1999:396), nunha estratexia baseada
na visibilidade do propio nos circuitos do alleo e na traslación mediática do próximo a círculos máis
afastados. A forma festiva destaca entre outras expresións da actividade humana pola súa vistosidade,
polo seu colorismo e polos valores plásticos inherentes ás prácticas cerimoniais e lúdicas. A festa é un
altofalante e unha gran pantalla na que se mostran os trazos, relatos e valores que interesa proxectar.
A eficacia social da manifestación festiva reside no seu potencial simbólico, capaz de atuarense cos
dispositivos de poder hexemónicos e de producir e reproducir identidades, baixo as que se conforman
os consensos sociais e se lexitiman (a si mesmas) as sociedades.
As neo‑festas que voltan a mirada ao pasado enlazan as representacións obxectuais (emblemas,
estandartes, vestiario, monumentos…) coas representacións mentais (Bourdieu, 1985:87) que se confi-
guran mediante a enunciación dos atributos e propiedades daqueles signos materiais. Simbólicamente
os emblemas e os vestidos traducen a lembranza de hexemonías pretéritas, que no xogo e na perfor‑
mance –na festa !‑ emerxen como poderes: os da identidade cultural, procurada, recobrada e asumida.
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Fig. 2 – Desfile polas rúas de Ribadavia na Festa da Historia. Fondo Fotográfico MER.
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Fig. 3 – Lectura do Pregón ante as autoridades: Reis, nobreza e clero. Fondo Fotográfico MER.
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Fig. 5 – Postos de Venda nas rúas do conxunto histórico de Ribadavia. Fondo Fotográfico MER.
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Sierra, Xosé Carlos — A Festa da Istoria de Ribadavia – Relato, Invención, Vivencia
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MONTE DO FACHO, CASTRO OU
SANTUARIO?: A CAMPAÑA DO 2008 E A
ARQUITECTURA SACRA NA CULTURA CASTREXA
RESUMO:
Preséntase por vez primeira un grupo de estruturas arquitectónicas e manifestacións artísticas
que definen e singularizan ó castro do Monte do Facho, no que ambos elementos conxuganse
para dibuxar un espazo adicado a actividades de carácter ritual e/ou cultual. Unha característica
que semella marcar ó castro no seu conxunto.
Palabras‑Chave: Arquitectura; Escultura; Sacralidade; Castro‑santuario.
ABSTRACT:
First introduction of a group of architectural structures and artistic expressions that made singular
the Monte do Facho Hillfort, where both elements are combined to create a cultual and ritual
space. A feature that seems applicable to the Hillfort as a whole.
Keywords: Architecture; Sculpture; Sacrality; Hillfort‑sanctuary.
INTRODUCIÓN
O Monte do Facho
O Monte do Facho ven sendo nos derradeiros anos un dos xacementos castrexos galegos máis
relevantes, tanto pola súa singularidade como polos intensos e prolongados traballos que se veñen
efectuando nel, e moi especialmente polo descubrimento dun excepcional conxunto de altares voti-
vos de época galaico romana. Coñecido como xacemento dende mediados do século pasado e como
santuario galaico‑romano dende os anos sesenta desa mesma centuria1, serán os traballos levados a
cabo a partires do 2003 polo Concello de Cangas e o Instituto Arqueolóxico Alemán, os que coloquen
definitivamente o xacemento entre os máis significativos para o coñecemento arqueolóxico da relixión
galaicorromana, ó tempo que permitiron avaliar a relevancia do enclave na súa etapa prerromana, a
que de maneira breve e parcial dedicaremos estas páxinas2. As xa abondosas publicacións sobre eses
traballos permítennos evitar aquí a localización e descrición do Monte do Facho3.
(2006): 169‑191; SCHATTNER et alii (2006): 9‑46; KOCH et alii (2014): 249‑268.
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Montealegre, na mesma Península do Morrazo, en niveis tardíos do Castro de Vigo, o outro lado da ría
de Vigo, ou no, xa algo máis ó sur, castro de Santa Trega, os seus paralelos máis próximos6. Ainda que
apenas escavados, constatouse a existencia de outros dous horizontes previos, un centrado no século
I a. C., con ánforas “Dressel 1” e cerámicas indíxenas propias de esa cronoloxía; outro máis antigo
con cerámica, na que abunda a decoración estampillada, identificable co repertorio alfareiro das Rías
Baixas na chamada Fase Media da cultura castrexa7 e co que cabería relacionar algunha cerámica
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importada, como un fragmento dunha copa “campaniense” ou o do galbo dunha ánfora “grecoitálica”,
que nos retrotrae alomenos ó séc. II a.C.
