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sexta-feira, 5 de julho de 2024

CRIANÇAS DA MUVUCA 1

 


CRIANÇAS DA MUVUCA 1

 

Crianças vêm ao mundo para quê,

crianças vêm parar e se perder

no meio da muvuca, vêm arder

que nem aquelas coisas no dendê.

 

É nesse paradeiro que se vê

o logro das crianças, a entreter

a todos os demais, a derreter

o gelo que há no peito do clichê.

 

Crianças valem bronze, valem prata,

algumas de exceção merecem ouro,

na bolsa de valor do de gravata.

 

Crianças, com seu quê de quantidade,

encontram nesse mundo o logradouro

perfeito por viver o vão que evade.

 

CG – 04/07/24

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sexta-feira, 28 de junho de 2024

REFRIGERANTE DE FASCISTA

 



REFRIGERANTE DE FASCISTA

 

As células do feto, que doçura!,

descendo do gargalo feito gozo,

um gozo de betume que mistura

saberes e sabores de enojoso.

 

Quem domina a receita da fissura?

Talvez um alquimista perigoso,

guardando seu segredo e sua jura

no cofre do Demônio, o prestimoso.

 

Ponte para a atitude, desabafa,

quem bebe refestela-se mais, mega,

sentindo-se num surto surreal.

 

Fonte da juventude na garrafa,

o fogo que há no inferno não denega

dos goles na bebida angelical.

 

CG – 28/06/24

 

#soneto


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quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

PRÓXIMA QUESTÃO

 

PRÓXIMA QUESTÃO

 

Não sei por que nascemos e vivemos,

se Deus nos fez, ou não, mas acredito

que deva haver motivo, um ato, um icto,

a fim de que vivamos, e vazemos.

 

Embora sempre estarmos, mais ou menos,

em sendas angulares, eu medito

que a vida vem dos céus, em veredicto

d'algum plenipotente, por que, amenos,

 

amemos condição tão duvidosa.

Quem ousa perquirir o firmamento

se perde nas perguntas, não se dosa,

 

tamanha a infinitude dos segredos.

Na gana de reter o vão momento,

escapa-lhe das mãos, por entre os dedos.

 

CG - 17/12/2020

 

Img. by Pinterest

#soneto


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quinta-feira, 22 de outubro de 2020

DISPERSÃO

 



DISPERSÃO


Eu só preciso ser feliz

se tiver o senhor comigo,

a gente correndo perigo,

ou se safando, ou por um triz.


E é bem simples se me diz

as palavrinhas certas, ligo

a dispersão, ó meu amigo,

a despertar azuis febris.


Ó minha amiga, meu amor,

tá combinado direitinho.

Como num sonho, eu engatinho


até seu quarto, peregrino,

chego ao sublime em que arruíno

os nossos corpos, com tremor.


CG - 22/10/20


Imagem: Rogier van der Weyden - Portrait of a woman - circa 1464.


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sexta-feira, 17 de julho de 2020

UM HOMEM

UM HOMEM

Um homem, sua casa, sua vida,
um homem de família, tudo bem,
um homem responsável, mas, também,
um homem que mantém uma ferida

no dentro de seu peito, que é refém
do ferimento, que não cicatriza,
e reza, dá beijinhos, humaniza;
seu mal de estimação não se contém,

tomando-lhe as entranhas; o organismo
reclama: Tá difícil, vou romper
o pacto com você, porque consomem

seus males energia, com cinismo,
que há mais de um coração, a se saber,
você não há de ser apenas homem.

CG - 17/07/20

Img. PNGWing




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quarta-feira, 15 de julho de 2020

CONSAGRAÇÃO DO MENOS



CONSAGRAÇÃO DO MENOS

O bom de profanar-me a todo instante,
sentindo-me senhor de meu nariz,
permite-me sonhar com flor-de-lis,
à vista deste espelho radiante.

O bom de liquidar-me, tão constante,
com rápidas consultas ao que diz
de modo especular minha matriz,
profunda em seu olhar, em seu semblante,

o bom é a danação, a desistência
de ser e de servir de modelinho,
padrão de hipocrisia bem fornido,

o bom é a doação de uma existência,
com foco na verdade em desalinho,
ao fogo que consome e é consumido.

CG - 15/07/20

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quinta-feira, 9 de julho de 2020

DUAS MULHERES



DUAS MULHERES

para Allan Sieber

Sou fã da representatividade,
embora não me encaixe. Desocupo
o campo reservado à pós-verdade,
só sei compor soneto por apupo.

Percebes que mereço... mas quem há-de
mascar-me tal chicletes? Se eu exulto
e exalto-me ao xadrez da liberdade,
é crise de meu credo, não tem vulto.

