O dengue é uma doença infeciosa, caraterística de regiões tropicais
e originária de África, causada por um vírus. O vírus, e consequentemente a
doença, transmite-se através da picada de um mosquito da espécie Aedes
aegypti, também infetado pelo vírus. O Aedes aegypti terá surgido pela primeira vez na Região em
2006, conhecido então por “mosquito
de Santa Luzia”. As alterações climatéricas, associadas a um verão muito quente e muito húmido e aos fogos que deflagraram
em julho na Região, terão potenciado o aparecimento da doença na Madeira, mediante
ampla propagação do seu vetor transmissor (obviamente que antes disso alguém infetado teve de ser picado por um Aedes já na Madeira, "importando" o vírus para a Região). Caraterístico de regiões
tropicais o mosquito não resiste a
baixas temperaturas ou altitudes elevadas. Talvez por isso – ou principalmente
por isso – os casos de dengue até agora detetados na Madeira cingem-se,
fundamentalmente, aos concelhos do Funchal, Câmara de Lobos, Ponta do Sol e
Santa Cruz. Comparativamente ao mosquito comum (Culex pipiens) o Aedes
aegypti é mais escuro, tem cerca de 0,5 cm de comprimento, é preto
com pequenas riscas brancas no dorso, na cabeça e nas patas, apresentando asas
translúcidas. Esta espécie de mosquito desenvolve-se em águas paradas, surgindo
com maior frequência no verão. O ciclo de reprodução ovo-ovo do Aedes aegypti é de cerca de dez dias. A fêmea deposita os ovos em condições adequadas, isto é,
quando há calor e humidade, desenvolvendo-se
o embrião em aproximadamente 48 horas - desde a postura até à eclosão das larvas.
O Aedes aegypti passa por quatro estágios de
desenvolvimento: deposita seus ovos
em diversos locais e rapidamente, caso as condições sejam favoráveis, transformam-se em larvas que dão origem às pupas
– a metamorfose larva-pupa ocorre em cerca de dois dias –, das quais
surge o adulto, o qual já se pode
reproduzir e depositar ovos, reiniciando o ciclo.
Tal como sucede com a
maioria das demais espécies de mosquitos, somente as fêmeas do Aedes aegypti
são hematófagas – alimentam-se de sangue. Os machos alimentam-se exclusivamente de seivas vegetais – frutas ou
outros vegetais adocicados. O dengue é transmitido pela picada das fêmeas do
mosquito Aedes aegypti,
infetadas com o vírus transmissor
da doença. A transmissão nos mosquitos ocorre quando a fêmea suga o sangue de
uma pessoa já infetada com o vírus. Após
um período de incubação, que se
inicia logo depois do contacto do mosquito com o vírus, e dura entre 8 e 12 dias, o mosquito está apto a
transmitir a doença. Nos seres humanos, o vírus permanece em incubação durante um período que pode
durar de 3 a 15 dias. Só após
esta etapa, é que os sintomas do dengue podem ser percebidos.
A ação mais simples e
eficaz para prevenção do dengue
é evitar o nascimento do mosquito,
já que não existem vacinas ou medicamentos que combatam a infeção. É portanto
fundamental que todos e cada um de nós colaboremos
para interromper a cadeia de transmissão e contaminação do vírus do dengue.
Como tal, é essencial eliminar os
lugares que os mosquitos escolhem para a sua reprodução: águas paradas,
principalmente água limpa, estagnada em qualquer tipo de recipiente, manter recipientes como tanques, barris,
tambores e cisternas, devidamente fechados, não permitir a existência de água parada em locais como: potes,
pratos e vasos de plantas ou flores, brinquedos, garrafas, latas, pneus,
panelas, calhas de telhados, bandejas, bacias, blocos de cimento, urnas de
cemitério, folhas de plantas ou buracos de árvores, além de outros locais em que
a água da chuva possa ficar armazenada; tratar com cloro a água das piscinas e,
quando não usadas, cobri-las; lavar e esfregar, pelo menos uma vez por semana,
jarras, potes, panelas e outros recipientes utilizados para armazenar água.
É bom
lembrar que o ovo do mosquito pode
sobreviver até 450 dias em local
seco, sendo que, caso o local onde estão depositados os ovos receba água
novamente, o ovo ficará ativo e pode atingir a fase adulta num espaço de tempo
entre 5 a 8 dias. Em cerca de 45 dias
de vida, um único mosquito pode infetar até 300 pessoas!
Esgotadas as medidas de
prevenção primária, fundamentais na erradicação da doença, resta a aposta na
prevenção secundária, isto é, protegermo-nos das picadas dos mosquitos. Eis
então alguns conselhos: utilize redes
mosquiteiras no sentido de evitar a entrada de mosquitos nas habitações;
evite ter as luzes de interior acesas com
as portas ou janelas abertas; reduza a
exposição corporal, usando camisolas de mangas compridas, calças e meias
e privilegiando roupas espessas e largas; evite vestuário com cores garridas,
dando preferência à utilização de roupa clara que permita detetar os mosquitos
antes da picada; aplique regularmente sobre a pele produtos repelentes, à venda nas farmácias; evite os horários mais críticos para a
picada dos mosquitos, que correspondem aos períodos do
nascer e pôr-do-sol; evite permanecer longos períodos em zonas ao ar livre,
preferindo espaços fechados com ar condicionado; coloque as ventoinhas ao nível
do chão, para dificultar a vida ao mosquito que voa a baixas alturas – até cerca
de 1,5 m.
Importante também é seguir as recomendações do Instituto de Administração da Saúde e Assuntos Sociais da RAM:
em caso de dúvidas relativamente a uma possível infeção, deverá contactar a Linha de Saúde 24 (808242424), nunca fazer automedicação,
nomeadamente a toma de ácido
acetilsalicílico (p.e. Aspirina, AAS) e outros
anti-inflamatórios não esteroides (p.e. Brufen), se apresentar um quadro
de febre associado a um ou mais dos sintomas descritos dirija-se a uma Unidade de Saúde: Centro de Saúde,
Unidade Privada de Saúde ou Serviço de Urgência.
Relativamente à doença em
si, o dengue, importa esclarecer alguns preconceitos existentes: a doença não se transmite de um mosquito para
outro, nem através de outros animais; não há transmissão através do contacto direto de um doente ou de suas
secreções com uma pessoa sadia e o
vírus não se transmite através da água ou alimento. Existem no mundo quatro tipos de dengue (oui seja, o vírus
causador da doença possui quatro serotipos), sendo que os casos registados até
à data na Madeira correspondem, segundo informação oficial, a arbovírus dos
tipos 1 e 2, de menor gravidade. O dengue tipo 4 apresenta risco a pessoas já
infetadas com os vírus 1, 2 ou 3, que são vulneráveis à manifestação
alternativa da doença. Existe um tipo de dengue, chamada hemorrágica, que é o
tipo mais grave da doença e que pode efetivamente causar a morte. Porque mais vale prevenir do que remediar, se você
agir, podemos evitar! Contamos com a sua colaboração!
Elaborado
por: Renato Azevedo