Soava o sinal antecipando a proximidade do concerto; na sala maior do Centro Cultural de Belém, cerca de um milhar de pessoas aguardava com expectativa "20 Canções para Zeca Afonso". A plateia estava lotada, imperava um silêncio respeitoso.
Lentamente, ao mote de "À proa", os onze músicos foram subindo, tomando os seus lugares, entoando e tocando as primeiras notas das muitas que se fariam ouvir nos cerca de 90 minutos de espectáculo que se seguiram. A pouco e pouco foram desfilando "Canção de Embalar", "O Homem voltou", "Tenho barcos, tenho remos"...
As primeiras notas de "Maio, Maduro Maio" arrancaram aplausos entusiasmados, que se multiplicaram após os pizzicati que concluem o arranjo, tudo passava depressa demais, parecia que as músicas eram apenas um instante, efémero, demasiado breve. A cada canção, o concerto ia ganhando corpo: a música escrita, a improvisada, a imperceptível entrada em falso, o solo único, irrepetível; as novas secções, as reharmonizações, os textos re-estruturados, os refrões evitados, as melodias contrapontuadas ou paralelas, cadências perfeitas e modulações; o jogo de luzes, o apontamento subtil do piano, a resposta da bateria, as dinâmicas, a vibração da consonância...
Acabámos com "Venham mais cinco", com um cheiro a bossa nova a que não resisti: o final era de festa, de alegria, o clima idílico de celebração. Depois, o CCB aplaudiu de pé: entrámos de novo, e trouxémos "No Comboio Descendente" - além de José Afonso, também Fernando Pessoa: que melhor maneira de anunciar Portugal, de gritar Abril! Depois, CCB de novo de pé, repetimos "Maio, Maduro Maio", agradecemos, aplaudimos, desfrutámos aqueles momentos derradeiros. E fomos saindo.
Depois, fez-se o silêncio... então, lentamente, com a serenidade bela dos espíritos puros, a plateia do CCB começou a entoar "Grândola, Vila Morena", primeiro a uma, depois a duas, depois a mil vozes. E nós, impávidos, incrédulos, fomos reentrando: o palco, antes sob os nossos pés, estava agora defronte de nós: era um coro de mil pessoas, num momento demasiado mágico para repetir em palavras. Peguei na guitarra, e devolvemos a canção à sua forma sublime, nobremente despida.
Naquele momento, a plateia do CCB era a mais fraterna das cidades. E nós, estávamos lá.
Rafael Fraga
28/04/2008
25/04/2008
Zeca Afonso como nunca o ouviram | Jornal "Público"
Pode A morte saiu à rua ser, afinal, pop swing? Nas mãos de Rafael Fraga, sim, como se vai ouvir esta noite no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Ao todo, são 20 canções de Zeca Afonso interpretadas por 11 músicos (vozes, piano, saxofones, guitarras, baixo, bateria, percussão e um quarteto de cordas), a partir de arranjos de Rafael Fraga, que partilha a direcção musical com o pianista João Paulo Esteves da Silva.
Músico e finalista de Composição, Rafael ainda não era nascido a 25 de Abril, o dia que este concerto comemora. Tem 30 anos, o que significa que tinha cinco quando Zeca Afonso actuou, doente, em 1983, no Coliseu de Lisboa. Mas essa noite, como toda a música de Zeca, é uma herança de família. "O meu pai assistiu disfarçado de segurança para poder ficar em volta do palco, e foi uma das pessoas que no fim o ajudaram a descer. Sempre conheci a música de Zeca Afonso em casa."
Filho de um faialense e de uma micaelense, Rafael cresceu em Lisboa e Ponta Delgada. Há outros músicos açorianos no projecto e o técnico que vai gravar o concerto de hoje também veio dos Açores. "Se o registo ficar apropriado, ponderamos editar."A ideia de 20 Canções para Zeca Afonso foi lançada em Janeiro de 2007. Em Abril e Maio o grupo actuou em Tondela e Castelo Branco.