Sabor de tutti-frutti, de hortelã,
açúcar de montão, com seu élan
azul ou rosa-choque, como queiras.

Eu sou duas mulheres no meu couro,
que são negras e sambam para o louro,
que são lésbicas brancas e roqueiras.

CG - 09/07/20

Imagem de Allan Sieber:
“Treat me like a rich white lesbian” (2018)
Acrílica em tela 70 x 70 cm
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terça-feira, 7 de julho de 2020

ARTE INCÔMODA
















ARTE INCÔMODA

Em artes que incomodam, resplandeço,
avanço por contenda, por entente,
em riste a minha lança tem acesso
a corações de paina onipotente.

Às artes que incomodam, o processo
se dá por desistência e não por tente,
entendo por fracasso o meu sucesso,
perdi mais uma vez e estou contente.

Estranho ser artista desse jeito,
de gênero, de senso, de conceito
libertos das correntes tão em voga?

Eu penso que resposta não me cabe,
com todo cabimento, menoscabe,
partindo da questão que me interroga.

CG - 04/07/20

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sábado, 26 de outubro de 2019

OFERENDAS



OFERENDAS

Ofertam-me do vinho, por que eu fique
em fogo nesse altar, mais dedicado
ao pasto das ovelhas, meu bocado
de dores e desgarros, com chilique.

Ofertam-me do vinho delicado,
delícia que extasia a tremelique,
lanternas de varal (repito o chique
Rimbaud), em arrebalde desligado.

Insistem-me, com vinho, que os liberte
das trevas da existência na matéria.
Garrafas? Para mim? Desengarrafo.

Entanto, se sugerem: "Não me aperte
na pele a dentição! Nenhuma artéria!",
sugiro uma oferenda de marafo.

Campo Grande, 26 de outrubro de 2019.
*** Img. St. Benedict Catholic Church - Doniphan, Missouri

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Máscara












Máscara

Se a máscara traveste-se de seu
senhor, sua senhora, amplificando
o gosto que há de solo, já desceu
ao fundo dos abissos, por seu bando.

Se a máscara corrompe o que é de Deus,
assiste com seu fado o mais nefando,
o tal ranger de dentes, um adeus
à Cruz, a Jesus Cristo, preservando.

Se a máscara falseia, com tiquinhos,
O Todo-Poderoso dos benquistos,
não sente o senciente sem Ciência.

Se a máscara da dor tem buraquinhos
nos olhos, para ver e, serem vistos,
é certo que se cole a sua essência.

*** Img Greek Mask
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quarta-feira, 28 de agosto de 2019

A adolescente fuma



A adolescente fuma

Este é o seu ar de lânguida ninfeta,
um ar de viciada afetação.
Cinzeiros e cigarros, obsoleta
mania de existência sem ação.

O tédio glorifica a estatueta
de fumo de aparente mansidão
e plange suas lágrimas de peta,
a fim de devotar-se à solidão.

Distante de evoés, de momos, "Sim"
não serve de palavra à sua língua,
composta por silêncios e sigilo.

É seu apartamento de marfim
durante o pesadelo em que se míngua
a chance de uma paz à bicho-grilo.

*** Img - Fils Santé Jeunes.
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sábado, 29 de junho de 2019

EME


 













EME

Eu morro de vergonha desse cara
com cara de palerma o tempo todo.
Seu ar de idiotia se equipara
aos ogros trogloditas, a seu lodo.

Ao lado de quadrúpedes, seus pares,
de quatro permanece, meditando
em como meditar em malabares
em câmera lentíssima, até quando?

De súbito, desperta para a fala,
e, eureca!, regurgita as altas teses,
em hétera retórica de bala.

Tem mérito o discurso sem vieses,
com rúmen verde-oliva, porque exala
o melhor que há de si: as suas fezes.
***
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domingo, 10 de junho de 2018

À xoxota do patriarcado


À xoxota do patriarcado

Este sistema em si é decadente:
sistema cis. Uma nomenclatura
de gente com consciência de paúra
político-bovina inconsequente.

Se tudo o que se diz é o que se sente,
não vejo um só sentido na gastura
da porra de uma causa, uma aventura
em frente à reitoria, com corrente,
 
algemas masoquistas, um fuminho,
garrafa de Ypióca, Danoninho,
o número dos pais no celular.

E filmam se a polícia comparece,
é ditadura, caos (sem Hermann Hesse),
com créditos, legendas, um "olhar". 

Campo Grande, 10 de junho de 2018.
Henrique Pimenta

 
Img: Pinterest


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sábado, 2 de junho de 2018

Ficção


 

FICÇÃO

Esta avenida noire foi enquadrada
nas lentes de uma câmera qualquer,
com vestes nebulosas de mulher
de lânguida beleza antepassada.