ESPAZOS E ESTRUTURAS
A meirande parte das estruturas escavadas no 2008 responden ó patrón típico da cultura castrexa
e polo de agora dominante, aínda que non na medida do habitual, no monte do Facho. Estámonos a
referir a un conxunto de edificios circulares, nos que hai que destacar tamén a súa disposición regular
formando unha liña paralela ó muro de aterraplenado e en correspondencia, senón exacta, bastante
equilibrada, coa serie delas que dispuñan inmediatamente por riba de dito muro. Ó lado deste conxunto
e en relación ó mesmo aparece, como xa ven sendo frecuente no Facho, outros edificios de morfoloxía
diversa, aquí expresados nun de forma elíptica e outro trapezoidal de esquinas curvas, ámbolos dous
tipos xa coñecidos noutras partes do poboado, ademais dun terceiro de forma semicircular. Mesmo nos
edificios de forma circulares atopamos máis diferenzas que as de tamaño, nun caso pola a presenza
dun posible vestíbulo, pero sobre todo pola necesidade de adaptación a un terreo de forte pendente e
conformación irregular que forza a matizar esa aparente uniformidade. Tamén no tipo de fábrica: doble
parede en cachotería concertada de granito de pequeno e mediano tamaño, constatamos heteroxe-
neidade, expresada pola existencia de tipos de aparellos diferenciados, as veces nun mesmo edificio,
destacando o contraste entre construcións con cahotería pequena e irregular con aqueles outros de
aparello poligonal, ou presenza do que combina o aparello de mediano tamaño ben traballado rexuntado
con pequenas pedras nun estilo xa constatado para o norte de Portugal8, ou a pervivencia de aparellos
marcados pola a irregularidade, tanto en tamaño como en composición, dunha cachotería apenas
traballada. Pero será sobre todo a existencia de estruturas internas o que, segundo a súa presenza ou
non e a súa conformación, singularizará ós edificios. Será nesas construcións con interiores complexos
nas que imos centrar o noso interese.
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basa de cachotería. As que se engaden restos de pequenos muretes que semellan claramente fragmen-
tar o edificio internamente. A eses muretes hai que engadir algunha concentración de pedras aínda de
máis difícil definición, pero que semellan ser o baseamento de estruturas desaparecidas, ou repisas
achegadas ó muro, neste caso de forma semicircular e construida por cachotería concertada. E, de
maneira máis destacada, unha estrutura configurada por dous muretes en ángulo que definen un espazo
cuadrangular baldeiro e aberto, sen restos que o relacionen cunha función tipo fogar ou semellante,
ainda que delimitan unha fosa irregular, tanto no contorno como nunha base en dous niveis; conxunto
estruictural ó que se asocia unha pequena pedra fincada10. Outra fosa de características semellantes a
descrita, ainda que de forma tendente a semicircular (ca. 1 m de ancho e 60 cm. de longo) e achegada
ó muro, cara ó sur, con base irregular non moi fonda e na que aparecían algúns fragmentos cerámicos.
Unha terceira, máis pequena e tendente a cadrada, tamén irregular, especialmente no fondo, podería
interpretarse como o negativo de outras estruturas feitas en material perecedeiro que desapareceron.
Un inconveniente definitivo cara a interpretación dese complexo estrutural é a perda total de a metade
do edificio polo arrastre de materiais derivado da acusada pendente existente.
En conclusión, e coñecendo tan so algo máis da metade do estrutura, unha complexa conxun-
ción de repisas achegadas ó muro, muretes e fosas, na que destaca unha estrutura central dionde
esas dúas últimas formas se combinan definindo unha estrutura rectangular que acobilla unha fosa
irregular, ó tempo que parece asociarse cunha pedra fincada perto do seu ángulo noroeste. Todo esa
abigarrada composición aséntase sobre o un piso de barro cocido e representa a derradeira fase de
ocupación dunha construción que ten alomenos un chan anterior das mesmas carácterísticas. No
material asociado e dentro dunha relativa escaseza pola tamén limitada potencialidade estratigráfica,
destacan pola súa especificdade algunhas pedras puidas, o carón de pequenos cantos rodados, ou
unha acumulación significativa de “fichas” de xogo; tamén a parte superior dun muiño circular e no
apartado cerámico, abundantes fragmentos de ánfora: a metade superior dunha “Haltern 70” aparecía
rota contra o exterior da estrutura central.
10 Un elemento que xa aparecera no edificio XLIV da campaña do 2007, tamén vinculado a unha división interna do edificio.
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e preséntase como límite inferior dos niveis de abandono dos mesmos: neste caso o estrato que recolle
o proceso de abandono e primeiros restos da amortización da estrutura componse dunha amalgama
de terras amarelentas e moita pedra, na que faltan calquera tipo de evidencia arqueolóxica ata chegar
o pavimento mesmo no que, ademais da mencionada oliña, aparecen outro fragmento cerámico inme-
diato a plataforma e pequenas concentracións de carbóns as que se asocia algúns pequenos osos.
