quarta-feira, novembro 29, 2006

Prazer pela paz (faltam 22 dias)

Este chá acredita que «um outro mundo é possível». Ventos de mudança requerem campanhas cada vez mais exigentes e, porque não?, versões actualizadas (globalizadas) do «make love, not war». Se num casal, o orgasmo simultâneo exige o seu grau sintonia, pretender que o mundo inteiro atinja o clímax ao mesmo tempo é, no mínimo, um programa ambicioso. O chá do Gurué não pode deixar de se sentir em sincronização com altos padrões de exigência e aproveita para cantar:

Os cidadãos no Japão fazem,
Lá na China um bilhão fazem.
Façamos, vamos amar.
Os espanhóis, os lapões fazem,
Lituanos e letões fazem.
Façamos, vamos amar.
Os alemães em Berlim fazem,
E também lá em Bombaim fazem
Os hindus acham bom.
Nisseis, niqueis e sansseis fazem,
Lá em São Francisco muitos gays fazem.
Façamos, vamos amar.
Os rouxinóis, os saraus fazem,
Picantes pica-paus fazem.
Façamos, vamos amar.
Os uirapurus no Pará fazem,
Tico-ticos no fubá fazem,
Façamos, vamos amar.
Chinfrins, galinhas afim fazem,
E jamais dizem não.
Corujas, sim fazem, sábias como elas são.
Muitos perus, todos nus, fazem,
Gaviões, pavões e urubus fazem.
Façamos, vamos amar.
Dourados, mão, Solimões fazem,
Camarões em Camarões fazem.
Façamos, vamos amar.
Piranhas, só por fazer, fazem,
Namorados, por prazer fazem.
Façamos, vamos amar.
Peixes elétricos bem fazem,
Entre beijos e choques.
Garçons também fazem,
Sem falar nos adoques.
Salmões no sal, em geral, fazem,
Bacalhaus no mar em Portugal fazem.
Façamos, yeah, vamos amar.
Libélulas em bambus fazem,
Centopéias, sem tabus, fazem.
Façamos, vamos amar.
Os louva-deuses, com fé, fazem,
Dizem que bichos de pé fazem.
Façamos, vamos amar.
As taturanas também fazem
Um ardor em comum,
Grilos, meu bem, fazem,
E sem grilo nenhum.
Com seus ferrões, os zangões fazem,
Pulgas em calcinhas e calções fazem.
Façamos, vamos amar.

(Autor: Cole Porter; versão de Carlos Rennó; interpretação de Chico Buarque e Elza Soares)


domingo, novembro 26, 2006

Chá de argumentos...

... para a esplanada de Carreço*. Não se deixem enganar, há por aqui bem mais do que vida rastejante e outros males. E o passeio não vai além das redondezas...

Maputo, bazar central


Ilha dos Portugueses (junto à Ilha da Inhaca)


(Maputo)



Maputo


Praia da Macaneta


Fotos de TC

* A propósito de um comentário a este post.


quinta-feira, novembro 23, 2006

Coisas que me fazem feliz em Moçambique (II ou III)

Dizer «maningue nice».

Chá de compensação

(ou, é outra vez tempo de mangas)

Fez ontem um ano, noutras paragens, escrevia (ou postava) eu assim:

Os meus lugares de luxo em Moçambique I





A sombra desta mangueira, onde, depois do almoço, substituímos o café, enquanto ritual de convívio e de protelação do regresso ao trabalho, pelas mangas que apanhamos, lavamos na torneira do jardim e comemos logo ali. No final, damos apenas uns passos e estamos à porta dos gabinetes. Há luxos que merecem a ostentação.


