A Disused Shed in Co. Wexford

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

Departamento de Letras Modernas


(Introdução à Poesia - FLM0544)

Trabalho de Recuperação - 2016

Guilherme Augusto Pereira Gomes (8974572)

Prof. Dra. Mayumi Denise Senoi Ilari

SÃO PAULO
2017

Resumo
Pretende-se com esse breve trabalho uma análise do poema A Disused Shed in Co.
Wexford, escrito pelo poeta Derek Mahon. Aqui busco demonstrar como tal poema
produz de maneira formal seus significados e como tais significados corroboram e
ampliam o conteúdo em si, atentando-se ao fato de que sua forma é capaz de produzir
um significado per si. Demonstrar que a forma épica deste poema foi reelaborada por
Mahon a fim de se atribuir um melhor entendimento individual do problema social; isso
será melhor explanado no último parágrafo, onde demonstro que a voz íntima do eu-lírico
possuí características da forma épica.

O Poema

A DISUSED SHED IN CO. WEXFORD


Let them not forget us, the weak souls among the asphodels
Seferis, Mythistorema
for J. G. Farrell

Even now there are places where a thought might grow –


Peruvian mines, worked out and abandoned
To a slow clock of condensation,
An echo trapped for ever, and a flutter
Of wildflowers in the lift-shaft,
Indian compounds where the wind dances
And a door bangs with diminished confidence,
Lime crevices behind rippling rainbarrels,
Dog corners for bone burials;
And in a disused shed in Co. Wexford,

Deep in the grounds of a burnt-out hotel,


Among the bathtubs and the washbasins
A thousand mushrooms crowd to a keyhole.
This is the one star in their firmament
Or frames a star within a star.
What should they do there but desire?
So many days beyond the rhododendrons
With the world waltzing in its bowl of cloud,
They have learnt patience and silence
Listening to the rooks querulous in the high wood.

They have been waiting for us in a foetor


Of vegetable sweat since civil war days,
Since the gravel-crunching, interminable departure
Of the expropriated mycologist.
He never came back, and light since then
Is a keyhole rusting gently after rain.
Spiders have spun, flies dusted to mildew
And once a day, perhaps, they have heard something –
A trickle of masonry, a shout from the blue
Or a lorry changing gear at the end of the lane.

There have been deaths, the pale flesh flaking


Into the earth that nourished it;
And nightmares, born of these and the grim
Dominion of stale air and rank moisture.
Those nearest the door grow strong –
“Elbow room! Elbow room!”
The rest, dim in a twilight of crumbling
Utensils and broken flower-pots, groaning
For their deliverance, have been so long
Expectant that there is left only the posture.

A half century, without visitors, in the dark –

Poor preparation for the cracking lock


And creak of hinges. Magi, moonmen,
Powdery prisoners of the old regime,
Web-throated, stalked like triffids, racked by drought
And insomnia, only the ghost of a scream
At the flash-bulb firing squad we wake them with
Shows there is life yet in their feverish forms.
Grown beyond nature now, soft food for worms,
They lift frail heads in gravity and good faith.

They are begging us, you see, in their wordless way,


To do something, to speak on their behalf
Or at least not to close the door again.
Lost people of Treblinka and Pompeii!
“Save us, save us”, they seem to say,
“Let the god not abandon us
Who have come so far in darkness and in pain.
We too had our lives to live.
You with your light meter and relaxed itinerary,
Let not our naive labours have been in vain!”

Em “How to Read a Poem”, Terry Eagleton diz que a forma do poema também
pode ser efetivamente parte da construção de seu significado. Entretanto, a
linguagem não é algo cristalino e as formas poéticas possuem história própria. A
fim de entender plenamente como as questões formais de um poema constroem
certo significado, se faz necessária uma análise sincrônica destas, bem como um
analista que possa observar como tais foram utilizadas no contexto da obra.
É de suma importância manter tais aspectos em mente ao se analisar o poema de
Mahon, A Disused Shed in Wexford Co. e a fim de entendermos melhor o que essa
obra nos oferece, partiremos para uma análise direta que pretende focar apenas no
que é dito pelo poema. A hipótese que este trabalho busca demonstrar é a de que
este poema está, de alguma forma, tentando revisitar a forma épica, a fim de invocar
um determinado pathos, de maneira que os leitores se atentem acerca dos
problemas da Irlanda colonial, como se esses fossem problemas universais.