Esa plataforma de forma rectangular e construida con pedras trabadas afastase das mencionadas
para a estrutura VII, pero non é a primeria vez que aparece no Facho. Unha estrutura semellante foi
detectada na construción XXXII, ubicada nunha parte máis baixa da ladeira, ainda que nese caso contex-
tualizada nun horizonte rico en materiais e cunha asociación directa a unha significativa acumalación de
carbóns e restos orgánicos, pero tamén cun depósito riutal composto por un puñal e un coitelo, ambos
en ferro11. Ambas plataformas ou repisas, dado que sempre se adosan ó muro da construción, son, sen
embargo, claramente diferentes dos fogares que polo de agora foron recoñecidos no castro, a meirande
parte ubicados no centro da construción e sempre en forma de caixa aberta nun dos seus lados. En
todo caso, a que agora tratamos, nin ela, nin a súa contorna amosan evidencia algunha de ter sofrido
a acción do lume. Finalmente, o carácter arqueolóxicamente estéril do edificio, cando menos na súa
derradeira fase de uso, ten tamén un probable paralelo no Facho, pois unha circunstancia semellante
aconteceu na estrutura VI, tamén circular e de novo cunha especificidade cosntructiva: o doble muro
que o conforma12. Trátase nos dous casos de construcións que se mantiveron intencionalmente limpas
durante o seu uso, limpeza que é o único rasgo que caracteriza dito uso, agás a presenza dalgunha
pequena cremación e a existencia dalgún recipente, quizais relacionado coa mesma.
En canto a estrutura XXIX, en parte xa escavada na campaña do 2005, definíuse como un edificio
de cachotería granítica concertada, con forma elíptica e pequenas dimensións, que se dispuña, ademais,
nun ámbito topográfico bastante complicado: asentado sobre unha afloración do rochedo granítico e
nun punto de inflexión dunha ladeira polo xeral de pendentes moi acusadas. Esas condicións fixeron
que o seu estado de conservación resulte bastante deficiente: so se conserva e con escaso alzado o
muro situado no lado Sur‑Suroeste, que se corresponde coa parte máis elevada do espazo que ocupa;
mentres que no lado oposto, o Este‑Noreste, desapareceu ata a base da cimentación; pola súa banda,
os segmentos menores da elipse teñen un conservación diferenciada segundo se acheguen a un ou
outro dos antes mencionados. No interior, a estrutura XXIX conserva un pavimento de barro cocido,
aproximadamente nun terzo da superficie e cara o lado sur. Baixo dita pavimentación aparece outro
conformado por un laxeado de pedras –único polo de agora no xacemento‑ pero que so se puido ver
nun pequeno vacío que deixou o que o cubre, pois como ese desaparece por destrución na metade
norte do edificio. Outro elemento a ter en conta é a existencia cara o centro da construción dunha fosa
de contorno irregular que lembra algunha das citadas para a estrutura VII.
Queda, por último, valorar esas estruturas como posible conxunto arquitectónico. O primeiro dato
a ter en conta e a presumible posterioridade da XXIX con respecto a XVIII, pois a parede da primeira
adosase á da segunda e, nese intervalo de coincidencia entre ambas, carece de cara exterior. A dispo-
sición relativamente equilibrada entre ambalas dúas estruturas, a posición da XXIX ocupando o espazo
entre a outra construción e a caída brusca da pendente cara a ladeira media e o caserío que nela se
dispuña, fai pensar nunha ligazón intencional entre as duas estruturas e non só as constructivas: o
edificio elíptico aproveita parcialmente ó anterior na súa construción, pero, ó mesmo tempo, serviríalle
a aquel de estribo que contrarrestase o acusada pendente sobre a que se levantou. Unha arquitec-
tura complexa na que o edificio novo podería pasar a constituír unha dependencia dentro dun edificio
estruturado en duas partes, algo que xa é coñecido no Facho, ainda que sempre como fragmentación
11 Intervencións
do 2006 e 2007.
12 Escavada en 2004 e 2005, esta construción está dentro de ese outro grupo de edificios circulares dispostos en liña e paralelos ós que
estamos tratando, pero agora na plataforma superior (“Bau G” in SCHATTNER et alii (2006): 182, Abb. 3 y 6, A‑B.).
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interna dun mesmo edificio. Ou, simplemente, un recinto anexo, a modo dos chamados “vestíbulos”,
neste caso nunha condición de recinto‑plataforma que facilitaría a comunicación do edificio principal
‑o XVIII‑ coa parte media e baixa do castro, atenuando o acusado declive do terreo nese punto. En favor
desta última posibilidade estarían as paredes achegadas ó edificio prexistente, que presentarían pro-
blemas no seu desenrolo en altura e cara un posible teito, tamén a peor calidade do muro, así como o
integrar no mesmo a penedía, e non eliminala, ou, finalmente, a presenza de un pavimento a base de
laxeado, propio de espazos exteriores. Unha característica que relaciona esta arquitectura coa presenza
de edificios con vestibulos, dos que se coñecen outros exemplos no Facho, tanto en edificios circulares
como nos trapezoidaes de esquinas curvas, e mesmo un deles, a estrutura IV, aparece a mesma altura
co XVIII, pero na liña de construcións disposta na plataforma superior do castro en paralelo a que esta-
mos tratando. Unha característica, que como anexo ou como vestíbulo, redimensionaría arquitectónica
y visualmente ó edificio, dandolle unha gran presenza no conxunto do castro, a pesares de que as súas
dimensións son menores cas dos edificios que o acompañan. En definitiva, con outras características,
voltamos a atopar como na estrutura VII elementos que o singularizan, ó tempo que parecen afastalo
do carácter doméstico que lle cabería supoñer. De novo na arquitectura, polas dimensións e complexi-
dade; de novo nas estruturas interiores, tanto levantadas como soterradas; agora tamén nos contidos,
neste caso na súa ausencia.