Este terceiro concerto é, pois, a estreia lisboeta, com duas novas canções, O que faz falta e Canção da paciência. "A ideia do espectáculo é ser dinâmico ao longo do tempo. Quem o vir mais do que uma vez não ouve sempre as mesmas canções. O Zeca tem um reportório tão extenso que podemos ir rodando."
Isto também permite a Rafael contrariar um espartilho: "A música continua confinada a rótulos. Um dos problemas da música erudita é um grande desfasamento entre as salas especializadas e aquilo que o público ouve. Por isso é muito interessante encontrar uma linguagem que englobe elementos de jazz, erudita, popular, africana, que o Zeca, de uma forma intuitiva conseguiu incutir na sua música. A obra dele é muito assertiva, objectiva, define claramente objectos que podem ser transformados noutras coisas."
Tão transformados que um colaborador de Zeca - João Luís Oliva, produtor no álbum Galinhas do Mato - exclamou, depois de ouvir 20 Canções: "Não lembrava a ninguém, isto de transformar A morte saiu à rua num pop-swing...!" - ao mesmo tempo que "grangeou elogios rasgados ao arranjo "beriano" de Adeus ó Serra da Lapa", escreve Rafael Fraga no blogue do projecto. No mínimo será Zeca Afonso como nunca o ouviram. A.L.C.
in Jornal "Público"
25 de Abril de 2008
Músico e finalista de Composição, Rafael ainda não era nascido a 25 de Abril, o dia que este concerto comemora. Tem 30 anos, o que significa que tinha cinco quando Zeca Afonso actuou, doente, em 1983, no Coliseu de Lisboa. Mas essa noite, como toda a música de Zeca, é uma herança de família. "O meu pai assistiu disfarçado de segurança para poder ficar em volta do palco, e foi uma das pessoas que no fim o ajudaram a descer. Sempre conheci a música de Zeca Afonso em casa."
Filho de um faialense e de uma micaelense, Rafael cresceu em Lisboa e Ponta Delgada. Há outros músicos açorianos no projecto e o técnico que vai gravar o concerto de hoje também veio dos Açores. "Se o registo ficar apropriado, ponderamos editar."A ideia de 20 Canções para Zeca Afonso foi lançada em Janeiro de 2007. Em Abril e Maio o grupo actuou em Tondela e Castelo Branco.
Este terceiro concerto é, pois, a estreia lisboeta, com duas novas canções, O que faz falta e Canção da paciência. "A ideia do espectáculo é ser dinâmico ao longo do tempo. Quem o vir mais do que uma vez não ouve sempre as mesmas canções. O Zeca tem um reportório tão extenso que podemos ir rodando."
Isto também permite a Rafael contrariar um espartilho: "A música continua confinada a rótulos. Um dos problemas da música erudita é um grande desfasamento entre as salas especializadas e aquilo que o público ouve. Por isso é muito interessante encontrar uma linguagem que englobe elementos de jazz, erudita, popular, africana, que o Zeca, de uma forma intuitiva conseguiu incutir na sua música. A obra dele é muito assertiva, objectiva, define claramente objectos que podem ser transformados noutras coisas."
Tão transformados que um colaborador de Zeca - João Luís Oliva, produtor no álbum Galinhas do Mato - exclamou, depois de ouvir 20 Canções: "Não lembrava a ninguém, isto de transformar A morte saiu à rua num pop-swing...!" - ao mesmo tempo que "grangeou elogios rasgados ao arranjo "beriano" de Adeus ó Serra da Lapa", escreve Rafael Fraga no blogue do projecto. No mínimo será Zeca Afonso como nunca o ouviram. A.L.C.
in Jornal "Público"
25 de Abril de 2008
21/04/2008
Em directo na Rádio Capital
Rafael Fraga e João Paulo Esteves da Silva estarão em directo na Rádio Capital para falar um pouco sobre si e "20 Canções para Zeca Afonso", nomeadamente sobre o próximo concerto de 25 de Abril. Será nos dias 22 e 23 de Abril, pelas 08h50, no "Manhãs da Capital", com Maria José Martins.