O primeiro elemento a ser analisado nesta obra é seu título. Imagino que o leitor
que se deparar com este título provavelmente não saberá responder exatamente
onde este shed está localizado. O que Mahon parece querer é difundir uma imagem
de abandono geral na mente do leitor, algo especificamente vago e provocativo;
portanto, não é exatamente o lugar que interessa ao leitor, mas a imagem do
abandono em si. Essa existência ambígua de um local que não é e a ideia de um
significado que provém de um referente não existente é um tanto quanto
provocativo e deve ser encarado como um gatilho interpretativo

Outra questão é a localização real de County Wexford, na parte sul da Irlanda.


Aqui se faz necessário se atentar ao fato de que o título faz uma ligação de algo
concreto com algo genérico. Um local supostamente abandonado e uma
coordenada precisa de uma região irlandesa. Acredito que essa seria uma forma
formal válida de produção de significado. Essa proximidade de opostos cria uma
dinâmica de troca de qualidades. A vagueza do shed comparado ao real e tangível
do sul de Wexford. Há aqui uma espécie de eco e, como veremos mais abaixo, o
eco é uma característica importante e bastante presente neste poema.

Há uma citação de "Mythistorema" escrito por Mr. Seferis, escritor grego. Esse
escritor e essa citação em específico possui dois diferentes apontamentos; Seferis é
um grego expatriado que não poderia regressar até 1950, pois a invasão turca
durante a segunda guerra mundial tornou tal jornada impossível. Isso fez de Seferis
um exilado, e o exílio foi tema caro aos seus poemas. O exílio é também um
possível significado atribuído à citação, mas a palavra asphodels também chama
atenção por si. Ela pode descrever um local citado na mitologia grega, uma espécie
de limbo, onde as almas eram presas para sempre, sem serem julgadas. Entretanto,
asphodels é também uma flor, e essa flor possui uma estória que diz que a mesma
é imortal. Portanto trabalhamos aqui duas imagens: O exílio e a imortalidade.

A primeira estrofe do poema utiliza muitas metáforas, e essas dão a entender


que idéias crescem como flores; o conceito de metáfora em si é baseado na troca
de características entre elementos que a própria figura de linguagem une. Como já
observado no início (título), a flor de asphodel gera um eco, se o leitor levar em
conta o homófono referente. Também no início temos a imagem de uma ideia
crescendo numa mina peruana, e então há o retorno ao shed abandonado, como se
ali também fosse um local possível para uma ideia crescer.
Agora o leitor poderá questionar a presença de uma mina peruana neste início;
o que há de possível nesta imagem? qual seu propósito? E novamente relembro a
troca de qualidades e significados; nas minas peruanas e no shed abandonado há
lembranças de exploração colonial. O poema qualifica a mina como um local que
já fora trabalhado, relembrando o fato de que a Espanha explorou as minas sul
americanas (e o mesmo é válido pro shed irlandês). Um shed é basicamente uma
construção rural utilizada por camponeses. Como pode o leitor não lembrar dos
episódios de fome da irlanda rural?

Existem muitas imagens sendo evocadas e construídas na primeira estrofe,


como o shed e a mina peruana. Porém, há também imagens que não possuem
função de descrição, mas trabalham a configuração de um tom para o significado
que está sendo construído. O verso “to a slow clock of condensation” é exemplo
de uma imagem conceitual que amarra o tom do poema; esse poema possui clima
deveras melancólico, triste, e esse verso constrói, em outras palavras, a ideia de
um sentimento de passar de tempo muito vagaroso, tão vagaroso que parece parar
e reverter o passar do tempo. Essa imagem é confirmada no próximo verso quando
temos “an echoe trapped for ever”, e sabemos que eco é um som que se esgota,
como um fantasma de uma fala dita por alguém que esteve lá. Essas primeiras
linhas servem como construtores de tom e de ritmo. A tristeza representada no
desenvolvimento conceitual do eco em relação à exploração colonial.
Também é assertivo o fato de que no poema o ritmo se faça muito presente,
pois possui muitos sons de consoantes e também de longas palavras, como
wildflower, diminished etc. O poema não possui metro ou rima. Esse fato parece
fazer as imagens de silêncio do poema mais ampliados de certa forma, e também
parece ampliar a tristeza.