13 A ubicación orixinal da peza basease na súa aparición inmediata ó exterior da parede e na parte máis baixa dos derrubes da mesma.
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O novidoso e sorprendente neste caso fronte os xa coñecidos, vai ser a presenza, sobre a pedra
mellor traballada das que conforman a estrutura, dun gravado a base dun sulco moi fino que debuxa
unha liña ondulante que semella prolongarse nun tramo recto rematado, a súa vez, nun punto. Esta
descrición semella apuntar cara unha representación herpetomorfa, algo inédito no Facho, pero non
infrecuente na cultura castrexa. O destacable do noso exemplo é o estar ligado a unha estrutura e den-
tro dun edificio, e non no rochedo natural: ofrécenos, polo tanto, un contexto arqueolóxico específico e
datable. Tamén resulta salientable a execución, polo reducido tamaño co que foi concibido e, sobre todo,
polo estreito e pouco profundo da incisión coa que foi obtido. O que deriva nunha representación moi
simple, pero ben definida, e apenas visible, sen evidenciar ningún proceso acusado de desgaste que
motivara esa condición. En definitiva, un motivo sinxelo pero evidente, e máis insinuado que amosado,
condicións que apuntan para que foi realizado cunhas intencións alleas ó estético e que fai pensar
noutras funcións dentro do ámbito ideolóxico, aínda que polo de agora témonos que conformar coa
mera posibilidade.
Non rematan ahí as peculiaridades deste edificio. Si volvemos ó seu exterior, atopámonos que no
pequeno vestíbulo que antes describíamos aparece unha pedra de moi especiais características. Trátase
dun “cipo” de granito, con forma lixeiramente troncocónica e remate superior levemente alombado,
disposto no remate pero separado da parede que define o vestíbulo e, polo tanto no que debería ser
acceso principal ó edificio. Ademais, este cipo presenta, en cada seu lado e dispostos simetricamente
entre si, dous gravados de forma amendoada e cun trazo recto e curto que sae do que sería o seu
extremo posterior, vendo a peza dende o exterior do edificio; o que hai que engadir a presenza na que
sería a súa parte posterior –sempre dende unha visión de fora a dentro con respecto ó edificio‑ unha
serie de trazos horizontais e paralelos que cobren a metade superior da peza. De novo estamos diante
de incisións moi finas e, como consecuencia, difíciles de ver sen a axuda dunha luz rasante, que pare-
cen querer converter unha xeometría simple, como é a que define o soporte, nunha iconografía máis
complexa a que lle adicaremos un tratamento máis detallado no seguinte apartado.
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estrucuras que rodean a que agora comentamos. Fai fincapé no papel dese estreito espazo aberto que
manifestou ter recibido un intenso uso no que o lume estaba especialmente presente. Incluimos esta
estructura tamén porque insiste no peso que teñen esas repisas nas construcións nas que aparecen,
pois neste caso o reducido do tamaño do edificio ou recinto non permitiría desenvolver con facilidade
actividades que non estivesen directamente relacionadas coa plataforma, e particularmente aquelas
que poideran ter carácter doméstico. Un tamaño que na sua forma de medio edificio, lembranos a
fragmentación dalgunhas das estructuras do Facho en duas metades, con funcións aparentemente
diferenciadas, do que este edificio pode ser unha individualización do que sería unha segmentación da
arquitectura en razón da especificidade das funcións que se levasen a cabo na mesma.
PLÁSTICA CASTREXA E ARQUITECTURA NO MONTE DO FACHO
A plástica castrexa
Entre os logros máis relevantes da presente campaña están sen dúbida dúas pezas que volven a
por o Facho entre os enclaves con expresións da plástica castrexa, e mesmo no grupo nos que estas
son relativamente abundantes. As dúas recollidas neste ano, súmanse as cinco xa existentes, e se
sumamos algunha peza dubidosa fan que O Facho con nove exemplos sitúese nun lugar intermedio,
entre os máis destacados e aqueles outros no que a presenza redúcese a unha ou dúas pezas14. Coa
peculiaridade que en todalas manifestacións iímonos mover no eida da considerada como “decoración
arquitectónica, e caseque exclusivamente nos apartados do que ven sendo definido como “couzóns”
e os “amarradoiros”.
Trátase neste caso de dous exemplares do que na plástica castrexa e dentro do apartado da
decoración arquitectónica é coñecido como “amarradoiro”15, dos que no Facho xa contábamos con
dous exemplos. O primeiro deles é unha peza de pequenas dimensións (lonx. max.: 20, 5 cm; altura
máx.: 12,8 cm.) e coidada elaboración sobre unha pedra de granito local. Presenta unha base, que iría
encastrada no muro, de forma prismática, algo tosca e con aristas curvas, da que sae o cóbado de fac-
tura máis coidada, morfoloxía troncocónica algo curvada e remate tamén curvo. O vástago acobadado
ten a parte horizontal cilíndrica e curta, e a vertical tamén curta pero cónica. Carece de decoración,
pero temos que insistir no bo tratamento xeral da peza. Apareceu no nivel 3, que corresponde ó nivel
de abandono da ocupación castrexa, descansando directamente sobre un batolito granítico que se
dispón ós pes do segmento sueste da estrutura XX, asociado a base do derrubo da mesma: inmediato
o asento sobre o rochedo da bancada exterior de dito muro, tiña perto unha pesa de colmo partida e o
seu carón unha serie de pedras que pola súa disposición semellan ter caído en bloque do muro: todos
indicios de que estaría orixinalmente na parte alta do muro.
