sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Oscars 2010: Altamente (Up) e o cinema de animação


Se há um filme priveligiado, em termos de nomeações, como usualmente acontece com um ou outro filme, para a cerimónia deste ano, Up - Altamente é com certeza esse filme, constando nas listas de "melhor filme" e de "melhor filme de animação", entre outras, pois claro. Um facto que, no entanto, acaba por ser justificado tendo em atenção o alargamento do número de nomeados ao Óscar de melhor filme, além de que, não querendo que me interpretem mal, estamos, pois, perante uma obra de indiscutível qualidade. Contudo, esta investida da parceria Disney-Pixar acaba por ficar um tanto aquém das expectativas, irremediavelmente instalado à grande e expansiva sombra do seu antecessor - Wall.e, se bem se lembram. Longe vãos os tempos da animação por desenhos à mão - curiosamente, uma técnica que agora a Disney diz recuprar no Princesa e o Sapo -, brindados por obras-primas da animação que ainda hoje perduram na memória de quem as viu. O Rei Leão, Aladino e Cinderela são três dos melhores e mais populares filmes de animação e, quer se queira ou não, o impacto do cinema de animação nos tempos actuais tem vindo a ser, de dia para dia, cada vez menor. O porquê é, sem sombra de dúvida, indissociável dos novos processos criativos, hoje em dia com um uso - e por vezes abuso - das técnicas digitais. Aqui, a questão está, precisamente, em perceber de que forma estas novas técnicas vêm influenciar, não só no processo criativo, mas principalmente na concepção da obra cinematográfica, enquanto expressão artística.
A animação é, por si só, um campo de trabalho de dificuldades acrescidas. Contrariamente ao que se pensa, o trabalho em animação deverá exigir mais de um criador do que um outro filme qualquer; na verdade, o facto de não haver impossibilidades técnicas num trabalho de animação - efectivamente, é possivel criar a cena tal como se quer, com a iluminação certa, o plano correcto, a temperatura da cor exacta, etc... - conduzirá o expectador para um nível, ainda que subconscientemente, de exigência superior, pricipalmente no contexto emotivo da situação. A dificuldade de que falava está, desta forma, na transformação e na transposição dessa emotividade, bem como na total criação da situação que deverá, em cada filme, ser inovadora e diferente para o expectador.
Neste ponto de vista, o facto de o cinema de animação ter vindo a reduzir a popularidade ao longo do tempo - tendo-a ganho, apesar de tudo, junto dos mais novos, exímios consumidores do que quer que lhes agrade à vista - pode ser justificado pela falta de concentração nesse objectivo primordial que está na base do cinema enquanto arte, em detrimento do desenvolvimento e aprimoramento da técnica criativa. Outros condicionantes que se prendem com as necessidades sociais acabarão, evidentemente, por estar associados com o maior (ou menor) sucesso deste cinema de animação.
Em casos mais práticos, não há filme que melhor consiga exemplificar esta situação do que o já mencionado Wall.e: de uma forma generalizada - não querendo, pois, alargar-me com explicações quase evidentes - o filme constitui uma verdadeira viragem no cinema de animação, porque pela primeira vez, desde há muito tempo, houve a preocupação em conceber uma obra abordando um conjunto de temas com interesses e preocupações sociais, não esquecendo, claro está, toda aquela parafernália técnica, imaginativa e, essencialmente, criativa que se espera de um qualquer filme de animação.


