Que agudos e secretos sustenidos
as tuas mãos iniciaram?
Que melodia me golpeaste na pele
que encheu de luz
os meus olhos cerrados na noite
e acordaram em mim
a minha vocação de pássaro?
Que melodia é essa que altera o timbre do vento
e suspende o ímpeto do voo?
Olho o espaço amplo e silencioso,
chovem-me os teus gorjeios de ave,
porém… eu nunca soube amar
mais que a loucura de uma asa,
nem sei se a tua voz
resgatará a minha, perdida na loucura
de tantas bocas.
Continuo adormecido
na nua e frágil superfície dos dias
enquanto um fogo lento me persegue.
Mas sempre estiveste em mim,
com as tuas asas longas e aventureiras
nas bermas da minha pele,
no infinito de mim
voando pelos caminhos do meu ser
percorrendo a minha alma,
acordando os meus desejos…
No mais singular e lúcido gesto
deixo que vertas toda a mágoa,
na dilacerada plumagem do meu peito
até que no aconchego das nossas asas
o fogo nos consuma.
albino santos
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