sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Cinematic Orchestra
"There is a house built out of stone
Out in the garden where we planted the seeds
There is a tree as old as me
Branches were sewn by the color of green
Ground had arose and passed it's knees
By the cracks of the skin I climbed to the top
I climbed the tree to see the world
When the gusts came around to blow me down
I held on as tightly as you held onto me
I held on as tightly as you held onto me...
Cause, I built a home
for you
for me
Until it disappeared
from me
from you
And now, it's time to leave and turn to dust..."
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Lost Control
Do teu jeito de ser endiabrado
Embalada no manjar dos ponteiros
Cairia sobre o teu peito intermitente
Como uma bomba relógio
Montada e alterada por terceiros.
Nada é meu
Tudo é um nunca
E nada é um sempre
Que dificilmente iremos alcançar.
Em validade me deito
Em validade me levanto
Tudo é efémero
Nada se agarra
Mas eu agarro-te
(enquanto posso)
Um dia o calvário monta-se
E perdemo-nos os dois
A flutuar sobre cada palavra desenhada
Nos contornos do ar
Sairemos a questionar a nossa vida
( Quanto tempo demorará a chegar ao chão? )
Aí lembra-te que as horas voam como promessas juvenis
Enquanto guardas rancor no baú de cada acção
Vamos esbarrar-nos em colisão com a terra dura
Que nos aguarda enternecida de destruição
Na terra dura, ouviste? Na terra dura!
Não será tarde para me extorquires perdão?
( Quanto tempo demorará a chegar ao chão?)
Em validade me deito
Em validade me levanto...
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Velho
Olhe!
Sim, é você, aí na escada...Você que nem merece o você que lhe dirijo! Porque anda pelas esquinas como cachorro feito mendigo da vida?
Inúmeras alcateias revoltadas lançam-se na sua direcção.
Esqueça o poder porque
Não é senhor
Nem conde
Nem possui requisito mínimo para ser respeitado
É um farsolas
Um pobre gabarolas
Que se finge muito educado
Tresloucado, é o que é!
Tire essa máscara de pobre arrependido, conserte os erros e tape os buracos que fulminou. Deixe de se dar por vencido!
Não?
Como não?!
O que é você afinal?
É um pobre de espírito
Que nada vê senão negrura
Que nada vê se não loucura
E louca me torna a mim!
E eu grito de pulmões acesos, simplesmente porque não vejo mudança nesse andar de cavaleiro. Se sente por perto o odor do dinheiro corra na oposta direcção!
Já chega!
A traição!
Estou rouca de si e das suas façanhas. Quero que viva sem hora e exorcize essas entranhas:
Tão pestilentas
Malcheirosas
Fedorentas!
A cama que fez...
É aquela onde se vai deitar!
Chegou o meu comboio
A-d-e-u-u-u-u-u-u-s!
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Texugos
Estou imóvel numa corrida para o pólo contrário e sinto as pernas adormecidas por um formigueiro picadiço que te ondula, com discrepâncias, ao sabor da minha linfa. E ah, felizes de nós! Morremos juntos!
E enchem-se as ruas daquele fedor invasivo que mata a biologia espalhada no meio citadino, que afoga a aura num bruxedo de enxofres e poções carbónicas!
Respiram, inspiram e expiram maldade, hipocrisia e manipulação. Ui quanta manipulação! É altamente contagioso... Um hospício saudável de vultos senis que seguem a rotina tão somente marcada pelo egocentrismo. Loucos, lá vão agarrados ao relógio, a apitar nas intermináveis filas de trânsito em hora de ponta e a insultarem-se sem que ninguém dê por isso. Não sou contra, até faz bem.
Fiquei em gelo, aqui estendida neste leito. Decidi levantar-me com o cortejo que me sobra e fui reacender a fogueira que cessou. Afinal, ainda acredito que possa renascer das cinzas.
sábado, 4 de dezembro de 2010
Ah, Ontem!