O que agora acontece, sensivelmente um ano depois, com este Up - Altamente, é algo bastante semelhante e é o suficiente para se dizer que o cinema de animação está, finalmente, a tomar novos rumos, mais concretos, mais compreensivos e, acima de tudo, mais maturos - como de resto já demostravam os antigos filmes de animação da Disney.
Up - Altamente começa num passado, há alguns anos atrás, onde conhecemos o jovem e pequeno aventureiro Carl, fanático pelas aventuras às Terras Perdidas do Descobridor Charles Muntz. Por esta altura, e por um feliz acaso, Carl conhece Ellie, que partilha da mesma paixão pela aventura e pelo desconhecido e juntos fomentam o sonho de uma viagem à América do Sul, à Lost Land tão falada pelo ídolo Charles Muntz. Mas os anos passam, a amizade entre Carl e Ellie passa a outros níveis, cresce a olhos vistos, até que decidem passar a vida juntos, contraindo matrimónio. Mas, porque a vida é assim mesmo, madrasta, uma série de infortúnios retardam os planos da vida de Carl e Ellie e o sonho de infância vai-se arrastando com os anos (pesados) da vida de ambos. A cena é lindíssima, quase video-clip, mas tocada por uma sensibilidade extraordinária - sem dúvida que é uma das cenas mais notáveis alguma vez feita em cinema de animação. Pouco depois, Carl, agora um quase-velho-jarreta, mas com um grande coração, vê-se obrigado a ir para um lar de terceira idade após umas desavenças com uma equipa de construtores civis que precisam de lhe expropriar a casa. Surpresa das surpresas, Carl tem um plano na manga, em memória da sua Ellie, do tempo que passaram juntos e, principalmente, do sonho e da promessa de infância; então, à chegada dos enfermeiros, Carl liberta milhares de balões, presos na boca da lareira, e transforma a própria casa numa espécie de flutuador improvisado, viajando, por fim, para a América do Sul à procura da Terra Perdida e, uma vez lá, instalar-se nas Paradise Falls (Falésias do Paraíso, ou algo do género). Contudo, em pleno voo, e sem que ninguém estivesse à espera, alguém bate à porta... Russel, um rapazinho de 8 anos, impulsivo e dedicado à aventura, vai mudar completamente os planos de Carl para esta viagem.


Seguindo esta linha de acção, facilmente se compreende a importância de um filme como o Up - Altamente e, o mais importante, onde poderá residir o sucesso de um filme de animação, sobretudo aos olhos dos mais velhos e, em geral, menos interessados no género de que se fala; indiscutivelmente, o filme consegue, com toda a facilidade, apelar ao interesse quando aborda temas tão maturos como a vida, a morte, a solidão e a importânica de ter sonhos e de viver para eles, coisa que nunca passará pela cabeça de uma criança, mas antes - e isto é importante - será apenas compreensível por quem já conhece minimamente a vida (e que já cá está há algum tempo), fazendo-nos reflectir sobre estas preciosidades que nos são oferecidas ao longo dos anos. E isto, tanto o Wall.e como o Up fazem-no muito bem.
Embora continue a achar que o filme em questão não teve o impacto desejado - não o julgando como obra singular nem valendo por si só, porque, sob esse aspecto, nada tenho a reparar, mas essencialmente por causa da expectativa gerada e, ainda para mais, por ser um filme decorrente de uma quase obra-prima do cinema de animação dos tempo modernos -, com certeza que os produtores levarão para casa o Óscar de Melhor Filme de Animação.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

To Mac or not to Mac

[desculpa-me a inspiração, Tiago, era mesmo inevitável]

Helder, compra um Mac:

* o teu computador avariou-se
* o disco rígido pifou, perdeste tudo o que lá tinhas
* um disco novo custa-te, com a mão-de-obra, mais de 100€
* a bateria deixou de funcionar há mais de um ano
* a drive de cd/dvd deixou de funcionar há mais de dois anos
* o teu computador já tem mais de seis anos de existência
* o computador está avariado: não tens computador neste momento!!!
* podes instalar o Windows 7 no Mac e trabalhar com Dual Boot
* podes usar o Audium em vez do MSN Messenger
* estúpido, tu nem sequer usas o MSN Messenger!!!
* podes instalar o AutoCAD, se trabalhares em Dual Boot
* e podes usar o Final Cut Pro, finalmente!!
* e o Mac é bonito.

