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sábado, 31 de outubro de 2009

MEMÓRIA AO ABANDONO


Finalmente, o escritor de canções lança um livro de poesia

«Não são canções, pelo menos as que pratico. Aqui, não há métrica mais ou menos regular (são diferentes implosões e diferentes explosões), não há rima (pode até havê-la, aqui e ali, mas apenas como um acaso que emergiu de um outro todo), e não há, com certeza, uma linha narrativa que se queira reconhecível – há aqui vários poemas que, a bem ver, não repousam em nenhum tema particular, antes cruzam referências e sobretudo memórias daquilo que foi crescendo, em cachos díspares, na minha árvore.»

Sérgio Godinho

Memória ao abandono

Memória ao abandono
a válvula do sono
aberta.
Desdobra panos
Hélice, ela
a grande borboleta
se é por pousar
já pousou -
despejando o vento
na abertura do vulcão
encarninhando a lava
no sentido giratório

Antes
tive medo de ter sono
agora
é planeta a planeta.

Sérgio Godinho
O Sangue por um Fio
Assíro & Alvim, 2009

terça-feira, 21 de outubro de 2008

UMA BALEIA VÊ OS HOMENS


Sempre tão atarefados, e com longas barbas que agitam com frequência. E como são pouco redondos, sem a majestosidade das formas acabadas e suficientes, mas com uma pequena cabeça móvel onde parece concentrar-se toda a sua estranha vida. Chegam deslizando sobre o mar mas não nadam, quase como se fossem pássaros, e infligem a morte com fragilidade e graciosa ferocidade. Permanecem longo tempo em silêncio, mas depois entre eles gritam com fúria repentina, com um amontoado de sons que quase não varia e aos quais falta a perfeição dos nossos sons essenciais: chamamento, amor, pranto de luto. E como deve ser penoso o seu amar-se: e áspero, quase brusco, imediato, sem uma macia capa de gordura, favorecido pela sua natureza filiforme que não prevê a heróica dificuldade da união nem os magníficos e ternos esforços para a realizar.

Não gostam da água e têm medo dela, e não se percebe porque a frequentam. Também eles andam em bandos mas não levam fêmeas e adivinha-se que elas estão algures, mas são sempre invisíveis. Às vezes cantam, mas só para si, e o seu canto não é um chamamento, mas uma forma de lamento angustiado. Cansam-se depressa, e quando cai a noite estendem-se sobre as pequenas ilhas que os transportam e talvez adormeçam ou olhem para a lua. Vão-se embora deslizando em silêncio e percebe-se que são tristes.

António Tabucchi, "Mulher de Porto Pim" Difel, 1998
Trad. Maria Emília Marques Mano
Foto: Gregory Colbert, "Ashes and Snow"

quarta-feira, 25 de junho de 2008

THE GHOST OF TOM JOAD

Hoje lembrei-me desse grande livro chamado "As Vinhas da Ira" e apeteceu-me ouvir o "Boss".



The ghost of Tom Joad

Men walkin' 'long the railroad tracks
Goin' someplace there's no goin' back
Highway patrol choppers comin' up over the ridge
Hot soup on a campfire under the bridge
Shelter line stretchin' round the corner
Welcome to the new world order
Families sleepin' in their cars in the southwest
No home no job no peace no rest

The highway is alive tonight
But nobody's kiddin' nobody about where it goes
I'm sittin' down here in the campfire light
Searchin' for the ghost of Tom Joad

He pulls prayer book out of his sleeping bag
Preacher lights up a butt and takes a drag
Waitin' for when the last shall be first and the first shall be last
In a cardboard box 'neath the underpass
Got a one-way ticket to the promised land
You got a hole in your belly and gun in your hand
Sleeping on a pillow of solid rock
Bathin' in the city aqueduct

The highway is alive tonight
But where it's headed everybody knows
I'm sittin' down here in the campfire light
Waitin' on the ghost of Tom Joad

Now Tom said "Mom, wherever there's a cop beatin' a guy
Wherever a hungry newborn baby cries
Where there's a fight 'gainst the blood and hatred in the air
Look for me Mom I'll be there
Wherever there's somebody fightin' for a place to stand
Or decent job or a helpin' hand
Wherever somebody's strugglin' to be free
Look in their eyes Mom you'll see me."