Ardia-me a pele em chamas
O Diabo apoderou-se da minha incerteza
Ardia-me em queixumes a voz
Exorcizaram-me a força e a destreza
A Negra labareda veloz
Consumiu a minha existência!
Ontem...
Ardia-me em gelo o peito
Dum aperto vincado, sem fim
A voz afónica presenteava o defeito
Que pairava longinquamente perto de mim
E Calaram-se todos!
Ontem...
Gelava-me a leviandade
Enfeitando cada lágrima de flocos suaves
E os sorrisos enchiam-se de promiscuidade
Numa rota de falhas e meias-verdades
E eu dispersa...
Largada na corrente
Cobiçada por uma serpente
Venenosa.
Encabeçada de uma vontade enorme de me excluir,
De vez.
Ontem...
Ainda havia vento
E sentimento
E maresia
E luz do dia!
Hoje,
agonia!
E amanhã,
restos do manjar imaculado da serpente
e cinzas na escuridão.
E depois do amanhã serei fantasma,
espectro,
assombração!
Ah, quem me dera ser o ontem...
terça-feira, 30 de novembro de 2010
E dizer que nunca mais vais ser feliz
Não há ninguém a conspirar
Para fazer destinos
Negros de raiz
Pára de chorar
Não ligues a quem diz
Que há nos astros o poder
De marcar alguém
Só por prazer
Por isso pára de chorar
Carrega no batom
Abusa do verniz
Põe os pontos nos Is
Nem Deus tem o dom
De escolher quem vai ser feliz
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Rasgados
Naquela paragem tão breve
Onde o vento me acolheu
E abalou a dança das espigas sonolentas
E, florescendo num ápice a neve,
A carnuda rosa se ergueu
Leve, levemente...
Parei
Num tempo tão sinónimo
Que o relógio desvitalizou-se
E protestou do fundo dos seus pulmões.
Os ponteiros pecaminosos desviaram-se do rumo
Por um homónimo,
Fruto de mais variadas oscilações
E num dilúvio tão doce
Hora é de procurar comunhões.
E a precisão, que é dela?
Parei
Numa folha tão cheia
Quanto vazia é a vida
Daqueles que não amam...
Parei
Pelos campos verdejantes
Alcatifados de mantos dourados
Onde pairam eternamente recordações
Intocáveis e discretas
De tão felizes tempos passados.
Parei
Invejei cada gota de orvalho
Pela exactidão do seu cortejo
Invejei cada memória
Onde permanecia o sabor do teu beijo
Que se rasgou também, no tempo.
E não sei dizer sim à vida...
Parei
E desde lá...
Nunca, nunca, nunca mais me encontrei...
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
É igual
De gritos esbanjadores e sonolência
De guionista, cenário e fundo animalesco
É igual, monótono e pitoresco.
Fecham-se as pálpebras,
Dor...mência!
Zzzzzzzzzzz!
A calçada é igual...
A fachada é igual...
A tinta é igual...
Igual, igual, igual.
Nada de encanto singular
Numa sala decorada de notáveis peças.
A criatividade?
Olha, fugiu-me!
Escondeu-se e evaporou-se
Como a água após passar o leito.
A autenticidade?
Olha, tiraram-ma!
Arrancaram-ma quando fizeram de mim um molde
A espelhar por toda a parte.
Metabolismo da treta este,que absorve rancores
E se congestiona com sentimentos baldios.
Alistam-se exércitos de clones
Na rede de pousios onde raiará sangue.
Aqui?
Florescerão tão belos esqueletos!
Jorrarão missivas de arrependimento
Ressoando como insígnias em panfletos
De tão repetido repetimento!
E histórias afundar-se-ão numa garrafa de vidro
Sem tempo para arrependimento
Nem pensamento... no tempo devido.
Aviso, aviso! Alerta...
Em vão.
E a fachada é igual...
E o sangue é igual...
E a adenina é igual...
E a timina é igual...
E a guanina é igual...
E a citosina é igual...
Muda o homem...
Não, que o homem é igual!