terça-feira, novembro 21, 2006

Vida selvagem

Não está muito calor. A humidade é tal que chego a sentir que, se batesse os braços e os pés, podia nadar. Há muito que deixou de me incomodar. O segredo é não lhe resistir, deixá-la envolver-nos e permitir que o corpo reaja à sua maneira (mais ou menos pegajosa). Neste dias, o meu gabinete transforma-se num parque natural de vida animal em tamanho pequeno. As formigas, às dúzias, só me perturbam quando, na pausa para café, procuro a sombra da mangueira. Insistem em subir para os pés. Uma rapidez que não se lhes adivinha. De resto, não tenho boa relação com este tipo de animais selvagens. Por ali, há de tudo, desde lesmas, mascaradas de folhas, grudadas nas janelas; perigosos mosquitos fêmea; osgas que não têm barriga para tanto mosquito; marias-café (sabem lá alguns dos que por aqui passam o que são marias-café), sapos... Lá fora, há gala-gala e uma variedade de lagartos, cuja vida invejo quando, regressada do almoço e sonolenta, os apanho ao sol num tronco de coqueiro com uma expressão que não é de quem tem problemas. Há tempos, descobri uma lesma no braço e, de outra vez, uma maria-café no pé descalço. Não controlei reacções. Ninguém me deu atenção, fizeram todos bem. Odeio lesmas. São manhosas, molengonas, tem um ar fingido e traiçoeiro. Fazem-se de mortas, as sonsas. Não me incomodam os sapos. A osga é, sem dúvida, um bicho especial. Em tempos, vivi com uma durante vários dias. Foi ela que quis mudar-se. Limitava-me a olhar para o tecto e a forçar-me a acreditar que a mãe natureza não permitiria uma queda (em especial durante o meu sono). Não me atreveria a matá-la. Além de comerem os únicos seres verdadeiramente perigosos - os portadores do vírus da malária - têm um ar sobrenatural. Há mais ali do que pretendem revelar. São todas diferentes, rápidas e não nos faltam ao respeito como as lesmas. Saem da frente quando queremos passar. Temo-as, claro. Principalmente as transparentes. O José Eduardo Agualusa é que lhes caçou a pinta e eu só duvido que alguma delas venha a escrever um livro sobre os meus dias, porque não vendo passados, nem coisa que valha o trabalho da escrita. Para o fim, o pior (ani)mal. Não aparece muito durante o dia, mas, chegada esta altura mais quente, explode por todo o lado assim que o sol se põe. É pavoroso, vive em canos, tem antenas e asas, pode ser preto ou castanho avermelhado e tal como não há bomba nuclear que o extermine, não há cantiguinha para criança, esforço interno ou terapia de choque que me permita agir racionalmente cada vez que vejo uma barata. Não me peçam isso!

quarta-feira, novembro 15, 2006

O Poeta Messias

O Poeta Messias é um personagem da cidade onde cresci. Todos os que, há uns anos, ainda que com pouca frequência, se sentavam em esplanadas das redondezas, sabem de quem estou a falar. O PM era um jovem (atenção: não confundir com outro PM, também poeta e jovem e, no melhor estilo, a puxar para o personagem). Andava sempre sozinho e gostava de abeirar-se das mesas de café e premiar os eleitos com poemas da sua autoria. Só ele apreciava tais leituras. Não tenho memória dos poemas, mas lembro-me da fixação que ele desenvolveu pela minha irmã e, de arrastão, já que somos quase iguais, por mim, quando ela não estava (espero que a minha irmã não se importe que eu conte esta história). Apesar da seca que invariavelmente nos dava, nutríamos por ele uma certa simpatia. Talvez por levar a sério a sua missão e nunca perder a pose, mesmo quando o perturbavam. Chegámos a defendê-lo das maldades de que era vítima por parte da miudagem parva. A partir de certa altura, o PM aproximava-se da minha irmã (ou de mim, se ela não estava) e perguntava-lhe se queria ser sua amiga. Ninguém com coração queria responder que não, mas, se a resposta era 'sim', toca de pedir um beijo. E insistia no pedido. Era um problema para o calar e para o tirar dali. Se não era amiga, maior o drama. A história repetia-se e, apesar de pacífico, o poeta tornou-se francamente irritante. A simpatia foi-se gastando e, cada vez que ele aparecia, tentávamos escapulir-nos. Um dia a minha mãe estava connosco e deu uma corrida ao poeta. Já tínhamos saído da adolescência e sabíamos defender-nos, mas isso não a impediu de lhe dar um raspanete e tanto. Que não voltasse a aborrecer-nos! Foi uma grande atitude de mãe. O PM deixou de se aproximar de nós. Já passaram uns bons anos. Hoje liguei o rádio do carro e, de forma automática, saiu-me a expressão «música, música!», num tom que não posso reproduzir por escrito, mas que imitava uma expressão do poeta. Isto tudo é meio patético, mas, de repente, pensei no que será feito dele.

terça-feira, novembro 14, 2006

Chá alucinogénio

Ai, ai, já perguntava o outro «porque é que tão dificil construir uma teoria crítica?»

Chá de Flop

«Vista pelo prisma de primeiro-ministro demitido, a crise política de 2004, que culminou com eleições legislativas antecipadas, foi fruto de uma "convergência objectiva de interesses" de quem tinha "outros planos para o país". Ao apresentar o seu livro sobre aquele período, o "menino-guerreiro" identificou dois dos protagonistas daquele "golpe constitucional": Cavaco Silva e Jorge Sampaio».
«Como se fosse um símbolo da crise política de 2004, Pedro Santana Lopes escolheu a solidão para cenário do lançamento do seu livro 2004 - Percepção e Realidade [...]. Nem a presença da sua editora, Zita Seabra, estragou a imagem de homem só. Propositadamente só. Todo o livro é, afinal, um produto exclusivo do seu autor: além do corpo principal que constituem as 424 páginas do livro, foi também Pedro Santana Lopes quem escreveu o prefácio e foi também ele quem o apresentou. E mesmo a capa - um difuso 2004 escrito a azul escuro sobre preto, com as palavras "percepções" e "realidade" a vermelho, sem fotografia - se não é da sua autoria, é do seu filho Gonçalo, designer profissional» (Público, 14.11.06).