A segunda peza apareceu non moi lonxe da anterior, pero agora vinculada posicionalmente a
outras estruturas, polo que a contextualización arquitectónica da peza ten que quedar en suspenso;
mentras no que a estratigrafía se refire estamos diante dunha área de forte pendente e, polo tanto,
bastante alterada, co que ten desaparecido boa parte do derrubo e do que está asociado a el, ambos
expresión dos movementos postdeposicionais que afectaron a todo o xacemento. En definitiva, a peza
semella asociada a un horizonte no que se mesturan derrubes e terra negra, aparecendo na base do
mesmo e, polo tanto, puidera corresponder, coma no caso anterior, ós momentos iniciais do proceso
de derrubamento da estrutura da formaba parte. Este segundo “amarradoiro” ten maiores dimensi-
óns (lox. máx: 23 cm.; anch. Máx.: 20,4 cm.) e unha factura mesmo máis coidada co anterior. Agora
a parte horizontal é algo máis longa e ten claramente diferenciada a parte para introducir no muro:
forma prismática e maior anchura, pero ben traballada agás no seu remate. A parte acobadada está
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constituída polo cóbado e o saínte vertical que ten forma cilíndrica e remata en bisel. Unha particula-
ridade apreciable a simple vista e a presenza dunha pequena nervadura na cara externa do cóbado,
o que nos remitiría a un “amarradoiro” decorado. Sen embargo, esa suposta decoración vai máis alá
cando observamos con detimento a peza, pois deseguida notase a presenza de dous pequenos puntos
colocados simetricamente a ambos lados do cóbado e que apenas destacan no piquetado co que se
labrou a peza. Uns puntos que en realidade están enmarcados por pequenos círculos, e mesmo nun dos
lados pódese apreciar un trazo curvo que corre parella ó segmento superior do motivo circular. Outro
pormenor a salientar e a presenza dun lixeiro resalte no que sería unha metade da circunferencia que
define a superficie plana e disposta en bisel na que remata a peza.
Todos eses rasgos e, especialmente, a súa combinación transforman este “amarradoiro” nunha
cabeza zoomorfa, dunha maneira que destaca pola súa sutileza, pero tamén por unha contundencia,
que nos permite mesmo ir máis alá e con total seguridade na lectura iconográfica para falar dunha
cabeza de porco ou mellor, pola presenza da creste, de xabarín. Unha iconografía que nos leva a pre-
guntarnos si a primeira peza non poidera ter unha lectura iconográfica tamén de carácter zoomorfa,
en concreto herpetomorfa, dada a súa morfoloxía e a súa vinculación cunha arquitectura onde temos
varias representacións con esa mesma posible identificación. Esta relación entre “amarradoiros” e
representacións zoomorfas xa foi insinuada, a partires dalgúns dos moitos exemplos coñecidos16. Agora
o que propomos é unha reinterpretación dos mesmos como “prótomos” de animais, modificando así
tamén a súa interpretación funcional e mesmo a súa conceptualización, agora dentro do escultórico e
non do decorativo. Por outra banda, a contextualización dos casos rexistrados no Facho contradicen a
funcionalidade xeralmente atribuida e razón do nome co que se coñecen: pezas para amarrar animais,
posto que asocianse a parte alta da perede externa de edificios que, ademáis, serían de difícil acceso,
pola súa posición sobreelevada e dada a estreitez dos espazos que os circundan.
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na súa especificidade e importancia, tanto como no seu marcado carácter simbólico e funcións alleas
o doméstico. Unha peza, en fin, que permite recuperar outra de características semellantes, ainda que
non conserva ningún rasgo insculpido, quizais por ter aparecido descontextualizada e en superficie,
defindo posi un tipo de novo na plástica castrexa, como serán estes cipos levemente troncocónicos,
nos que, como acontece nos “amarradoiros” poden recibir rasgos grabados nas súas superficies que
poidan ter interpretación iconográfica.
O outro elemento que xustifica a apertura deste apartado dentro das manifestacións plásticas do
Facho ten máis problemática definición, pois trátase de pedras apenas traballadas, aproveitadas pola
súa forma natural, estreita e apicoada nos dous estremos, que permitía chantalas de pe. Así aparece
a mencionada para a estrutura VII, onde como víamos asociase a unha compartimentación complexa
do edificio. Así aparecía xa na estrutura (campaña de 2007), alí dentro de un gran edificio dividido
interiormente en duas metades. Lembra ós betilos, ainda que neste caso teríamos que falar de “betiloi-
des”, pois difiren moito das pezas que con esa identificación aparecen en contextos castrexos con forte
influencia mediterránica, coma os sinalados para o Castro do Muiño do Vento (Alcabre, Vigo)17. Ainda
en relación a ambas manifestacións e quizáis como fórmula intermedia están o que en na bibliografía
protuguesa coñecese como “columnelos”, exemplos dos caes aparecen entre os derrubos do Facho
con distintos tamaños e factura, ainda que sempre reduundando nunha forma estreita e alongada con
tendencia ó troncocónico18.