E é tudo igual...
Igual, igual, igual, igual, igual, igual, igual, igual.
Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz!
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Bateria Fraca
Quando perco o rumo, sinto que o chão é apenas ilustrativo porque o fosso onde caminho é colossal e recheado de pedras flutuantes, raiado pelo céu tão negro que quase nem enaltece a beleza do Outono cá de baixo.
Quando perco o rumo, rodopio entre presente e passado e deixo bem abertas, prontas a salgar, as feridas cozidas à pressa por inconvenientes mudanças pelas quais tive de discernir. Deixo-as, de tal forma abertas, que quase é possível ver as entranhas e cada pedaço reles e satânico que me possui. A bateria fraca da bomba que me move, tira-me do chão, faz-me levitar... aos poucos... levemente... Até que volto ao labirinto de dissabores, o labirinto circular, cujas paredes nuas e com défices precários contam, palreando entre si, a história da minha vida.
Quando perco o rumo, perco as cores, os sabores, a noção das horas, a vida que corre nas veias finas e doentias que arrastam o teu nome... Perco o dia, a noite, as estações, os meses e os anos, as maleitas doentias e as cartas do destino que se confundem mutuamente. Tudo num corrupio tão confuso que, com tal azáfama, a respiração nem tem vagar para se soltar dos lábios roxos nem a visão consegue exercer funções e cumprimentar as pupilas dos teus olhos castanho-mel.
Quando perco o rumo, perco-me. Perco-me do que sou e do que fui e vejo um monstro cheio de jeitos ridículos a mexer-se do outro lado do espelho. Perco-me das pessoas e afasto cada uma das suas insistências, ainda que carregadas de boas intenções.
Quando perco o rumo, perco-vos e quero-vos tão longe quanto a Lua está da Terra, tão longe quanto o Sol está de mim, tão longe quanto a poeira espacial está da terráquea. Longe o suficiente para que não vos ouça, nem sinta, nem veja!
Quando perco o rumo, perco-nos. Ah mentira! Até sem cores nem sabores nem horas nem vida a patinar pelas veias nem dias nem noites nem estações nem meses nem anos nem formas nem confins e afins de pensamentos alheios revelados, eu nos perco! E talvez seja essa a maldição que carrego, que me crucifica e me esfola os sentidos provocando dores em órgãos que desconheço existir.
No entanto... Entretanto nunca amei, é apenas juvenil obsessão. Não tenho forças ou leis para amar, nem muito menos coração!
Pi-pi-pi-pi-e-infindáveis-pi's dão o alerta de bateria fraca!
Estou quase quase a sucumbir, a desligar... (Carregador e tomada? Hã?!)
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Fy
Which I begged for you to hear
I barely lay awake on my sadness
I would pretend I care
You always get your stuff
I will be the one who make you heart to beat
My sweet, sweet darling, what's this?
I made a mess of you...
But my wish indeed it is
I can't wait 'till I fuck you!
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Outubro
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
é isso.
tenho orgulho em dizer que no passado te destrui e te causei sofrimento
a cada pessoa que me pergunte por ti.
Estraguei-te a felicidade em muitos momentos e por diversos motivos tão estúpidos
como a tua existência desajeitada e repleta de defeitos. Deixei-te na
E sabes? Nunca fiz nada mais acertado na minha vida!
sábado, 2 de outubro de 2010
Lara
De olhos mágicos e feições tremendamente exóticas
Com luz de ouro a pairar sob os belos contornos
Esculpida defronte da habitação de dimensões caóticas
À esquerda dum carvalho recheado de frutíferos adornos
Era a estátua mais bonita do palácio!
Fora trabalhada com carinho e vivacidade
Vestida com tecidos da Índia e adornada por tintas chinesas
Era a musa dos habitantes daquela cidade
Aliciante, de postura firme, de sorriso cheio de certezas
Era Lara, a mais bela das princesas
Que pairava sobre o rio Nilo
Em tempos de bonança!
