É curioso aperceber-mo-nos que a nossa disponibilidade financeira tem muita influência na forma como encaramos as coisas - se formos pessoas minimamente responsáveis. Agora que temos ambos salário, já não nos privamos de tanta coisa como há dois anos atrás mas, ao mesmo tempo, tentamos sempre fazer um exercício de contrabalanço ponderando "se antes conseguíamos viver gastando X, por que é que agora não havemos de conseguir viver gasto Y"? Ou seja, não quer dizer que se gaste apenas o "X" que antes se gastava, porque isso é sempre difícil, afinal somos seres em constante evolução e desenvolvimento e só o facto de termos de trabalhar acarreta determinadas despesas que antes disso não tínhamos - assim de repente consigo lembrar-me das deslocações por exemplo. Mas também não temos, só porque já temos possibilidade de o fazer, de gastar "Z" (que equivaleria a todo o montante que temos disponível), podemos perfeitamente encontrar um meio-termo, um equilíbrio que vá ao encontro das nossas ambições, metas e objectivos. Daí ter referido que em vez de gastar X que era o mínimo dos mínimos indispensável à sobrevivência e gastar Z que seria tudo o que temos possibilidade de gastar (ex.: todo o nosso ordenado), podemos decidir gastar Y que seria um pouco mais do que o mínimo - porque precisaremos dada a evolução de vida e porque merecemos - mas menos do que o máximo - se houver essa possibilidade.
Eu sei bem - muito bem - o que custa poupar. Não temos pais que possam ajudar-me, nem padrinhos, nem nada. Não temos ordenados por aí além, temos de pagar nós todas as nossas despesas, não temos casa própria, não temos nada "grátis" e tudo custa dinheiro. A vida está cara mas com muito foco e dedicação, tudo é possível. Nós casámos (igreja, registo e festa), pagando nós o nosso casamento, dentro das nossas possibilidades, quando eu não tinha ordenado e só o homem trabalhava. E foi possível sabem como? Com adequação do que se deseja ao que se pode, com muita contenção, com redução máxima de despesas e com recurso às poupanças de anos. Casar, para nós não foi só um dia único, a celebração do nosso amor e uma festa bonita, casar, para nós foi um grande desafio, uma conquista conjunta, um processo e uma construção partilhados que no final valeram cada esforço. Foi uma aprendizagem e uma lição que acreditamos termos capacidade de aplicar para o resto da nossa vida. No nosso caso o casamento foi o maior desafio até agora, antes tinha sido irmos morar juntos (apesar de tudo) e se Deus quiser um dia será ter a nossa própria casa e aumentar a nossa família mas só cada um pode determinar o que pode servir de exercício ou treino para realizar um sonho, por mais que possa parecer impossível.
Para mim é muito importante lembrar-mo-nos de onde vimos, do que já passámos e do que conseguimos até agora. Olhar para trás pode ser uma grande escola quando o objectivo é nos motivarmos e respondermos à questão que não deixa de nos martelar a cabeça: "será que sou capaz?". Não é fácil, não é nada fácil e há dias/momentos em que só apetece desistir mas o esforço um dia vai compensar, só posso acreditar nisso. Para mim, essa é parte da magia do meu dia de casamento: perceber que toda a nossa luta, os nossos esforços e a nossa motivação tinham resultado em algo muito além do melhor que tínhamos sido capazes de imaginar. E tinha-mo-lo conseguido juntos. Não há maior riqueza que isso, partilhado com aqueles que nos são mais queridos.