Helder, não compres um Mac:

* é caro.


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Oscars 2010: Estado de Guerra (The Hurt Locker)


Com 9 nomeações, Estado de Guerra é, a par de Avatar, um dos grandes favoritos da cerimónia dos Oscars deste ano. E razões há para que assim seja ou não estaríamos a falar de um filme inovador dentro da temática que propõe abordar - não por apresentar uma diferente perspectiva da Guerra no Iraque, mas principalmente por acompanhar uma equipa de soldados americanos, peritos a desmantelar bombas. Na verdade é um trabalho bastante ingrato, com um risco e uma perigosidade muito superior a qualquer um outro cargo num campo de batalha, mas que parece ter sido esquecido (ou, pelo menos, pouco referenciado) ao longo da história do cinema.

Realizado por Kathryn Bigelow (ex-mulher de James Cameron, embora dele não tenha tido quaisquer influências para este filme), em Estado de Guerra somos, desde logo, levados para o meio da equipa Bravo, em Baghdad, a 39 dias do final da sua missão. Um infortúnio acaba por acontecer, entre ambientes tensos e medidos a peso pela desconfiança dos Iraquianos, ficando a equipa anti-bomba reduzida a dois soldados. Para substituir a perda, o Sargento James é enviado para o campo de batalha, como chefe da equipa, em conjunto com os resistentes Sargento Sanborn e Especialista Eldridge. Percebemos, com o avançar dos dias e com o árduo trabalho com que se vão deparando, que cada um eles tem uma maneira muito própria de ultrapassar o medo, perante o risco de vida a que diariamente se expõem. Por um lado, amante do seu trabalho, que não vê outro objectivo de vida senão a adrenalina em desarmar uma bomba, o Sargento James parece deslocado, numa atitude quase imatura, mas com um autodomínio desmedido sem se deixar levar pela opinião dos outros - nem mesmo dos seus superiores. Por outro lado, Sanborn e Eldridge não se adaptam a este método de trabalho; seguem regras, ponderados, excessivamente emotivos e inseguros para a profissão que levam. O certo é que os 39 dias em falta vão sendo descontados e as bombas desmanteladas, como se de uma contagem decrescente se tratasse, e a equipa, mais unida do que nunca, procura auxílio entre si nestes últimos dias que, como se sabe, acabam por ser os mais difíceis.

Estado de Guerra é um excelente pretexto para uma abordagem, embora generalizada, de alguns temas que me parecem interessantes: a confiança e os valores da amizade, acima de tudo, na vida presa por um fio, posta nas mãos do Sargento James como se não tivesse o peso que tem; o combate ao medo, a reacção perante a morte, o diferente modo de reagir numa situação extrema de vida ou de morte; e, por último, aquela típica seriação de pessoas, quase discriminação, a dúvida levantada vezes sem conta acerca da inocência (ou culpa) dos cidadãos iraquianos mediante o caos levantado em Baghdad.
Tecnicamente perfeito, além de uma exemplar direcção de fotografia, o ritmo escolhido - trabalho de edição - não podia ser melhor. De facto, em muito contribui para a correcta apreciação da cena, na percepção da tensão envolvida, por vezes convertendo-se numa certa demagogia, no bom sentido, entre o que poderá ou não acontecer.
Quanto às apostas, Estado de Guerra tem tudo para ser galardoado em Edição (Bob Murawski e Chris Innis), Banda Sonora (Marco Beltrami e Buck Sanders), não esquecendo a séria nomeação e possível vencedor pela melhor - pelo menos, inesperadamente boa - Realização (Kathryn Bigelow).

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Oscars 2010: Sacanas Sem Lei (Inglourious Basterds)

Tal como prometido, dou já por iniciada a primeira referência aos títulos cinematográficos que compõem a lista de nomeados ao Oscar de Melhor Filme para a 82ª Gala. Já havia escrito, apesar de tudo, um pequeno texto, aquando da sua estreia, relativo ao Inglourious Basterds de Quentin Tarantino que acho por bem relembrar aqui, ainda que em carácter sintético.
A versão completa encontra-se aqui mesmo.