Longos cabelos negros em véu sob a cinta esguia
Ditavam o destino de uma jovem enamorada
Foi deserdada pelo rei e morta à luz do dia
Atenção de olhares curiosos na multidão escandalizada
Agora, entre girassóis e petúnias frescas
São-lhe recitadas as mais belas poesias
"Lara, doce Lara és a luz das nossas noites de folias
E a tristeza dos nossos tristes dias
Lara, doce Lara és a mais bela das nossas alegrias
Lara, doce Lara"
E quando a noite vai alta e o último rouxinol cantante
Se aconchega num ninho de ramos enfadonhos
Lara larga o pedestal e caminha exuberante
Ao encontro do homem dos seus sonhos...
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
...
Apaga o meu nome de ti, não chames mais por mim!
Liberta, peço-te, liberta-me...
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
CannonBall
Só a natureza solitariamente gasta que me rodeia, compadece e partilha dos fugidios certos e errados que se soltam em vão. Está frio, muito frio. As folhas largadas pelo vento são a melhor metáfora para a definição dos meus embaraços. Elas que são companheiras de ramos frágeis que julgam portos seguros, durante largos meses, acabam sopradas por uma rajada de vento inóspita que as desprende do que tinham como certo. São depois calcadas por vultos que se passeiam sem rumos pelas ruas, tecendo duras críticas aos transeuntes, ansiando a construção de uma força interior que os leve a preocupar-se consigo próprios. Apenas superficial. Apenas tudo e nada... e são as pobres folhas que carregam com as lamúrias de quem as sobre trespassa e nelas escorrega, revoltando-se em fúria e pontapeando-as para longe. São um nada que sem nadas concebidos, acabam por levar com tudo. É, é uma linda e nada efémera metáfora que, de linda, nada tem.
É nada, nada, nada... num conjunto de nadas que a nada levam.
É preciso dizer mais alguma coisa? É! Não sou mais metáfora de ninguém! Esqueçam lá isso.
"Stones taught me to fly
Love taught me to lie
Life taught me to die
So it's not hard to fall
When you float like a cannonball"
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Estranho
És o meu perfeito estranho, extremamente dotado de um sorriso encantador que me seduz a visitar-te, a explorar-te, a perder-me em ti e na doçura misteriosa de cada palavra tua. Quero ficar sem terreno, sem noção nem perspectivas. Enfeitiçada!
Quero-te para me livrar do ideal defendido por estes caminhantes tão miseramente iguais.
És extraordinariamente diferente e possuis jeitos encantadores que me levam a desejar-te.
Quero o meu perfeito estranho!
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Nota
Levantou-se o vento, levando as folhas rasgadas, a tinta gasta e permanente e os finais de cada uma das histórias que criei para o meu livro.
Eu tinha planos para hoje... Planeava partilhá-los com aquela doce criança de pequenas tranças escuras, esfarripas nos grandes olhos que me fitam abertamente como se admirassem cada mecha do meu cabelo cor de avô. Chama por mim, aguarda a minha chegada no seu momento de lazer, sorrindo ao de leve, contente pelo momento de liberdade em que se pendura no baloiço e me conta o seu dia. "Hoje aprendi a escrever e a pintar. Um dia vou ser como tu"- diz-me, enquanto noto que se abre um sorriso rasgado na minha face, sinto um tremendo orgulho naquele pequeno ser tão fraco, tão inocente porém repleto de aspirações. Disseram-me me que ela é minha neta mas... eu... Eu não tenho memórias vivas... O meu pensamento funde-se entre palavras e imagens que não consigo juntar, como uma peça ensolarada de um belo puzzle que se afastou das peças-irmãs.
As recordações que esculpi com carinho e suor eram belas, tremendamente belas, com um migalhinho de nobreza a esvoaçar em cada discurso proferido, de tons primaveris que saciavam a alma a cada um dos meus atentos ouvintes. Recordações perdidas... Levitaram para longe e largaram a terra que piso, o tecto firme que me sustentava. Deixaram-me vazio de personalidade, sem memoriais para partilhar.
