sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

*

Bom 2011 :)


( publicação número 100! )

Cinematic Orchestra



"There is a house built out of stone
Wooden floors, walls and window sills...
Tables and chairs worn by all of the dust...
This is a place where I don't feel alone
This is a place where I feel at home...

Cause, I built a home
for you
for me

Until it disappeared
from me
from you

And now, it's time to leave and turn to dust...


Out in the garden where we planted the seeds
There is a tree as old as me
Branches were sewn by the color of green
Ground had arose and passed it's knees
By the cracks of the skin I climbed to the top
I climbed the tree to see the world
When the gusts came around to blow me down
I held on as tightly as you held onto me
I held on as tightly as you held onto me...


Cause, I built a home
for you
for me


Until it disappeared
from me
from you

And now, it's time to leave and turn to dust..."

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Lost Control

Se eu percorresse cada área armadilhada
Do teu jeito de ser endiabrado
Embalada no manjar dos ponteiros
Cairia sobre o teu peito intermitente
Como uma bomba relógio
Montada e alterada por terceiros.

Nada é meu
Tudo é um nunca
E nada é um sempre
Que dificilmente iremos alcançar.

Em validade me deito
Em validade me levanto
Tudo é efémero
Nada se agarra
Mas eu agarro-te
(enquanto posso)

Um dia o calvário monta-se
E perdemo-nos os dois
A flutuar sobre cada palavra desenhada
Nos contornos do ar
Sairemos a questionar a nossa vida
( Quanto tempo demorará a chegar ao chão? )
Aí lembra-te que as horas voam como promessas juvenis
Enquanto guardas rancor no baú de cada acção
Vamos esbarrar-nos em colisão com a terra dura
Que nos aguarda enternecida de destruição
Na terra dura, ouviste? Na terra dura!
Não será tarde para me extorquires perdão?
( Quanto tempo demorará a chegar ao chão?)

Em validade me deito
Em validade me levanto...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Velho

Olhe!
Sim, é você, aí na escada...Você que nem merece o você que lhe dirijo! Porque anda pelas esquinas como cachorro feito mendigo da vida?
Inúmeras alcateias revoltadas lançam-se na sua direcção.

Esqueça o poder porque
Não é senhor
Nem conde
Nem possui requisito mínimo para ser respeitado
É um farsolas
Um pobre gabarolas
Que se finge muito educado
Tresloucado, é o que é!

Tire essa máscara de pobre arrependido, conserte os erros e tape os buracos que fulminou.  Deixe de se dar por vencido!
Não?
Como não?!
O que é você afinal?
É um pobre de espírito
Que nada vê senão negrura
Que nada vê se não loucura
E louca me torna a mim!

E eu grito de pulmões acesos, simplesmente porque não vejo mudança nesse andar de cavaleiro. Se sente por perto o odor do dinheiro corra na oposta direcção!
Já chega!
A traição!

Estou rouca de si e das suas façanhas. Quero que viva sem hora e exorcize essas entranhas:
Tão pestilentas
Malcheirosas
Fedorentas!

A cama que fez...
É aquela onde se vai deitar!

Chegou o meu comboio
A-d-e-u-u-u-u-u-u-s!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Pessoa




João Villaret narra o mestre.
Numa palavra: a-d-o-r-o !

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Texugos

Deito-me neste chão nu e devastado. A escuridão torna-se tão ávida que perco a serenidade. As réstias da miúda maravilha consomem-se nas últimas achas da fogueira e ardem, de uma forma totalmente viril, enchendo de rubor a minha face. Assistir a isto dói, num conceito de dor que não é palpável nem explicável. Dói em cada poro, em cada pensamento, em cada palpitação... Simplesmente dói!  e corrói.
Estou imóvel numa corrida para o pólo contrário e sinto as pernas adormecidas por um formigueiro picadiço que te ondula, com discrepâncias, ao sabor da minha linfa. E ah, felizes de nós! Morremos juntos!
E enchem-se as ruas daquele fedor invasivo que mata a biologia espalhada no meio citadino, que afoga a aura num bruxedo de enxofres e poções carbónicas!
Respiram, inspiram e expiram maldade, hipocrisia e manipulação. Ui quanta manipulação! É altamente contagioso... Um hospício saudável de vultos senis que seguem a rotina tão somente marcada pelo egocentrismo. Loucos, lá vão agarrados ao relógio, a apitar nas intermináveis filas de trânsito em hora de ponta e a insultarem-se sem que ninguém dê por isso. Não sou contra, até faz bem.
No entanto, enquanto os outros correm, gritam, choram, enervam-se, acabam e reatam num chinfrim impossível de ignorar, eu enraízo!   Sou contrária!   Comigo não há quem se entenda nem saiba coabitar!
Fiquei em gelo, aqui estendida neste leito. Decidi levantar-me com o cortejo que me sobra e fui reacender a fogueira que cessou. Afinal, ainda acredito que possa renascer das cinzas.


  And she's buying a stairway to heaven...

sábado, 4 de dezembro de 2010

Ah, Ontem!