Um filme em preto e branco, uma pitada
de Europa, a americana com donaire,
despindo-se aos pouquinhos, fecho-éclair,
botões, seu coração na madrugada.

O corpo se apresenta com refino,
amálgama sem gama amanhecendo,
amálgama sem alma de manhã.

O corpo permanece feminino,
tão negro quanto o asfalto sem remendo,
tão negro, sem calcinha, sutiã.

*** Mais um texto dedicado à avenida Zahran.
*** Clique meu nesta madrugada.
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sábado, 12 de maio de 2018

Ao arrebol




Ao arrebol

O rústico silêncio desembrulho.
Um pouco que há de paz, delicadeza.
Procuro solitude à natureza.
Dirijo-me ao riacho do Mergulho.

Em meio a tanto verde, madureza
de minhas inocências, o barulho
revela que cheguei. A água vasculho.
Meus olhos veem de perto, com surpresa,

decerto que distinguem um ser vivo,
cabelos amarelos e nudez,
tal ninfa devotada ao arrebol:

sem fôlego, mergulha ao vão nocivo,
retorna à superfície, em morbidez,
a tira, no pescoço, de um lençol.

*** Img in http://www.tate.org.uk - Ophelia - 1851-2 - by Sir John Everett Millais, Bt
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segunda-feira, 7 de maio de 2018

Seção Desejo


Seção Desejo

Sensação de desejo, de um porvir
de pólvora no ponto, prontidão
de fogo numa tocha a perseguir
as faltas que há na luz. Não há perdão

se me escondo de mim por me remir
de escândalo, vexame e punição.
Permito-me ao prazer de poluir
as posses deste espírito cristão.

Gozando como um parvo da mesmice,
desdobro do fracasso o meu sucesso,
desvelo da fortuna o meu azar.

Às raias da razão da parvoíce,
ao término do gozo, recomeço,
não cesso de o desejo desejar.

*** img: Flickr/Bernadette Simpson
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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Aos perdedores


 
 
Aos perdedores

Eu sinto que perdi, mas não perdi
o senso de quem perde, pervertido,
por isso que ao perder não fui vencido,
por isso que ao perder não convenci.

Explico, desvencilho-me, caído
nas graças da contenda, bem aqui,
exponho-me, perdi, mas não em si,
portanto o vencedor não tem sentido.

Presente numa dúvida do bem,
eu sinto que empatamos, porque tem
a queda do perdido distinção.

Se é perda acometida por ninguém,
ninguém nem mesmo vence, não há quem.
Ausente o vencedor: só perdição.

(imagem adulterada por mim - original: http://viz.dwrl.utexas.edu/files/mock%20podium%20suggestion.jpg)
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sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Por que escrevo



Por que escrevo

Anacoreta, com treta de estertor,
um artista que encanta com careta,
um triste contador de historieta,
escrevo para ser um escritor.

Um especulador especular,
no lar do meu estilo de estilete,
eu corto o que é da carne, cacoete
que trago de meus cacos, secular.

Cavacos, tropeçando na certeza,
reconfiguro o sumo sacerdócio,
pontífice de Empíreo, de malvaz.

Escrevo porque tenho a cera tesa,
escrevo porque acendo o ser indócil,
aos cacos, aos cavacos, pacovás.

*** A foto revela o processo de composição de um soneto bagaça.
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quinta-feira, 30 de novembro de 2017

É tarde


É tarde

É tudo o que precisa, mais espaço,
os olhos de um amigo numa praça,
ouvidos mais atentos ao que passa
por dentro da ferrugem de seu aço.

Ao lado, mas tão perto quanto um braço,
um carinho, uma dose de cachaça,
não vi que carecia de uma graça,
de Deus, de uma palavra, de um abraço.

É tarde, não há tempo de tocá-las,
as mãos desta mãezinha sobre o berço.
É tarde, são seus toques, suas falas,

dispostos para o voo ao vão disperso.
É tarde, são seus braços suas alas
aos pés da pequenez deste Universo.

*** Img - disksc
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sábado, 18 de novembro de 2017

Acerca da transcendência


Acerca da transcendência

Afirmo que abismar é transcender.
Se firmo que é verdade, quem há-de
dizer ou desdizer, não conceder
a vez à minha voz? Nem mesmo Sade,

não!, nem Masoch e nem Lacan! Você,
leitor deste soneto, tem vontade
de contrapor-se, em suas cãs, seu quê
decrépito de inseto, à majestade?

Se calo, se não falo, sou escravo.
Sou índigo, sou digno, sou divino,
confirmo os meus vocábulos, graúdo,

e grito o que me cala como um cravo
na cruz da cristandade, mas, previno,
mais fala o meu silêncio, sobretudo.

*** Para se ler escutando "The Jesus and Mary Chain" - de preferência o disco "Psychocandy".
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