Ausente da minha presença, sopra o vento sobre as árvores lá ao longe e as nuvens encavalitam-se umas nas outras. O céu adquiriu tonalidades avermelhadas e estou preso nos meus próprios pensamentos. A pequena interrompe a minha divagação, abre muito os olhos e coloca a sua face perto da minha, enquanto me chama.
-Avô!
Sobressalto-me e ela ri de mim. Estou encantado com a leveza daquele riso, com a paz que os olhos sorridentes me transmitem, com o amor que cresceu a cada dia pela pequena, pela harmonia que sinto perante as corridas que dá para alcançar as pombas que alimentamos juntos, pelos mesmos cafés que partilhamos onde eu sucumbo ao meu vício e a aconselho a nunca chegar perto dele. Estou encantado com a minha menina de cabelos encaracolados e vestido de pregas que ela faz bailar, enquanto rodopia sobre si própria e sobre as folhas caídas no jardim. É Outono. Ela é fã do Outono. Gosta de ver as árvores desnudadas, as aves migratórias, os sobretudos a desfilar pelas ruas tristes e solitárias, nada convidativas no tempo frio. Gosta da chuva, muitas vezes me deparei com o seu rostinho inocente a olhar brilhantemente as gotinhas que se adivinhavam na janela do meu quarto. Sei que também gosta do vento, do som que este faz quando roça a esquina e leva consigo um apetrechado de folhas e raminhos na sua dança bamboleante repleta de cicios. Ela havia apanhado folhas do caminho que secou nas páginas de um livro. Apanhou-as da nossa árvore musculosa que enche os caminhos de cimento de rebentos e contou-me que iria realizar uma colagem na escola para terem a salinha decorada de motivos da estação. Ela ficou animadíssima com a ideia da professora. Tem-se empenhado em encontrar as folhas mais sublimes e coloridas e mostra-mas orgulhosa de si própria. Sei que terá um futuro promissor ou que, pelo menos, tem qualidades e inúmeros talentos que a podem levar longe. Sei que é saudável e não cairá em doenças como a minha podendo concretizar os seus desejos e dar asas às suas aspirações. Sei que terá belos traços quando for adolescente, sei que será de baixa estatura por culpa das leis impostas pela hereditariedade, sei que tem possibilidades vastas de sofrer de problemas de índole cardíaca e umas tantas outras de diabetes. Sei que será o meu maior motivo de orgulho, a noiva e mãe mais bonita deste mundo. Sei que será sempre a minha menina, a minha única neta e que a irei guiar neste mundo que introduzi na sua pequena mente.
Disse-lhe um dia para me procurar nas estrelas quando eu for embora, ela prometeu-me que o fará.
Hoje chega, não consigo escrever mais. Este tempo pachorrento puxou pelas minhas maleitas, glorificou a dor que imana das minhas velhas articulações e deixou-me em ponto morto. Preciso de um cigarro para me acalmar e vou embora daqui, não me lembro de nada para contar. Vou levar a minha catraia do baloiço e vamos para casa. Vou deixá-la pintar com os meus marcadores, nunca a tinha deixado. Há uma primeira vez para tudo na vida...
Sinto que o meu vício me está a matar mas dependo dele. A fedelha partiu a tampa do marcador encarnado, fico furioso, grito com ela, deixo-a a chorar no meio da sala, chamo-lhe inútil, fico a amaldiçoar o dia em que nasceu. Eu sabia que não devia ter emprestado os marcadores, eu sabia que hoje não é um bom dia. Hoje estou mais para lá do que para cá.
Sinto-me velho, louco e desamparado de forças. Os meus pulmões atacam constantemente e a respiração está tão pestilenta como os rebuçados de mentol que deixei acumular no bolso do fato bege. Sinto o fim a aproximar-se mas preciso de fumar! Vou embora, vou dar vazão ao meu vício! A pequena ficará bem ao contrário de mim.