The highway is alive tonight
But nobody's kiddin' nobody about where it goes
I'm sittin' downhere in the campfire light
With the Ghost of Tom Joad.

Bruce Springsteen
"The Ghost of Tom Joad" (1995)

sábado, 21 de junho de 2008

O MEU PÉ DE LARANJA LIMA


"— Mas que lindo pezinho de Laranja Lima! Veja que não tem nem um espinho.
Ele tem tanta personalidade que a gente de longe já sabe que é Laranja Lima. Se eu fosse do seu tamanho, não queria outra coisa.
— Mas eu queria um pé de árvore grandão.
— Pense bem, Zezé. Ele é novinho ainda. Vai ficar um baita pé de laranja. Assim ele vai crescer junto com você. Vocês dois vão se entender como se fossem dois irmãos.
Você viu o galho? É verdade que o único que tem, mas parece até um cavalinho feito pra você montar.
Estava me sentindo o maior desgraçado da vida. (...)... Sempre eu tinha que ser o último.
Quando crescesse iam ver só. Ia comprar uma selva amazónica e todas as árvores que tocavam no céu, seriam minhas.(...)
Emburrei. Sentei no chão e encostei a minha zanga no pé de Laranja Lima. Glória se afastou sorrindo.
— Essa zanga não dura, Zezé. Você vai acabar descobrindo que eu tinha razão.
Cavouquei o chão com um pauzinho e começava a parar de fungar. Uma voz falou vindo de não sei onde, perto do meu coração.
— Eu acho que sua irmã tem toda a razão.
— Sempre todo mundo tem toda a razão. Eu é que não tenho nunca.
— Não é verdade. Se você me olhasse bem, você acabava descobrindo.
Eu levantei assustado e olhei a arvorezinha. Era estranho porque sempre eu conversava com tudo, mas pensava que era o meu passarinho de dentro que se encarregava de arranjar fala.
— Mas você fala mesmo?
— Não está me ouvindo?
E deu uma risada baixinha. Quase saí aos berros pelo quintal. Mas a curiosidade me prendia ali.
— Por onde você fala?
— Árvore fala por todo canto. Pelas folhas, pelos galhos, pelas raízes. Quer ver? Encoste seu ouvido aqui no meu tronco que você escuta meu coração bater. Fiquei meio indeciso, mas vendo o seu tamanho, perdi o medo. Encostei o ouvido e uma coisa longe fazia tique... tique...
— Viu?
— Me diga uma coisa. Todo mundo sabe que você fala?
— Não. Só você.
— Verdade?
— Posso jurar. Uma fada me disse que quando um menininho igualzinho a você ficasse meu amigo, que eu ia falar e ser muito feliz.
— E você vai esperar?
— O quê?
— Até eu me mudar. Vai demorar mais de uma semana. Será que você não vai se esquecer de falar nesse tempo?
— Nunca mais. Isto é, para você só. Você quer ver como eu sou macio?
— Como é que...
— Monte no meu galho. Obedeci.
— Agora, dê um balancinho e feche os olhos.
Fiz o que mandou.
— Que tal? Você alguma vez na vida teve cavalinho melhor?
— Nunca. É uma delícia. Até vou dar o meu cavalinho Raio de Luar para meu irmão menor. Você vai gostar muito dele, sabe?
Desci adorando o meu pé de Laranja Lima.
— Olhe, eu vou fazer uma coisa. Sempre quando puder, antes de mudar, eu venho dar uma palavrinha com você... Agora preciso ir, já estão de saída lá na frente.
— Mas, amigo não se despede assim.
— Psiu! Lá vem ela.
Glória chegou mesmo na hora em que eu o abraçava.
— Adeus, amigo. Você é a coisa mais linda do mundo!
— Não falei a você?
— Falou, sim Agora se vocês me dessem a mangueira e o pé de tamarindo em troca da minha árvore, eu não queria.
Ela passou a mão nos meus cabelos, ternamente.
— Cabecinha, cabecinha!...
Saímos de mãos dadas.
— Godóia, você não acha que sua mangueira é meio burrona?
— Ainda não deu para saber, mas parece um pouco.
— E o pé de tamarindo de Totoca?
— É meio sem jeitão, por quê?
— Não sei se posso contar."