Fora da plástica, pero ainda dentro do eido das representacións en soporte pétreo, estaría o
gravado serpentiforme que volve a aparecer vinculado o edificio XX. A condición de inscultura en pedra
levaríanos a integralo no problema que ese tipo de manifestacións teñen no ámbito castrexo19. Sen
embargo, tanto a técnica empregada neste caso, como tamén a súa contextualización, motiva a consi-
deralo máis en relación coa plástica, aínda que no ámbito difuso da decoración arquitectónica, que cos
grabados propiamente ditos. Pois, de novo enfrontarmos unha representación mediante unha incisión
moi tenue, apenas perceptible, que debuxa de maneira esencial unha serpe: liña ondulante para o
corpo e apenas un simple punto para a cabeza. Unha representación que non aparece nun soporte
natural e ó exterior, senón nunha estrutura e dentro dun edificio. Unha situación que ten o seu mellor
paralelo no castro de Troña, onde coincide non so a iconografía, senón a técnica e o contexto, tanto
arquitectónico como o cronolóxico20.
Agora, aínda que no mesmo edificio co cipo, o contexto é distinto: no interior da construción e sobre
unha estrutura en forma de repisa ou pedestal, que comeza a ser relativamente común no Facho, pero
para a que non temos datos que nos permitan interpretala funcionalmente. Se a primeira presentase
como representación autónoma, concibida para e por si mesma, aínda que non poida desligarse do
seu entorno inmediato, esta segunda forma parte de xeito directo dunha realidade estrutural máis
complexa, polo que a súa función será cumprir un papel en relación a esa realidade. Será o estudo en
detalle dos poucos datos con que contamos para entender estas plataformas –das que máis dunha
vez insistimos no seu alonxamento da idea de fogar ou semellante‑ o que nos permitirá achegarnos a
iconoloxía deste pequeno gravado. Cabe adiantar que a inclusión dun elemento coa carga simbólica
que ten a serpe, unido a falta dunha intención de destacar visualmente a representación, lévanos a
pensar nunha función nin doméstica nin estética do conxunto, e como xa acontecía coa descuberta
na estrutura XXIX, aí pola presenza dun pequeno depósito votivo configurado por un puñal e un coitelo,
sinala para un uso probablemente ritual destas plataformas pétreas.
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Pensada nun principio como unha campaña de transición e centrada nun área que entendíamos
tamén de transición na propia conformación do que víñamos considerando poboado castrexo, ademáis
de presentar problemas de conservación do rexistro, a intervención do 2008 resultou especialmente rica
en información de diverso tipo, chegando a ser clave e mesmo sorprendente nalgún intre. No estrutural
atopámonos cunha reiteración dunha disposición planificada e consecuente coa conformación do terreo
a ocupar, mesmo sacándolle o maior partido, sen faltar tampouco as intervencións necesarias para a
adecuación do mesmo na optimización do seu aproveitamento: unha serie de construcións de planta
circular dispostas en liña e en paralelo ás que aparecen o outro lado do muro de aterrazamento da
croa. Unha disposición lineal que contrasta, sen embargo, co agrupamento ó redor dun espazo central
que aparece na parte inmediata, aínda que a cota inferior, do poboado. Existe posi unha preocupación
urbanística fronte da complexidade da topografía. Máis destacable é a presenza de novo de alternativas
á planta circular e edificios complexos, ben por dispor dun vestíbulo, ben, especialmente, pola compar-
timentación en varios espazos, moitas veces reaproveitando e reinterpretando estruturas anteriores
amortizadas. Unha compartimentación que recolle tamén a existencia de estruturas interiores, unhas
veces en forma de restos pétreos, outras como negativos de estruturas, quizais en materiais perecedei-
ros desaparecidas, e finalmente aquelas que non se proxectaban en altura, como as fosas e similares.
Pero, sen dúbida, o máis novidoso dentro desa especia de plano “micro” do estrutural é a pre-
senza de estruturas interiores na meirande parte dos edificios escavados, que seguro teñen moito que
decir en canto a función dos mesmos, e a reiteración desa peculiaridade semella remitirnos a unha
área do poboado cunha funcionalidade específica. Referímonos as repisas rectangulares que dispoñen
realzadas con respecto ó pavimento e contra o segmento S‑SE das estruturas afectadas; todas elas
sen evidencias que axuden a definir o seu uso, pero permitindo descartar a súa interpretación como
fogares. O coidado dalgunha das pedra que as conforman, ademais da presenza nunha delas dunha
inscultura serpentiforme, sinalan a importancia deste elemento estrutural, do que xa existía un posible
precedente na estrutura semellante que aparecera no edificio XXII, aínda que alí nunha arquitectura
algo diferente dadas as súas maiores dimensións e presenza doutros elementos estruturais, como
fosas, a presenza tamén de restos de ter sido utilizado como fogar, pero, o máis relevante, a aparición
dun depósito intencional composto por un coitelo e un puñal. Esa complicación estrutural, con restos
de pequenos muretes de difícil definición, e máis aínda, interpretación, aparécenos nesta campaña
dentro do edificio VII, aínda que neste caso semellan claramente fragmentar o edificio internamente,
ademais de presentar unha pequena pedra fincada, elemento este que xa aparecera no edificio XLIV21,
tamén vinculado a unha división interna do propio edificio.