Rádio Capital
Lisboa - 100.8
Porto - 102.7
22 e 23 de Abril
08h50
Rádio Capital
Lisboa - 100.8
Porto - 102.7
22 e 23 de Abril
08h50
18/04/2008
Câmara Clara | RTP2 | Revolução
Câmara Clara
RTP2
20 Abril - 22h40
A não perder, o próximo Câmara Clara, inteiramente dedicado à Revolução de Abril:
A Revolução de Abril tem uma banda sonora que se inscreveu no coração e no estômago de todos quantos viveram aqueles anos. O filósofo José Barata-Moura marcou gerações com o Fungagá da Bicharada, e o pianista Pedro Burmester recupera na Casa da Música, de forma mais abrangente, o tema Música e Revolução. São estes os convidados da emissão que lhe reserva ainda, em primeiríssima mão, a grande exposição sobre José Saramago no Palácio da Ajuda, uma antevisão do IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema Independente, livros, discos, concertos, entre muitas outras ofertas culturais. [+]
RTP2
20 Abril - 22h40
A não perder, o próximo Câmara Clara, inteiramente dedicado à Revolução de Abril:
A Revolução de Abril tem uma banda sonora que se inscreveu no coração e no estômago de todos quantos viveram aqueles anos. O filósofo José Barata-Moura marcou gerações com o Fungagá da Bicharada, e o pianista Pedro Burmester recupera na Casa da Música, de forma mais abrangente, o tema Música e Revolução. São estes os convidados da emissão que lhe reserva ainda, em primeiríssima mão, a grande exposição sobre José Saramago no Palácio da Ajuda, uma antevisão do IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema Independente, livros, discos, concertos, entre muitas outras ofertas culturais. [+]
17/04/2008
Sobre "Trova do Vento que Passa"
Na pré-formatada divulgação do concerto "20 Canções para Zeca Afonso" que circula nos principais meios de comunicação social, reza a páginas tantas que
"O repertório do concerto inclui canções originalmente editadas entre 1962 e 1987, representando estética e cronologicamente uma parte significativa da obra de Zeca Afonso, criador de temas como "Os Vampiros" e "Trova do Vento que Passa"."
Ora, como é generalizadamente sabido, "Trova do Vento que Passa" é uma canção de António Portugal, sobre o poema homónimo de Manuel Alegre, dada a conhecer pela voz de Adriano Correia de Oliveira. Não é, portanto, da autoria de José Afonso.
Sendo totalmente alheios a esta informação incorrecta, deixamos a nossas desculpas aos visados.
"O repertório do concerto inclui canções originalmente editadas entre 1962 e 1987, representando estética e cronologicamente uma parte significativa da obra de Zeca Afonso, criador de temas como "Os Vampiros" e "Trova do Vento que Passa"."
Ora, como é generalizadamente sabido, "Trova do Vento que Passa" é uma canção de António Portugal, sobre o poema homónimo de Manuel Alegre, dada a conhecer pela voz de Adriano Correia de Oliveira. Não é, portanto, da autoria de José Afonso.
Sendo totalmente alheios a esta informação incorrecta, deixamos a nossas desculpas aos visados.
16/04/2008
Gravação ao vivo
O concerto no CCB será gravado, possibilitando a sua posterior edição. A gravação será da responsabilidade de Emanuel Cabral, a partir do desenho de som de Cândido Esteves.
11/04/2008
Ensaio de Imprensa - 20 Canções para Zeca Afonso
Antecedendo o espectáculo do próximo dia 25, realizar-se-á um ensaio aberto aos orgãos de comunicação social.
O ensaio decorrerá no próximo dia 14 de Abril, no estúdio "Namouche", em Lisboa (Estrada da Luz, nº 26A), com início marcado para as 10h30.
O ensaio decorrerá no próximo dia 14 de Abril, no estúdio "Namouche", em Lisboa (Estrada da Luz, nº 26A), com início marcado para as 10h30.
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