José Mauro de Vasconcelos . "O Meu Pé de Laranja Lima"

Devia ter 10 ou 11 anos, não me lembro da cara nem do nome da professora, mas recordo-me que uma vez por semana havia sempre uma aula dedicada á leitura. Foi ai que conheci a história do Zezé, do Portuga e do pé de laranja lima.
Nunca deixamos de ser crianças e a história continua hoje a ter tanto encanto como dantes.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

CONTOS DE FADAS


Felizes dos adultos que nunca deixaram morrer a criança dentro de si. Felizes dos adultos que ainda acreditam em fadas.

O PEIXE

Cá fora a tarde estava maravilhosa e fresca. A brisa dançava com as ervas dos campos. Ouviam-se pássaros a cantar. O ar parecia cheio de poeira de oiro.
Oriana foi pela floresta fora, correndo, dançando e voando, até chegar ao pé do rio. Era um rio pequenino e transparente, quase um regato; nas suas margens cresciam trevos, papoilas e margaridas. Oriana sentou-se entre as ervas e as flores a ver correr a água. De repente ouviu uma voz que a chamava:
- Oriana, Oriana.
A fada voltou-se e viu um peixe a saltar na areia.
- Salva-me, Oriana - gritava o peixe. - Dei um salto atrás de uma mosca e caí fora do rio.
Oriana agarrou no peixe e tornou a pô-lo na água.
- Obrigado, muito obrigado - disse o peixe, fazendo muitas mesuras. - Salvaste-me a vida e a vida de um peixe é uma vida deliciosa. Muito obrigado, Oriana. Se precisares de alguma coisa de mim lembra-te que eu estou sempre às tuas ordens.
- Obrigado - disse Oriana - agora não preciso de nada.
- Mas lembra-te da minha promessa. Nunca esquecerei que te devo a vida. Pede-me tudo o que quiseres. Sem ti eu morreria miseravelmente asfixiado entre os trevos e as margaridas.
A minha gratidão é eterna.
- Obrigado - disse a fada.
- Boa tarde, Oriana. Agora tenho de ir embora, mas quando quiseres vem ao rio e chama por mim.
E com muitas mesuras o peixe despediu-se da fada.
Oriana ficou a olhar para o peixe, muito divertida porque era um peixe muito pequenino, mas com um ar muito importante.
E quando assim estava a olhar para o peixe viu a sua cara reflectida na água. O reflexo subiu do do fundo do regato e veio ao seu encontro com um sorriso na boca encarnada. E Oriana viu os seus olhos azuis como safiras, os seus cabelos loiros como as searas, a sua pele branca como lírios e as suas asas cor do ar, claras e brilhantes.
- Mas que bonita que eu sou - disse ela. Sou linda. Nunca tinha pensado nisto. Nunca me tinha lembrado de me ver! Que grandes são os meus olhos, que fino que é o meu nariz, que doirados que são os meus cabelos! Os meus olhos brilham como estrelas azuis, o meu pescoço é alto e fino como uma torre. Que esquisita que a vida é! Se não fosse este peixe que saltou para fora da água para apanhar a mosca eu nunca me teria visto. As árvores, os animais e as flores viam-me e sabiam como sou bonita. Só eu é que nunca me via!

Excerto de "A Fada Oriana"
Sophia de Mello Breyner Andresen

DIA INTERNACIONAL DO LIVRO INFANTIL


Foi no dia 2 de Abril de 1805 que nasceu o poeta e escritor de contos infantis, Hans Christian Anderson. Por esta razão, foi instituido em 1967, o Dia Internacional do Livro Infantil.

domingo, 25 de novembro de 2007

O CRIME DO PADRE AMARO



«Amélia quis logo saber a história; e sentando-se no mocho do piano, embrulhando-se no seu xale:

- Diga, Tio Cegonha, diga!

Era um homem que tivera em novo uma grande paixão por uma freira; ela morrera no convento daquele amor infeliz; e ele, de dor e de saudade, fizera-se frade franciscano...

- Parece que o estou a ver...

- Era bonito?

- Se era! Um rapaz na flor da vida, rico... Um dia veio ter comigo ao órgão: "Olha o que eu fiz", disse-me ele. Era um papel de música. Abria em ré menor. Pôs-se a tocar, a tocar... Ai, minha rica menina, que música! Mas não me lembra o resto!

E o velho, comovido, repetiu no piano as notas plangentes da Meditação em ré menor.

