Campeão olímpico em Tóquio, Tom Pidcock partia para Paris como o claro favorito para voltar a repetir o ouro no Ciclismo de BTT em Cross-country. Conjugando o BTT com a Estrada e o Ciclocrosse o ainda jovem britânico falha grande parte da época da vertente, mas quando aparece é quase impossível pará-lo, tanto que é também o Campeão do Mundo em título.
Na corrida pelo ouro, Pidcock começou a fazer a diferença ainda cedo, rapidamente se colocando na frente, acompanhado apenas por um homem da casa, Victor Koretzky, ciclista com vários resultados de renome, mas mais forte no short track. Contudo, um problema mecânico e uma falta de resposta pronta da sua equipa de auxílio atirou o britânico mais para baixo na classificação e deixou-o com muito tempo para recuperar para o agora isolado francês.
Nada que desanimasse o ciclista da INEOS Grenadiers. Pidcock colocou o seu ritmo, alcançou ciclista após ciclista, recuperou tempo volta após volta e, na companhia de Alan Hatherly, encostou de novo na frente ainda a tempo de disputar a vitória. Então, atacou uma e outra vez, mas nada parecia ser suficiente para soltar da sua roda Koretzky.
Finalmente, na última volta, foi Pidcock quem pareceu acusar o cansaço da hercúlea recuperação e o gaulês começou a abrir um pequena diferença. Porém, acabaria por cometer um erro na gravilha e permitir que o britânico voltasse a encostar. Então, num dos últimos obstáculos antes da meta, Pidcock escolheu o trajeto mais curto, mas também o mais ousado, e ultrapassou Koretzky seguindo pelo estreito caminho à direita de uma árvore. O francês, surpreendido, viu-se forçado a abrandar para não chocar contra o adversário e já só voltou a ver o agora bi-campeão olímpico na meta.
A manobra que valeu o ouro a Pidcock foi uma demonstração de qualidade. A capacidade técnica para se meter pelo buraco da agulha, e a agilidade e tempo de reação demonstrados justificam bem o seu título. Mas, há outro fator preponderante que por vezes deixámos esquecido, a coragem.
Naquele momento, com um título tão importante em jogo, Pidcock olhou para aquele obstáculo e viu antes uma oportunidade e não hesitou em aproveitá-la. Mergulho de cabeça instantaneamente e a vida sorriu-lhe por isso.
Não é nada de novo no britânico que, em muitos ocasiões, é criticado por definir objetivos pouco realistas como, por exemplo, a sua ambição de disputar a Geral do Tour de France, quando ainda não deu provas de conseguir andar com os melhores durante três semanas. É claro que isso lhe dá dissabores, mas também já lhe permitiu alcançar feitos icónicos como triunfos na Strade Bianche, na Amstel Gold Race ou naquela incrível etapa do Alpe d’Huez com uma descida de loucos.
Este é um daqueles exemplos de como o Desporto é um reflexo da vida humana. Tantas vezes duvidamos e ruminamos sobre se devemos fazer algo. Ora, há momentos em que temos de ser mais como Tom Pidcock e simplesmente arriscar. Vai haver alturas em que vai correr mal, mas vai haver outras em que a recompensa é tão alta que compensa todos os outros falhanços.