O SC Beira-Mar inicia hoje a participação na II Liga, depois
de um defeso futebolístico e de uma pré-época marcada por episódios sucessivos verdadeiramente
decepcionantes e vergonhosos como, aliás, nunca me lembro de assistir desde que
sou sócio do clube.
Poucos dias depois de estar consumada a descida de divisão,
eis que surge Majid Pishyar a descansar os sócios, que a intenção era construir
uma equipa forte, competitiva e capaz de lutar pelo regresso ao primeiro escalão
do futebol português. Estava consumada a primeira grande mentira deste defeso.
Os dias seguintes mostraram uma realidade diferente. O SC Beira-Mar foi a penúltima
equipa a anunciar o treinador, a pouco mais de uma semana do início da II Liga,
tinha apenas 15/16 jogadores e o investimento em jogadores experientes e de
qualidade foi nula. A aposta na «prata da casa» acabaria por surgir em sequência
de uma mentira, ou seja, a aposta em treinadores com passado no clube, a promoção
de vários ex. juniores e a oportunidade que estava a ser dada a jogadores que
pouco tempo de competição tiveram na época passada, não foi algo premeditado, não
foi algo que tenha surgido com base num plano organizado, mas tão só, consequência
de uma SAD na «corda bamba» e que há muito se viu não estar interessada em
fazer crescer o emblema aveirense.
Ainda assim, Jorge Neves «pegou» numa equipa curta, da qual
restam apenas dois ou três titulares do ano anterior (Rui Rego, Nildo…),
composta por jogadores até aqui sem espaço no clube (André Sousa é o melhor
exemplo) e por apenas dois reforços, oriundos dos escalões inferiores, e a
verdade é que, surpreendentemente, o SC Beira-Mar já se apurou para a segunda
fase da Taça da Liga e tem que conseguido mostrar ser competitivo. Muito mérito
para Jorge Neves e para um grupo (curto) de jogadores humildes, sem «nome», mas
com vontade de honrar a camisola e singrar no futebol português. O melhor desta
pré-época foi mesmo os treinadores e os jogadores, o resto… mas os
beiramarenses não se iludam, porque no futebol não há milagres e os adeptos têm
que perceber que começar um campeonato com apenas 18 jogadores disponíveis e
com apenas 2 avançados que no ano passado eram mais do que reservistas
(Batatinhas fez zero golos e Tiago Cintra chegou a ser emprestado), é bastante
complicado.
Mas pior, muito pior do que a questão futebolística, foi
assistir à novela protagonizada pela SAD e pela Direcção do clube.
A Direcção, cansada das mentiras e do incumprimento do
investidor iraniano, decidiu pedir insolvência da SAD; esta continua a
defender-se, alegando que tem vindo a pagar as dividas e que quem não cumpriu
foi a Direcção ao não conseguir, entre outras coisas, passar a gestão do Estádio
para a SAD. Com este divorcio consumado, é o SC Beira-Mar quem paga! Com este
cenário único no universo do futebol português, quem sofre são os que gostam
verdadeiramente do clube! Tudo isto é triste…a equipa não fez um jogo de
apresentação aos sócios, a equipa apresenta-se com uns equipamentos da Hummel e
treina com outros da marca Joma, numa prova de total falta de profissionalismo,
numa prova de total abandono a que a equipa está sujeita…
Perante tudo isto, como é que querem que as pessoas de
Aveiro se aproximem da equipa de futebol? Como é possível o que estão a fazer
com a questão dos bilhetes aos Ultras Auri-Negros? Como é possível os bilhetes
para um jogo da Taça da Liga não estarem à venda na Casa do Beira-Mar? Como é
possível que um jogador para assinar contrato, tenha que ter o aval de dois
empresários da bola que, no fundo, são quem também mandam no plantel?
Em resumo: o SC Beira-Mar vai mesmo marcar presença na II
Liga mas a grande questão é: chegará ao fim? Se na I Liga, teve ordenados em
atraso, na II Liga vai ser melhor? E se o Tribunal de Aveiro der razão à Direcção
no que diz respeito à insolvência? Cairá o clube nos Distritais? E os sócios
que também autorizaram este pedido de insolvência, por acaso, lembraram-se dos
iniciados, dos juvenis e dos juniores, que sem culpa nenhuma, poderão também
eles ser relegados para os campeonatos distritais?
Resta-me continuar a confiar em Jorge Neves e na sua equipa
técnica, bem como nos jogadores que já deram mostras de serem briosos e
excelentes profissionais, para que seja possível continuar a surpreender, até
porque, parece-me que esta II Liga, à excepção do Moreirense, não tem nenhuma
outra equipa capaz de se catalogar como verdadeiramente favorita à subida.