casa africana
HEMISFÉRIO SUL;IMAGENS E LIGAÇÕES;"A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO SEGUNDO ADAM SMITH";FOTÓGRAFOS; teatro; ARTES PERFOrMATIVAS
20.11.12
19.11.12
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5.4.12
antonin artaud: para acabar de vez com o juízo de deus
O que é grave
é nós sabermos
que depois da ordem
deste mundo
uma outra existe.
é nós sabermos
que depois da ordem
deste mundo
uma outra existe.
Que outra?
Não o sabemos.
O número e a ordem das suposições possíveis
é neste campo
justamente
o infinito!
é neste campo
justamente
o infinito!
E o
infinito o que é?
Não sabemos exactamente o que seja.
É uma palavra
que nós usamos
para designar
a abertura
da nossa consciência
perante a desmedida
possibilidade,
infatigável e desmedida.
que nós usamos
para designar
a abertura
da nossa consciência
perante a desmedida
possibilidade,
infatigável e desmedida.
E o que vem a ser
exactamente a consciência?
Não sabemos exactamente o
que seja.
É o nada.
Um nada
de que nos servimos
quando não sabemos qualquer coisa
para designar
qual a faceta que desconhecemos
e então
falamos em
consciência,
pelo prisma da consciência,
quando há cem mil outros prismas.
de que nos servimos
quando não sabemos qualquer coisa
para designar
qual a faceta que desconhecemos
e então
falamos em
consciência,
pelo prisma da consciência,
quando há cem mil outros prismas.
E então?
Parece que a consciência
estaria em nós
ligada
ao desejo sexual
e à fome;
mas poderia
perfeitamente
não ter qualquer ligação
com isso.
estaria em nós
ligada
ao desejo sexual
e à fome;
mas poderia
perfeitamente
não ter qualquer ligação
com isso.
Diz-se,
é possível dizer,
há quem diga
que a consciência
é um apetite,
o apetite de viver;
é possível dizer,
há quem diga
que a consciência
é um apetite,
o apetite de viver;
e imediatamente
a par do apetite de viver,
a par do apetite de viver,
é o apetite de comida
o que imediatamente nos vem ao espírito;
como se não houvesse gente
que come
sem o mínimo apetite;
e gente que tem fome.
sem o mínimo apetite;
e gente que tem fome.
Pois também isso
acontece
ter fome
acontece
ter fome
sem
apetite;
e então?
Então
o espaço do possível
surgiu-me um dia
como um grande peido
que eu tivesse dado;
mas nem o espaço,
nem o possível
sabia eu exactamente o que fossem,
nem nisso sentia necessidade de pensar;
surgiu-me um dia
como um grande peido
que eu tivesse dado;
mas nem o espaço,
nem o possível
sabia eu exactamente o que fossem,
nem nisso sentia necessidade de pensar;
eram
palavras
inventadas para definirem coisas
que existiam
ou não existiam
frente à
premente urgência
de uma necessidade:
a de suprimir a ideia,
a ideia e o seu mito
e em seu lugar instituir
a manifestação tonante
desta explosiva necessidade:
dilatar o corpo da minha noite interna,
inventadas para definirem coisas
que existiam
ou não existiam
frente à
premente urgência
de uma necessidade:
a de suprimir a ideia,
a ideia e o seu mito
e em seu lugar instituir
a manifestação tonante
desta explosiva necessidade:
dilatar o corpo da minha noite interna,
no nada interno
do meu eu
do meu eu
que é noite,
nada,
irreflexão,
nada,
irreflexão,
mas que é explosiva afirmação
de que há
algo
a que dar lugar:
de que há
algo
a que dar lugar:
o meu corpo.
Mas então
reduzir o meu corpo
a um gás fétido?
Dizer que tenho um corpo
porque tenho um gás fétido
em formação
dentro de mim?
reduzir o meu corpo
a um gás fétido?
Dizer que tenho um corpo
porque tenho um gás fétido
em formação
dentro de mim?
Não sei
mas
sei que
mas
sei que
o espaço,
o tempo,
a dimensão,
o devir,
o futuro
o porvir,
o ser,
o não ser,
o eu,
o não eu,
o tempo,
a dimensão,
o devir,
o futuro
o porvir,
o ser,
o não ser,
o eu,
o não eu,
nada são para mim;
mas há uma
coisa
que é qualquer coisa,
uma só coisa
susceptível de ser qualquer coisa,
uma coisa que eu sinto
por ela querer
que é qualquer coisa,
uma só coisa
susceptível de ser qualquer coisa,
uma coisa que eu sinto
por ela querer
SAIR:
a presença
da minha dor
de corpo,
a presença
agressiva
jamais cansativa
do meu
corpo;
da minha dor
de corpo,
a presença
agressiva
jamais cansativa
do meu
corpo;
e por mais que me apertem
com perguntas
e que eu me esquive a todas,
chego a um ponto
em que me vejo constrangido
a dizer não,
e que eu me esquive a todas,
chego a um ponto
em que me vejo constrangido
a dizer não,
NÃO
portanto
à negação;
à negação;
e esse
ponto
é quando me apertam,
é quando me apertam,
quando me
amolgam
e me dão tratos
até de mim sair
o alimento,
o meu alimento
e o seu leite,
e me dão tratos
até de mim sair
o alimento,
o meu alimento
e o seu leite,
e então que fica?
Fico eu sufocado;
E não sei que acção será essa
Mas apertando-me assim com perguntas
até à completa ausência,
ao nada
da questão,
apertaram-me
até sufocar
em mim
a ideia de corpo
E não sei que acção será essa
Mas apertando-me assim com perguntas
até à completa ausência,
ao nada
da questão,
apertaram-me
até sufocar
em mim
a ideia de corpo
e de ser um corpo,
e foi então que eu senti o obsceno
e
que me peidei
de irrisão
e de excesso
e de revolta
pela minha sufocação.
de irrisão
e de excesso
e de revolta
pela minha sufocação.
É que me apertavam
contra o meu corpo
e contra o corpo
contra o meu corpo
e contra o corpo
e foi então
que eu fiz ir tudo pelos ares
porque no meu corpo
não se toca nunca.
que eu fiz ir tudo pelos ares
porque no meu corpo
não se toca nunca.
antonin artaud
para acabar de vez com o juízo de deus
trad. luiza neto jorge
& etc
1975
para acabar de vez com o juízo de deus
trad. luiza neto jorge
& etc
1975
lido e trazido deste blogue: http://canaldepoesia.blogspot.pt/
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