Ontem...
Ardia-me a pele em chamas
O Diabo apoderou-se da minha incerteza
Ardia-me em queixumes a voz
Exorcizaram-me a força e a destreza
A Negra labareda veloz
Consumiu a minha existência!
Ontem...
Ardia-me em gelo o peito
Dum aperto vincado, sem fim
A voz afónica presenteava o defeito
Que pairava longinquamente perto de mim
E Calaram-se todos!
Ontem...
Gelava-me a leviandade
Enfeitando cada lágrima de flocos suaves
E os sorrisos enchiam-se de promiscuidade
Numa rota de falhas e meias-verdades
E eu dispersa...
Largada na corrente
Cobiçada por uma serpente
Venenosa.
Encabeçada de uma vontade enorme de me excluir,
De vez.

Ontem...
Ainda havia vento
E sentimento
E maresia
E luz do dia!

Hoje,
agonia!

E amanhã,
restos do manjar imaculado da serpente
e cinzas na escuridão.

E depois do amanhã serei fantasma,
espectro,
assombração!

Ah, quem me dera ser o ontem...

terça-feira, 30 de novembro de 2010

"Canção de Alterne"



Pára de chorar
E dizer que nunca mais vais ser feliz
Não há ninguém a conspirar
Para fazer destinos
Negros de raiz
Pára de chorar
Não ligues a quem diz
Que há nos astros o poder
De marcar alguém
Só por prazer
Por isso pára de chorar
Carrega no batom
Abusa do verniz
Põe os pontos nos Is
Nem Deus tem o dom
De escolher quem vai ser feliz

Pára de sorrir
E exibir a tua felicidade
Só por leviandade
Se pode sorrir assim
Num estado de graça 
Que até ofende quem passa
Como se não haja queda
No Universo
E a vida seja moeda 
Sem reverso
Por isso pára de sorrir
Não abuses dessa hora
Ela pode atrair 
O ciúme e a inveja
Tu não perdes pela demora
E a seguir tudo se evapora


Letra e canção de Rui Veloso, um dos melhores artistas portugueses! 

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Rasgados

Parei
Naquela paragem tão breve
Onde o vento me acolheu
E abalou a dança das espigas sonolentas
E, florescendo num ápice a neve,
A carnuda rosa se ergueu
Leve, levemente...

Parei
Num tempo tão sinónimo
Que o relógio desvitalizou-se
E protestou do fundo dos seus pulmões.
Os ponteiros pecaminosos desviaram-se do rumo
Por um homónimo,
Fruto de mais variadas oscilações
E num dilúvio tão doce
Hora é de procurar comunhões.
E a precisão, que é dela?

Parei
Numa folha tão cheia
Quanto vazia é a vida
Daqueles que não amam...

Parei
Pelos campos verdejantes
Alcatifados de mantos dourados
Onde pairam eternamente recordações
Intocáveis e discretas
De tão felizes tempos passados.

Parei
Invejei cada gota de orvalho
Pela exactidão do seu cortejo
Invejei cada memória
Onde permanecia o sabor do teu beijo
Que se rasgou também, no tempo.

E não sei dizer sim à vida...

Parei
E desde lá...
Nunca, nunca, nunca mais me encontrei...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

É igual

Que ruído tão grotesco
De gritos esbanjadores e sonolência
De guionista, cenário e fundo animalesco
É igual, monótono e pitoresco.
Fecham-se as pálpebras,
Dor...mência!
Zzzzzzzzzzz!

A calçada é igual...
A fachada é igual...
A tinta é igual...
Igual, igual, igual.
Nada de encanto singular
Numa sala decorada de notáveis peças.

A criatividade?
Olha, fugiu-me!
Escondeu-se e evaporou-se
Como a água após passar o leito.
A autenticidade?
Olha, tiraram-ma!
Arrancaram-ma quando fizeram de mim um molde
A espelhar por toda a parte.

Metabolismo da treta este,que absorve rancores
E se congestiona com sentimentos baldios.

Alistam-se exércitos de clones
Na rede de pousios onde raiará sangue.
Aqui?
Florescerão tão belos esqueletos!
Jorrarão missivas de arrependimento
Ressoando como insígnias em panfletos
De tão repetido repetimento!

E histórias afundar-se-ão numa garrafa de vidro
Sem tempo para arrependimento
Nem pensamento... no tempo devido.
Aviso, aviso! Alerta...
Em vão.

E a fachada é igual...
E o sangue é igual...
E a adenina é igual...
E a timina é igual...
E a guanina é igual...
E a citosina é igual...

Muda o homem...

Não, que o homem é igual!
E é tudo igual...
Igual, igual, igual, igual, igual, igual, igual, igual.

Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz!


Chegou a sonolência.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Bateria Fraca

