terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sobre o pretérito e a possibilidade de um futuro imediato


Eu sei, Baiano, que eu falo de amor como se fosse fácil. Pior, como se fosse possível. Mas já foi, Baiano, e você sabe disso. Para mim, aos dezessete. Para você, aos vinte e poucos.
Ele morreu tragicamente em um acidente de carro. Ela recebeu um xeque mate. E nós dois? Morremos também, claro. Com uma diferença: você teve escolha, eu não.

Eu encontrei e perdi cedo demais aquele que achava ser o amor da minha vida. Ele não me deixou. Eu não o abandonei. Não brigamos. Ele morrreu, Baiano. Limpo e seco. Direto e trágico como nenhum final de história deve ser. Cortaram o "felizes para sempre" sem me dar, ao menos, uma explicação. Até então, era só felicidade e sonhos com casinha, cerquinhas e filhinhas (sim, eu também queria ter duas). Até então, ele era um jovem engenheiro civil com um futuro promissor, que estava construindo uma miniatura do Taj Mahal pra mim, que me ligava à noite para falar besteira, com a velha desculpa do "boa noite", que ria dos meus erros absurdos e depois que me ajudava a consertar, que me ensinou da forma mais simples e leve possível o significado da palavra amor. Isso até aquela última sexta-feira. No sábado, todas aquelas promessas, bons presságios, futuro compartilhado e castelos foram destruídos. Sem conserto como aqueles dois carros e as vidas que os guiavam.
"Se você vier me perguntar por onde andei no tempo em que você sonhava. De olhos abertos, lhe direi: - Amigo, eu me desesperava". Talvez não tenha frase que se encaixe tão bem a situação que passei como essa de Belchior.
Antes dos dezoito, Baiano, tudo já tinha gosto de "tarde demais". Aos dezoito, envelheci.
Tive de largar os meus sonhos, a profissão que queria seguir, a cidade onde nasci, tudo o que havia de melhor em mim... Eu também tinha promessas de um bom futuro. Mas sem ele qual amanhã valeria a pena? Durante cinco anos eu tentei, em vão, responder.
E fiz de tudo para repelir tudo e todos que se aproximavam de mim. Engordei, descudei de todos os detalhes relevantes e tratei de ser chata, ácida e baranguda para que ninguém mais no mundo gostasse de mim. Fechava as portas na cara de qualquer desavisado e distraído que tentasse chegar perto ou ignorasse a placa vermelha indicando "PERIGO".
Quando conheci você, reconheci milimetricamente cada pedacinho do meu passado. E não podia ver de braços cruzados a repetição em série dos meus erros.
Por incrível que pareça, nunca tive pretensão de que você tirasse todos os atrasos e marcas que esse luto deixou em mim, nem muito menos que me levasse ao altar.
Durante todo esse tempo eu só queria lutar - de uma forma desesperada, confesso - para que você não abandosse tudo, como eu fiz um dia.
Esse texto bobo é apenas a introdução de uma súplica: pense em você. Em você. 
Eles se foram. Foi triste, cheio de lágrimas e pesares. Mas nós ficamos, Baiano. E, por mais doloroso e árduo que seja seguir em frente, temos de fazê-lo. Não morremos. Viver foi a única opção que nos restou. Melhor utilizá-la da melhor forma possível, incluindo no pacote os nossos desejos e melhores sonhos.




"Um beijo" (talvez o último da temporada),




Morena



28.01.2011 às 23:23

16 comentários:

  1. Que fofo, muito obrigada pela sua visitinha eu tbm adorei aqui.
    Beijos :)

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  2. muito obrigada pela visita ao meu cantinho e fico muito feliz por teres gostado do texto :)

    ja agora escreves muito bem mesmo :) parabens.

    beijo*

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  3. Texto muito interessante...

    Bjs, Morena!

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  4. Muito obrigado :$
    Também estou a seguir, adorei*

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  5. Menina, morena, me diz? De onde vem tanto talento?
    Tua escrita, teus sentimentos guiados em palavras teu modo de nos transportar ao que escreve e sente....este texto emociona, choca, paralisa e emociona! Além de fazer refletir...lindo, muito lindo! Parabéns!

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  6. Morena,

    Teu texto me prendeu do ínicio ao fim, profundo, verdadeiro, bonito. Sem palavras, tu escreve bem demais! Ganhou uma seguidora...



    Mariah Zara

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  7. quanta doçura na destreza com as palavras...

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  8. Nossa, que lindo isso. Sabe, a vida não admite que você fique parada e, mesmo assim, seja feliz. É preciso seguir em frente e ser forte.

    Abraço meu.

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  9. Oi querida.
    Pode me chamar de Poly siiim!
    *-*
    Fico feliz que tenha gostado do selinho o/

    Beijos, beijos.

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  10. Pede perdão pela duração
    Dessa temporada
    "Mas não diga nada
    Que me viu chorando
    E pr'os da pesada
    Diz que eu vou levando...

    Vê como é que anda
    Aquela vida à tôa
    E se puder me manda
    Uma notícia boa..."

    Abração, Morena! Paz e bem.

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  11. Muito bom isso, ainda mais citando Belchior. Beijos e parabéns

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  12. Tudo lindo por aqui!

    "Sei que assim falando pensas
    Que esse desespero é moda em 76
    Mas ando mesmo descontente
    Desesperadamente eu grito em português"

    Seguindo atento
    Agradeço a visita no "sempre tem algo acontecendo"
    Seja bem vinda. Sempre!

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  13. Que belo e tocante, como sempre e muito!!!!

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  14. Olha... Agora serei clichê e pueril.
    Você me emocionou.

    É isso.

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