Nisto, porém, que vou dizer-vos não vos louvo; porquanto vos ajuntais, não para melhor, mas para pior. Porque, antes de tudo, ouço que quando vos ajuntais na igreja há entre vós dissensões; e em parte o creio.
E até importa que haja entre vós facções, para que os aprovados se tornem manifestos entre vós. De sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor; porque quando comeis, cada um toma antes de outrem a sua própria ceia; e assim um fica com fome e outro se embriaga.
É inegável que as igrejas estão contaminadas pela dissensão. Mas sua expressão é tão bem disfarçada que poucos percebem, e qualquer resistência recebe o castigo dado aos rebeldes. Ela é utilizada das mais variadas formas, buscando-se a diferenciação entre os membros, de maneira que os poucos escolhidos sejam exaltados para uma liderança controladora, sendo por isso um instrumento bastante útil no comando de grandes massas, ferramenta muito eficiente e também usada por tiranos e ditadores na história.
Utilizando-se da ingenuidade das pessoas, implanta-se uma ideologia de servidão (não deve ser confundida com o ato de servir ao próximo, o que vemos aqui chega perto da humilhação) favorecida por uma estrutura hierárquica rigorosa, acorrentando os próximos em torno da teologia de poucos que se dizem líderes, os quais muitas vezes não se importam em respeitar princípios bíblicos de, entre outros, salvação e liberdade.
Eis o fundamentalismo cristão demonstrado na defesa da obediência ao “líder” e da necessidade de interventores de um “estado” religioso.
No entanto, compreendendo que a vida com Deus é movida na intimidade com o próprio Deus, sendo um processo de crescimento pessoal e de ensinamento, entre outros, sobre a independência do homem perante o mundo (isso inclui todo e qualquer tipo de instituição – incluo a religião), da superação do pensamento sentimentalizado e superficial, da busca pessoal pelo acerto de contas íntimo com o Espírito Santo, que tudo sonda, do crescer lá nas orações à portas fechadas do próprio quarto, como diz em Mateus 6:6. Acredito que:
- A doutrinação deveria estar voltada ao entendimento de que o homem vive só, diante do mundo à sua volta, posto que tudo é efêmero, a não ser o próprio Deus. Mt 24:35.
- O mundo, por sua natureza humana, está passivo de erro. Por isso não merece confiança cega. Jr 17:5
- O verdadeiro sentido da palavra religião significa uma ligação entre o homem e Deus – sendo portanto seu desligamento às instituições que o aprisionam ao mundo. Rm 8:21
- A vida é uma compreensão íntima de liberdade e salvação, que são aplicações estritamente pessoais. At 7:25/II Co 3:17
Tanto é verdade o que agora digo que apesar da morte na cruz, muitos não serão salvos simplesmente pela negativa da proposta de Cristo como único caminho de encontro com O Pai, sem dizer ainda daqueles que mesmo aceitando este sacrifício não serão salvos por culpa de aprisionamentos incorretos durante a vida – vejo que o preço pago por Cristo na cruz foi alto demais para que eu me acorrente novamente.
Assim, digo que aceitar a liderança aprisionante de alguns “líderes” inconseqüentes é cuspir na cruz e voltar para as correntes, escolha mais fácil e cômoda, por ser deveras "complicado" para uns e extremamente frustrante para outros saber que a vida é conseqüência das escolhas pessoais. Devendo então, nos cuidados do entendimento e da sabedoria, haver equilíbrio suficiente para que não se atire à auto-destruição, o que nos exige cuidado, aprimoramento constante e muita responsabilidade – nisso talvez tenhamos a honra de conhecer uns poucos Líderes de verdade, levantados por Deus em nossas vidas, os quais nos ensinarão a sermos verdadeiramente Livres.
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Neste contexto observo que a noiva de Cristo sofre de má alimentação (I Co 11: 29 - 30), pois enquanto alguns comem para seu próprio regozijo, outros nada têm para suporte de suas necessidades.
O primeiro, por deter alguma condição ou conhecimento mínimo que o diferencie dos próximos, o usa para seu próprio deleite e, à medida que os outros observam o seu caminho rumo à “santidade”, subjuga todos os “seus” próximos à esta falsa imagem de Cristo, restando aos “menores” que apenas o sigam cegamente. Enquanto isso, os “menores do corpo” nada recebem de instrução para que compreendam que por si próprios devem encontrar a Cristo, com parâmetros meramente fundamentados no respeito aos Princípios Bíblicos.
Ou seja:
- Os primeiros se alimentam em nome de uma posição que julgam ser o instrumento de Deus ao “Ministério da vida dos outros”, e estes nada comem enquanto vivem para sustentar os primeiros e seus “Ministérios de liderança”.
- Estes permanecem cegos, pois aqueles acreditam que a liberdade de pensamento é perigosa por vez que a lucidez da auto-determinação poderá levar a “perdição” da alma nas possibilidades de desvio do padrão religioso.
À Ceia (igreja), uns são verdadeiros glutões que não sabem comer apropriadamente, outros raquíticos que não sabem comer por si próprios, ambos indignamente sentados à mesa, gerando por isso os muitos que entre NÓS são fracos e doentes, e não poucos os que dormem. Assim, saiba o homem examinar a si próprio (logicamente que segundo o fundamento da Fé que nos foi dada através da Palavra de Deus), e então participemos da ceia do Senhor, ou seja, que os homens, conscientes de nossas individualizações e particularidades, sejamos unidos unicamente pelo AMOR de Cristo e comemoremos as bênçãos dadas por Ele mediante aquele sacrifício na cruz, nos fazendo Livres das correntes do pecado – e que maior pecado não é a escolha por viver acorrentado, negando a Liberdade dada por Cristo?
Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice. Porque quem come e bebe, come e bebe para sua própria condenação, se não discernir o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e enfermos, e muitos que dormem. Mas, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados;quando, porém, somos julgados pelo Senhor, somos corrigidos, para não sermos condenados com o mundo.