Quando perco o rumo, sinto que a prosa me olha ameaçadora e me empurra ao encontro de um abismo interminável, recheado de letras e frases decompostas que fogem a uma possível reconstrução de ordens e sucessões magicadas pelo meu cérebro.
Quando perco o rumo, sinto que o chão é apenas ilustrativo porque o fosso onde caminho é colossal e recheado de pedras flutuantes, raiado pelo céu tão negro que quase nem enaltece a beleza do Outono cá de baixo.
Quando perco o rumo, rodopio entre presente e passado e deixo bem abertas, prontas a salgar, as feridas cozidas à pressa por inconvenientes mudanças pelas quais tive de discernir. Deixo-as, de tal forma abertas, que quase é possível ver as entranhas e cada pedaço reles e satânico que me possui. A bateria fraca da bomba que me move, tira-me do chão, faz-me levitar... aos poucos... levemente... Até que volto ao labirinto de dissabores, o labirinto circular, cujas paredes nuas e com défices precários contam, palreando entre si, a história da minha vida. 
Quando perco o rumo, perco as cores, os sabores, a noção das horas, a vida que corre nas veias finas e doentias que arrastam o teu nome... Perco o dia, a noite, as estações, os meses e os anos, as maleitas doentias e as cartas do destino que se confundem mutuamente. Tudo num corrupio tão confuso que, com tal azáfama, a respiração nem tem vagar para se soltar dos lábios roxos nem a visão consegue exercer funções e cumprimentar as pupilas dos teus olhos castanho-mel.
Quando perco o rumo, perco-me. Perco-me do que sou e do que fui e vejo um monstro cheio de jeitos ridículos a mexer-se do outro lado do espelho. Perco-me das pessoas e afasto cada uma das suas insistências, ainda que carregadas de boas intenções.
Quando perco o rumo, perco-vos e quero-vos tão longe quanto a Lua está da Terra, tão longe quanto o Sol está de mim, tão longe quanto a poeira espacial está da terráquea. Longe o suficiente para que não vos ouça, nem sinta, nem veja!
Quando perco o rumo, perco-nos. Ah mentira! Até sem cores nem sabores nem horas nem vida a patinar pelas veias nem dias nem noites nem estações nem meses nem anos nem formas nem confins e afins de pensamentos alheios revelados, eu nos perco! E talvez seja essa a maldição que carrego, que me crucifica e me esfola os sentidos provocando dores em órgãos que desconheço existir.
No entanto... Entretanto nunca amei, é apenas juvenil obsessão. Não tenho forças ou leis para amar, nem muito menos coração!
Pi-pi-pi-pi-e-infindáveis-pi's dão o alerta de bateria fraca!
Estou quase quase a sucumbir, a desligar... (Carregador e tomada? Hã?!)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Fy

I didn't mean any of those promises
Which I begged for you to hear
I barely lay awake on my sadness
And you already moved here!

If I was there
I would pretend I care
While you're drowning in my tears
Inside my happy nightmare.

Am I that mean?
Are you absolutely great?
Did you saw what I've seen?
You catch my point a little late.

There's nothing in your dumb head
You make it all look wrong
I guess maybe only dead
You'll know the meaning of get along.

I would never ask for sorry
And I seriously don't want to know
I hope you fall from your glory
And learn hard how to grow



You always get your stuff
Without an effort to take
I fought all the time for us
But all you did was break!

Oh, real pleasure of mine
Are all those drugs I abused
They were playing games on my mind
Everything's got so amused!

And I'll break our chains
Slipping through your veins.
Killing every part of my defeat
Until it's only me on you
I will be the one who make you heart to beat
The only one to make it true.

Oh darling...
My sweet, sweet darling, what's this?
I made a mess of you...
But my wish indeed it is
I can't wait 'till I fuck you!


(Não, não é uma canção. Sim, é da minha autoria.)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Outubro



Sobre a sombra de um carvalho
Passeiam-se os memoriais da nossa história
Caem as últimas gotas de orvalho
Apagando a tinta indelével da minha memória.
Outubro.
E as avózinhas aquecem-se na lareira
Enquanto de suas mãos nasce um belo agasalho  
Lã solta, espalhada pelo baloiçar de madeira
Entra em azáfama o neto, range o soalho.
Começa-se já a desenhar a neve 
No cimo da colina destinada ao pastoreio
No velho fogão o chocolate quente já ferve
E histórias aconchegantes pacificam o meio.
É Outono, as folhas estão soltas pelo chão
A árvore desnudada deixa que o vento a balance, ligeira
As aves fazem os últimos preparativos para sua migração
E no caminho para casa, aqueço as mãos na algibeira.
O pôr-do-sol é maravilhoso
Parece sorrir à minha passagem
O telhado do anexo de arrumos abana-se, duvidoso
As chapas tocam-se ao de leve como no funcionar de uma engrenagem.
Neva, neva, neva.
A minha casa ainda é um pequeno ponto no horizonte
Junto do carvalho de copa frondosa no verão
Transformou-se em gelo a água da robusta fonte
Olha lá! Não parece o teu coração?
Afasta-te lá pensamento
que ele já não tem lugar aqui.
Abandonou-me, partiu com o vento
Que sopra nas minhas costas, acolá e acoli.
E neva, neva, neva.
Outubro.
Meu Outubro.
O rumo? Esse já o perdi há muito.
E neva, neva, neva. É Outubro.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

é isso.




Pela imensidão de estupidez demonstrada,
 tenho orgulho em dizer que no passado te destrui e te causei sofrimento
a cada pessoa que me pergunte por ti.
Estraguei-te a felicidade em muitos momentos e por diversos motivos tão estúpidos
como a tua existência desajeitada e repleta de defeitos. Deixei-te na merda.
E sabes? Nunca fiz nada mais acertado na minha vida!