Sinto dores, doses mortíferas de dores... não vou durar muito mais tempo. A caneta escorregou-me e parei de escrever. Os meus dedos estão roxos, as mãos tremem-me, a cabeça está colossalmente pesada, o coração esqueceu-se de dar uma e outra batida e a respiração solta-se em forma de soluços continuados que deixam imóvel, irreconhecível numa tonalidade entre o amarelo e o arroxeado. Estou a morrer e a minha neta está presente. Ordeno que a levem daqui! Quero que me recorde como o pintor que a ensinou a manejar os pincéis e a preparar a aguarela bem como a colorir a marcador, bonequinhas vestidas a rigor com costumes do país. Quero que me recorde como o apreciador de poesia que recitava frases de livros de colegas empenhados no ofício, como o escritor de belas histórias antigas de moças com bacias na cabeça que seguiam descalças pela calçada. Quero que me recorde como um homem forte, sábio, conhecedor do mundo e das belas-artes. Não quero que recorde o meu fim animalesco provocado por um vício que se apoderou de mim. Não quero.
Deixarei o meu livro de poesia sobre a mesinha de cabeceira dela. Escrevi lá uma nota a pedir que o leia e que tente criar poemas de bênção do horizonte, de homenagem à natureza que nos rodeia. Ela mais tarde irá compreender a essência das coisas, verá que somos os génios incompreendidos, numa família em que eu era o louco desmedido. Verá que as coisas fazem sentido quando vistas com o coração e não com os olhos. Ver-me-á metaforizado nas estrelas que preenchem o pano negro. Sou a estrela mais brilhante, minha querida.
Olha, olha as estrelas, prometo que irei lá estar! Com amor, JF.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Meu Doce Pianista
Mas é tarde, meu doce pianista...
( Mágico...)
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Márcia
See the world
See the world
See the world
- Um dia vamos ver o mundo juntas! :)
domingo, 12 de setembro de 2010
Veneno
Satanás te aguardará
Na terra do pecado corrosivo
Onde a fogueira de três forcados te engolirá
Qualquer que seja o sonho
Torna-se tão miseramente pequeno
Nas mãos dum monstro tristonho
Chamado por sábios, veneno
É só solução concentrada
De químicos e físicos
São só recuos em fracassos de passada
Argumentos e leis ossudas de tísicos
Oh doce veneno de paladar imaculado
Fazes-me levitar e mergulhar na pedra de calma
Trespassas a minha essência de odor fracassado
Escondes-me os monstros debaixo da cama
Oh doce veneno, força de quem te proclama
E clama aos ventos e sóis e marés e dóis
Dóis... Quando me perfuras em chama!
Oh doce veneno suculento
Arma frívola e mortífera da natureza
Já Satanás me acena por um tento
Aclama e glorifica a minha nobel proeza
Fiel companheiro nas horas de tristeza
Cheguei, venho salvaguardar a tua beleza!
Erro de cálculo e sustento!
Ups, lamento...
Qualquer que seja o sonho
Torna-se miseramente pequeno
Nas mãos de um monstro medonho
A quem eu venero, meu doce e suculento...
Veneno!
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Sweet Child Of Mine- duas versões.
2.-
Gosto de ambas, embora a primeira seja deveras interessante. Não me importava de ter o talento dos dois!
3.- original
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Analepse
Já as viúvas cerraram os olhos, abençoando tal momento!
Já o Sol repousou e a Lua nasceu
Combustíveis malignos das noites que nos trazem calafrios
Erguidas, levantadas a preceito, remendadas de defeito
Que trazem outrora suaves e agora maliciosos poderios
De remoinhos tão solenemente vazios.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
NR
When I look into your eyes
Don't you know you need some time
Sometimes I need some time
You're not the only one!
You're not the only one!
Uma das músicas da minha vida!
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
L'absente
Cinco Vinténs à Sorte
E quando aqui chegas e permaneces
Fico aborrecida pela tua presença
E quando me largas e te enalteces
Encho-me de mazelas duma incurável doença
E quando estou acompanhada
Só quero estar sozinha...