Amélia todo o dia pensou naquela história. De noite veio-lhe uma grande febre, com sonhos espessos, em que dominava a figura do frade franciscano, na sombra do órgão da Sé de Évora. Via os seus olhos profundos reluzirem numa face encovada: e, longe, a freira pálida, nos seus hábitos brancos, encostada ás grades negras do mosteiro, sacudida pelos prantos do amor! Depois, no longo claustro, a ala dos frades franciscanos caminhava para o coro: ele ia no fim de todos, curvado, com o capuz sobre o rosto, arrastando as sandálias, enquanto um grande sino, no ar nublado, tocava o dobre dos finados. Então o sonho mudava: era um vasto céu negro, onde duas almas enlaçadas e amantes, com hábitos de convento e um ruído inefável de beijos insaciáveis, giravam, levadas por um vento místico; mas desvaneciam-se como névoas, e na vasta escuridão ela via aparecer um grande coração em carne viva, todo traspassado de espadas, e as gotas de sangue que caíam dele enchiam o céu duma chuva escarlate19.

Ao outro dia a febre acalmou. O doutor Gouveia tranqüilizou a S. Joaneira com uma simples palavra:

- Nada de sustos, minha rica senhora, são os quinze anos da rapariga. Hão-de-lhe vir amanhã as vertigens e os enjôos... Depois acabou-se. Temo-la mulher. »



Na igreja, ao lado, bateram devagar dez horas.

Que faria ela àquela hora? pensava. Costurava decerto, na sala de jantar: estava o escrevente: jogavam a bisca, riam - ela roçava-lhe talvez com o pé, no escuro, debaixo da mesa. Recordou o seu pé, o bocadinho da meia que vira quando ela saltava as lamas na quinta, e essa curiosidade inflamada subia pela curva da perna até ao seio, percorrendo belezas que suspeitava... O que ele gostava daquela maldita! E era impossível obtê-la! E todo o homem feio e estúpido podia ir à Rua da Misericórdia, pedi-la à mãe, vir à Sé dizer-lhe: "Senhor pároco, case-me com esta mulher", e beijar, sob a proteção da Igreja e do Estado, aqueles braços e aquele peito! Ele não. Era padre! Fora aquela infernal pega da marquesa de Alegros!...

Abominava então todo o mundo secular - por lhe ter perdido para sempre os privilégios: e como o sacerdócio o excluía da participação nos prazeres humanos e sociais, refugiava-se, em compensação, na idéia da superioridade espiritual que lhe dava sobre os homens. Aquele miserável escrevente podia casar e possuir a rapariga - mas que era ele em comparação dum pároco a quem Deus conferia o poder supremo de distribuir o Céu e o Inferno?... - E repastava-se deste sentimento, enchendo o espírito de orgulhos sacerdotais. Mas vinha-lhe bem depressa a desconsoladora idéia que esse domínio só era válido na região abstrata das almas; nunca o poderia manifestar, por atos triunfantes, em plena sociedade. Era um Deus dentro da Sé - mas apenas saia para o largo, era apenas um plebeu obscuro. Um mundo irreligioso reduzira toda a ação sacerdotal a uma mesquinha influência sobre almas de beatas... E era isto que lamentava, esta diminuição social da Igreja, esta mutilação do poder eclesiástico, limitado ao espiritual, sem direito sobre o corpo, a vida e a riqueza dos homens...

Eça de Queiroz
"O Crime do padre Amaro"



Eça de Queiroz (25.11.1845 - 16.08.1900)



"O Crime do padre Amaro" foi o primeiro livro do Eça que eu li. Era adolescente e empolguei-me de tal maneira que o li numa assentada.

Entusiamado com o Eça não descansei enquanto não li quase toda a obra.

No liceu toda a gente odiava o Eça, eu só lhes dizia: "Vocês não gostam porque lêem por obrigação, eu li por prazer".
"Os Maias podem ser a grande obra do Eça mas a minha preferida será sempre "O Crime do Padre Amaro".

Por isso escolhi estes textos para celebrar os 162 anos do escritor.

Imagens: William Bouguereau

sábado, 17 de novembro de 2007

DESAFIO LITERÁRIO



Fui mais uma vez apanhado pelo desafio literário. Desta vez é o Zé Povinho que vem cuscar os meus gostos literários. Como eu gosto deste tipo de desafios aí vai:

1) Pegar num livro que tenham à mão ... não vale procurar

2) Abri-lo na página 161,

3) Procurar a 5ª frase completa.