Na segunda estrofe, os primeiros versos são compostos de um course, onde a


voz narrativa menciona primeiro um hotel, e então, já dentro, o buraco da fechadura
de um banheiro. Esse é um momento de fato muito breve da narrativa, tal como
um corte rápido num filme, mas também é de extrema importância.
Não é característica de um poema lírico a narração, sendo a essa atributo geral
da forma de poemas épicos, como na Odisséia. A narração ocorre
concomitantemente com a imagem de vários cogumelos que olham para a luz
provinda da fechadura. Há então de se concluir que esse encontro de narração
somado ao fato da menção da imagem, com intenção descritiva, tendo com isso
um propósito. Também, de maneira geral, um poema épico tem como principal
tema eventos sérios, que possuem um tema com detalhes de atos heróicos e eventos
significantes para uma cultura e uma nação. Além do mais, o acontecimento
envolvendo cogumelos, a narrativa, o verso branco, a falta de rima e o tom
monótono e triste acaba por figurar uma espécie trauma cultural que é comum para
a Irlanda e para o Peru: A colonização.

A terceira e a quarta estrofe se utiliza de muitas descrições e de metáforas a fim


de consolidar o humor do poema; a situação dos cogumelos e a do povo Irlandês,
que estava esperando também por alguém que pudesse abrir a porta para que a luz
entrasse no banheiro. Essas imagens atingem uma espécie de ápice no final, quando
a voz lírica descreve os cogumelos, longe do buraco da fechadura, e a voz descreve
também flores crescendo de maneira desregulada, petrificadas numa mesma
postura. A postura deles é um eco da dominação, e isso faz com que os leitores
analisem a metáfora cerne do poema. A Irlanda está sendo metaforizada pelo hades
e por meio de um banheiro escuro, e o povo irlandês está sendo metaforizado pelas
almas perdidas no hades e pelo cogumelos. Qualquer um pode assumir portanto
que essas almas no hades estão esperando por uma espécie de julgamento ou de
redenção, que eles desejam sair desse espaço límbico de julgamento, como um
cogumelo que espera a luz. E em com essa troca de significados, sou levado a
acreditar que há ali uma transferência para o desejo do próprio povo irlandês.
Há entre a quarta e a quinta estrofe um verso que se conecta com a primeiro,
entretanto esse também possui significado por si só. Isso passa a ser intrigante
tendo em vista a ideia formal de demonstração de antítese; algo caro ao soneto de
línguas latinas. Isso pode nos dizer muito, pois o fato deste verso sozinho fazer com
que a solidão de meio século sem um visitante se torne mais palpável é curioso.
Esse verso sendo isolado como um fato formal também pode ser isolado como
uma lupa formal, um instrumento de isolamento.

A quinta estrofe consolida o significado acerca dos cogumelos e do povo


irlandês. Nessa estrofe eles são descritos como pobres prisioneiros de um velho
regime, sendo colocado como sujeitos aprisionados a tais condições. Acredito que
com isso, neste momento, o poeta oferece um corte claro para um determinado
gatilho que tem como fim ajudar a decifrar o significado da metáfora maior, que é
a imagem da sala escura cheia de cogumelos - que é o velho regime.

Todavia, essa palavra pode possuir dois diferentes significados, podendo se


referir ao antigo regime, representado aqui pela Inglaterra e seu sistema
monárquico, ou pode também se referir à empresa colonial, e o fato de essas duas
coisas estarem profundamente conectadas baseia no fato de que o velho regime,
que promoveu as empresas coloniais, acabam por se tornar o eco de uma e de outra.

Há então outro verso solto entre a quinta e a sexra estrofe. Esse verso é muito
descritivo e faz isso de várias maneiras. Com isso o poema acaba na descrição e na
breve narração. Esse verso se comunica com a sexta estrofe onde há uma mudança
de tom, e agora a voz lírica se refere ao leitor diretamente; essa voz utiliza os
pronomes nós e você. Essa mudança de tom tem como propósito chamar a atenção
do leitor e de seu pathos, se referindo com intimidade. Isso é tópico e típico do
poema lírico. Também há mudança de tom na sexta estrofe, e isso torna tudo muito
mais lírico e íntimo, ao falar com o leitor falando com o leitor. Há a inserção de
uma suposta voz dos “sem vozes”, os cogumelos e o povo irlandês, e essa
multiplicidade de vozes, entretanto, é característica do poema épico. Além do mais,
na sexta estrofe, temos uma fusão de intimidade lírica e do propósito coletivo da
épica; uma forma dentro da outra, trocando significados e nos levando a crer que
essa estrofe é dedicada uma exposição para o leitor se atentar ao fato de que existe
um você em nós, e isso deve explicar tal fusão e o tom dramático do final do poema.

Bibliografia

EAGLETON, Terry. How to Read a Poem. ed Blackwell Publishing, London, 2008.

MEYER, Michael, The Bedford Introduction to Literature (Bedford: St. Martin's, 2005).

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