"Die die die my darling, just shut your pretty mouth."

sábado, 2 de outubro de 2010

Lara

Lara ali permanecia...
De olhos mágicos e feições tremendamente exóticas
Com luz de ouro a pairar sob os belos contornos
Esculpida defronte da habitação de dimensões caóticas
À esquerda dum carvalho recheado de frutíferos adornos
Era a estátua mais bonita do palácio!
Fora trabalhada com carinho e vivacidade
Vestida com tecidos da Índia e adornada por tintas chinesas
Era a musa dos habitantes daquela cidade
Aliciante, de postura firme, de sorriso cheio de certezas
Era Lara, a mais bela das princesas
Que pairava sobre o rio Nilo
Em tempos de bonança!
Longos cabelos negros em véu sob a cinta esguia
Ditavam o destino de uma jovem enamorada
Foi deserdada pelo rei e morta à luz do dia
Atenção de olhares curiosos na multidão escandalizada
Agora, entre girassóis e petúnias frescas
São-lhe recitadas as mais belas poesias

"Lara, doce Lara és a luz das nossas noites de folias
E a tristeza dos nossos tristes dias
Lara, doce Lara és a mais bela das nossas alegrias
Lara, doce Lara"

E quando a noite vai alta e o último rouxinol cantante
Se aconchega num ninho de ramos enfadonhos
Lara larga o pedestal e caminha exuberante
Ao encontro do homem dos seus sonhos...

  Watching Lara- Yann Tiersen :)

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

...


Please, please forgive me but I won't be home again.
Maybe someday you'll look up and barely conscious
You'll say to no one: "Isn't something missing?"
You won't cry for my absence, I know. You forgot me long ago.
Am I that unimportant? Am I so insignificant?
Isn't something missing? Isn't someone missing me?

Even though I'd be sacrifice,you won't try for me, not now.
Though I'd die to know you loved me, I'm all alone.
Isn't someone missing me?
Please, please forgive me but I won't be home again.
I know what you do to yourself, I breathe deep and cry out!
"Isn't something missing?
Isn't someone missing me?"

Even though I'd be sacrifice, you won't try for me, not now.
Though I'd die to know you loved me, I'm all alone.
Isn't someone missing me?

And if I bleed, I'll bleed, knowing you don't care
And if I sleep just to dream of you, I'll wake without you there.
Isn't something missing? Isn't something...
Even though I'd be sacrifice, you won't try for me, not now.
Though I'd die to know you loved me, I'm all alone.
Isn´t something missing?
Isn't someone missing me?

Sim, sou invisível, apesar de me aprisionares todos os dias!
Apaga o meu nome de ti, não chames mais por mim!
Liberta, peço-te, liberta-me...

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

CannonBall

É só mais um dia neste vaivém sem retorno. É um dia dos meus, um dia de Outono. As pedras da calçada estão sobrelotadas de passadas que se adivinham aqui e ali. A chuva já parou de cair mas está frio, muito frio. Esta é uma atmosfera perfeita, mais do que adequada a tudo o que é meu. Por aqui tudo se pinta de negro, nas ombreiras das portas antigas e quebradiças onde me abrigo julga-se outrém com cegueira e total surdez. Surgem demasiados lotes de pressões e facadas entre ambiguidades mal sustentadas e todos parecem esquecer a minha existência. Até aqueles que fizeram promessas de uma enganosa permanência de um sempre. Não me entendem, não me querem entender e eu também não quero entender ninguém. Quero é que me devolvam o coração, vá, se não for pedir muito... Quero que me deixem comigo, que desapareçam do meu campo de batalha!
Só a natureza solitariamente gasta que me rodeia, compadece e partilha dos fugidios certos e errados que se soltam em vão. Está frio, muito frio. As folhas largadas pelo vento são a melhor metáfora para a definição dos meus embaraços. Elas que são companheiras de ramos frágeis que julgam portos seguros, durante largos meses, acabam sopradas por uma rajada de vento inóspita que as desprende do que tinham como certo. São depois calcadas por vultos que se passeiam sem rumos pelas ruas, tecendo duras críticas aos transeuntes, ansiando a construção de uma força interior que os leve a preocupar-se consigo próprios. Apenas superficial. Apenas tudo e nada... e são as pobres folhas que carregam com as lamúrias de quem as sobre trespassa e nelas escorrega, revoltando-se em fúria e pontapeando-as para longe. São um nada que sem nadas concebidos, acabam por levar com tudo. É, é uma linda e nada efémera metáfora que, de linda, nada tem.
 É nada, nada, nada... num conjunto de nadas que a nada levam.
 É preciso dizer mais alguma coisa? É! Não sou mais metáfora de ninguém! Esqueçam lá isso.  




"Stones taught me to fly
Love taught me to lie
Life taught me to die
So it's not hard to fall
When you float like a cannonball"

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Estranho



Anseio perder-me na vil essência dos olhos negros que possuis!
 És o meu perfeito estranho, extremamente dotado de um sorriso encantador que me seduz a visitar-te, a explorar-te, a perder-me em ti e na doçura misteriosa de cada palavra tua. Quero ficar sem terreno, sem noção nem perspectivas. Enfeitiçada!
Quero-te para me livrar do ideal defendido por estes caminhantes tão miseramente iguais.
 És extraordinariamente diferente e possuis jeitos encantadores que me levam a desejar-te.
Quero o meu perfeito estranho!