4) Postá-la no vosso blog.

5) Passar o desafio a 5 bloggers.

6) É proibido ir buscar o melhor livro, nem postar a frase que acharem mais interessante.

7) Divulgar o nome e o autor do Livro.


Este é daqueles que eu gosto e fui logo à prateleira tirei um à sorte e calhou-me este:




"Um único carrasco podia substituir toda a justiça."


O livro é daqueles que quase toda a gente conhece ou ouviu falar e chama-se "O Processo" e foi escrito por Franz Kafka.




O livro conta a história do Sr. K, um pacato cidadão que se vê de súbito acusado de um crime. K nunca é informado da natureza do seu crime e vê-se confrontado com um sistema de justiça completamente surrealista.


Um caso que seria impossível de suceder na vida real.


Deveria passar este desafio a 5 pessoas mas vou deixá-lo por aqui para quem quiser pegar nele.


quinta-feira, 1 de novembro de 2007

DESAFIO LITERÁRIO


Aqui está um daqueles desafios que me agradam, e que cá veio parar outra vez. Desta vez as desafiantes foram a Gi e a Avelaneira Florida.

Então aqui estão as regras:

1) Pegar num livro que tenham à mão ... não vale procurar
2) Abri-lo na página 161,
3) Procurar a 5ª frase completa.
4) Postá-la no vosso blog.
5) Passar o desafio a 5 bloggers.
6) É proibido ir buscar o melhor livro, nem postar a frase que acharem mais interessante.
7) Divulgar o nome e o autor do Livro.

Então o livro que está mais à mão é o primeiro da minha lista de espera de livros para ler, chama-se "A Alma Trocada" e é da autoria de Rosa Lobato de Faria.
Confesso que nunca li nada da Rosa mas este livro despertou a minha curiosidade. No nosso país não é muito comum ver um escritor conhecido arriscar-se a abordar um tema tabú como a homossexualidade.

Ando mesmo a precisar de férias, aqui está a frase:
"Nada melhor para amenizar o luto que uma mudança de cenário."

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

A PÉROLA


«Kino, com o seu orgulho, a sua juventude e a sua força, conseguia permanecer debaixo de água durante mais de dois minutos, sem esforço, de modo que trabalhava deliberadamente, escolhendo as conchas maiores. Porque estavam a saer perturbadas, as ostras fechavam hermeticamente as suas conchas. Um pouco à sua direita erguia-se um aglomerado pedregoso, coberto de ostras demasiado pequenas para serem apanhadas. Kino aproximou-se desse aglomerado e, de repente, ao lado dele, por baixo de uma pequena saliência, viu uma ostra muito grande, isolada, sem irmãs agarradas a ela. A concha estava parcialmente aberta, porque a saliência protegia aquela ostra antiga, e, no manto semelhante a um lábio, Kino vislumbrou um brilho, antes que a concha se fechasse. O seu coração começou a bater com violência e a canção da pérola ambicionada soou, estridente aos seus ouvidos. Lentamente libertou a ostra e agarrou-a contra o peito. Soltou o pé da argola da pedra e o seu corpo elevou-se até à superficie e o seu cabelo negro brilhou à luz do sol. Agarrou-se ao rebordo da canoa e pousou a pérola no fundo.
(...)
Juana sentiu a excitação dele e fingiu afastar o olhar. Não é bom desejar muito uma coisa. Pode arredar a sorte. Basta desejá-la um pouco, porque é preciso tacto com Deus ou com os deuses.
(...)
Kino introduziu hábilmente a faca entre as valvas da concha. sentia a resistência do manto contra a faca. Usou a lâmina como uma alavanca e o músculo cedeu e a concha abriu-se. A carne semelhante a um lábio contorceu-se e depois descaiu. Kino ergueu a carne e lá estava ela, a grande pérola, perfeita como a lua. Captou a luz, sublimou-a e reflectiu-a em incândescências prateadas. Era tão grande como um ovo de gaivota. Era a maior pérola do mundo»

"A Pérola", John Steinbeck, 1947


Quantas vezes os nossos mais belos sonhos não se transformam em pesadelos?