Un primeiro achegamento a interpretación funcional desas plataformas lévanos a pensar en duas
posibilidades, a plataforma como base para a realización de algún tipo de actividade que a requerise,
ou como sostén doutro ou doutros elementos hoxe desaparecidos. No primeiro caso e atendendo o
acontecido na estrutura XXII todo apunta a realización de sacrificios rituais, ainda que a carencia de
restos de presenza do lume nas que aquí tratamos remitiríanos a actividades rituais doutro tipo. En
definitiva, sería interpretalas como “altares”, dun tipo que é coñecido noutros ambitos da protohistoria
peninsular. No caso de funcionar como soporte, caben ainda outras dúas posibilidades, que o sexan
para un elemento fixo e permanente, ou para elemento/os moveis. A espera de atopar algunha evi-
dencia para a primeira, optamos pola segunda, que dentro do marco ritual que semella nos movemos
definiría as plataformas como posibles “mesas de ofrendas”, para as que volta a haber paralelos na
protohistoria peninsular, onde tamén se manifesta esa ambigüidade entre esa identificación e a de
21 Campaña do 2007.
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“altar”22. A posible existencia de varias desas microestruturas dentro dun mesmo espazo mesmo
podería falar dunha plurifuncionalidade para as mesmas, que estaría tamén implícita na diferencias
formais e constructivas que presentan.
O outro elemento reiterativo son o que xenéricamente definimos como “fosas”. Nelas, coa diver-
sidade de tamaño, forma e posición, a idea de plurifuncionalidade non ofrece dúbidas. As fosas como
receptáculos para recibir depósitos de materiais orgánicos ou obxetos fronte ás fosas como posible
negativo de estruturas en materiais percedeiros que se erguían dentro dos edificios. Pero, tamén, fosas
como posible alter ego das “plataformas”, especialmente aquelas de escasa profundidade pero amplias
en superficie, con fondos compartimentados e achegadas as paredes, como as plataformas, ou ocu-
pando unha posición central, preeminente, no interior dos edificios. Esta derradeira posibilidade ten a
súa máxima expresión na fosa central do edificio VII e lembra as fosas de funcionalidade ritual/cultual
que, como xa acontecía coas plataformas, aparecen en santuarios protohistóricos da península, ou que
lembran ó “autel creux” dos santuarios galos23, en ambolos dous casos interpretados como “altares”
que se desenrolan en profundidade e non en altura, o que sería o caso das plataformas, e con clara
presencia tanto mediterráneo oriental: o eschara grego, como no mundo itálico: o romano scrobiculus.
No referido a plástica, atópamonos primeiro coa súa estreita relación coa arquitectura, definindo
contextos e mesmo ubicacións máis precisas do que ata agora era coñecido. Amplíase o espectro de
posibilidades tanto técnica como formais nas expresións desa plástica, ó tempo que se redefine unha
das expresións máis comúns na mesma, os chamados “amarradoiros”, cunhas solucións que semellan
estar a medio camiño entre os exemplos de “amarradoiros” máis simples e as representacións de próto-
mos de animais, que so coninciden con aqueles no feito de ir empotrados nunha parede. Trátase, pois,
dunha nova visión dunha parte da escultura castrexa, na que converxen distintos aspectos materiais,
como execución, morfoloxía ou contextualización, permitíndo unha revisión do conceptual en pezas que
expresan unha estética aparentemente simple na execución pero non tanto no significado. No son xa
elementos funcionais dentro do arquitectónico, senón que adquiren un carácter representativo, toda
vez que respostan a unha iconografía apenas esbozada pero definida e identificable, e integranse, as
veces mesmo de xeito destacado, na parte visible desas arquitecturas insistindo nunha identidade espe-
cífica de cada un dos edificios nos que se integran. O feito de que eses edificios presenten estruturas
interiores, as veces tamén con representacións, que os separan funcionalmente das construcións de
carácter doméstico e o que noutras áreas peninsulares se relaciona co cultual, ademáis de outras carac-
terísticas estranas tamén o habitual na propia cultura castrexa, redunda nunha posible interpretación
desas expresións plásticas como parte activa da definición de arquitecturas sacras. Arquitecturas que,
non debemos esquecer, manifestan unha clara preocupación por diferenciarse tamén exteriormente no
conxunto do caserío, aproveitando mesmo condicións do terreo moi desfavorables para a súa implan-
tación, pero revertindo as dificultades en maior presenza no entorno: é paradigmático a ubicación da
estrutura XX enriba da penedía granítica.