Depois do que todos o viram fazer, ninguém se espanta que publique este livro, muito menos que, no lançamento do dito, se rodeie mais de jornalistas do que de amigos ou ministros do seu ex-governo. A questão perturbante é: alguém vai mesmo ler isto? Zita Seabra, acredita que será um best seller. Zita Seabra não atribui crédito ao que quer que seja, todos sabem.
Há muito que Santana Lopes não engana. Ninguém comprará na ignorância. Pensando bem, em caso de êxito, darei os parabéns ao país, pois, nessa circunstância, apenas poderá ocorrer-me que muita gente já leu tudo o que tinha para ler na vida.

quinta-feira, novembro 09, 2006

quarta-feira, novembro 08, 2006

Palavras/frases que melhoram a expressividade II

«És cabeça de côco!»

Palavras/frases que melhoram a expressividade I

«Vou fazer mais como?»

Manifestação anti-gralha

Durante um dia inteiro, no título do post anterior, pôde ler-se «inustiças», em vez de «injustiças». Um amigo, que me conhece bem, chamou-me, divertido, a atenção para o erro. Há quem se esforce por deixar gralhas. Dá ar de mente ocupada, interessada apenas no conteúdo e, principalmente, mostras de que o texto saiu de uma só penada inspirada, não foi trabalhado ou relido. Eu tenho um problema. Acumulo a característica de despistada, com o horror obsessivo por gralhas. Isto é, para minha angústia, nem sempre as vejo, mas quando estão lá é porque não as vi. Eu releio. Eu odeio-as. Mais profundamente do que a ecologia o permite.

Injustiças sociais

Era curta a distância entre o restaurante onde paguei o almoço e o local onde passaria a tarde a trabalhar. À entrada da reunião, dou pela falta do porta moedas. Em escassos 300 metros, e com discrição suficiente para eu não perceber nada, alguém introduzira a mão na minha carteira e levara, numa espécie de jackpot, perto de 80 dólares, recargas de telemóvel, um cartão vodafone, um passaporte europeu, uma carta de condução, um cartão de eleitor, cartões multibanco. Não recuperei qualquer documento. Pedir novo passaporte não foi complicado, apenas caro, mas jamais esquecerei o drama de requerer visto de entrada no país onde já estava. Ainda hoje, ando com uma guia da carta de condução. Está sempre fora de prazo, já que é pouco prático, de três em três meses, atravessar um continente para levar com um carimbo da DGV. A velocidade de actuação desta instituição deixa francamente a desejar. Na altura, tive raiva de quem me causou tamanho transtorno, possivelmente alguém com quem regularmente me cruzo. É uma zona onde passo com frequência. Hoje, relembrando o episódio, só pode ocorrer-me um pensamento: enquanto me dirigia à dita reunião, alguém muito mais competente, esperto, rápido de raciocínio e certamente cauteloso estava desempregado.

segunda-feira, novembro 06, 2006

Comércio injusto


Postal feito com batique


Entre as recomendações de excesso de zelo que, em regra, acompanham os turistas acabadinhos de aterrar em Moçambique, há uma que me chateia (mais do que as outras): não comprar artesanato sem regatear muito bem. Esta advertência chega a aparecer em guias turísticos sobre o país. Ora, o exagerado alimentar deste espirito cria situações que, no meu entender, em nada contribuem para um bom turismo:
  1. os preços são, de facto, altamente inflacionados (os vendedores estão impedidos de apresentar o preço justo, porque o comprador teimará em oferecer metade);
  2. comprar artesanato pode ser um inferno para quem, como eu, detesta regatear, mas gosta de comprar e a preços justos;
  3. os turistas chegam a regatear em lojas iguais às que têm em casa, onde jamais fariam tal figura;
  4. e, pior ainda, tantas vezes, perdem a noção, exibindo a façanha do preço tão baixo, esquecendo que o valor de troca não cobriu o paciente, e até artístico, trabalho de quem concebeu a peça.

(e compram-se quadros a preços altíssimos só porque a assinatura é reconhecida na Europa...)

Poder de encaixe

(ou, o «curtas» não podia durar para sempre)


Ter sido viciada em rádio, acordado diariamente ao som da RUC ou da TSF (dos bons tempos) e, hoje, despertar ao ritmo das opções musicais do Darwin Cardoso, vestir-me com os ouvidos postos nos diálogos com o Gervásio de Jesus e já nem dar pela diferença.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Curtas III

Calor, muito calor. O ar está denso, a humidade envolve-nos. Cheira a Verão. Verão tropical. O Índico ferve. Que se lixe a novidade Copolla.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Curtas II

Mais um de Sofia Coppola. Chico Buarque ao vivo. O Índico parece mais frio.

Curtas I

O trabalho não se faz sozinho, o tempo escasseia, é altura de aprender a postar curto. Comecei bem.