Quantas vezes os nossos maiores tesouros não se transformam em maldições?

Kino é um jovem pescador de pérolas que vive com a esposa, Juana e o seu filho bebé, Coyotito. Um dia Coyotito é picado por um escorpião. Kino corre até ao médico local que se recusa a tratar o bebé porque o pai é pobre e não pode pagar.
O jovem pescador não tem outra hipótese senão fazer-se ao mar para tentar encontrar uma pérola suficientemente grande para pagar os tratamentos da criança. Durante o mergulho a sorte parece sorrir a Kino que encontra uma pérola enorme, de um tamanho nunca visto até então. Só que o que parecia ser um grande tesouro, não tarda a revelar-se como uma terrível maldição...

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

A BOLOTA



A bolota taluda ficara ali muito quieta, muito bem refastelada em virtude do próprio peso, enterrada que nem pelouro de batalha depois de passarem carros e carretas. Que fazer senão deitar-se a dormir?! Dormiu uma hora ou uma vida inteira, quem sabe?! Um laparoto veio lá de cascos de rolha, rapou a terra, fez um toural, aliviou-se, e ela ficou por baixo, sufocada sem poder respirar, em plena escuridão. Estava no fim do fim? Um belisco, e do seu flanco saiu como uma flecha. Era de luz ou de vida? Era uma fonte ou antes um cântico de ave, de água corrente, de vagem a estalar com o sol (... )? Era tudo isto, encarnado no fogo incomburente que lhe lavrava no flanco, verbo que acabou por irradiar do próprio mistério do seu ser.

Do pinhão, que um pé-de-vento arrancou da pinha-mãe, e da bolota, que a ave deixou cair no solo, repetido o acto mil vezes, gerou-se a floresta.


Aquilino Ribeiro
"A Casa Grande de Romarigães" 1957


Aquilino Ribeiro
13 de Setembro de 1885
7 de Maio de 1963

"É um inimigo do Regime. Dir-lhe-á mal de mim; mas não importa: é um grande escritor."

António de Oliveira Salazar

sexta-feira, 4 de maio de 2007

FILIPA DE LENCASTRE NO PALÁCIO DE SINTRA

A Esfera do Livros vai publicar um romance histórico baseado na figura de Filipa de Lencastre, intitulado “Filipa de Lencastre – A Rainha que Mudou Portugal”, da autoria da jornalista Isabel Stilwell.

Para assinalar o lançamento deste romance histórico, Isabel Stilwell propõe uma visita guiada ao Palácio Nacional de Sintra, no centro da Vila, no dia 4 de Maio, pelas 11h00.
A escolha recai no Palácio da Vila, por este ser um dos locais preferidos da Rainha Filipa de Lencastre, mulher de El-Rei D. João I. Ao casal deve-se a construção da cozinha do Palácio da Vila e das suas famosas chaminés geminadas, as quais constituem um dos mais famosos monumentos de Sintra.

D. Filipa nasceu em Inglaterra em 1359 e, aos 29 anos, casou com D. João I de Portugal. Foi mãe de 8 filhos, a chamada ínclita geração, príncipes cultos e respeitados em toda a Europa – que mudaria para sempre os destinos da nação. Infante D. Henrique (o Navegador), o Rei D. Duarte (poeta e escritor) e D. Fernando (o Infante Santo), são disso exemplo.

Mulher de uma fé inabalável, conhecida pela sua generosidade, empreendedora e determinada a mudar os usos e costumes de uma corte tão diferente da sua, D. Filipa de Portugal morreu vítima de peste negra, tal como a sua mãe, a 15 de Julho de 1415, aos 55 anos de idade.

Num romance baseado numa investigação histórica cuidada, Isabel Stilwell conta-nos a vida de uma das mais importantes rainhas de Portugal. Desde a sua infância em Inglaterra, onde conhecemos a corte do século XIV, à sua chegada de barco a Portugal, onde somos levados numa vertigem de sentimentos e afectos, aventuras e intrigas.

Isabel Stilwell é jornalista e directora da revista “Notícias Magazine”. Sempre se confessou apaixonada por romances históricos e, desta vez, atreveu-se a pesquisar a vida de Philippa of Lancaster, mais tarde Filipa de Portugal, e a passar a escrito a sua história.

Notícia tirada de: Sintravox
Mais informações: Esfera dos Livros