E quando estou só
Penso no quão gostaria de estar rodeada
Robótica e inconstante forma de estar ensaiada
E diária e teatralizada de nada
Quanta fachada!
A minha rota tem trajectória curvilínea
É uma vida mal amada
Desaproveitada por vezes...
Num desenrolar de passagens
Num arremesso de meses
Os quais ultrapasso em altas voltagens
Viagens de descoberta
De parte incerta
E aconchegantemente deserta!
Porque circulam as histórias tão apressadas?
E os segundos passam num correrio
Enquanto a minha vida se desfaz em nadas?
São só mitos urbanos desclassificados
Em teatros nocturnos, diurnos, desarmados
Politiquices e mal dizeres
Vontades suspensas por quereres
De nadas, de tudos
De surdos, de mudos
Num mundo de sustos
Infindáveis
Questionáveis
Apaziguáveis
E detestáveis!
Olha se não são
Amuos de criança mimada
Estupidamente mal habituada
Sem cortejos de educada
Que sobe ao trono
E julga-se deste mundo dono...
Mas é do outro!
Açoites de noites
Perdidas nos dias
Noites de açoites
Dias de perdidas
E partidas
Fugidas
Largadas
Corridas!
Enquanto a minha vida
Se desfaz em nada...
Penso no quão gostaria de não estar rodeada
Se acabou a história está acabada!
- Obrigada!
- De nada!
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Clones
Travem essas garras quebradiças que mal eriçadas caem por terra, enterrando-se sobre desenhos fulcrais à vossa existência incompatibilizados com a minha obra. Deixem-me invadir os meus selvagens e robustos caminhos e traçar as minhas sucessivas rotas sozinha. Não quero conselhos sábios, porém desfeitos e subestimados, por pessoas sem culto que os lançaram para níveis de imundice extrema. Extingam os limites da vossa presença e deixem-me passar entre as vossas encruzilhadas e armações de máximas de vida que me recuso a reter, tal é a miopia cega que me acerca neste nevoeiro de quereres e uso desclassificado dos meios e dos excessos de vontade.
Vá, não gastem esse latim em palreios disfarçados do que são em tentativas de se exceder para causar espanto em mim. Recuso espantos com tão míseros discursos vindos de seres meramente inferiores, aliados à sua própria falta de consciência. Não tragam serenatas melodiosas em forma de subjectivas telas vazias como o vosso intelecto. Não façam música de pensamentos e reflexões que desconhecem e tornam estupidamente vulgares... Sim, apenas vulgaridade se induz dos vossos lábios secos pela mentira e pela cobiça... Vulgaridade residente no fedido suor que transborda das vossas fontes de resistência, cansadas pelo esforço meditado de inconsciências sombrias que vos pelam, vos esfolam, vos matam, vos chacinam um por um, cada palmo dos sentidos. Xô!
Eu quero ar limpo, leve, suavizado por brisas acolhedoras e só minhas! Quero o meu mundo sem vermes suculentos que aparentam subtileza de retoques imperfeitos sob a luz do luar. Quero chafarizes de teorias soberbas, sustentadas nas realidades a que sobrevivo. Prefiro sobreviver a viver já que os conceitos se deturparam de tal forma que não sei agarrar o suposto certo-errado.
Quero ser única, não estranha nem diferente, não por maus motivos nem por uma necessidade de me afirmar, quero ser única apenas, nos recônditos das acções, nos fins a que me proponho findar de propósitos munidos pelas palavras que vocalizo. Já vocês são e serão meras cópias uns dos outros, criadas por mentalidades repletas de perícia que vos moldaram à sua imagem e vos tornaram areia do mesmo saco, implantes semelhantes sem retorno nem objectividade. E eu recuso-me a embarcar na vossa jornada simplista e mundana! Vocês julgam afirmar-se perante excessiva popularidade e atenção mas no fundo de cada pedaço de vida que vos agarra, são todos iguais...