En consecuencia o conxunto disposto na parte máis elevada da ladeira ocupada polo castro de
O Facho, expresa unha serie de condicións peculiares no contexto da arqueoloxía castrexa que afectan
especialmente a definición da arquitectura que poderíamos resumir en complicación interior e preocu-
pación pola imaxen exterior, no que a plástica xogará un papel destacado. Condicións ámbalas duas que
afastan a esa arquitectura das actividades de carácter doméstico ou ás que se lle asocian, para abrir un
novo cauce interpretativo que apunta a actividades de caracter ritual e/ou cultual ata o de agora des-
coñecidas para a cultura castrexa. Noutros termos: un conxunto de edificios, contextos, e obxetos onde
pesa máis o representativo, as veces directamente o simbólico, co funcional, como trasunto material de
sistemas de accións, hábitos e mesmo xestos vinculados ó ámbito do cultural e simbólico, posibilitando
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Fig. 2 – Estructuras (VII e XVIII) alineadas co muro que pecha a croa do monte. Detalle da estructura VII.
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Fig. 3 – Estructura XX. Vista xeral, detalle da repisa interior co grabado herpetomorfo e cipo cilíndrico decorado no “vestíbulo”.
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Fig. 4 – “Amarradoiros” no Monte do Facho. 1. Nos derrubos da estructura XX. 2. “Amarradoiro” zoomorfo (Fot. Pezas:
John Patersson/Instituto Arqueológico Alemán).
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SUMÁRIO
Projecto Editorial
A PORTVGALIA pretende ser um espaço de debate em torno das grandes questões teóricas e metodológicas da
Arqueologia e de divulgação dos mais recentes resultados da investigação arqueológica nas suas diversas áreas crono-
lógicas (desde a Pré-História Antiga até à Arqueologia Moderna e Contemporânea).
Do ponto de vista geográfico, a PORTVGALIA assume como sua vocação primordial a publicação de resultados da
investigação arqueológica do Norte de Portugal e do Noroeste da Península Ibérica, mas também é receptiva a artigos
que incidam sobre outras zonas do espaço ibérico.
A revista publica estudos inéditos que sejam considerados contributos relevantes, recorrendo à arbitragem cien-
tífica, sendo os artigos submetidos, em versão anónima, à peritagem de especialistas de reconhecido mérito.
A PORTVGALIA está registada no Latindex (Sistema Regional de Informação em Linha para Revistas Científicas da
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e o(s) autor(es), indicando-se depois de cada nome, e em linha autónoma, a filiação institucional. O título será
centrado. Os autores e sua filiação institucional serão paginados à direita.
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chave (“Palavras-chave”), e um resumo em inglês ou em francês (“Abstract” / “Résumé”) e de palavras-chaves
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poderão ser quatro. A revista PORTVGALIA não aceita artigos que não venham acompanhados dos respectivos
resumos e palavras-chave.
8. Os textos compreenderão notas de pé-de-página, que deverão ser utilizadas com parcimónia, reservando-se sobre-
tudo para a indicação de referências bibliográficas. Deverão ser evitadas notas demasiado extensas. A indicação
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9. As citações bibliográficas, em nota de pé-de-página, deverão obedecer à norma anglo-saxónica (AUTOR data: p. ---).
a) Artigo em revista:
<APELIDO em maiúscula> <virgula> <Nome Próprio> <espaço> <(ano de edição entre parêntesis)> <virgula>
<Título do artigo> <virgula> <nome da revista em itálico> <virgula> <série> <virgula> <volume> <espaço>
<(fascículo ou número indicado entre parêntesis)> <virgula> <Local de edição> <virgula> <editora> <virgula>
<páginas designadas pp.>.
Ex.: ALARCÃO, Jorge de (2008), Notas de arqueologia, epigrafia e toponímia – V, Revista Portuguesa de Arque‑
ologia, 11 (1), Lisboa, IGESPAR, pp. 103-121
c) Livro:
<APELIDO em maiúsculas> <virgula> <Nome Próprio> <espaço> <(ano de edição entre parêntesis)> <virgula>
<Título do livro> <virgula> <volume> <virgula> <local de edição> <virgula> <editora>.
Nota: Nos livros, o ano indicado reporta-se à edição utilizada. No caso de haver mais do que uma edição pode
indicar-se, no fim, entre parêntesis, o local e ano da 1ª edição. Se a obra pertencer a uma colecção, isso poderá
ser referido igualmente no final, entre parêntesis.
Ex.: JORGE, Susana Oliveira (1999), Domesticar a Terra. As primeiras comunidades agrárias em território por‑
tuguês, Lisboa, Gradiva (Col. «Trajectos Portugueses», 45)
11. Qualquer texto com mais de três autores será citado, ao longo do artigo, pelo APELIDO do primeiro autor, Nome
Próprio, seguido da expressão “et alii”. Na Bibliografia podem aparecer todos os autores.
12. A Bibliografia compreenderá apenas as obras citadas ao longo do artigo, organizadas por ordem alfabética do ape-
lido e nome próprio, e, dentro destes, por ordem cronológica. No caso de haver mais do que uma obra do mesmo
autor e ano a distinção será feita pela justaposição de letras (a, b, c...) ao ano de edição.
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