Corri até à parede mais próxima e, sem medo, dei uma, duas…nove cabeçadas. Tantas quantos os números que havia contado enquanto esperava um sinal seu. Como compensação, ganhei um galo na cabeça e a dor de saber que a não voltaria a ver. Por mais que andasse às voltas e tentasse distrair-me, eu não conseguia esquecer aqueles olhos. Pelo menos enquanto me doeu a cabeça!
Ainda com as ideias meio turvas, tal fora a violência das turras, andei à toa para cima e para baixo. Eu tinha de a reencontrar. Enquanto me perdia entre ruas e ruelas escuras, imaginei os segredos e as vidas que se escondem para lá de cada uma das portas ou janelas por que passava. É um jogo que costumo fazer frequentemente quando me quero esquecer de alguma coisa ou de alguém. Já era tarde, nem me tinha apercebido de como o tempo tinha passado.
Parei para acender um cigarro. Ouvia-se uma musica que saia directamente da janela de um primeiro andar de um prédio tipicamente alfacinha. Embora a janela fosse pequena e a luz fraca, via-se por detrás de uma cortina branca, um vulto de mulher. Ela despia-se. Pela forma como o fazia, adivinhava-se que não estaria ali sozinha. Não havia mais ninguém naquela rua senão eu. Escondi-me sob a protecção de uma porta. Com o escuro da noite a proteger-me, fiquei ali a espreitar como um garotinho que vê pela primeira vez o corpo de uma mulher. Era engraçada a sensação de estar ali. Ver e não ser visto, olhar sem tocar. O prazer de estar a observar sem ser observado. Não é que me excite a observação só por si. Não! Não sou viciado em corpos desnudados nem em pornografia... definitivamente, não sou propriamente aquilo a que vulgarmente denominamos por “espreitas” ou ”Voyeur“. O que verdadeiramente me atraiu naquela situação, foi o facto de me sentir transportado para dentro daquele quarto, daquela musica, daquele ambiente sem ser visto. Quem nunca numa desejou ser mosca? Naquele momento eu era a própria da mosca que já havia desejado ser em tantas outras ocasiões. Partilhar um universo que não é o meu e não conheço, com alguém que nunca vi nem vou conhecer. Partilhar um momento tão intimo como é o de assistir a alguém a despir-se para outrem.
A forma como aquela mulher se despia - apesar de não ser especialmente esbelta - estava carregada de sensualidade. Lentamente e em gestos previamente ensaiados, tirava uma a uma as peças de roupa que trazia. E eu ali a ver. Por momentos imaginei que ela sabia da minha presença e que o fazia para mim. Quando se preparava para tirar a ultima peça de roupa que lhe cobria o peito e revelar a sua completa nudez, alguém que não eu, sem qualquer aviso prévio apagou a luz. Daquela janela saia uma escuridão total e uns risinhos irritantes! Má sorte a minha, pensei! Acendi outro cigarro e fiz-me ao caminho enquanto constatava como o meu comportamento fora estranho.
Ainda com as ideias meio turvas, tal fora a violência das turras, andei à toa para cima e para baixo. Eu tinha de a reencontrar. Enquanto me perdia entre ruas e ruelas escuras, imaginei os segredos e as vidas que se escondem para lá de cada uma das portas ou janelas por que passava. É um jogo que costumo fazer frequentemente quando me quero esquecer de alguma coisa ou de alguém. Já era tarde, nem me tinha apercebido de como o tempo tinha passado.
Parei para acender um cigarro. Ouvia-se uma musica que saia directamente da janela de um primeiro andar de um prédio tipicamente alfacinha. Embora a janela fosse pequena e a luz fraca, via-se por detrás de uma cortina branca, um vulto de mulher. Ela despia-se. Pela forma como o fazia, adivinhava-se que não estaria ali sozinha. Não havia mais ninguém naquela rua senão eu. Escondi-me sob a protecção de uma porta. Com o escuro da noite a proteger-me, fiquei ali a espreitar como um garotinho que vê pela primeira vez o corpo de uma mulher. Era engraçada a sensação de estar ali. Ver e não ser visto, olhar sem tocar. O prazer de estar a observar sem ser observado. Não é que me excite a observação só por si. Não! Não sou viciado em corpos desnudados nem em pornografia... definitivamente, não sou propriamente aquilo a que vulgarmente denominamos por “espreitas” ou ”Voyeur“. O que verdadeiramente me atraiu naquela situação, foi o facto de me sentir transportado para dentro daquele quarto, daquela musica, daquele ambiente sem ser visto. Quem nunca numa desejou ser mosca? Naquele momento eu era a própria da mosca que já havia desejado ser em tantas outras ocasiões. Partilhar um universo que não é o meu e não conheço, com alguém que nunca vi nem vou conhecer. Partilhar um momento tão intimo como é o de assistir a alguém a despir-se para outrem.
A forma como aquela mulher se despia - apesar de não ser especialmente esbelta - estava carregada de sensualidade. Lentamente e em gestos previamente ensaiados, tirava uma a uma as peças de roupa que trazia. E eu ali a ver. Por momentos imaginei que ela sabia da minha presença e que o fazia para mim. Quando se preparava para tirar a ultima peça de roupa que lhe cobria o peito e revelar a sua completa nudez, alguém que não eu, sem qualquer aviso prévio apagou a luz. Daquela janela saia uma escuridão total e uns risinhos irritantes! Má sorte a minha, pensei! Acendi outro cigarro e fiz-me ao caminho enquanto constatava como o meu comportamento fora estranho.
(M.C - 1996)