"[...] Para que justamente se fale aqui de Inglorious Basterds/Sacanas Sem Lei o melhor é mesmo começar pelo inicio. E o inicio dá-se em 1978 com o filme Italiano Quel Maledetto Treno Blindato de Enzo G. Castellari que recebeu a tradução em Inglês The Inglorious Bastards. [...] Haverá, apesar de tudo, muito pouco a referir neste ponto porque uma coisa pouco ou nada tem a ver com a outra. Desenganem-se pelo título, pela II Guerra como pano de fundo e pelo grupo de Americanos destemidos comum nos dois filmes. Não há intenção alguma de refazer o filme Italiano numa versão Americana, mas também não poderei dizer que o Basterds de Tarantino não poderá ter tido origem no Bastards de Castellari - apenas uma ligeira e saudável inspiração. [...]".

"[...] Sacanas Sem Lei - e digo isto com muita satisfação porque adoro! - tem influências claras em Sergio Leone. É um típico Spaghetti Western de Leone onde os cowboys são substituídos por soldados. Desde o primeiro instante que somos levados a tirar essa conclusão. O genérico, tanto o inicial como o final, e muito particularmente a Banda Sonora que os acompanha são bons indícios disso. [...] Repare-se que o filme começa com as palavras "Once Upon A Time..." (e depois complementadas com "in Nazi Occupied France"), precisamente as palavras que Sergio Leone utilizou para intitular o magnífico clássico Once Upon A Time In The West/Aconteceu no Oeste (1968) e, uma outra sua obra-prima - e um dos meus favoritos - Once Upon A Time In America/Era Uma Vez na América (1984). Além disso, o filme abre com uma cena que em muito remete para o inicio de Il Buono, il Brutto, il Cattivo/O Bom, o Mau e o Vilão (1966), também de Sergio Leone. [...]".

"[...] Fique-se ainda a saber que a estética a que Tarantino nos habituou continua marcada nesta sua grande obra, como de resto era bastante previsível. Fala-se dos planos apertados iguais aos de Sergio Leone - exímia fotografia de Robert Richardson -, da violência quase gratuita, do argumento ponderadíssimo repleto de frases chave e a Banda Sonora escolhida a dedo, muito ao estilo de Kill Bill (2003/2004), mas sempre com o gostozinho a Western Italiano. [...]".

Por último, em título conclusivo e tendo em conta as nomeações com que foi presenteado, a minha aposta recai como possível vencedor de Melhor Actor Secundário (Christoph Waltz) e Melhor Argumento Original (Quentin Tarantino).

Oscars 2010: Os nomeados


Foram ontem reveladas as nomeações para os tão aguardados Oscars, referente às estreias de 2009. Tal como havia sido anunciado, a Academia, em jeito saudosista dos primeiros anos de Oscars, optou pela nomeação de 10 obras concorrentes ao prémio de melhor filme, em vez das habituais 5. Além do mais, porque as novidades não se ficam por aqui - embora já anunciado -, a cerimónia deste ano, que se realizará a 7 de Março, terá não um, mas dois apresentadores: Alec Baldwin e Steve Martin. Quanto aos nomeados propriamente ditos, embora as surpresas não sejam muitas, a liderança cabe a James Cameron (com "Avatar") e, curiosamente, à sua ex-mulher, Kathryn Bigelow (com "The Hurt Locker" - "Estado de Guerra").
Em função das estreias nacionais que, como bem sabem, são por vezes demasiado tardias ou inexistentes, procurarei fazer uma referência a cada um dos principais filmes nomeados. Por enquanto, é caso para dizer, façam as vossas apostas.

Lista completa de nomeados aqui

Boletim de votação oficial (download)