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Nota

Levantou-se uma brisa ornamentada de mofo e, com ela, sucumbiram as memórias abençoadas dos míseros e pacíficos dias que formavam parte forte da minha dourada aliança com o extrínseco.
Levantou-se o vento, levando as folhas rasgadas, a tinta gasta e permanente e os finais de cada uma das histórias que criei para o meu livro.
Eu tinha planos para hoje... Planeava partilhá-los com aquela doce criança de pequenas tranças escuras, esfarripas nos grandes olhos que me fitam abertamente como se admirassem cada mecha do meu cabelo cor de avô.  Chama por mim, aguarda a minha chegada no seu momento de lazer, sorrindo ao de leve, contente pelo momento de liberdade em que se pendura no baloiço e me conta o seu dia. "Hoje aprendi a escrever e a pintar. Um dia vou ser como tu"- diz-me, enquanto noto que se abre um sorriso rasgado na minha face, sinto um tremendo orgulho naquele pequeno ser tão fraco, tão inocente porém repleto de aspirações. Disseram-me me que ela é minha neta mas... eu... Eu não tenho memórias vivas... O meu pensamento funde-se entre palavras e imagens que não consigo juntar, como uma peça ensolarada de um belo puzzle que se afastou das peças-irmãs.
As recordações que esculpi com carinho e suor eram belas, tremendamente belas, com um migalhinho de nobreza a esvoaçar em cada discurso proferido, de tons primaveris que saciavam a alma a cada um dos meus atentos ouvintes. Recordações perdidas... Levitaram para longe e largaram a terra que piso, o tecto firme que me sustentava. Deixaram-me vazio de personalidade, sem memoriais para partilhar.
Ausente da minha presença, sopra o vento sobre as árvores lá ao longe e as nuvens encavalitam-se umas nas outras. O céu adquiriu tonalidades avermelhadas e estou preso nos meus próprios pensamentos. A pequena interrompe a minha divagação, abre muito os olhos e coloca a sua face perto da minha, enquanto me chama.
-Avô!
Sobressalto-me e ela ri de mim. Estou encantado com a leveza daquele riso, com a paz que os olhos sorridentes me transmitem, com o amor que cresceu a cada dia pela pequena, pela harmonia que sinto perante as corridas que dá para alcançar as pombas que alimentamos juntos, pelos mesmos cafés que partilhamos onde eu sucumbo ao meu vício e a aconselho a nunca chegar perto dele. Estou encantado com a minha menina de cabelos encaracolados e vestido de pregas que ela faz bailar, enquanto rodopia sobre si própria e sobre as folhas caídas no jardim. É Outono. Ela é fã do Outono. Gosta de ver as árvores desnudadas, as aves migratórias, os sobretudos a desfilar pelas ruas tristes e solitárias, nada convidativas no tempo frio. Gosta da chuva, muitas vezes me deparei com o seu rostinho inocente a olhar brilhantemente as gotinhas que se adivinhavam na janela do meu quarto. Sei que também gosta do vento, do som que este faz quando roça a esquina e leva consigo um apetrechado de folhas e raminhos na sua dança bamboleante repleta de cicios. Ela havia apanhado folhas do caminho que secou nas páginas de um livro. Apanhou-as da nossa árvore musculosa que enche os caminhos de cimento de rebentos e contou-me que iria realizar uma colagem na escola para terem a salinha decorada de motivos da estação. Ela ficou animadíssima com a ideia da professora. Tem-se empenhado em encontrar as folhas mais sublimes e coloridas e mostra-mas orgulhosa de si própria. Sei que terá um futuro promissor ou que, pelo menos, tem qualidades e inúmeros talentos que a podem levar longe. Sei que é saudável e não cairá em doenças como a minha podendo concretizar os seus desejos e dar asas às suas aspirações. Sei que terá belos traços quando for adolescente, sei que será de baixa estatura por culpa das leis impostas pela hereditariedade, sei que tem possibilidades vastas de sofrer de problemas de índole cardíaca e umas tantas outras de diabetes. Sei que será o meu maior motivo de orgulho, a noiva e mãe mais bonita deste mundo. Sei que será sempre a minha menina, a minha única neta e que a irei guiar neste mundo que introduzi na sua pequena mente.
Disse-lhe um dia para me procurar nas estrelas quando eu for embora, ela prometeu-me que o fará.
Hoje chega, não consigo escrever mais. Este tempo pachorrento puxou pelas minhas maleitas, glorificou a dor que imana das minhas velhas articulações e deixou-me em ponto morto. Preciso de um cigarro para me acalmar e vou embora daqui, não me lembro de nada para contar. Vou levar a minha catraia do baloiço e vamos para casa. Vou deixá-la pintar com os meus marcadores, nunca a tinha deixado. Há uma primeira vez para tudo na vida...
Sinto que o meu vício me está a matar mas dependo dele. A fedelha partiu a tampa do marcador encarnado, fico furioso, grito com ela, deixo-a a chorar no meio da sala, chamo-lhe inútil, fico a amaldiçoar o dia em que nasceu. Eu sabia que não devia ter emprestado os marcadores, eu sabia que hoje não é um bom dia. Hoje estou mais para lá do que para cá.
Sinto-me velho, louco e desamparado de forças. Os meus pulmões atacam constantemente e a respiração está tão pestilenta como os rebuçados de mentol que deixei acumular no bolso do fato bege. Sinto o fim a aproximar-se mas preciso de fumar! Vou embora, vou dar vazão ao meu vício! A pequena ficará bem ao contrário de mim.
Sinto dores, doses mortíferas de dores... não vou durar muito mais tempo. A caneta escorregou-me e parei de escrever. Os meus dedos estão roxos, as mãos tremem-me, a cabeça está colossalmente pesada, o coração esqueceu-se de dar uma e outra batida e a respiração solta-se em forma de soluços continuados que deixam imóvel, irreconhecível numa tonalidade entre o amarelo e o arroxeado. Estou a morrer e a minha neta está presente. Ordeno que a levem daqui! Quero que me recorde como o pintor que a ensinou a manejar os pincéis e a preparar a aguarela bem como a colorir a marcador, bonequinhas vestidas a rigor com costumes do país. Quero que me recorde como o apreciador de poesia que recitava frases de livros de colegas empenhados no ofício, como o escritor de belas histórias antigas de moças com bacias na cabeça que seguiam descalças pela calçada. Quero que me recorde como um homem forte, sábio, conhecedor do mundo e das belas-artes. Não quero que recorde o meu fim animalesco provocado por um vício que se apoderou de mim. Não quero.
Deixarei o meu livro de poesia sobre a mesinha de cabeceira dela. Escrevi lá uma nota a pedir que o leia e que tente criar poemas de bênção do horizonte, de homenagem à natureza que nos rodeia. Ela mais tarde irá compreender a essência das coisas, verá que somos os génios incompreendidos, numa família em que eu era o louco desmedido. Verá que as coisas fazem sentido quando vistas com o coração e não com os olhos. Ver-me-á metaforizado nas estrelas que preenchem o pano negro. Sou a estrela mais brilhante, minha querida.
Olha, olha as estrelas, prometo que irei lá estar! Com amor, JF.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Meu Doce Pianista

Uma nota grave estrondou das mãos do doce pianista
Apodrecido por maleitas insípidas e incompreensão
O amor regozijou a fama de vigarista
Encheu a aura de fraudes e caiu redondo no chão.
Acabou meu doce artista!

Resguardou-se na guitarra outrora harmoniosa
Na figura vulnerável que se passeia
Na tempestade voraz descrita pela prosa
No quebrado pintor que retrata o rosto mais belo da aldeia!
E já a guitarra solta acordes desnorteados... aflita!
A tempestade engole o mundo com a sua sombra e grita!
Grita! Grita! Grita! Grita!

E nuvens correm a assombrar a floresta
Embaladas na doce melodia do teu piano
A palete voa do pintor demarcando no céu cores de festa
De tons arroxeados, amarelos, magentas, azul-ciano!

A escala musical explode nos teus dedos
Desconheces o poder de tal destruição
A cada nota crepitante abrem-se os rochedos
Que formam as muralhas inquebráveis do teu coração!

Mas
Mas é tarde, meu doce pianista...
 
  ( Mágico...)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Márcia


Day to day
Where do you want to be?
'Cos now you're trying to pick a fight
With everyone you need

You seem like a soldier
Who's lost his composure
You're wounded and playing a waiting game
In no-man's land no-one's to blame

See the world
Find an old fashioned girl
And when all's been said and done
It's the things that are given, not won
Are the things that you earned

Empty handed, surrounded by a senseless scene
With nothing of significance
Besides a shadow of a dream
You sound like an old joke
You're worn out, a bit broken
Asking me time and time again
And the answer's still the same

See the world
Find an old fashioned girl
And when all's been said and done
It's the things that are given, not won
Are the things that you earned

You've got a chance to put things right
So how's it going to be?
Lay down your arms now
And put us beyond doubt
So reach out it's not too far away
Don't mess around now, don't delay

See the world
Find an old fashioned girl
And when all's been said and done
It's the things that are given, not won
Are the things that you want

- Um dia vamos ver o mundo juntas! :)

domingo, 12 de setembro de 2010

Veneno

Excêntrico e invasivo
Satanás te aguardará
Na terra do pecado corrosivo
Onde a fogueira de três forcados te engolirá

Qualquer que seja o sonho
Torna-se tão miseramente pequeno
Nas mãos dum monstro tristonho
Chamado por sábios, veneno

É só solução concentrada
De químicos e físicos
São só recuos em fracassos de passada
Argumentos e leis ossudas de tísicos

Oh doce veneno de paladar imaculado
Fazes-me levitar e mergulhar na pedra de calma
Trespassas a minha essência de odor fracassado
Escondes-me os monstros debaixo da cama

Oh doce veneno, força de quem te proclama
E clama aos ventos e sóis e marés e dóis
Dóis... Quando me perfuras em chama!

Oh doce veneno suculento
Arma frívola e mortífera da natureza
Já Satanás me acena por um tento
Aclama e glorifica a minha nobel proeza
Fiel companheiro nas horas de tristeza
Cheguei, venho salvaguardar a tua beleza!
Erro de cálculo e sustento!
Ups, lamento...

Qualquer que seja o sonho
Torna-se miseramente pequeno
Nas mãos de um monstro medonho
A quem eu venero, meu doce e suculento...
Veneno!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sweet Child Of Mine- duas versões.

1.-


2.-


Gosto de ambas, embora a primeira seja deveras interessante. Não me importava de ter o talento dos dois!

3.- original

(Fonte: http://www.youtube.com)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Analepse

Sou realeza num reino amplo e sombrio
Possuo um remoinho de espectro vazio
Que corre maratonas de contraluz num trajecto circundante
Rodopiante, arrepiante.
Vens...
Rejuvenescido e desperto...
Tocas-me ao de leve
Observas-me de perto
Esboças um sorriso cansado
Tens por perdido o que julgávamos certo
E o nosso futuro é já passado.

E já voou tanto tempo...
Já as andorinhas migraram e voltaram
Já as estrelas se desalinharam no firmamento
Já as lágrimas brotaram e se enxugaram
Já as viúvas cerraram os olhos, abençoando tal momento!
Já o Sol repousou e a Lua nasceu
Já a Primavera firme e colorida principiou
E o Inverno, fugaz como um relâmpago numa trovoada, evaporou!
Já a criança inocente deste hospício nasceu
Já o velho da última casa da ruela morreu
Já tanta vida se viveu
E tanta outra se perdeu!
E já os nossos olhos se cruzaram
E já os corpos munidos de dor os acompanharam
Em pequeninos cortejos
Gotejantes.
Enésimas vezes,
Num longo espaço de meses.
Imóveis, de expressões grotescas, rebentam em nós raízes
Arteriosamente ventriculadas no nosso peito
Combustíveis malignos das noites que nos trazem calafrios
Erguidas, levantadas a preceito, remendadas de defeito
Que trazem outrora suaves e agora maliciosos poderios
De remoinhos tão solenemente vazios.
Eu  Tu  Nós
 Nu  Cru  Sós
Amor frutado, anabático e vibrante
Consumado em desenrolhar de espumante
De uma alma límpida e renascida
Crepitante, remoinho de uma vida...
Tão veloz e certeiro numa investida
E dispersos sobre a aura de um relógio parado
Somos o espelho de um amor vencido
Perdido e ofendido por outrem
Somos duas almas separadamente juntas
Um sorriso de dentadura gasta
Sem entrada livre para ninguém
Um relógio parado, sem ponteiros nem guia
Que nos baralha e rasteja a passagem na cronologia
Divagando-nos sem demoras
Somos o remoinho que se arrasta... Sem noção das horas...

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

NR


 When I look into your eyes
I can see a love restrained
But darlin' when I hold you
Don't you know I feel the same?
'Cause nothin' lasts forever
And we both know hearts can change
And it's hard to hold a candle
In the cold November rain
We've been through this
Such a long long time
Just tryin' to kill the pain
But lovers always come
And lovers always go
And no one's really sure
Who's lettin' go today
Walking away
If we could take the time
To lay it on the line
I could rest my head
Just knowin' that you were mine
All mine
So if you want to love me
Then darlin' don't refrain
Or I'll just end up walkin'
In the cold November rain
Do you need some time
On your own?
Do you need some time
All alone?
Everybody needs some time
On their own
Don't you know you need some time
All alone?

I know it's hard to keep an open heart
When even friends seem out to harm you
But if you could heal a broken heart
Wouldn't time be out to charm you

Sometimes I need some time
On my own
Sometimes I need some time
All alone
Everybody needs some time
On their own
Don't you know you need some time
All alone?

And when your fears subside
And shadows still remain
I know that you can love me
When there's no one left to blame
So never mind the darkness
We still can find a way
'Cause nothin' lasts forever
Even cold November rain

Don't ya think that you
Need somebody?
Don't ya think that you
Need someone?
Everybody needs somebody
You're not the only one!
You're not the only one!
Don't ya think that you
Need somebody?
Don't ya think that you
Need someone?
Everybody needs somebody
You're not the only one!
You're not the only one!

 Uma das músicas da minha vida!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

L'absente



Hoje sentei-me e deixei o pensamento fluir nesta atmosfera quente e distorcida.
Dei por mim a questionar o impossível e a divagar em domínio invisível.
Dei por mim a viajar em espectros de luz, sonoros e fantasmagóricos e a encontrar alento no desassossego.
A terra firme que piso abriu-se aos meus pés e engole-me de uma só investida.
Morte em vida.
É uma teoria desencontrada com a prática, paranomarlizada com fissuras laboratoriais.
São obstáculos perante um mísero migalho de forças.
São caminhos atravessados às avessas, sem perceber o objectivo de estar aqui.
São sonhos que se lançam aos sete ventos e desejos impostos noutro semelhante.
São turbulências e tempestades, amores e amizades, num rodopio de fracções perdidas e achadas na cronologia.
É o relógio e as horas em sintonia com as estações.
O café e o açúcar que o adoça, tal como a Primavera encanta o meio de suculentos aromas.
É a magia e o encantamento ligados à prosa de fascinações.
É a poesia vitalizante das árvores, dos rios e do céu conjugados com o poeta que os recria.
É a canção que enche a sala e os corações perdidos de notas musicalizadas pelos seus sentidos.
É o ar que expirado solta os medos e as agonias e inspirado traz novos sabores e o desenrolar de prazeres mundanos.
É o sol que nos guia durante o dia, a lua que nos embala a noite, inquebráveis e irrefutáveis como a essência dos amigos verdadeiros.
É o múltiplo mapa de conceitos elaborados, dissipados, escolhidos e adoptados por cada um.
É a estrada vazia porém habitada por fantasmas de outros tempos.
É o norte.
O sul.
O oeste
E o este.
São desnorteios, devaneios e promessas findadas.
São arremessos, fraudes e palavras trespassadas.
Há caminhos e caminhantes.
Há aspirações e aspirantes.
Há lances de azares e outros de sorte.
Há vida e há morte.
L'absente et le présent.
Eu sou o meio termo.


ps: a partir dos 2:17 é sublime!

Cinco Vinténs à Sorte

Estou sóbria mas apeada sem crença
E quando aqui chegas e permaneces
Fico aborrecida pela tua presença
E quando me largas e te enalteces
Encho-me de mazelas duma incurável doença
E quando estou acompanhada
Só quero estar sozinha...
E quando estou só
Penso no quão gostaria de estar rodeada
Robótica e inconstante forma de estar ensaiada
E diária e teatralizada de nada
Quanta fachada!

A minha rota tem trajectória curvilínea
É uma vida mal amada
Desaproveitada por vezes...
Num desenrolar de passagens
Num arremesso de meses
Os quais ultrapasso em altas voltagens
Viagens de descoberta
De parte incerta
E aconchegantemente deserta!

Porque circulam as histórias tão apressadas?
E os segundos passam num correrio
Enquanto a minha vida se desfaz em nadas?
São só mitos urbanos desclassificados
Em teatros nocturnos, diurnos, desarmados
Politiquices e mal dizeres
Vontades suspensas por quereres
De nadas, de tudos
De surdos, de mudos
Num mundo de sustos
Infindáveis
Questionáveis
Apaziguáveis
E detestáveis!

Olha se não são
Amuos de criança mimada
Estupidamente mal habituada
Sem cortejos de educada
Que sobe ao trono
E julga-se deste mundo dono...
Mas é do outro!
Açoites de noites
Perdidas nos dias
Noites de açoites
Dias de perdidas
E partidas
Fugidas
Largadas
Corridas!

Enquanto a minha vida
Se desfaz em nada...
Penso no quão gostaria de não estar rodeada
Se acabou a história está acabada!
- Obrigada!
- De nada!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Clones

Segue o cortejo de palavras escravizadas por acções banais e eruditas. Estou apeada no centro, imortalizada atracção principal deste circo de falhanços e erros de perspectiva. Tenho de partir para fora deste círculo e riscar uma recta, longinquamente oblíqua para poder deslocar-me sobre ela e vocalizar um suspiro nascido no meu interior. Estou enjoada dos passeios entre o raio e o diâmetro, das passadas entre um e outro causadoras da ilusão da mudança, do jeito fulminante com o qual me apercebo que ambos se deslocam para o círculo... Aquele tão venenosamente vicioso ciclo que me dá vómitos de rotina e de aborrecimento, tornando-me nauseabunda por um futuro que não passa de presente.
Travem essas garras quebradiças que mal eriçadas caem por terra, enterrando-se sobre desenhos fulcrais à vossa existência incompatibilizados com a minha obra. Deixem-me invadir os meus selvagens e robustos caminhos e traçar as minhas sucessivas rotas sozinha. Não quero conselhos sábios, porém desfeitos e subestimados, por pessoas sem culto que os lançaram para níveis de imundice extrema. Extingam os limites da vossa presença e deixem-me passar entre as vossas encruzilhadas e armações de máximas de vida que me recuso a reter, tal é a miopia cega que me acerca neste nevoeiro de quereres e uso desclassificado dos meios e dos excessos de vontade.
Vá, não gastem esse latim em palreios disfarçados do que são em tentativas de se exceder para causar espanto em mim. Recuso espantos com tão míseros discursos vindos de seres meramente inferiores, aliados à sua própria falta de consciência. Não tragam serenatas melodiosas em forma de subjectivas telas vazias como o vosso intelecto. Não façam música de pensamentos e reflexões que desconhecem e tornam estupidamente vulgares... Sim, apenas vulgaridade se induz dos vossos lábios secos pela mentira e pela cobiça... Vulgaridade residente no fedido suor que transborda das vossas fontes de resistência, cansadas pelo esforço meditado de inconsciências sombrias que vos pelam, vos esfolam, vos matam, vos chacinam um por um, cada palmo dos sentidos. Xô!
Eu quero ar limpo, leve, suavizado por brisas acolhedoras e só minhas! Quero o meu mundo sem vermes suculentos que aparentam subtileza de retoques imperfeitos sob a luz do luar. Quero chafarizes de teorias soberbas, sustentadas nas realidades a que sobrevivo. Prefiro sobreviver a viver já que os conceitos se deturparam de tal forma que não sei agarrar o suposto certo-errado.
Quero ser única, não estranha nem diferente, não por maus motivos nem por uma necessidade de me afirmar, quero ser única apenas, nos recônditos das acções, nos fins a que me proponho findar de propósitos munidos pelas palavras que vocalizo. Já vocês são e serão meras cópias uns dos outros, criadas por mentalidades repletas de perícia que vos moldaram à sua imagem e vos tornaram areia do mesmo saco, implantes semelhantes sem retorno nem objectividade. E eu recuso-me a embarcar na vossa jornada simplista e mundana!  Vocês julgam afirmar-se perante excessiva popularidade e atenção mas no fundo de cada pedaço de vida que vos agarra, são todos iguais...



"Cada ser é único, sendo provido de um património genético exclusivo (DNA) que é a sua marca de identidade e o distingue de todos os outros."   
 - Pois pois, é capaz...